🇵🇪 MP quer 34 anos de prisão para Pedro Castillo no Peru
Em prisão preventiva, ex-presidente deposto em 2022 após tentativa frustrada de dissolver Congresso é acusado de “rebelião” e de “perpetrar golpe de Estado”; defesa pede arquivamento do caso
Há um ano, no dia 14/1, o GIRO LATINO publicava a edição #164, a última que teve a política peruana como tema principal. Desde então, durante todo o agitado 2023, a nação andina não saiu dos destaques, com uma série de desdobramentos da violenta convulsão social que se abriu após a destituição do ex-presidente Pedro Castillo, em dezembro de 2022. No entanto, uma inesperada e silenciosa ‘trégua política’ no país outrora mais visto nas manchetes desta newsletter, somada à necessidade de explicar outras crises na vizinhança, reduziu a frequência dos textos de abertura peruanos. Mas sempre há margem para um novo burburinho.
A trama envolvendo Castillo voltou à tona na penúltima sexta-feira (12), quando o Ministério Público do país solicitou formalmente uma pena de 34 anos de prisão para o ex-mandatário, citando delitos de “rebelião, abuso de autoridade e grave perturbação da ordem pública”. A mesma entidade também acusa o político de “perpetrar um golpe de Estado” naquele infame 7 de dezembro, pedindo, ainda, penas menores (mas de pelo menos 25 anos) para antigas peças-chave do gabinete, incluindo dois dos ex-primeiros-ministros do governo encerrado há pouco mais de um ano.
Castillo, vale lembrar, está preso desde o dia em que tentou – frustradamente – fechar o Congresso sem cumprir os requisitos previstos pela Constituição. O poder Legislativo, de maioria opositora, foi impiedoso com Castillo durante seu curto mandato de 17 meses, forçando sucessivas trocas de gabinete. Na ocasião, um juiz determinou prisão preventiva por 18 meses ao mandatário, tempo que aumentou para 36 meses em março de 2023 após a Justiça ratificar uma nova pena preventiva no âmbito de outra investigação, esta por suposto crime de organização criminosa. Da cadeia, Castillo alega ser vítima de “perseguição” e nega ter cometido quaisquer irregularidades.
Diante do novo pedido do MP, a defesa do ex-presidente entrou com um recurso, solicitando arquivamento definitivo do processo. Os advogados de Castillo alegam que os elementos atribuídos ao político não constituem delito. A Câmara Criminal da Suprema Corte peruana vai avaliar o recurso na próxima segunda-feira (22), ouvindo novamente procuradores e os representantes do ex-presidente – que, por estar na mira do Judiciário por mais de um motivo e não gozar de qualquer prestígio dentro das principais instituições do país, não deve sair da cadeia tão cedo.
Enquanto Castillo agoniza e tenta evitar uma pena severa, sua antiga vice e atual presidenta, Dina Boluarte, parece ter conquistado uma inesperada estabilidade para – ao menos – se manter no cargo até 2026, quando deve passar a faixa ao próximo mandatário escolhido nas eleições daquele mesmo ano. Segundo a Constituição, 26 de julho de 2026 seria o dia em que Pedro Castillo terminaria seu mandato de cinco anos.
A sobrevivência de Boluarte no cargo, no entanto, não vem sem dispêndio político: bastante impopular, a mandatária foi denunciada por genocídio pelas mortes de manifestantes que, há cerca de um ano, pediam sua saída e a convocação de novas eleições presidenciais e legislativas. No total, 67 pessoas morreram durante os protestos do ano passado, em sua maioria civis e integrantes de grupos sociais de regiões mais pobres do país, onde Castillo concentrava sua base eleitoral. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já alertava para existência de “execuções extrajudiciais” antes mesmo do balanço final de vítimas.
Mas, num país onde os rumos de qualquer governo são ditados pelo Congresso que mais derruba presidentes na América Latina, um pacto de não-agressão parece ter acalmado os ânimos na política institucional: contanto que Boluarte não se choque com os parlamentares, como fizeram tantos de seus antecessores, terá sobrevida para se sentar na cadeira mais alta do Executivo por mais um tempo. Todo cuidado é pouco, porém: a própria Boluarte já foi alvo de três moções de vacância diferentes desde que chegou ao poder indiretamente. Desde 2016, esse dispositivo legal, que banaliza a remoção de presidentes, já havia sido acionado sete vezes antes da queda de Castillo. Seja por moção de vacância, morte ou renúncia, o Peru experimentou um rodízio de seis mandatários diferentes em seis anos.
Sorrateiramente, a crise perpétua no Peru vai se transformando em algo novo: não há mais o mesmo alarde de anos passados, mas também não há garantias de que qualquer presidente, independentemente de quem for, termine seu mandato ou escape da mira da Justiça.
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DESTAQUES
🇪🇨 Equador tem fuga de presos e procurador morto dias após ‘declarar guerra’ ao crime organizado – Com cenas cada vez mais ‘salvadorenhas’ no que toca o combate ao crime organizado, o Equador sob comando de Daniel Noboa segue sob tensão dias após o governo decretar uma verdadeira guerra a grupos criminosos (entenda). Na segunda-feira (15), autoridades do SNAI, órgão que controla o sistema penitenciário, confirmaram a fuga de pelo menos 48 reclusos de uma prisão em Esmeraldas, um dos focos da atual onda de violência no país. Até o fechamento desta edição, só cinco deles haviam sido recapturados – e outro detento morreu. A crise se arrastou e aumentou na quarta (17) com o assassinato do procurador César Suárez, responsável por investigar a assustadora invasão de homens armados à emissora pública TC Televisión, em Guayaquil, na última semana. O evento em questão inauguraria a série de ataques coordenados pela cidade que levariam Noboa a mandar militares às ruas. A procuradora-geral do país, Diana Salazar, reagiu à morte prometendo continuar com a luta contra o crime. Na DW.
🇬🇹 Bernardo Arévalo evita novas manobras golpistas e toma posse (com atraso) como presidente da Guatemala – Depois de cinco longos meses de espera e uma lista de manobras judiciais controversas para tentar impedir a troca de faixa do novo presidente eleito da Guatemala, esperava-se que a cerimônia de posse de Bernardo Arévalo, político de centro-esquerda, estivesse cercada de tensão e problemas. E foi exatamente isso que aconteceu no último domingo (14). A formalidade estava marcada para às 16h, buscando respeitar uma tradição de calendário em vigor desde que o general Óscar Mejía Víctores passou o bastão para Vinicio Cerezo, em 1986, encerrando um longo período de governos militares: de lá para cá, todos os presidentes receberam a faixa num 14 de janeiro. Num claro sinal de que a democracia guatemalteca segue na corda bamba, o evento deste ano ocorreu oficialmente apenas na madrugada do dia seguinte, nove horas depois do combinado. Um atraso nada acidental: no mesmo domingo, nos acréscimos do mandato da legislatura sainte, a bancada do partido conservador Vamos (que passará a ter a maior representação na nova composição do Congresso, apesar de perderem o Executivo), do agora ex-presidente Alejandro Giammattei, decidiu mover uma ação para proibir a posse dos 23 deputados eleitos pelo Semilla, partido de Arévalo. Em tese, a decisão buscava tornar os parlamentares “independentes”, tirando-lhes uma série de atribuições, segundo as regras do Congresso. A direita respaldou a decisão nas antigas alegações de membros do Ministério Público (entenda por que o MP está envolvido) que apontavam (sem provas) supostas “irregularidades” em registros do Semilla. A coisa só voltou ao prumo depois das altas cortes entrarem em cena – mas a trama envolvendo o Legislativo seguiu durante a semana. Já presidente, Arévalo prometeu “resgatar o país”, revogou benefícios dados a aliados do antigo presidente e já até enviou uma carta à procuradora-geral Consuelo Porras (o cérebro por trás de toda a crise institucional do país), com quem deve se reunir na próxima quarta-feira (24) para tratar de “diversos assuntos”. O presidente já cobrou a renúncia de Porras publicamente.
🇨🇱 🇲🇽 Chile e México vão a Haia cobrar investigação de crimes israelenses em Gaza – Os governos de Chile e México apresentaram na quinta-feira (18) um pedido formal para que o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, investigue prováveis crimes cometidos contra civis palestinos no marco do conflito entre Israel e Hamas. Embora seja mais um passo da pressão que alguns governos à esquerda da América Latina têm feito a respeito do tema, a chancelaria chilena destacou que isso ainda não significa uma entrada em um pedido mais severo feito pela África do Sul em outro tribunal sediado em Haia, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), no qual o Estado de Israel é instado a suspender suas operações militares em Gaza com base na Convenção contra o Genocídio. “O Chile apoia [...] o pedido de cessar-fogo para terminar com a situação terrível que está sendo vivida em Gaza, mas, repito, o Chile não é parte desse procedimento jurídico [iniciado pelos sul-africanos]”, enfatizou o ministro de Relações Exteriores chileno, Alberto van Klaveren, dizendo que o país ainda vai “avaliar” sua participação nesse outro pedido. Em La Tercera.
🇲🇽 Onda de violência contra população trans assola México no início do ano – O assassinato da ativista trans e pré-candidata ao Senado pelo Morena, Samantha Gómez, no domingo (14), somou-se ao chocante histórico de violência contra pessoas LGBTQIA+ só em 2024 – o crime do final de semana fez subir para cinco o número de casos de transfeminicídio registrados apenas na primeira quinzena do ano. O mais novo episódio gerou protestos na capital, Cidade do México, com pessoas ligadas ao ativismo trans exigindo ações legais de proteção para esses grupos minorizados. Violento de uma forma geral, o México também lidera as estatísticas de crimes de ódio contra a população LGBTQIA+: segundo a Fundação Arco-Íris, foram 87 mortes em 2022. Há, também, intensa mobilização para que o tema ganhe mais espaço no debate público, inclusive para mudar comportamentos de autoridades – dias atrás, o presidente Andrés Manuel López Obrador foi criticado por entidades e ativistas por chamar a deputada trans Salma Luévano de “mulher vestida de homem”. No El Financiero.
🇳🇮 Nicarágua liberta e envia religiosos críticos de Ortega ao Vaticano – O governo de Daniel Ortega libertou e enviou a Roma no domingo (14) um grupo de quase 20 integrantes da Igreja Católica, incluindo o bispo Rolando Álvarez, conhecido crítico do poder orteguista que ano passado foi condenado a 26 anos de prisão por conspiração e traição à pátria – na mesma época, ele rejeitou um convite do governo para pegar um voo junto com centenas de outro expatriados rumo ao exílio. Os religiosos libertados essa semana, numa lista que inclui padres e seminaristas, tiveram caminho “facilitado” para partir rumo ao Vaticano, segundo Manágua, como fruto de “negociações” entre o país centro-americano e autoridades do governo pontifício. Pelas redes sociais, um dos clérigos libertados escreveu que o plano de Ortega é “deixar a Nicarágua sem padres”. Nos últimos anos, as instituições controladas pelo presidente têm feito forte pressão contra integrantes de igreja, em sua maioria críticos da situação política no país. No Confidencial.
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ARGENTINA 🇦🇷
Uma frase ufanista dos fanáticos por futebol argentino garante que o melhor jogador do mundo é Lionel Messi, o segundo melhor é Messi cansado e o terceiro melhor é Messi machucado – e os demais que briguem pelo quarto lugar. Poucas vezes essa frase fez tanto sentido quanto na segunda-feira (15), quando o camisa 10 da seleção campeã mundial foi eleito – uma vez mais – o melhor futebolista em atividade no ano passado no prêmio “The Best” da FIFA, desta vez, com polêmica inédita: o período considerado começava depois da Copa do Mundo de 2022, que já havia valido ao craque o troféu anterior, e um 2023 apenas com jogos pelas ligas pouco competitivas da França e dos Estados Unidos parecia insuficiente para ganhar o reconhecimento de novo. Mas, com a inclusão do voto popular online, Messi conseguiu empatar com o favorito da vez, o norueguês Erling Haaland, e ganhou nos critérios de desempate – os votos dos outros capitães de seleções nacionais, alguns dos quais revelaram desconhecer que a Copa do Mundo não devia ser incluída no período de avaliação. Seja como for, a premiação da FIFA acabou esvaziada: nem Messi nem os outros dois finalistas compareceram à cerimônia, considerada secundária para definir o melhor do planeta frente à Bola de Ouro, premiação mais tradicional organizada pela revista France Football desde 1956. Em qualquer cenário, Messi domina: foi o terceiro “The Best” vencido por ele desde que o prêmio foi instituído em 2016 – e o argentino também tem oito Bolas de Ouro, um recorde. No GE.
BOLÍVIA 🇧🇴
Mantendo o projeto de abertura de suas reservas de lítio – antes monopolizadas pelo Estado – para exploração com parceria externa, o governo boliviano assinou na quarta (17) um novo convênio com um consórcio chinês para construir uma planta extrativa no Salar de Uyuni. A estatal do lítio, a YLB, espera que os investidores asiáticos coloquem pelo menos US$ 90 milhões inicialmente para erguer as instalações, que em um primeiro momento teriam capacidade para produzir 2.500 toneladas de carbonato de lítio, o “ouro branco” cobiçado para a fabricação de baterias e utilizado, por exemplo, em veículos elétricos. A Bolívia alterou recentemente sua política de manter o lítio integralmente nas mãos do governo após anos de monopólio com baixa produtividade, sentindo a urgência de acelerar a mudança do carro-chefe da economia nacional diante dos estoques cada vez mais exauridos de gás natural. Na teleSUR.
COLÔMBIA 🇨🇴
Sempre de olho em cumprir suas ambiciosas metas de paz, o presidente Gustavo Petro anunciou durante a semana a renovação de um acordo de cessar-fogo com o Estado-Maior Central (EMC), um dos principais grupos formados por dissidentes das – hoje pacificadas – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A nova medida será válida até a metade de julho e renova um pacto que chegaria ao fim neste mês de janeiro. Estima-se que cerca de 3,5 mil combatentes façam parte da atual composição do EMC. Especialistas alertam que medidas de trégua como esta, embora de fato ajudem a reduzir enfrentamentos, ainda não dão conta de reduzir a violência a que muitas comunidades de regiões remotas do país são submetidas. Desde que chegou ao poder em 2022, Petro busca refazer a relação do Estado com grupos armados, parte de um plano de “paz total”. Via AP.
COSTA RICA 🇨🇷
Um país tranquilo que mergulhou em uma crise de insegurança inédita para seus padrões em função da escalada dos grupos narco e bateu recorde de homicídios no ano passado – a descrição cabe para o Equador, que está no foco mundial em função dos acontecimentos recentes, mas também serve para a Costa Rica. E é justamente por isso que o presidente Rodrigo Chaves tenta tranquilizar a própria população e eventuais visitantes estrangeiros: não há tantas semelhanças assim entre os dois casos, argumenta o mandatário costa-riquenho. No Equador houve “muitos componentes de deterioração rápida”, diz Chaves, que não se verificam em seu país, apesar de também haver uma crise na nação centro-americana. A reação, na quarta (17), veio após a ex-presidenta Laura Chinchilla (2010-2014) comparar os casos, lembrando que ambos os países estavam entre os cinco mais seguros da América Latina até poucos anos atrás. De fato, embora as crises tenham elementos semelhantes, a escalada equatoriana não tem paralelo: em 2023, a Costa Rica registrou um recorde de 907 homicídios no país, um aumento de 37% em relação ao ano anterior – no Equador, o número bateu em 7,6 mil homicídios, um acréscimo de impressionantes 71% em relação a 2022, que já havia sido recorde para o país. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Que Cuba atravessa sua pior crise econômica desde o “Período Especial”, época de vacas magras vivida nos anos 1990 após o colapso da União Soviética, não há dúvida: todas as semanas, e por admissão do próprio governo da ilha, surgem notícias de como a produção do país despencou em relação aos níveis pré-pandemia, e novas reformas flexibilizando os preceitos do Estado socialista parecem ser anunciadas todos os anos. Em um combo de crises que se estende desde as sanções incrementadas pelo governo Donald Trump (2017-2021), o agravamento causado pela covid-19 e pela guerra na Europa, e o histórico e interminável bloqueio imposto por Washington, a ilha se depara com o desafio de fazer ajustes impopulares sem deixar para trás os sonhos da Revolução. O Brasil de Fato ouviu economistas cubanos sobre suas impressões diante do que se avizinha.
Dale un vistazo:
EL SALVADOR 🇸🇻
Como previsto, o presidente Nayib Bukele se encaminha para uma reeleição tranquila no pleito do próximo dia 4/2: uma pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos Cidadãos da Universidade Francisco Gavidia, realizada no início de janeiro mas só divulgada na terça (16), colocou o atual mandatário com 70,9% das intenções de voto, sem qualquer chance para seus concorrentes das duas siglas que antes dominavam a política nacional – Manuel Flores, da esquerdista FMLN, atraiu 2,9% do eleitorado pesquisado, e Joel Sánchez, da conservadora Arena, ficou em 2,7%. Além de confirmar a tendência da reeleição de Bukele – que, embora vedada pela Constituição, foi autorizada por um Judiciário aparelhado pelo presidente – a pesquisa também indicou que seu partido, o Nuevas Ideas, deverá dominar quase completamente a futura legislatura do Congresso unicameral elegendo 57 dos 60 representantes possíveis (uma reforma eleitoral no ano passado reduziu o número de deputados – hoje são 84). Em El Mundo.
HAITI 🇭🇹
Ainda faltam quatro semanas para o dia 7 de fevereiro, mas os protestos ao redor do marco já começaram a se espalhar. A data ajuda a entender, por duas razões: o sétimo dia do próximo mês vai marcar o aniversário de dois anos do que deveria ter sido o fim do mandato de Jovenel Moïse, presidente morto por mercenários em 2021; além disso, é a data-limite estipulada pelo premiê Ariel Henry (autoridade de maior poder hoje em dia) para a entrega do cargo. Mas, como já explicado por este GIRO repetidas vezes, novas eleições nunca foram convocadas após o magnicídio a despeito de comitês criados, aumentado a convulsão social entre os haitianos. Para piorar, Henry é acusado de atrasar o processo de forma proposital, tudo enquanto ele próprio é acusado de participar do crime que levou à morte de Moïse. Assim, desde segunda-feira (15), diversos pontos da capital Porto Príncipe, onde o controle de gangues armadas já afeta mais da metade de toda a região metropolitana, seguem interditados, com barricadas espalhadas pelas ruas. Em outros pontos do país, manifestantes também cobram a renúncia do premiê enquanto se autoproclamam seguidores de Guy Phillipe, um ex-policial e conhecido líder rebelde que ganhou destaque por liderar atos que levariam ao golpe de Estado contra o presidente Jean-Bertrand Aristide, em 2004. No Diario Libre.
HONDURAS 🇭🇳
“Indefeso”. É assim que a ex-primeira-dama hondurenha Ana García Hernández descreveu na sexta-feira (19) o marido e ex-presidente do país, Juan Orlando Hernández (2014-2022), enviado aos EUA e preso pouco após deixar o cargo sob acusações de crimes relacionados ao narcotráfico. JOH, como é conhecido, enfrentará julgamento no início do próximo mês e pode até receber pena de prisão perpétua, como já aconteceu com seu irmão – Antonio “Tony” Hernández recebeu a sentença em 2021 por crimes similares aos que constam na lista de acusações contra o ex-mandatário. Enquanto isso, a família do político denuncia “ameaças de morte” e alega que JOH corre riscos dentro da prisão, exigindo medidas de proteção. O ex-presidente também denuncia que a DEA, a agência antidrogas dos EUA, teria infiltrado um agente em sua equipe de defesa; Hernández também nega as acusações, dizendo que as delações de peixes grandes do tráfico internacional contra ele seriam “represália” pelo trabalho de seu governo contra esses mesmos narcos. No Proceso e La Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
A crise de segurança que afeta a vizinha Costa Rica também foi sentida no Panamá em 2023, segundo dados do Ministério Público divulgados durante a semana. Foram 556 pessoas assassinadas, tornando o ano passado o mais violento da última década. O motivo é o mesmo de outros países, segundo especialistas: o aumento dos crimes teria relação com o incremento de casos relacionados ao narcotráfico e ajustes de contas entre os grupos criminosos, que também estão acessando armamento de alto calibre que chega ao país através de contrabando – nas estatísticas do MP, mais de 50% de todas as mortes foram registradas em homens com idades entre 18 e 35 anos, perfil típico dos integrantes das pandillas, e 91% do total de vítimas foi alvejada por armas de fogo. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
Em novo sinal de busca por um entendimento entre os vizinhos, os presidentes Santiago Peña, do Paraguai, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, fizeram nova reunião na segunda-feira (15), em Brasília, tratando de um tema espinhoso entre os países: as tarifas da usina binacional de Itaipu. Tópico polêmico há anos, mas que ganhou mais holofotes com o aniversário de 50 anos da assinatura do tratado em 2023, o assunto voltou a ser discutido entre os dois líderes diante do que Lula chamou de uma “divergência” tarifária. Mas, segundo o petista, que já projeta novos encontros, “estamos dispostos a encontrar uma solução conjuntamente”. O lado brasileiro promete chegar a uma solução “definitiva” em breve. Entenda o impasse no G1.
PERU 🇵🇪
Não eram alienígenas. Ao menos, segundo peritos forenses peruanos que estudaram as criaturinhas mais parecidas com estranhos bonecos que foram apresentadas ao Congresso do México no ano passado como evidência de presença extraterrestre em nosso planeta – “fósseis” que teriam sido encontrados originalmente no próprio território do Peru. Os peritos, que divulgaram seu relatório na sexta-feira passada (12), também desmentiram a hipótese de que poderiam ser artefatos dos tempos pré-hispânicos: os bonecos, feitos por uma amálgama de diferentes animais do nosso planeta, inclusive restos humanos, foram unidos utilizando um tipo de cola moderna, o que indica que se trata de um artesanato contemporâneo. No Estadão.
Una expresión:
Ganando indulgencias con Ave Marías ajenas – Versão religiosa de uma expressão que significa, em essência, “apropriar-se de um triunfo ou mérito alheios”, é bastante vista em discussões de internet quando eleitores hispanohablantes – indignados – acusam políticos da situação de colher os frutos que teriam sido plantados por gestões anteriores, por exemplo. A frase pode ser aplicada em variados contextos, com diferentes referências, e, no Brasil, tem uma versão equivalente mas nada católica no linguajar popular: “gozar com o p** dos outros”.
PORTO RICO 🇵🇷
Uma realidade surgida durante a pandemia agora terá oportunidade de se consolidar também em tempos normais, com aval legal: o governador Pedro Pierluisi assinou, na quarta (17), uma lei que facilita a implementação do trabalho remoto em empresas privadas – uma iniciativa que busca atrair empregos de firmas que não têm operações na ilha, mas já oferecem a modalidade a distância em outros lugares onde isso é possibilitado pelo marco legal. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Quando se leva dezenas de quilos de uma planta verde e cogumelos através das fronteiras, o mínimo que se espera é ser parado pelas autoridades alfandegárias para esclarecimentos. Mas o embaraço pelo qual passou o cantor espanhol Julio Iglesias ao desembarcar no aeroporto de Punta Cana, na República Dominicana, acabou tendo um desfecho hilário: ele de fato carregava 42 quilos de itens frescos pouco típicos para se levar em uma viagem, mas eram todos comestíveis – rúcula, espinafre, tomates, framboesas e, é claro, cogumelos (não alucinógenos). O episódio, divulgado apenas no início desta semana, ocorreu no último dia 10. Embora muitos países impeçam o carregamento de alimentos frescos em viagens internacionais, Julio Iglesias já seria habituado a fazer isso em seus trajetos sem qualquer empecilho, e a repercussão do caso acabou levando até o presidente Luis Abinader a fazer um pedido de desculpas ao artista. No G1.
URUGUAI 🇺🇾
As chuvas dos últimos meses já indicavam esse desfecho, mas agora é oficial: o Instituto Uruguaio de Meteorologia (Inumet) anunciou, na quarta-feira (17), o fim oficial da maior seca registrada no paisito nos últimos 100 anos, após a normalização dos índices de precipitação nos lugares que conviviam com chuvas abaixo da média desde o segundo trimestre de 2020. O longo período de estiagem provocou medidas extremas especialmente na capital Montevidéu, onde as autoridades precisaram reduzir os níveis de qualidade mínimos exigidos para a água que chegava pelas torneiras da população, o que fez a cidade conviver, por alguns meses, com um líquido salobro disponibilizado para o consumo cotidiano. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Desde a segunda-feira (15), a ‘criptomoeda do petróleo’ de nome Petro (PTR), criada pelo governo de Nicolás Maduro, teve a operação oficialmente encerrada. Sem jamais conquistar o mercado interno e com um formato de emissão confuso e que sempre levantou dúvidas entre especialistas, a moeda digital foi lançada em 2018 em resposta às agressivas sanções econômicas impostas pelos EUA, com promessas governistas de se tornar uma “alternativa” ante a necessidade de manter vivo o investimento internacional. O chavismo também apostou no cripto como forma de tentar driblar a instabilidade de sua moeda oficial, cotando o ativo digital de acordo com o valor de um barril de petróleo venezuelano (saiba mais sobre o projeto e as promessas de Caracas no site da estatal PDVSA). Sem jamais ver a iniciativa decolar, incapaz de negociar a moeda no exterior e vendo seu uso limitado ao pagamento de impostos, o governo decidiu findar as operações do PTR, sem grandes detalhes do que virá a seguir. Via AFP.
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