🇭🇳 Prisão perpétua? Começa julgamento de ex-presidente de Honduras nos EUA
Juan Orlando Hernández, que deixou o poder no começo de 2022 e foi extraditado pouco depois, é processado nos Estados Unidos por crimes relacionados ao narcotráfico
Há 22 meses encarcerado de forma preventiva nos Estados Unidos, o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández (2014-2022) finalmente começou a ter seu destino traçado nos tribunais norteños nesta terça-feira (20), após uma série de adiamentos. O processo, que pode culminar até mesmo com uma pena perpétua aplicada ao antigo mandatário, também é um caso atípico – mas não inédito – no qual um antigo chefe de Estado latino-americano pode acabar condenado e tendo que cumprir pena fora de seu país.
JOH, como o líder conservador também é conhecido, enfrenta acusações por crimes relacionados ao narcotráfico. Ele encara três denúncias: uma por “conspirar” para levar cocaína aos EUA, e outras duas associadas ao contrabando de armas que seriam usadas para facilitar o tráfico de drogas. Especificamente, os promotores do estado de Nova York afirmam que Hernández recebeu dinheiro dos cartéis para ajudá-los em suas atividades, repassando aos criminosos informações confidenciais sobre investigações e batidas policiais, chegando ao ponto de colocar agentes e militares à disposição para proteger os narcos. Para a acusação, não há dúvidas: JOH era o capo supremo de um verdadeiro “narcoestado”, trabalhando “de mãos dadas” com os bandidos.
Se for condenado em todas as acusações, Hernández, hoje com 55 anos, pode passar o resto da vida atrás das grades.
O ex-presidente nega tudo e já se declarou inocente ainda nas primeiras etapas do processo. Ele deixou o governo em janeiro de 2022, sucedido por Xiomara Castro, e foi preso pouco depois. Embora muitos países latino-americanos não costumem extraditar seus próprios cidadãos para enfrentar julgamentos e penas no exterior, Honduras tem um tratado do tipo com os EUA, e Hernández foi mandado para o Norte já em abril daquele ano.
Em seus dias no poder, JOH promoveu uma imagem totalmente oposta à que agora pesa sobre si: vendia-se como um paladino da guerra às drogas e chegou a ser exaltado dessa forma pelo então presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021). Em um evento no qual os dois se encontraram em 2019, Trump agradeceu a JOH pelo que julgava ser um ótimo trabalho contra a imigração irregular e o narcotráfico: “estamos vencendo [na fronteira] após anos de derrotas. Estamos parando as drogas em um nível nunca visto antes”, discursou o alaranjado líder dos EUA na época.
É com essa fama cada vez mais abalada que o antigo mandatário hondurenho tenta uma elaborada tese de defesa. Ele alega que foi precisamente por seu combate ativo aos cartéis que, agora, eles tentam dar o troco: todas as denúncias não passariam de uma invenção de narcotraficantes e ex-agentes estatais cooptados pelos bandidos para se vingar de Hernández e colocá-lo atrás das grades. Segundo JOH, trata-se de “uma operação orquestrada para que nenhum governo tente pegá-los”.
Contra o ex-presidente, além das provas que a Justiça dos EUA começou a analisar nesta semana, pesam confissões e condenações de gente muito próxima. O próprio irmão de JOH, o ex-deputado Tony Hernández, já recebeu uma sentença perpétua em 2021 por acusações semelhantes. Em janeiro deste ano, um ex-policial se declarou culpado no mesmo caso de JOH e, em fevereiro, no maior golpe sofrido pelo ex-presidente, seu antigo chefe da Polícia Nacional, Juan Carlos “El Tigre” Bonilla, também aceitou as acusações. Acredita-se que as confissões tenham sido feitas em troca de alívio na pena, mas a sentença só deve ser divulgada em maio.
Os três seriam julgados juntos. Após as admissões de culpa, porém, JOH ficou sozinho para encarar os tribunais.
Caso Hernández receba a pena de prisão, ele se tornaria o terceiro líder da América Latina condenado pela Justiça estadunidense nas últimas décadas. Em 1992, o ex-ditador panamenho Manuel Noriega (1983-1989) recebeu uma sentença de 40 anos também por narcotráfico. Liberado por bom comportamento após cumprir 17 anos, Noriega foi condenado uma segunda vez no exterior em 2010, na França, por lavagem de dinheiro, e terminou seus dias em 2017 cumprindo pena no próprio Panamá, por assassinatos e desaparecimentos políticos ocorridos durante seu regime. Já em 2014, o ex-mandatário guatemalteco Alfonso Portillo (2000-2004) recebeu uma sentença muito mais branda das Cortes dos EUA por lavagem de dinheiro, sendo liberado após 11 meses numa penitenciária de segurança mínima.
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🌎 Lula sacode diplomacia global com críticas a genocídio em Gaza; líderes latino-americanos endossam declaração – O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se tornou na segunda-feira (19) persona non grata para o governo de Israel após traçar um paralelo entre o Holocausto, como é conhecido o extermínio sistemático de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, e a matança de quase 30 mil civis promovida pelo atual governo israelense em Gaza, onde milhares de palestinos têm sido bombardeados e privados de assistência vital desde outubro. Além de causar revolta entre integrantes da chancelaria israelense, as falas de Lula geraram debates filosóficos nas redes sociais brasileiras ao redor da comparação entre os dois eventos, com diferentes análises sobre o assunto. Mas, de volta à arena global, aliados de Lula na região saíram em defesa do mandatário: o presidente boliviano Luis Arce – cujo governo já havia rompido relações com Israel semanas após o início das ofensivas militares contra a Palestina – endossou as críticas, dizendo que “a história não perdoará aqueles que forem indiferentes a essa barbárie”. O colombiano Gustavo Petro, que há meses usa as redes para denunciar a situação em Gaza, expressou “total solidariedade” ao seu homólogo brasileiro: “Lula só falou a verdade e a verdade se defende; ou a barbárie nos aniquilará”, disse. Bogotá também declarou ante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) que “a ocupação do território palestino por parte de Israel é ilegal por violar o direito internacional”. Outros governos que já haviam demonstrado repúdio às ações israelenses em outros momentos, como Chile e México, não deram novas declarações até o fechamento desta edição. Em paralelo, o único governo latino-americano de maior influência que vai pelo caminho contrário é o do argentino Javier Milei – que esteve pessoalmente em Israel recentemente e até prometeu transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém, num afago ao criticado governo de Benjamin Netanyahu.
🇦🇷 Sob Milei há três meses, Argentina vê pobreza atingir maior patamar em 20 anos – Segundo um novo relatório do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) divulgado no domingo (18), o país comandado por Javier Milei há três meses viu a pobreza chegar ao patamar de 57% em janeiro, no mais alto valor em 20 anos. “Após mais de duas décadas de vigência de um regime inflacionário, de empobrecimento e expansão dos programas sociais, aos quais se soma um novo programa econômico de ajuste ortodoxo, a pobreza continua crescendo apesar da assistência pública”, diz o estudo. Os números relatados pela UCA não são oficiais, mas dão uma boa estimativa à medida que o país espera uma divulgação de dados por parte do Instituto Nacional de Estatística e Censos, o Indec, apenas no final do trimestre. A partir do novo dado, é possível inferir que mais de 27 milhões de argentinos se encontram em condição de pobreza – e 15% estão em situação de extrema pobreza, conforme a UCA. Na última vez em que valores estiveram nesse nível, em 2004, a Argentina recém começava a sair de uma de suas piores crises financeiras, no início do milênio. Ainda que os números preocupantes divulgados pelo relatório sejam fruto de uma escalada de problemas econômicos antigos, a crise se acelerou com medidas adotadas logo nos primeiros dias de governo Milei, incluindo uma aguda desvalorização do peso frente ao dólar. Mesmo com a pobreza em alta, Milei celebrou outros números durante a semana, exaltando os diversos cortes orçamentários – inclusive sociais – que permitiram ao governo registrar seu primeiro superávit em 12 anos. Via Página 12.
🇨🇱 Corte chilena reverte própria decisão e ordena reabertura de ‘Caso Neruda’ – Na terça (20), a Corte de Apelações chilena determinou que as investigações a respeito da morte do poeta Pablo Neruda fossem reabertas, revertendo uma decisão de dezembro, do próprio tribunal, que rejeitava a reativação do caso. Nobel de Literatura em 1971, senador pelo Partido Comunista e embaixador do governo de Salvador Allende, Neruda voltou às manchetes em 2023 tanto pelo aniversário de 50 anos de sua morte quanto pelo resultado de uma nova perícia, em fevereiro passado, que indicava envenenamento como a possível causa de sua morte – e não complicações vindas de um câncer de próstata, como está oficialmente registrado. O poeta morreu dias após o golpe de Estado em 11 de setembro de 1973 e, para muitos de seu círculo próximo, foi morto pelo regime Pinochet. Entre os defensores da tese de que “não foi morte morrida” está o fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira, que em entrevista ao Nexo deu sua versão sobre o caso – como contado no vistazo desta edição, Teixeira foi ‘testemunha ocular’ da morte do poeta. Segundo a corte em Santiago, a decisão desta semana busca “contribuir para o esclarecimento dos fatos”. Mais detalhes, em El País.
🇸🇻 Nuevas Ideas de Nayib Bukele será ‘partido único’ no Congresso; esquerda do FMLN sofre maior revés em 30 anos – Muitos dias de polêmica mais tarde, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país concluiu, no domingo (18), a contagem das eleições legislativas de 4/2 – as que mais geraram debate diante de uma apuração que acabou misteriosamente congelada com menos de 5% dos votos escrutinados. Demorou, mas poucas surpresas vieram: com quase 99% das urnas apuradas, o partido do presidente reeleito, Nayib Bukele, conquistou 54 das 60 cadeiras do Congresso. O resto dos assentos ficou com a cada vez mais reduzida oposição: dois para o Arena, de direita; dois para o Partido da Concertação Nacional (PCN); um para o Partido Democrata Cristão (PDC); e um para o Vamos. Ainda que a previsão de Bukele fosse de 58 cadeiras, seu partido, o Nuevas Ideas, ampliou o domínio que já tinha na Casa, atuando, a partir de 1º de maio, virtualmente como a única força legislativa. Na Legislatura atual, que conta com 84 cadeiras (uma reforma aprovada em 2023 reduziu o número de deputados para 60), os governistas até têm duas cadeiras a mais, mas controlam uma proporção menor da Casa – o Arena, por exemplo, conta com 11 nomes em sua bancada. Destaque, também, para a derrota da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), sigla do governo anterior e outrora dominante no cenário político salvadorenho: a antiga guerrilha convertida em partido não terá parlamentares representantes pela primeira vez em 30 anos – e pode ver sua agonia aumentar ainda mais nas eleições municipais, marcadas para 3/3, onde o Nuevas Ideas é mais uma vez favorito. Em El Faro.
🇭🇹 Caso Moïse: Justiça do Haiti cita ex-primeira-dama e ex-premiê entre acusados de envolvimento no magnicídio – Muitas pessoas (em sua maioria, autores materiais do crime) já foram presas pelo assassinato do presidente Jovenel Moïse, morto em casa por um grupo de mercenários em julho de 2021. No entanto, a trama por trás do crime ainda tem peças faltando – e mostra que sempre pode ter novidades. De acordo com um furo do portal haitiano AyiboPost revelado na segunda-feira (19), um dos juízes responsáveis por investigar o caso emitiu uma ordem de 122 páginas que pede o encaminhamento de mais de 50 pessoas ao Tribunal Penal por suposto envolvimento no magnicídio. A revelação de três nomes causou um verdadeiro furor na política local: o pedido cita ninguém menos que Martine Moïse, viúva de Jovenel, sobrevivente do ataque e principal testemunha do crime. Especialistas apontam inconsistências em depoimentos de Martine, questionando como ela teria sobrevivido a um ataque tão brutal. Mais ainda, o relatório diz que a ex-primeira dama teria passado horas procurando itens não especificados no local do ataque dias antes da invasão dos mercenários e também lembra que, no ano passado, ela foi alvo de um mandado de prisão por se negar a prestar depoimento em duas oportunidades. Além de Martine, quem é citado no longo documento é o ex-primeiro-ministro, Claude Joseph, e o ex-diretor-geral da polícia nacional, Léon Charles. Os dois, além de Martine e outros vários acusados, devem ser julgados por “formação de quadrilha, assalto à mão armada, terrorismo, homicídio e cumplicidade”, argumenta o juiz Walther Wesser Voltaire. Para Joseph, que prometeu lutar na Justiça contra as acusações, tudo não passa de um plano do atual premiê, Ariel Henry – que já foi ele próprio acusado de conspirar contra Moïse – como parte de um plano de se manter no poder. Joseph alega que Henry utiliza o Judiciário haitiano como “arma”: “Eles (sic) não conseguiram matar Martine Moïse e eu em 7 de julho de 2021, agora estão usando o sistema de justiça haitiano para promover sua agenda maquiavélica. É um clássico golpe de Estado”, disse. Apesar de ter sacudido o país caribenho e gerado reações e repercussão internacional, o material assinado pelo juíz Voltaire, segundo análise do próprio portal local que o divulgou, é meramente acusatório e não traz novas informações concretas à luz das investigações, especialmente sobre a autoria intelectual e financeira, alerta o AyiboPost.
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ARGENTINA 🇦🇷
Uma nova orientação do governo argentino sobre a entrada de estudantes estrangeiros no país vem pegando muitos brasileiros de surpresa – e tem causado, inclusive, deportações. Sob Javier Milei, a imigração hermana vem barrando a entrada de pessoas definidas como “falsos turistas”, que ingressam no país com “documentação insuficiente”, como provas do local de estadia ou uma passagem de volta, exigências que costumavam ser relevadas para viajantes do Mercosul. Oficialmente, a Argentina já exigia um visto estudantil para brasileiros que desejassem iniciar a faculdade por lá, mas, na prática, essa documentação não era cobrada ao ingressar no país: segundo relatos, o que muitos brasileiros faziam, então, era iniciar os trâmites para fixar residência em solo argentino durante os 90 dias (prorrogáveis por outros 90) permitidos para o turismo; com a residência autorizada, o ingresso na universidade era liberado sem a emissão de um visto prévio. Agora, a documentação passou a ser cobrada desde o primeiro momento. Estima-se que haja ao menos 10 mil brasileiros cursando o ensino superior na Argentina, atraídos pela gratuidade das universidades públicas e a ausência de provas seletivas, como o vestibular, para fazer a matrícula. No UOL.
BOLÍVIA 🇧🇴
De olho em conter os efeitos de uma crise cambial crescente (saiba mais no GIRO #177), o governo de Luis Arce anunciou na terça (20) um pacotazo de medidas para estimular a entrada de divisas no país. Com as bênçãos do mercado, as mudanças buscam cortar entraves às exportações, de olho em incrementar o investimento em dólares, aumentar a produção de grãos e facilitar a importação de diesel, entre outros elementos que podem estancar (ou até mesmo, reverter) a escassez de moeda estrangeira à disposição do sistema financeiro do país. Segundo informações do Banco Central, o montante de reservas totais caiu de US$ 15 bilhões de dólares, há uma década, para menos de US$ 2 bilhões, de acordo com números do final do ano passado. Entre os motivos está a queda na exportação de gás natural, elemento fundamental para a economia boliviana, além de oscilações no mercado internacional. As mudanças anunciadas pelo governo Arce vêm, também, ante um cenário de falta de produtos nas prateleiras e salários para trabalhadores de diversos setores. No France24 e El Deber.
COLÔMBIA 🇨🇴
Sem fumaça branca no Palácio de Justiça. Depois de uma terceira tentativa de eleição para a chefia da Procuradoria-Geral da República, nesta quinta-feira (22), a Corte Suprema da Colômbia não entrou em consenso para eleger um dos nomes da lista tríplice apresentada pelo presidente Gustavo Petro. As procuradoras Amelia Pérez, Luz Adriana Camargo e Ángela María Buitrago terão de esperar novamente até 7/3, quando está marcada a quarta tentativa de votação na Corte. A principal cotada, por enquanto, é Amelia Pérez Parra, que obteve a preferência de 13 dos 19 magistrados – porém, para ser eleita a nova PGR, ela precisaria de 16 votos. Enquanto isso, em Bogotá, foram retomadas as manifestações oficialistas em frente à sede do Palácio de Justiça e do Ministério Público – apoiadores do governo acusam a atual chefia do MP de perseguir politicamente o presidente. No Ámbito Jurídico.
COSTA RICA 🇨🇷
Em meio a uma já condenável onda de violência, que impulsiona recordes anuais de homicídios num país conhecido pela tranquilidade histórica, outro dado alarmante: instituições locais tem sofrido para lutar contra episódios persistentes de abuso sexual de menores. Segundo o Patronato Nacional da Infância (PANI), órgão do Estado que cuida dos direitos da criança e do adolescente, o ano de 2023 terminou com uma média de 10 denúncias diárias de abusos desse tipo, mantendo o patamar visto em anos anteriores. Segundo uma reportagem do Semanario Universidad, o quadro demonstra uma preocupante incapacidade institucional, com muitos casos sem desfecho. “Estão entre os cinco crimes mais denunciados. A estes, somam-se os casos que nunca chegam aqui [à competência do Poder Judicial] ”, denunciou Xinia Fernández, responsável pela Secretaria Técnica de Gênero e Acesso à Justiça em San José. O tema é visto como prioritário pelo governo do conservador Rodrigo Chaves, que reage à piora na segurança pública prometendo uma série de reformas contra o crime.
CUBA 🇨🇺
Em seu tour latino-americano antes de ir ao Brasil para compromissos do G20, o chanceler russo, Sergey Lavrov, também passou por Havana na segunda (19). Ao lado de aliados cubanos, o ministro declarou que Cuba tem demonstrado “interesse contínuo e até crescente” em colaborar com os Brics, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Projetando uma reação positiva dos países-membros à intenção cubana de se tornar parceira do grupo, Lavrov também exaltou as “excelentes” relações entre Moscou e a ilha, que vivem um momento de franca aproximação por razões geopolíticas. Foi a nona visita do chanceler ao país aliado desde que assumiu a pasta no governo de Vladimir Putin. Via EFE.
EQUADOR 🇪🇨
Roteiro latino-americano conhecido: em frente à sede da Corte Constitucional (CC) na capital, na terça (20), grupos indígenas se reuniram em protesto à falta de respaldo legal diante de um extenso derramamento de petróleo em uma vasta área originária – algo que aconteceu há quatro anos. “Exigimos que haja uma reparação total dos nossos rios, hoje completamente contaminados”, disse à imprensa o presidente da Federação das Comunidades Unidas da Nacionalidade Kichwa da Amazônia Equatoriana (Fcunae), Rafael Yumbo. O caso em questão aconteceu em 2020, com o rompimento de oleodutos que ligavam a região de floresta à província costeira de Esmeraldas, de cara para o Pacífico. Estima-se que quase 16 mil barris do material foram derramados em áreas sensíveis, afetando mais de 100 mil pessoas. Segundo comunidades e organizações, o caso está emperrado na mão de magistrados desde 2021: “nestes três anos, a CC não se pronunciou apesar da gravidade do episódio”, denunciam. Na teleSUR.
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📖Evandro Teixeira, Chile, 1973 (2023) – Nascido da exposição homônima oferecida em 2023 pelo Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, o livro é um mergulho na obra do conhecido fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira, 87, que esteve de corpo presente em Santiago nos dias de terror que inauguraram a ditadura chilena (1973-1990). Alternando fotografias e relatos, a obra passeia como poucas, entre tantos capítulos do início avassalador da repressão (no que se considera a fase mais macabra do regime), pela morte de Pablo Neruda. O acervo de Teixeira mostra os momentos em que o fotógrafo passou ao lado do corpo do poeta, do instante em que sua morte foi confirmada na Clínica Santa María – “cercada por militares” naquele dia, conta – ao trajeto feito com uma ponte improvisada de madeira para levar o caixão até La Chascona, antiga casa de Neruda, hoje transformada em museu. Em diferentes oportunidades, como já atestou em entrevistas recentes, o fotojornalista reforça sua tese pessoal de que o comunista chileno foi morto pela ditadura. É possível comprar o livro pela loja do IMS.
GUATEMALA 🇬🇹
Tirando uma folga das crises e novidades internas, o presidente Bernardo Arévalo teve agenda diplomática agitada nos últimos dias: no sábado (17), na Alemanha, o mandatário se encontrou com seu homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky, durante uma Conferência de Segurança. Após demonstrar apoio à causa de Kiev no conflito com a Rússia, Arévalo foi convidado pelo seu par a participar da cúpula global da paz, que deve acontecer na Suíça em breve, mas ainda sem data. Mais importante do que essa charla, porém, foi a reunião entre o governo guatemalteco e o secretário de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas. Apesar de estar às voltas com um pedido de impeachment em seu país, Mayorkas ocupa um cargo-chave no assunto migratório, tema que obviamente envolve a Guatemala. Arévalo disse ser crucial “criar condições econômicas” para a conter o êxodo de jovens rumo aos EUA. Atualmente, segundo ele, 20% dos guatemaltecos, de uma população de cerca de 17 milhões de pessoas, vivem no país norte-americano. No Centroamérica360.
MÉXICO 🇲🇽
Autoridades migratórias mexicanas encontraram no domingo (18) uma criança brasileira, de 9 anos, sem supervisão de responsáveis numa perigosa zona de fronteira, mais precisamente no Rio Bravo, que fica entre o México e os EUA. Segundo o Instituto Nacional de Migração do México (INM), a menina – que não teve nome revelado – estava ilhada em um pequeno trecho de terra do rio e foi resgatada após alertas de policiais fronteiriços do país ao norte. Uma triste realidade vista entre pessoas que tentam cruzar as divisas para chegar ao território estadunidense, o abandono de menores nessas regiões, muitas vezes como consequência involuntária de algum problema ou conflito nos locais de travessia, é mais comum do que se imagina. Na Folha.
NICARÁGUA 🇳🇮
“Agora, são ianques”, disse na quarta-feira (21) o presidente Daniel Ortega sobre os mais de 300 opositores que seu governo expatriou e enviou ao exílio no ano passado. “Traidores, vendepatria”, bradou. A declaração enérgica foi dada durante um evento oficial em Manágua, capital do país, que marcou os 90 anos do assassinato de Augusto César Sandino (daí o nome ‘sandinismo’), um dos próceres da causa revolucionária – que, atualmente, Ortega é acusado de deturpar em nome de sua busca por um projeto pessoal de poder, dizem até muitos de seus antigos aliados de guerrilha. Além de evocar uma figura de importante impacto na identidade nacional para acenar à base que ainda o apoia, o presidente também comparou os exilados com os ex-presidentes Emiliano Chamorro (1917-1921) e Adolfo Díaz (1926-1928), esses sim figuras vendepatria – aliados de Washington, os dois ficaram conhecidos por facilitar a ocupação dos EUA em território nicaraguense de 1912 a 1933, justamente a ofensiva militar colonialista combatida (até a morte) por Sandino. No NTN 24.
PANAMÁ 🇵🇦
Enquanto o Tribunal Eleitoral (TE) segue sem ser notificado formalmente pela Justiça a respeito da ratificação da condenação imputada ao ex-presidente e líder das pesquisas presidenciais Ricardo Martinelli (2009-2014), o que será do debate presidencial segue um mistério. Reagendada para 26/2, a sabatina se vê diante de dois possíveis cenários: no primeiro, caso o TE receba a missiva do Judiciário a tempo, Martinelli estaria oficialmente fora da disputa (e dos debates), já que a Constituição panamenha proíbe expressamente que cidadãos condenados a mais de cinco anos de prisão – metade da pena imposta a Martinelli – concorram a cargos públicos. Nesse caso, o vice da chapa, José Raúl Mulino, tomaria o posto automaticamente. Mas, caso nada se formalize a tempo, é esperado que a cadeira reservada para o binômio favorito fique simplesmente vazia, bagunçando ainda mais o jogo eleitoral a poucos meses das eleições de 5/5. Martinelli, no momento, foge da prisão refugiado na embaixada da Nicarágua, país que lhe concedeu asilo. Na quinta (22), o cenário turvou ainda mais, quando uma juíza ordenou a prisão preventiva de Martinelli diante de “um risco de fuga evidenciado pela conduta do condenado”, argumentou. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
Um caso complicado: um bebê indígena que estava internado na UTI em um hospital da capital Assunção precisou ser devolvido ao mesmo local na quarta (20) pouco depois de ser raptado pela própria mãe, que havia levado a criança para ser tratada por médicos naturalistas de comunidades originárias que organizavam uma manifestação perto dali, em frente ao Instituto Paraguaio do Indígena (INDI). Segundo a defensora da criança e do adolescente Laura Gauto, que cuidou do caso junto às autoridades, a situação foi tensa e exigiu negociação, já que a mãe e os líderes da comunidade em questão se negavam a devolver o bebê à equipe médica – que assistiu a criança com oxigênio durante toda a confusão. Segundo Gauto, a criança foi retirada do hospital sem receber alta médica e a despeito de um diagnóstico grave de broncopneumonia. Depois de todo o desencontro, o bebê foi finalmente readmitido na UTI – mas não havia atualizações sobre seu estado de saúde até o fechamento desta edição. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Mais um: dias após o ex-presidente Pedro Castillo (2021-2022) ver o cerco se fechar na Justiça (relembre no GIRO #215), quem agora está na mira do Judiciário é Martín Vizcarra, que presidiu o país entre 2018 e 2020. Na terça (20), o Ministério Público peruano informou a instauração de um processo preliminar contra o político por crime contra a tranquilidade e administração pública, citando Vizcarra como articulador de uma suposta organização criminosa. O caso também envolve um de seus ex-ministros, Edmer Trujillo, à época responsável pela pasta de Transportes e Comunicação. Procuradores acusam as duas antigas autoridades de receber propina de empresas peruanas e chinesas que buscavam se beneficiar ilegalmente de licitações públicas. O ex-presidente negou as acusações. Em novembro de 2020, como parece acontecer com praticamente qualquer chefe do Executivo em Lima, Vizcarra foi alvo de um pedido de destituição por “incapacidade moral” – e, como muitos, não resistiu e deixou o cargo precocemente. No Gestión.
PORTO RICO 🇵🇷
Drama de destinos turísticos ao redor do mundo, a explosão de imóveis para aluguel por curta temporada – destinados ao Airbnb e outros modelos similares – também é uma dor de cabeça em Porto Rico. Um relatório divulgado na quarta-feira (21) chamou atenção para as consequências desse modelo de negócios, que aumenta os aluguéis em geral para a população local e acaba obrigando muitos porto-riquenhos a se mudar para zonas afastadas dos destinos mais cobiçados. O aumento de imóveis para Airbnb e assemelhados em apenas uma década impressiona: o número saltou de cerca de 1 mil, em 2014, para mais de 25 mil em 2023, com centenas de novas propriedades do tipo sendo listadas para aluguéis curtos mensalmente. Ainda segundo o relatório, um dos pontos de virada para o aumento desse tipo de negócio foi o furacão María, que devastou a ilha em 2017 e aumentou a emigração de porto-riquenhos, criando um vácuo no mercado imobiliário que passou a ser preenchido pelo turismo. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Os governistas passaram por cima da oposição nas eleições municipais celebradas no último domingo (18), reforçando o favoritismo do presidente Luis Abinader na busca por sua própria reeleição. Embora nem todas as cidades estejam com resultados homologados, as projeções indicam que a coalizão encabeçada pelo Partido Revolucionário Moderno (PRM) conquistou a vitória em pelo menos 122 dos 158 municípios em jogo, com outros partidos acusando o governo central de utilizar indevidamente recursos públicos para promover seus candidatos. Abinader parabenizou seus correligionários, mas pediu “humildade” e enfatizou que “não celebra triunfos nem chora derrotas”. O máximo mandatário, que já disse ser contra a reeleição mas admitiu concorrer para garantir a permanência do PRM no poder, lidera as pesquisas para o pleito presidencial de 19/5. Ainda em notícias eleitorais, a semana também foi marcada pelos protestos do presidenciável Ramfis Domínguez Trujillo, exigindo que a Justiça Eleitoral homologue sua participação nas disputas que estão por vir – barrado constitucionalmente por ter nascido nos EUA e não ter renunciado à nacionalidade daquele país, Trujillo chama a atenção pela ascendência: é o neto do infame ditador Rafael Leónidas Trujillo, que dominou todos os aspectos da vida do país entre 1930 e 1961, quando foi assassinado. Ele tenta concorrer pelo ironicamente denominado Partido Esperança Democrática. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Efeito Mujica? Não é só o ex-presidente e guru político da esquerda, que governou entre 2010 e 2015, que enxerga Yamandú Orsi, atual intendente do departamento de Canelones, como a melhor opção entre os pré-candidatos da Frente Ampla (FA) para representar a coalizão de centro-esquerda nas eleições presidenciais de 27/11. Uma nova pesquisa da consultoria Cifra, divulgada na terça (20), endossa o raciocínio: entre os que votarão “com certeza” na FA este ano, vantagem para Orsi, nome preferido por 48% dos entrevistados. Com isso, o candidato de Mujica (e que é visto como um nome estratégico para conquistar um voto ligeiramente mais conservador longe da capital) vai desbancando Carolina Cosse, atual intendenta em Montevidéu, que tem 36% das intenções de voto entre os frenteamplistas. Outros nomes não chegam a 10%. As primárias do paisito acontecem em 30/6. Na Prensa Latina.
VENEZUELA 🇻🇪
Foi um encontro de apenas um dia em Caracas, onde o chanceler russo, Sergey Lavrov, fez questão de reforçar na terça (20) o apoio de Moscou ao governo de Nicolás Maduro. Na América do Sul para compromissos do G20 no Brasil, o chefe da diplomacia do país euroasiático se encontrou com o presidente venezuelano para tratar, entre outros assuntos, de possíveis avanços em acordos na área energética e também da assinatura de um memorando de entendimento sobre “cooperação para neutralizar medidas coercitivas unilaterais”, adotado pelos pares para retaliar críticas de outros países às duas nações aliadas. De uma perspetiva geopolítica, o encontro teve um timing que chamou a atenção: Lavrov pousou na Venezuela dias após funcionários do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que atuavam ali desde 2019, deixarem o país após o governo venezuelano suspenderem as funções da agência; Caracas acusa a escritório de “colaborar com terroristas” que, segundo eles, conspiram contra Maduro. No início da semana, já na esfera da política interna, o governo local também se reuniu com membros da aliança opositora Plataforma Unitária (PU) – que promete enfrentar Maduro nas urnas este ano –, no marco de relações cada vez mais tensas após a inabilitação da candidata de direita María Corina Machado (entenda). Na reunião, a PU apresentou um relatório de 33 páginas acusando o governo de violar acordos eleitorais assinados no ano passado. Na RFI.
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