Na mão da direita, Costa Rica se afasta de ‘agenda verde’
Conhecido pelo protagonismo ambiental, país vê pauta ser jogada para escanteio na mão de conservador Rodrigo Chaves, que aumenta lista de negligências ao engavetar verbas para o meio ambiente
Sempre lembrada como ‘polo verde’ da América Latina, a Costa Rica tem visto sua fama desmanchar aos poucos desde o ano passado. O novo drama costa-riquenho passa por um nome: Rodrigo Chaves, presidente do país e cujo mandato acabou de completar um ano no dia 8/5. Com perfil atípico para uma nação acostumada ao equilíbrio institucional, o mandatário empilha decisões criticadas em matéria de segurança pública e parece ter virado as costas para o meio ambiente – seja por sua oposição aos mecanismos regionais de defesa de ativistas, seja pelo congelamento de verbas ambientais que podem ser cruciais para a agenda de conservação.
O mais novo escândalo foi revelado na quarta-feira (31) em uma reportagem do jornal La Nación: segundo a matéria, pelo menos US$ 6 milhões destinados pelo Banco Mundial ao governo costa-riquenho para a área ambiental seguem engavetados atrás de uma série de burocracias. A bolada estranhamente inutilizada é fruto de uma iniciativa da ONU que premia países que protegem suas florestas e avançam na captura e armazenamento de carbono, uma forma de diminuir as emissões de CO2 na atmosfera. Autoridades da área ambiental questionam a não-utilização da quantia recebida no ano passado, num momento em que a escassez de recursos soma-se a maiores riscos de seca trazidos pela provável chegada do fenômeno climático El Niño nesta época — a condição já custou caro ao país em anos recentes.
Juan José Jiménez, funcionário do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Sinac) do país, vê a falta de repasse com “preocupação”, alertando que o desamparo impulsiona “problemas crescentes em parques nacionais e áreas protegidas”. Sob a alçada jurídica e administrativa do órgão, essas zonas sensíveis têm sido cada vez mais afetadas por incêndios e crimes ambientais, como a extração ilegal de madeira. Outros ecologistas apontam para uma questão mais profunda: a falta de ação do poder público ameaça a reputação da Costa Rica em âmbito internacional, o que pode comprometer apoios financeiros futuros. “A credibilidade do país se vê seriamente afetada”, relatou o ativista Christian Mata. A má notícia também vem na esteira de uma conta que não fecha: ao passo que a cobertura de áreas protegidas aumentou 541% nos últimos cinco anos na Costa Rica, em grande parte por iniciativas anteriores a Chaves, os recursos para conservá-las vêm despencando – usar uma verba destinada justamente para isso, portanto, seria mais do que fundamental.
O “fator Chaves” tem sido crucial para essa inesperada mudança de rumos no país. Tecnocrata e ex-economista do Banco Mundial (onde inclusive se envolveu em um escândalo de assédio sexual denunciado por funcionárias da entidade), o ex-ministro da Fazenda do governo de Carlos Alvarado (2018-2022) já dava indícios de que a pauta ambiental seria uma carta fora de seu baralho quando chegasse à Presidência.
Com bandeiras de campanha que defendiam, de forma bastante genérica, o combate à corrupção e a recuperação econômica a todo custo (o que lhe rendeu certo apoio frente a escândalos da última gestão e à crise gerada pela pandemia de coronavírus), o presidente não descartou a exploração de combustíveis fósseis, indicando, inclusive, a possível criação de usinas de gás natural — usado como “combustível de transição” rumo à energia renovável na região, uma medida bastante criticada por ambientalistas. Isso significaria andar para trás, considerando que atualmente quase 99% da geração elétrica do país já vem de fontes renováveis.
Desde então, as ideias do presidente vêm preocupando diversas entidades e a oposição. Tudo ficou ainda mais nebuloso quando a nova administração passou a de fato interferir em decisões políticas ligadas ao ramo. Um dos temas mais sensíveis até aqui é justamente a visão reticente de Chaves a respeito do Acordo de Escazú, trativa regional que estipula políticas conjuntas para proteger ativistas ambientais e de direitos humanos. Batizado justamente em homenagem à cidade costa-riquenha homônima, o tratado passa por um contrassenso: a Costa Rica está entre os países latino-americanos e caribenhos signatários que ainda não deram conta de ratificar o acordo. Esse passo depende da articulação do governo com o Congresso em cada nação signatária. A gestão Alvarado bem que tentou, mas não obteve sucesso.
E, se já era difícil convencer deputados a aprovar a medida com a bênção presidencial, tudo ficou ainda mais distante à medida que Chaves passou a se posicionar abertamente contra a ratificação de Escazú: mesmo antes de tomar posse, em maio passado, o presidente já tentava “tranquilizar” o setor privado dizendo que o tema “não estava na agenda do governo”. Sempre que questionado sobre o assunto, a resposta era parecida: o líder argumenta que sua gestão prefere dar prioridade ao “crescimento econômico”, além de que, segundo ele, prerrogativas previstas pelo pacto já estariam contempladas na legislação atual da Costa Rica; para Chaves, a aprovação causaria insegurança jurídica justamente por abrir caminho para a suspensão, a toque de caixa, de projetos que supostamente causassem danos ao meio ambiente. Sem qualquer chance de ir adiante, a tramitação foi arquivada pelo Legislativo em San José no início de fevereiro.
Além de pouco ou nada interessado em zelar pela imagem positiva que a Costa Rica conquistou à frente de uma das áreas que vai guiar o futuro do planeta, o presidente Chaves também chama a atenção – e não sai dos noticiários – por polêmicas em outras esferas. Há alguns dias, viu as altas cortes do país o condenarem por insultos proferidos contra jornalistas, a quem classificou de “sicários políticos” no início do ano, após reportagens denunciarem escândalos envolvendo membros de seu gabinete. Não sem certa ironia, alguns veículos locais aproveitam o sobrenome para se referir às políticas do presidente como um “chavismo” à moda costa-riquenha. Além do histórico de relações ruins com a imprensa, o chefe de Estado também virou alvo de uma extensa investigação por suposto crime de financiamento ilegal de campanha. A Procuradoria-Geral do país chegou a ter em mãos 16 denúncias contra o presidente; sem se abater, porém, Chaves sugeriu que alguns usam o poder judicial “para prejudicar os outros”.
O histórico (e a resposta institucional) pacifista da nação menos violenta da América Central também pode estar com dias contados. Enfrentando a maior escalada da história nos índices de criminalidade, com recordes históricos de homicídios em 2022 (que devem ser batidos em 2023, se os números seguirem como estão), Chaves também é defensor da mano dura contra o crime: em abril, o governo anunciou um grande plano para endurecer o enfrentamento à criminalidade. A estratégia incluiu a abertura de novas vagas para oficiais e mais policiamento ostensivo nas ruas — mas não deu nem um mês e a cúpula de segurança pública responsável por executar o plano foi demitida.
A nuvem cinzenta de políticas distantes dos direitos humanos e do meio ambiente compõem a imagem de Rodrigo Chaves. Um líder que personifica a brusca mudança de rota de um país cada vez mais desorientado e distante de sua fama de “pura vida”.
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🇧🇴 Suposto suicídio de interventor do Banco Fassil é questionado por familiares – Novo e sombrio mistério em torno do caso do Banco Fassil, instituição financeira envolvida em uma série de fraudes que foi colocada sob intervenção do governo boliviano no final de abril: no último sábado (27), o interventor Carlos Alberto Colodro apareceu morto, em um aparente suicídio, após cair do 15º andar de um prédio comercial em Santa Cruz de la Sierra. O caso logo virou uma disputa de versões: Carlos Eduardo del Castillo, ministro de Governo, afirmou na quarta (31) que as investigações demonstraram “científica e tecnicamente” que a morte foi um suicídio, citando, entre outras informações, que “as câmeras mostram o Sr. Colodro entrando no 15º andar completamente sozinho”. Del Castillo também afirmou que uma carta deixada à família teve a escrita confirmada como sendo do interventor. Mas essa versão não convenceu os próprios familiares: para o advogado Jorge Valda, que os representa, a investigação foi apressada, não ouviu pessoas conhecidas nem solicitou outros documentos manuscritos para comparar – e, no que ele considera o maior indício de que há algo errado, Colodro teria hematomas inconsistentes com a queda e seu corpo ainda estaria sem um globo ocular, o que poderia indicar algum tipo de tortura (para as autoridades, a queda foi tão violenta que explicaria todas as lesões). Um dos temores de quem acredita que Colodro foi morto – ou, pelo menos, coagido a se atirar do prédio – está relacionado às pressões envolvendo nomes poderosos do próprio departamento de Santa Cruz, já que as investigações em torno do Fassil mostraram conexões com grupos ligados ao setor imobiliário da região. Apesar do tom definitivo de Del Castillo, as investigações seguem: na quinta (1º), testes de quimioluminescência que poderiam indicar traços de sangue no escritório do interventor foram realizados com a presença da família. Em La Razón.
🇸🇻 Bukele quer extinguir mais de 80% dos municípios de El Salvador – No discurso que marcou a conclusão de seu quarto ano de governo, na quinta (1º), o presidente Nayib Bukele apontou seu próximo plano ambicioso para o país, reduzindo drasticamente o número de cargos eletivos em todos os níveis da política salvadorenha. Em linhas gerais, Bukele disse que apresentará à Assembleia Nacional (unicameral) uma proposta para reduzir o número de deputados de 84 para 60, ao passo que também quer extinguir a maior parte dos municípios hoje existentes no país – o número despencaria de 262 para 44, com os demais virando “distritos” dentro da nova reorganização. Segundo ele, os lugares a ponto de deixar de existir de forma emancipada “não vão perder suas respectivas identidades”. A justificativa é reduzir os gastos públicos tanto com salários de políticos quanto de assessores em cargos comissionados, mas opositores acreditam que o “redesenho” será feito sob medida para distribuir eleitores de modo a garantir a perpetuação do partido do presidente, o Nuevas Ideas, em cargos eletivos (algo que os gringos chamam de gerrymandering). E é improvável que Bukele encontre resistência ativa: a Assembleia é dominada pelos governistas e a população ainda apoia amplamente o presidente – que já busca, para 2024, uma reeleição considerada inconstitucional por muitos observadores não alinhados ao governo. Uma das razões para tanto apoio, aliás, é o encarceramento em massa de supostos membros de gangues, que aumentou a sensação de segurança no país enquanto fez explodirem denúncias de violações de direitos humanos (nesta semana, um novo relatório indicou que já houve ao menos 153 mortes sob custódia do Estado desde o início da atual “guerra às gangues”, em março de 2022, a maioria deles presos sem julgamento). Surfando no populismo, Bukele aproveitou o discurso para prometer levar o encarceramento indiscriminado também aos crimes de colarinho branco, anunciando a construção de uma nova cadeia especificamente para “corruptos” – um anúncio que veio logo após o ex-presidente Mauricio Funes (2009-2014) ser condenado in absentia (ele está exilado na Nicarágua) a 14 anos de prisão, acusado de negociar uma trégua com as próprias organizações criminosas do país. Acusação, por sinal, que também já foi feita contra o próprio Bukele, mas acabou abafada em meio ao crescente poder absoluto do atual presidente. Em ElSalvador.com.
🇪🇨 Equador: PGR é acusada de plágio e responde se dizendo vítima de “ameaças de morte” – Choque de acusações em torno da figura de Diana Salazar, a procuradora-geral do país: nos últimos dias, aprofundou-se uma investigação que a acusa de ter plagiado ao menos 40% de seu trabalho de conclusão de graduação, em 2005, o que poderia invalidar seu título e a possibilidade de ocupar o cargo que detém atualmente – para a oposição investigada por ela, isso também deveria anular as acusações que a atual PGR formulou ao longo dos anos. A própria Salazar veio a público dizer que as suspeitas são parte de uma campanha com interesses políticos para desacreditá-la – e, mais do que isso, revelou na quinta (1º) que tem recebido “ameaças diretas” de morte e intimidações contra sua família. O Ministério Público divulgou imagens de conversas por celular com mensagens e vídeos em que supostos criminosos ameaçam Salazar. A PGR equatoriana é uma figura visada no país, entre outras coisas, por ter sido central na condenação por corrupção do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), hoje asilado na Bélgica para evitar a prisão. Correa, que se diz vítima de uma sistemática perseguição política por vias judiciais, alfinetou nas redes sociais: após o atual presidente Guillermo Lasso manifestar solidariedade e afirmar que não é possível tolerar as ameaças de “grupos criminosos”, Correa respondeu – “Isso mesmo. Controlem seus grupos criminosos, começando [...] pela própria procuradora, que está disposta a tudo para que não se investigue seu plágio. Sem-vergonhas!”.
🇭🇹 Haiti: prisão perpétua para empresário envolvido em assassinato de presidente – O imenso quebra-cabeça de fatos cercando o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021 não está completamente resolvido, mas algumas peças já acham seu lugar. No que já é considerado um dos principais desdobramentos desde o magnicídio, a Justiça dos EUA condenou à prisão perpétua na sexta (2) o empresário chileno-haitiano Rodolphe Jaar, culpado pelo crime de conspiração para cometer o assassinato, além de fornecer o armamento necessário aos mercenários que alvejariam Moïse na fatídica noite. Jaar é o primeiro nome a receber sentença dentre um grupo de outras 10 pessoas formalmente acusadas de participar do crime; todos esses indivíduos seguem aguardando julgamento em solo estadunidense, envolvido nessa história porque parte do dinheiro usado para sustentar a conjura teria passado por bancos de lá. O número de pessoas detidas por autoridades haitianas até aqui é ainda maior: já são 40 pessoas atrás das grades, sendo a metade ex-soldados colombianos. A mentoria intelectual por trás da trama, porém, ainda segue com lacunas a preencher. Via AP.
🇲🇽 México: eleições estaduais podem simbolizar ‘morte’ do PRI, partido hegemônico no século 20 – São apenas eleições estaduais e só em dois dos 30 estados que compõem o país, mas analistas apontam que os resultados iminentes do pleito deste domingo (4) têm tudo para ser históricos. Isso porque uma das unidades federativas em jogo é o Estado do México (ou “Edomex”, área que circunda a capital Cidade do México, sem incluí-la), o mais populoso do país e única subdivisão ‘relevante’ que ainda permanece sob controle do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que dominou inteiramente a política do país no século passado. Em suas diferentes encarnações, o PRI vem governando o Edomex continuamente desde que sua sigla precursora surgiu, em 1929, mas todas as pesquisas agora indicam uma derrota da priista Alejandra del Moral contra Delfina Gómez, nome à frente da coalizão encabeçada pelo Morena, partido do presidente Andrés Manuel López Obrador – que vem conquistando rapidamente espaços na política nacional e começa a sonhar com sua própria hegemonia. Para analistas, o que acontece no Estado do México é uma mostra em miniatura da tendência política do país como um todo, e a confirmação das pesquisas neste final de semana não apenas reforça a tendência de uma manutenção do Morena no poder federal nas eleições presidenciais de 2024, mas também seria uma espécie de atestado da “morte” do PRI em nível nacional – mesmo que o partido ainda seja considerado favorito para manter o governo em Coahuila, o outro estado em jogo no domingo, mas sem a mesma relevância na política mexicana. Via AP e AFP.
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ARGENTINA 🇦🇷
Numa semana de disputas de pênalti decisivas em vários jogos eliminatórios no Brasil, um jogo chamou atenção dos argentinos em… Budapeste, na Hungria. Foi lá que o Sevilla e a Roma definiram o campeão da Europa League, torneio de segundo escalão do Velho Continente, em uma tensa série de penalidades. E quis o destino que o chute derradeiro, responsável por consagrar o supercampeão do torneio Sevilla pela sétima vez, estivesse nos pés de ninguém menos que Gonzalo Montiel: em dezembro, foi ele quem decidiu a última cobrança de penalidade máxima que deu a gloriosa Copa do Mundo à seleção argentina no Catar. Ainda no universo futebolero hermano, mais bizarrices: “barbaridade” e “um exagero” foi como os próprios ex-presidentes do bonaerense River Plate classificaram a recém-inaugurada estátua do ex-técnico e ídolo do clube, Marcelo Gallardo. Mas não pela homenagem em si: acontece que o tal monumento de bronze de oito metros de altura, que mostra “El Muñeco” empunhando uma das duas taças da Copa Libertadores vencidas à frente dos millonarios em 2015 e 2018, leva um detalhe, digamos, avantajado – exatamente onde você imagina. À parte de uma enxurrada brutal de memes nas redes sociais, o elemento peculiar, que parece chamar mais a atenção do que a própria estátua, tem feito surgir rumores de que a obra estaria diante de possíveis ‘reparos’ para retirar a polêmica saliência. No Olé.
Histórico: na quinta (1º), a renomada meteorologista argentina Celeste Saulo foi eleita a primeira mulher para o cargo máximo à frente da agência da ONU para o clima, a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Responsável pela principal agência nacional de meteorologia de seu país desde 2014, a cientista recebeu dois terços dos votos necessários e foi confirmada no posto no primeiro turno de votações. A autoridade celebrou o desfecho, citando “as desigualdades e as mudanças climáticas” como “as maiores ameaças mundiais”. Via AP.
CHILE 🇨🇱
Numa pequena, mas importante vitória para o governo de Gabriel Boric, a Câmara dos Deputados aprovou na segunda (29) um aumento gradual do salário mínimo nacional, que até julho de 2024 deve atingir o valor de 500 mil pesos chilenos (ou cerca de US$ 623 no câmbio atual) mensais. Desde o início de 2023, cidadãos com idade entre 18 e 65 anos recebiam por lei um valor mínimo de cerca de US$ 510, patamar que já vinha na mira das principais centrais sindicais. Após negociações entre sindicatos e governistas, o projeto foi apresentado ao Legislativo em abril, mas precisou passar por uma série de alterações diante das ressalvas do setor empresarial e da oposição. Em respostas às críticas, a medida aprovada também prevê subsídios a micro, pequenas e médias empresas. O último aumento nos salários havia ocorrido há um ano; o salto de 14,3% determinado à época foi o maior em 25 anos. A notícia vem em boa hora para Boric, que acumula pressões e derrotas políticas desde a vitória acachapante da direita nas eleições da nova comissão que vai propor uma nova Constituição para o país (relembre o caso). No Brazilian Report.
COLÔMBIA 🇨🇴
Um mês se passou e, incrivelmente, o mistério segue – assim como as esperanças. Na quinta (1º), completou-se o primeiro mês desde que um avião caiu na selva amazônica colombiana, iniciando uma história que mobiliza o país desde então: no dia 16/5, os destroços da aeronave foram encontrados na mata com os corpos de três adultos, mas outras três crianças – com idades entre 11 meses e 13 anos – que também viajavam não foram localizadas até o momento. Por mais improvável que pareça, no entanto, a expectativa de encontrá-las com vida nunca esmoreceu, porque ao longo das buscas as equipes de resgate seguem relatando ter visto pegadas frescas. “Estão vivos. Se estivessem mortos, já teríamos encontrado”, afirmou nesta semana o general Pedro Sánchez, comandante das forças especiais militares envolvidas nas buscas – que continuam ativas. Até o fechamento desta edição, ainda não havia informações sobre o paradeiro dos pequenos. Em El País.
Uma história mirabolante que deixaria Gabriel García Márquez incrédulo: Marelbys Meza, uma babá a serviço de funcionários do alto escalão do governo colombiano, diz ter sido submetida a testes de polígrafo (o famoso “detector de mentiras”) entre junho do ano passado e janeiro deste ano. Armando Benedetti, que depois se tornaria embaixador colombiano na Venezuela, e Laura Sarabia, chefe do gabinete presidencial, foram os patrões envolvidos na trama, acusando a ex-babá de ter furtado grandes volumes de dinheiro de suas residências. Mas, em vez de acionar a polícia, resolveram agir por conta própria: no segundo momento, a mulher teria sido interrogada num porão em frente à Casa de Nariño, sede do governo. Marelbys teria sido até mesmo grampeada como parte de outra investigação contra o Clã do Golfo, um dos principais grupos narcotraficantes do país, segundo o procurador-geral da República, Francisco Barbosa. O caso ganhou repercussão nacional quando a babá contou o ocorrido em entrevista à revista Semana. Nesta sexta-feira (2), o presidente Gustavo Petro pediu a demissão de Benedetti e Sarabia, mas garantiu que seu governo “não faz grampos ilegais”. Em Cambio.
CUBA 🇨🇺
Da Rússia, com Amor. Os laços entre Havana e Moscou, que já conservam um longo histórico desde os tempos em que Fidel Castro e os soviéticos ameaçavam as intenções dos EUA na América Latina, parecem ter voltado a um período de lua de mel. Na esteira de uma série de encontros que têm aproximado os dois países – com direito a fóruns com empresários na capital da ilha em maio, assinatura de acordos nas áreas de rum, açúcar e petróleo e até determinação de mútua isenção de tarifas para alguns setores comerciais – autoridades russas anunciaram nos últimos dias que pelo menos três bancos do país euroasiático já estão cuidando das burocracias para a abertura de agências em Cuba. Além de implementar o sistema ‘Mir’ de cartão de crédito (criado há alguns anos por Moscou frente a uma série de sanções internacionais no contexto da anexação da Crimeia), a decisão pode abrir caminho para que a estrutura financeira cubana também passe a aceitar o rublo, moeda oficial da nação cada vez mais parceira dos caribenhos. Como no século passado, os laços fraternos entre os governos de Miguel Díaz-Canel e Vladimir Putin não passaram impunes aos olhos do mundo ocidental: ciente de que a Rússia busca expandir sua encurralada diplomacia diante das pressões que lhe são impostas pela guerra em curso, a União Europeia enviou a Havana, no final de maio, um de seus mais altos representantes – que fez questão de exaltar as relações de “respeito mútuo” com os cubanos, além de anunciar apoio financeiro e dizer, com uma ameaça nas entrelinhas, que a UE é “muito mais importante” para o PIB da ilha do que a própria Rússia. Na Bloomberg.
Dale un vistazo:
Besos de Azúcar – Uma história no estilo Romeu e Julieta, mas ambientada no México e com atores mirins. Em vez de pertencer a uma poderosa família italiana, Mayra é filha de “La Diabla”, chefona de gangue que controla uma área de comércio ambulante na Cidade do México; já Nacho, o jovenzinho que tenta conquistá-la, é filho de uma fiscal de trânsito e mora na casa do padrasto, um vendedor ambulante que trabalha para La Diabla. Ambos tentam viver uma relação proibida enquanto enfrentam a repressão de suas famílias. Dirigido por Carlos Cuarón (irmão de Alfonso Cuarón), o filme desta semana é uma dica da Natália, apoiadora do GIRO. O título está disponível gratuitamente em espanhol ou na MUBI.
🎞️ ‘Besos de Azúcar’ (México, 2013). 86 min. Dir.: Carlos Cuarón.
EQUADOR 🇪🇨
O presidente Guillermo Lasso reafirmou, na sexta (2), que não será candidato nas eleições extraordinárias de agosto, desencadeadas por seu decreto de “morte cruzada” que abreviou os mandatos dos congressistas e o seu próprio no mês passado. Lasso já havia dito isso em entrevistas anteriormente, mas agora a confirmação ganhou ar oficial, feita em um pronunciamento no Palácio de Carondelet. Apesar das sucessivas negativas, alguns analistas ainda apontavam a possibilidade de o mandatário mudar de ideia caso seu período governando por decreto rendesse alguma melhoria na economia ou na segurança pública, aumentando suas chances nas urnas. O pleito previsto para 20/8 (com um eventual segundo turno marcado para 15/10) renovará a Presidência e o Congresso apenas pelo período que falta dos atuais mandatos, ou seja, com cargos que expiram em maio de 2025. Em El Universo.
GUATEMALA 🇬🇹
Quando não são candidatos banidos das eleições de 25/6 (saiba quais são os quatro nomes excluídos e como isso impacta a votação) ou jornalistas presos, quem acaba atrás das grades são antigas autoridades. Essa tem sido a toada na Guatemala, que na última sexta (26) assistiu à prisão do ex-procurador-chefe anticorrupção Stuardo Campo. Mais um na mira da contestadíssima Fundação Contra o Terrorismo (FCT), acusada de funcionar aos sabores do cada vez mais autoritário presidente Alejandro Giammattei, Campo é alvo de denúncias de abuso de autoridade por sua atuação em pelo menos três casos. Segundo ele, porém, tudo se trata de “uma denúncia espúria” e “totalmente falsa” apresentada por uma FCT “que tem se dedicado sistematicamente à perseguição de operadores de Justiça”. A mesma autoridade disse que ficou sabendo da ordem de prisão um dia antes, ao se encontrar com a procuradora-geral Consuelo Porras. Sancionada no exterior, Porras é acusada de ser a “capataz” de Giammattei na atual onda de perseguição a procuradores e juízes que atuavam contra crimes de colarinho branco. A crise atual já levou vários nomes à prisão ou ao exílio. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Vivendo uma crise sem fim, o Haiti foi colocado pela ONU, na quarta (31), como um dos quatro países do mundo – ao lado de Burkina Fasso, Mali e Sudão – que passaram a figurar em situação de “alerta máximo” para a fome, uma lista que já contava com Afeganistão, Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. Segundo a entidade, “cerca de 4,9 milhões de haitianos, ou quase metade da população do país, enfrenta altos níveis de insegurança alimentar aguda”. Além dos conflitos internos, questões climáticas como a alta possibilidade da volta do El Niño são apontadas pela ONU como fatores que vão demandar atenção urgente para as áreas já em foco pela crise alimentar. Na ONU News.
HONDURAS 🇭🇳
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos condenou, na quarta (31), o assassinato do ativista hondurenho Martín Morales, mais uma vítima do repetido massacre de defensores da natureza e de populações marginalizadas na América Latina. Morales atuava em prol do seu povo, os Garífuna (população presente em Honduras e Belize formada pela miscigenação de indígenas locais e africanos), e integrava a comissão responsável por garantir o cumprimento de uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que havia determinado a devolução de territórios invadidos irregularmente por fazendeiros em uma região conhecida como Secundino Torres. A ONU exigiu das autoridades hondurenhas a realização de “investigações oportunas e efetivas”. Via EFE.
NICARÁGUA 🇳🇮
Notória crítica do governo de Daniel Ortega – que inclusive a declarou “traidora da pátria” e retirou sua cidadania em fevereiro – a escritora e poetisa nicaraguense Gioconda Belli recebeu na segunda-feira (29) o conhecido Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana por sua “expressividade criativa, liberdade e valentia poética”, declarou a máxima autoridade das entidades espanholas responsáveis pela premiação. Com obras traduzidas para mais de 20 idiomas, Belli é considerada umas das mais influentes vozes da literatura latino-americana atualmente, papel que ganha ainda mais destaque devido às suas posições políticas fortes contra os abusos do orteguismo. “Não poderia estar mais feliz”, celebrou Belli pelas redes sociais, dedicando a distinção recebida “à minha Nicarágua, mãe da minha inspiração, país sofredor da minha esperança”. Autora de livros marcantes como O país das mulheres (2011) – que traz uma sutil metáfora ao autoritarismo do atual governo – a autora, que hoje vive na Espanha e já contava com nacionalidade europeia, aceitou receber cidadania chilena a convite do presidente Gabriel Boric no marco das expatriações determinadas por Ortega. Na Prensa.
Un nombre:
CDMX/Edomex – O país se chama México, a capital se chama México e o estado mais populoso (que não inclui a capital) também se chama México. Para evitar confusões, o país latino mais ao norte do continente desenvolveu algumas abreviações para que ninguém se confunda quando está lendo o noticiário: enquanto a Cidade do México, a capital federal, também aparece com frequência como CDMX, outro termo comum é Edomex, uma forma de abreviar o Estado de México, unidade federativa que tem como capital a cidade de Toluca e circunda a CDMX. Embora “México” seja reservado para se referir principalmente ao próprio país, ele também tem outra versão no nome oficial, que aparece sobretudo em documentos formais: Estados Unidos Mexicanos.
PANAMÁ 🇵🇦
Em novo desdobramento dos processos contra o ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014), o Ministério Público do Panamá pediu, na quinta (1º), que o antigo mandatário receba a pena máxima de 12 anos por lavagem de dinheiro no caso “New Business” – apenas um dos vários processos por supostos crimes de corrupção associados ao seu governo. Martinelli, cujo julgamento teve início em 23/5, também deve encarar a Justiça nos próximos meses por supostamente ter recebido propinas da Odebrecht. Apesar das inúmeras complicações nos tribunais, o ex-presidente ainda se apresenta como pré-candidato nas eleições do ano que vem, quando tentará (se a Justiça deixar) voltar ao poder. Via AFP.
PARAGUAI 🇵🇾
Com respostas escorregadias, o presidente eleito Santiago Peña preferiu desconversar sobre Mercosul e negociações com a China em sua visita a Montevidéu, capital do Uruguai, na segunda-feira (29). Peña foi questionado por repórteres sobre a preferência uruguaia de negociar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com a China, e indicar se seu governo estaria disposto a fazer algo semelhante. “Não é uma opção”, resumiu o futuro mandatário paraguaio, recordando que seu país não mantém relações diplomáticas com Pequim (e sim com Taiwan). Isso não quer dizer, porém, que Peña não esteja disposto a abrir o comércio para os chineses: ele não especificou qual a posição de Assunção caso o Mercosul decida fazer um acordo do tipo para todo o bloco, mas deu pistas de que não haveria restrições, enfatizando que a China já é sua “principal parceira comercial” mesmo com as restrições atuais. Peña toma posse em agosto. Via EFE.
PERU 🇵🇪
Já que Dina Boluarte não pode sair do Peru por determinação do Congresso, então que venham os militares dos Estados Unidos. Cerca de mil fardados estadunidenses foram autorizados, a partir desta quinta-feira (1º), a entrar no país andino com armas de guerra. A explicação oficial é de que as tropas chegariam apenas com a finalidade de realizar “atividades de cooperação de treinamento” com as Forças Armadas peruanas em pelo menos 15 cidades. Os integrantes das Forças Especiais dos EUA devem ingressar em vários grupos separados até o fim do ano. O anúncio causou furor na oposição, que questiona o motivo dos exercícios de treinamento militar estrangeiro justamente em algumas das localidades marcadas pelas manifestações contra o governo Boluarte. A dura repressão aos protestos desde o fim do ano passado causou preocupação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que enviou uma missão de observação ao Peru no início de maio. No DW.
Não é de hoje que os peruanos sofrem com a dengue, mas a crise vista em 2023 preocupa: apenas nos primeiros quatro meses do ano, o número de casos (considerando confirmados e suspeitos) já supera as cifras de 2017, até então o ano com maior incidência da doença no país desde o início do século. São pelo menos 79 mortes e mais de 72 mil casos, segundo autoridades de saúde, fato que tem causado um alvoroço em sistemas de saúde pelo país, em função da transferência de pacientes (em muitos casos, crianças) em estado grave de um hospital para outro. Várias regiões têm vivido sob decretos epidemiológicos desde o início do ano, o que não tem sido suficiente para interromper o aumento vertiginoso de casos. Segundo especialistas, vários fatores estão por trás do surto: precariedade de sistemas de saúde e até mesmo questões climáticas, como a maior incidência de inundações agravadas pela possível chegada do fenômeno El Niño. Na DW.
PORTO RICO 🇵🇷
Comuns em países como México, Colômbia e em pontos da fronteira entre o Brasil e Paraguai, episódios de ‘acertos de conta’ entre criminosos em plena luz do dia têm sido cada vez mais frequentes na vizinhança. E quem entrou no noticiário desta vez foi San Juan, capital da ilha, que testemunhou um ataque que deixou dois mortos e pelo menos 13 feridos em frente a um bar no domingo (28), segundo informações da polícia. Autoridades disseram que o tiroteio mirava apenas uma das vítimas, sendo que a outra, um homem de 72 anos, estava no local por lazer, bem como todos os feridos. No dia seguinte ao ato violento, o governador Pedro Pierluisi lamentou o “difícil” episódio, mas exaltou o trabalho da polícia local citando números em baixa: segundo dados oficiais, houve 204 assassinatos no território livre associado aos EUA no que vai do ano, 57 menos do que no mesmo período em 2022. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Mario Vargas Llosa será também dominicano. O escritor nascido no Peru – e que já tinha, ainda, a nacionalidade espanhola – foi agraciado com a honra pelo próprio presidente do país, Luis Abinader, após um encontro pessoal entre ambos, informaram familiares do Nobel de Literatura na quarta-feira (31). A homenagem seria em função do “longo período” que Vargas Llosa deve permanecer na nação caribenha nos próximos meses – o escritor de 87 anos anunciou que pretende trabalhar em seus textos ao longo de uma temporada na localidade paradisíaca de Juan Dolio, 60 km a leste da capital Santo Domingo. Com uma relação com o país que remonta a 1975, quando visitou solo dominicano pela primeira vez para as gravações de um filme baseado em seu romance Pantaleão e as visitadoras, Vargas Llosa também escolheu ambientar um de seus romances mais celebrados, A festa do Chibo, no contexto da ditadura de Rafael Leónidas Trujillo (1930-1961). Conhecido nos últimos anos por suas opiniões cada vez mais conservadoras e por apoiar candidatos que acabam derrotados em eleições, Vargas Llosa agradeceu a homenagem com um comentário que talvez dê azar ao presidente Abinader, que buscará reeleição no ano que vem: seu governo “é um exemplo para a América Latina”, garantiu o Nobel. No Infobae.
URUGUAI 🇺🇾
Escala real na história de um dos maiores facínoras do século 20, o Uruguai foi escolhido como cenário para um filme que contará a história da fuga do criminoso de guerra nazista Josef Mengele para a América Latina – um périplo que envolveu todo o Cone Sul e acabou marcado pela impunidade e proteção de diferentes ditaduras. Médico, Mengele se tornou infame pelos experimentos feitos em prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, e conseguiu escapar dos julgamentos após o final da Segunda Guerra. Em 1949, fugiu para a Argentina, posteriormente casou-se no próprio Uruguai, seguindo dali para o Paraguai, onde a ditadura de Alfredo Stroessner concedeu-lhe uma naturalização, antes de se instalar no Brasil no começo da década de 1960 – e por aqui permaneceu até morrer afogado em uma praia de Bertioga (SP), em 1979, aos 67 anos. As filmagens para o filme The Disappearance (“O desaparecimento”, em tradução livre, mas ainda sem título oficial em português) devem ocorrer no Uruguai ao longo de cinco semanas, entre junho e julho. Via AFP.
VENEZUELA 🇻🇪
Era esperado que a visita do presidente venezuelano Nicolás Maduro ao Brasil viraria bafafá – e virou. Em solo vizinho pela primeira vez em oito anos, tempo em que o chavismo foi sendo progressivamente isolado diplomaticamente, o mandatário chegou a Brasília no domingo (28), onde desde o início da semana discutiu temas afins com seu aliado brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Além das tratativas bilaterais, Maduro se juntou a outra dezena de lideranças da região, no que acabou sendo uma tentativa – frustrada – de Lula de reacender a chama da Unasul, antigo bloco sul-americano que marcou a integração regional à esquerda no início do século. É aí que entram as polêmicas: em coletiva conjunta, Lula chegou a dizer ao lado de seu homólogo venezuelano que a má fama do governo vizinho seria fruto de “narrativas”, sugerindo que caberia ao próprio Maduro trazer uma “certamente bem melhor” a respeito de seu próprio tempo à frente do poder em Caracas. Dali em diante, foi um alvoroço. ONGs venezuelanas, ex-ministros do governo de Hugo Chávez (1999-2013), membros da oposição ao chavismo e chefes de Estado pela vizinhança, como o uruguaio Luis Lacalle Pou e o chileno Gabriel Boric, condenaram as falas de Lula, o que só serviu para derrubar de vez os planos do líder brasileiro de exumar (e reviver) a estrutura do antigo bloco. Na BBC.
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