Fim de La Niña muda preocupações climáticas na região
Agora vai? Chile inicia novo processo constituinte | Equador: Congresso aprova relatório recomendando impeachment de Lasso | Honduras: pílula do dia seguinte volta a ser legal no Dia das Mulheres
Diferentes institutos meteorológicos nas Américas já previam essa possibilidade, mas agora é oficial: na quinta-feira (9), a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), ‘decretou’ o fim do fenômeno La Niña após um dos seus períodos de mais longa duração. La Niña está associado a um resfriamento abaixo da média na temperatura das águas do Oceano Pacífico equatorial, com consequências climáticas para o mundo todo. Mesmo sendo tradicionalmente mais longo que o seu oposto, o El Niño, o atípico prolongamento do fenômeno pelos últimos três anos – com um breve período de neutralidade em 2021 – pegou especialistas de surpresa e agravou problemas que costumavam ser vistos como passageiros.
Embora os impactos do La Niña sejam diferentes em cada parte da América Latina, dois reflexos negativos se destacaram durante o longo período em que visitou a região. Na América Central e no Caribe, o fenômeno contribuiu para uma intensificação dos furacões em anos recentes, com destaque negativo para a mortífera temporada de 2020 – aquela com maior número já registrado de tempestades “nomeadas”, fortes o suficiente para ganharem nome próprio. Já na América do Sul, particularmente no Cone Sul, o fenômeno colaborou para uma sucessão de anos de estiagem que levaram ao agravamento da crise econômica na Argentina e no sul brasileiro, trazendo secas históricas também ao Chile e aos principais rios que banham o Paraguai e o Uruguai.
No momento, os especialistas apontam que o Pacífico se encontra em uma situação de “neutralidade”, que marca o período entre um fenômeno e o seguinte, mas existe perspectiva de uma inversão para o El Niño já em julho – segundo a NOAA, com uma probabilidade de 65% (existe também uma remota chance, em torno de 5%, de um retorno de La Niña por um inédito quarto ano). Uma vez entrando nessa nova-velha situação, a intensidade do fenômeno ditará se problemas não vistos por algumas regiões há anos voltarão ao horizonte. O último El Niño, entre 2015 e 2016, foi particularmente intenso e chegou a ganhar o apelido de “Godzilla”: áreas mais ao sul, que nos últimos anos sofreram com a estiagem, vivenciaram então um período de precipitações muito acima da média e enchentes devastadoras, enquanto outras partes do continente, como a região amazônica, tiveram período de seca prolongada, dificultando a circulação de populações ribeirinhas e propiciando grandes incêndios florestais.
Mais curto que o La Niña, mas também mais intenso por ocorrer de forma “concentrada”, o El Niño já tem projeções de que poderia vir com mais violência em função do longo período de resfriamento das águas, que agora poderia ser revertido rapidamente. Globalmente, um El Niño mais forte que o normal deve redundar em temperaturas médias mais altas em vários países, com ondas de calor ainda mais intensas do que as verificadas nos últimos anos.
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DESTAQUES
🇨🇱 Após fracasso, Chile inicia nova Constituinte – Agora vai? Começou formalmente, na segunda-feira (6), o novo processo constituinte do Chile, após a população rejeitar a proposta de Carta Magna anterior, no ano passado. A elaboração de um novíssimo texto agora passa por um caminho mais restritivo, simbolizado pelo primeiro órgão a entrar em operação: se a Convenção Constitucional anterior era inteiramente eleita para esse fim, agora a caminhada começou com a instalação de uma “comissão de especialistas” de 24 membros escolhida pelos partidos políticos do país. Na quarta (8), também iniciou a campanha eleitoral para a segunda fase, esta sim guardando resquícios do furor democrático da antiga Convenção: nos próximos dois meses, os chilenos conhecerão os candidatos a integrar um “conselho” de 50 membros, que serão eleitos pela população em 7/5. O país vive um consenso entre os diferentes lados do espectro político de que a velha Constituição deverá ser substituída, após os acordos firmados na sequência das manifestações de 2019, mas o rechaço à proposta anterior tem gerado dúvidas sobre o melhor caminho para chegar lá – e, mesmo, se o novo processo realmente vai produzir um texto capaz de ser aprovado pela população. A nova jornada constituinte deve se desenrolar inteiramente em 2023, com o prazo para conclusão do texto fixado em 7/11, e um plebiscito para ratificação (ou não) marcado para 17/12. Em El País.
🇪🇨 Congresso aprova relatório recomendando impeachment de Lasso – A quarta-feira (8) foi marcada pelas mobilizações do Dia Internacional das Mulheres no Equador, desta vez reforçada pela Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie), que aproveitou a data para colocar na rua também suas pautas contra o governo de Guillermo Lasso (leia mais na última edição). As manifestações foram pacíficas, mas isso não quer dizer que o governo de Lasso tenha passado a semana tranquilo – isso porque, já no último sábado (4), o Congresso aprovou com sobras o relatório recomendando a abertura de um processo de impeachment contra o mandatário. Com isso, inicia-se um trâmite que pode ainda levar outros dois meses e inclui o recolhimento das assinaturas de deputados para de fato abrir o impeachment, além da posterior aprovação da solicitação pela Suprema Corte. Mesmo assim, com a pressão crescendo nas ruas e no Congresso, Lasso já começa a buscar apoio onde é possível – na quarta, após sediar o encontro da pequena Aliança para o Desenvolvimento em Democracia (ADD), o mandatário equatoriano conseguiu que seus homólogos de Costa Rica, Panamá e República Dominicana assinassem uma declaração conjunta reiterando seu “firme apoio” ao presidente em Quito. No Primicias.
🇭🇳 8M: pílula do dia seguinte volta a ser legal em Honduras – Avanço (ou, melhor, reversão de um retrocesso) para marcar o Dia Internacional das Mulheres: na quarta (8), a presidenta Xiomara Castro encerrou a proibição de mais de uma década que impedia a venda de anticoncepcionais de emergência em Honduras. A nova regra cumpre uma promessa de campanha de Castro e reinstitui um direito que havia sido conquistado na época do governo do marido dela, Manuel Zelaya (2006-2009) – após sua derrubada em um golpe, a pílula do dia seguinte voltou a ser proibida quase imediatamente. Honduras é um dos países mais restritivos em relação a direitos reprodutivos femininos na América Latina, fazendo parte também da lista de locais onde o aborto é vetado em qualquer circunstância, inclusive casos de estupro ou incesto. A volta do contraceptivo emergencial – que já havia sido autorizado a vítimas de estupro em novembro – foi celebrada por organizações feministas, mas o caminho para reverter a proibição à interrupção da gravidez segue íngreme: a legislação antiaborto ganhou proteções constitucionais em 2021, ano anterior à chegada de Castro ao poder, e agora é necessária uma maioria qualificada de três quartos do Congresso para modificá-la. Via Reuters.
🇵🇪 Presidenta depõe sobre repressão a protestos – A presidenta Dina Boluarte depôs ao Ministério Público peruano, na terça (7), no marco das investigações pela repressão aos protestos que se estendem pelo país desde o final de 2022 – ao todo, já são mais de 50 mortos em diferentes circunstâncias vinculadas às manifestações (desde repressão direta até acidentes de trânsito) e pelo menos 1,3 mil feridos. Mesmo que uma denúncia do MP avance, porém, Boluarte não pode ser levada a julgamento antes do final do mandato, a menos que seja removida do cargo pelo Congresso. Enquanto a presidenta começa a enfrentar as primeiras consequências, muito incipientes, da violenta resposta às mobilizações contra seu governo, autoridades confirmaram no início da semana a morte de seis soldados – que teriam se afogado enquanto tentavam cruzar um rio rumo a uma localidade andina para, justamente, participar da repressão aos protestos contra Boluarte. Com a mandatária cada vez mais questionada, o escritor, Prêmio Nobel de Literatura e ex-presidenciável (em 1990) Mario Vargas Llosa foi ao Palácio de Governo receber uma condecoração das mãos de Boluarte e atacou quem questiona a legitimidade do governo. Vice do ex-presidente Pedro Castillo (2021-2022), ela foi alçada à Presidência após um dia frenético em dezembro, quando o antigo mandatário tentou fechar o Congresso e foi removido do cargo – e preso – horas depois. Desde então, apoiadores de Castillo (que teve a prisão preventiva ampliada para três anos) têm tomado as ruas exigindo a realização de eleições já em 2023 para escolher um novo governo, medida que a própria Boluarte chegou a defender, mas estacionou no Parlamento. Via AFP.
🇻🇪 Governo Lula envia primeira missão para encontro com Maduro – O Brasil enviou uma pequena delegação a Caracas, liderada pelo ex-chanceler (2003-2010) e atual assessor especial da Presidência, Celso Amorim, para se reunir pessoalmente com Nicolás Maduro na quarta-feira (8). Foi a primeira viagem de alto nível para o país desde o começo do novo governo Lula. O encontro envolveu um contato inicial para discutir a situação política venezuelana rumo às eleições presidenciais de 2024, bem como as relações bilaterais e a cobrança da dívida – de cerca de US$ 1 bilhão – que Caracas mantém com o Brasil, majoritariamente com o BNDES. A missão, tratada como “secreta” pela imprensa brasileira em função da escassa divulgação por parte do Palácio do Planalto, foi transmitida em tempo real pelas redes vinculadas ao governo Maduro. N’O Globo.
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REGIÃO 🌎
Os governos de Colômbia e Equador anunciaram, na terça (7), um sistema de alerta conjunto para proteger o povo indígena Awá que vive na fronteira entre os países. As autoridades dos dois lados vão compartilhar informações de monitoramento para dar uma resposta mais rápida às ameaças contra as populações originárias, expostas à ação da mineração ilegal, do narcotráfico e de organizações paramilitares que atuam na região. “A presença de grupos armados ilegais e do crime organizado na zona transfronteiriça de Equador e Colômbia provocou consequências humanitárias, especialmente contra os cerca de 29 mil integrantes da grande família Awá que vivem na região”, escreveu a Defensoria Pública colombiana no lançamento da iniciativa. Na Radio Nacional.
ARGENTINA 🇦🇷
O presidente Alberto Fernández anunciou, na terça (7), uma série de medidas para tentar contornar a crise de segurança pública vivida pela cidade de Rosario, a terceira mais populosa do país e que se tornou um polo do narcotráfico em anos recentes. O governo prometeu um reforço de 1,4 mil agentes federais, projetos de urbanização com auxílio de engenheiros do Exército em áreas dominadas pelo crime, a instalação de câmeras de segurança com capacidade de reconhecimento facial e a criação de uma central de fiscalização financeira para tentar identificar a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico. Nas últimas semanas, Rosario virou notícia repetidas vezes em função da violência, incluindo o ataque a um supermercado da família da esposa de Lionel Messi (com direito a ameaça ao próprio jogador), o assassinato de um menino após atiradores atacarem uma festa de aniversário no domingo (5), e o subsequente saque – transmitido ao vivo na TV – da casa do suposto assassino após ele ser preso pela polícia. No G1.
Três Copas do Mundo e, agora, três prêmios Oscar? Cinéfilo ou não, todo argentino estará de olho na cerimônia dos cobiçados prêmios da Academia, nos Estados Unidos, neste domingo (12), quando Argentina, 1985 tenta se tornar o terceiro longa do país a conquistar a cobiçada estatueta para filmes internacionais (uma categoria que já foi chamada de “filme estrangeiro”) lançados em 2022. Ganhador de outros prêmios que costumam ser um bom indício do potencial de sucesso no Oscar, como o Globo de Ouro, o filme de Santiago Mitre também tenta repetir uma tradição do cinema de seu país: nas outras duas vezes, com A história oficial (1985) e O segredo dos seus olhos (2009), a Argentina também conquistou o maior prêmio estadunidense da cinematografia com películas atravessadas pela temática da sua última ditadura militar. Ao todo, além das conquistas argentinas, a América Latina também levou outras duas estatuetas internacionais na história – com o chileno Uma mulher fantástica, relativo a 2017, e o mexicano Roma, que ganhou o reconhecimento na edição posterior. O brasileiríssimo Orfeu Negro, premiado com o Oscar pelo ano de 1959, não entra na lista porque foi oficialmente inscrito em nome do país de seu diretor, o francês Marcel Camus. No UOL.
BOLÍVIA 🇧🇴
Em prisão preventiva desde dezembro pelo processo em que é investigado por seu envolvimento no golpe de Estado de 2019, o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, agora tem uma nova dor de cabeça judicial: a Procuradoria-Geral solicitou outra detenção preventiva do político, desta vez pelo chamado caso do “decretazo”. Camacho é acusado de contrariar a Constituição e as leis bolivianas ao ter baixado um decreto, no ano passado, nomeando seu secretário de Gestão Institucional como governador suplente, atropelando o próprio vice, antes de se ausentar por conta de uma viagem ao Brasil. O decreto foi considerado nulo, mas acabou sendo publicado no diário oficial do mesmo modo, expondo o governador ao processo que agora avança. A desculpa oficial é de que a publicação foi causada por um “erro involuntário” de um funcionário porque o vice, Mario Aguilera, também tinha agenda para cumprir fora da capital. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Vida difícil para o presidente Gabriel Boric, que voltou a sofrer uma derrota no Congresso na quarta (8): a Câmara de Deputados rejeitou a proposta de reforma tributária defendida por La Moneda, que pretendia aumentar a arrecadação ao tornar o sistema mais progressivo – incluindo um imposto sobre grandes patrimônios. Apesar de elogiada pela OCDE, a reforma encontrou resistência da direita local e foi acusada de “atentar contra o investimento e a poupança”, nas palavras do deputado oposicionista Agustín Romero. Ao todo, precisando de 78 votos, o governo conseguiu 73. Boric, que completa um ano de governo neste sábado (11) enquanto enfrenta uma perene taxa de desaprovação – rondando os 60% segundo a mais recente pesquisa Cadem, divulgada no último final de semana – prometeu seguir negociando para viabilizar a reforma. Na Folha.
Um roubo cinematográfico e com desfecho trágico: na quarta (8), um grupo de criminosos tentou invadir o Aeroporto Internacional de Santiago para levar cerca de US$ 32 milhões que haviam acabado de chegar de Miami e seriam carregados pela empresa de transporte de valores Brinks. A operação foi frustrada e, no tiroteio que se seguiu, duas pessoas acabaram morrendo – um dos agentes de segurança e um dos assaltantes. Os sobreviventes fugiram e seguiam foragidos até o fechamento desta edição. O caso aparatoso vem sendo considerado um símbolo do aumento da criminalidade do Chile nos últimos anos, e gerou denúncias sobre a falha de protocolos de segurança na região do aeroporto, que já havia sido alvo de um ataque semelhante – também fracassado – no final de 2021. Em El País.
Un nombre:
El Niño/La Niña – O nome do fenômeno climático que hoje atrai interesse global começou com pescadores peruanos do século 19, para se referir a uma corrente marítima. Eles observavam que, em intervalos regulares que se repetiam a cada poucos anos, geralmente na época do Natal, as águas que chegavam à costa do Pacífico ficavam mais quentes. Era a corriente de El Niño, batizada em referência ao menino Jesus que “nascia” próximo daquele período. Com o passar dos anos, pesquisadores e meteorologistas perceberam que a tal corrente estava conectada a um fenômeno mais amplo de aquecimento do Pacífico, e “El Niño” passou a ser o nome do processo como um todo – a nomenclatura oficial no jargão científico é El Niño Oscilação Sul (ENOS). Já “La Niña” foi nomeada mais tarde para diferenciar a fase oposta do fenômeno, mas “equivalente” à outra – por algum tempo, houve discussão se o contrário de “El Niño” não deveria ser “El Viejo”, inclusive para evitar conotações sexistas, mas o que pegou mesmo foi “a menina”.
COLÔMBIA 🇨🇴
“Não há perdões, não há liberações em massa” de quem está preso, reforçou o ministro da Justiça, Néstor Iván Osuna, falando à agência Reuters na terça (7) sobre o projeto de pacificação das guerrilhas impulsionado pelo governo de Gustavo Petro. O plano de “paz total” do presidente – ele próprio um ex-guerrilheiro – vem sendo atacado pela oposição como se abrisse as portas para uma espécie de anistia geral dos crimes cometidos pela luta armada. Segundo Osuna, a punição seguirá acontecendo, e o que existe é uma oferta de “um desmantelamento voluntário de estruturas armadas em troca de um tratamento penal mais benigno”. A pena reduzida, porém, seria imediatamente anulada para os membros que não seguissem as normas acordadas no processo. O governo Petro busca sobretudo o encerramento das atividades do Exército de Libertação Nacional (ELN), que se tornou a maior organização guerrilheira do país após o desmantelamento das antigas FARC, nos acordos de paz de 2016. Dissidências das próprias FARC, formadas nos últimos sete anos por grupos contrários ao tratado da época, também devem ser contempladas pela proposta do governo.
COSTA RICA 🇨🇷
Um dilema em um país considerado exemplar em políticas ambientais: bem-sucedida na reversão do desmatamento, que atingia níveis recordes na década de 1980, a Costa Rica agora discute maneiras de manter sua política enquanto avança também na busca por superar os combustíveis fósseis. Isso porque as duas coisas estão economicamente correlacionadas: nos últimos 25 anos, os subsídios dados como incentivo para que os proprietários rurais não cortassem árvores e investissem no ecoturismo vieram de um imposto cobrado sobre os combustíveis – mas, com o país mirando em uma frota pública e privada de veículos totalmente elétricos até 2050, esse recurso deve (em um cenário ideal) desaparecer. A matéria da AP discute as alternativas pensadas pelo governo em San José, que incluem desde a criação de novas taxas até a exigência para que outros países do mundo financiem a manutenção de programas similares.
CUBA 🇨🇺
Pela primeira vez, Cuba autorizou a inscrição de jogadores que atuam nos Estados Unidos para compor a seleção que representa o país na “Copa do Mundo” de beisebol, o World Baseball Classic (WBC). A decisão inédita, porém, não veio sem polêmicas, já que o impacto político da participação vem tornando a equipe falada não apenas por quem está nela, mas também pelos que ficaram de fora – por não serem convocados ou, simplesmente, por recusarem representar o país. Muitos dos expatriados cubanos que atuam na Major League Baseball (MLB), a prestigiada liga dos EUA, precisaram deixar a ilha natal para competir profissionalmente, e em alguns casos foram proibidos de voltar para casa após a “traição” – gerando situações de conflito por integrar uma seleção que muitos veem como um braço de propaganda do governo em Havana. Apesar das polêmicas, a reabertura a atletas da MLB tem também uma motivação puramente esportiva: o beisebol é o esporte mais popular em Cuba, mas décadas de deserções de seus melhores jogadores, atraídos por salários milionários fora do país, fizeram com que a seleção dos que atuam localmente se tornasse cada vez mais fraca. Vice-campeã do primeiro WBC, em 2006, Cuba nunca mais voltou à final – e, em 2021, sequer conseguiu classificar seu time para os Jogos Olímpicos. Apesar dos reforços, os cubanos fazem outra campanha fraca: começaram perdendo para Holanda e Itália, antes de superar o Panamá na terceira partida, e estão praticamente sem chances de classificação no confronto final contra Taiwan (a anfitriã do grupo), neste domingo (12). No NY Times.
EL SALVADOR 🇸🇻
Grupos feministas salvadorenhos aguardam com ansiedade um julgamento previsto para o final do mês na Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em que tentam jogar nova luz sobre a draconiana legislação antiaborto do país. O caso em questão, trazido à tona nesta semana por ocasião do Dia Internacional das Mulheres, diz respeito a um episódio de 2013. Uma mulher foi obrigada a manter um feto anencéfalo mesmo sob risco à própria vida, sendo submetida a uma cesariana de emergência devido à criminalização total da interrupção da gravidez no país. Ela morreu quatro anos depois em um acidente sem relação com o episódio, mas o processo seguiu avançando nas instâncias judiciais, impulsionado pela família e grupos ativistas. As entidades, que exortaram a Corte IDH a punir o Estado salvadorenho, esperam que uma condenação por “todas as violações” sofridas pela vítima ajude a propiciar “medidas de não repetição” que levem a “mudanças estruturais” nas leis do país. Apesar da esperança, no entanto, ainda é incerto até que ponto o governo se mobilizaria nesse sentido: o presidente Nayib Bukele dispõe de apoio majoritário no Congresso e povoou a Corte Suprema com nomes alinhados à sua gestão. Mesmo com plenos poderes para mudar as leis salvadorenhas, jamais colocou em pauta uma reversão da proibição total ao aborto, nem para casos de estupro, incesto ou risco à vida da mãe. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
Um grupo de 106 crianças e adolescentes resgatados de um caminhão de migração clandestina foi repatriado na quarta (8), após serem identificados em solo mexicano. Com idades entre 12 e 17 anos, todos viajavam sem a família, tentando chegar aos EUA. De acordo com as autoridades migratórias estadunidenses, a Guatemala é o país centro-americano que mais envia menores desacompanhados ao norte, um drama humanitário que se repete: desde o início do ano, antes mesmo do grupo devolvido ao país nesta semana, outras 430 crianças e adolescentes já haviam sido enviadas de volta por EUA e México após serem barradas pelo caminho ou na própria fronteira. Via Reuters.
Un hilo:
HAITI 🇭🇹
Em meio a pedidos por intervenção militar internacional para ajudar nos esforços de estabilização do Haiti, um dos países que entraram no centro do debate como potenciais envolvidos na missão foi o Canadá. Mas, nesta semana, o comandante máximo das tropas do país no extremo norte das Américas recuou: soldados canadenses já estariam com uma presença fora do comum – e a ponto de ser duplicada – na Letônia, oferecendo suporte à OTAN no contexto dos temores por uma nova invasão russa após o início do conflito na Ucrânia. Por isso, o país norte-americano estaria sem capacidade de participar de outro esforço militar na nação caribenha. “A solução tem que vir do próprio país”, disse o general Wayne Eyre, reforçando uma postura que segue deixando o premiê haitiano Ariel Henry longe do desejado suporte armado estrangeiro. Em fevereiro 2023, Henry organizou um “conselho” especial com o objetivo alegado de ajudar o Haiti a realizar eleições – que não ocorrem desde 2016 –, mas opositores e críticos da sua gestão apontavam a dificuldade de viabilizar o plano sem o envio de tropas pela ONU. Via Reuters.
MÉXICO 🇲🇽
O crime em si não é incomum na região, mas a nacionalidade das vítimas acabou gerando reações atípicas: dois cidadãos estadunidenses, de um grupo de quatro que haviam sido sequestrados por narcos na semana passada no estado fronteiriço de Tamaulipas, apareceram mortos. Imediatamente após a repercussão do caso, uma carta atribuída ao Grupo Escorpión – braço do temido Cartel do Golfo na região – foi deixada junto a um grupo de cinco homens amarrados, entregues à polícia na quinta-feira (9) como responsáveis pelo “erro”. Na mensagem, os supostos criminosos eram criticados pela organização pela “falta de disciplina” e por não seguirem as regras do cartel, que (não sem certa ironia) incluiriam “respeitar a vida e o bem-estar dos inocentes”. As autoridades trabalham com a hipótese de um erro de identificação, o que teria levado o grupo a confundir os viajantes com membros de gangues rivais atuantes nos EUA ou até mesmo integrantes de uma força-tarefa policial transfronteiriça. Muitos mexicanos criticaram nas redes a celeridade da resposta das autoridades quando o crime envolve estrangeiros. “E os milhares e milhares de mexicanos sequestrados?”, questionou um internauta. Na BBC.
O sequestro dos estadunidenses também gerou reações ao norte da fronteira, com integrantes do Congresso em Washington defendendo o uso de força militar dos próprios EUA para coibir a atividade dos cartéis no país vizinho. O senador republicano Lindsey Graham defendeu a criação de uma lei que classificaria as organizações criminosas do México como “grupos terroristas internacionais”, o que abriria margem – no extremo – para uma invasão. O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador definiu as propostas como “eleitoreiras” e “propagandistas”, qualificando-as como “irresponsáveis e ofensivas ao povo do México”. “O México não recebe ordens de ninguém”, disse AMLO, enfatizando que os discursos da semana atentam contra a soberania do país. Via Reuters.
NICARÁGUA 🇳🇮
O Brasil manifestou, na terça (7), estar aberto a acolher cidadãos expatriados pelo regime de Daniel Ortega, mas a opção por permanecer em um papel de “diálogo” e “mediação” com Manágua decepcionou opositores do país centro-americano, que esperavam uma condenação mais enfática dos acontecimentos recentes em solo nicaraguense. A postura do Brasil, cujo governo atual tem um passado de proximidade com o velho líder sandinista, veio após o país se recusar a assinar uma condenação conjunta da ONU – que, por sua vez, ocorreu na sequência de uma investigação da entidade acusando Ortega de cometer crimes contra a humanidade em sua escalada autoritária contra opositores desde 2018. Enquanto isso, e a despeito das cobranças e sanções internacionais, o governo nicaraguense prossegue com a agenda de eliminar entidades opositoras – o ato mais recente foi o cancelamento da personalidade jurídica de 18 entidades patronais do país, sob a alegação de falta de transparência sobre seu financiamento. A mais importante delas, o Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), chegou a se aliar com Ortega quando ele retornou ao poder em 2007, mas esteve entre os grupos que se afastaram – e passaram a ser visados pelo governo – desde a crise política de 2018. No G1.
PANAMÁ 🇵🇦
Fim da novela: após ordenar a interrupção das operações em dezembro por falta de acordo, o governo panamenho anunciou, na quarta (8), que finalmente chegou a um acordo com a Minera Panamá pela exploração da maior mina de cobre no país. A empresa, subsidiária da canadense First Quantum Minerals, é considerada responsável por cerca de 3% do PIB do país, mas o impasse legal entre as duas partes vinha causando dúvida sobre a continuidade da operação, até então regida por um contrato firmado no final dos anos 1990 que o Estado considerava desvantajoso. Agora, o novo contrato prevê o pagamento de US$ 375 milhões anuais ao governo panamenho pela exploração da jazida pelos próximos 20 anos – um valor 10 vezes maior ao anterior –, além de provisões para facilitar uma renovação por outros 20 anos. Via AP.
Otro nombre:
Mayagüez – Local onde estava situado o infame zoológico porto-riquenho, que agora será definitivamente fechado (leia mais na seção do território). O nome deriva do rio Yagüez, em cuja foz se situa o município. Na língua dos taínos, o povo originário da ilha, significa um “local grande de águas”, em função do próprio rio e da baía na qual ele deságua. A cidade de Mayagüez, a oitava maior de Porto Rico com cerca de 75 mil habitantes, também é conhecida pelas alcunhas de “Cidade das Águas Puras” e “Sultana do Oeste”, já que se situa no extremo ocidente da ilha.
PARAGUAI 🇵🇾
Contra a corrente, uma análise da Fitch Solutions – vinculada ao mesmo grupo da Fitch Ratings, conhecida agência de avaliação de riscos de mercado – pegou os paraguaios de surpresa ao prever uma vitória do oposicionista Efraín Alegre, nas eleições marcadas para 30/4. Até aqui, diferentes sondagens já divulgadas a caminho do pleito vinham sugerindo um desfecho relativamente tranquilo para Santiago Peña, nome do Partido Colorado que representa não apenas a continuidade da situação atualmente encabeçada pelo presidente Mario Abdo Benítez, mas que também conta com apoio do ex-mandatário Horacio Cartes (2013-2018), ainda visto como o homem mais poderoso da política no país mesmo após deixar o cargo. Segundo a Fitch, Alegre obteria uma vitória apertada após as sucessivas denúncias de corrupção contra o próprio Cartes e seu círculo mais próximo, e ainda seria necessária atenção internacional: “não podemos descartar que os dirigentes colorados impugnem as eleições ou tentem se manter no poder”, diz o relatório, apontando o risco de um questionamento dos resultados desfavoráveis. Deputados situacionistas criticaram o temor. “Quando ganhou Fernando Lugo, aceitamos a decisão do povo”, disse o deputado Hugo Ramírez, citando o presidente que até chegou a assumir em 2008, rompendo o domínio histórico dos partidos tradicionais, mas foi submetido a impeachment quatro anos mais tarde. No Última Hora.
PORTO RICO 🇵🇷
Sem punição: o caso do único zoológico de Porto Rico, que teve seu fechamento anunciado na semana passada após anos de denúncias de negligência com os animais (leia mais na última edição), deve acabar em pizza para os responsáveis. Autoridades federais dos EUA informaram, na quarta (8), que todas as investigações em torno das mortes de espécimes mantidos no recinto em Mayagüez serão encerradas, após um acordo com o governo da ilha – em suma, os bichos remanescentes serão transferidos para santuários em solo estadunidense, o zoológico porto-riquenho deixará de existir e as pessoas implicadas nas denúncias poderão seguir a vida sem complicação com a Justiça. Há anos, ativistas lutam pela punição dos responsáveis, mas os defensores da anistia alegam que levar o caso aos tribunais só atrasaria a transferência dos animais, prolongando o sofrimento. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Vivendo estiagem há quase meio ano, a República Dominicana começou a discutir, na quinta (9), medidas para racionamento de água. Segundo a empresa responsável pela distribuição na capital Santo Domingo (cuja região metropolitana concentra quase 30% do país), o déficit pluviométrico fez o abastecimento de água para consumo humano cair quase 20% no período. “Março sempre foi um mês de seca, mas agora estamos desde novembro com uma alta redução de chuva”, alertou o engenheiro Luis Salcedo, da área de operações do órgão. Além da convocação ao racionamento voluntário, Salcedo diz que o primeiro foco de regulação ao desperdício serão os lava-jatos de automóveis, buscando coibir os irregulares. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Novos esforços de integração foram anunciados, na terça (7), após o chanceler uruguaio Francisco Bustillo encontrar seu homólogo brasileiro Mauro Vieira, em Brasília: o aeroporto de Rivera, na fronteira, passará a ser binacional; a muito aguardada hidrovia das lagoas Mirim (Merín, para os uruguaios) e dos Patos deverá ter licitação para começo dos trabalhos até o final do ano; e uma nova ponte sobre o rio Jaguarão (ou Yaguarón) também foi anunciada. Segundo os ministros, os acordos envolvendo a infraestrutura em três modais de transporte – aéreo, aquático e rodoviário – seguem instruções dos presidentes dos dois países, Luiz Inácio Lula da Silva e Luis Lacalle Pou, que discutiram o tema em janeiro. Do lado do Brasil, também há expectativa de que o fortalecimento da “integração física” com o paisito ajude a arrefecer o ânimo de Montevidéu por negociar cada vez mais acordos comerciais por fora do Mercosul. No MercoPress.
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