Visita de Petro à Venezuela encerra hostilidade entre vizinhos
Argentina: Kirchner vincula atentado sofrido a apoiadores de Macri | Bolívia: oposição agora promete greve geral | El Salvador: guerra às gangues tem até destruição de sepulturas
Quase uma década se passou desde a última visita de um presidente colombiano à Venezuela. Em 2013, já com uma relação estremecida, Juan Manuel Santos (2010-2018) protagonizou a reunião anterior com seu homólogo em território venezuelano. O hiato foi encerrado oficialmente na terça-feira (1º), data que marcou o primeiro encontro presencial entre os mandatários Nicolás Maduro e Gustavo Petro, em Caracas. A reunião deu um passo adiante na retomada de relações diplomáticas que já haviam sido tiradas de três anos de hibernação há alguns meses – antes da chegada de Petro e ainda sob a batuta do direitista Iván Duque (2018-2022), Bogotá rompeu completamente com o governo chavista em 2019, fato que levou a um dos momentos de maior tensão política e econômica entre as nações vizinhas na última década. Não mais: no Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, um sorridente Maduro projetou uma nova etapa de cooperação internacional: “Colômbia e Venezuela têm um destino comum”, disse.
Para além de carimbar o processo de reaproximação entre os dois países, o tête-à-tête também começou a estruturar uma nova agenda binacional com a assinatura de uma declaração conjunta que envolve parcerias em diversas áreas. Entre as medidas de mútuo interesse, está a resolução dos conflitos armados e humanitários que se estendem pelos mais de 2,2 mil quilômetros de fronteira que dividem os dois territórios, terreno dominado por grupos armados e que, ante a crise econômica venezuelana, tornou-se uma zona de intensa migração – Petro assumiu o país com mais de 2,5 milhões de migrantes do país vizinho, um recorde no quesito. Para o novo mandatário colombiano, “reabrir e restabelecer o pleno exercício dos direitos humanos” em zonas fronteiriças já estava nos planos desde junho.
Com a reabertura dos trechos para travessia de veículos de carga realizada no final de setembro, faltava converter a buena ola em capital político. Se o reencontro acabou torcendo narizes de outras lideranças latino-americanas que seguem às voltas com Maduro – críticas ora baseadas nas denúncias de violações aos direitos humanos, ora fundadas em discursos beligerantes como os de Jair Bolsonaro –, a restauração das relações pode render frutos ao lado venezuelano, que busca ser reinserido no xadrez global.
Neste mês, por exemplo, foi oficializado o retorno da Venezuela ao sistema da Corte Interamericana de Direitos Humanos, um avanço que pode estar ligado justamente aos esforços conjuntos do governo de Petro, que agora serve de aliado para o reingresso de Caracas em organismos regionais. A crise envolvendo o país caribenho e a Corte IDH é anterior ao próprio Maduro: foi Hugo Chávez (2002-2013) quem, em 2012, forçou a saída das esferas jurídicas multilaterais, num dos primeiros passos da longa caminhada do país até um isolamento diplomático total anos mais tarde.
Aos poucos, a Venezuela volta ao jogo regional. Entre os integrantes da comitiva de Petro que visitou Caracas na última semana, estava o novo Representante Permanente da Colômbia junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Ernesto Vargas. Um parêntese importante: foi a mesma OEA que, sob o comando do atual secretário-geral Luis Almagro, não mediu esforços para condenar as violações do governo Maduro, embora fizesse vista grossa para os abusos cometidos por governos de direita. Almagro – que atuou como chanceler no governo do José “Pepe” Mujica (2010-2015) – chegou a ser expulso da coalizão uruguaia de centro-esquerda Frente Ampla após sugerir em 2018 que nem mesmo uma intervenção militar poderia ser descartada para tirar o chavismo do poder.
Ademais dos laços reatados com a Colômbia, o herdeiro de Chávez também vê um cenário menos hostil se desenhar pela região: com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no pleito brasileiro do último domingo (30/10), pela primeira vez as cinco principais economias latino-americanas (Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e México) estarão sob a égide de presidentes (uns mais, outros menos) à esquerda no espectro. É certo que Maduro não encontrará apoio incondicional mesmo entre esses homólogos – o chileno Gabriel Boric, por exemplo, é prova de que críticas também partirão da esquerda – mas o não-reconhecimento da liderança chavista, fato comum e incontornável entre governos conservadores, já é algo que deve diminuir. O próprio Lula, a quem Maduro telefonou na segunda (31) para tratar da retomada de uma “agenda de cooperação” após os anos de inimizade com o Brasil, chegou a cutucar o chavismo em setembro. A ex-presidenta Dilma Rousseff (2011-2016) foi pelo mesmo caminho em janeiro, numa mostra de que a situação pode até ter voltado a favorecer os bolivarianos, mas não é idêntica à primeira década do século 21.
Outra janela que se abre diante de um horizonte menos turbulento para a Venezuela diz respeito ao futuro político da oposição que tenta vencer o chavismo democraticamente – sobretudo após o fiasco envolvendo o cada vez mais esvaziado Juan Guaidó, cujo esfarrapado plano de tomar o poder por outras vias nunca foi adiante; a oposição também já cogita apontar lideranças alternativas. Na quarta (2), fontes revelaram que as duas partes planejam retomar diálogos em breve e que o foco das negociações será o estabelecimento de condições viáveis para a realização de eleições presidenciais em 2024 (em pleitos passados, adversários do governo boicotaram processos sob denúncias de fraude eleitoral). O encontro deve acontecer no México, outro país que se prontificou a mediar uma saída pacífica à crise. O governo Petro, também partidário de uma trégua pelo diálogo, disse ao lado de Caracas que torce por um “retorno bem-sucedido” das tratativas. Novos ventos que podem reconfigurar uma América do Sul que, após tantos anos de crise, precisará como nunca de integração para enfrentar os desafios restantes da década.
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DESTAQUES
🇦🇷 Cristina Kirchner vincula atentado sofrido ao macrismo – A vice-presidenta Cristina Kirchner participou, na sexta (3), de seu primeiro evento público massivo desde o atentado frustrado ao qual sobreviveu, no início de setembro. Em meio às falas da jornada, uma se destacou: sem apresentar provas, Cristina sugeriu que o ataque seria obra de pessoas vinculadas ao governo de Mauricio Macri (2015-2019), colocando mais lenha na fogueira política do país: “não eram indignados [com o governo], era gente que tinha sido paga. Gente paga por empresários que se identificam com o governo anterior, com o macrismo, algum deles funcionário que endividou a República Argentina”, disse. “Estou resignada que a Justiça não investigue, porque querem me ver como acusada, não como vítima”, reforçou. No Página 12.
🇧🇴 Oposição agora promete greve geral por Censo – Sem aceitar as propostas do governo, os grupos oposicionistas que exigem a antecipação do Censo boliviano – entenda as demandas e as implicações da disputa no abre da última edição – prometem elevar ainda mais o tom: na quinta (3), organizações que já paralisaram o departamento de Santa Cruz dizem ter reunido apoio nas principais cidades de outras regiões da Bolívia para iniciar uma greve nacional a partir da próxima semana, caso o governo Luis Arce não confirme a realização do levantamento (previsto para daqui a dois anos) já em 2023. Repetindo um cenário visto no golpe de 2019, manifestantes cruceños vêm realizando atos de violência sob o olhar conivente da polícia, o que levou jornalistas agredidos a realizarem um protesto cobrando mais segurança, enquanto a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pediu investigação e punição do ocorrido. Via Reuters.
🇸🇻 Guerra às gangues avança para destruição de sepulturas – Para o governo de Nayib Bukele, vale tudo contra o crime organizado – tudo mesmo. No celebrado Día de Todos los Santos (1º), quando pessoas costumam prestar homenagens a seus mortos, uma investida dantesca para seguir pulverizando gangues salvadorenhas e seu impacto na vida cotidiana: equipes ‘armadas’ com marretas foram até o cemitério de Santa Tecla, não muito longe da capital San Salvador, para literalmente destruir sepulturas com referências às pandillas. O município, segundo autoridades, virou um reduto de bandos criminosos, cuja atividade não raramente tem desfecho fúnebre. De acordo com o governo, a ideia é passar uma mensagem às maras (como também são conhecidas as gangues) e assim evitar a “glorificação do crime”. Estima-se que, só na data festiva, pelo menos 80 tumbas foram esmigalhadas pelos agentes públicos, sempre acompanhados de força policial fortemente armada. A medida é mais um capítulo do plano inescrupuloso de Bukele para combater a violência, como já explicado neste GIRO, que vem causando dezenas de milhares de prisões arbitrárias, muitas vezes de pessoas sem qualquer envolvimento comprovado com as organizações criminosas. Na CNN.
🇬🇹 Donativos militares dos EUA são desviados sem punição – Os Estados Unidos não contam com qualquer política concreta para documentar e lidar com o mau uso de equipamentos e recursos militares enviados a países centro-americanos, revelou um novo relatório do governo em Washington na quarta-feira (2). As doações, que têm a Guatemala como destino principal, mas também chegaram a El Salvador e Honduras, acumularam o equivalente a mais de US$ 66 milhões entre 2017 e 2021. Especialmente em solo guatemalteco, sobram alegações de que houve desvio de finalidade. Em um dos casos mais notáveis, em 2018, o então presidente Jimmy Morales (2016-2020) utilizou jipes doados pelos EUA para cercar os escritórios da comissão anticorrupção da ONU no país (a CICIG), que ele estava extinguindo, e a própria embaixada norte-americana – sendo que os veículos haviam sido oferecidos especificamente para a vigilância de fronteira, de modo a conter a migração irregular. “Vemos que os EUA agem de forma irresponsável quando fazem essas doações sem supervisão”, lamentou a representante de uma ONG de direitos humanos no país, temendo o uso dos equipamentos para reprimir a própria população. Na Al Jazeera.
🇭🇳 Honduras faz aceno tímido aos direitos reprodutivos e promete pílula emergencial – O Ministério da Saúde anunciou, na segunda-feira (31/10), que o país vai voltar a autorizar o uso da pílula do dia seguinte por vítimas de estupro, pondo fim a uma proibição total que vem desde 2009. Uma série de detalhes, porém, continua no ar: a data em que a autorização passa a valer, a forma como a pílula seria distribuída e os critérios que as autoridades levariam em consideração para determinar – em tempo hábil para a pílula ainda ser efetiva – se o caso é mesmo um estupro. Honduras segue a tendência centro-americana e caribenha de proibir o aborto em todas as situações, incluindo estupro ou incesto, mas há mais de década havia dado um passo ainda maior na radicalização contra os direitos reprodutivos, banindo inclusive a pílula emergencial. Organizações independentes estimam que até 80 mil abortos clandestinos aconteçam no país a cada ano. Com a eleição da presidenta Xiomara Castro, que tomou posse em janeiro, movimentos feministas tinham esperança de flexibilizações na área, mas os avanços têm sido lentos após quase um ano de governo. Via Reuters.
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REGIÃO 🌎
Virou rotina: pela quarta vez consecutiva (algo inédito na história da competição), mais um clube brasileiro levantou a taça da Copa Libertadores da América, o principal torneio sul-americano do futebol de clubes. A final deste ano, que pela terceira vez seguida viu dois clubes do Brasil disputarem a taça em jogo único, terminou com uma modesta vitória do Flamengo pelo placar mínimo contra o Athletico Paranaense. Com o triunfo, o agora tricampeão rubro-negro enfim passa a se sentar ao lado dos já venceredores de três edições da Copa – São Paulo (2005), Santos (2011), Grêmio (2017) e Palmeiras (2021, em final contra o próprio time carioca) – como os recordistas de títulos em seu país. O glorioso quadriênio brasileiro, com Flamengo e Palmeiras arrebatando duas taças cada no período, também coloca o Brasil na cola da Argentina no ranking de mais conquistas: agora, são 22 taças verde e amarelas, contra 25 troféus na conta dos hermanos. No UOL.
Mais além da Libertadores, a semana foi cheia de definições pelo futebol latino-americano, que se encaminha para a parada rumo à Copa do Mundo, marcada para começar no próximo dia 20. Em nível internacional, destaque para a Liga da Concacaf, torneio que reúne equipes da América Central e Caribe, que viu o hondurenho Olimpia conquistar o título diante da Alajuelense, da Costa Rica, na quarta (2) – foi a segunda taça da equipe na competição, após triunfar também na edição inaugural, em 2017. Nacionalmente, zebras históricas na Copa Argentina, que viu o modesto Patronato se sagrar campeão no último domingo (30), mesmo após ser rebaixado no campeonato local. E também na Copa Uruguay, onde o La Luz, recém-saído da segunda divisão, eliminou o gigante Peñarol para disputar uma finalíssima contra o Defensor, marcada para o próximo dia 12.
ARGENTINA 🇦🇷
A vitória de Lula nas eleições brasileiras teve uma das respostas mais entusiasmadas entre os governos vizinhos na Argentina, onde o presidente Alberto Fernández espera capitalizar a prometida reaproximação diplomática para melhorar a situação econômica do país – e os índices de aprovação, de olho no pleito presidencial que, por lá, ocorre em novembro de 2023. Fernández não apenas se apressou a encontrar pessoalmente o brasileiro logo após a confirmação da vitória, o primeiro líder latino-americano a fazê-lo, como contamos em edição extra, mas também prometeu que o próprio Lula deve retribuir a visita ainda antes da posse, marcada para o primeiro dia do próximo ano.
Esperança com Lula para o futuro, problemas bem imediatos ainda por resolver: o “superministro” de Economia, Sergio Massa, indicou durante a semana que o governo prepara um novo plano de “estabilização de preços” para os próximos meses. Na prática, um congelamento, com foco em itens de consumo essenciais, incluindo alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. A ideia de Massa é que o tabelamento permaneça entre dezembro e março, e o ministro promete que a população poderá denunciar em um aplicativo os estabelecimentos que não respeitarem a norma. Segundo as últimas estimativas, a inflação argentina deve superar os 100% em 2022. Na CNN.
Um turista brasileiro acabou morrendo em Ushuaia, no extremo sul argentino, após ser atingido por uma placa de gelo que se soltou na entrada de uma caverna. Capturado em vídeo, o desastre fez as autoridades reforçarem a necessidade de respeitar as normas de segurança da zona, já que os visitantes haviam avançado além do permitido e indicado por placas no local – uma prática perigosa mas aparentemente comum. Dennis Cosmo Marin, 37, vinha percorrendo a América Latina de kombi há quatro anos e relatando suas vivências em um perfil no Instagram. Sua companheira inseparável na jornada, a gatinha Lince, ficou com amigos de Dennis após a tragédia e deve ser repatriada para viver com a família dele no Brasil. Na Folha.
CHILE 🇨🇱
Em um anúncio televisionado, o presidente Gabriel Boric apresentou na quarta-feira (2) o projeto de lei que busca alterar as bases do atual sistema de previdência do país, uma das principais bandeiras do mandatário desde antes de sua vitória, em 2021, e uma resposta política à inquietação nacional dos últimos anos no que diz respeito à falta de qualidade de vida entre aposentados. Desde os tempos de ditadura (1973-1990), o país transandino vive sob um modelo previdenciário em que os fundos de pensão são administrados exclusivamente por gestores privados – as chamadas AFP, sigla para Administradoras de Fundos de Pensão. O tal modelo de capitalização individual que Boric tenta encerrar de vez, segundo o mandatário, coloca mais de 70% dos aposentados diante de uma remuneração inferior ao valor de um salário mínimo. Se aprovado, o novo sistema previdenciário misto elevaria o valor pago. Em El País.
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COLÔMBIA 🇨🇴
O Congresso colombiano aprovou, na quinta (3), a ambiciosa reforma tributária que estava entre as prioridades de campanha do presidente Gustavo Petro. Com novas taxas sobre petróleo e carvão quando os preços superarem uma determinada faixa, aumento no imposto para quem ganha mais de 10 milhões de pesos (R$ 9,8 mil) por mês e novos tributos sobre alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas, a ideia do governo é arrecadar cerca de 20 trilhões de pesos (R$ 19,7 bilhões) anuais a mais, de modo a financiar projetos sociais. A reforma é menos abrangente do que a prevista originalmente por Petro – a ideia era arrecadar 25% a mais – mas ainda assim foi criticada por setores do mercado e da produção, que alegam que os impostos reduziriam o interesse por investir no país. “Obviamente há setores que vão pagar mais impostos, mas todos têm receitas muito altas”, minimizou o ministro da Fazenda, José Antonio Ocampo. Existe ainda um último passo até a lei chegar à mesa do presidente para ser sancionada: na próxima semana, Senado e Câmara devem fazer a chamada “conciliação dos textos”, já que há divergências em alguns trechos do texto aprovado em cada Casa legislativa. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
Sem sucesso: foram encerradas oficialmente por autoridades, na terça (1º), as buscas por um avião em que viajavam o bilionário alemão Rainer Schaller e sua família. A aeronave, que vinha do México e tentava pousar no departamento tico de Limón, caiu com seis pessoas a bordo nas águas do Caribe no último dia 21/10, num acidente que terminou sem sobreviventes. Segundo o vice-ministro de Segurança Pública, Martín Arias, os esforços duraram mais de uma semana e houve poucos avanços nos últimos dias. Além dos corpos de duas vítimas, autoridades costa-riquenhas localizaram partes da fuselagem e objetos pessoais. Schaller era um dos fundadores da rede de academias McFit, que conta com centenas de unidades no mundo inteiro. Via AFP.
CUBA 🇨🇺
Não é meme, mas já faz 30 anos – e nada muda. Na quarta (2), mais uma vez, a Assembleia Geral da ONU passou a analisar uma nova proposta de resolução apresentada por Havana exigindo o fim imediato do bloqueio econômico imposto pelos EUA contra a ilha há seis décadas. O projeto foi votado no dia seguinte e, repetindo a sina de sempre, foi aprovado com o voto contrário dos EUA e Israel – além, desta vez, de abstenções do Brasil e Ucrânia. A briga não é nova e gera repúdio por parte dos cubanos há anos: autoridades dizem que o embargo teria causado mais US$ 154 bilhões de prejuízos totais, segundo cálculos trazidos a valor presente. Destes, US$ 3,8 bilhões apenas entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022, denunciou o chanceler Bruno Rodríguez, que também projetou um cenário de crescimento econômico na faixa dos 4,5% em uma hipótese livre de sanções. Segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, “a continuação do bloqueio financeiro e comercial dos Estados Unidos contra Cuba é incompatível com um sistema baseado no Estado de Direito”. Mesmo assim, uma mudança real ainda depende da boa vontade política do Congresso dos EUA, coisa que não aconteceu nem mesmo nos anos de reaproximação sob Barack Obama (2009-2017) – a única vez que Washington se absteve na votação simbólica foi em 2016. No G1.
EQUADOR 🇪🇨
O equivalente à área de cinco estádios de futebol a cada hora. O dado alarmante diz respeito à perda de floresta registrada entre 2001 e 2020 na região amazônica equatoriana, segundo números consolidados em um novo informe divulgado na quarta (2) e abastecido com informações de monitoramento da Mapbiomas. No total, são mais de 623 mil hectares perdidos no período, dano concentrado (77%) em apenas quatro províncias. Os números colocam o Equador, detentor de 1,6% de todo o bioma amazônico, em quinto lugar em termos de área total desmatada, atrás de Brasil, Bolívia, Peru e Colômbia. Detalhes sobre causas, políticas de enfrentamento e perspectivas, no Mongabay.
Uma nova onda de ataques nos primeiros dois dias de novembro em Guayaquil, Durán e Esmeraldas – que juntas têm formado uma espécie de cinturão da violência no país – deixou cinco policiais mortos após o registro de pelo menos 18 atentados. Segundo autoridades, que tentam responder ao pico com medidas emergenciais, pelo menos 36 pessoas foram presas até aqui. O presidente Guillermo Lasso, forçado a colocar o tema de segurança pública no topo da lista de prioridades, disse na terça (1º) que os últimos acontecimentos ocorrem de forma deliberada para “causar terror entre a população” – o termo “narcoterrorismo”, por sinal, já vem sendo utilizado pelo governo desde que ataques a bomba deixaram mortos e feridos no final de agosto (relembre no GIRO #145). A região onde acontecem os persistentes ataques será mantida sob novo decreto de estado de exceção de 45 dias. Em El Universo.
Dale un vistazo:
✨ Baile de La Gambeta – Atuando como pesquisador da cultura torcedora da nossa quebrada latino-americana há 10 anos, Matias Pinto desenvolveu um set apenas com melodias que serviram de inspiração para as arquibancadas de Tijuana a Mar del Plata, de Curicó a San Cristóbal. Inspirado por Eduardo Galeano, o Sol y Sombra é um bar para quem quer viajar pelas cores e sabores da América Latina. “Em um ambiente descontraído e acolhedor que só nós, latin@s, sabemos fazer”, diz. O evento acontece no sábado (12), no bar Sol y Sombra, Rua Santa Madalena, 250, no bairro da Bela Vista, em São Paulo.
HAITI 🇭🇹
Segue a calamidade no país, dessa vez envolvendo o trabalho da imprensa: após ser atingido na cabeça por um projétil de gás lacrimogêneo no domingo (30), o repórter Romelson Vilcin, da rádio Génération 80, tornou-se o sexto jornalista a ser morto em solo haitiano em 2022. A infeliz estatística coloca a nação caribenha só atrás do México entre países latino-americanos com maior número de profissionais de imprensa mortos na região. A repressão a manifestantes que culminou na morte de Vilcin foi denunciada pela Associação de Jornalistas Haitianos (AJH), que também alertou para o “disparo de munição real” contra jornalistas que protestavam na capital após a prisão arbitrária de um colega de profissão. O incidente foi criticado pela diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, cuja organização cobrou investigações urgentes. No Miami Herald.
MÉXICO 🇲🇽
Uma inédita presidenta? Essa é a expectativa do Morena, o partido governista, para a sucessão de Andrés Manuel López Obrador em 2024. De acordo com cinco assessores de governo ouvidos pela agência Reuters, em uma matéria publicada na quinta-feira (3), o nome hoje mais cotado para receber o beneplácito do mandatário nas próximas eleições é Claudia Sheinbaum, prefeita da capital Cidade do México, que poderia virar a primeira mulher a governar o país. Com ampla aprovação popular, AMLO não pode concorrer à reeleição, e existe a expectativa de que o nome escolhido para sucedê-lo já largue na frente no próximo pleito. Sheinbaum, considerada uma figura menos polarizadora do que o folclórico López Obrador, tem no currículo a queda da taxa de homicídios na capital mexicana e o ativismo ambiental, em um país onde militantes da área são alvos frequentes do crime organizado. Na Veja.
Excessivamente brutal e pitoresco até para os padrões mexicanos, o caso de um cachorro visto na última semana perambulando pelas ruas de Monte Escobedo, Zacatecas, com uma cabeça humana na boca ganhou novos esclarecimentos no sábado (29/10): equipes de duas promotorias diferentes iniciaram um processo para realizar a análise genética que permitirá identificar de quem são os restos mortais carregados pelo animal. Autoridades chegaram a especular que a vítima seria um taxista local de 49 anos, mas a família do próprio motorista rechaçou a teoria. Descartada essa hipótese, estima-se que o corpo possa ser de um sicário local, executado nos tão comuns acertos de contas entre gangues adversárias que dominam a região. O veredito sobre o episódio mórbido deve ser conhecido nos próximos dias. No Infobae.
NICARÁGUA 🇳🇮
O papa Francisco recebeu, na quinta-feira (3), o cardeal nicaraguense Leopoldo José Brenes, arcebispo de Manágua, em uma audiência particular. Foi o encontro de mais alto nível de uma autoridade católica do país com o líder máximo da Igreja desde que se intensificaram as denúncias de perseguição religiosa por parte do governo de Daniel Ortega. Sem mais detalhes, a imprensa foi informada que o papa ouviu sobre “a realidade da Igreja no país”. Desde o recrudescimento da repressão contra organizações opositoras, o regime sandinista também passou a mirar na Igreja Católica – assunto que virou pauta nas eleições brasileiras – e classificou diferentes padres e bispos como agentes de desestabilização que estariam ajudando a tramar um golpe de Estado. Via EFE.
PANAMÁ 🇵🇦
O país voltou a bater seu próprio recorde de geração de energia limpa em setembro, divulgou a Secretaria Nacional de Energia (SNE) nesta semana. Durante o nono mês do ano, 97% da eletricidade panamenha foi gerada por fontes renováveis, majoritariamente através de hidrelétricas, superando os 95% registrados também em 2022, mas em julho. O Panamá é considerado o oitavo maior gerador de energia limpa do mundo, proporcionalmente, e mira no exemplo da vizinha Costa Rica, que já atingiu a marca de conseguir produzir energia só com fontes renováveis por 300 dias. Na Prensa Latina.
Un nombre:
Cacto San Pedro – O Echinopsis pachanoi, comum em regiões andinas e muito utilizado por culturas indígenas, é o tipo de cacto que foi consumido por uma criança que teria sido executada em uma cerimônia pré-hispânica realizada há milhares de anos no território da costa sul do que hoje é o Peru. Cientistas chegaram à conclusão após a análise de um fio de cabelo da cabeça mumificada, depois transformada em uma espécie de troféu. O cacto em questão contém mescalina, uma droga psicodélica com fortes propriedades alucinógenas que podem ter sido usadas de forma proposital. Os resquícios dessas civilizações antigas foram escavados durante o Projeto Nazca, um programa arqueológico iniciado em 1982. Segundo a tradição popular, o nome “San Pedro”, evidentemente trazido pelos invasores cristãos, teria relação com as propriedades alucinógenas da planta, que permitiriam ao usuário “chegar aos céus”, em cujos portões estaria… São Pedro.
PARAGUAI 🇵🇾
Em reunião realizada em Madri, capital da Espanha, na quinta-feira (3), o presidente Mario Abdo Benítez e o premiê espanhol Pedro Sánchez concordaram que a pendente assinatura do acordo entre o Mercosul – bloco que Assunção integra ao lado de Argentina, Brasil e Uruguai – e a União Europeia é algo “prioritário” para as ambas as partes. O líder europeu também prometeu “reafirmar as relações” entre as duas regiões durante a Presidência espanhola à frente da UE, mudança de comando que ocorrerá em 2023. Da parte paraguaia, Abdo ressaltou o fato de a Espanha ser “o primeiro país em volume de investimento estrangeiro” na nação guarani. As tratativas em nome do acordo comercial avançaram bem pouco desde 2019, quando o pacto, enfim, parecia se encaminhar para um desfecho. Como contado pelo GIRO, o Brasil de Jair Bolsonaro, que se tornou pária internacional também por seu ínfimo compromisso ambiental, foi um dos responsáveis por render derrotas ao Mercosul em votações decisivas sobre o acordo. Via AFP.
Impunidade: já não existe qualquer condenado ou processado pelo assassinato do jornalista brasileiro Léo Veras, na cidade fronteiriça de Pedro Juan Caballero, no início de 2020. Nesta semana, o tribunal local absolveu o único acusado pelo crime, Waldemar Pereira Rivas, conhecido pelo apelido de “Cachorrão”, entendendo que o Ministério Público não teria conseguido provas suficientes da vinculação dele com as organizações criminosas que supostamente estariam por trás da morte encomendada. Com isso, não restam suspeitos do crime que estejam atualmente enredados com a Justiça. Veras mantinha um portal no Mato Grosso do Sul que trazia notícias policiais, muitas delas envolvendo o narcotráfico na fronteira paraguaia, e já havia recebido ameaças de morte nos anos anteriores ao homicídio. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Sem pressa, a oposição peruana volta a discutir a apresentação de uma moção de vacância contra o presidente Pedro Castillo, um processo similar ao impeachment ao qual o mandatário já sobreviveu duas vezes até agora. Na quinta-feira (3), a bancada da oposicionista Aliança para o Progresso (APP) confirmou que assinou o documento da nova moção, o que garantiria – somado a outros partidos – ao menos 60 apoios para o pedido. Na prática, muda pouco: apresentar uma moção de vacância é a parte fácil, já que isso demanda apenas 26 assinaturas. Por outro lado e muito mais difícil, remover o presidente exige 87 votos em um Congresso com 130 lugares, algo que a oposição não consegue sem “virar” alguns deputados da base aliada. Agora, a tática anti-Castillo é não apresentar a nova moção sem antes reunir as 87 adesões necessárias, o que não tem data para ocorrer, de modo a não fracassar outra vez. Enquanto os apoios não chegam, mantém-se a esperança da direita peruana de que manobras legais pouco ortodoxas venham a reduzir o número de votos necessários para afastar o presidente. Na RPP.
PORTO RICO 🇵🇷
Os gatos que vivem no Viejo San Juan, a parte histórica da capital da ilha, agora são alvo de uma disputa política. O Serviço Nacional de Parques dos EUA, responsável pelo patrimônio histórico, lançou recentemente um plano para controlar a população dos felinos na área, alegando que “o cheiro de urina e fezes” é “inconsistente com a paisagem cultural” da zona. Moradores e entusiastas da presença dos bichanos, porém, discordam e realizaram um protesto contra a iniciativa na quarta-feira (2): para eles, os gatos “coloniais”, como são chamados, fazem parte da própria identidade do local – além da incerteza sobre o destino dos que forem retirados do bairro, há também quem se preocupe com o que a remoção dos animais poderia provocar em termos de aparecimento de ratos na parte antiga de San Juan. Quem advoga pela permanência dos gatos quer a manutenção de pontos de alimentação e a intensificação da castração dos felinos, para controlar a população sem removê-los, um trabalho hoje feito por uma ONG com o nome em Spanglish “Save a Gato”. Uma decisão final sobre o tema ainda deve levar meses. No Washington Post.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A República Dominicana – e o vizinho Haiti – estão entre os 15 países mais vulneráveis do mundo frente à crise climática, indicam especialistas às vésperas da próxima Cúpula do Clima, a COP27, que começa no Egito neste domingo (6). Miguel Ceara Hatton, ministro dominicano de Economia, Planejamento e Desenvolvimento, diz que países como o seu devem cada vez mais pleitear apoio internacional para garantir recursos de modo a “mudar a forma como nos organizamos para produzir e consumir”. Segundo ele, enquanto os países mais ricos precisam controlar a emissão de gases do efeito estufa, às nações pequenas e mais vulneráveis só resta a “adaptação”, já que seu impacto ambiental é ínfimo. Em entrevista à agência EFE, Ceara Hatton também apontou a pressão sobre a indústria turística, um dos motores da economia dominicana, para que se torne cada vez mais sustentável.
URUGUAI 🇺🇾
Uma rota ligando o Uruguai ao Panamá, mas sem qualquer relação com o drama dos atuais migrantes: em um novo estudo publicado nesta semana, pesquisadores da Flórida, nos EUA, usaram amostras de DNA recolhidas no Nordeste brasileiro, análises genômicas e algoritmos para sugerir a existência de um caminho de direção dupla entre as porções sul e norte da América há cerca de mil anos. O caminho na direção sul, principalmente através da costa do Pacífico, já era conhecido anteriormente, mas a nova descoberta sugere que, com o tempo, a rota migratória se dividiu e passou a operar nos dois sentidos, inclusive em tempos relativamente recentes na história humana. De acordo com os arqueólogos, as evidências agora indicam que grupos teriam percorrido grande parte do que hoje é o litoral brasileiro, vindo a partir do Uruguai e chegando de volta até o atual território panamenho, em uma distância de pelo menos 5.277 quilômetros. Acrescentando uma nova dobra no passado genético da região, os pesquisadores também dizem ter encontrado amostras de DNA denisovano em alguém que viveu no atual território uruguaio apenas 1.500 anos atrás. “A mescla deve ter ocorrido muito antes, talvez há 40 mil anos. O fato de que a linhagem denisovana persistiu e seu sinal genético chegou a um indivíduo uruguaio tão recente sugere que houve uma enorme mistura entre humanos e denisovanos”, comentou John Lindo, um dos responsáveis pelo estudo. Em El País.
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