🇬🇹 Sob Arévalo, indígenas podem assumir mais espaço na política guatemalteca
Após rusgas com Fernández, Papa recebe Milei aos sorrisos | Costa Rica vê deterioração democrática em eleições | Haiti: premiê segue no poder e agrava crise
Historicamente, por ser um país onde a esquerda raramente se cria – ou acaba derrubada por violentos golpes de Estado quando consegue espaço – a Guatemala tem na gestão do presidente de centro-esquerda Bernardo Arévalo, empossado há exatamente um mês na quinta-feira (15), uma oportunidade de ouro para confrontar a dinâmica interna de seu sistema político. Como em boa parte dos países centro-americanos, os guatemaltecos há séculos veem o poder concentrado na mão dos mesmos grupos e envolto em uma maciça atmosfera de corrupção. Com isso em mente, Arévalo definiu como prioridade o combate a esse sistema excludente – passando por questões como desigualdade, corrupção, falta de transparência em processos políticos e até a marginalização de grupos vulneráveis. Um dos primeiros passos para cumprir suas promessas veio no final de janeiro, quando seu governo decidiu alterar o processo de escolha dos 22 governadores departamentais do país, cargos fundamentais por servir de enlace entre gestões municipais e o Executivo.
Por meio de uma reforma na estrutura do regulamento dos Conselhos Departamentais de Desenvolvimento Urbano e Rural (Conadur), o Ministério do Interior definiu que os cargos de comando nos departamentos passarão, a partir de agora, por escrutínio público prévio – não sendo mais fruto de pura e simples indicação presidencial, algo que é permitido pelo artigo 227 da Constituição. A decisão final ainda ficará nas mãos do presidente, mas a apresentação de candidaturas será aberta ao público geral, haverá avaliação de documentos e, talvez um dos pontos mais fundamentais, permitirá que a população apresente objeções a eventuais candidaturas problemáticas. Até a segunda-feira (12), mais de 1,5 mil cidadãos haviam se postulado aos cargos em todo o território nacional. Comissões responsáveis devem analisar perfis e discutir contestações até o próximo dia 22; seguindo o calendário, as listas estarão nas mãos do presidente em 1º/3.
Segundo analistas, o antigo formato era um convite a práticas de compadrio e clientelismo. Outros especialistas alertam que todo o funcionamento da máquina administrativa em nível departamental está contaminada pela narcopolítica, com grupos criminosos disputando controle, verbas públicas, espaço e negociando cargos para servir aos interesses empresariais. “É hora do governo cumprir o que ofereceu em campanha: que haja uma verdadeira seleção de governadores, que estejam à altura da situação para retomar a governabilidade”, disse Luis Velásquez, ex-secretário de Coordenação Executiva da Presidência – órgão que coordena justamente a Conadur, entre outras entidades.
A mudança proposta pelo governo Arévalo também deve, por tabela, aumentar a visibilidade política de candidaturas de povos originários, amplamente renegadas no universo político local por ocuparem, ao longo da história, posições de resistência a essas mesmas elites que se revezam no poder. Figuras como o líder indígena Luis Pacheco, antigo presidente da organização 48 Cantones de Totonicapán, uma conhecida entidade de quase 500 anos que representa os interesses dos povos K'iche, no lado ocidental da Guatemala, já contam com apoio popular para disputar as eleições pelo departamento que dá o nome à agremiação. Quem também mostrou interesse e se pronunciou no último dia 7/2 foram autoridades do Parlamento do Povo Xinka, com penetração em comunidades da região sudeste, mais precisamente no departamento de Santa Rosa: “convidamos toda a população [de Santa Rosa] a estar atenta e fiscalizar o processo, pois o pacto de corruptos não está disposto a deixar o poder”, disseram em nota.
A tentativa de aumentar a representação indígena na política nacional é nada mais que uma necessária correção histórica: sub-representados em cargos administrativos, indígenas de pelo menos 24 grupos étnicos e indivíduos que identificam como afro-caribenhos correspondem a quase 44% da população do país (ou mais de 6 milhões de pessoas), de acordo com dados do Censo Demográfico de 2018. Mesmo numerosos, esses guatemaltecos só acabam conquistando algum espaço de relevância em distritos e municípios, onde o escopo de governança é limitado.
Arévalo também é muito cobrado por grupos originários, que, de forma nada surpreendente, compõem uma parcela fundamental de seu eleitorado. Isso porque, no auge das pressões da oposição e do Ministério Público (saiba mais lendo o GIRO #203 e esta reportagem) à vitória do presidente no ano passado – algo que o político à época classificou como uma “tentativa de golpe de Estado” –, organizações indígenas encabeçaram massivos protestos contra essas manobras, assumindo um papel de verdadeiros garantidores da democracia. Além de cobrarem a renúncia de autoridades que lideraram o conluio contra a chapa de esquerda eleita, como a procuradora-geral Consuelo Porras e alguns de seus subordinados, esses grupos fizeram uma vigília de mais de 100 dias em frente às instalações do MP, sempre ameaçando: caso Arévalo não recebesse a faixa em janeiro, o país seria totalmente paralisado.
A composição do governo Arévalo, porém, deixou a desejar em termos de representatividade. Ainda que o gabinete de ministros tenha uma composição paritária em gênero, algo impensável em governos anteriores, a gestão de centro-esquerda repete os erros de seus antecessores de direita ao contar com apenas Miriam Roquel, à frente da pasta do Trabalho, como representante indígena dentro da equipe de ministros. O próprio presidente reconheceu que “ainda estamos em dívida com a pluralidade e a riqueza de nosso país”.
Em meio às mudanças, há também muito ruído por parte da oposição. No Congresso, onde governistas não têm maioria, deputados prometem agir contra as novas regras, acusando o governo de fazer pactos com lideranças indígenas em agradecimento às mobilizações do ano passado. Em seus pronunciamentos, grupos originários como os que apoiam Luis Pacheco em Totonicapán e o Parlamento Xinka garantem que as indicações com maior respaldo popular são apenas fruto de apoio orgânico e que não há qualquer tipo de negociação com o poder Executivo. Como tudo envolvendo a política guatemalteca dos últimos tempos, o caso deve seguir em pauta com críticas e novidades quentes.
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DESTAQUES
🇦🇷 Papa recebe Milei no Vaticano entre sorrisos e pedidos de desculpa – Causou estranheza, para dizer o mínimo, que o encontro entre o Papa Francisco e seu compatriota Javier Milei na segunda (12) tenha acontecido de forma tão descontraída. Isso porque, antes da conversa breve entre os dois no Vaticano, ainda durante a época de campanha, o presidente argentino havia tratado o Pontífice como um “personagem nefasto”, um “imbecil que promove o comunismo” e até mesmo um “representante maligno” por suas ideias. Agora, o tom foi outro: desculpando-se pelos ataques, Milei transmitiu palavras de respeito e até convidou Francisco para uma visita à sua terra natal, destino que o religioso ainda não colocou na agenda desde que assumiu o posto mais alto da Igreja Católica, em 2013. A cordialidade entre os dois também trouxe lembranças de uma relação nada virtuosa entre o Papa e o antecessor de Milei. Durante o governo de Alberto Fernández (2019-2023), Francisco fez duras críticas à situação econômica da Argentina, chegando a atribuir o aumento da pobreza às “más políticas” – ainda que a frase não tenha sido um ataque direto a Fernández, acabou sendo interpretada por muitos como tal. O líder da Santa Sé também mostrou pouca disposição para se reunir com o ex-mandatário no final de 2021, quando rejeitou um encontro que poderia acontecer durante uma visita de Fernández a Roma por compromissos do G20. “Não recebo autoridades ou candidatos de países em ano eleitoral”, disse o Papa, no que se acredita ter sido uma forma de despistar suas discordâncias. Na ocasião, a Argentina estava às vésperas de um pleito legislativo para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Não há confirmação sobre uma eventual visita de Francisco a Buenos Aires.
🇨🇷 Costa Rica: após fiasco governista, eleições municipais também ganham destaque por denúncias de irregularidades – Suspeitas de financiamento narco, denúncias de descumprimento de regras eleitorais, fake news, ataques virtuais e uma abstenção recorde que deixou em alerta observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA). O roteiro foge ao histórico de votações ticas, mas ganhou o noticiário por marcar as eleições municipais do país em fevereiro, simbolizando a deterioração democrática de uma nação que convive cada vez mais com esse novo problema. “Recebi no WhatsApp que não haveria eleições”, disse um eleitor enganado, que acabou indo votar de última hora após conversar com amigos. Um quadro geral de apatia e desinteresse na política também se fez presente: o patamar de abstenção bateu 68%, o que levou analistas internacionais a verem o caso com “preocupação”. A mesma OEA também alertou para os riscos de penetração de grupos criminosos no âmbito político – principalmente aqueles ligados ao tráfico de drogas – e suspeitas de financiamento ilegal. A onda de atividade narco, por sinal, é responsável por um aumento inédito da criminalidade em território costa-riquenho, com recordes anuais de homicídios. Parte desse contexto, dizem analistas, está associado à figura do atual presidente conservador Rodrigo Chaves, que há tempos quebra o histórico de mansidão institucional em San José e vive às voltas com crises e declarações polêmicas. Também cresce o número de casos de violência política: “Nunca antes fomos objeto de uma ofensiva digital tão agressiva de desinformação, repleta de calúnias e discursos de ódio contra juízes deste Tribunal [Superior Eleitoral]”, disse a presidenta do órgão, Eugenia Zamora. Em El País.
🇭🇹 Com Henry ainda no poder, Haiti se reúne com Quênia para viabilizar missão policial – Neste sábado (17), chegamos ao décimo dia após o prazo (autoimposto e descumprido; leia mais na última edição) para o premiê Ariel Henry entregar o cargo. Vencedor da primeira grande queda de braço pelo poder desde que angariou apoio internacional para assumir interinamente na sequência do assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, seu governo anunciou na quarta-feira (14) que segue trabalhando com o Quênia para viabilizar a vinda da missão policial africana ao Haiti. Emissários dos dois países realizaram reuniões – a portas fechadas – nos EUA ao longo de três dias nesta semana, firmando um memorando de entendimento em torno do envio de efetivos quenianos. Prometida ainda no ano passado, a missão do Quênia tem sido adiada por disputas políticas internas e, mais recentemente, por uma decisão da Suprema Corte em Nairóbi, dizendo que o país não poderia mandar seus policiais sem a existência prévia de um acordo bilateral com Porto Príncipe sobre o assunto. Ainda não está claro se o memorando elaborado nos últimos dias basta para satisfazer as exigências constitucionais, nem até quando a discussão vai seguir. Até lá, Henry segue sustentando sua precária posição enquanto as gangues do país continuam se fortalecendo e até a tradicional indústria do rum vem perdendo dinheiro com a crise interminável. Via AP.
🇵🇾 Oposição no Paraguai denuncia ‘golpe’ governista após destituição de senadora – O eixo da política paraguaia estremeceu durante a semana após uma manobra no Senado que opositores ao Partido Colorado, sigla governista, majoritária e bastante associada ao poderoso ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), já classificam como uma espécie de “golpe legislativo”: na quarta-feira (14), senadores votaram a destituição de Kattya González, considerada uma das raras vozes contrárias à agenda do governo por ali. Representante do partido de centro-esquerda Aliança Encontro Nacional (AEN), que tem só duas cadeiras no Senado, González é acusada em um caso ligado a denúncias de que dois de seus assessores teriam feito cobranças indevidas de salário por horas que não trabalharam. A senadora nega qualquer irregularidade. Más allá da própria acusação, o que também causou polêmica foram os números de votos considerados suficientes para aprovar a destituição: González foi derrubada por 23 votos a favor, algo que contraria uma regra interna que exige 30 votos para esse tipo de decisão – essa mesma regra, vale lembrar, é fruto de uma mudança adotado no ano passado e apoiada pelos próprios Colorados, justamente para proteger nomes governistas. Enquanto aumentam os protestos à destituição, na quinta (15), a senadora anunciou que irá recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça, prometendo apresentar um recurso de inconstitucionalidade após a sua expulsão. “Saio com a vitória de ter contribuído para um despertar da consciência de que enfrentamos sinais alarmantes para o futuro da nossa política e da nossa convivência democrática”, disse pelas redes sociais. Na teleSUR.
🇻🇪 Venezuela expulsa missão de direitos humanos da ONU em semana de críticas da oposição por prisão de especialista – Um prazo de 72 horas foi o que o governo de Nicolás Maduro estabeleceu na quinta-feira (15) para que o gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos que atua na Venezuela deixe o país. A decisão foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores, Yvan Gil, que tratou o caso como uma “suspensão de atividades” da missão instalada em Caracas em 2019. Segundo o chanceler, a decisão “é tomada devido ao papel inadequado” da comissão, que “longe de se mostrar imparcial”, segundo os chavistas, teria se tornado “o escritório de advocacia privado do grupo de golpistas e terroristas que conspiram permanentemente contra o país”. A decisão do governo Maduro veio pouco após a mesma entidade expulsa se pronunciar com “profunda preocupação” diante da prisão da opositora Rocío San Miguel, uma especialista da área militar que recentemente foi considerada detratora e acusada de “terrorismo” pelo governo. Não é de hoje que o governo e o Comissariado se bicam: mesmo nos tempos em que a pasta era comandada pela ex-presidenta chilena Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018), com quem Maduro poderia ter melhor relação por se tratar de uma figura de centro-esquerda, denúncias de abusos aos direitos humanos na Venezuela relatados pela ONU eram rejeitadas. A nova decisão também parece apatifar de vez as chances que Maduro tinha de reconquistar prestígio internacional, algo que contava até mesmo com a mediação de seu aliado colombiano Gustavo Petro. Agora, o novo impasse com a ONU se soma às novas retaliações econômicas dos EUA, que convenientemente suspenderam a suspensão de sanções alegando descumprimento de acordos eleitorais por parte dos venezuelanos.
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Time de futebol vinculado à comunidade palestina no Chile, o Club Deportivo Palestino apresentou nesta semana um uniforme em homenagem ao Celtic, da Escócia, cuja torcida vem se mobilizando em apoio às vítimas dos massacres em Gaza.
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REGIÃO 🌎
Tema caríssimo aos Estado Unidos, seja sob democratas ou republicanos, a questão das fronteiras e da migração latino-americana voltou ao noticiário na terça (13), após a Câmara dos Representantes dos EUA aprovar o impeachment do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, responsável por cuidar do tema. Mayorkas é o primeiro ocupante da pasta a cair dessa forma em 150 anos. A votação contra a autoridade acontece num momento de forte pressão dos republicanos contra o governo de Joe Biden, para muitos responsável por uma piora na situação migratória – Biden reverteu algumas das políticas mais radicais adotadas nos anos de Donald Trump (2017-2021), mas também manteve a tradicional política hostil contra a migração na fronteira sul do país. Com rumores de um possível retorno do bilionário à Casa Branca no próximo ano, o assunto migração tem voltado com tudo, com direito de promessas de novas medidas mais duras vindas do próprio Trump. O caso Mayorkas, agora, vai ao Senado, onde democratas têm maioria. Na BBC.
BOLÍVIA 🇧🇴
Alvoroço no governo de Luis Arce, desta vez justamente no ponto que o tornou figura forte quando ainda era ministro nos anos de Evo Morales (2006-2019): a economia. O motivo foi o rebaixamento da nota, na semana anterior, dos títulos da dívida boliviana pela agência de avaliação de risco Fitch, que mudou a classificação do país de “B-” para “CCC”. Trocando em miúdos, isso significa que, mesmo no universo de títulos “sem grau de investimento”, a situação piorou, passando de “variável” para “vulnerável”. La Paz considera a mudança injusta, mas os avaliadores internacionais justificam dizendo que falta clareza sobre o estado atual das reservas de dólares mantidas pela Bolívia – com o número sendo mantido atrás dos panos, desde o ano passado há incerteza cambial e até um crescente mercado de câmbio paralelo em um país que passou mais de década acostumado a usar um valor fixo (sem muitos problemas) para o dólar. A queda das reservas também está relacionada a um decréscimo na produção de gás natural, cujas jazidas estão se exaurindo: a Bolívia corre contra o tempo para aumentar os ganhos com a exploração de lítio, mas os valores ainda não substituem o que é perdido com os hidrocarbonetos. Em El País.
CHILE 🇨🇱
O Chile seguiu em frente, durante a semana, com os preparativos para o tradicional Festival da Canção de Viña del Mar, após autoridades darem luz verde para o evento na última sexta-feira (9). Havia incerteza quanto à realização das apresentações após os incêndios históricos que devastaram a região central do Chile no início do mês, especialmente a própria cidade de Viña del Mar – por enquanto, 131 mortes foram oficialmente confirmadas, mas ainda há desaparecidos. As forças de segurança da cidade autorizaram a realização do Festival sob a condição de que os organizadores adotassem uma série de medidas de segurança extraordinárias para resguardar o público e os participantes. Será a 63ª edição do Festival de Viña, organizado anualmente desde 1960, com as únicas interrupções tendo ocorrido em 2021 e 2022, em função da pandemia. O evento, considerado um dos maiores do tipo nas Américas atualmente, ocorre entre os dias 25/2 e 1º/3. No Infobae.
COLÔMBIA 🇨🇴
Teve preço: a ministra do Esporte, Astrid Rodríguez, renunciou ao posto na quinta-feira (15), como consequência direta da perda da condição de sede dos Jogos Pan-Americanos de 2027, originalmente previstos para Barranquilla. Em janeiro, a Panam Sports, que organiza as disputas poliesportivas no continente, comunicou à Colômbia que o país não poderia mais receber a competição por não cumprir uma série de compromissos financeiros. O governo tentou intervir e, por várias semanas, negociou em vão uma saída, com a ratificação da perda da sede ocorrendo em 30/1. Rodríguez logo virou alvo de uma moção de censura no Congresso e o mais provável era que, se não renunciasse, seria removida do cargo por votação dos legisladores. Com doutorado em estudos sociais e pesquisas focadas na área de educação física, Rodríguez não tinha experiência na administração pública e acabou durando menos de um ano no cargo. Quanto ao Pan de 2027, a sede substituta ainda não foi definida, com Lima (que recebeu o Pan em 2019) e Assunção (que nunca sediou o Pan, mas recebeu os Jogos Sul-Americanos em 2022) tendo oficializado suas candidaturas. Na Silla Vacía.
Dale un vistazo:
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Los Colonos – Escolhido pelo Chile para representar o país no Oscar de 2024 (porém, não indicado na lista final do prêmio), o filme recria um episódio que por muito tempo permaneceu apagado da historiografia oficial chilena: o processo de genocídio do povo Selk'nam (também conhecido como Ona), um dos grupos originários da Terra do Fogo, no ponto mais austral do continente americano. Como uma espécie de história de ‘faroeste’ patagônico, Los Colonos mostra a brutalidade de forasteiros estadunidenses, britânicos, chilenos e argentinos que tentam, a todo custo, ocupar, conquistar e delimitar as estepes geladas – uma terra sem-lei ainda no início do século 20. O título já está disponível em cinemas de todo o Brasil.
🎞️ ‘Los Colonos’ (Chile, 2023). 97 min. Dir.: Felipe Gálvez.
CUBA 🇨🇺
“Graças a essa operação, o Brasil, os Emirados Árabes Unidos e Cuba tornam pública a sua forte disposição de colaborar com segurança alimentar e nutricional da população cubana”, disse, na segunda-feira (12), o diretor da Agência Brasileira de Cooperação, Ruy Pereira, após a entrega de um primeiro lote de alimentos como parte de uma iniciativa de promover a segurança alimentar e nutricional na região – algo que estará na agenda durante a liderança temporária do Brasil à frente do G20. Segundo o Itamaraty, essa primeira entrega contou com 125 toneladas de leite em pó, ao passo que os próximos envios devem conter arroz, milho e soja, num valor total de US$ 50 milhões em alimentos enviados pelo Brasil. Diante de uma das piores crises econômicas do século 21, muito em função de sanções econômicas, problemas climáticos e correções cambiais recentes, Havana tem lidado com uma preocupante escassez de alimentos básicos. Além do envio de comida, Cuba recebeu outra boa – e curiosa – notícia durante a semana, com a confirmação de que a Coreia do Sul vai estabelecer relações diplomáticas em nível de embaixadas com a ilha, a despeito da histórica proximidade do governo socialista com os norte-coreanos. No Opera Mundi.
EL SALVADOR 🇸🇻
O TSE, Tribunal Supremo Eleitoral, concluiu na quinta-feira (15) a análise dos votos para deputados em 11 dos 14 departamentos do país… mas não divulgou os resultados consolidados, engrossando o discurso da oposição ao presidente Nayib Bukele de que teria havido fraude. A trama é a seguinte: embora Bukele tenha vencido as eleições de maneira esperada e sem sustos no último dia 4/2, a reafirmação do seu poder na Assembleia Legislativa unicameral de El Salvador se tornou uma questão mais nebulosa do que o previsto. Embora o próprio Bukele tenha anunciado, já na noite das eleições, que os números levantados por seu partido garantiriam “ao menos” 58 dos 60 assentos de deputados, o segredo em torno dos dados oficiais e a demora inédita na confirmação dos resultados têm causado suspeitas cada vez maiores em torno da lisura do processo. Opositores alegam que Bukele provavelmente obteve representação bem menor do que pretendia, e estaria sabotando os trabalhos nos bastidores para garantir um resultado fraudulento. Até o fechamento desta edição, ainda não havia previsão do TSE sobre a conclusão da recontagem no país inteiro ou de quando seriam confirmados os números. Em ElSalvador.com.
EQUADOR 🇪🇨
Já tem data – só falta aprovar oficialmente. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) se reuniu na quarta-feira (14) para deliberar sobre um dos temas mais caros ao governo de Daniel Noboa – e à população – atualmente: a realização de um referendo popular que terá como foco mudanças na área da segurança pública diante da alta da violência. Além de debater questões orçamentárias e de calendário, o CNE juntou autoridades para discutir as questões logísticas necessárias para a realização da consulta em 21/4, com expectativa de divulgação de resultados nos primeiros dias de junho. Segundo as primeiras conversas, é esperado um gasto de US$ 60 milhões para a realização de um processo que convocará pouco mais de 13,6 milhões de cidadãos às urnas. Sem surpresas, a reunião terminou com a aprovação do calendário eleitoral. Em El Universo.
HONDURAS 🇭🇳
Era para ser nesta semana, ficou para a próxima – se nada mais mudar. O tão aguardado julgamento do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), previsto para começar nesta segunda-feira (12), foi novamente adiado nas cortes estadunidenses, agora para o dia 20. Segundo Raymond Colón, advogado do antigo mandatário, a motivação é técnica: o Departamento de Justiça, que deveria entregar uma série de documentos confidenciais para análise da defesa de JOH antes do julgamento, não conseguiu censurar a tempo todos os trechos que não poderiam vir a público. Hernández, que foi preso e extraditado aos EUA logo após deixar a Presidência de Honduras no início de 2022, é acusado de crimes relacionados ao narcotráfico e pode até pegar uma pena perpétua, como seu irmão Tony Hernández, já condenado em terras norte-americanas. JOH nega tudo e se diz vítima de uma campanha de vingança dos próprios narcos por ter atrapalhado seus negócios ao combater o crime. Na CNN.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente Andrés Manuel López Obrador vê “com bons olhos” a tentativa da Igreja Católica de negociar com os cartéis que dominam o narcotráfico no estado de Guerrero. A declaração foi dada na quinta (15), durante uma visita a Acapulco, famoso balneário que também é a maior cidade do estado e, atualmente, se recupera da destruição causada pelo furacão Otis, no último mês de outubro. Em meses recentes, liderados por bispos, diferentes religiosos vêm tentando intermediar uma pacificação de zonas conflagradas com os grupos criminosos. Apesar de exaltar o movimento, AMLO reforçou: “todos devemos contribuir para conseguir a paz, mas é claro que a responsabilidade é do Estado”. Com altos índices de popularidade e favorito para manter seu partido no poder nas eleições presidenciais do meio do ano (ele próprio não pode se reeleger), López Obrador teve na criminalidade seu grande calcanhar de Aquiles, jamais conseguindo uma redução significativa dos índices de violência desde que tomou posse, em 2018. No Vanguardia.
NICARÁGUA 🇳🇮
Polêmica por si só, a decisão do governo de Daniel Ortega de conceder asilo político ao panamenho Ricardo Martinelli (leia mais na nota abaixo) reacendeu debates sobre o histórico nicaraguense de abrir as portas para figuras destacadas com problemas na Justiça. Entre as personalidades de renome, destaque para os ex-presidentes salvadorenhos Mauricio Funes (2009-2014) e Salvador Sánchez Cerén (2014-2019), ambos enrolados em denúncias de corrupção no país de origem, altos funcionários do governo do hondurenho Juan Orlando Hernández (2014-2022), hoje preso nos EUA e acusado de crimes de narcotráfico, e até mesmo o notório narco colombiano Pablo Escobar, durante os anos 1980, ainda no período revolucionário – que também estava sob a liderança de Ortega. Os últimos desdobramentos também geraram críticas por parte da oposição, com integrantes que descrevem o país como um “paraíso para delinquentes”. Em El País.
Un nombre:
Bruce Dickinson – Para encontrá-lo, basta se aventurar pela região de mata úmida da Cordilheira de Colán, um vasto santuário natural que integra a Amazônia peruana, e procurar por uma pele rugosa com tons esverdeados e alaranjados. Isso porque não estamos falando do dono da icônica voz da banda de heavy metal britânica Iron Maiden, mas sim de um pequeno lagarto. Oficialmente Enyalioides dickinsoni, essa espécie de réptil recém-descoberta recebeu o nome em homenagem a Dickinson, alguém que, além de um renomado cantor, tem “muitos talentos e realizações”, explicaram cientistas envolvidos na missão (a lenda da música é conhecida por, entre outras coisas, pilotar aviões e por ser amante da natureza). A região onde o ‘lagarto metaleiro’ foi encontrado e catalogado costuma ser um local apropriado para descobertas da rica fauna peruana: de acordo com o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (Sernanp), esse mesmo trecho andino no norte do país permitiu a descoberta de 35 espécies de lagartos nas últimas três décadas.
PANAMÁ 🇵🇦
Que o ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014) enfrentaria páreo duro para se manter na disputa das eleições presidenciais de 5/5 – a despeito de aparecer como líder em todas as pesquisas – já era sabido. Mas agora, a qualquer momento, a exclusão pode ser oficial: na última quinta-feira (8), o Tribunal Eleitoral (TE) já havia engatilhado a inabilitação do antigo mandatário, que viu suas chances de voltar à Presidência escorrem pelos dedos após a Suprema Corte confirmar uma condenação de 10 anos de prisão por crimes de lavagem de dinheiro. Ao negar um último recurso apresentado pela defesa de Martinelli, o tribunal praticamente garantiu a retirada do milionário da corrida, já que decisões dessa natureza precisam ser expressamente cumpridas, garantem especialistas. Mas faltava o TE, que está a detalhes burocráticos de anunciar a decisão. Com tudo confirmado, o nome do favorito – que segue asilado na embaixada da Nicarágua na Cidade do Panamá, sem poder sair pelo risco de ser preso – sairia das papeletas de votação, transferindo a tarefa de brigar por uma vaga no Executivo para o vice de chapa, Raúl Mulino (Martinelli até já pediu que seus eleitores votem no vice). De acordo com os números recentes, caso a popularidade do ex-presidente não seja absorvida por Mulino, quem vem logo atrás com 11% das intenções de voto é o jornalista de centro-direita Ricardo Lombana, seguido pelo ex-presidente Martín Torrijos (2004-2009), com 9%.
PARAGUAI 🇵🇾
O país voltou a ter esperança de uma raríssima medalha olímpica no domingo (11), quando a seleção sub-23 de futebol masculino surpreendeu o continente e não apenas confirmou a vaga nos Jogos de Paris 2024 como ainda conquistou o título do Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano, qualificatório às disputas marcadas para julho. A conquista paraguaia veio após um triunfo por 2 a 0 sobre a anfitriã do torneio, a Venezuela, que precisava da vitória para conseguir a vaga. No outro jogo decisivo da rodada final, a Argentina derrotou o Brasil por 1 a 0 e também assegurou seu bilhete para o campeonato de futebol das Olimpíadas – já os brasileiros, atuais bicampeões da modalidade, desta vez vão assistir às partidas pela TV. Para os paraguaios, no entanto, a conquista da vaga tem um significado ainda maior do que em vizinhos mais habituados às conquistas: tradicionalmente pouco competitivo em esportes que não sejam o futebol masculino, o país tem apenas uma medalha olímpica na história, vencida justamente nessa modalidade, em 2004. Na ocasião, a Albirroja ficou com a prata, superada na final de Atenas pela própria Argentina. Agora, o sonho de voltar ao pódio renasce. No Olé.
PERU 🇵🇪
Mudanças grandes: agonizando em baixíssima popularidade e diante de resultados ruins na economia, a presidenta Dina Boluarte anunciou na terça (13) novos ministros nas pastas da Economia, Meio Ambiente e Minas e Energia. Negando quaisquer “atritos” entre os antigos ocupantes desses postos-chave, Boluarte garantiu que tudo não passou de uma mudança de rota e que o trabalho seguirá “harmonioso”. Não é o que mostram os números: segundo projeções, o PIB peruano teria caído 0,5% em 2023, com resultados distantes de um quadro positivo no setor de mineração. Um patamar tímido de investimentos e desafios associados às mudanças climáticas têm deixado tudo ainda mais difícil. Em La Tercera.
PORTO RICO 🇵🇷
Desastres antigos, problemas que seguem atuais. Uma nova análise do governo dos EUA, divulgada na terça (13), indicou que a ilha ainda se recupera lentamente de catástrofes naturais ocorridas há mais de meia década, como os furacões Irma e María, que atingiram Porto Rico em 2017, e uma série de terremotos que balançaram o território na virada de 2019 para 2020. Desde então, Washington liberou até US$ 23 bilhões para as autoridades porto-riquenhas investirem em mais de 9 mil projetos para reerguer a infraestrutura abalada, mas menos de 10% desse valor foi utilizado até agora. Além da ineficiência na reconstrução, Porto Rico já se depara com um novo desafio em função da demora: com o aumento dos custos acelerado pela inflação da pandemia, o valor já é insuficiente para bancar tudo o que se previa – e o risco de novas catástrofes ocorrerem antes da conclusão das obras é cada vez maior. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A imigração massiva vinda do vizinho Haiti se reflete, também, em diversas estatísticas demográficas, como o número de nascimentos e um maior risco de mortalidade materna: segundo o Serviço Nacional de Saúde (SNS) dominicano, só em janeiro foram mais de 3 mil partos com gestantes de nacionalidade haitiana, correspondentes a mais de 35% do total registrado no país. O número fica levemente abaixo do índice recorde observado no mesmo período do ano passado (36%), mas confirma a mudança de cenário ao longo dos últimos cinco anos: em 2019, quando a atual crise do Haiti apenas dava seus passos iniciais, o número de mães haitianas dando à luz na República Dominicana representava apenas 21% do total. Em zonas fronteiriças, o impacto é ainda maior: até dois terços dos partos na rede pública são com gestantes vindas do país vizinho. O SNS pede atenção à situação e incrementos ao seu orçamento. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Ao menos na visão do ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015), a candidatura da Frente Ampla nas eleições presidenciais deste ano já tem nome: o antigo mandatário aposta em Yamandú Orsi, atual intendente do departamento de Canelones, em vez da outra pré-candidata forte da coalizão de centro-esquerda, a intendenta de Montevidéu Carolina Cosse. O cálculo de Mujica tem a ver com a histórica divisão do eleitorado no país: embora Montevidéu costume apoiar majoritariamente os frenteamplistas nas últimas décadas, o interior tem viés conservador, e resiste ainda mais se o nome indicado pela FA vem da capital. “Orsi é o único que pode ganhar dos blancos [como é chamado o Partido Nacional, hoje no poder]. Cosse é ótima, mas não tem apoio no interior”, vaticinou Mujica na sexta-feira (16). Os vários partidos uruguaios celebram eleições internas em 30/6, escolhendo os nomes que os representarão no pleito “de verdade”, com primeiro turno em 27/10. Na Telemundo.
O Uruguai foi condenado a pagar US$ 30 milhões a uma empresa panamenha como indenização pelo fechamento da companhia aérea Pluna, há mais de uma década. Pioneira na aviação comercial no país, as Primeras Líneas Uruguayas de Navegación Aérea (sempre mais conhecidas pela sigla Pluna) tiveram uma longa história de mudanças na sua identidade jurídica: a aerolinha foi fundada em 1936, estatizada nos anos 1950, voltou a se abrir ao capital privado em 1995, quando fez parte da brasileira Varig, e precisou ser socorrida novamente pelo Estado uruguaio em 2006, quando a Varig faliu. Nos seus anos finais, teve parte de suas ações compradas por uma firma de investimentos panamenha – a mesma que, agora, pedia uma indenização – até que o presidente José Mujica (2010-2015) decidiu liquidar a companhia em 2012, em função das intermináveis dores de cabeça financeiras. Apesar de ser condenado ao pagamento, o Estado uruguaio conseguiu reduzir substancialmente a pedida original do processo, que era mais de 25 vezes maior e chegava a US$ 800 milhões. Via AFP.
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