Bolsonaro garante refúgio a golpistas bolivianos
Mandatário brasileiro promete manter portas abertas “enquanto for presidente”. Fala ocorre às vésperas do segundo turno em seu país, enquanto a Bolívia outra vez enfrenta protestos da direita
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que busca reeleição neste domingo (30), voltou a manifestar seu apoio às lideranças do “governo transitório” que assumiu a Bolívia após o golpe de 2019, e confirmou uma antiga suspeita: quem cruzou a fronteira para fugir da Justiça no Altiplano encontrou braços abertos por parte do atual governo brasileiro na busca pela condição de refugiado político. Em uma live no início do mês, Bolsonaro citou especificamente o ex-ministro de Defesa do governo Jeanine Áñez (2019-2020), Luis Fernando López, cuja extradição vem sendo cobrada pela Bolívia desde o ano passado. “Enquanto eu for presidente, ele não sai do Brasil”, prometeu, às vésperas de descobrir se essa frase vale por mais dois meses ou quatro anos.
López, agora sob as asas de Brasília, não é apenas um dos nomes fortes do governo interino que tomou posse após a derrubada forçada de Evo Morales, na sequência das eleições contestadas de 2019: áudios divulgados posteriormente o colocam também como figura central na suposta tentativa frustrada de um “segundo golpe”, que pode ter envolvido até uma busca por assassinar o então presidente eleito Luis Arce, utilizando mercenários para impedir a volta da esquerda ao poder em 2020. Na época, depois de grandes manifestações pressionarem Jeanine Áñez a convocar novas eleições que vinham sendo adiadas – a pandemia foi a explicação para atrasar o pleito –, o Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo acabou vencendo com votação ainda maior do que a do próprio Morales um ano mais cedo – desta vez, sem qualquer protesto da direita quanto à lisura do processo. A chicana desesperada não prosperou, Arce tomou posse e quem pôde, como López, fugiu.
Não foi o caso da própria Jeanine Áñez, que acabou capturada dentro de uma cama-box e já recebeu a condenação no primeiro de dois processos que correm contra ela: 10 anos por violar a ordem constitucional na sua autoproclamação como presidenta, feita em uma sessão parlamentar sem quórum ou autoridade que ratificasse sua manobra ou mesmo justificasse a quebra da linha sucessória. Fixação de Bolsonaro, o destino de Áñez é frequentemente citado pelo brasileiro, que a vê como uma vítima de “perseguição” dos aliados de Evo Morales, narrativa sempre recorrente de quem tenta demonizar tudo que vem da esquerda, especialmente em campanha.
Áñez ainda encara outro processo com acusações contundentes de violar direitos humanos, por sua suposta responsabilidade nos massacres de Sacaba e Senkata, quando 35 apoiadores do MAS que protestavam contra o golpe foram mortos por forças de segurança. Como chefe da Defesa, o refugiado Luis Fernando López também é acusado pelos massacres, e é investigado ainda por seu envolvimento em um escândalo de corrupção: a compra superfaturada de gás lacrimogêneo – um processo que envolveu o ex-ministro de Governo de Áñez, Arturo Murillo, preso nos Estados Unidos em 2021 e que recentemente admitiu sua culpa no caso (a Justiça estadunidense se meteu na história porque a trama envolveu lavagem de dinheiro com uma empresa sediada naquele país, além de cidadãos dos EUA).
O novelo transnacional em que os golpistas bolivianos seguem se enrolando ocorre, agora, em paralelo a um novo momento de tensão vivido dentro do país sul-americano – e com epicentro no departamento de Santa Cruz, berço dos mais fortes movimentos conservadores da Bolívia na atualidade e local onde as mobilizações anti-Evo de 2019 explodiram ainda na primeira hora. Há meses, e com mais intensidade ao longo da última semana, grupos da oposição vêm realizando protestos e paralisações exigindo que o governo realize já no ano que vem o novo Censo populacional. Adiado pela pandemia, o levantamento que foi realizado pela última vez em 2012 está agendado, por enquanto, apenas para 2024.
Departamento com a economia mais pujante do Estado Plurinacional, Santa Cruz reclama que o atraso do recenseamento seria uma forma de “punir” os opositores locais – a região hoje é governada por Luis Fernando Camacho, um dos próceres nomes nas mobilizações a favor do golpe em 2019. Camacho chegou inclusive a tentar a Presidência, sem sucesso, em 2020, mas logo em seguida venceu a corrida pelo poder local, onde encontra um sólido respaldo. A expectativa que guia a reclamação atual é que a população de Santa Cruz teria crescido mais do que a média de outras regiões, o que aumentaria os recursos públicos recebidos pelos cruceños na próxima década, mas isso só pode ocorrer após os números oficiais serem conhecidos. Nos dados de 2012, Santa Cruz tinha a segunda maior população do país, ou 2,65 milhões de pessoas, apenas 50 mil habitantes a menos do que La Paz. Algumas estimativas sugerem que o departamento, hoje, já seria o primeiro a ter ultrapassado a marca de 3 milhões de moradores.
A leva atual de protestos já deixou um morto em meio aos conflitos nas ruas, fez com que a fronteira entre a Bolívia e o vizinho Mato Grosso do Sul tenha passado a semana fechada pelas tensões, e levou o governo Luis Arce a proibir as exportações de seis alimentos básicos a partir desta quinta-feira (27). De acordo com La Paz, a suspensão das exportações que inclui soja e derivados, azeite, açúcar e carne bovina se deve a um temor de desabastecimento causado pela continuidade das paralisações – o que também poderia levar a uma espiral inflacionária em um raro país latino-americano que passou 2022 sem conviver com a carestia e onde os números da inflação anual, contrariando uma tendência mundial, vêm ficando até abaixo da meta.
Na sexta (28), o governo realizou, em Cochabamba, um encontro pelo “Censo em Consenso”, tentando em vão chegar a um acordo. Mas isso tudo são cenas da nova crise. Para os artífices da crise antiga, especialmente os que fogem da Justiça local, importa menos a data em que os recenseadores circularão pelo país no futuro próximo – e muito mais o que as urnas brasileiras vão dizer ao final deste domingo.
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🌎 Fake news sobre América Latina marcaram a campanha no Brasil – Mentir sobre coisas que acontecem no Brasil não foi suficiente para Jair Bolsonaro durante seus quase três anos no poder: o capitão também lembrou de fazer o mesmo com os vizinhos. E é este o tema de um longo levantamento feito por meio de uma série coordenada pelo Centro Latino-Americano de Investigação Jornalística (CLIP) ao lado da agência de checagem Aos Fatos e de mais seis meios de comunicação latino-americanos. De “cachorros comidos na Venezuela” a “refinarias doadas pelos governos do PT à Bolívia”, um passeio estatístico pelas sistemáticas difamações de vizinhos cometidas pelo presidente brasileiro ao longo dos últimos anos. Confira aqui.
🇦🇷 Filho sugere que Cristina Kirchner não deve buscar Presidência – “Creio que Cristina não vá ser mais candidata”, disse de forma bombástica na segunda (24) Máximo Kirchner, deputado e filho da hoje vice-presidenta. Comentando que o trabalho político da mãe (que já ocupou a Presidência ela própria entre 2007 e 2015) rendeu a ela um “desgaste muito grande” (que se soma a uma recente tentativa de assassinato da qual Cristina escapou por um fio), o parlamentar disse que o peronismo, até hoje bastante centrado em Kirchner, ainda não tem um nome definido para as eleições de 2023. Notícia não muito boa para esse lado do espectro, já que o atual mandatário Alberto Fernández, que até pode tentar reeleição o próximo ano, toca o barco cercado de sufocantes números inflacionários e índices claudicantes de popularidade – o que poderia dar a disputa de bandeja para candidatos de direita. E pode nem ser uma direita moderada: o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), cotado para ser o nome que fará frente ao peronismo nas urnas outra vez, também pode acabar nem indo adiante na briga eleitoral: em entrevista ao Perfil, o primo do ex-presidente e atual integrante do governo da cidade de Buenos Aires, Jorge Macri, disse que vê menos o empresário como candidato e “mais como um mentor”. O cenário de incerteza pode acabar favorecendo nomes da extrema direita, como o cada vez mais popular Javier Milei. No Ámbito.
🇸🇻 ONGs denunciam ao menos 80 mortos sem julgamento em prisões – Os números preocupantes da onda de prisões que já colocou mais de 55 mil salvadorenhos na cadeia ganham novos contornos: em uma nova reportagem da AP publicada na segunda (24), ONGs relatam que pelo menos 80 pessoas teriam morrido sob custódia, sem nem sequer receber uma condenação. A denúncia engrossa uma lista de abusos aos direitos humanos durante o controverso período sob estado de exceção, quando, conforme já apontado por este GIRO, a falta de registros de óbito, detenções arbitrárias e até mesmo inanição forçada de detentos deram um ar ainda mais macabro à política de Nayib Bukele em busca de reduzir os números de violência urbana. Para além das violações, o número descabido de prisões tem sobrecarregado o sistema judicial do país, problema que também abre espaço para a condução esburacada e o atraso dos processos.
🇭🇹 Avançam discussões sobre intervenção estrangeira no Haiti – Enquanto o Conselho de Segurança da ONU ainda delibera sobre uma possível nova intervenção armada internacional no Haiti (saiba tudo sobre o caso no abre da última edição), potências não perdem tempo e já falam sobre o assunto separadamente. É o que revelou o Pentágono durante a semana, confirmando uma conversa realizada na quarta (26) entre generais do alto escalão dos EUA e do Canadá, dois países que enxergam com bons olhos a devolução do país caribenho aos controversos anos de missões de paz — que, neste século, nem chegaram perto de pacificar o país. Enquanto o mundo se volta ao lado convulsionado de Hispaniola, onde mais de 96 mil pessoas já foram obrigadas a deixar suas casas por conta da violência, segundo um novo relatório divulgado na sexta (28), o país também enfrenta problemas sanitários: na terça, a mesma ONU mostrou preocupação diante de um “aumento acentuado” de casos de cólera — quadros suspeitos dobraram nas últimas semanas e já chegam a 2 mil, segundo o Ministério da Saúde haitiano. Bloqueios em regiões portuárias e o subsequente desabastecimento são motivos que compõem a cartela de argumentos a favor de uma nova ocupação. Via Reuters.
🇵🇾 Funeral de líder guerrilheiro derruba ministro – O traslado de um caixão acabou derrubando o novo (e agora já velho) ministro de Justiça paraguaio, no mesmo dia em que ele havia assumido o cargo. Não foi qualquer caixão, é claro: no domingo passado (23), um conflito com forças militares levou à morte de Osvaldo Villalba, um dos líderes da guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP). O que poderia ser uma vitória política do governo Mario Abdo Benítez, porém, logo virou uma dor de cabeça: em uma história mal explicada, o recém-nomeado ministro Édgar Taboada teria dado luz verde para que o caixão de Villalba fosse transportado na terça (25) a uma penitenciária feminina da capital Assunção, onde a irmã do guerrilheiro, Carmen, cumpre pena. Taboada depois explicou que tomou a decisão “para evitar que acontecesse algo pior”, citando ameaças de uma rebelião das detentas caso o pedido não fosse atendido – seu antecessor havia caído do comando do Ministério de Justiça justamente por não conter a violência penitenciária –, mas a autorização pegou mal: familiares de vítimas do EPP, um grupo com largo histórico de sequestros jamais resolvidos como o do ex-vice-presidente da República Óscar Denis, sumido desde setembro de 2020, protestaram e exigiram resposta do governo. Pressionado, Abdo Benítez imediatamente demitiu o ministro e a diretora da cadeia onde está Carmen Villalba. Na BBC.
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REGIÃO 🌎
Acontece neste sábado (29), às 16 horas de Brasília, a tão esperada finalíssima da Copa Libertadores, pela terceira vez seguida decidida entre dois clubes brasileiros: os rubro-negros Flamengo e Athletico Paranaense medem forças no estádio Monumental de Guayaquil, no Equador, com degraus diferentes adiante – se a partida do final de semana pode integrar os cariocas à seleta lista de brasileiros tricampeões da América (que já tem São Paulo, Santos, Grêmio e Palmeiras), o jogo pode valer a primeira Copa para os paranaenses comandados pelo veterano técnico Luiz Felipe Scolari, por sua vez vitorioso na competição em 1995 e 1999. À parte do jogo, polêmicas: além dos rumores de mais um fiasco por conta do baixo comparecimento do público – com direito a repasse de ingressos de brinde para cada compra em alguns setores —, e de relatos de vários flamenguistas que sequer conseguiram embarcar para a costa equatoriana, há um temor diante da onda de violência sem precedentes vivida pela cidade-sede (saiba mais no GIRO #145). A dias do jogo, num exemplo anedótico, mais uma equipe de TV que gravava em frente à cancha da final quase foi assaltada ao vivo. Autoridades prometem segurança reforçada.
Luis Almagro, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), terá que indenizar o brasileiro Paulo Abrão, ex-secretário da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), removido de forma surpreendente em 2020 – justamente quando seria divulgado um relatório da CIDH sobre violência policial, atuação de milícias, ataques a minorias e retrocessos democráticos no Brasil. Na ocasião, Almagro disse que havia acusações “sérias” e “graves” de assédio moral e manipulações de contratações envolvendo Abrão, que havia acabado de ser reeleito para o cargo. Agora, porém, uma investigação interna da OEA indica que Almagro não respeitou o direito a defesa do jurista brasileiro, em um contexto em que o próprio secretário-geral hoje enfrenta acusações de ter violado o código de ética da entidade em outra situação. Via AFP.
ARGENTINA 🇦🇷
Em 1985, a Argentina tomou rapidamente uma decisão que permaneceria muito rara em seus vizinhos: nem bem dois anos tinham se passado do final da última ditadura do país, e os nove líderes das três primeiras juntas militares que mandaram durante o período de exceção entre 1976 e 1983 foram colocados no banco dos réus de um tribunal civil. A história virou o filme Argentina, 1985, do diretor Santiago Mitre, que chegou na última semana ao Brasil através da plataforma Amazon Prime Video. Nesta matéria, a BBC repassa os fatos reais que inspiraram a nova película estrelada – é claro – por Ricardo Darín.
CHILE 🇨🇱
“F” para feminino, “M” para masculino e, agora, um “X” no registro de Shane Cienfuegos, primeira pessoa no país a obter um documento sem identificação de gênero. Pedindo para receber tratamento com o pronome elle (no espanhol, “ele” é él e “ela” é ella), Cienfuegos diz em entrevista dada na quarta (26) que a conquista é uma “vitória coletiva”. O Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh) relata a existência de mais de 1,1 mil denúncias de discriminação contra pessoas LGBTQIA+ em 2021 – 127 delas contra pessoas transgênero, como é o caso de Shane, sobrevivente de três tentativas de assassinato. Via AFP.
COLÔMBIA 🇨🇴
Agora com aval do Congresso: na quarta (26), legisladores colombianos aprovaram uma lei autorizando formalmente que o presidente Gustavo Petro dê início a negociações de paz com grupos guerrilheiros que seguem ativos no país, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as dissidências das antigas FARC, que não aceitaram os acordos de paz assinados em 2016 – estes que deram fim à organização principal. Petro vem sinalizando com o diálogo desde a época de campanha e, tão logo o novo mandatário tomou posse, em agosto, diversos grupos armados do país divulgaram comunicados indicando a disposição a um cessar-fogo definitivo. A expectativa é que as conversas entre Bogotá e o ELN recomecem em novembro. Enquanto isso, o Conselho de Segurança na ONU decidiu, na quinta (27), estender por mais um ano a atuação da missão responsável por verificar o cumprimento dos tais acordos de 2016 – agora, o mandato vai até outubro de 2023. Na CNN.
Pela primeira vez, a Colômbia vai disputar uma Copa do Mundo de futebol, seu esporte favorito – aquilo que jamais havia acontecido, em qualquer idade e entre os homens ou as mulheres, finalmente será visto neste domingo (30), na decisão do Mundial Sub-17 feminino, que está sendo jogada na Índia. As jovens colombianas terão uma missão difícil: encaram a Espanha, com longa tradição no futebol feminino de base, que vem de conquistar o título na última edição do torneio, em 2018 – as duas equipes, aliás, já se encontraram na fase de grupos, com vitória espanhola por 1 a 0. Liderada pelos gols da artilheira Linda Caicedo Alegría, nascida em 2005 no Valle del Cauca, a Colômbia foi deixando pelo caminho China, México, Tanzânia e Nigéria, rumo à final histórica que está marcada para o meio-dia (de Brasília) de amanhã. Em El País.
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COSTA RICA 🇨🇷
“A balança se inclinou aos interesses de grupos poderosos”, bradou o presidente Rodrigo Chaves na quarta (26), ao comentar uma nova decisão da Sala Constitucional do país que condena o Estado por uma violação indireta à liberdade de imprensa. Parece um caso clássico de mandatários trocando farpas com jornalistas, mas não é: tudo começou quando o governo Chaves decidiu, em julho, fechar o Parque Viva, um centro de eventos ligado ao grupo que controla o jornal La Nación, um dos principais em operação na Costa Rica. Após o polêmico fechamento, tanto o veículo quanto a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, em espanhol) fizeram duras críticas ao presidente, que agora vê o fechar de portas revogado a mando do órgão que vela pela Constituição. Para Chaves, que prometeu acatar a decisão ainda que não concorde com o argumento, a ordem de fechamento se relaciona unicamente a pedidos de órgãos sanitários que apontam problemas de superlotação durante os eventos no parque – o que até impediria a passagem de veículos de emergência – e a vinculação do recinto com um grupo de mídia não teria sido relevante na história toda. Via EFE.
CUBA 🇨🇺
Há exatamente um mês na quarta-feira (16), Cuba se tornava o nono país latino-americano a recentemente legalizar o matrimônio igualitário em nível nacional por meio de seu novo Código da Família, que passou a dar uma interpretação legal mais ampla ao casamento entre cidadãos homossexuais (relembre neste hilo). Na reportagem da AP, cubanos de grupos LGBTQIA+ beneficiados pela nova permissão narram a experiência de finalmente poder conquistar no papel algo que sempre lutaram para conseguir durante a vida. “Amor é amor”, conta Liusba Grajales. Para muitos que agora se vêem mais amparados pelo avanço num direito civil fundamental, no entanto, ainda há margem para mais inclusão.
Sanções, sanções, negócios à parte: de olho em oportunidades para empreender na ilha, pelo menos 30 empresários dos EUA, alguns com nacionalidade cubana, estão na capital Havana desde quarta (26) para “examinar o espectro de possíveis negócios”, palavras de Philip Peters, diretor da Focus Cuba, uma consultoria estadunidense que pretende ampliar o business por lá a despeito dos embargos. Peters lamentou o fato do presidente Joe Biden não ter retomado as políticas do governo Barack Obama (2009-2017) que, apesar de não encerrar as sanções (algo que depende de aprovação do Congresso dos EUA), ao menos tinha elevado as relações entre Havana e Washington ao patamar mais civilizado desde a Revolução de Fidel Castro, em 1959. “Achei que [Biden] fosse cumprir sua palavra”, disse o empresário. Mesmo assim, o evento realizado essa semana – a Conferência Empresarial Cuba–Estados Unidos – já é um sinal de que, pelo menos em relação aos anos de Donald Trump, a coisa está um pouco menos brutal: o evento não era realizado desde antes da vitória do republicano, em 2016. Via AFP.
EQUADOR 🇪🇨
Alerta (moderado) de vulcão. Desde domingo (23), o Serviço Nacional de Gestão de Riscos e Emergências (SNGRE) do país declarou estado de “Alerta Amarelo” na chamada área de influência do vulcão Cotopaxi, localizado próximo da capital Quito. A decisão veio após a entidade detectar um pulso sísmico e a emissão de vapor d’água, gases e cinzas durante o final de semana em questão. Novas medidas – como evacuação de casas e envio de efetivos de salvamento – só devem ocorrer caso o monitoramento aponte novos riscos. Segundo autoridades, o fenômeno dos últimos dias teria sido causado pelas “constantes chuvas” que afetaram o sistema hidrotermal do vulcão. Até aqui, montanhistas foram os únicos instruídos a deixar as imediações, ainda que serviços turísticos também tenham sido afetados. Não é a primeira vez que notícias vulcânicas aparecem no Equador em outubro: há alguns dias, pelo menos três províncias entraram em alerta pelo risco de serem atingidas por cinzas de outro vulcão, de nome Sangay. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
Pelo menos 22 pessoas, incluindo sete policiais, foram presas na segunda-feira (24) acusadas de operar uma rede de tráfico de migrantes que buscam chegar ao conhecido destino fronteiriço entre o México e os EUA, muitas vezes recortando território guatemalteco. Segundo autoridades do país, as prisões aconteceram após a realização de quase 70 operações de busca e apreensão a mando do Ministério Público e com apoio do Escritório de Investigações de Segurança Nacional (HSI, na sigla em inglês), vinculado à embaixada dos EUA na Cidade da Guatemala. O grupo vai ser processado por associação ilícita e tráfico de pessoas. Via AFP.
Dale un vistazo:
📽️ Cuando lo pequeño se hace grande – Após seis décadas servindo como campo de bombardeio, área militar e depósito para os Estados Unidos, a Isla de Vieques, em Porto Rico, viveu intensos protestos para resgatar o local do militarismo norte-americano. Foi em abril de 1999, motivados pela indignação de uma bomba perdida que custou a vida de David Sanes, um empregado civil da base, que os porto-riquenhos decidiram entrar nas áreas restritas pelos militares, e exigir “Ni una bomba más”. O curta conta a história dessa batalha histórica sob a perspectiva dos moradores da ilha. O documentário pode ser visto aqui.
📽️ Cuando lo pequeño se hace grande (Porto Rico, 2012). Dir.: Mariem Pérez. 25 min.
HONDURAS 🇭🇳
Exercer a atividade jornalística é algo “bastante perigoso”, alertou, na quarta (26), uma autoridade da Unesco à frente da América Central. Colocando o país centro-americano ao lado de México (que lidera com folga os tristes rankings regionais de profissionais de imprensa assassinados) e El Salvador, Alexander Leicht disse que “os números mostram” a deterioração do cenário hondurenho nesse quesito, lembrando que o número de vítimas neste século já está acima dos três dígitos – e que cerca de 90% dos casos crimes seguem impunes. Segundo o Comitê de Livre Expressão (C-Libre), só este ano cinco jornalistas hondurenhos foram assassinados. Via EFE.
MÉXICO 🇲🇽
O casamento igualitário agora é reconhecido em todas as 32 unidades federativas do México, com a aprovação de uma reforma legal em Tamaulipas, o derradeiro estado retardatário, na quarta-feira (26). Nas últimas semanas, uma série de regiões do país que ainda vinham resistindo a regulamentar o direito se juntaram à lista, finalmente atendendo a uma decisão da Suprema Corte que, ainda em 2015, decidiu que leis estaduais impedindo casamentos homoafetivos eram inconstitucionais. “Todo o país brilha com um enorme arco-íris. Viva a dignidade e o direito de todas as pessoas. Amor é amor”, celebrou o presidente do Supremo mexicano, Arturo Zaldívar. Na Folha.
O país anunciou oficialmente, na quarta (26), que pretende se candidatar para sediar os Jogos Olímpicos de 2036. De acordo com María José Alcalá, que preside o Comitê Olímpico local, o pleito já conta com apoio da autoridade máxima global do evento – mas ainda precisará passar por seleção. Em 1968, o México tornou-se o primeiro país latino-americano a receber as Olimpíadas, e por quase meio século permaneceu como o único da região a fazê-lo, até o Brasil entrar na lista com os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. As competições já têm sede definida pela próxima década: em Paris (França) em 2024, em Los Angeles (EUA) em 2028 e em Brisbane (Austrália) em 2032. No Terra.
NICARÁGUA 🇳🇮
Mudaram as estações, nada mudou: no que apenas insuflará ainda mais Daniel Ortega contra os EUA e não resolverá a crise política de fato, o presidente Joe Biden assinou na segunda (24) um decreto que destina um novo pacote de sanções contra o governo na Nicarágua. A decisão da vez é mais específica: passa a proibir empresas do país de fazer negócios com a indústria de ouro nicaraguense. As medidas de sufocamento econômico têm como alvo os cabeças da Direção-Geral de Minas, responsável por operações-chave no setor mineiro e cujas lideranças são vistas por Washington como “nomes próximos” a Ortega. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
A alta do fluxo migratório já leva o país a pedir ajuda aos EUA, destino principal de quem atravessa o Panamá com essa finalidade. Na terça (25), o presidente Laurentino Cortizo se reuniu com senadores estadunidenses a fim de criar soluções diante de um pico migratório que tem causado problemas para “um país com poucos recursos”, segundo o próprio mandatário. Só esse ano, lembrou o governo, mais de 206 mil pessoas já passaram pelo estreito de Darién, um perigoso corredor de selva em terras panamenhas que liga as Américas do Sul e Central e que, nos últimos tempos, apesar dos perigos, tornou-se uma solução conhecida entre pessoas em movimento. “Precisamos do apoio dos EUA”, insistiu Cortizo, destacando os esforços de sua gestão na luta contra a lavagem de dinheiro e o crime organizado – dois temas usados para barganhar o suporte de Washington. No EcoTV Panamá.
Un nombre:
Tèt Kole Ti Peyizan Ayisyen – Traduzido de forma literal como “a cabeça do pequeno camponês haitiano”, essa ONG com sede oficial em Porto Príncipe, capital do Haiti, mas com penetração em várias regiões rurais do país, trabalha com agricultores de pequena escala, muitos deles vindos de grupos sem-teto, e costuma militar a favor de pautas como reforma agrária e fim da carestia. Membros da organização ganharam destaque na última semana após uma passeata inusitada: na terça (25), os camponeses se organizaram em frente à embaixada do Brasil na capital haitiana, em um ato de apoio ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, favorito nas pesquisas e candidato a um terceiro mandato nas eleições de domingo (30). Vestindo bonés vermelhos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e com cartazes exortando brasileiros a votarem no petista, os Tèt Kole Ti Peyizan Ayisyen também pediram “solidariedade” para a América Latina.
PARAGUAI 🇵🇾
A visita do coordenador anticorrupção dos EUA ao Paraguai, durante a semana, rendeu respostas inflamadas dos apoiadores do ex-presidente Horacio Cartes (2012-2018), que enfrenta uma série de acusações tanto por parte do Congresso local quanto da potência ao norte, que o incluiu numa lista de figuras latino-americanas supostamente envolvidas com negócios escusos. Na terça (25), horas antes do desembarque do oficial estadunidense, o locutor de um evento cartista exaltou: “vamos apresentar o caudilho republicano, mas antes que ele pegue o microfone vamos aplaudi-lo, vamos mostrar aos ianques quem é o papá guazú (“pai grande”, em guarani) do Paraguai”. Apesar das bravatas, o coordenador global anticorrupção do Departamento de Estado dos EUA, Richard Nephew, foi enfático em Assunção: mesmo sem antecipar quais desdobramentos isso pode ter, disse que Washington “tem total confiança” nas informações que levaram à inclusão de Cartes e do atual vice-presidente paraguaio, Hugo Velázquez, na lista dos políticos “significativamente corruptos” da região. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
A Justiça peruana ordenou, na segunda (24), a soltura de Yenifer Paredes, cunhada do presidente Pedro Castillo, que estava em prisão preventiva desde agosto. A revogação da ordem de detenção veio após um recurso da defesa de Yenifer, irmã da primeira-dama Lilia Paredes, que agora deve responder em liberdade às acusações de que seria parte de uma suposta rede de corrupção em torno de contratos de obras públicas. Seu caso é apenas um entre vários que vêm surgindo contra Castillo e seu entorno, mantendo o Peru em uma crise política eterna desde a posse do mandatário, que, no entanto, ainda mantém os votos no Congresso para evitar que sua derrubada aconteça (o que vem fazendo a oposição buscar alternativas legais inusitadas). O presidente diz ser mais uma vítima de lawfare, em um dos países da região mais abalados pelo uso da Justiça para mudar os rumos do Executivo. Via AFP.
PORTO RICO 🇵🇷
Rafael García Sánchez, diretor de uma ONG que ajuda pessoas com deficiência em Porto Rico, foi condenado na quinta (27) a mais de 12 anos de prisão após se declarar culpado em um caso incomum: em 2016, o centro onde Sánchez trabalhava foi incendiado de forma misteriosa por um grupo com outras três pessoas, uma das quais morreu durante o crime, segundo autoridades. O problema é que o próprio diretor estava por trás do incêndio: Sánchez foi acusado de conspirar para incendiar o local e de pedir de forma fraudulenta um valor de US$ 250 mil de seguro por conta dos danos ao centro. Os outros dois suspeitos (que sobreviveram ao esquema) também se declararam culpados e já estão presos. No Washington Post.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Para aliviar o Ministério Público de algumas funções, o presidente Luis Abinader anunciou na quarta-feira (26) que deve apresentar uma proposta para a criação de um novo Ministério de Justiça no país. Funções relacionadas à Procuradoria Administrativa, ao Instituto Nacional de Ciências Forenses, ao Sistema Penitenciário e à gestão de bens confiscados por autoridades policiais seriam repassadas à nova pasta, com o MP podendo se dedicar inteiramente a investigações, uma mudança principalmente burocrática que o governo promete que terá efeitos práticos. Abinader, que pretende enviar o projeto ao Congresso em fevereiro, insiste que tudo será feito sem gastar um centavo além do orçamento atual. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Sucesso para os planos do governo de emitir títulos de “dívida verde” (saiba mais na última edição): apenas uma semana após Montevidéu lançar a pedra fundamental do plano que vincula um prêmio de dívida soberana a indicadores de sustentabilidade – ou seja, cujo retorno vai depender do nível de cumprimento de metas ambientais daqui até 2027 – o mercado acenou positivamente. Até quinta (27), a demanda total pelo título já havia batido US$ 3,96 bilhões, superando (em muito) o US$ 1,5 bilhão que o país havia decidido emitir inicialmente, e já contava com o interesse de 188 investidores de todos os cantos do mundo. Segundo Matías Bendersky, representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento no paisito, “esta primeira emissão de títulos mostra o reconhecimento explícito do mercado ante o compromisso do Uruguai”. No Mercopress.
VENEZUELA 🇻🇪
Denúncia grave: segundo a ONG Espaço Público, em 2022 mais de 44 rádios foram fechadas no país por motivos variados – que vão de decisões por vezes pouco explicadas da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), órgão regulador, até casos de roubo e depredação das instalações. O número se multiplica se forem consideradas as emissoras fechadas desde 2003: 233, segundo o levantamento da organização. O problema assusta particularmente cidades menores, cujas populações dependem do serviço de informação: só no último sábado (22), uma cidade no departamento de Táchira viu oito estações fecharem as portas, o que pode comprometer o já frágil cenário de liberdade de imprensa por lá. Na Prensa de Lara.
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