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Haiti: ex-premiê é banido da vizinha R. Dominicana
Medida do governo dominicano é novo capítulo em uma relação cada vez mais tensa entre vizinhos de ilha. Proibido de cruzar fronteira, haitiano Claude Joseph diz ser vítima de racismo
Há pouco mais de um ano, ainda no cargo de primeiro-ministro, Claude Joseph esteve diante da perspectiva de ser o homem mais poderoso do Haiti e o responsável por guiar o país na turbulenta crise que veio após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021 (entenda aqui a crise sucessória que levou à disputa entre Joseph e o agora premiê Ariel Henry, que acabou ficando com o poder). Mas os planos do outrora líder não foram adiante. Para piorar, nesta quarta-feira (7), já relegado a uma posição secundária, o ex-premiê e potencial presidenciável Claude Joseph voltou às manchetes por entrar novamente de cabeça na crise geopolítica entre seu país e a vizinha República Dominicana: ele acaba de ser banido do outro lado da ilha de Hispaniola, por decisão expressa do governo em Santo Domingo.
A decisão surpreendente foi assinada pelo próprio presidente dominicano Luis Abinader, que tem a prerrogativa de impedir a entrada em seu país de pessoas que tenham sido condenadas por algum crime ou, então, sejam consideradas uma ameaça à segurança nacional. Sem um estopim claro, a medida parece vir como retaliação aos meses de relações conturbadas entre o poder em Santo Domingo e a figura de Claude Joseph: no final do ano passado, quando ainda era ministro de Relações Exteriores do “vitorioso” da queda de braço Ariel Henry, Joseph respondeu às reiteradas preocupações dos vizinhos em relação à crise de seu país, insinuando que a República Dominicana tampouco seria uma nação segura. Foi justamente esse incidente que acabou lhe custando o cargo.
O banimento agrava ainda mais as tensões entre os dois países que dividem a ilha de Hispaniola, rusgas intensificadas desde que Abinader assumiu o poder em 2020. Com a crise social, política e econômica piorando diariamente no Haiti, o influxo de imigrantes tentando cruzar a porosa divisa só aumentou nos últimos dois anos, em que a pandemia e a carestia causada pela guerra na Ucrânia se somaram aos problemas que já existiam antes. Como resposta, além de um aumento em incidentes racistas e xenofóbicos do lado dominicano da fronteira, Abinader converteu em bandeira política a construção de um muro para dificultar a entrada de haitianos em seu território – obra que se iniciou ainda em maio de 2021, mas ganhou velocidade neste ano e já tem seleção de empreiteiras para a continuação dos trabalhos no futuro próximo. Na ONU, o presidente do lado leste da porção de terra que abriga as duas nações já afirmou no ano passado que “não haverá solução dominicana para a crise haitiana”, exigindo que a comunidade internacional se envolva em vez de apenas apontar dedos para o vizinho menos pobre que não parece disposto a ajudar mais.
Tão logo a medida desta semana foi anunciada nas redes, Joseph veio a público dizendo que seu banimento o colocava como “inimigo número um dos racistas dominicanos”. E ergueu a voz: “isso não é uma sanção. É uma honra. Eu a recebo em nome dos pais fundadores [Jean-Jacques] Dessalines, Toussaint [Louverture] e [Henri] Christophe”, fazendo referência aos próceres da Revolução Haitiana (1791-1804), movimento que ficou conhecida no mundo como a primeira revolta de escravizados (e negros libertos) bem-sucedida da era moderna.
A referência ao racismo como marco nas relações bilaterais também encontra ecos nos conflitos do presente e na violência do passado não tão distante: durante a longa ditadura do dominicano Rafael Leónidas Trujillo (1930-1961), a zona de fronteira entre os países ficou marcada pelo infame “Massacre do Perejil”, quando cerca de 20 mil haitianos acabaram mortos por soldados a mando da nação vizinha. O curioso nome do trágico episódio tem a ver com a estratégia utilizada para separar os negros haitianos daqueles nascidos na República Dominicana: mostrar um ramo de salsinha (perejil) e pedir que falassem seu nome em espanhol – algo particularmente difícil para quem crescera com o créole, uma das línguas oficiais do Haiti.
Além das relações bilaterais que atingem seu pior ponto em décadas, o Haiti segue acumulando problemas próprios. A violência só cresce. Áreas inteiras das grandes cidades estão nas mãos de gangues e, sem qualquer presença efetiva do Estado, pessoas têm sido mortas ou obrigadas a deixar suas casas em meio ao fogo cruzado. Em alguns bairros, a situação já tem ares de guerra civil. Dentro das prisões do país, além dos conflitos, a fome também deixa um rastro de centenas de mortes. Não à toa, as últimas semanas têm sido marcadas por protestos diários que se intensificaram com o aumento do custo de vida e a escassez de combustíveis ao longo de 2022.
A raiva, cada vez mais, está centralizada na figura de Ariel Henry. A tal ponto que o atual premiê, acostumado a fugir dos questionamentos sempre que pode, viu-se obrigado a quebrar o silêncio na terça-feira (6): o governante reconheceu a gravidade da situação, prometeu políticas para mitigar o impacto dos preços entre cidadãos mais vulneráveis, deu recado a centrais sindicais e atribuiu (sem provas) parte da instabilidade ao que chamou de “manipulações políticas”. De Henry, porém, nada sobre as eleições que deveriam ser convocadas após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, há mais de um ano – crime do qual o próprio primeiro-ministro é acusado de ter participado, tendo supostamente agido desde então para barrar qualquer investigação que se aproxima de seu nome.
Quando (ou se) as tais eleições finalmente chegarem, Claude Joseph já deixou claro que pretende ser candidato, mesmo que agora sequer consiga pisar no país ao lado, com quem o Haiti tem uma conexão umbilical.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇧🇴 Denúncias de Evo expõem fraturas na esquerda boliviana – Crise no MAS, o partido do atual governo e o mesmo do ex-presidente Evo Morales (2006-2019): o antigo mandatário denunciou na quarta (7) que teria sido alvo de um possível complô… de membros da própria legenda que ele ainda lidera. Em coletiva de imprensa, Evo apresentou uma série de documentos que também vinculam a Escola de Inteligência das Forças Armadas ao plano. Nas listas, estariam nomes de membros do gabinete presidencial. Toda a intriga teria ligação com dois elementos: primeiro, denúncias de corrupção feitas pelo próprio Evo contra pessoas de dentro do partido (e negadas por integrantes do MAS). Também, com uma ruptura dentro da sigla: de um lado, existe uma ala “evista”, favorável à manutenção da liderança do ex-presidente; de outro, partidários de uma renovação fora da influência do líder aymara. No Yahoo.
🇨🇱 Após rejeição nas urnas, Chile inicia novo ciclo constituinte – O resultado acabou confirmando as pesquisas (leia mais na abertura da última edição), mas o tamanho da rejeição surpreendeu até mesmo a esquerda mais pessimista: no último domingo (4), a proposta de nova Constituição chilena foi derrubada por quase 62% dos votos, em um pleito de ampla participação – com sufrágio obrigatório, quase 86% compareceram. O resultado não encerra o processo constituinte, já que se entende que o texto de 1980 foi sepultado por acordos e votações anteriores, mas o complica: agora, novos sistemas devem ser discutidos para estabelecer como a nova Carta Magna será escrita. O presidente Gabriel Boric, que ficou inevitavelmente associado aos grupos derrotados no final de semana, reagiu com uma ampla troca de ministros, e fez acenos para a necessidade de criar uma proposta capaz de unir o país. A direita política reafirmou que não voltará atrás no acordo por uma nova Constituição, mas sinalizou que deve usar o resultado de domingo como base para defender medidas mais conservadoras – uma das críticas à Convenção Constitucional cuja proposta acaba de ser rejeitada foi a alegada ausência de diálogo, uma vez que a esquerda acabou conquistando mais de 2/3 do órgão e, na prática, pôde aprovar as pautas sem a anuência da oposição. A nova ministra de Interior, Carolina Tohá – filha de José Tohá (1927-1974), que ocupou o mesmo cargo sob Salvador Allende e acabou morto como prisioneiro político da ditadura pinochetista – estabeleceu sua meta: “espero que para os 50 anos do golpe de Estado tenhamos um acordo pela nova Constituição”. A nova data-limite, então, seria 11 de setembro de 2023.
🇪🇨 Novos capítulos nas demandas indígenas contra extrativismo e mineração – Duas comunidades indígenas da Amazônia equatoriana exigiram na terça (6) que o Tribunal Constitucional do país faça valer as decisões de 2018 e 2019 para proteger milhares de hectares de floresta tropical de projetos de petróleo e mineração. À época, os tribunais do Equador decidiram a favor, respectivamente, da comunidade A’i Cofán, de Sinangoe, na província de Sucumbios, e de outras 16 comunidades Waorani na província de Pastaza, sob o argumento de que os grupos não foram consultados previamente sobre os projetos extrativistas previstos para seus territórios (uma lei de consulta prévia para esses casos deve ser aprovada nos próximos meses). As decisões de anos atrás chegaram a prever trabalhos de prevenção nas respectivas áreas afetadas. Agora, grupos originários cobram na justiça que as pastas de Minas e Energia e Meio Ambiente cumpram com o que foi determinado naquela época. Cobranças por decisões antigas, cobranças por decisões recentes: na mesma semana, o governo também cedeu e chegou a um acordo preliminar com grupos indígenas declarando uma moratória de 12 meses em 15 pontos de exploração de petróleo, informou o ministro de Minas e Energia e Minas, Xavier Vera, na quarta (7). A redução na atividade do setor de mineração, em especial em terras indígenas, áreas conservadas e sítios arqueológicos, é parte de uma condição estabelecida por grupos originários para encerrar os protestos nacionais (relembre aqui) de alguns meses atrás. Via Reuters e El Telégrafo.
🇲🇽 Oposição mexicana suspende aliança contra presidente – Desacordos entre grupos de oposição, vitória para o presidente: as três principais legendas que fazem resistência ao governista Morena, de López Obrador, suspenderam “temporariamente” na quarta (7) uma aliança política que buscava fazer frente ao partido de AMLO, que tem ganhado força desde a inédita vitória nas eleições presidenciais de 2018. O grupo era composto pelo direitista Partido de Ação Nacional (PAN), o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD) e o hegemônico e camaleão Partido Revolucionário Institucional (PRI) – que, sozinho e com nuances bastante autoritárias, governou o México de forma quase ininterrupta durante todo o século 20. A fragmentação, que pode minguar a união de forças contra o Morena no pleito nacional de 2024 (no qual os governistas já largam como favoritos) tem a ver com uma decisão do PRI a favor de estender a presença do Exército nas ruas para tarefas de segurança até 2028, medida que ganhou apoio de Obrador. Para PAN e PRD, porém, a ideia é “tremendamente irresponsável”. As duas siglas também alegam que o PRI estaria buscando apoio de AMLO para jogar denúncias de corrupção para baixo do tapete. Via AFP.
🇵🇾 Novo crime contra a imprensa reacende alerta na fronteira com o Brasil – Um filme infeliz que se repete na fronteira: na terça (6), Humberto Andrés Coronel Godoy, 33, entrou para uma conta macabra se tornando mais um jornalista a ser morto na perigosa cidade de Pedro Juan Caballero, que fica divisa com o estado brasileiro do Mato Grosso do Sul. Funcionário da rádio local Amambay 570 AM, Godoy já vinha sendo alvo de ameaças de morte e chegou a ouvir que seria morto caso “não parasse de investigar” fatos relacionados a uma reportagem. À época, segundo a polícia, o jornalista disse desconhecer a origem das ameaças – e chegou até a recusar uma oferta de proteção pessoal. Ele recebeu os disparos em frente ao trabalho e novas ameaças foram direcionadas à rádio minutos depois. A hipótese de possível ligação entre o crime e o violento contexto de disputa do narcotráfico na região não está descartada: a mesma rádio onde Godoy trabalhava é de propriedade da família do ex-prefeito da cidade José Carlos Acevedo, morto em circunstâncias similares em maio. Nas últimas décadas, Pedro Juan Caballero se tornou um local indigesto para quem trabalha com notícia – no início de 2020, a vítima foi o jornalista brasileiro Léo Veras, alvejado com 12 tiros na porta de casa. Sindicatos de imprensa seguem cobrando melhorias de segurança e, durante a semana, convocaram protestos na capital. Desde 1991, pelo menos 10 jornalistas foram mortos na região que divide os dois países sul-americanos. No ABC Color.
Un clic:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Foram definidos durante a semana os confrontos finais das duas competições do futebol de clubes da América do Sul. Na Libertadores, a disputa principal, uma final brasileira reunirá o Flamengo, que eliminou o argentino Vélez Sarsfield e agora busca seu terceiro título após perder a final do ano passado, e o Athletico Paranaense, em busca de uma conquista inédita após superar o Palmeiras, que vinha de vencer as duas últimas edições. O desfecho ocorre em 29/10, em Guayaquil, no Equador, e será a terceira vez consecutiva que duas equipes do Brasil decidem a taça entre si, uma sequência que jamais havia ocorrido nos 62 anos de competição. Já a Copa Sul-Americana, o torneio secundário da região, será definida em um duelo entre o São Paulo e os equatorianos do Independiente del Valle, na cidade argentina de Córdoba, em 1º/10. Ambas as equipes buscam sua segunda taça na “Sula”.
ARGENTINA 🇦🇷
Ainda investigando a tentativa de atentado contra a vice-presidenta Cristina Kirchner no dia 1º, as autoridades argentinas prenderam no domingo (4) a namorada de Fernando Sabag Montiel, o homem nascido no Brasil acusado da tentativa de magnicídio. Brenda Uliarte, a companheira de Fernando, inicialmente tentou desconversar sobre o envolvimento no caso e chegou a dar entrevistas dizendo que não o vira nos dois dias anteriores ao ataque – mas acabou flagrada ao lado dele no próprio dia do atentado, em filmagens de câmeras de segurança do transporte público. Ela agora é alvo de um indiciamento prévio em que ambos são acusados pelo crime. Colocando mais lenha na fogueira (e nas teorias conspiratórias impulsionadas pela ultradireita, que afirma que tudo não passa de armação dos peronistas), a polícia teria apagado acidentalmente os dados do celular de Sabag Montiel, ao tentar desbloquear o aparelho em busca de informações.
A morte da rainha Elizabeth II, da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, rendeu reações acaloradas em parte da mídia argentina, revivendo as antigas feridas em torno das Malvinas. No canal Crónica, conhecido pela cobertura irreverente e sensacionalista, a monarca falecida na quinta-feira (8) foi tratada como “rainha pirata” e a tela imediatamente mostrou um pedido ao filho e sucessor: “Carlos, devolva as Malvinas” (nos países hispanohablantes, como em Portugal, é praxe traduzir os nomes da realeza). Mas o vídeo mais viral (e virulento) ficou por conta de Santiago Cúneo, um empresário e político com histórico de fracassos eleitorais, que usou seu programa de TV para abrir um espumante enquanto emendava insultos à falecida monarca. No UOL.
Não é novidade para ninguém que a Argentina enfrenta uma crise econômica brutal, já comparada à vivida pelo país no começo do século. Os tempos são duros: com inflação na casa dos 70%, argentinos cada vez mais têm aprendido a viver em uma realidade diferente, o que tem levado a dois feitos colaterais – ao boom em um tipo de consumo que segue uma lógica de crise e ao empobrecimento dos trabalhadores, como conta a reportagem da BBC. Tão grandes têm sido os problemas que Sergio Massa se tornou “superministro” da Economia, sendo encarregado da dura missão de resolver um problema que ninguém conseguiu neste e em outros governos. Na segunda (5), sua pasta anunciou novos incentivos a produtores de soja, na busca de aumentar vendas da oleaginosa em estoque e para que o setor tenha acesso a dólares. No dia seguinte, Massa também confirmou uma linha de crédito junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de US$ 3 bilhões, parte de um plano para aumentar a liquidez do país na moeda estrangeira.
BOLÍVIA 🇧🇴
O presidente Luis Arce esteve no Brasil durante a semana, participando de uma série de eventos como parte de um tour internacional realizado em setembro. Na segunda (5), em São Paulo, Arce se encontrou com o ex-presidente e favorito nas pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva, com quem conversou sobre possíveis alianças. Na oportunidade, Lula prometeu que, se eleito, vai apoiar o ingresso da Bolívia no Mercosul (bloco comercial com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além da hoje suspensa Venezuela), que a nação andina almeja desde 2006. Como previsto, o mandatário boliviano não se encontrou com Jair Bolsonaro. No mesmo dia na capital paulista, Arce também foi recebido na sede da Mídia Ninja, onde deu um palestra sobre o modelo econômico boliviano (entre 2006 e 2017, em boa parte do governo de Evo Morales, Arce serviu como ministro da Economia e é considerado o “pai” do chamado “milagre econômico” do país do Altiplano). O evento foi acompanhado in loco por um dos editores deste GIRO. Mais detalhes no hilo.
Un hilo:
COLÔMBIA 🇨🇴
O presidente nicaraguense Daniel Ortega é um “violador dos direitos humanos”, disse o chanceler colombiano Álvaro Leyva, em entrevista concedida na sexta-feira (9). Recentemente, o ministro foi criticado após a ausência da Colômbia na sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 12/8, que condenou as violações aos direitos humanos promovidas pelo governo da Nicarágua. Agora, o chefe da pasta de Relações Exteriores explicou que havia “tratativas humanitárias” com o governo Ortega para negociar a liberação de 21 presos políticos, incluindo jornalistas, ex-candidatos presidenciais e ex-aliados sandinistas. Mas nada disso avançou por enquanto. Leyva também comentou que a Colômbia e outros 52 países devem assinar, em Genebra, uma moção de censura contra a Nicarágua. “Tudo tem um limite”, acrescentou o chanceler. Na WRadio.
Na esteira da retomada de relações que foi oficializada no final do último mês (saiba mais na última edição), Colômbia e Venezuela anunciaram que vão retomar voos e transporte de carga através da fronteira a partir de 26/9. A informação foi confirmada na sexta (9) pelo presidente Gustavo Petro. “Confirmamos o empenho do governo em restabelecer as relações fraternas”, disse o mandatário. Homólogo venezuelano de Petro, Nicolás Maduro também celebrou a decisão. A expectativa dos dois governos é voltar a movimentar diversas regiões que estavam ociosas por conta dos três anos de suspensão de relações internacionais entre Caracas e Bogotá. Via AP.
COSTA RICA 🇨🇷
O obscuro esquema de financiamento paralelo da campanha que elegeu o presidente Rodrigo Chaves (leia mais na última edição) vai render “CPI” na Costa Rica. Na segunda-feira (5), deputados do país aprovaram, com 34 dos 57 votos da Casa, a criação de uma comissão para investigar as contas de campanha, que agora está sob suspeita de ter operado fazendo uso de “caixa dois” após virem à tona áudios do ex-tesoureiro e atual vice-presidente, Stephan Brunner, na sequência de uma investigação do tribunal eleitoral que apontou possíveis irregularidades. Os parlamentares – que encontraram resistência do partido governista na votação – têm até o dia 16/11 para produzir um relatório com os achados, com a possibilidade de prorrogação do prazo. Rodrigo Chaves foi eleito em abril deste ano e tomou posse no mês seguinte. Em La Teja.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) declarou na quinta (8) o Estado da Costa Rica como responsável pela violação dos direitos à liberdade de pensamento e de expressão contra os jornalistas Ronald Moya Chacón e Freddy Parrales Chaves. Os dois profissionais foram condenados no país pela publicação de uma reportagem no jornal La Nación, em 2005. O texto em questão denunciava chefes de polícia por facilitarem o tráfico de bebidas alcoólicas na fronteira entre o país tico e o Panamá, com informações confirmadas pelo então ministro da Segurança Pública, Rogelio Ramos Martínez. Os jornalistas acabaram absolvidos na esfera penal, mas condenados a indenizar o policial autor da ação no processo civil. A Corte considerou que, apesar de algumas informações inexatas, a reportagem se qualifica como informação de interesse público. No Jota.
CUBA 🇨🇺
Ainda em busca de contornar uma das mais severas crises energéticas dos últimos tempos, o governo da ilha publicou na segunda (5) uma edição extraordinária de seu Diário Oficial confirmando, por meio do Ministério de Finanças e Preços, uma nova resolução que permite a importação de geradores elétricos – diante do que a pasta chamou de “danos ao sistema elétrico nacional”. Desde 1º/8, autoridades alfandegárias já haviam dado luz verde para a importação não comercial de geradores com capacidade superior a 900 watts de potência, solução adotada por Havana após dois meses de apagões e cortes diários em todo o país. A crise é fruto de uma “tempestade perfeita” – sanções internacionais, desabastecimento causado pelo cenário econômico mundial em 2022 e um incêndio em agosto que danificou parte do maior depósito de combustível da ilha (matando pelo menos 16 pessoas) estão entre as razões por trás do problema. A decisão publicada esta semana vale até dezembro. No CubaNews.
Una palabra:
Ñusta – Termo em quéchua que significa princesa ou rainha. No império incaico, as ñustas eram as filhas dos incas. Ainda virgens, representavam, em celebrações, a terra ainda não fecundada. Em países como Bolívia e Peru, ao festejar os frutos da Pachamama (mãe-terra), a figura das princesas aparece ao lado de uma mulher mais velha, que simboliza a terra e fertilidade. Atualmente, a presença das “ñustas” em festividades folclóricas ganhou um novo significado. O nome é relacionado às participantes de concursos de beleza e dança: as vencedoras ganham o título de “Ñusta”.
EL SALVADOR 🇸🇻
Há exatamente um ano na quarta (7), a Bitcoin se tornava uma moeda oficial no país, realizando um plano inédito no mundo e gestado aos sabores do soberano presidente Nayib Bukele – que atropelou instituições para aprovar sua lei sem resistência. Até aqui, mais perguntas do que respostas: originalmente exaltada pelo mandatário como um canal que reduziria em US$ 400 milhões o custo das taxas de remessas internacionais (dinheiro que entra no país vindo de salvadorenhos que moram fora), a moeda digital não fez valer a escolha – em alguns casos, fazer as transferências normalmente saía até mais barato. As críticas também se relacionam à brusca desvalorização da Bitcoin frente a moedas fiduciárias: por azar de Bukele, meses após se tornar legal por lá, a BTC viu seu valor unitário sofrer uma das piores quedas da década, o que fez a carteira de San Salvador (inicialmente cotada acima dos US$ 100 milhões) sofrer um prejuízo de até 50%. Tudo isso, com dinheiro público – o que só aumentou as críticas de especialistas e entidades globais, gerou protestos populares e fez pairar sobre o país um risco de calote. No discurso do governo, porém, tudo são flores: Bukele não apenas comprou mais criptomoedas após a desvalorização (decisão comum no mundo dos investimentos), como segue defendendo seu plano de estimular turismo, inclusão digital e soberania econômica por meio da criptomoeda. Na CNN
EQUADOR
Não foi só na Costa Rica. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou o Estado equatoriano na segunda (5) pela morte do pescador Luis Eduardo Casierra Quiñones e por ferimentos causados a seus irmãos durante uma operação da Marinha em 1999. O Estado, segundo a sentença, “violou os direitos à vida e à integridade pessoal ao permitir que os agentes estatais usassem força excessiva na ação”. As vítimas da truculência pescavam na baía de Atacames, província da Esmeraldas, no litoral norte do país, quando foram alvejados por fuzileiros navais. Eles teriam sido supostamente confundidos com piratas. Os autores dos disparos não foram punidos. A corte internacional determinou a retomada das investigações para que a justiça seja feita. No Jota.
GUATEMALA 🇬🇹
Ameaçada de suspensão no esporte internacional a partir de 15/10, a Guatemala recebeu uma colher de chá do Comitê Olímpico Internacional (COI) nesta quinta-feira (8): se o Comitê Olímpico Guatemalteco (COG) cumprir um plano de metas, que inclui a suspensão de parte do seu próprio estatuto e o respeito a uma série de regras internacionais da administração do esporte, os atletas do país poderão continuar competindo sob a bandeira da Guatemala. O risco de suspensão veio após uma interferência da Justiça do país nas eleições internas do COG, que na prática inverteu os resultados originais – esse tipo de ação dos tribunais é vedada pelas regras do esporte internacional. Agora, os dirigentes guatemaltecos têm até o dia 25 para apresentar seu plano para se adequar à proposta do COI ou engolir a pena. O país também corre contra o tempo porque, a partir de 27/10, será co-anfitrião dos Jogos Centro-Americanos junto com a Costa Rica, e teria que abrir mão de sediar o evento caso seja efetivamente suspenso. No Surto Olímpico.
HONDURAS 🇭🇳
Começaram os leilões dos bens do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), preso logo após deixar o cargo no início deste ano e que hoje aguarda julgamento nos Estados Unidos por supostos crimes relacionados ao narcotráfico. As autoridades responsáveis pelo confisco dos bens ainda não revelaram exatamente a totalidade das posses de JOH, mas deram uma pista nesta semana, anunciando o leilão de 15 cavalos de raça que eram a paixão do ex-mandatário. Sem perspectivas de que o antigo presidente volte ao país – o irmão dele, o ex-deputado Tony Hernández, já pegou pena perpétua nos EUA por acusações semelhantes – ainda se aguarda o que será feito com o restante da fortuna de JOH: em abril, foram apreendidas 30 propriedades, oito sociedades mercantis, o conteúdo de 80 contas bancárias e 16 veículos que estavam no nome do ex-mandatário. Em El Heraldo.
Ameaças à imprensa foram tema de um novo informe divulgado na quinta (8) pela Comissão de Direitos Humanos (Conadeh), mostrando que, desde 2001, 94 pessoas ligadas a meios de comunicação (jornalistas, comunicadores sociais ou donos de veículos) foram mortas de maneira violenta em território hondurenho. O mesmo relatório mostra que 90% dos casos seguem impunes. Autoridades também denunciam pelo menos 66 relatos de ameaça à profissão. Na mesma semana, outro documento, este divulgado na quarta (7), informou que o país também vai iniciar um estudo sobre violência contra mulheres e meninas. As entrevistas serão feitas em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A iniciativa, segundo organizadores, busca “a construção de políticas públicas contra a violência” de gênero. Via EFE.
Un nombre:
Manuela Gandarillas – Heroína boliviana que liderou o combate conhecido como “Heroínas de la Coronilla” na luta pela independência do país. Nascida no território conhecido hoje como o departamento de Cochabamba, Gandarillas era cega. No dia 27 de maio de 1812, enfrentou uma tropa de espanhóis e liderou um grupo de mulheres armadas na Colina de San Sebastián, lugar conhecido como La Coronilla, onde protagonizou uma batalha que durou mais de três horas. Após ter sido ferida no peito, conta-se que ela pegou o seu sangue e passou no rosto, antes de cair. Em sua memória e reconhecimento por sua força, no 27 de maio é comemorado o Dia das Mães na Bolívia.
NICARÁGUA 🇳🇮
Cinquenta e quatro veículos de imprensa fechados. Esse é o saldo deixado até aqui pelo governo de Daniel Ortega, que vem travando uma dura batalha contra opositores, organizações sociais e, não menos importante, a liberdade de imprensa. As investidas do orteguismo incluem fechamento forçado de redações, batidas injustificadas, confiscos de materiais e de matéria-prima de jornais físicos e até prisões de jornalistas considerados deliberadamente um risco à segurança nacional. Nos últimos quatro anos, 11 profissionais da comunicação foram detidos. O número de jornalistas forçados ao exílio chega a 140, segundo uma investigação feita pelo Confidencial. O caso mais recente compete ao diário La Prensa, um dos mais antigos do país, forçado a migrar toda sua operação para a vizinha Costa Rica por medo de represálias.
PANAMÁ 🇵🇦
Os protestos acabaram há um bom tempo, mas os ecos seguem: na quarta (7), o Conselho Nacional da Empresa Privada (Conep) apresentou às cortes panamenhas uma ação de inconstitucionalidade contra um decreto do governo que estabeleceu uma margem bruta máxima para a venda de alguns produtos importados, medida acordada pela mesa de diálogo pós-protestos a fim de diminuir preços da cesta básica. A alta dos preços da vida cotidiana, problema para toda a região em 2022, foi um dos pilares motivadores do paro nacional que sacudiu o istmo centro-americano em julho (relembre no GIRO #140). Desde então, vários acordos foram feitos para reduzir o preço de alimentos, remédios e combustíveis. No sentido oposto do que argumentam organizações sindicais e movimentos sociais que lideraram as passeatas, representantes da Conep defendem a volta da livre concorrência e dizem que intervenções do Estado são “prejudiciais aos cidadãos”. Via EFE.
PERU 🇵🇪
Semana nova, crise nova: o Congresso destituiu na segunda (5) a presidenta da Casa, a conservadora Lady Camones. A decisão veio após parlamentares aprovarem uma moção motivada pelo vazamento de áudios em que Camones seria instruída pelo chefe de seu partido, César Acuña, a priorizar uma lei que favorecia esse mesmo líder em sua busca por um cargo de governador. Os áudios comprometedores pediam que um bairro popular da região de La Libertad fosse transformado em distrito – o que daria a Acuña a possibilidade de capitalizar votos a seu favor nas eleições regionais de outubro. A medida contra a presidenta foi apresentada por um grupo de partidos ligados ao governo de Pedro Castillo. Uma nova eleição para escolher o novo comandante do Legislativo (que tem maioria conservadora) deve acontecer nos próximos dias; até lá, o comando fica com a primeira vice Martha Moyano. Camones durou só pouco mais de um mês no cargo: ela entrou no final de julho, substituindo a polêmica María del Carmen Alva (flagrada em áudios golpistas), que havia concluído seu mandato de um ano. Na RFI.
PORTO RICO 🇵🇷
Segue a treta. A Luma Energy, consórcio privado que hoje toma conta do sistema de energia da ilha, atribuiu na quarta (7) a lista de problemas enfrentados pela matriz energética porto-riquenha ao cenário de “abandono” deixado pela estatal Autoridade de Energia Elétrica de Porto Rico (PREPA), antiga responsável. No último ano, a companhia canadense-estadunidense vem sendo alvo de críticas e protestos pela massiva quantidade de apagões desde que assumiu as transmissões, o que tem levado cidadãos ao limite. Virou batata-quente: cada lado da história culpa o outro pelo desabastecimento, que tem como pano de fundo a destruição de parte da infraestrutura energética após o furacão María, em 2017, além de denúncias de falta de amparo financeiro por parte dos EUA (país ao qual Porto Rico é integrado). Segundo a Luma, a única forma de resolver o que chamou de “deterioração do sistema elétrico” seria colocar em prática um plano multimilionário que poderia levar até 15 anos para ser concluído. Na Prensa.
Dale un vistazo:
📽️ La teta asustada – O filme retrata a condição de vida das mulheres vítimas de violência em locais dominados pela guerrilha peruana Sendero Luminoso. A história acompanha a trajetória de Fausta, que sofre de “teta assustada", nome de uma crença andina na qual as mães vítimas de violência transmitem, por meio da amamentação, a melancolia e o terror sofrido às crianças. Fausta vive em um bairro humilde de Lima, é filha de uma mulher indígena violentada em Ayacucho e carrega um sentimento de desconfiança pelos homens. Com receio de ser violentada, a personagem introduz uma batata em suas partes íntimas para evitar possíveis estupradores. Em 2010, “La teta asustada” tornou-se o primeiro longa-metragem peruano a ser indicado ao prêmio Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme está disponível no Mubi.
📽️ La teta asustada (Peru/Espanha, 2009). Dir.: Claudia Llosa. 95 min.
URUGUAI 🇺🇾
A pauta é energia limpa. E o paisito, de olho no assunto, vai começar a medir o interesse de investidores e para rascunhar projetos de desenvolvimento em “hidrogênio verde” na porção sul da América. O composto, obtido a partir de fontes renováveis, é considerado uma alternativa para reduzir as emissões da indústria global. A ideia experimental de Montevidéu é lançar a licitação de 10 blocos marítimos de geração eólica nos próximos meses. As regras da licitação serão detalhadas pela estatal de energia, a Ancap, no segundo trimestre de 2023. Pioneiro em avanços civis, o Uruguai também destaca na produção de energia limpa: graças a investimentos em fontes eólica, solar e de biomassa, hoje o país pode chegar a gerar mais de 95% de sua eletricidade anual a partir de meios renováveis. No Valor.
VENEZUELA 🇻🇪
Felizmente, foi só um susto: após dias de intensas buscas, um grupo de 16 pessoas que havia sido dado como desaparecido desde o dia 22/8 foi finalmente encontrado em uma fazenda na região dos Andes venezuelanos na quinta (8) – e, mais importante: em bom estado de saúde. A trupe – que contava com integrantes menores de idade – partiu da cidade de La Grita e havia se isolado em uma região montanhosa para um retiro espiritual, mas acabou causando pânico entre autoridades e familiares após não estabelecer mais comunicação desde o final do último mês. “Eles estão sãos e salvos”, celebrou o governador do estado de Táchira, Freddy Bernal. Toda a missão de busca contou com drones e várias equipes e acabou virando uma verdadeira novela nacional. A cidade da qual o grupo partiu é um conhecido ponto de peregrinação católica. Via AFP.
Uma nova pesquisa da ONG venezuelana Clima21, com base em informações da organização Global Forest Watch, alertou que a Venezuela é o país amazônico que apresenta a maior perda de floresta entre todos as nações que abrigam a imensa zona de mata tropical. Segundo o estudo, o país caribenho é seguido por Colômbia e Bolívia. Diz o relatório que “durante o período 2016 a 2021, especialmente nas florestas naturais, a Venezuela sofreu a maior velocidade de aumento no desaparecimento desse tipo de vegetação”. Entre as causas por trás do problema, a ONG aponta um aumento de “agricultura itinerante, obtenção de produtos básicos da floresta e, sobretudo, incêndios florestais”. No Clima21.
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