🇦🇷 Milei recua após greve, mas “lei ônibus” enxugada segue em pauta
Mobilização de sindicatos e decisões da Justiça reduziram pacotaço ultraliberal sonhado pela direita argentina. Adiada após paralisação nacional, votação da lei deve ocorrer na próxima semana
Com pouco mais de um mês de cargo, Javier Milei já tem a primeira paralisação nacional contra si no currículo: foi na quarta-feira (24), quando um protesto convocado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior central sindical da Argentina, conseguiu reunir filiados e opositores do novo governo em uma greve geral de um dia. Só em Buenos Aires, estima-se que mais de 100 mil pessoas foram às ruas, mobilizadas para uma marcha na direção do Congresso, onde estava prevista a votação da “lei ônibus” – apelido do amplo pacote de medidas ultraliberais que o presidente vinha tentando colocar em vigor de uma só vez. Diante das mobilizações, porém, a sessão foi adiada (no que também parece ser uma tentativa do oficialismo de arrebanhar votos que ainda seriam insuficientes entre os deputados), enquanto a Justiça segue derrubando uma série de artigos originalmente previstos na primeira reforma.
As pressões políticas também fizeram Milei recuar de algumas das medidas mais caras ao seu programa antes mesmo das mobilizações. No caso mais notório, a estatal petroleira YPF saiu da lista de potenciais privatizações. Já outros empreendimentos públicos na mira do raio privatizador – casos do Banco Nación (que não é o banco central, mas uma espécie de “Banco do Brasil” argentino), da geradora de energia Nucleoeléctrica e da empresa de telecomunicações Arsat – até poderão ser parcialmente vendidos e passar a um regime misto, mas agora o Estado terá que manter o controle sobre suas operações. Isso, por si só, é uma derrota para uma agenda governamental que viralizou nas redes sociais em 2023 por prometer bravatas como “dinamitar” tudo o que estivesse sob a alçada estatal.
As manifestações ocorreram conforme o programado, mas com foco na manutenção de outras empresas públicas, como a companhia aérea Aerolíneas Argentinas ou a agência estatal de notícias Télam. Essas e outras, mesmo após as mudanças do governo, seguiam entre os alvos que poderiam passar totalmente às mãos da iniciativa privada.
Apesar de conter parte dos planos da ultradireita, ainda não está claro quanto do ímpeto demolidor de Milei a oposição vai conseguir barrar. Até quinta-feira (25), tinham sido cortados 141 artigos dos 664 inicialmente previstos – e, no dia seguinte, o governo anunciou mais um recuo, desta vez retirando todo o capítulo fiscal do projeto, o que inclui uma reforma na previdência. Mas a última mudança foi, por admissão própria, uma tentativa de fazer a votação avançar mais rápido, o que não descarta que as mesmas ideias apareçam outra vez no futuro; além disso, muitos dos tópicos debatidos na Justiça ainda podem ser contestados pelos dois lados e, no futuro, voltar à cena – com o mesmo texto que agora está suspenso, ou sob uma nova roupagem.
Enquanto isso, também na quinta, Milei destituiu seu ministro de Infraestrutura, supostamente como punição ao vazamento das conversas de uma reunião interna, jogando mais incerteza sobre os próximos passos do governo: uma das hipóteses é que ele dissolveria também este Ministério, incorporando-o à pasta de Economia, sob o comando de um cada vez mais poderoso Luis Caputo.
Patricia Bullrich, a ex-presidenciável que se tornou ministra de Segurança de Milei mesmo após ferozes trocas de farpas entre ambos no primeiro turno – e mesmo diante das promessas do presidente, há muito tempo sepultadas, de que jamais se aliaria às velhas castas políticas –, deu ainda na quarta-feira o tom de como o governo vai encarar qualquer mobilização desse tipo: não foi “o país” quem parou, disse ela, mas “as máfias” que comandam os sindicatos.
Os tais “mafiosos” que lutam contra as medidas drásticas incluídas na lei ônibus, porém, incluem figuras de diferentes setores da sociedade que temem os impactos de um tesouraço feito com pouco debate no Congresso e entre os próprios representantes dos trabalhadores. Vale lembrar: as mudanças bruscas de rota pretendidas por Milei se amparam desde o príncipio, por exemplo, nos polêmicos Decretos de Necessidade e Urgência (DNU), uma ferramenta prevista na Constituição mas recomendada apenas em “circunstâncias excepcionais”.
Até mesmo atores de cinema se mobilizaram pedindo a queda de artigos referentes à legislação da cultura: em uma campanha que incluiu até o onipresente Ricardo Darín, os artistas enfatizaram a frase que já se tornou corriqueira em cada círculo que não quer engolir sem briga as reformas de Milei – “não são privilégios, são direitos”.
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🇧🇴 Estado Plurinacional chega aos 15 anos com ‘fundadores’ rachados – Há 15 anos nesta quinta-feira (25), um referendo convocado pelo então presidente Evo Morales (2006-2019) ratificou a adoção de uma nova Constituição para a Bolívia, que substituiu o texto anterior, de 1967, e segue em vigor até hoje. Entre as mudanças simbólicas incluídas na nova Carta Magna, estava o reconhecimento pioneiro do país como um “Estado Plurinacional”, um aceno à autonomia dos vários povos originários que vivem sob a mesma bandeira boliviana. A Constituição, impulsionada por Evo, é considerada uma vitória histórica – e duradoura – da esquerda no país. A década e meia da efeméride começou a ser celebrada oficialmente na segunda-feira (22), com direito a ritual ancestral de agradecimento à Pachamama em La Paz, mas ocorre frente a um pano de fundo marcado pela fratura total no governista Movimento ao Socialismo (MAS): há meses, prossegue a guerra aberta entre apoiadores de Evo e aqueles ao lado do atual presidente Luis Arce, outrora um apadrinhado do ex-mandatário, com novos capítulos nesta semana – banido de concorrer à Presidência em 2025 por mais uma controversa decisão judicial, Morales aproveitou as celebrações da semana para desafiar Arce em improváveis “primárias” para definir uma candidatura à esquerda, enquanto membros da ala “evista” do MAS passaram os últimos dias realizando bloqueios de estradas em pelo menos cinco regiões do país, protestando contra a inabilitação do antigo líder boliviano.
🇨🇴 Colômbia se despede da senadora Piedad Córdoba – A política colombiana foi pega de surpresa no sábado (20) com a morte repentina da senadora Piedad Córdoba, proeminente figura de esquerda e cuja longa trajetória ajuda a explicar o país. A dias de completar 69 anos, a ativista não resistiu a um infarto fulminante, chegando já sem vida ao hospital para onde foi levada em Medellín. Córdoba fazia parte do Pacto Histórico, o partido que elegeu Gustavo Petro presidente em 2022. Petro lamentou a perda, lembrando da senadora como alguém que “lutou durante toda a sua vida por uma sociedade mais democrática” e cujo “corpo e mente não resistiram à pressão de uma sociedade anacrônica (...) que odiava o diálogo e a paz, que odiava os negros, os indígenas e os pobres, que a tratava como uma criminosa”. A vida de Piedad, de fato, é um extrato do que é a política colombiana: conhecida por ter um papel decisivo na negociação de reféns sequestrados pelas Farc, foi ela própria capturada por grupos paramilitares – de extrema-direita – em 1999 e alvo de atentados durante sua vida. Em 2010, acusada de colaborar com guerrilheiros, ela foi destituída do cargo de senadora e ficou impedida de exercer cargos públicos por 18 anos. Seis anos depois, porém, os impedimentos foram retirados por falta de provas. Leia mais na teleSUR.
🇪🇨 Equador: prisões massivas e deportação de família de chefe narco foragido – Dias após o presidente equatoriano Daniel Noboa declarar uma verdadeira guerra aos principais grupos narco do país (relembre), forças de segurança prenderam no domingo (21) pelo menos 68 suspeitos de terem invadido e aterrorizado um hospital na cidade de Yaguachi, na convulsionada província de Guayas. A invasão ao centro de saúde aconteceu alguns dias após uma série de ataques coordenados em Guayaquil, capital da mesma província, levando Noboa a colocar militares nas ruas. Segundo a polícia, o objetivo dos invasores seria supostamente proteger um paciente de possíveis ataques rivais – para isso, teriam tentado assumir o controle do local. Durante o episódio, enfermeiras foram feitas reféns pelo bando e houve troca de tiros, mas não há relatos de feridos. Ainda na esteira dos últimos acontecimentos, autoridades argentinas confirmaram a deportação para o Equador de pelo menos oito pessoas ligadas a Adolfo “Fito” Macías, chefe de uma das principais gangues equatorianas que fugiu da prisão no início do mês (sua fuga é considerada o tiro de largada para toda a crise atual). O governo de Javier Milei prometeu colaborar com Noboa e disse que a Argentina “não seria um refúgio para criminosos”. “Fito”, por sua vez, segue foragido. No El Mercurio e BBC.
🇭🇹 Supremo do Quênia diz que envio de policiais ao Haiti é ilegal – Um novo obstáculo à “última esperança” haitiana de contar com auxílio externo para resolver sua própria crise foi imposto na sexta-feira (26), quando a Suprema Corte do Quênia concluiu que o prometido envio de policiais à nação caribenha fere a Constituição do país africano. Tanto o presidente quanto o Congresso quenianos haviam aprovado uma moção permitindo a ida do efetivo rumo a Porto Príncipe, liderando uma missão à qual depois outros países prometeram se somar, mas a Justiça entendeu que uma ação do tipo, “embora nobre”, só poderia sair do papel se houvesse algum tipo de acordo recíproco entre os países dentro dos termos da Carta Magna. O porta-voz do governo do Quênia, Isaac Mwaura, garantiu que o Executivo vai recorrer da decisão. Enquanto isso, o impasse permanece no Haiti: com a data-limite para o premiê Ariel Henry deixar o cargo (7/2) se aproximando sem qualquer sinal de eleições ou de que ele pretende abrir mão do poder, o país também continua sem data para receber a missão internacional pedida pelo primeiro-ministro ainda em 2022. O Quênia se ofereceu para enviar mil policiais – embora sua própria corporação seja alvo de denúncias de violações de direitos humanos e haja temor de que a presença dos efetivos só pioraria a situação no Haiti. Via AP.
🇵🇪 Peru: deputados pedem renúncia de ministro após ataques a Dina Boluarte em evento; Justiça rejeita recursos de Pedro Castillo – Após meses de uma ligeira calmaria considerando seus próprios padrões, o Peru voltou a esquentar: mais uma vez, quem esteve no olho da crise foi a presidenta Dina Boluarte. A mandatária foi atacada fisicamente no sábado (20) por uma manifestante indígena durante a inauguração de uma obra em Ayacucho, a pouco mais de 500 quilômetros de Lima. “Eles mataram meu marido. Como vou ficar calma?”, disse a mulher, que justificou o puxão de cabelo denunciando que seu companheiro estava entre os mais de 60 peruanos mortos durante os protestos que pediam justamente a renúncia de Boluarte, na virada de 2022 para 2023. A presidenta, vale lembrar, é investigada por crimes de genocídio. Como tudo o que acontece na política peruana, o caso pontual não ficou sem uma reação estrondosa: em função da agressão, cinco diferentes bancadas do Congresso cobraram a renúncia do ministro do Interior, Víctor Torres (até o fechamento desta edição, ele seguia no cargo, mas acumulava baixas na pasta, incluindo a renúncia de seu vice-ministro de Segurança Pública, Héctor Loayza). Ainda que sem mexidas no gabinete após o incidente, Boluarte decidiu fazer alterações na alta cúpula da Polícia Nacional, mas não se pronunciou sobre uma eventual saída de Torres. Paralelamente, houve mais novidades envolvendo o ex-presidente Pedro Castillo (2021-2022): como explicado no GIRO anterior, a Suprema Corte havia prometido julgar durante a semana um recurso interposto pela defesa do político (que já está preso preventivamente) após o Ministério Público pedir uma pena de 34 anos de prisão para Castillo por crimes de “rebelião”, entre outros. Sem muitas surpresas, a Corte rejeitou, de forma unânime, as cinco apelações apresentadas pela defesa, tornando ainda mais improvável a libertação do ex-mandatário detido em 2022. No Gestión e El Comercio.
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CHILE 🇨🇱
Uma investigação sobre os beneficiários de uma pensão estatal concedida às vítimas da repressão durante o estallido social de outubro de 2019 trouxe à tona uma série de irregularidades na distribuição desse direito, revelou a Controladoria chilena na quinta-feira (25). O documento acabou colocando mais pressão sobre o governo de Gabriel Boric, que criou o benefício social em 2022 e vinha investigando possíveis problemas nos critérios para conceder o valor, mas ainda não havia tomado medidas drásticas como o cancelamento massivo de pensões para quem não cumpria com os critérios estabelecidos em lei. Entre as irregularidades descobertas, apareceu a falta de uma conferência fidedigna dos problemas de saúde alegados pelas supostas vítimas, que em alguns casos não contavam sequer com diagnósticos ou laudos médicos comprovando suas necessidades. Além disso, dos 419 beneficiários, 58 não poderiam ser incluídos entre os pensionistas por já terem condenações criminais anteriores, inclusive por distribuição de pornografia infantil, abuso sexual e homicídio. Através do Ministério do Interior, o governo prometeu reavaliar caso a caso e diz que já havia revogado a pensão da pessoa condenada por pornografia infantil antes mesmo de o relatório ser publicado. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
O presidente Gustavo Petro declarou estado de “desastre natural” na quarta-feira (24), em meio a dezenas de focos de incêndio em andamento ou em potencial que tomam conta do mapa colombiano neste final de janeiro, e pediu ajuda aos países vizinhos – através da ONU – para combater as chamas. No dia seguinte ao decreto, nada menos que 977 dos 1.120 municípios colombianos estavam em estado de atenção frente à possibilidade de queimadas agravadas pela seca. Canadá, Chile, Estados Unidos e Peru já ofereceram auxílio contra o fogo, que na sexta-feira (26) tinha 34 focos ativos pelo país, incluindo um na região da capital Bogotá. Via AFP.
COSTA RICA 🇨🇷
Quem lê o GIRO com frequência sabe que a Costa Rica, sempre citada como uma espécie de ‘oásis’ de tranquilidade quando comparada aos vizinhos centro-americanos, tem sofrido com um alta inédita na violência, fruto do mesmo problema que faz o Equador viver sua maior crise de segurança da história: o avanço do narcotráfico. Apenas em 2023, os homicídios cresceram 40%, o que preocupa cidadãos e o governo diante dos riscos que essas tensões causam ao crucial setor turístico tico. Sem qualquer surpresa, ainda mais sob um governo direitoso como o do atual presidente Rodrigo Chaves, cada vez mais figuras políticas citam a vizinha El Salvador de Nayib Bukele como um “exemplo” no combate ao crime organizado – ainda que a comparação de números de violência seja descabida, mesmo com os recordes costa-riquenhos. Chaves, que no final do ano passado já prometeu lançar um extenso plano de segurança, namora até a possibilidade de usar um referendo nacional para, nas suas próprias palavras, “botar o país na linha”. Na Reuters e La Republica.
CUBA 🇨🇺
Mais tempo em casa para cuidar dos recém-nascidos: na quarta-feira (24), o governo anunciou a aprovação de um aumento de três meses no tempo de licença maternidade – que agora irá de 12 para até 15 meses de afastamento remunerado. Segundo as autoridades, a medida é parte de um pacote de mudanças que buscam “corrigir distorções e impulsionar a economia em 2024”. Num apelo político, o comunicado de ampliação da licença disse que proteger os bebês cubanos é “proteger o que há de mais precioso para a Revolução”. É a segunda vez em meia década que Cuba adota uma resolução dessa natureza. Na teleSUR.
EL SALVADOR 🇸🇻
A poucos dias das eleições do próximo 4/2, o presidente Nayib Bukele (que está oficialmente afastado do cargo desde dezembro justamente para driblar as regras constitucionais e concorrer à reeleição) postou um vídeo em sua conta do X (antigo Twitter) na noite de domingo (21) para, basicamente, pedir voto aos eleitores. Não é como se precisasse: franco favorito segundo todas as pesquisas divulgadas até o momento – algumas projetam mais de 90% das intenções de voto para o mandatário –, Bukele deve vencer sem sustos. No entanto, o político também cobrou de seus apoiadores votos em parlamentares de seu partido, o Nuevas Ideas (NI), para “manter a maioria qualificada” da legenda no Congresso – segundo Bukele, a perda “de um único deputado” na atual composição seria o suficiente para minguar a maioria governista na Casa, o que tiraria do NI a possibilidade de “aprovar regimes de exceção e eleger magistrados na Corte Suprema de Justiça e procurador-geral”. Estranho para ouvidos desacostumados, o discurso que defende que todos os poderes sigam sob controle de Bukele, que segue cada vez mais popular (dentro e fora de seu país) por atropelar regras e direitos básicos para esmagar o crime organizado a qualquer custo, também deve se refletir no voto popular de logo mais: pesquisas dão conta que o partido no poder pode alcançar 57 das 60 cadeiras no Congresso, matando de vez o limitado escopo da oposição no âmbito legislativo.
Dale un vistazo:
📹 O último morador de Epecuén – Em 1985, uma combinação de chuvas com erros no planejamento hidráulico da região alagou completamente o balneário argentino de Villa Epecuén, a cerca de 520 km de Buenos Aires, convertendo-o em uma atração turística por razões muito diferentes daquelas pelas quais o local era conhecido até então: antes um resort de férias, o lugarejo de 1,2 mil habitantes (que chegava a receber 25 mil turistas na alta temporada) foi varrido do mapa pelas águas e virou uma gigantesca ruína a céu aberto, um lugar hoje cultuado por entusiastas de cidades-fantasma. Embora nenhuma pessoa tenha morrido na catástrofe, a cidade, sim, nunca voltou a ser o que era antes: abandonando suas casas às pressas e sem poder retornar por muitos anos – foram duas décadas até que as águas voltassem a baixar –, os moradores de Epecuén reconstruíram suas vidas em outro lugar. Com exceção de um deles: Pablo Novak, um senhor que morava a 200 metros do local mais atingido pelo alagamento e que decidiu retornar quando a situação se acalmou, em 2009. Don Pablo faleceu no último domingo (21), quatro dias antes de seu 94º aniversário. No vídeo acima, de 2019, o youtuber mexicano Luisito Comunica visita Epecuén e conversa com Novak, em um dos seus últimos testemunhos – e foram vários – gravados em vida.
GUATEMALA 🇬🇹
Tolerância zero contra crimes de extorsão. É essa uma das promessas do novo governo guatemalteco, que sob Bernardo Arévalo promete ser implacável contra uma prática que, segundo a nova gestão, é uma das que mais afetam cidadãos em todo país. Segundo o ministro do Interior, Francisco Jiménez, “apenas 20% dos casos de extorsão são cometidos por gangues, enquanto o restante são feitos por ‘imitadores’ de grupos criminosos” que se aproveitam da “reputação violenta” dos primeiros para praticar o crime. Para mapear a situação dessa atividade ilícita e desmantelá-la, Jiménez anunciou na quinta (25) o início de uma megaoperação dentro do sistema prisional do país, que deve se estender em várias penitenciárias. De volta à crise política sem fim, novos capítulos da colisão entre Arévalo e a procuradora-geral Consuelo Porras: dias após a polêmica autoridade negar um convite do presidente para comparecer a uma reunião no Palácio de Governo, o mandatário subiu o tom. Num ultimato, disse na quarta-feira (24) que “lamenta” a ausência nesse primeiro encontro, mas que a presença de Porras em uma próxima reunião do conselho de ministros, esta marcada para a próxima semana, é inegociável: “está obrigada a ir”. A tensão entre os dois deve seguir aumentando, tudo enquanto a procuradora garante que não vai renunciar. Via Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Após uma onda de sequestros de freiras, o arcebispo de Porto Príncipe, Max Leroy Mésidor, confirmou na quinta-feira (25) a libertação das seis religiosas, raptadas na semana passada ao lado de outras duas pessoas cujos nomes e cargos não foram especificados. Segundo a autoridade, todos estão “em boas condições”. Apesar do anúncio, Mésidor não confirmou se a libertação foi acordada mediante pagamento de resgate e também não deu detalhes sobre quem teria sido responsável pelo sequestro, embora haja indícios de que o caso tenha relação com a crescente atividade das gangues. Segundo dados da ONU, gangues – em seus diferentes níveis de articulação e controle urbano – foram responsáveis pelos sequestros de quase 2,5 mil pessoas no ano passado, um aumento de mais de 80% em relação a 2022. Homicídios cresceram 120%. Na teleSUR.
HONDURAS 🇭🇳
O julgamento do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), processado por crimes relacionados ao narcotráfico nos EUA, foi adiado para o próximo dia 12/2. As autoridades norte-americanas também autorizaram, na terça (23), que JOH tenha acesso a um computador portátil, sem acesso à internet, para revisar os documentos que estão sendo utilizados na denúncia. Hernández, que deixou o poder no início de 2022 e imediatamente foi preso e extraditado, pode acabar até mesmo condenado a uma pena perpétua, de forma semelhante ao seu irmão, que já encarou a Justiça estadunidense por crimes parecidos. Nos últimos dias, a procuradoria nos EUA também admitiu que se reuniu em 2020 com um “infiltrado”, o rabino Jorge Bar-Levy, que ofereceu uma série de materiais – inclusive conversas de WhatsApp – que se tornaram provas centrais nas denúncias contra JOH. Hernández segue sustentando a inocência em todos os crimes atribuídos a ele, e mantém a versão de que as denúncias seriam falsas, uma espécie de “vingança” dos próprios narcos por sua política contra a criminalidade durante os dias na Presidência. Na CNN.
MÉXICO 🇲🇽
A violência associada ao narcotráfico é algo tão comum no México que, há alguns anos, nem parece algo ainda capaz de comover um país acostumado com o terror. Casos de violência policial, por outro lado, ainda viram destaque quando acontecem: durante a semana, quatro agentes passaram a ser investigados após matarem um homem que viajava de carro com os pais em Lerdo de Tejada, no estado de Veracruz. Os policiais teriam atirado e matado Brando de Jesús Arellano Cruz, de 27 anos, durante uma abordagem. Após os disparos, eles foram cercados por moradores enfurecidos e acabaram levados sob custódia para unidades do Ministério Público, onde serão mantidos sob investigação. A principal linha diz que Cruz teria sido morto por se negar a encostar o carro após um sinal da polícia. A família da vítima cobra justiça. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
A liberação – na prática, um desterro forçado – do bispo opositor Rolando Álvarez e outros 18 religiosos ao Vaticano, na semana passada, voltou a atrair interesse sobre a situação dos presos políticos que permanecem na cadeia na Nicarágua. Entidades de defesa dos direitos humanos e familiares contabilizam ao menos 105 pessoas que continuam encarceradas no país de Daniel Ortega como “réus de consciência”, com acusações diversas que surgiram após se organizar ou sair às ruas em protesto contra o governo. Matéria do portal opositor Confidencial conta como, apesar de um cenário de penúria na prisão, muitas famílias temem fazer denúncias sobre a escassez de medicamentos, de comida ou mesmo os castigos físicos sofridos por seus familiares na cadeia, sob o temor de se tornarem as próximas vítimas da repressão.
Una palabra:
Chamamé – Ritmo musical popular com raízes fincadas na cultura guarani e com influência jesuíta, é tradicionalíssimo em diferentes regiões do Cone Sul, dos pampas brasileiros ao Paraguai, com especial destaque para a macrorregião centro-norte da Argentina, especificamente no que se conhece por região dos Esteros – uma espécie de ‘Argentina profunda’, espalhada em lagos e pântanos, esse pedaço do país vizinho se estende principalmente pela província de Corrientes, que faz fronteira com Brasil e Paraguai, e tem traços culturais muito particulares. É difícil precisar os passos oficiais da origem do chamamé, tocado comumente com violão, bandoneón e sanfonas diversas. Há quem diga que o ritmo começou no Paraguai, derivado da polca paraguaia, ao passo que nomes chamamezeiros no início do século 20 (quando o movimento começou a florescer de fato pela América do Sul) citam uma espécie de subgênero: uma polca correntina. Traço fundamental de muitas culturas, o Chamamé foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2020.
PANAMÁ 🇵🇦
Evacuações e grande preocupação após um incêndio de grandes proporções tomar o aterro sanitário de Cerro Patacón, na capital, considerado o maior depósito de lixo do país. As chamas levantaram uma imensa fumaça tóxica que se espalhou pela cidade, desalojando provisoriamente pelo menos 75 famílias panamenhas durante o último final de semana. Além da ação dos bombeiros, centros sanitários foram criados para atender pessoas afetadas pela fumaça, de acordo com o ministro da Saúde, Luis Francisco Sucre. O presidente Laurentino Cortizo garantiu que seu governo determinou um plano de ação desde o início do incidente. Autoridades trabalham com a hipótese de um incêndio criminoso, com estimativas de até meio milhão de dólares e 28 mil litros de água gastos para conter a crise. Em La Republica.
PARAGUAI 🇵🇾
Tudo ia por um caminho de “vamos vendo como resolver”, com promessas feitas pelo presidente Lula de que ele e seu homólogo paraguaio, Santiago Peña, chegariam a um entendimento sobre a espinhosa questão tarifária de Itaipu. Mas, pelo menos até aqui, o caso parece estar se tornando o imbróglio que todos imaginavam encontrar: durante a semana, o Brasil deu a entender que poderá, caso não haja acordo, até minguar o contrato que obriga os brasileiros a comprar a energia elétrica excedente da usina binacional, uma quantidade que acaba sem uso para o lado paraguaio – que também não teria a infraestrutura para vendê-la para outro vizinho, mesmo se o acordo permitisse. A questão é antiga: Brasil e Paraguai têm direito, cada um, a 50% do que é produzido por Itaipu. Mas como os vizinhos são consideravelmente menores que a maior nação da América Latina, não usam toda essa quantidade – e o que o Paraguai não usa, é obrigatoriamente vendido ao Brasil. O ponto de divergência entre os dois – há tempos – é sobre os valores envolvidos nessa negociação forçada por contrato, com Assunção querendo cifras maiores do que as que são pagas por Brasília atualmente. Ainda que assuntos envolvendo Itaipu já tenham gerado outras crises (relembre a que quase derrubou um presidente em 2019), um eventual rompimento do contrato elevaria as tensões para um nível inédito, com risco de países levando o caso a cortes internacionais e um mal-estar diplomático indesejado, como detalham a Folha e o Última Hora.
PORTO RICO 🇵🇷
Uma lei contra a discriminação racial de cortes de cabelo. É isso que movimentos afrocaribenhos em Porto Rico defenderam durante uma visita ao Senado da ilha na terça (23), cobrando o avanço de um projeto que busca agir objetivamente contra o racismo cometido em função de diferentes estilos capilares. Segundo dados oficiais, mais de 50% dos porto-riquenhos se identificam com uma mistura de etnias, ao passo que aproximadamente 17% dos habitantes da ilha se consideram negros. O governo local, no entanto, não vê necessidade na aprovação de medidas dessa natureza, alegando que as leis atuais já atuam em casos discriminatórios. Ativistas, políticos favoráveis à legislação e pessoas que enfrentam preconceito discordam da tese. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Notícias que dão alguma esperança: os alertas que apontavam um alto índice de desertificação em várias partes do bioma dominicano anos atrás tiveram boa resposta. Em meados de 2015, os números já falavam em quase metade das terras degradadas, aumentando o fenômeno de migração climática – mas, após toda uma década de iniciativas e esforços de conservação, o chamado Plano Yaque deu conta de restaurar 18% das zonas em degradação. De acordo com a reportagem do El País, esses dados só deixam os dominicanos atrás do vizinho Haiti no quesito “recuperação de terras”, ainda que a falta de dados do outro lado da ilha de Hispaniola dificulte a comparação. No balanço de cinco anos atrás, a área total degradada na América Latina era de 378 milhões de hectares – o que daria três Colômbias. Para especialistas, as conquistas dominicanas são “um exemplo”.
URUGUAI 🇺🇾
Antes silenciosa, a extrema direita uruguaia agora pede “prisão perpétua” para criminosos que “não merecem viver em sociedade”. Frases batidas para brasileiros após os anos de Jair Bolsonaro (2019-2022), os pedidos foram ouvidos na terça-feira (23) em Montevidéu durante um discurso do deputado Álvaro Perrone, do partido radical Cabildo Abierto. Incomuns para os padrões da política uruguaia até tempos atrás, votos pelo endurecimento de punições contra criminosos têm sido mais frequentes diante do aumento de números da violência no paisito, onde a população já teme o avanço do narcotráfico. Segundo Perrone, que compartilha a legenda com nomes de extrema direita como Guido Manini Ríos, um apologista da ditadura e provável presidenciável em 2024 (entenda), a adoção da pena perpétua para casos de crimes violentos significa “dar a mensagem e dizer claramente que vida significa vida”. O Uruguai abre as urnas para escolher um novo presidente no final de outubro. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
O procurador-geral Tarek William Saab, figura proeminente no chavismo, confirmou na segunda-feira (22) um pedido feito pelo Ministério Público para prender pelo menos 32 pessoas acusadas de conspirar contra o presidente Nicolás Maduro. Segundo o pedido, que tem na mira a jornalista Sebastiana Barráez, ativistas, ex-militares e até youtubers, haveria em curso até mesmo diferentes plano de atentado contra o mandatário e o atual governador do estado de Táchira, Freddy Bernal. Saab disse durante o anúncio que os venezuelanos citados pelo MP serão processados por “traição à pátria e homicídio intencional qualificado”, além de “terrorismo e associação criminosa”. Entre os alvos do pedido de prisão está a ativista Tamara Suju, uma conhecida crítica do governo que vive na Europa há uma década — pelas redes sociais, ela chamou Saab de “procurador da ditadura” e criticou o que chamou de “criminalização do trabalho de defesa dos direitos humanos”. Maduro aproveitou o episódio para colocar em dúvida a realização de eleições neste ano, dizendo que o acordo com a oposição poderia colapsar frente às novas denúncias. Em El País.
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