El Salvador impõe ‘cota’ de prisões e tira comida de detentos
Bolívia reclama de “intromissão” dos EUA em denúncia sobre caso Áñez | Chile: anunciado plano de racionamento de água | Equador: vice de Rafael Correa é solto
Mais de 10 mil supostos pandilleros presos, muitos tuítes ironizando violações aos direitos humanos e uma constante briga diplomática virtual com os EUA. Essa tem sido a rotina do presidente Nayib Bukele dias após o país viver seu dia mais violento em décadas (saiba mais no GIRO #125), quando, depois de um 2021 relativamente seguro para os padrões salvadorenhos, 62 corpos brotaram pelas ruas do país em questão de 24 horas. As mortes, atribuídas ao conflito urbano entre as temidas e violentas maras, levaram Bukele a fazer o que sempre fez quando o sangue passa a correr pelo chão: a brutalizar a agenda da segurança pública sem qualquer escrúpulo ou possibilidade de ser impedido. E, de quebra, capitalizar politicamente em cima disso, como já fez durante a pandemia.
Desde o sábado sangrento, em 26/3, a empreitada de agentes de segurança contra os bandos armados – respaldada pela retirada de garantias constitucionais básicas – levou a uma prisão massiva de criminosos, o que, segundo dados oficiais, reduziu a zero os homicídios durante os primeiros dias de abril. Mas, em um país totalmente dominado por um governante, há um preço. A nova leva de detenções vem sob circunstâncias abusivas, e passou a acontecer sob um discurso cada vez mais infame: no Twitter, onde costuma falar sem papas na língua, Bukele chegou a dizer que os pandilleros presos ficariam “sem comer um mísero grão de arroz” se a violência continuasse, sobretudo se os ataques de retaliação ocorressem contra “civis inocentes”. E enquanto Bukele seguia debochando das violações de direitos humanos cometidas pela segurança pública, mais relatos preocupantes: comandantes ligados ao sindicato da Polícia Civil salvadorenha relatam que estão sob pressão para que sejam cumpridas verdadeiras “cotas” diárias de detenção, gerando casos de prisões arbitrárias, muitas vezes ocorrendo sob falsos depoimentos. Em Cinquera, uma localidade central do país, a polícia prendeu 30 pessoas que sequer têm ligação comprovada com os bandos armados. “Eles fazem isso mesmo sabendo perfeitamente que não há membros de gangue ali”, diz um representante do sindicato da corporação.
E quem pode se opor às ambições de Bukele? Essa é a grande pergunta em um país onde o presidente, que mantém sua popularidade elevada justamente por seu discurso de tolerância zero contra o crime, passou a dominar o Congresso e até mexeu na Suprema Corte e na Procuradoria em 2021 para ter todo o poder à mão. A justificativa, na época e agora, segue a mesma: tudo faz parte de um plano anti-establishment de limpeza do sistema político que o mandatário acusa de colaborar com a impunidade e a violência – a criminalidade descontrolada chegou a fazer de El Salvador o líder mundial em homicídios a cada 100 mil habitantes em 2015 e permitiu que falas como a de Bukele encontrassem cada vez mais eco. E nem mesmo a imprensa local tem encontrado força para denunciar os evidentes atropelos constitucionais do governo. Além de ordenar uma onda indiscriminadas de prisões, Bukele também fez passar no Congresso, no início de abril, uma espécie de “lei de mordaça”, que pune com pena de 10 a 15 anos de cadeia qualquer um que divulgar mensagens das pandillas, mesmo de forma noticiosa – o argumento daqueles favoráveis à lei diz que o crime organizado deixa mensagens em muros para coordenar ataques e delimitar controles territoriais.
Um dos jornais mais críticos contra a censura à liberdade de imprensa é El Faro, principal veículo salvadorenho e velho adversário de Bukele. Em resposta à reforma ligeira do Código Penal, o portal passou 24 horas sem publicar nada em sua página principal após a decisão do legislativo, acirrando um briga que virou uma novela: para além de ser uma das poucas vozes ativas contra os atropelos do presidente, o El Faro é responsável por um furo de reportagem que, ainda em 2020, ligou pela primeira vez a administração atual a uma rede de negociações secretas com as mesmas pandillas que o governo reprime em troca de prestígio (saiba mais no GIRO #46). Além do óbvio contrassenso envolvendo os acordos silenciosos, soma-se à denúncia o fato de que o próprio Bukele, no início de sua gestão, acusava as antigas administrações de fazer o mesmo.
A sequência de mortes, desmandos e tensões internas tem repercutido para além das fronteiras centro-americanas. Os EUA condenaram o quadro de violência, mas reforçaram a necessidade de San Salvador seguir protegendo liberdades civis e a liberdade de expressão, palavras do Secretário de Estado Antony Blinken. Bukele, que durante o enfrentamento da pandemia passou a trocar farpas com Washington enquanto se aproximava da China, respondeu: “vocês têm os terroristas de vocês; nós temos os nossos”. O líder também reforçou que o apoio financeiro estadunidense para o combate ao crime era algo dos tempos de Donald Trump – e que, agora, os EUA só ajudam as gangues com seu “apoio à ‘liberdade civil’”. Após a entrada de Joe Biden, os EUA passaram a dedicar a ONGs de El Salvador as verbas que antes eram embolsadas pelo governo salvadorenho, motivo por trás da mais nova crítica de Bukele a Washington.
Seja como for, é improvável que a condução de qualquer crise envolvendo segurança pública mude, pelo menos enquanto Nayib Bukele mantiver plenos poderes em uma El Salvador que urge por balazos contra balazos e aplaude o discurso radical do presidente. E o horizonte tampouco é sereno: diante de um domínio absoluto dos poderes, respaldado pelas pesquisas e cada vez mais brutal contra vozes dissidentes, o mandatário tem tudo para estender seu projeto autoritário, mesmo que isso signifique mudar a Constituição, atirar para matar e rir de quem estiver no caminho.
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DESTAQUES
🇧🇴 EUA acusam manipulação em processo contra Áñez; Bolívia denuncia “intromissão” – Depois de endossar o resultado do golpe de 2019, os EUA agora questionam o processo que tenta investigá-lo: um novo informe do Departamento de Estado em Washington acusa o governo Luis Arce de manipular o processo e pressionar juízes para atuar contra a ex-interina Jeanine Áñez (2019-2020), presa preventivamente desde março do ano passado por seu papel no golpe e nos massacres subsequentes. A oposição celebrou o relatório e disse que seria uma nova prova de que, no país, não haveria independência judicial. Os governistas chamaram o informe de “panfleto”, e a chancelaria afirmou que “rechaça categoricamente a intromissão de terceiros países” em questões internas bolivianas. “Inferências sem fundamento” e “juízos de valor inapropriados” foram outros termos utilizados pelo Ministério de Relações Exteriores boliviano sobre a nova investida estadunidense na questão. No Listin Diario.
🇨🇱 Inédito plano de racionamento de água é anunciado – Vivendo o 13º ano consecutivo de seca, pela primeira vez na história, a capital Santiago anuncia um plano de racionamento de água. “Estamos em uma situação sem precedentes nos 491 anos da cidade, em que temos que nos preparar para não ter água suficiente para todos que vivem aqui”, disse Claudio Orrego, governador da Região Metropolitana de Santiago. A ideia é implementar um sistema de alerta de quatro níveis de cor, que oscilam de verde a vermelho: no menor, os cuidados se limitam a anúncios públicos para conscientizar a população sobre a necessidade de poupar, avançando pouco a pouco para restrições à pressão da água entregue à população e chegando a cortes rotativos de até 24 horas no fornecimento para o 1,7 milhão de clientes da Região Metropolitana. O plano entra em vigor se o governo decretar oficialmente o racionamento de água – algo que, no mês passado, o presidente Gabriel Boric não descartou fazer a curto ou médio prazo, especialmente nas três áreas do leste de Santiago que estão passando pela situação mais crítica. A escassez de chuvas não é o único dos motivos para o problema: 80% da propriedade sobre a água está em mãos privadas, principalmente de grandes empresas agrícolas, mineradoras e gigantes do setor de energia. Via Reuters.
🇪🇨 Vice de Rafael Correa sai da prisão – O ex-vice-presidente Jorge Glas (2007-2017), que havia sido condenado a oito anos de prisão por corrupção, foi solto no início da semana por meio de um habeas corpus aceito pela justiça local. O antigo colega de chapa de Rafael Correa – líder socialista hoje asilado na Bélgica alegando ser vítima de lawfare – foi preso no final de 2017, após ser julgado culpado no âmbito dos escândalos da Odebrecht. Agora em condicional, Glas segue proibido de deixar o país. Desde sua prisão, o correísta alegava ser vítima de “perseguição política”, discurso mantido após sua liberação. A notícia correu o país e hipóteses foram levantadas sobre um possível acordo entre o governo e o Revolución Ciudadana, coalizão que ainda orbita Correa, para facilitar a soltura do ex-vice. O presidente Guillermo Lasso, que chegou a ser criticado enquanto o boato ganhava força, negou publicamente qualquer acerto: “não compactuamos com corrupção”, disse. Na DW.
🇳🇮 Ortega agora investe contra os músicos – A história latino-americana já mostrou mais de uma vez que um violão faz mais estrago que uma carabina. E, em uma Nicarágua dominada por Daniel Ortega, esse tem sido o caso mais uma vez. Nos últimos dias, a polícia – que atua aos sabores do presidente – invadiu a casa do cantor Josué Monroy, que instantaneamente se tornou um novo rosto da dissidência perseguida pelo projeto pessoal de poder do ex-líder revolucionário. E a intimidação persistiu: em menos de 24 horas, outros três produtores foram presos, além de um cantor italiano que será deportado pelas autoridades nicaraguenses. Na maioria dos casos, são jovens artistas que usam a música para criticar o que ONGs, ativistas e até mesmo ex-guerrilheiros e lideranças socialistas também denunciam: que, especialmente após 2018, a antiga revolução foi sequestrada pela tirania de um único homem. Em El País.
🇵🇦 Migração segue batendo recorde em Darién – Ponto central da migração indocumentada na América Latina por ser passagem obrigatória para quem vem dos países sul-americanos rumo ao norte, o estreito de Darién segue vendo números recordes de pessoas tentando cruzar a perigosa selva onde muitos perdem a vida pelo caminho: de janeiro a março, pelo menos 13.425 migrantes atravessaram a região, segundo o Serviço Nacional de Migração do Panamá – um aumento de quase 139% em relação às 5.622 pessoas registradas no mesmo período do ano anterior. Os venezuelanos voltaram a liderar a contagem de migrantes cruzando Darién, após dois anos em que os haitianos responderam pela maioria; as duas nacionalidades são seguidas na lista por senegaleses e cubanos. Via Reuters.
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ARGENTINA 🇦🇷
Com a segunda maior inflação do planeta, a Argentina vê o índice avançar 6,7% em março. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), só no primeiro trimestre a inflação acumulou 16,1%, marco que não era registrado desde o início dos anos 1990. Apesar de o país viver há 13 anos com a inflação na casa de dois dígitos, o presidente Alberto Fernández coloca a culpa das taxas elevadas na guerra da Ucrânia, mesmo que o setor argentino mais afetado pela alta seja a educação, que não recebe insumos nem da Ucrânia, nem da Rússia. Em resposta à divulgação das taxas inflacionárias, milhares de pessoas foram às ruas de Buenos Aires para protestar. No G1.
Em meio à colheita de milho e perto de começar a colheita da soja, principal cultivo do país, transportadores de grãos iniciaram uma greve por tempo indeterminado no início desta semana, a fim de exigir o cumprimento do acordo de pagamento de valores acordados com as empresas de coleta e processamento de grãos. A iniciativa foi guiada pela Federação de Transportadores Argentinos (Feltra), que paralisou parcialmente a entrada dos produtos nos centros de processamento e nos portos do país, um dos principais produtores e exportadores mundiais de cereais e óleo. Os manifestantes cobram também que as tarifas de serviço estipuladas em outubro do ano passado sejam quitadas. Via AP.
CHILE 🇨🇱
Filme de terror para uma menina de 8 anos que comprou um churrasquinho de rua: após comer um espetinho que acreditava conter carne de gado, ela descobriu que havia ingerido… um chip de cachorro. O anticucho (saiba mais em Una palabra) amaldiçoado foi adquirido na Estación Central, comuna na região oeste da capital Santiago onde fica a estação de trens homônima. A menina precisou ser internada com dores no estômago – a princípio, causadas mais pelo chip do que pela carne irregular – e as autoridades contataram a família do mascote (um poodle) que acabou tendo um trágico final e pôde ser identificado graças ao chip. Uma investigação foi aberta pela polícia por crime contra a saúde pública e o governo da Estación Central pediu que a população redobre os cuidados para não comprar comida de vendedores ambulantes não autorizados. No Meganoticias.
COLÔMBIA 🇨🇴
Armamento em troca de cocaína. Nos últimos anos, os narcotraficantes mexicanos começaram a investir na produção de cocaína colombiana e, para isso, transformaram seu armamento em moeda de troca com os grupos criminosos da Colômbia. Os cartéis mexicanos enviam armas de alta potência para o país de Gabriel Garcia Márquez como parte do pagamento pela droga – segundo as autoridades locais, a maior parte das quase 1,5 mil armas de longo alcance confiscadas em 2020 e 2021 foram fabricadas no estrangeiro. Uma vez na Colômbia, os equipamentos bélicos reforçam as dissidências que mantém um clima de guerra civil em pontos do interior do país, enfraquecendo os acordos de paz que, em 2016, desmobilizaram as antigas FARC, mas não os grupos que se dizem seus herdeiros ou antigos rivais. Via Reuters.
Un nombre:
El Coloso – Não há outra definição para um jogador agraciado com força física, habilidade e inteligência. Esse era Freddy Rincón, meia colombiano que nos deixou na quinta (14), aos 55 anos, após um grave acidente de carro na cidade colombiana de Cali. Com passagens por clubes brasileiros como Corinthians, Palmeiras e Santos, ‘El Coloso’, como ficou conhecido nas crônicas esportivas, fez parte da melhor geração do futebol de seu país, nos anos 1990, e é responsável pelo que é considerado o gol mais icônico da história do futebol colombiano – que rendeu até crônica de Eduardo Galeano (saiba mais em Un hilo).
COSTA RICA 🇨🇷
Abacate mexicano sem restrição: um painel da Organização Mundial do Comércio (OMC) entendeu que a Costa Rica comete “discriminação” contra o produto vindo do México, que desde 2015 tinha restrições de importação por parte da nação centro-americana. A alegação costa-riquenha é que haveria “riscos sanitários” à produção local, pois o abacate mexicano poderia trazer consigo uma praga, mas a OMC apontou a ausência de embasamento científico suficiente. O protecionismo disfarçado, agora, terá que ser revisto pela Costa Rica, sob o entendimento de que todo o abacate vindo do México se destina ao consumo humano e, mesmo se eventualmente contaminado, não traz riscos a quem comê-lo nem ao cultivo local – segundo a OMC e os mexicanos, não há qualquer registro no mundo que o abacate vindo do país tenha contaminado alguma plantação nos países importadores. No Infobae.
CUBA 🇨🇺
Até mesmo o famoso lutador de artes marciais honconguês Jackie Chan faz mais por Cuba do que os EUA (e suas duras sanções econômicas) quando o assunto é pandemia. Alegando intenções de estreitar relações culturais com Havana, o ator prometeu enviar ao sistema de saúde cubano 1 milhão de máscaras faciais para proteção contra o coronavírus. As informações vieram de representantes diplomáticos cubanos na China, após Chan fazer uma declaração elogiosa à ilha na embaixada do país caribenho em Pequim. Na Prensa Latina.
GUATEMALA 🇬🇹
Após mais de 2 mil anos enterrada no fundo do Lago de Atitlán, na Guatemala, uma antiga cidade maia foi mapeada pela Unesco. Para tentar explicar os anos de submersão, os arqueólogos atualmente estão convencidos de que a localidade ancestral foi construída em uma ilha que, em determinado momento, foi afetada por terra que desmoronou para dentro da água. O projeto de mapeamento utilizou tecnologias de georreferenciamento e planimetria capazes de coletar as coordenadas, medidas e formas dos objetos contidos na área. O mapeamento poderá ser usado para a construção de modelos do sítio arqueológico, permitindo inclusive a criação de passeios virtuais pelo local desaparecido. Na Galileu.
HAITI 🇭🇹
Um grupo de advogados se reuniu em frente à residência do premiê Ariel Henry – hoje o homem mais forte do país – na capital Porto Príncipe para protestar contra o aumento da insegurança contra a classe. Segundo a categoria, pelo menos sete advogados foram sequestrados em fevereiro e um chegou a ser morto enquanto dirigia. A violência, de fato, não se restringe a eles, mas o aumento específico de casos contra esses profissionais levou a uma manifestação coletiva – o que também se viu entre médicos e transportistas. De acordo com organizações independentes, entre janeiro e março de 2022, foram registrados 225 sequestros, um aumento de 58% em relação aos 142 casos do mesmo período do ano anterior. Na Prensa Latina.
HONDURAS 🇭🇳
Agora há previsão de data: o ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), que deixou o cargo em janeiro e foi preso três semanas depois a pedido dos EUA, deverá ser extraditado para encarar a Justiça norte-americana na semana que vem, entre os dias 20 e 22. Esgotados todos os recursos de JOH, só falta mesmo marcar a viagem, onde ele encara inclusive a perspectiva de pegar uma pena perpétua, a mesma à qual seu irmão, o ex-deputado Tony Hernández, já foi condenado em 2021 – os dois foram acusados pelas autoridades estadunidenses de crimes relacionados ao narcotráfico. Outro antigo alto funcionário hondurenho, o ex-chefe da Polícia Nacional, Juan Carlos Tigre Bonilla, também teve sua extradição autorizada nesta semana, por acusações semelhantes – em seu caso ainda há possibilidade de recorrer, mas especialistas apontam que, como no caso do ex-presidente, tudo não passaria de uma formalidade para adiar o inevitável. Via AFP.
Demorou, foi preciso criar uma comissão e até mesmo ameaçar grevistas com punição, mas governo e o setor de transportes finalmente se acertaram. As últimas semanas foram marcadas por uma paralisação entre transportistas, que reivindicavam ajuda diante da alta no preço dos combustíveis (um problema sentido em toda a região). Mas, mesmo com algumas reduções, nada de consenso – o que começou a prejudicar ainda mais a economia por conta dos problemas logísticos. Insatisfeita, a presidenta Xiomara Castro chegou a sugerir que o paro seria criminoso e até um boicote a seu recém-empossado governo. Após a criação de um comitê especial para resolver o impasse, fumaça branca: entre as novidades aprovadas está o aumento da tarifa do ônibus intermunicipal e a aprovação do quarto passageiro nos táxis coletivos, sempre cobrando 20 lempiras por pessoa. Em El Heraldo.
Un hilo:
MÉXICO 🇲🇽
AMLO até 2024. Esse foi o resultado do referendo revogatório convocado pelo próprio presidente e que aconteceu no último domingo (10), marcando o meio do mandato do mandatário – agora com caminho livre para governar até o fim. E o resultado seria favorável a López Obrador de qualquer forma: para além dos quase 92% de votos favoráveis à permanência do presidente, a votação não seria vinculativa de todo modo, já que não houve comparecimento de pelo menos 40% do eleitorado (só cerca de 17,5% dos mexicanos habilitados a votar foram às urnas). Seja pelo apoio ou pela invalidade da medida, Obrador seguirá no cargo até 2024, e com uma boa possibilidade de capitalizar os resultados do último final de semana: a própria votação, inédita na história do México, segue uma promessa feita por ele em 2018. “Do mesmo jeito que me elegeram, poderão me tirar”, disse, mas garantindo que ganharia, “porque teremos resultados”. A oposição sabia que o resultado era óbvio e até convocou a boicotar o processo. A esperada vitória a favor da manutenção do governo se refletiu em números dias antes do processo: segundo uma pesquisa do portal El Financiero, a popularidade de Obrador bateu 57% dias antes do referendo. Página virada, o presidente, agora, promete seguir suas promessas de mexer com a estrutura política. Na BBC.
PARAGUAI 🇵🇾
Ainda tentando reativar a indústria turística após o baque pandêmico, o Ministério que lida com o tema no país apostou nesta Semana Santa como um período para tentar atrair estrangeiros. “Experiências únicas” é o que o Paraguai tem a oferecer, diz a titular da pasta, Sofía Montiel de Afara, reconhecendo que o país costuma ser visto como pouco atrativo pelos viajantes. “O Paraguai não tem praias, mas tem uma rica cultura a mostrar, um caminho jesuítico a percorrer, e locais com uma riqueza cultural, étnica e costumes que são muito nossas”, afirmou. O Paraguai recebeu cerca de 136 mil turistas internacionais nos primeiros três meses deste ano, ainda longe dos números pré-pandemia: ao longo de 2019, foram 1,2 milhão de viajantes chegando ao país, uma média de 300 mil por trimestre. Via EFE.
Una palabra:
Anticucho – é como se chamam os espetinhos de carne assada nos países andinos, como aquele consumido pela menina chilena que, depois, descobriu que na verdade havia comido cachorro (leia na seção do país). Um anticucho legítimo geralmente contém carne ou coração bovinos e temperos, especialmente a pimenta conhecida localmente como ají. Como um bom espetinho, qualquer tipo de carne pode ser utilizado e, em tempos pré-colombianos, era comum que a lhama aparecesse na mistura. O nome vem do quéchua, embora o significado original exato seja duvidoso – há quem diga que seria a soma de anti (“oeste” e origem do nome dos Andes) e kuchu (“corte”), resultando em “corte dos Andes”, e outros defendem que na verdade seria a junção de anti com uchu (nome dado a uma mistura contendo o ají).
PERU 🇵🇪
Vivendo a maior crise inflacionária em décadas, os peruanos mais pobres já passam por dificuldades para comprar alimentos. Regiões humildes do país enfrentam crise para alimentar a população mais vulnerável, vendo-se obrigados a cortar proteínas e carboidratos da dieta. O presidente Pedro Castillo acionou medidas para reduzir preços, incluindo a isenção fiscal sobre vendas de alimentos básicos, mas ainda se debate no Congresso quais itens devem ser incluídos na redução. O país também aumentou o salário mínimo em 10%, para 1.025 soles (R$ 1.290), uma medida que não favorece a maioria da população que vive de empregos informais, além de oferecer vales para subsidiar o gás de cozinha à população de baixa renda. Via Reuters.
Fray Castillo e Gian Marco Castillo, sobrinhos do presidente Pedro Castillo, receberam ordem de prisão devido ao risco de fuga enquanto são investigados por suposta corrupção. Fray e Gian estão sob investigação por alegadamente fazerem parte de uma rede criminosa no Ministério dos Transportes e Comunicações. A resolução judicial surge no meio de novas denúncias no Congresso contra o tio, Pedro Castillo, a última das quais é por “trair a Pátria” – em mais um capítulo da interminável saga legislativa para tentar apartar o presidente, em um cenário em que a oposição até conta com a maioria dos votos, mas não tem apoio suficiente para derrubar o presidente sem que haja deserções na base aliada. No Página 12.
Estado de emergência, mas por razões… turísticas. Essa foi a decisão do Executivo diante de uma baixa histórica em números fundamentais para a economia, efeito de dois anos de pandemia. Com a decisão, daqui até o final do ano serão priorizadas medidas financeiras que permitam a reativação do setor. As quarentenas e restrições de mobilidade e entrada devido à crise sanitária provocaram uma queda de quase 80% no ingresso de turistas estrangeiros no país andino. Segundo o governo Castillo, retomar os índices pré-coronavírus é um “compromisso real”. Via EFE.
Dale un vistazo:
📽️ Bestia – Em formato de stop motion, um fantasma da ditadura de Pinochet vira tema da produção chilena que chegou a ser indicada ao Oscar 2022 como Melhor Curta-Metragem de Animação. Bestia mostra a história de Íngrid Olderöck, uma ex-agente da Direção de Inteligência Nacional (DINA), o serviço de segurança criado no Chile pelo ditador Augusto Pinochet após a derrubada de Salvador Allende em 1973. Olderöck, representada pelo personagem de porcelana, material frágil e delicado, nem de longe tem a ver com a personalidade da torturadora real que inspirou a película. Olderöck teve sua vida dedicada à violação de mulheres por meio de torturas sexuais com cães e, em pouco mais de 16 minutos, é retratado o cotidiano de seu infame trabalho. A imagem da mulher, em um primeiro momento, é construída como alguém solitária e inexpressiva, que vai se escalando de modo a revelar a face de um personagem macabro. Disponível aqui.
📽️ ‘Bestia’ (Chile, 2021). 16 minutos. Dir.: Hugo Covarrubias.
PORTO RICO 🇵🇷
O mais novo apagão na ilha (leia no GIRO #126) chegou ao fim na segunda-feira (11), após cinco dias de transtornos em todas as partes de Porto Rico. Desta vez, tudo começou em um incêndio na usina de Costa Sur, uma das quatro que abastecem a população local, e as causas ainda estão sendo investigadas. “Não há dúvida de que a rede elétrica de Porto Rico é incrivelmente frágil”, admitiu Wayne Stensby, CEO da Luma, empresa que assumiu a transmissão e distribuição de energia após a privatização do ano passado, e é alvo de constantes protestos pela piora do serviço desde então. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O presidente Luis Abinader é mais um a empregar ativamente contas falsas para gerar um “debate positivo” sobre suas políticas nas redes sociais. Uma investigação independente mostrou que, seguindo quase integralmente uma tática utilizada pelo equatoriano Guillermo Lasso quando seu nome foi citado nos Pandora Papers, Abinader se vale de notícias publicadas por veículos “amigos”, que depois são repercutidas por fakes que ajudam a criar, no ambiente virtual, uma ilusão de apoio maior que o real ao mandatário. No Público.
URUGUAI 🇺🇾
Um dos grandes autores uruguaios do século 20, Mario Benedetti (1920-2009) legou à Espanha um tesouro: a biblioteca pessoal de mais de 6 mil volumes que manteve quando esteve exilado em Madri, bem como uma série de anotações manuscritas, estão depositadas desde 2006 na Universidade de Alicante. A novidade: essas páginas, que revelam uma faceta menos conhecida do poeta e romancista como leitor e crítico literário, agora estão sendo digitalizadas para que possam ser objeto de pesquisas inclusive por quem não consegue ir à Europa. Opositor da ditadura uruguaia iniciada em 1973, Benedetti exilou-se na Argentina, no Peru e em Cuba, antes de viver na Espanha entre 1980 e 1985, quando voltou ao paisito durante a redemocratização. Via EFE.
O Banco Patagonia, argentino, que até aqui era a única instituição financeira externa (IFE) operando no Uruguai, anunciou o encerramento de suas atividades no país. Pela legislação, as IFEs atuam como intermediadoras financeiras para clientes não residentes no Uruguai. O problema: nos últimos anos, grande parte dos argentinos com negócios em solo uruguaio – a base majoritária do banco – passou a solicitar a residência ao governo em Montevidéu, após uma série de vantagens anunciadas pela gestão de Luis Lacalle Pou para imigrantes endinheirados – só em 2021, foram quase 12,5 mil pedidos do tipo. Como resultado, o Patagonia começou a acumular prejuízos e finalmente anunciou a saída do país para os próximos seis meses. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Há 20 anos nesta segunda-feira (11), o bolivarianismo poderia ter chegado ao fim ainda em seus primeiros dias: foi nesta data, em 2002, que um golpe tentou remover Hugo Chávez (1999-2013), dando início a um governo-relâmpago autoproclamado pelo empresário e representante da Federação Venezuelana de Câmaras de Comércio (Fedecámaras) Pedro Carmona, em jornadas violentas que deixaram 19 mortos nos arredores do palácio presidencial de Miraflores. O ato agressivo e antidemocrático acabaria sendo um tiro no pé dos contrários à esquerda venezuelana: sufocado em apenas três dias, o Carmonazo foi ridicularizado, seus líderes inviabilizados e Chávez retornou ao poder ainda mais forte, tendo ganhado uma demonstração prática do golpismo da oposição e de setores da imprensa – que até então ainda era um recurso retórico de seu governo. Passadas duas décadas, a investida de 2002 hoje é vista como o pretexto perfeito para o governo justificar as profundas mudanças que faria depois na Venezuela, iniciando uma escalada centralizadora – e autoritária – que o permitiu seguir no poder até hoje, mesmo após a morte do próprio Hugo Chávez. A tensão e as reviravoltas daquele dia foram capturadas nas lentes dos cineastas irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Brien, que estavam acompanhando Chávez na época dos acontecimentos e acabaram convertendo os registros históricos no documentário – simpático ao chavismo – A revolução não será televisionada, lançado em 2003. Na BBC.
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