Haiti: premiê conspirou em morte de presidente, diz investigação
Costa Rica: 2º turno definido | Nicarágua: 17 opositores condenados | Peru: novo gabinete de Castillo cai em quatro dias | Bolívia: adiado julgamento de Áñez por golpe de 2019
Desde que o presidente haitiano Jovenel Moïse foi assassinado, em 7 de julho do ano passado, a história se repete: as investigações conduzidas dentro do país parecem indicar de forma reiterada que o atual primeiro-ministro, Ariel Henry, teria algum envolvimento no crime. Mas, tão logo o cerco se fecha sobre o mais alto círculo do poder em Porto Príncipe, tudo estaciona, semanas se arrastam, e as autoridades envolvidas nas investigações acabam demitidas ou se retiram “voluntariamente” alegando questões pessoais. O que há tempos já vinha parecendo uma situação suspeita ganhou novos indícios de ser uma ação deliberada de encobrimento nesta semana, quando a CNN ouviu com exclusividade duas fontes ligadas à investigação, que não foram identificadas por medo de represálias. Segundo elas, Henry estaria diretamente envolvido tanto no crime quanto nas ações posteriores que vêm buscando obstruir a Justiça e ocultar os fatos em torno da madrugada em que o chefe de Estado foi alvejado com doze tiros.
As possíveis relações de Henry com Joseph Félix Badio, que desde o início apareceu como o suposto autor intelectual do assassinato, vieram à tona pela primeira vez em setembro. Naquele momento, a investigação havia estabelecido uma linha do tempo que situava na véspera do magnicídio um encontro entre o hoje premiê e o alegado “cabeça” da operação. Cinco meses se passaram e vários investigadores foram demitidos desde então – e o objetivo de escutar o próprio Henry sobre o assunto jamais foi alcançado. Mais do que isso, o plano alternativo para apurar os fatos também foi frustrado: segundo os responsáveis pelo processo relataram à CNN, naquele mês de setembro havia expectativa de encontrar Badio na residência oficial de Henry, prendê-lo na saída, e posteriormente usar seu testemunho para poder implicar definitivamente o primeiro-ministro no caso. A tocaia, no entanto, deu em nada – o encontro clandestino acabou cancelado, e os investigadores acreditam que alguém dentro da operação teria vazado o plano ao premiê, que tomou as medidas necessárias para escapar outra vez.
Em uma gravação obtida pela CNN, também é possível ouvir as opiniões do juiz Garry Orélien, que até o mês passado presidiu as investigações do caso: “Ariel [Henry] está conectado e é amigo do autor intelectual do assassinato [Badio]. Planejaram com ele. Ariel é o principal suspeito do assassinato de Jovenel Moïse, e sabe disso”, afirmou o magistrado no áudio. Em janeiro, após ter seu pedido de prorrogação das investigações negado, Orélien se juntou à lista de baixas convenientes ao governo e se tornou mais um a citar “motivos pessoais” para se afastar do caso; há fortes indícios de que essas alegações são, desde o princípio, respostas a ameaças. Procurado pela emissora, que confirmou a autenticidade da gravação de forma independente, ele preferiu desconversar e disse não se recordar da conversa em que fala claramente sobre as suspeitas em torno de Henry.
A implicação de Ariel Henry no assassinato político pode, inclusive, envolver mãos que estão além das fronteiras haitianas, e não só pelo suposto envolvimento de mercenários colombianos na execução do crime. Vale recordar: após a morte de Moïse, houve um hiato que levou a uma disputa pelo poder, com o ex-primeiro-ministro Claude Joseph e o líder do Senado, Joseph Lambert, tentando herdar o posto, enquanto Henry alegava que o cargo de premiê (e o poder de fato, na ausência do presidente) era dele, graças a uma nomeação ocorrida na antevéspera do assassinato. Uma troca que em seu momento passou quase despercebida por conta da crise do país: desde o início oficial do governo Moïse, por si só conturbado, cinco premiês haviam precedido Henry, sexto e último a assumir o cargo antes da morte do presidente. No fim, a substituição se tornou um ato de grande consequência tão logo Moïse saiu de cena. Após treze dias com Claude Joseph ainda concentrando o poder, ele entregou o cargo sob uma pressão internacional que também poderia ajudar a explicar a atual blindagem de Ariel Henry, apesar das suspeitas crescentes: a transição teve apoio direto do chamado Core Group, formado por representantes da União Europeia, ONU, OEA e seis embaixadores (incluindo o brasileiro e o estadunidense) no Haiti.
Jovenel Moïse era um presidente impopular, que conduziu o Haiti a um estado caótico em muitas partes do país e que se revelou incapaz (ou desinteressado) de organizar eleições, passando a governar por decreto (pela falta de quórum em um Legislativo que também adiava reformulações) e sendo considerado por muitos um ditador. Há exatamente um ano nesta segunda-feira (7), inclusive, seus opositores tentaram removê-lo do cargo, alegando que seu mandato havia chegado ao fim, em um episódio que o então presidente qualificou de “golpe”. Moïse não caiu naquele dia, e viveu para presidir sobre outros cinco meses de deterioração institucional, tentando reformar a Constituição do país à força e prometendo eleições que sempre acabavam postergadas. Nessas circunstâncias, a hipótese de seu assassinato não era exatamente surpreendente nem mesmo para ele: em fevereiro de 2021, o então mandatário chegou a dizer em entrevista que grupos poderosos estariam por trás de um plano para acabar com sua vida – e também não é de estranhar que pareça haver tão pouco interesse, dentro e fora do país, por condenar os suspeitos de tirá-lo do poder do jeito que fosse.
Como toda intriga palaciana, porém, há uma outra versão: a de que Moïse só teve uma gestão tão errática porque foi inviabilizado (e, finalmente, executado) pelos grupos que agora tentam eles próprios convocar eleições e impor uma nova Constituição, provavelmente distinta da que o governo anterior nunca chegou a concluir. Ariel Henry, que se posicionou com apoio externo para herdar o governo pouquíssimo tempo antes de um magnicídio que talvez tenha ajudado a organizar, faz as mesmas promessas de transformação do finado presidente – como o antecessor, vem afirmando repetidamente que o povo irá às urnas em breve. De 2022 não passa, garante, mesmo sem marcar qualquer data no calendário. Até lá, talvez esteja mais interessado em assegurar que as pontas soltas da madrugada de 7 de julho de 2021 não o coloquem diante de um destino parecido ao do único presidente latino-americano assassinado neste século.
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DESTAQUES
🇨🇷 Definido 2º turno na Costa Rica – Os ticos foram às urnas no domingo (6), mas nada de pura vida nos resultados: sem nomes alcançando 40% dos votos necessários para fechar a conta no primeiro turno, o processo eleitoral que escolherá um novo presidente para um mandato de quatro anos terá um turno adicional daqui a dois meses, no dia 3/4. Os resultados foram e não foram surpreendentes: se o ex-presidente de centro-direita José María Figueres (1994-1998) fez jus às pesquisas eleitorais e venceu a disputa inicial (com cerca de 27,6% dos votos), seu adversário na votação derradeira não será um dos que estava entre os mais cotados. Rodrigo Chaves, que foi ministro da Fazenda no atual governo e diretor do Banco Mundial, desbancou os dois favoritos ao segundo lugar (recebendo 16,7% dos votos) e fará a disputa com Figueres. Conservador e obcecado pela redução do déficit fiscal da Costa Rica – foi inclusive essa razão que o fez renunciar ao cargo no governo – Chaves também é acusado de ter cometido assédio sexual contra duas subordinadas nos tempos de diretor do BM. O candidato diz se tratar de um “mal-entendido”. Na BBC.
🇳🇮 Opositores de Ortega são condenados em massa – Novas condenações de opositores ao governo de Daniel Ortega foram confirmadas ao longo da semana, em meio aos julgamentos de 46 figuras contrárias ao sandinista iniciados na primeira semana de fevereiro. Críticos de Ortega, o ex-chanceler Francisco Aguirre Sacasa, que ocupou o posto durante o governo de Arnoldo Alemán (1997-2002), e o jornalista Miguel Mendoza tiveram suas condenações confirmadas na terça (8), e aguardam a divulgação da sentença. Quem já recebeu pena por acusações semelhantes – incitar interferência estrangeira em assuntos internos – foi o jornalista (e ex-pré-candidato à presidência) Miguel Mora, que dirigia o canal 100% Noticias, e agora deverá cumprir pena de 13 anos pelos alegados crimes. Dois líderes estudantis que organizaram protestos contra o regime receberam penas idênticas. A onda de condenações não deixa impunes nem mesmo ex-aliados de Ortega na época da luta armada, como o antigo guerrilheiro sandinista Víctor Hugo Tinoco, que foi o vice das Relações Exteriores no primeiro governo após a Revolução de 1979: também acusado de conspirar contra a integridade nacional, foi mais um a ser considerado culpado, na sexta (11), elevando o número de opositores condenados a 17 nos últimos dias. Diferentes grupos de direitos humanos e observadores internacionais apontam arbitrariedades nos processos, considerados um novo passo na escalada ditatorial do governo nicaraguense. Na DW.
🇵🇪 “Novo” gabinete de Castillo já caiu – Entra ministro, sai ministro. A dança das cadeiras no governo de Pedro Castillo parece não ter fim. No último sábado (5), Héctor Valer anunciou que deixaria o cargo de presidente do Conselho de Ministros apenas quatro dias depois de ser nomeado. A renúncia ocorreu após a revelação de um expediente judicial com alegações de violência doméstica contra a filha e a falecida esposa – Valer negou as acusações, mas preferiu sair do posto. Na terça-feira (8), Castillo nomeou seu quarto gabinete ministerial desde que tomou posse, menos de sete meses atrás, agora liderado pelo até então ministro da Justiça Aníbal Torres. O novo primeiro-ministro peruano já avisou que o governo, apontado na época da campanha como de “extrema esquerda”, vai abraçar o livre mercado e a livre concorrência. Com a nova composição, houve trocas em seis pastas: Saúde, Justiça, Desenvolvimento Agrário, Minas e Energia, Mulher e Populações Vulneráveis, e Meio Ambiente. E já tem o próximo nome na berlinda: o Colégio Médico Peruano pediu a demissão do novo titular da pasta da Saúde, Hernán Condori, por um processo na entidade em que é acusado de “prática ilegal da medicina e publicidade enganosa” – Condori, diz o CMP, se apresenta como obstetra, mas está registrado apenas como clínico geral, sem qualquer especialidade. Na CNN.
🇭🇳 Resolvido impasse no Congresso – Página virada na novela legislativa: regido por duas legislaturas paralelas durante pouco mais de duas semanas, o Congresso de Honduras finalmente vai voltando à normalidade. Jorge Cálix, antigo correligionário da presidenta Xiomara Castro e um dos deputados votados à presidência da Casa, deu um passo atrás, dizendo que “respeitará” a agenda da nova mandatária. Cálix liderou um verdadeiro motim dentro do partido governista, sendo expulso a mando do ex-presidente Manuel Zelaya (marido de Xiomara e líder da legenda governista, o Libre) após contrariar um acordo entre a chefe de Estado e seu vice, Salvador Nasralla, que é de outro partido (saiba tudo na edição #116). Com o recuo de Cálix, o deputado Luis Redondo, do mesmo partido de Nasralla, tem caminho livre para enfim ser o único presidente do Legislativo – cumprindo o combinado desde antes da posse do governo, no final de janeiro. Via AP.
🇧🇴 Adiado julgamento de Áñez por golpe de 2019 – Ainda não foi dessa vez que a justiça boliviana julgou a ex-presidenta Jeanine Áñez. O processo, que deveria começar nesta quinta-feira (10), de maneira virtual devido às restrições impostas pela pandemia, foi adiado. A defesa alegou que os direitos de Áñez e o devido procedimento judicial não haviam sido respeitados, conseguindo adiar indefinidamente o início dos trabalhos. Áñez, que se diz vítima de “perseguição política”, declarou-se em greve de fome na véspera do julgamento frustrado. Ela está presa preventivamente há 11 meses e pode ser condenada a até 12 anos de prisão se for considerada culpada de violar a Constituição e as leis bolivianas para chegar ao poder. N’O Globo.
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REGIÃO 🌎
A final do Mundial de Clubes da FIFA, marcada para o sábado em que você lê esta edição, terá outra vez um representante latino-americano: após bater o Al Ahly, do Egito, o Palmeiras enfrenta o Chelsea, da Inglaterra, em partida disputada às 13h30, horário de Brasília. Os dois times tentam seu primeiro título no torneio organizado pela entidade nesse formato. O adversário do time brasileiro na semifinal também poderia ter sido um clube latino: vencedor da Liga dos Campeões da Concacaf – versão das Américas do Norte, Central e Caribe análoga aos torneios regionais que levaram os times até a disputa nos Emirados Árabes –, o mexicano Monterrey foi derrotado pelo time egípcio e adiou seu duelo contra o time paulista. Mas não deixou de ser notícia: um torcedor dos Rayados, que vendeu seu carro para poder adquirir a caríssima passagem para Abu Dhabi, agora pede que seu time do coração o ajude a comprar outro veículo.
ARGENTINA 🇦🇷
E parece distante o fim da crise entre Argentina e FMI. Dessa vez, o acordo do país com o Fundo Monetário Internacional foi o que levou manifestantes a protestarem pela capital com faixas dizendo “não ao pagamento do FMI” e “não a um acordo com o FMI”, um sinal de crescente tensão no país sul-americano sobre o acordo provisório fechado no final de janeiro. No campo político, a insatisfação gerou um racha dentro da base governista ainda na semana passada. O parlamentar Máximo Kirchner, filho do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e da atual vice, Cristina Kirchner, renunciou à liderança do bloco governista Frente de Todos na Câmara dos Deputados. Ele alegou que discorda da estratégia nas negociações, dando um novo capítulo a uma desavença governista que já deu dores de cabeça para o presidente Alberto Fernández em 2021. Via Reuters.
O governo argentino manifestou “surpresa e preocupação” com a passagem de sete aeronaves militares britânicas pelo Brasil com destino às Ilhas Malvinas, território insular cuja soberania é alvo de disputa entre Buenos Aires e Londres e que levou à conhecida guerra homônima dos anos 80. A permissão para escala em território brasileiro foi defendida pelo Brasil: segundo o Itamaraty, a autorização é concedida apenas para “situações de emergência, missões de busca e salvamento e por motivos sanitários ou humanitários”. O governo platino acredita que o caminho aberto pelo vizinho representa “uma manifestação adicional da ilegítima presença militar do Reino Unido no Atlântico Sul”. Em La Nación.
Resolvido o mistério: segundo especialistas, a substância que causou a morte de pelo menos 24 usuários de cocaína nas últimas semanas é o carfentanil, um opioide de uso veterinário utilizado para anestesiar elefantes e com efeitos “10 mil vezes mais fortes” que a droga. Nem mesmo a heroína ou o fentanil chegariam perto do químico. As investigações seguem para entender o que levou esse composto aos pinos distribuídos na região metropolitana da capital, provocando a onda de internações e mortes. Na BBC.
BOLÍVIA 🇧🇴
Passando por processos culturais de autoafirmação desde a implementação do Estado Plurinacional em 2009, o governo boliviano pretende revalorizar os nomes indígenas, especialmente os dos idiomas aimará, quéchua e guarani, que são a maioria dos povos no país. O Órgão Eleitoral da Bolívia publicou no final de 2018 o “Catálogo de Nomes”, um guia que busca explicar e harmonizar os nomes escritos e pronunciados de mais de 3 mil nomes indígenas – entre eles, exemplos como os femininos Mujsa (“doce”, em aimará), Mimbi (“que tem sabedoria”, em guarani) ou Antawara (“entardecer”, em quéchua) e os masculinos Inti (“sol”, em aimará), Raymi (“festa”, em quéchua) ou Arakae (“aquele que perdura”, em guarani). A divulgação foi interrompida durante o golpe que ocorreu em 2019 e pela pandemia, mas agora está retomada. Segundo as autoridades, a ideia é preservar denominações típicas da Bolívia, que vêm perdendo espaço para nomes “da moda” inspirados em atores e jogadores de futebol estrangeiros. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
O presidente Sebastián Piñera se juntou à conta dos chilenos vacinados com a quarta dose do imunizante contra a covid-19 na segunda-feira (7). Defendendo a vacinação, o mandatário reforçou que a variante ômicron tem causado “efeitos devastadores” no mundo. Ele também confirmou que o país vem registrando novos picos de contágio, ainda que o índice avançado de pessoas totalmente vacinadas evite uma nova onda de mortes pela doença semelhante às dos piores momentos da pandemia. Desde o início da semana, qualquer pessoa com mais de 55 anos poderá receber a quarta dose no país, desde que tenham se passado seis meses desde a última injeção. No UOL.
Falta apenas um mês para Piñera entregar a faixa a seu sucessor, Gabriel Boric, no próximo 11/3. Mas, mesmo nos estertores do mandato, seu gabinete ainda rende crises e renúncias: o chanceler Andrés Allamand entregou o cargo no domingo (6), em meio a críticas por ter feito uma viagem à Espanha enquanto o país se debatia com uma crise migratória em seu extremo norte, nas fronteiras com Bolívia e Peru. Moradores de cidades como Iquique e Arica vêm protestando contra a incapacidade do governo de controlar a entrada de migrantes irregulares, na maioria venezuelanos, que utilizam passagens clandestinas nos países vizinhos para ingressar em território chileno. Agora, a pasta de Relações Exteriores será coordenada interinamente pela subsecretária Carolina Valdivia Torres, até que o governo Piñera acabe. No Correio Braziliense.
COLÔMBIA 🇨🇴
A Amazônia colombiana está em chamas. Nos últimos dias, as queimadas atingiram o Parque Nacional Natural Serranía de Chiribiquete, patrimônio cultural e natural da humanidade. Entre 18/12 e 4/2, houve mais de 300 focos de incêndio no país, numa área total de 86,8 mil hectares – mais de duas vezes o tamanho da cidade de Medellín. O Ministério da Defesa atribuiu os incêndios na área a dissidências das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que estariam abrindo pasto para a criação ilegal de gado. Cerca de 400 agentes da força pública, entre policiais e bombeiros, foram acionados para conter as chamas. Pelo menos 597 municípios do país entraram em alerta, incluindo Medellín e a capital Bogotá. No Infobae.
9 de fevereiro marca o dia do jornalista no país, mas sem motivos para celebração atualmente: segundo estimativas, a Colômbia é o segundo país mais inseguro para o exercício da profissão em todo o continente – só atrás do México. Somente nos primeiros 40 dias de 2021, um jornalista já foi morto e mais de 680 episódios de agressão contra profissionais de imprensa foram registrados. Segundo a Fundação para a Liberdade de Imprensa (Flip, na sigla em espanhol), são 163 comunicadores mortos desde 1983. No Sputnik.
“Caiu mal o trago que tomei antes do ato”. Esta foi a explicação do presidenciável – e, no momento, favorito nas eleições marcadas para 13/3 – Gustavo Petro, flagrado em aparente estado de embriaguez falando durante um evento de campanha, em um vídeo que viralizou. Além do álcool, Petro também atribuiu a cena ao cansaço acumulado de uma recente viagem à Europa, que o teria deixado sem dormir nas 28 horas anteriores ao comício na cidade de Girardot. Em El Tiempo.
Dale un vistazo:
🏛️ Ninguna imagen es inocente – em 2020, quando as primeiras restrições causadas pela pandemia começaram a dificultar as visitações, o Museu Histórico do Cabildo de Montevidéu, no Uruguai, teve uma ideia: para manter o contato com o público, seus curadores passaram a produzir uma série de vídeos questionando o significado de imagens e monumentos bem conhecidos no país. O resultado foi a série Ninguna imagen es inocente, nascida da ideia de que o ensino da história costuma ser focado nos textos, mas as imagens do passado muitas vezes nos atingem sem contexto, como se fossem “inocentes” e sem influências políticas ou ideológicas. Para começar, o GIRO recomenda o vídeo sobre o apagamento de Abayubá, lendário chefe charrua que enfrentou os espanhóis ainda nas primeiras invasões do território do que hoje é o Uruguai. Os demais capítulos da série estão aqui.
COSTA RICA 🇨🇷
Ainda no assunto eleitoral (veja mais nos destaques desta edição), vale destacar o desgaste do partido governista e do próprio presidente Carlos Alvarado, que está de saída. Apesar de moderado (sobretudo para os padrões latino-americanos), o mandatário de centro-esquerda se tornou um dos presidentes com pior avaliação nos anos da pandemia. Tudo piorou quando seu partido e ele próprio entraram na mira da justiça por supostos esquemas de corrupção. O resultado? Sua legenda, o Partido Ação Cidadã (PAC), foi praticamente varrida nessas eleições: Welmer Ramos, o candidato governista, ficou em um distante décimo lugar com menos de 1% dos votos, e o PAC não conquistou um único assento entre os 57 disponíveis na Assembleia Legislativa (no último pleito, tinham sido dez). O momento de descrédito na política também é visto no jogo democrático: passou de 40% o índice de abstenção nas eleições de agora, maior número na história. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
Há 60 anos neste mês, em 3 de fevereiro de 1962, os EUA davam início a uma entre tantas medidas para tentar forçar mudanças de poder político fora de seus territórios: os bloqueios econômicos contra Cuba. As sanções mais longas já impostas por Washington, não conseguiram, no entanto, realizar o desejo norte-americano de sacar os socialistas de Havana. Em vez disso, causaram uma duradoura crise econômica e desabastecimento de forma indiscriminada, parte de um prejuízo que superaria a casa dos US$ 148 bilhões, de acordo com o governo cubano. Por conta da manutenção desse modelo de sufocamento – e de sua intensificação durante os anos de Donald Trump – a ilha vive uma de suas maiores crises em três décadas, sofrendo a crise da pandemia em maiores proporções. Na teleSUR.
EL SALVADOR 🇸🇻
Uma mulher que foi condenada a 30 anos de cadeia por homicídio qualificado após sofrer um aborto espontâneo foi finalmente libertada nesta semana, depois de cumprir uma década da sentença, voltando a jogar luz sobre as leis de tolerância zero que vitimam mulheres salvadorenhas. Nos últimos 20 anos, El Salvador, que proibiu a interrupção da gravidez em todas as circunstâncias, incluindo casos de estupro e incesto e quando a saúde da mulher está em perigo (casos que costumam permtir o procedimento no resto do continente), processou criminalmente cerca de 181 mulheres que sofreram emergências obstétricas. Em muitos casos, mesmo aquelas que sofreram abortos espontâneos, como a recém-libertada Elsy (o sobrenome não foi divulgado), acabam sendo perseguidas pelas autoridades e acusadas de promover deliberadamente a interrupção da gestação. Via Reuters.
Há dois anos nesta quarta-feira (9), o presidente Nayib Bukele deu sua primeira mostra de autoritarismo no cargo, ocupando o Congresso (ainda oposicionista) com forças militares para coagir os deputados em uma votação. À época, Bukele gozava de altíssima popularidade, mas controlava apenas um dos três poderes do país. Desde então, a concentração de poder se tornou total: em maio de 2021, seus aliados assumiram a maioria legislativa e, ato contínuo, renovaram os postos do Judiciário colocando nomes simpáticos ao presidente. Ainda com apoio majoritário, mas hoje mais questionado, Bukele foi alvo de protestos no aniversário da data que é considerada o ato fundador de sua escalada antidemocrática. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
O Ministério da Saúde informou na quarta (9) que está investigando um possível caso de verruga peruana reportado na última semana em Guayaquil, uma região em que “nunca houve registros” desse tipo – o curioso nome da moléstia se deve ao fato de que sua fase crônica é marcada por erupções na pele, e por muito tempo se acreditou que o problema era endêmico apenas no Peru. Também conhecida como doença de Carrión, a enfermidade é causada por uma bactéria transmitida pela picada do mosquito Lutzomyia. Além dos problemas na pele, no limite pode causar sequelas mais graves como anemia hemolítica, já que ataca os glóbulos vermelhos. Em El Comercio.
Após voltar da China, onde foi para tentar renegociar uma dívida bilionária e tratar de um acordo de livre comércio, o presidente Guillermo Lasso concedeu uma longa entrevista no Palácio de Carondelet. O mandatário explicou que o principal foco da viagem a Pequim foi tentar desatrelar o repasse de petróleo como parte da dívida de US$ 4,6 bilhões que Quito tem com os chineses. Otimista, Lasso defendeu que qualquer país de olho em recuperar sua economia precisa se aproximar do gigante asiático (algo que a Argentina também tem feito, com o recente anúncio de seu ingresso na nova “Rota da Seda”). “Cedo ou tarde chegaríamos a esse ponto”, disse o presidente do Equador. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A comunidade indígena maia Q’eqchi’, da localidade de Agua Caliente, a 300 km da capital, recorreu à Corte Interamericana de Direitos Humanos para reivindicar seu direito à propriedade coletiva das terras ancestrais da região, ameaçadas pela atividade de exploração do níquel. Segundo o grupo originário, há décadas o Estado deve explicações legais e documentos que comprovem o direito dos indígenas sobre o território, que fica ao relento e sujeito à extração do minério e aos danos ambientais subsequentes. “Quando um indígena sofre, ninguém se preocupa”, disse um representante dos Q’eqchi’. A corte deve dar um veredito em um ano. Em El País.
HONDURAS 🇭🇳
O ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), que entregou o cargo em 27/1, foi colocado pelo governo Joe Biden no ano passado em uma lista de líderes suspeitos de corrupção ou obstrução da democracia na América Central. A informação foi tornada pública pelo Departamento de Estado dos EUA nesta segunda (7). Além de JOH, seu antecessor Porfirio Lobo (2010-2014) também apareceu na lista-bomba, que ainda inclui mais de 50 deputados que atualmente ocupam o cargo. A designação deve dar mais força à agenda do governo Xiomara Castro, que acusa a gestão Hernández de ter dilapidado os esforços anticorrupção no país. JOH também é acusado, nos EUA, de envolvimento com o narcotráfico, e seu irmão Tony Hernández já foi condenado à prisão perpétua por crimes relacionados ao tema. No Diez.
MÉXICO 🇲🇽
“Uma pausa nas relações com a Espanha”. É o que o presidente López Obrador defendeu durante uma de suas coletivas de imprensa, criticando o fato de Madri e empresas espanholas ainda enxergarem o México como uma “terra de conquista”. Para o mandatário, é preciso dar uma pausa para melhorar os atuais termos bilaterais, sugerindo que os mexicanos estariam em desvantagem econômica e que a corrupção de empresas espanholas seria um problema. Em resposta, o governo do país europeu se disse “surpreso”, alegando que “não existem ações por parte da Espanha que justifiquem essas declarações”. Na DW.
Abraços e beijos agora são, por lei, exemplos de “contatos físicos sugestivos ou de natureza sexual” indesejáveis na gestão pública federal do país. O novo código de ética, publicado na terça (8), aprofunda e endurece normativas anteriores, sancionadas em 2019 para tentar coibir o assédio sexual na administração pública. Além de casos de assédio, o país tenta mudar o cenário da violência de gênero, que vê uma média de dez assassinatos de mulheres por dia, segundo dados oficiais. Na Folha.
Un nombre:
Usumacinta – o maior rio a percorrer alguma parte da América Central tem seu nome derivado do náuatle e significa, literalmente, “lugar dos macaquinhos” (a palavra hoje consagrada começou como ozomatzintla, de ozomatli, “macaco”; tzin, que é utilizado como diminutivo; e tial, “terra”). A denominação é uma referência aos bugios vistos nas matas às suas margens. Com 1.123 km que cruzam México e Guatemala, o Usumacinta até é o maior a percorrer parte do território centro-americano, mas costuma ter o posto de grande leito fluvial do istmo questionado, já que um pedaço dele oficialmente está na América do Norte. Em geral, o título de maior rio da América Central vai para o Rio Coco, de apenas 841 km, mas que está inteiramente situado naquela região, entre Honduras e Nicarágua.
NICARÁGUA 🇳🇮
A briga com o vizinho El Salvador em mútuas acusações de violação de fronteiras marítimas segue a todo vapor. Enquanto Honduras e os nicaraguenses têm o assunto bem resolvido, Manágua e San Salvador mantêm um clima hostil em relação ao Golfo de Fonseca, uma baía com fronteira tripla no Pacífico que há décadas é alvo de disputa na região. Além da troca de farpas pelo território em si, pescadores dos três países reclamam que são abordados e perdem seus materiais de trabalho quando eventualmente passam as contestadas divisas marítimas, gerando impasses diplomáticos e econômicos. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
O país enfrenta o maior aumento da gasolina nos últimos oito anos, com preços que ultrapassam o valor de US$ 1 por litro a partir desta semana e perspectiva de novas altas nos próximos meses, segundo o secretário nacional de Energia, Jorge Rivera. O custo do combustível é reajustado a cada duas semanas e passou por um aumento de 11% desde dezembro. O fenômeno econômico é consequência direta do custo internacional do petróleo bruto, já que “o preço do barril de petróleo é o maior em sete anos”, disse Rivera. Para ele, a oferta não consegue acompanhar o aumento da demanda global devido à recuperação econômica que vem com a vacinação contra a covid-19. No Dinero.
PARAGUAI 🇵🇾
O chanceler Euclides Acevedo voltou a cobrar que o Uruguai realize a extradição de José Peirano Basso, processado no país por escândalos relacionados à quebra do Banco Alemão Paraguaio SA (Bapsa), em 2002. Condenado em solo uruguaio pelo mesmo caso, Peirano concluiu sua pena no ano passado e, em tese, poderia ser levado de volta para responder pelos crimes também no Paraguai. Apesar das expectativas de que o Uruguai fosse realizar a extradição, isso ainda não ocorreu. Além do caso Peirano, o chanceler paraguaio insistiu que o Uruguai também deveria entregar ao país três acusados de sequestro que receberam status de refugiados por parte das autoridades em Montevidéu – eles, que se dizem perseguidos politicamente, haviam sido originalmente acolhidos pelo Brasil, mas tiveram seu refúgio cancelado em 2019 pelo governo Jair Bolsonaro, migrando então para o Uruguai. No Última Hora.
PERU 🇵🇪
Uma pilha de pássaros mortos. É isso que funcionários e ambientalistas encaram enquanto tentam limpar os estragos causados pelo derramamento de óleo de janeiro, classificado pelo governo como “maior desastre ambiental recente” (entenda o caso). Só nos últimos dias já são 17 aves retiradas sem vida, tendo a penugem coberta com o material denso. Além do desastre para o ecossistema marinho, o acidente também força autoridades a manter milhares de perímetros isolados para evitar a pesca, afetando pequenos produtores e pescadores. “Para alguns, é como se tudo tivesse passado, mas ainda sentimos o efeito”, disse um veterinário. Via Reuters.
PORTO RICO 🇵🇷
Nem o anúncio de um aumento substancial salvou o governador Pedro Pierluisi de mais protestos durante a semana: funcionários públicos de diferentes setores, de bombeiros a professores, marcharam em San Juan exigindo melhores salários e pensões e, no limite, até mesmo a renúncia do mandatário. Na segunda (7), Pierluisi tentou acalmar ao menos os docentes, prometendo um incremento de US$ 1 mil por mês em seus salários, mas lideranças do movimento consideram o valor insuficiente: há 13 anos sem qualquer reajuste, os professores reivindicam que seu salário-base atual (US$ 1,75 mil) seja duplicado. Após os novos protestos, o governo ainda não anunciou se vai oferecer mais dinheiro aos docentes, mas prometeu incrementar também os salários dos bombeiros, que passam a ganhar US$ 500 a mais do que antes – metade do reajuste que estavam pedindo. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Apesar da ômicron e de ressalvas dos médicos, o turismo, carro-chefe da economia dominicana, navega de vento em popa. Muito em função de já ser um destino conhecido, sobretudo para os endinheirados dos EUA, o país também investiu em políticas de apoio ao turismo durante a pandemia, incluindo auxílios médicos a estrangeiros de passagem pelo país. Segundo o governo, a metade dominicana da ilha de Hispaniola recebeu 700 mil visitantes em dezembro, recorde mensal histórico até mesmo para padrões pré-pandêmicos. Com isso, mais de 5 milhões de pessoas foram até o país para turistar em 2021, mais do que qualquer outra nação caribenha. No New York Times.
URUGUAI 🇺🇾
A Pantera Cor-de-Rosa está no centro de um debate sobre direitos autorais em plena época de campanha no Uruguai: com o país a caminho do plebiscito que busca anular 135 artigos da Lei de Urgente Consideração, a LUC (entenda mais aqui), os partidários do “sim” à anulação adotaram o rosa como a cor de seu material de campanha… e a Pantera virou uma espécie de mascote informal. Imediatamente, os favoráveis à LUC começaram a denunciar o uso do desenho como uma reprodução não autorizada de propriedade intelectual protegida. Acabou virando meme, e agora a campanha do sí também pede que liberen a la Pantera Rosa. Piadas à parte, o paisito segue caminhando rumo ao aguardado referendo de 27/3, e o governo Lacalle Pou – responsável pela questionada LUC – ainda tenta definir a melhor estratégia para não ser derrotado. Em El Observador.
VENEZUELA 🇻🇪
Um bebê foi a vítima fatal de um tiroteio contra um barco que transportava imigrantes venezuelanos para a vizinha Trinidad e Tobago. Os disparos aconteceram durante “operações de segurança” no mar envolvendo a Guarda Costeira, segundo declarou o primeiro-ministro Keith Rowley em comunicado. Autoridades relataram à imprensa que os policiais atiraram nos motores do navio em “legítima defesa” depois que ele foi repetidamente ordenado a parar. A mãe da criança também foi ferida e seu estado de saúde não foi revelado. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados estima que cerca de 35 mil venezuelanos migraram para Trinidad e Tobago nos últimos anos, mas organizações humanitárias dizem que o número se aproxima de quase 40 mil nos últimos meses. Via AP.
Nicolás Maduro não está nada satisfeito com os constantes recuos do presidente peruano Pedro Castillo – nem das críticas que vem recebendo de líderes à esquerda na região, como o presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, que recentemente se referiu à Venezuela como “uma experiência que fracassou”, dando como exemplo a crise que leva milhões a emigrar. Sem citá-los diretamente, o comandante venezulano parece também ter reagido a uma recente fala de Castillo em que o peruano tentou se afastar dos modelos de Cuba, Nicarágua e Venezuela. “Uma esquerda fracassada, uma esquerda covarde frente ao imperialismo, frente às oligarquias”, bradou Maduro em seu programa propagandístico Con el mazo dando, emitido pela TV estatal, dizendo que há uma campanha para “atacar o modelo bolivariano” mesmo entre as esquerdas latino-americanas. No Jornada.
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