Chile: referendo pode enterrar texto da nova Constituição
Possível vitória do “rechaço”, porém, não significa fim do projeto para substituir a Carta Magna atualmente em vigor
Chegou a hora. O longo processo iniciado pelo Chile com o estallido social de outubro de 2019 pode encontrar seu ponto culminante neste domingo (4), quase três anos após o início das manifestações. A população está convocada a uma votação obrigatória que poderá marcar a substituição definitiva da Constituição de 1980, imposta durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), por aquela escrita pela primeira vez por uma Convenção eleita democraticamente apenas para esse fim. Mas, ao contrário do que se imaginava quando o processo começou, e mesmo no início de 2022, hoje o mais provável é que o texto proposto acabe rejeitado nas urnas.
Às vésperas da aguardada votação, todas as pesquisas apontam o “rechaço” na frente – uma média de pouco menos de 47%, contra em torno de 38% das intenções de voto ao “aprovo” para o novo texto constitucional. Essa ultrapassagem se deu em maio, como observado por este GIRO na época (leia mais sobre o que já era discutido, na edição #131), e jamais foi revertida. Ainda há cerca de 15,5% do eleitorado que diz não ter tomado uma decisão, e aqueles que seguem confiando na viabilidade da nova Carta Magna se agarram à imprevisibilidade das pessoas em dúvida para sugerir que uma surpresa se desenharia no domingo. Entre os fatores citados, está o próprio fato de que, desta vez, o voto é obrigatório em um país que passou a última década com o sufrágio sendo apenas facultativo. Ou seja: contaria com a participação de uma parcela da população de baixa renda que se afastou das urnas e teria um comportamento menos previsível pelos modelos estatísticos dos últimos tempos.
Em qualquer cenário, porém, é praticamente certo que a nova Constituição não conseguiu fazer jus à receptividade inicial da população e mesmo uma improvável aprovação viria com muito menos apoio do que se gostaria. Uma situação que já fez o próprio presidente Gabriel Boric prometer que, na eventualidade da vitória do “aprovo”, o texto seria imediatamente reformulado – declaração que rendeu até denúncia à Controladoria do país, acusando o mandatário de estar tentando interferir no processo. Vale recordar: a caminhada foi pensada para começar e terminar com referendos, apelidados como o “de entrada” – que definiria se o Chile realmente embarcaria na jornada rumo à Constituinte – e o “de saída” – este que acontecerá agora. Enquanto o pleito de entrada, em outubro de 2020, teve 78% dos votos favoráveis à elaboração de uma nova Carta Magna, o deste final de semana deve ver números bem distantes disso.
Os dias finais da campanha foram marcados por novas controvérsias. Em Valparaíso, no sábado passado (27), o ato de encerramento da campanha pela aprovação na cidade rendeu a última grande polêmica do pleito: uma performance viral do coletivo de travestis Las Indetectables incluiu um momento em que uma bandeira do Chile era passada pelas nádegas de uma das participantes – um ato que rendeu notas de repúdio da direita à esquerda política e até mesmo uma denúncia formal por parte da própria campanha do “aprovo” por atentado ao pudor em um “evento familiar”, além de ser considerado crime por “ultraje” ao símbolo nacional. Durante a semana, na quinta-feira (1º), Simón Boric, irmão do presidente Gabriel Boric e chefe de comunicações da Universidade do Chile, foi agredido por um grupo de homens desconhecidos em plena luz do dia em Santiago – o ato, embora sem vinculação óbvia com o referendo, somou-se ao clima de tensão que tem precedido a ida às urnas.
A centro-esquerda aliada ao governo e favorável à aprovação da Constituição tem acusado a imprensa tradicional do Chile de ter feito campanha constante para aumentar a confusão em torno do conteúdo real da Carta Magna e as incertezas quanto a um futuro pós-aprovação, o que teria sabotado as chances de vitória nas urnas em meio a um cenário em que as fake news também tomaram conta das redes. Ao mesmo tempo, Boric e seus aliados vêm perdendo o apoio de setores mais radicais da esquerda, desiludidos com a política de moderação que, para muitos, cada vez mais tem ecoado a realpolitik da Concertación (a ampla coalizão de centro-esquerda que governou o país nos 20 primeiros anos após o final da ditadura, nos governos de Patricio Aylwin, Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Ricardo Lagos e Michelle Bachelet). A manutenção da intervenção militar no sul do país e a recente prisão do líder da resistência armada mapuche Héctor Llaitul se somaram para aumentar a contrariedade desses grupos.
Na quinta-feira (1º), à noite, ainda na esperança de reverter a tendência das pesquisas, uma multidão tomou as ruas de Santiago para o último ato massivo do “aprovo” na capital chilena. Mas, apesar da expectativa quanto ao domingo, a população e os políticos da nação transandina já parecem estar mais preocupados com os acordos que precisarão ser feitos a partir da manhã de segunda-feira. Seja com a improvável aprovação do texto da Convenção Constitucional, que o próprio Boric prometeu reformar, ou com a arquitetura de novos acordos para substituir a Constituição atual. A certeza de maio, quando acendeu-se o alerta da rejeição, ainda é a concordância de setembro: mesmo que as urnas digam “rechaço” ao texto que está sob escrutínio agora, a Carta de 1980 deve ir embora. Este foi o acordo firmado pelos principais partidos do país no final de 2019 e reafirmado pela votação “de entrada” em 2020.
Mas o que fazer se o voto popular efetivamente enterrar o texto que está sendo proposto? Uma nova Constituinte (opção cara e demorada desejada por 49% da população, segundo uma pesquisa recente), um novo texto elaborado pelo Congresso, partindo do zero ou do atual – ou ainda outro caminho? A discussão ficou para depois dos resultados. A dúvida quanto ao “plano B”, que já estava sobre a mesa quatro meses atrás, permanece agora.
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DESTAQUES
🇦🇷 As repercussões do atentado contra Cristina Kirchner – O mundo assistiu atônito nas últimas horas de quinta-feira (1º) ao atentado que, por muito pouco, não tirou a vida da vice-presidenta Cristina Kirchner, em frente à casa onde mora em Buenos Aires. O resumo do episódio de violência está explicado nesta edição extra do GIRO, publicada pouco após o incidente. Madrugada adentro, porém, notícias e boatos não deram trégua. As primeiras horas posteriores ao ataque a Cristina foram marcadas por protestos, pela paralisação do futebol em nível nacional e por condolências vindas de diversos líderes de dentro e fora da América Latina, além de um decreto de feriado ao longo da sexta para que a população se manifestasse “pela paz”. Além de quase todos os presidentes latino-americanos, os ex-mandatários Evo Morales, da Bolívia, e Lula e Dilma Rousseff, do Brasil, engrossaram o coro que condenou o ato. O governo de Joe Biden nos EUA, o primeiro-ministro da Espanha Pedro Sánchez e o papa Francisco, que é argentino, também expressaram indignação pela violência contra a peronista. Jair Bolsonaro foi um dos últimos a quebrar o silêncio: se resumiu a dizer que “lamenta”, sem deixar de usar a oportunidade para lembrar da facada que recebeu em 2018. “Teve gente que comemorou”, disse. Também mencionando a facada, o chanceler brasileiro Carlos França disse a’O Globo que o ocorrido foi um “ato injustificável”.
🇦🇷 O que já se descobriu sobre o autor – Mas, afinal, quem tentou matar Cristina? Após uma enxurrada de notícias falsas e boatos – incluindo a criação de contas fake conectando o atirador a símbolos da esquerda – a Justiça local chegou a um nome: Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos, nascido no Brasil, mas residente na Argentina desde a infância. O jornal Página 12 deu mais detalhes sobre ele. As primeiras imagens de Montiel mostraram em seu cotovelo uma tatuagem do “Sol Negro”, símbolo europeu antigo ressignificado por organizações neonazistas e de grupos que pregam supremacia racial. A polícia também encontrou pelo menos 100 balas e outros artefatos incomuns na casa do atirador. O pai dele, de nacionalidade chilena, foi expulso do Brasil no ano passado depois de ter sido condenado por furto e estelionato, como contamos neste fio. Autoridades devem seguir soltando novas informações à medida que as investigações avançam.
🇨🇷 Presidente admite possível financiamento irregular, mas desconversa – Após áudios virem à tona na semana passada indicando um suposto esquema de caixa dois na campanha presidencial que elegeu Rodrigo Chaves, o mandatário costa-riquenho mantém em suspenso se aceitaria abrir mão da imunidade de que goza no cargo para facilitar as investigações. Chaves confirmou a veracidade do áudio, em que se ouve o ex-tesoureiro de campanha e atual vice-presidente Stephan Brunner falando a respeito de um esquema paralelo de financiamento e usando a expressão “dinheiro contaminado” – mas, apesar da confirmação, Chaves seguiu desconversando diante das indagações da imprensa. “Não vou perder meu tempo nem o tempo da Costa Rica dando mais informação”, afirmou o presidente, garantindo que está com “a consciência absolutamente tranquila”. Em La República.
🇵🇪 Possível homicídio de peruano trans por autoridades indonésias desencadeia investigação – “Necropsia inmediata ya!” Era o que podia ser lido em cartazes de manifestantes em Lima, para exigir que o procedimento seja realizado em um homem transgênero peruano que morreu no início deste mês, após ser detido na ilha turística indonésia de Bali. Com as razões da morte ainda desconhecidas, Rodrigo Ventocilla, um estudante de pós-graduação de 32 anos da Universidade de Harvard, faleceu no dia 11/8 em um hospital de Bali, após ter sido detido ao chegar ao aeroporto da ilha. Na ocasião, seu marido, Sebastián Marallano, também foi preso – os dois, que se casaram no Chile, haviam viajado à nação asiática para a lua de mel. “Ele foi detido por causa de sua identidade de gênero. Seu documento de identidade não correspondia à sua aparência. Isso fez dele um suspeito para a polícia indonésia. Ele foi extorquido, torturado e morreu”, disse Luzmo Henríquez, em nome da família, à agência AP. Os familiares esperam que o corpo chegue a Lima para que o motivo da morte possa ser investigado, e as autoridades peruanas confirmaram na quinta (1º) que um inquérito foi aberto para apurar o que ocorreu. Via AP.
🇻🇪 Caracas recebe novo embaixador colombiano após anos de rompimento – Com direito a fotos e abraços, o governo de Nicolás Maduro recebeu no Palácio de Miraflores, no domingo (28), o novo embaixador colombiano Armando Benedetti (saiba mais sobre a figura no hilo do GIRO), encerrando de forma oficial um hiato de três anos sem relações diplomáticas formais entre os dois países vizinhos de fronteira (uma relação que, diga-se, tem longo histórico de turbulência). Em Caracas, Benedetti disse que o primeiro encontro oficial entre Maduro e seu homólogo colombiano Gustavo Petro, responsável por propiciar a retomada dos laços, deve acontecer “no final de setembro”. Do outro lado da fronteira, no mesmo final de semana, chegou a Bogotá o também novo representante do governo chavista na capital colombiana, o ex-ministro de Relações Exteriores Félix Plasencia. Em discurso uníssono ao de seu par na capital caribenha, Plasencia prometeu “resgatar a tradição latino-americana em que povos irmãos trabalham juntos”. No Brazilian Report.
Un hilo:
Uma compilação de links e informações sobre o atentado na Argentina.
MAIS NOTÍCIAS
BOLÍVIA 🇧🇴
O ex-presidente Evo Morales (2006-2019) teve seu celular furtado durante um evento político na cidade de La Guardia, na região metropolitana de Santa Cruz de la Sierra, no último domingo (29). O episódio, registrado apesar de Evo estar rodeado de guarda-costas, rendeu debates sobre a questão da segurança pública no país – e fez a polícia iniciar uma operação de busca para tentar localizar o aparelho, temendo o acesso a informações sensíveis para a segurança nacional. Grupos de direita, por outro lado, ironizaram a situação e se ofereceram para presentear o antigo mandatário com um novo celular, “com chip incluído”. Durante a semana, Morales voltou a dizer que grupos conservadores promovem uma “guerra suja” contra ele. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre o paradeiro do dispositivo subtraído ao ex-presidente. No Página Siete.
CHILE 🇨🇱
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro colou mais uma figurinha em seu álbum de garranchos diplomáticos quando, no domingo (28), insinuou durante um debate presidencial que seu homólogo chileno Gabriel Boric teria ateado “fogo no metrô”, referindo-se ao passado militante do mandatário. As acusações, no entanto, são falsas – e levaram o governo de Santiago a dar duras declarações de repúdio às falas de Bolsonaro. Na segunda (29), a ministra de Relações Exteriores do Chile, Antonia Urrejola, chamou de “absolutamente falsas” as palavras do líder brasileiro, lamentando que “relações bilaterais sejam aproveitadas e polarizadas por meio de desinformação com notícias falsas”. O capitão, vale lembrar, também não compareceu à posse de Boric em março deste ano e já havia criticado seu par em outras oportunidades. O estremecimento de relações foi tão abrupto que, no mesmo dia, o governo chileno também convocou o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, para esclarecimentos. A Pacheco foi entregue uma carta com uma série de recomendações.
E não foi só isso: durante a semana, Boric deu uma longa entrevista à revista TIME, falando sobre seu governo, as perspectivas para a votação da nova Constituição e sobre o que pensa a respeito do momento político da América Latina. Perguntado, também, sobre um cenário em que Bolsonaro não aceitaria o resultado das eleições brasileiras, Boric citou o golpe na Bolívia em 2019 e disse que, caso o filme se repita no Brasil, “a América Latina tem que reagir em conjunto para impedir”.
COLÔMBIA 🇨🇴
Em longa reportagem, a BBC dá mais detalhes sobre um episódio de massacre esquecido na história latino-americano: o chamado “Holocausto da Borracha”, uma onda brutal que durou três décadas e dizimou povos indígenas da Amazônia colombiana, entre os século 19 e 20. Os números da matança seguem incertos: alguns falam em 100 mil, outros 50 mil vítimas. Mesmo assim, conta a matéria, “a verdade é que hoje menos de 4 mil” seguem e resistem na região de La Chorrera.
Quatro massacres deixaram 13 pessoas mortas entre a última sexta-feira (26) e domingo, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz). No município de Cumbal, em Nariño, homens armados assassinaram três indígenas. Além disso, dois jornalistas, um homem e uma mulher, foram mortos a tiros na madrugada de domingo (28) ao saírem de uma festa no município de Fundación, província de Magdalena. Segundo versões preliminares da polícia, o crime teria ocorrido após uma briga, mas não se descarta a possibilidade de estar relacionado ao trabalho das vítimas. A América Latina é o continente mais inseguro para a prática jornalística, com o México na liderança do ranking de assassinatos de profissionais da imprensa. Na sexta (2), outro massacre no país, mas agora contra policiais: em Huila, ao menos sete agentes foram assassinados em uma emboscada aparentemente organizada por um grupo do narcotráfico, embora o governo não tenha precisado os autores até o fechamento desta edição. Foi o ataque mais letal contra as forças de segurança desde a posse do presidente Gustavo Petro, há menos de um mês. O mandatário viajou para a região após a confirmação do ataque. Em El País.
CUBA 🇨🇺
Morreu aos 60 anos, na terça (30), Camilo Guevara March, filho do guerrilheiro e líder revolucionário Ernesto “Che” Guevara. Segundo informações do governo cubano, o filho do icônico socialista argentino-cubano foi vítima de um infarto fulminante, na Venezuela. O presidente Miguel Díaz-Canel lamentou o ocorrido e lembrou que Camilo era um dos diretores do chamado Centro Che, em Havana, local “que conserva parte do extraordinário legado de seu pai. Na BBC.
Diante de uma crise energética causada por picos de desabastecimento de combustíveis, Cuba passou a negociar com uma empresa turca para dobrar os megawatts que produz e distribui atualmente. Apagões em toda a ilha, agravados pelo letal incêndio nos reservatórios de Matanzas, têm causado pequenos protestos durante as últimas semanas. O abastecimento alternativo será feito por meio de geradores transportados em navios da empresa Karpowership, uma das maiores do mundo no ramo de usinas flutuantes. A empresa já possui cinco navios operando na costa cubana. Via Reuters.
Un clic:
A última manifestação a favor da aprovação da nova Constituição, em Santiago, na quinta (1º) à noite.
EL SALVADOR 🇸🇻
Com bandeirinhas, corações e ironia. Foi assim que, obviamente pelo Twitter, o presidente Nayib Bukele fez menção à opinião de seu homólogo chileno Gabriel Boric. À TIME, Boric disse não se sentir “muito identificado com a forma com que Bukele está conduzindo seu governo”. O mandatário salvadorenho não deixou a frase sem resposta: “o importante não é que ele não se identifique comigo, mas que meus ‘irmãos chilenos’ se identifiquem com ele”, tuitou, colocando emojis provocativos ao final da postagem. No T13.
EQUADOR 🇪🇨
O governo equatoriano iniciou, na quinta (1º), um aguardado processo de regularização para imigrantes venezuelanos que residem no país sem a documentação ou vistos de permanência adequados. De acordo com a chancelaria, o processo equivale a uma “anistia migratória” e tem como foco inicial cerca de 324 mil pessoas que ingressaram no país por meios oficiais. A ideia, porém, é que o processo leve um ano inteiro, e a partir de fevereiro de 2023 a oportunidade de regularização seria também estendida a um número estimado de 300 mil venezuelanos que entraram no Equador por meios clandestinos. Não é a primeira ação nesse sentido: em 2019, cerca de 57,5 mil cidadãos venezuelanos receberam um “visto humanitário” semelhante para poder recomeçar suas vidas em solo equatoriano. Via Reuters.
GUATEMALA 🇬🇹
Em busca de fortalecer laços diplomáticos, Taiwan e Guatemala assinaram na quinta (1º) um acordo de cooperação, durante uma visita do chanceler guatemalteco, Mario Bucaro, à ilha asiática. Em um comunicado, Bucaro declarou que o país centro-americano “sempre apoiará” Taiwan – frase que gerou inquietação por parte da China, que não reconhece a autonomia do território taiwanês e tem aumentado o tom contra a expansão de laços políticos por parte de Taipei. A Guatemala integra uma lista restrita de 14 países que mantêm laços diplomáticos formais com a Taiwan, ao lado dos latino-americanos Honduras e Paraguai. Via Reuters.
HAITI 🇭🇹
Pelo menos uma pessoa morreu e outras 11 ficaram feridas na segunda (29) após novos protestos em Petit-Goâve, região oeste do país. A vítima fatal teria sido sufocada pelo gás lacrimogêneo usado pelos policiais para dispersar os manifestantes. Os protestos seguem nas últimas semanas diante de uma já conhecida situação de caos completo, o que inclui um aumento vertiginoso no custo de vida, escassez de combustíveis e uma crise política sem data para terminar. Nas ruas, haitianos também clamam – sob promessa de “queimar” o país caso não sejam ouvidos – pela renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, que ocupa o cargo máximo no país desde o assassinato (jamais solucionado) do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021. O próprio Henry é acusado de tramar contra pela morte do antigo mandatário e barrar as investigações contra si (saiba mais na edição #118). No Página 12.
HONDURAS 🇭🇳
O governo da Espanha concedeu a Honduras na segunda (29) um empréstimo no valor de US$ 70 milhões que será destinado à construção de três hospitais – nas cidades de San Pedro Sula, Salamá e Nueva Ocotepeque –, segundo informou o Ministério da Saúde hondurenho. O empréstimo foi feito sob baixas condições de juros e teve forte apoio por parte do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que visitou a capital Tegucigalpa durante um tour que o levou também à Colômbia e ao Equador. No Bnamericas.
MÉXICO 🇲🇽
Sem avançar na busca pelos 10 mineiros desaparecidos dentro de uma mina de carvão alagada em Coahuila (saiba mais no GIRO #144), o México jogou a toalha: na segunda (29), quase um mês após o incidente, o presidente López Obrador mostrou em entrevista coletiva que o governo já dá por mortos os trabalhadores, pela primeira vez substituindo o discurso de “resgate” pelo de “recuperar os corpos”. E, mesmo assim, não será nada fácil: autoridades à frente das missões na mina dizem que toda a operação pode demorar de seis a 11 meses. Passada a esperança, na quarta (31), familiares das vítimas e o governo AMLO também assinaram um acordo de indenização destinado às viúvas. Em El País.
A triste marca de 100 mil pessoas desaparecidas – cujos vestígios, diferentemente do caso dos mineiros da nota acima, podem nunca mais ser encontrados – levou à formação de uma nova marcha na capital, na terça (30), com parentes das vítimas pedindo respostas às autoridades com cartazes em que se lê “onde estão nossas crianças?”. O número de desaparecimentos sem solução contabiliza todos os registros do tipo desde 1964, mas os casos aumentaram exponencialmente após a intensificação da política falida de guerra às drogas, em 2006. Via AP.
Una expresión:
Amarillo – Pessoa que muda constantemente de opinião política, que não se posiciona ou que fica “em cima do muro”. Também é usado de forma pejorativa para se referir a políticos da centro-esquerda chilena, por não serem tão radicais quanto alguns gostariam. Até mesmo o presidente Gabriel Boric já recebeu a alcunha de amarillo. Em outros países da região, figuras mais ao centro ainda são chamadas de tibios – termo mais próximo do “isentão” no Brasil.
NICARÁGUA 🇳🇮
O governo de Daniel Ortega fez uma exibição de presos políticos em “audiências informativas” – procedimento fictício que apenas serviu para visualizar sinais de desnutrição nos opositores detidos. Na quinta (1º), sete deles foram apresentados depois de ficarem incomunicáveis por mais de um ano, com racionamento de comida na temida penitenciária conhecida como “El Chipote”. Outros 20 presos – jornalistas, ativistas e defensores dos direitos humanos – estão em situações semelhantes, com denúncias de falta de atendimento médico e interrogatórios constantes. Até mesmo antigos guerrilheiros, outrora vistos por Ortega como irmãos em armas durante a Revolução Sandinista de 1979, não têm escapado das prisões e abusos do governo. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
O presidente Laurentino Cortizo aprovou, na quarta (31), dois decretos sobre o uso da cannabis para fins medicinais. Com isso, passa a ser permitido e regulamentado o cultivo, importação, produção e comercialização da substância. Segundo Cortizo, a mudança vai trazer “alívio a milhares de pacientes”. No mesmo dia, o presidente também confirmou a criação de um órgão regulador que vai fiscalizar a atividade ligada à cannabis. A entidade ficará sob o guarda-chuva do Ministério de Segurança Pública. “Nossa intenção é promover a médio e longo prazo o estabelecimento de empresas locais e estrangeiras que possam abastecer o mercado interno com matérias-primas produzidas no Panamá”, disse, por fim. No Infobae.
PARAGUAI 🇵🇾
O presidente Mario Abdo Benítez vetou de forma total, por meio de um decreto publicado na segunda (29) um projeto de lei que regulamenta a mineração de criptomoedas, permitia licenças a corretoras e concedia uma série de outras isenções fiscais à atividade digital. O projeto foi aprovado pelo Senado em julho e estava pendente de receber as bênçãos do Executivo. Porém, nada feito: o governo alegou, entre várias razões, que o setor de criptoativos (que está aquecido no país, como conta reportagem da BBC) demanda um consumo excessivo e nada sustentável de energia, o que poderia, no limite, comprometer a distribuição no Paraguai. Além disso, segundo consta no documento, a relação entre altos investimentos e baixa necessidade de mão de obra traria poucos benefícios a uma economia em crise. O decreto também levou em conta ressalvas feitas pelo Banco Central do país em relação a riscos fiscais e de transparência. O tema deve voltar ao Congresso para ser submetido a novas discussões. No Infobae.
PERU 🇵🇪
Investigada por esquema de corrupção envolvendo o governo, a cunhada do presidente Pedro Castillo teve prisão preventiva ordenada por um prazo de até 30 meses. Yenifer Paredes entregou-se às autoridades no dia 10/8, um dia após uma operação policial inédita que havia tentado localizá-la em pleno palácio do governo, mas não a encontrou. Depois de adiar sua decisão duas vezes, o juiz Johnny Gómez ordenou, no último domingo (28), que Paredes fosse presa sob a justificativa de que havia “uma alta probabilidade de fuga”. Se condenada, a cunhada de Castillo poderá ganhar pena de até 23 anos. Via AP.
Apesar de crises em seu governo, Castillo assumiu na segunda (29) a presidência temporária do bloco da Comunidade de Nações Andinas. A mudança de comando veio após o presidente receber de seu homólogo do Equador, Guillermo Lasso, a liderança pro tempore do bloco, dando a Castillo a cadeira que ocupará por um ano. Um “desafio assumir o cargo”, disse. A aliança foi criada em 1969 e reúne, além de peruanos e equatorianos, a Bolívia e a Colômbia, no objetivo de traçar metas comuns. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
O banqueiro Julio Martín Herrera Velutini declarou-se, na quarta (31), inocente dos crimes financeiros pelos quais está sendo processado. Não são acusações quaisquer: o empresário está envolvido em um escândalo de subornos que chegou ao nome da ex-governadora Wanda Vázquez (2019-2021), presa no início de agosto. Segundo investigações, Velutini teria oferecido financiar a frustrada campanha de reeleição Vázquez em troca da demissão do responsável pelo Escritório do Comissário de Instituições Financeiras (OCIF), que desde 2019 mantinha seu banco na mira de buscas por irregularidades. O banqueiro pagou fiança no valor de US$ 1 milhão e vai aguardar julgamento em liberdade. Na Bloomberg.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Respingou no Caribe o escândalo brasileiríssimo do “Faraó dos Bitcoins”: quatro pessoas foram detidas, na quarta-feira (31), na República Dominicana, por suposta vinculação com o esquema. Elas constavam na chamada difusão vermelha da Interpol, uma lista de procurados internacionais, que inclusive estava desatualizada: duas delas acabaram liberadas pois já haviam tido seus mandados de prisão derrubados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) brasileiro – as outras duas, porém, serão extraditadas para encarar os processos em seu país natal. Elas são acusadas de conexão com Glaidson Acácio dos Santos, o tal “faraó”, preso em 2021 por crimes contra o sistema financeiro internacional, organização criminosa e lavagem de dinheiro. No G1.
URUGUAI 🇺🇾
Antes acostumado à calmaria e baixos índices de violência, o paisito tem repensado seu modelo de segurança pública frente a uma onda de criminalidade sem precedentes em 2022 – com direito a casos brutais em que corpos apareceram desmembrados em Montevidéu em abril. Dessa forma, nas palavras do secretário de Inteligência Estratégica de Estado, Álvaro Garcé, o país pretende rever estratégias contra o narcotráfico – especialmente o marítimo –, cuja abrangência é vista como principal causadora do problema. Entre os pontos de melhora, Garcé defende maior investimento em recursos humanos, capacitação e tecnologia. Não é certo, porém, que mais gasto com segurança reflita em menor violência: em vários países latino-americanos, ainda que em cenários distintos da realidade uruguaia, políticas dessa natureza saíram pela culatra e fortaleceram o crime organizado em vez de combatê-lo. Via EFE.
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