🗳️ América Latina elegerá 6 presidentes em 2024; saiba onde
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As reações golpistas de membros do Ministério Público à eleição de Bernardo Arévalo na Guatemala, os atentados que abalaram a votação antecipada no Equador e a vitória arrasadora de Javier Milei na Argentina – resultado que já desencadeia outras crises sociopolíticas, como explicamos mais abaixo nesta edição – revelaram um 2023 atribulado em boa parte da vizinhança. O ano que passou reforçou uma tendência que vem marcando os pleitos eleitorais por toda a América Latina na última década: nesses três países citados, eleitores consagraram plataformas de oposição, seja por optarem pelos chamados “votos de punição” à classe política, diante de crises recorrentes e violência em alta, ou mesmo como uma resposta a cenários econômicos calamitosos, alertam especialistas.
Porém, quem acompanha a política latino-americana sabe: as marés podem sempre mudar de direção. Para 2024, as projeções iniciais já mostram um cenário um pouco distinto: em pelo menos três das seis eleições presidenciais previstas para os próximos 12 meses, quem leva vantagem nas pesquisas são as candidaturas governistas. Sendo assim, é importante entender o que cerca cada uma dessas votações – e por que elas são tão diferentes.
🇸🇻 El Salvador (4/2)
O continente inicia o ciclo eleitoral de 2024 com a votação menos incerta das que estão no calendário: daqui a um mês, em 4/2, o povo salvadorenho vai às urnas sob a pompa do popularíssimo Nayib Bukele, presidente que tem tudo para se reeleger sem muito esforço por mais cinco anos – apesar de mandatos consecutivos serem expressamente proibidos pela Constituição. Um mero detalhe, porém, para um chefe de Estado que controla (ou tem forte influência sobre) os poderes constitucionais no país: com Congresso, Ministério Público e Suprema Corte bailando sob seu batuque, Bukele mexeu os pauzinhos e, em 2021, conseguiu luz verde para uma nova disputa nas urnas (entenda).
Por mera formalidade, mas cumprindo um requisito pré-determinado pela Justiça, o presidente “deixou o cargo” por seis meses a partir do último mês de dezembro, entrando no novo ano já focado em sua campanha rumo a uma nova e esperada vitória. A votação do próximo mês também acontecerá sob os fantasmas de incontáveis abusos aos direitos humanos e ao devido processo legal cometidos no âmbito da “guerra às gangues” de Bukele, atropelos constantemente denunciados dentro e fora do país.
Diante de uma violência em baixa (ainda que com dados pouco confiáveis), salvadorenhos não parecem se importar com o autoritarismo do autointitulado “ditador mais cool do mundo”: até as pesquisas menos favoráveis a Bukele projetam um favoritismo acima dos 60%; já outros institutos registram uma intenção de voto acima de 90%.
🇵🇦 Panamá (5/5)
Pouco afamado pela turbulência política, sobretudo se comparado a seus vizinhos centro-americanos, o Panamá entra em 2024 ainda sentindo o gostinho de gigantescos e bem-sucedidos protestos contra a mineração no fim de outubro (entenda) – o governo de Laurentino Cortizo ainda foi sacudido por outra convulsão social em 2022 em função da alta nos preços dos combustíveis (relembre).
Dessa forma e com Cortizo não podendo concorrer à reeleição imediata, a votação marcada para renovar Presidência e Congresso em 5/5 segue aberta, mas com velhos nomes à espreita: até o momento, as pesquisas de intenção de voto (que, no geral, seguem escassas por lá) projetavam boa vantagem para o polêmico ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014) nas sondagens de outubro.
Considerado um dos políticos mais influentes e populares do país, Martinelli lidera a corrida apesar de problemas judiciais dentro e fora do Panamá, incluindo uma condenação de 11 anos de prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro (entenda); a defesa do presidenciável alega “perseguição política” e promete recorrer até esgotar todos os recursos. Temendo novos desdobramentos que possam afetar sua candidatura (ou até tirá-lo oficialmente da briga), Martinelli chegou a sugerir a antecipação das eleições, o que não deve acontecer.
🇩🇴 República Dominicana (19/5)
Luis Abinader, primeiro presidente eleito nestas bandas durante a pandemia de covid-19, parece ter pavimentado seu caminho rumo à reeleição após a construção do muro que separa o território dominicano do vizinho Haiti e com o endurecimento das medidas migratórias (muitas delas extremamente abusivas) – ao menos é isso que dizem as pesquisas. O boom no setor turístico, responsável por 15% do PIB e cujas atividades foram promovidas pelo governo até mesmo durante a crise sanitária, também parece alimentar seu favoritismo.
Vale lembrar: à frente do Partido Revolucionário Moderno (PRM), Abinader foi eleito com rótulo de centro-esquerda, mas caminhou para a direita, adotando medidas conservadoras durante a gestão. Além disso, originalmente, o empresário descartava uma tentativa de reeleição, criticando esse dispositivo previsto constitucionalmente – ele voltou atrás, porém, quando avaliou que tinha boas chances de ganhar novamente, citando que tinha um “compromisso” com o país. Caso vença novamente, o mandatário seguirá convivendo com os problemas de hoje: boas projeções para o turismo, sim, mas uma situação cada vez mais tensa do outro lado da ilha de Hispaniola.
🇲🇽 México (4/6)
As eleições no segundo maior país latino-americano prometem fazer história. Marcado para o início de junho e resolvido em turno único (apenas México, Honduras, Panamá, Paraguai e Venezuela não realizam a conhecida segunda vuelta caso um candidato não alcance os votos necessários de primeira), o processo mexicano tem tudo para eleger a primeira mulher presidenta da história do país.
Até agora, apenas a ex-prefeita Claudia Sheinbaum, do partido governista Morena, e a senadora Xóchitl Gálvez, à frente de uma ampla coalizão opositora, têm chances reais na disputa – com a morenista e antiga mandatária da capital largando na frente, segundo pesquisas divulgadas meio ano antes da votação.
Caso as previsões se confirmem, Sheinbaum herdará de Andrés Manuel López Obrador, que não pode se reeleger e prometeu se “aposentar completamente da política”, um contexto agridoce: se por um lado ela recebe um país que segue abalado pela violência dos cartéis, crises migratórias nas fronteiras e pelo histórico de controvérsias políticas do próprio Obrador, também pode colher os frutos da grande popularidade do presidente, que fez do Morena – fundado como partido político há meros 10 anos – uma verdadeira potência nacional. Em junho, eleitores também escolhem 128 senadores, 500 deputados, governadores em nove estados e outros cargos de nível administrativo.
🇺🇾 Uruguai (27/10)
No Brasil, a extrema direita de Jair Bolsonaro venceu em 2018. Na Argentina, solo que parecia infértil para candidaturas dessa natureza, o ultraliberal (e amigo do clã Bolsonaro) Javier Milei chegou ao poder em 2023 – e com boa margem nas urnas. Será, enfim, a vez do paisito? Ainda é cedo para saber se os uruguaios, com uma história democrática recente bem menos atribulada, cairão nas garras do radicalismo. Mas as chances não são mais tão remotas assim.
Como os editores deste GIRO explicaram recentemente na Agência Pública, a maré de ultradireita que vem se espalhando pelo Cone Sul pode ganhar força no Uruguai diante de uma inédita alta de violência, com cenas de criminalidade urbana – em sua maioria, associadas à crescente atividade do narcotráfico, que agora se alastra por países outrora seguros – assustando uma população desacostumada a tudo isso. Soma-se à equação o fato de o atual presidente, Luis Lacalle Pou, chegar em seu último sprint no poder cercado de escândalos que podem atrapalhar a manutenção da direita menos radical no poder – além de não poder, ele próprio, buscar uma reeleição consecutiva.
Quem deve tentar a sorte novamente representando uma plataforma de ultradireita é o ex-general Guido Manini Ríos, senador, negacionista dos crimes da ditadura militar (1973-1985) e atual líder do partido radical e militarista Cabildo Abierto. Como Milei, que pouco tempo atrás era um mero azarão que pouco ameaçava a política real, Manini vem crescendo desde a última eleição, quando conquistou nada menos que 11% dos votos. Eleitores mais moderados depositam alguma esperança, quem sabe, na volta da própria centro-esquerda, que governou o país por 15 anos até 2019 com a coalizão Frente Ampla (FA). O panorama deve se desenhar melhor nos próximos meses, quando governistas e frenteamplistas devem apontar seus nomes. O próximo mandato de cinco anos se inicia em 2025.
🇻🇪 Venezuela (sem data)
Tão incerta que nem data tem. Votação mais aberta (em todos os aspectos) do ano, o pleito para definir o ocupante-mor do Palácio de Miraflores, em Caracas, deve acontecer no segundo semestre de 2024, mas ainda sem um dia oficial marcado no calendário. Em linhas gerais, o que os eleitores vão decidir é se os chavistas continuam ou não no poder até 2031 – ainda que o atual presidente, Nicolás Maduro, não confirme se será ele o candidato.
O que se tem até aqui: em recentes negociações mediadas pela Noruega, governo e oposição (cujos principais nomes optaram por um boicote geral nas últimas eleições de 2018, alegando fraude eleitoral) acordaram realizar a votação sob os olhares de observadores internacionais – vale lembrar que vários países, sobretudo os que integram o dito mundo ocidental, classificam a última vitória de Maduro como “ilegítima”.
O aperto de mãos foi celebrado pelos dois lados, com promessas governistas de um processo livre e transparente. Após as tratativas, e pela primeira vez em uma década, a oposição realizou primárias, dando larga vitória a María Corina Machado, até então vista (sobretudo fora do país, com fortes bênçãos dos europeus e – claro – dos EUA) como o grande nome encarregado de desafiar o chavismo nas urnas. Mas tudo é nebuloso: para começar, a opositora segue inabilitada de concorrer a cargos públicos (entenda). Se o entrave à candidatura de Machado não era suficiente para tornar tudo incerto, vale lembrar que a Justiça venezuelana suspendeu todo o processo de primárias da oposição, alegando fraude – embora haja uma expectativa de recurso.
Os EUA chegaram a derrubar provisoriamente algumas sanções aos setores venezuelano de gás, petróleo e ouro, tudo em troca de forçar Maduro a garantir caminho livre para nomes da oposição – mas esses alívios podem sumir a qualquer momento, segundo Washington. Maduro será reeleito? O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) pode lançar outro presidenciável? María Corina Machado vai conseguir concorrer? Se não ela, quem representará a oposição? É o que vamos descobrir em 2024.
Un sonido:
DESTAQUES
🇦🇷 Com preços descontrolados, Milei briga por pacotão de reformas, mas Justiça barra mudanças em regras de trabalho – Acostume-se: é provável que a Argentina, agora sob Milei, não saia mais dos destaques em 2024. As últimas semanas ajudam a entender: desde o último dia 30/12, passou a valer o chamado “mega decreto” do novo presidente, um verdadeiro pacote essencialmente neoliberal que cria, revoga ou altera um total de 300 legislações em diferentes frentes. Tem de tudo – e sempre com muita polêmica: da desregulamentação da economia a mudanças na lei dos aluguéis, do afrouxamento de garantias trabalhistas à base legal para a privatização de empresas e até clubes de futebol. Não à toa, algumas medidas de Milei já são vistas por especialistas como “inconstitucionais”. Aprovadas por meio dos chamados Decretos de Necessidade de Urgência (DNU), canetaços à margem do Legislativo que só deveriam ser adotados em momentos de calamidade, as mudanças já encontram barreiras legais: na quarta-feira (3), a Câmara Nacional do Trabalho, órgão do poder judicial que lida com o tema, anulou temporariamente parte dos DNUs relacionados às reformas trabalhistas. A medida cautelar foi concedida após uma ação movida pela principal central sindical do país, e deve enfrentar resistência do governo Milei, que já prometeu recorrer. Entenda tudo que está em jogo no resumo da Revista Crisis e veja os detalhes da nova decisão judicial – que deve ser apenas a primeira resposta formal ao “mega decreto” – no El País.
🇨🇴 Barranquilla não será mais sede do Pan de 2027 e Brasil pode herdar Jogos – A cidade de Barranquilla, na Colômbia, perdeu a condição de sede dos Jogos Pan-Americanos de 2027, informou oficialmente na quarta-feira (3) a Panam Sports, entidade responsável pela disputa poliesportiva. Segundo o órgão, a metrópole do Caribe colombiano não conseguiu apresentar garantias de que cumpriria as exigências para receber as disputas. Com pouco tempo pela frente, agora há uma corrida para definir quem herdará os Jogos: São Paulo, pré-candidata para receber o Pan de 2031, e Assunção, sede dos Jogos Sul-Americanos em 2022, aparecem como potenciais destinos. Também não está descartada a ida do evento para alguma cidade dos Estados Unidos. Sem a queda de Barranquilla, o Pan de 2027 seria a segunda oportunidade em que a competição ocorreria na Colômbia, 56 anos após os jogos de Cali, em 1971. Em El Heraldo.
🇧🇴 Em vitória para presidente Arce, Evo Morales é banido das eleições de 2025 – Com uma disputa aberta e fratricida nos corredores do governista Movimento ao Socialismo (MAS), o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) da Bolívia jogou um balde de água fria nas pretensões do ex-presidente Evo Morales (2006-2019) de voltar à Presidência: em uma decisão publicada no último sábado (30/12), o órgão anulou o mecanismo de reeleição indefinida que vinha garantindo ao antigo mandatário seguir tentando se manter no poder. Foi com esse dispositivo, à época bancado pelo próprio TCP, que Evo se lançou à controversa campanha de reeleição em 2019, que culminou com o questionamento dos resultados por opositores e o posterior golpe de Estado que colocou a interina Jeanine Áñez no cargo. De lá para cá, muita coisa mudou: a esquerda voltou ao poder com Luis Arce, ex-ministro de Economia nos anos de Morales; Áñez e outros líderes golpistas foram presos; e o MAS deu palco a uma guerra interna, com o atual presidente e o ex brigando por protagonismo. Há anos, o TCP é acusado de julgar em favor de quem manda naquele momento, uma crítica que também foi aplicada na ocasião em que garantiu a chance de reeleição a Evo, agora revertida – desta vez, é o próprio Morales quem direciona os canhões à alegada parcialidade do Tribunal, cuja decisão definiu como “prova da cumplicidade de alguns magistrados com o plano obscuro que o governo executa por ordem do imperialismo com a conspiração da direita boliviana”. Pelo novo entendimento constitucional, presidentes e vices não podem mais exercer um mandato por mais que duas vezes, consecutivas ou não – o que barra Evo, mas não Luis Arce, de tentar a sorte à frente do fraturado MAS em 2025. Via AFP.
Un reel:
MAIS NOTÍCIAS
CHILE 🇨🇱
Novo ano, novas promessas: o presidente Gabriel Boric abriu 2024 com otimismo para a economia chilena, ainda tentando se recuperar do baque pandêmico. Após um 2023 em que o PIB permaneceu estável, o mandatário afirmou em seu discurso de fim de ano em 31/12 que espera um crescimento relativamente acentuado para os próximos 12 meses – segundo o Ministério da Economia, um incremento de 2,5%, que seria acima da média regional. A expectativa de crescimento está atrelada a uma queda nas taxas de juros, que – espera La Moneda – faria os investimentos nas indústrias de lítio e hidrogênio verde acelerarem na sequência do ano. Na Bloomberg Línea.
COSTA RICA 🇨🇷
Culto à personalidade: sem explicação clara, nas últimas semanas os turistas que desembarcam no Aeroporto Internacional Juan Santamaría, o principal do país, agora se deparam com uma foto do presidente Rodrigo Chaves. O retrato, emoldurado e exposto na fila do desembarque, causou imediata controvérsia nas redes sociais: usuários costa-riquenhos que voltaram para o país nas festas de fim de ano associaram a cena a governos autoritários da região, recordando as fotos presidenciais que saúdam os visitantes na entrada da El Salvador de Nayib Bukele e na Venezuela de Nicolás Maduro. Segundo a administração do aeroporto, a colocação da foto atende a um pedido da Direção de Protocolo da Presidência da República e já teria ocorrido em governos passados, embora sem a mesma repercussão – não foi oferecida uma explicação para a imagem só aparecer em dezembro de 2023, já que Chaves tomou posse em maio de 2022. Em La Teja.
CUBA 🇨🇺
A crise não termina e, com sua persistência, 2024 deve ser mais um ano de ajustes econômicos na ilha. Como tem acontecido desde a pandemia, cada início de janeiro vem com promessa de uma das maiores reformas em décadas, mas desta vez parece que o anúncio vai mesmo além das hipérboles habituais dos analistas internacionais: aumento nos preços de energia e fim de subsídios para itens essenciais entraram na pauta do primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz no final de 2023, medidas tão parecidas com doutrinas de choque adotadas em outros cantos da América que ele próprio se apressou em explicar que não se tratava de um “pacote neoliberal contra o povo”, mas decisões “tão complexas quanto a situação” do país – que convive com inflação galopante, PIB em queda e desempenhos abaixo do esperado nas mais diversas indústrias, inclusive a do turismo, que vinha contrabalançando as perdas do setor produtivo. Moradores comparam a escassez de alimentos e medicamentos atual ao período sombrio dos anos 1990, quando o fim da União Soviética e seu suporte econômico jogou a ilha em meia década de crise e racionamento. Agora, enfrentando problemas que podem até superar o baque daquela época, surgiram inclusive rumores de que as novas medidas extinguiriam por completo a famosa libreta, que garante um mínimo de produtos essenciais para cada habitante. O presidente Miguel Díaz-Canel afirmou que não é o caso, mas não fechou totalmente as portas para uma mudança na composição do que é coberto pelos subsídios. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
Com a insegurança no centro das preocupações de seu curto mandato-tampão, o presidente Daniel Noboa, empossado em novembro, apresentou na quarta-feira (3) o plano de submeter seu pacote contra o crime organizado a uma consulta popular. O mandatário enviou uma lista de 11 questionamentos para a Corte Constitucional, que tem a missão de avaliar o que poderia entrar na cédula para um eventual referendo – temas como aumento de penas, envolvimento maior das Forças Armadas no combate aos criminosos e endurecimento das normas migratórias estão na pauta de um país que viu os números de homicídios quadruplicarem desde 2018, em meio a um avanço dos cartéis do narco. Nomeado presidente após eleições extraordinárias, Daniel Noboa tomou posse no final de 2023 sabendo que terá apenas 16 meses de mandato – pela lei, seu tempo no cargo serve apenas para completar o período presidencial de Guillermo Lasso (2021-2023), que usou o dispositivo constitucional da “morte cruzada” para encerrar seu próprio governo e a Legislatura vigente até o ano passado. Qualquer chance de reeleição de Noboa em 2025 deve passar, precisamente, pela resposta que dará aos recordes da criminalidade. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
Exatos 100 meses depois, o ex-presidente Otto Pérez Molina (2012-2015) deixou a cadeia na noite de quarta-feira (3), sob fiança. Acusado de corrupção, o então mandatário renunciou ao cargo em 3 de setembro de 2015 e foi prontamente encarcerado, aguardando por uma definição judicial – em 2022, Pérez Molina recebeu uma pena de 16 anos, mas com a opção de passar à liberdade condicional enquanto aguarda recurso. O ex-presidente pagou uma fiança de 300 mil quetzales (R$ 188 mil) e precisou deixar como garantia imóveis avaliados em 10 milhões de quetzales (R$ 6,25 milhões); além disso, não poderá deixar a Guatemala enquanto aguarda o julgamento do recurso, e deve se reapresentar às autoridades a cada 30 dias. Na Prensa Libre.
Una palabra:
Libreta – Na tradução literal do espanhol, libreta seria um caderno, livro pequeno ou bloco de anotações. Mas a palavra também é usada em diversos países da região para se referir a documentos oficiais: em Cuba, a libreta de abastecimientos é a caderneta usada para anotar os alimentos e itens básicos racionados pelo governo; na Argentina, a caderneta cívica foi concedida às mulheres para que exercessem o direito ao voto a partir de 1951; e, na Colômbia, a libreta militar é o comprovante entregue aos homens maiores de 18 anos após o cumprimento ou a dispensa do serviço militar obrigatório.
HAITI 🇭🇹
Celebrando os 220 anos da independência do Haiti, na segunda-feira (1º), o primeiro-ministro Ariel Henry voltou a repetir uma velha promessa em seu discurso que também marca a inauguração do ano: a realização de eleições no país, embora – como sempre – sem fixar uma data para isso. Henry, que na prática ocupa o poder máximo do Haiti desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, voltou a afirmar que sua missão é pacificar um país em crise antes de convocar a população às urnas. Desta vez, porém, a fala se dá em um cenário com tensões iminentes no horizonte: um acordo firmado pelo premiê com diversos grupos políticos no final de 2022 havia prometido que ele entregaria o cargo até o próximo mês de fevereiro, na vaga expectativa de que o longo intervalo daria tempo de organizar a tão aguardada votação – mas, passados mais de 12 meses da assinatura do compromisso, nada aconteceu, e Henry não dá sinais de que pretende largar o poder, enquanto opositores prometem exigir que ele faça isso quando o prazo se encerrar no dia 7 do mês que vem. Em meio a um impasse que ainda tem como pano de fundo a espera dos haitianos por uma missão internacional para auxiliar com a segurança pública (o Quênia, que prometeu liderar os esforços, deve ver sua Suprema Corte decidir ainda em janeiro sobre o envio de efetivos à nação caribenha), um país conflagrado entra em mais um ano com Ariel Henry governando por decreto e com a conivência estrangeira. Com sucessivas crises políticas e sociais, o Haiti não realiza qualquer eleição nacional desde 2016 e todos os políticos eleitos na época em nível federal já tiveram seus mandatos encerrados. No Rezo Nòdwès.
HONDURAS 🇭🇳
Já é 2024 e, por enquanto, tudo segue no estágio da promessa: uma das bandeiras da campanha presidencial de Xiomara Castro, a criação de uma comissão internacional para combater a corrupção em Honduras avança “a passos de tartaruga”, criticaram membros da Human Rights Watch (HRW) em artigo publicado no final de 2023 em El País. Castro, que vai completar dois anos no poder no dia 27 deste mês, prometeu recriar e aprofundar os trabalhos de um órgão semelhante à Maccih (Missão de Apoio Contra a Corrupção e a Impunidade em Honduras), que contava com o apoio da OEA mas foi extinta por seu antecessor, Juan Orlando Hernández, em 2020. Apesar da fala firme e da assinatura de sucessivos memorandos de entendimento com órgãos multilaterais, metade da gestão de Xiomara já passou sem sinal de estabelecimento do tal órgão – a coisa está tão lenta, aliás, que um documento firmado com a ONU em dezembro de 2022 para o estabelecimento do grupo de trabalho precisou ser renovado no fim de 2023, porque o prazo simplesmente expirou sem que houvesse avanços significativos no tema.
MÉXICO 🇲🇽
Há 30 anos nesta segunda-feira (1º), o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) ocupou a cidade de San Cristóbal de las Casas, no estado sulista de Chiapas, exigindo a renúncia do então presidente Carlos Salinas de Gortari, protestando contra os impactos da globalização – representados no tratado de livre comércio norte-americano Nafta, que acabava de entrar em vigor – e cobrando “pão, saúde, educação e autonomia” para os indígenas de sua região. Uma das revoltas populares mais significativas do final do século 20, o Levante Zapatista de 1994 despertou paixões e sonhos por autogoverno, mas também precisou encarar uma realidade cambiante nas três décadas desde que assumiu, na prática, o controle de vastas áreas de Chiapas: não só os adversários de outrora, mas também o crescente domínio de cartéis sobre as grandes cidades do estado, colocam-se como obstáculos para a vigência do EZLN depois de 30 anos em que homens e mulheres indígenas de caras tapadas fizeram tremer os poderosos do México, como conta a matéria da BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Demorou mais do que se imaginaria para um país cada vez mais isolado diplomaticamente, mas, desde a segunda-feira (1º), está em vigor o Tratado de Livre Comércio (TLC) entre a Nicarágua e a China. Explica-se: a despeito da aparente afinidade que poderia haver entre o governo de Daniel Ortega e Pequim, os dois países só estabeleceram relações diplomáticas em 2021, quando Manágua deixou de lado um longo período de reconhecimento a Taiwan – um movimento que tem sido acompanhado por várias nações centro-americanas e caribenhas que estavam entre os raros países do mundo ao lado dos taiwaneses. Com isso, o TLC só foi firmado, mesmo, no final de outubro do ano passado. Pelo acordo, a expectativa é que a Nicarágua passe a vender aos chineses – sem tarifas alfandegárias – produtos como frutos-do-mar, açúcar, amendoim e rum. Por outro lado, os chineses poderão vender boa parte de sua produção em solo nicaraguense, com exceção de itens encarados como concorrentes de alguns dos motores da economia local, como café, açúcar, arroz e carne. Via Reuters.
PANAMÁ 🇵🇦
Virada de ano com números (quase) finais para um novo recorde migratório na região: segundo dados preliminares divulgados na terça (2), o Panamá estima que pelo menos 520 mil migrantes tenham cruzado o estreito de Darién – local obrigatório de passagem para quem parte da América do Sul rumo ao norte do continente – ao longo de 2023, um recorde histórico. O número mais que duplica os dados de 2022, que por sua vez também marcaram uma alta jamais vista antes. Conforme as autoridades panamenhas, a maioria dos migrantes é de outros países latino-americanos – Venezuela, Equador e Haiti – sendo também registrado um surpreendente aumento de chineses fazendo a travessia. Via Reuters.
Dale un vistazo:
PARAGUAI 🇵🇾
Uma execução em uma propriedade do ex-presidente Juan Carlos Wasmosy (1993-1998) chamou a atenção das autoridades no final de dezembro devido à violência do crime: um vigilante que patrulhava a estância Santa Teresa foi emboscado e assassinado com 11 tiros, por indivíduos não identificados, na noite de 27/12. Nenhum crime subsequente foi reportado pela polícia, aumentando a estranheza e a suspeita de que poderia haver uma motivação ulterior ainda não descoberta para o episódio. A área da fazenda também é notória pela atuação da guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP), conhecida por seus sequestros que terminam sem resolução, por vezes envolvendo figuras da política nacional – o último caso de alto perfil foi o rapto do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), em setembro de 2020; Denis, que hoje teria 77 anos caso ainda siga vivo, nunca foi localizado. No La Nación.
PERU 🇵🇪
A fervura baixou, mas quem apanha não esquece: a Associação de Vítimas de Juliaca, que recorda as 18 pessoas mortas em manifestações contra o governo de Dina Boluarte no início de 2023, anunciou na quarta-feira (3) que está convocando marchas para toda a região de Puno no primeiro aniversário dos massacres, em 9/1. A violência das forças de segurança ocorreu em meio a uma série de protestos que exigiam a realização de eleições antecipadas após a posse repentina de Boluarte. Tudo começou quando o então presidente Pedro Castillo fracassou em suas tentativas de fechar o Congresso à força para se salvar de um processo de impeachment, em dezembro de 2022 – Castillo foi removido do cargo e preso, e Boluarte, sua vice, tornou-se a líder do Executivo mesmo com forte oposição nas ruas. As marchas da próxima semana em Puno procuram recolocar no debate nacional a responsabilização do governo pela violência cometida por forças policiais, um tema relativamente adormecido mesmo frente a pesadas denúncias internacionais: a Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH), por exemplo, afirma ter identificado execuções extrajudiciais no contexto dos protestos e tem exigido investigações mais aprofundadas sobre a responsabilidade do Estado peruano nas mortes. Na teleSUR.
PORTO RICO 🇵🇷
Não é presidente, mas quem também vai às urnas para renovar seu Executivo em 2024 é Porto Rico, com a escolha do futuro governador (ou a manutenção do atual no cargo) prevista para 5/11 – em paralelo às eleições federais dos EUA, do qual a ilha é um estado livre associado. A caminho do pleito, o governador Pedro Pierluisi foi advertido por autoridades eleitorais na quarta-feira (3) sobre um lema que sua administração vem utilizando – e foi enquadrado como slogan eleitoral antecipado. Haciendo que las cosas pasen (“fazendo as coisas acontecerem”) é a frase com a qual Pierluisi pretendia promover as ações de seu governo, mas foi alvo de um processo do opositor Partido Popular Democrático (PPD), que também alega que verbas públicas da propaganda oficial foram empregadas para levar adiante a mensagem oficialista. Agora sem slogan, não é só com o PPD que o governador terá de se preocupar: antes, Pierluisi também deve passar por primárias dentro do próprio Partido Novo Progressista (PNP), nas quais será desafiado por Jenniffer González, hoje comissária residente de Porto Rico no Congresso em Washington (um cargo que representa, sem direito a voto, os interesses da ilha). Além de discordâncias internas, a necessidade de primárias corresponde ao modo como a política porto-riquenha se organiza: embora Pierluisi e González sejam ambos do PNP, cada um representa uma legenda diferente dos Estados Unidos – ele, o Partido Democrata e ela, o Republicano. Em El Nuevo Día.
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