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Pior temporada de furacões devasta América Central
Argentina avança taxação de grandes fortunas e aborto | Chile: cai o comandante da polícia militar | Vídeo: como o Peru teve 3 presidentes em 7 dias
O ano de 2020 é particularmente ruim para os países da América Central e Caribe: além da catástrofe sanitária causada pela união de pandemia e desigualdade, a região enfrenta a maior série de tempestades tropicais e furacões já registrada no Atlântico. Até aqui, já foram 30 tempestades “nomeadas”, isto é, fortes o suficiente para serem referidas com nome próprio, sendo 13 consideradas furacões (a mudança de categoria acontece quando a força dos ventos supera os 118 km/h). As últimas duas semanas foram especialmente destrutivas, com a passagem sequencial dos furacões Eta (categoria 4) e Iota (categoria 5, a mais alta delas), em um raríssimo caso de dois ciclones com ventos de 240 km/h ou maiores ocorrendo na mesma região em um espaço de poucos dias.
O Iota, que tocou terra na Nicarágua na noite de segunda-feira (16), é o mais tardio furacão de categoria 5 já registrado na temporada de ciclones do Atlântico, que vai de 1º/6 a 30/11 (como contamos no Giro Latino Cast #2). De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Eta e Iota já haviam deixado 156 vítimas fatais nos países da região até quinta (19). O número, porém, deve subir conforme desaparecidos e vítimas indiretas, como as soterradas em deslizamentos, forem entrando na contagem.
A crise climática é cumulativa. Segundo o Unicef, antes mesmo do último fenômeno, os furacões no que se tem de 2020 já teriam afetado 4,6 milhões de pessoas na região, sendo 1,8 milhões de crianças. Com o Iota, o número de jovens potencialmente ameaçados pelos desastres sobe a 70 milhões. Sem saber se a prolongada temporada de chuvas e ventos vai se estender até o final de ano, a ONU já faz cálculos sobre os desastres: € 35,8 milhões (R$ 228 milhões) para auxiliar com mantimentos e produtos de higiene as quase 650 mil pessoas diretamente afetadas. O nível de devastação levou países a unir forças contra o desastre climático, com medidas bilaterais para atenuar os estragos: durante os últimos dias, caminhões com mantimentos e efetivos militares cruzaram fronteiras, dando a dimensão regionalizada da crise.
O impacto indireto da sequência de furacões e tempestades também já é sentido. Em toda a região, famílias desalojadas recorrem a abrigos improvisados, onde não há garantia de que medidas sanitárias exigidas pela OMS para combater o coronavírus sejam cumpridas. O diretor de emergência da OPAS, Ciro Ugarte, disse que, apesar de garantir alguma proteção temporária, as condições “extremamente difíceis” dos abrigos impedem uma distribuição adequada de água e alimentação. O número de pessoas desaparecidas também é alarmante: eram pelo menos 96 até a última semana, número que pode ter dobrado e ainda não tem estimativa precisa, segundo a última atualização da Coordenadoria de Redução de Desastres da Guatemala (Conred).
A temporada sem precedentes gerou até um problema com o qual a Organização Meteorológica Mundial (OMM) jamais imaginou se deparar: furacões tão destrutivos que os nomes derivados de letras gregas (casos de Eta e Iota e, mais cedo, do Delta) se enquadrem nos critérios para serem retirados de circulação. Oficialmente, a OMM apela para as letras gregas após a temporada superar o número de 22 tempestades que ganham nomes “humanos”, algo que só havia ocorrido uma vez antes de 2020 – ao contrário de termos numéricos ou científicos, nomes de gente costumam ser mais fáceis de memorizar no momento em que autoridades precisam emitir uma ordem de evacuação, por exemplo. Embora a entidade aposente os nomes de fenômenos especialmente devastadores, como ocorreu com o Katrina em 2005 ou o María em 2017, nunca se havia chegado a uma destruição tão grande que obrigasse a pensar em algo semelhante para as letras – uma aposentadoria sequer está prevista. Mas, diante das mudanças climáticas aceleradas pela ação humana, parece que catástrofes do tipo se tornarão cada vez mais comuns e prolongadas – e as nações centro-americanas e caribenhas, localizadas em um dos pontos mais perigosos da rota, devem continuar sendo as que mais sofrem com elas nos próximos anos.
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😷 Covid: com o Brasil vivendo seu maior aumento desde que os casos começaram a cair (foi o registro mais alto de mortes em seis semanas e de casos em nove), os números da região como um todo também se ampliaram em relação aos períodos recentes. A Argentina, na semana em que superou o próprio Brasil em mortes proporcionais, vê sua curva finalmente apresentar uma queda continuada e parece viver o fim de seu primeiro pico – enquanto o restante da região teme a segunda onda. Leia nosso levantamento semanal.
Un sonido:
Em nosso podcast, falamos sobre o plebiscito do último dia 3, em que Porto Rico votou para ser o 51º estado dos EUA – e o que pode acontecer agora. Ouça também em outros tocadores.
REGIÃO 🌎
Uma grande conspiração envolvendo Cuba, Venezuela e China é a mais nova mentira propagada pela patota trumpista para justificar a derrota nas eleições estadunidenses do último dia 3. Tese defendida oficialmente: na quinta (19), uma advogada da campanha de Trump, Sidney Powell, garantiu que “dinheiro comunista” vindo desses países estaria por trás do suposto roubo das eleições por Joe Biden, requentando até uma velha fake news de que urnas eletrônicas utilizadas em partes do país teriam sido deliberadamente criadas pelo finado Hugo Chávez (!) para manipulação de resultados. Tudo, como de costume, sem provas – nem explicação de como dois países latinos que vivem profunda crise econômica por conta das sanções dos próprios EUA seriam capazes de tamanha coordenação. O chanceler do governo Nicolás Maduro, Jorge Arreaza, disse que as alegações eram “ridículas” e uma uma “mostra de debilidade” de Trump. Em El Mostrador.
Por fim, dois candidatos surgiram para herdar a condição de sede dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe de 2022: El Salvador (com a capital San Salvador) e Porto Rico (com Mayagüez, a 150 km de San Juan) anunciaram a intenção de receber o maior evento poliesportivo daquela parte das Américas. Marcados originalmente para o Panamá, que desistiu em julho citando a crise econômica causada pela pandemia (leia no GIRO #40), os Jogos devem acontecer durante o verão do Hemisfério Norte. As duas candidatas já receberam as competições neste século: San Salvador em 2002 e Mayagüez em 2010. Ainda não há data definida para a confirmação da nova sede. Em El Nuevo Día.
ARGENTINA 🇦🇷
Por 133 votos a favor, 115 contra e 2 abstenções, os deputados aprovaram um projeto de lei para taxar grandes fortunas, tema recorrente na agenda econômica de governos à esquerda. Segundo o autor do projeto, que ainda será votado no Senado, será “a única vez em que os donos de grandes fortunas serão alcançados”. Outro parlamentar favorável à medida disse que a Argentina tem “10 mil milionários e 5 milhões de crianças abaixo da linha da pobreza”. A coalizão PRO, da qual já fez parte o ex-presidente Mauricio Macri, no entanto, rechaçou o projeto, sob o argumento de que a medida poderá afastar o capital e diminuir empregos. Segundo o texto, serão atingidas pessoas que ultrapassem 200 milhões de pesos (R$ 13,4 milhões) em patrimônio, com taxas progressivas que variam para bens declarados em solo nacional ou no exterior. Parte do que for arrecadado seria destinado para a compra de insumos médicos durante a pandemia. A intenção do governo é obter cerca de US$ 3 bilhões extras com a nova lei. No Página 12.
Os lenços verdes, símbolo da luta feminista a favor da legalização do aborto no país, ganharam realce nos últimos dias. Dirigindo-se à nação, o presidente Alberto Fernández anunciou o envio de um projeto de lei à Câmara que pretende passar a questão a limpo. Segundo o presidente, o tema, que seu governo trata como de “saúde pública”, é urgente, visto que “mais de 3 mil mulheres morreram por conta de procedimentos [clandestinos] na era democrática”, iniciada em 1983. A legalização da interrupção da gravidez até a 14ª semana de gestação já chegou a ser aprovada pelos parlamentares em 2018, mas travou no Senado, à época comandado pela então vice-presidente conservadora Gabriela Michetti. Agora, com maioria em um senado sob a liderança de Cristina Kirchner (que já prometeu se redimir de seus tempos de presidente e se posicionar a favor da medida), a lei tem tudo para passar. O debate sobre o aborto na América Latina já foi tema de um dos vídeos do GIRO no Intercept Brasil. Via Télam.
Jorge Brito, um dos nomes mais influentes das finanças argentinas e alcunhado “banqueiro dos peronistas”, faleceu na sexta (20) à noite, em um acidente de helicóptero em Salta, aos 68 anos. Fundador do Banco Macro, Brito era particularmente próximo dos governadores do norte do país e do presidente da Câmara, Sergio Massa. Preocupado com a situação do dólar, ele havia se encontrado recentemente com Alberto Fernández. Apesar da proximidade com os governantes atuais, também liderava o lobby contra a taxação de grandes fortunas, citada acima. Fernández lamentou a morte no Twitter: “perdemos um empresário com quem discutir construtivamente olhando para o futuro”. No Clarín.
Un video:
BOLÍVIA 🇧🇴
Pesquisadores dos EUA declararam no encontro anual da Sociedade Americana de Medicina e Higiene Tropical, nesta semana, que existem evidências de transmissão entre humanos do arenavírus Chapare, que tem sintomas similares aos do ebola e da dengue. Com característica típica dos vírus de febre hemorrágica, a doença empresta o nome da província boliviana que fica dentro do departamento de Cochabamba, a 600 km de La Paz, e é transmitida por pequenos roedores típicos dos Andes. Os especialistas analisaram amostras coletadas em 2019, quando um grupo de médicos acabou infectado ao tratar pacientes contaminados; três pessoas morreram dias depois, incluindo dois médicos, no que se tornou o pior surto de Chapare no país desde 2003. Na BBC.
Segue a renovação dos altos cargos após a chegada de Luis Arce ao poder, tentando afastar os aliados do governo interino de Jeanine Áñez e demais envolvidos na derrubada de Evo Morales, há um ano. Nesta semana, Arce empossou um novo comandante das Forças Armadas, o general de aviação Jaime Zabala, desafiando-o a fazer a população voltar a acreditar que os militares “respeitarão os processos democráticos”. Em 2019, as Forças Armadas foram questionadas por se omitir diante do motim de policiais que culminaria com a queda de Evo – ao invés de coibi-los, os militares acabariam se juntando ao golpe, “sugerindo” que o presidente renunciasse, como ocorreu. As ações do então comandante, Williams Kalimán, foram tão criticadas que a Justiça determinou sua prisão domiciliar ainda no governo Áñez, em setembro. Outro que está preocupado com a mudança de rumos da política nacional é o ex-ministro de Governo de Áñez, Arturo Murillo, que fugiu para os Estados Unidos em meio a investigações de compras superfaturadas durante sua gestão. Em El País.
CHILE 🇨🇱
Após 698 dias de repetidos episódios violentos, chegou ao fim o período do general Mario Rozas no comando dos Carabineros, a polícia militar. O estopim da renúncia ocorreu na quarta (18): quatro tiros de policiais contra dois jovens em um centro de detenção de menores, em Talcahuano, no sul do país. Ambos ficaram feridos e um deles precisou ser submetido a uma cirurgia de urgência. Rozas, que já era questionado pelas violações de direitos humanos na repressão aos protestos desde 2019, passou os últimos meses resistindo aos pedidos para que entregasse o cargo (leia no GIRO #51). O problema da violência policial, porém, é endêmico: o próprio Rozas também assumiu para substituir outro general que caíra em desgraça, Hermes Soto, obrigado a se aposentar em dezembro de 2018 após o brutal assassinato, nas mãos de carabineros, do líder comunitário mapuche Camilo Catrillanca. O novo responsável pela corporação será o general Ricardo Yáñez, que havia se tornado o segundo em comando apenas 13 dias antes. Sobre ele pesa a eterna expectativa de “modernizar” a polícia, asseverou o presidente Sebastián Piñera. Em La Tercera.
Sebastián Piñera foi o primeiro líder latino-americano a telefonar para o presidente eleito dos EUA, Joe Biden. Segundo a chancelaria chilena, a conversa tratou do futuro das relações bilaterais entre os países, além do papel futuro do governo democrata em relação ao bloco econômico liberal Prosul e à Aliança do Pacífico (formada por Chile, Colômbia, México e Peru). Piñera não é o único líder conservador a ignorar o chilique do presidente Donald Trump e reconhecer Joe Biden: como contado no GIRO #56, os únicos latinos que ainda não reconheceram o resultado das eleições ao norte são Jair Bolsonaro e o mexicano López Obrador. No Meganoticias.
COLÔMBIA 🇨🇴
Milhares de manifestantes voltaram às ruas de Bogotá e das principais cidades do país na quinta (19), em nova rodada de protestos contra o governo de Iván Duque e o que denunciam ser uma ausência de diálogo com a sociedade em meio às dificuldades econômicas da pandemia. Foi o quarto protesto do tipo na capital desde que as restrições às aglomerações foram flexibilizadas em agosto. As reivindicações incluem maior cobertura de saúde e educação, socorro econômico às pequenas empresas e a garantia de uma renda mínima para os desempregados. Às bandeiras econômicas, também se junta a pauta da violência: a brutal repressão a outro protesto semelhante, que deixou 13 pessoas mortas em setembro (leia no GIRO #47 e veja neste vídeo), foi lembrada. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
O Congresso aprovou, na primeira rodada de discussões, o avanço de um projeto de lei que deve autorizar a publicidade de bebidas alcoólicas no esporte – tanto nos uniformes dos atletas quanto nos recintos onde as disputas ocorrem. Em meio à crise da pandemia, que não deixou o esporte ileso, a ideia é utilizar o dinheiro arrecadado em diferentes frentes: 10% do valor dos contratos irá a um fundo que destinará quantias para compra de equipamentos esportivos e apoio a atletas de alto rendimento. Outra parcela da taxa será destinada ao atendimento de mulheres vítimas de violência doméstica e (paradoxalmente) a programas de prevenção ao alcoolismo. A votação definitiva está marcada para terça (24). No CR Hoy.
Una expresión:
Mejorarse de guagua – há uma palavra e uma expressão para desempacotar aqui. Guagua, nos países da região andina, deriva do quéchua wawa e se refere a um bebê pequeno, geralmente recém-nascido. Já mejorarse de guagua é algo ouvido sobretudo nas comunidades mais humildes do Chile, um resquício de quando a gravidez era um risco à vida da mãe e da criança: uma mulher que “melhorou de guagua” deu à luz recentemente. E não vá se confundir: no Caribe e na América Central, guagua também aparece muito na linguagem cotidiana, mas com uma etimologia diferente – refere-se aos ônibus e a outras modalidades de transporte coletivo, e seria uma corruptela do inglês wagon.
CUBA 🇨🇺
Para contornar a crise, o governo estaria considerando abrir mão, definitivamente, da maior parte do controle sobre os serviços de gastronomia cubanos. Nacionalizado em 1968, o setor começou a viver reformas durante a administração de Raúl Castro (2008-2018), quando 258 dos 1,9 mil restaurantes em Havana foram convertidos em cooperativas e pequenas empresas privadas, sob um modelo de arrendamento. Agora, o restante dos empreendimentos poderia ser adaptado ao sistema, com apenas uma pequena porcentagem permanecendo nas mãos do governo. Via Reuters.
A polícia da Flórida confirmou que o corpo encontrado em praia da cidade de Miami Beach é da atriz Broselianda Hernández, 56, reconhecida pelos trabalhos na televisão, teatro e cinema cubanos. Segundo familiares, ela saiu para fumar um cigarro e, desde então, não foi mais vista. Entre seus papéis, Hernández ficou marcada por interpretar a mãe do revolucionário e um dos patronos independentistas cubanos José Martí no filme El Ojo del Canario (2011). Pelo Twitter, o presidente Miguel Díaz-Canel lamentou a morte ainda não explicada da atriz, que foi encontrada sem sinais de violência. Na Prensa Latina.
EL SALVADOR 🇸🇻
O ministro da Agricultura e Pecuária, Pablo Salvador Anliker, foi denunciado por uma organização anticorrupção independente e terá que se esclarecer junto ao Instituto de Acesso à Informação Pública (IAIP) por suposta ocultação de dados relacionados às compras de mantimentos durante a pandemia. Segundo um dos coordenadores da assessoria não-governamental que denunciou o caso, Wilson Sandoval, a falta de transparência com as contas públicas “se tornou um padrão” na crise sanitária. Em ElSalvador.com.
EQUADOR 🇪🇨
A repressão aos protestos de outubro de 2019 (que foram tema da primeira edição da história deste GIRO) segue sendo alvo de uma Comissão da Verdade montada para investigar os crimes cometidos por agentes do Estado. Na quarta (18), o jornal El Universo revelou os conteúdos do rascunho do que pode vir a ser o relatório final da comissão: de acordo com o diário de Guayaquil, 519 testemunhos foram recolhidos pela Defensoria do Povo, que teria conseguido comprovar, entre outras graves violações de direitos humanos, ao menos seis execuções extrajudiciais e três casos de violência sexual. Entre os responsáveis, são identificados 26 agentes públicos.
Uma rara espécie de orquídea gigante foi descoberta no norte do país, perto da fronteira com a Colômbia. A Lepanthes tulcanensis, que homenageia a cidade vizinha de Tulcán, foi identificada em 2018 pelo biólogo Luis Baquero, mas o estudo apresentando a flor ao mundo só veio a público nesta terça (17). Segundo o pesquisador, a planta localizada na reserva Drácula se destaca por ter cerca de 40 centímetros das raízes ao topo do talo, muito acima da média de outras orquídeas, que ficam em torno de 10 cm. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
O vice-presidente, Guillermo Castillo, fez uma proposta radical ao presidente Alejandro Giammattei: os dois deveriam renunciar aos seus cargos juntos, “pelo bem do país”. A sugestão veio após violentos protestos em frente ao Congresso na sexta (20), na sequência da aprovação da criticada Lei Orçamentária de 2021, que corta fundos de saúde e educação. Castillo, que ressaltou as diferenças com o seu colega de governo e reclamou por nunca ser consultado para decisões importantes, disse ter sugerido que o projeto fosse vetado e devolvido ao Congresso – e que, diante da incapacidade de chegarem a um acordo sobre os rumos da Guatemala, ambos deixassem o poder. Giammattei não havia se manifestado sobre as declarações do vice até o fechamento desta edição. Castillo, apesar da ousadia, disse que não renuncia sozinho. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Em meio a uma interminável onda de violência, o governo definiu seu um novo chefe para a Polícia Nacional. León Charles volta ao posto que já comandou em 2004, quando deixou o país para assumir o cargo de conselheiro na embaixada haitiana em Washington. Anos depois, foi escolhido como representante do país na Organização dos Estados Americanos (OEA). A volta de Charles acontece após a renúncia de Normil Rameau, que já havia assumido interinamente há 14 meses e pediu para sair após uma série de protestos. Independentemente do nome, o problema segue: sobretudo após a saída das últimas tropas da missão de pacificação da ONU, nenhuma autoridade deu conta de interromper o aumento galopante da violência. Na Prensa Latina.
Un dato:
Clique para conhecê-las.
HONDURAS 🇭🇳
Após a passagem sequencial de Eta e Iota (leia mais na abertura desta edição), que trouxeram fortes chuvas, Honduras agora se prepara para as possíveis consequências: cerca de 70% do território nacional é identificado pelas autoridades como estando sob “alto risco” de deslizamentos de terra, potencialmente letais e a qualquer momento. Pelo menos 13 pessoas já morreram soterradas em circunstâncias semelhantes após as duas tempestades. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Em uma decisão classificada de “histórica” em um país que sofre nas mãos do narcotráfico, o Senado aprovou, na quinta (19), a regulamentação e despenalização da maconha para uso recreativo, científico e medicinal. A medida tem potencial para criar o maior mercado de cannabis do mundo, entendem especialistas, já que teria abrangência nacional – os vizinhos EUA, que avançam em medidas semelhantes em nível estadual, ainda não têm uma lei federal do tipo. Para passar a valer, a nova lei mexicana ainda precisa ser votada na Câmara antes do fim da atual legislatura, no próximo 15/12. A gradual liberação da maconha e outras drogas era uma das bandeiras de campanha do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, no cargo desde o final de 2018. Via Reuters.
Os EUA anunciaram que não seguirão adiante com o processo contra o general da reserva Salvador Cienfuegos, ex-secretário de Defesa no governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018). Cienfuegos foi preso em Los Angeles em outubro, acusado de envolvimento no narcotráfico (leia no GIRO #52). Segundo o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, autoridades dos dois países entraram em acordo para que Cienfuegos seja julgado no próprio México. Na BBC.
O México se tornou, na quinta (19), o quarto país do mundo (e o segundo da América Latina) a superar a triste marca de 100 mil mortes oficialmente atribuídas à covid-19, seguindo um caminho já trilhado por Estados Unidos, Brasil e Índia. Proporcionalmente, 782 mexicanos já morreram a cada milhão de habitantes e os novos óbitos estão estáveis em relação às semanas anteriores. No Jornada.
NICARÁGUA 🇳🇮
Com o aumento das fugas do país desde 2018, quando o governo autoritário de Daniel Ortega endureceu a repressão contra opositores, uma rede de tráfico de pessoas passou a operar na fronteira com a Costa Rica: segundo um estudo da Fundação Arias para a Paz e o Progresso Humano, do ex-presidente costarriquenho Óscar Arias (1986-1990 e 2006-2010, vencedor do Nobel da Paz em 1987), os “coiotes” se valem de um acordo com militares nicaraguenses e policiais do país vizinho, que não tem Exército: sob suborno, os fardados dos dois lados da fronteira estariam fazendo vista grossa aos veículos envolvidos no esquema que carregam nicaraguenses em busca da emigração irregular, permitindo a travessia internacional sem a devida averiguação. Em El Universal.
PANAMÁ 🇵🇦
A brasileira Odebrecht já firmou seus alvos para voltar a expandir os negócios perdidos após os escândalos de corrupção envolvendo a construtora por toda a América Latina: o Panamá, ao lado da República Dominicana e do Peru (onde as investigações são uma base importante de toda a crise política que segue até hoje), é uma das prioridades para 2021. Executivos da empresa enredada no terremoto da política regional esperam que os negócios com os latino-americanos venham a representar até 30% das receitas no próximo biênio – no auge, eram quase 80%. Em El Caribe.
PARAGUAI 🇵🇾
Greves de profissionais da saúde têm sido uma rotina no continente durante a pandemia. No Paraguai, não é diferente: durante a semana, a equipe do Hospital das Clínicas, em Assunção, interrompeu o fluxo de carros em plena avenida para pedir o cumprimento do acordo assinado em 2019, que previa um investimento de 5 bilhões de guaranis (cerca de R$ 3,7 milhões). Médicos e enfermeiros pedem a compra de insumos, além da nivelação de salários e pagamentos de seguros e hora extra. No ABC Color.
Un nombre:
Lima – ao contrário do que já foi muito difundido por uma literatura mais colonizada, não foram os espanhóis os responsáveis por batizar a capital peruana. Segundo historiadores, o nome da cidade vem da palavra Rímac que, na língua nativa quéchua, significa “falador”. Na costa, onde fica a cidade, a palavra era pronunciada diferentemente das montanhas: Límac, em um processo linguístico conhecido como lambdacismo (a troca do R pelo L). Rímac também é o nome do rio caudaloso que corta as cidades de Lima e Callao até desaguar no Pacífico. A outra história, porém, conta que Francisco Pizarro teria chamado a única capital banhada por mar na porção latina da América do Sul de La Ciudad de los Reyes, por decidir que a data de fundação (18 de janeiro de 1535) coincidiria com a data em que os Reis Magos marcharam rumo a Belém.
PERU 🇵🇪
Após as turbulências que fizeram o país ter três presidentes em sete dias (veja mais acima, em Un video), o novíssimo governo de Francisco Sagasti tenta encontrar firmeza para seguir com a transição até as eleições de 2021. O novo mandatário já definiu uma presidenta do Conselho de Ministros, também chamada primeira-ministra: Violeta Bermúdez. Durante a semana, o Tribunal Constitucional (TC) decidiu, por 4 a 3, que a destituição de Martín Vizcarra foi legal, fechando as portas para o retorno do presidente cuja derrubada levou a população às ruas, acusando um golpe parlamentar. Marianella Ledesma, presidenta do TC, era favorável à recondução de Vizcarra ao cargo, mas foi voto vencido. A magistrada, porém, foi clara: para ela, a legislação é vaga e o Congresso deveria reformar o texto que torna a derrubada de um presidente um processo tão fácil, algo que ela define como um “terreno minado” para futuros mandatários.
PORTO RICO 🇵🇷
Um dos grandes orgulhos da ciência no Caribe está com os dias contados: a Fundação Nacional de Ciências dos EUA, mantenedora do radiotelescópio de Arecibo, histórica instalação que chegou a ser a maior do seu gênero no mundo por mais de meio século, anunciou na quinta (19) que não há outra alernativa além da demolição. Construído em 1963, o radiotelescópio foi danificado no furacão María, em 2017, e a falta de recursos para reformá-lo deixou a estrutura abandonada e à beira de um colapso (leia no GIRO #8). A ideia é reutilizar a área para um novo tipo de serviço de exploração espacial, embora ainda não haja planos concretos. Na DW.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Mulher, negra e latina. E na Casa Branca. A jornada de Julissa Reynoso Pantaleón até o posto de chefe de gabinete da futura primeira-dama Jill Biden começou em solo dominicano e foi até o bairro do Bronx, em Nova York, de onde saiu para estudar Direito e chegar à carreira diplomática. Até ser escolhida pela companheira do democrata eleito, serviu como embaixadora dos EUA no Uruguai. No Listin Diario.
Uma em cinco mulheres dominicanas acaba casada antes da maioridade e, muitas vezes, com homens que chegam a dobrar sua idade. O drama das niñas esposas, uma prática comum que agora o país tenta combater (leia no GIRO #56), é contado em detalhes na reportagem da agência EFE.
URUGUAI 🇺🇾
Em gesto de aproximação, o presidente Luis Lacalle Pou recebeu seu homólogo argentino Alberto Fernández para um almoço na quinta-feira (19). Com o uruguaio à direita e o vizinho à esquerda no espectro político, os dois buscaram reabrir um diálogo afetado em anos recentes pelas medidas de Donald Trump para a América Latina, que ampliaram as rivalidades políticas em temas como a Venezuela e as eleições para o comando do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). À sombra das árvores na Estância Anchorena, residência oficial de descanso do mandatário uruguaio em Colonia, os dois presidentes comeram um típico asado e se comprometeram a buscar pontos de consenso que permitam criar uma agenda comum para o Mercosul – algo que, concordam nos dois lados do Rio da Prata, hoje encontra seu maior obstáculo no radicalismo ideológico e ambiental de Jair Bolsonaro (leia mais no GIRO #33). No Infobae.
Os números ainda são baixos quando comparados à vizinhança (mesmo ajustando para a população), mas em relação ao próprio Uruguai de poucos meses atrás o agravamento é inegável: pela sétima vez nas últimas oito semanas, o país registrou recorde de novos casos de covid-19 (agora, 594), e também igualou o recorde de mortes em sete dias (5). Um dos bons exemplos no combate ao coronavírus na região, o Uruguai investiu em um número elevado de testes e no rastreamento de contatos, além de um forte controle fronteiriço, para evitar quarentenas mais estritas dentro do país – agora, o governo promete triplicar a capacidade de testagem para não perder de vista a evolução da doença. Sinal da piora da crise sanitária e do perigo de “importar” o coronavírus foi a explosão de casos entre jogadores de futebol uruguaios, muitos deles tendo se contagiado em compromissos internacionais pela seleção local, que acabou multada pelo Ministério da Saúde por descumprir os protocolos. No Página 12.
VENEZUELA 🇻🇪
A opção pela dolarização do sistema bancário, tão afetado pela crise financeira dos últimos anos, já não é um horizonte distante. Segundo fontes anônimas próximas a autoridades venezuelanas, o Banco Central do país (BCV) já estuda discutir planos destinados a criar um sistema de compensação e liquidação na moeda estrangeira a partir de 2021. Entre outras coisas, a mudança facilitaria a inserção do dólar no ambiente bancário de forma simultânea ao bolívar, moeda oficial. E é na própria moeda que leva o nome do libertador da América que mora o problema: afligido por uma desvalorização descontrolada, o bolívar já não é prioritário no dia a dia do venezuelano, que, em mais da metade dos casos, opta por moeda estrangeira, segundo estudos. No Efecto Cocuyo.
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