Bolívia: mercenários planejaram matar presidente, diz governo
Estado de exceção no Equador | Chile: Constituinte começa a discutir texto da Carta Magna | Colômbia: presidente não quer diálogo com Venezuela | Guatemala: protestos de ex-militares se radicalizam
As tramas golpistas seguem rendendo assunto na Bolívia. Quase dois anos após a renúncia forçada do então presidente Evo Morales (2006-2019), os membros do governo interino de Jeanine Áñez voltaram a enfrentar novas acusações pela participação no golpe. Desta vez, o alvo é Luis Fernando López Julio, o ex-ministro da Defesa que fugiu do país pouco antes da volta da esquerda ao poder. Nesta segunda-feira (18), o ministro do Governo, Eduardo Del Castillo, insinuou que López e os mercenários presos pelo magnicídio do presidente haitiano Jovenel Moïse, em julho, teriam planejado matar o então candidato Luis Arce, aliado de Evo e eleito presidente com 55% dos votos em 2020.
“Havia toda uma estratégia armada para evitar a ascensão do presidente Luis Arce e sequestrar nossa democracia. Há detalhes dos contratos, dos valores, dos currículos das pessoas envolvidas, e até mesmo as armas que planejavam usar para matar bolivianos e bolivianas”, assegurou Castillo. Além disso, o ministro acrescentou que “não é coincidência que quem agora está detido no Haiti por ter participado do assassinato de seu presidente tenha estado na Bolívia nos dias anteriores às eleições”.
Para colocar em marcha o plano, diz o governo, López teria entrado em contato com mercenários e paramilitares sob o nome de “Susan Peterson”: dois deles seriam o colombiano Arcángel Pretel e o venezuelano Antonio Intriago, que entraram na Bolívia entre 16 e 19 de outubro do ano passado, segundo as autoridades. As eleições aconteceram no dia 18. Ambos foram presos junto com dezenas de outras pessoas pelo envolvimento no assassinato do presidente haitiano. O governo boliviano diz que o plano para matar Arce previa a contratação de 300 a 10 mil pessoas, com valores de 125 mil dólares ao ano ou 10,4 mil por mês.
As acusações governistas citam uma investigação publicada em junho pelo Intercept (leia no GIRO #86). De acordo com a reportagem, gravações de conversas e chamadas telefônicas de fato mostram um complô para matar Arce comandado por López, ministro da Defesa do governo Áñez. O plano teria ajuda de mercenários estadunidenses. Porém, o próprio Intercept disse que “não conseguiu verificar de forma imediata e independente” as novas alegações do governo a respeito dos supostos detalhes em torno do plano.
O caso boliviano vem à tona em um momento turbulento para o atual presidente. Uma semana antes, Luis Arce enfrentou sua primeira greve geral desde que assumiu o mandato – e, dessa vez, não eram apenas pititas (os “bolsominions” bolivianos) protestando nas ruas. Produtores rurais e trabalhadores informais exibindo wiphalas e cartazes pediram a revogação de um controverso projeto de lei criticado por juristas: a proposta previa a abertura de investigações financeiras, a quebra de sigilo bancário e até o congelamento de contas de qualquer cidadão por meio de decisões administrativas, mas foi retirada da pauta após os atos massivos nas ruas. Além disso, outra manifestação de cocaleros estremeceu as relações do governo com os líderes setoriais, que reclamavam das mudanças no comando do principal mercado de folha de coca em La Paz.
As tensões recentes deixaram em evidência o isolamento do vice-presidente David Choquehuanca, que mal participa da tomada de decisão e pouco comparece aos atos oficiais do Movimento ao Socialismo (MAS). Analistas políticos avaliam que esse afastamento de Choquehuanca pode ter relação com o próprio golpe sofrido por Evo: o vice defende a via da reconciliação – algo que vai no sentido oposto às punições pretendidas pelo núcleo duro do partido. Por enquanto, não há briga entre Arce e Choquehuanca, mas sim um desconforto cada vez mais difícil de esconder.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇪🇨 Estado de exceção no Equador – O país entrou em estado de exceção na segunda-feira (18). A medida decretada pelo presidente Guillermo Lasso vale por de 60 dias e foi acionada em face da “grave comoção interna” devido ao “aumento da atividade criminosa”. A taxa de homicídios no Equador pulou de 5,8% em 2016 para 10,6% em outubro deste ano; e já foram registrados 1.427 assassinatos só até agosto, 55 a mais do que em todo o ano passado. No papel, o ato busca conter o avanço do tráfico de drogas e a violência em nove províncias onde as estatísticas alertam para uma retomada da criminalidade: El Oro, Guayas, Santa Elena, Manabí, Los Ríos, Esmeraldas, Santo Domingo de los Tsáchilas, Pichincha e Sucumbíos, e vem também na sequência do motim prisional mais letal da história equatoriana, em setembro, com 119 vítimas. Na prática, porém, a medida também pode dar aos militares isenção para cometerem atos extrajudiciais e foi criticada por opositores como um artifício que poderia cercear protestos em um momento em que o presidente (e ex-banqueiro) é investigado por seu envolvimento no escândalo dos Pandora Papers. O líder equatoriano anunciou a criação de uma unidade de tutela jurídica da força pública, encarregada de defender policiais ou militares que possam ser processados no âmbito de ações de segurança. Durante a semana, o país recebeu visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que elogiou o trabalho de Lasso “para fortalecer a democracia na região e ajudar nosso povo”. Na BBC.
🇨🇱 Constituinte enfim começa a discutir texto – Mais de 100 dias após sua instalação, a Convenção Constitucional do Chile por fim deixou para trás as discussões sobre o regimento interno e começou a discutir os temas próprios do texto da Carta Magna na segunda-feira (18), justamente a data do segundo aniversário do estallido social de 2019, que disparou o processo agora em andamento. A demora era uma das principais críticas à Convenção, em um cenário de inquietação com a ação da maioria progressista e aumento das intenções de voto para a extrema direita no pleito presidencial marcado para novembro (leia mais no GIRO #103). Em meio aos debates inaugurais para a redação da nova Constituição, aventou-se pela primeira vez a possibilidade de estender o prazo de funcionamento da Convenção para além do período original – chegando a dois anos de trabalho, em vez dos nove meses prorrogáveis por mais três; Jaime Bassa, o vice-presidente da assembleia, diz que por enquanto é “apressado” falar em alongar o processo. A Constituinte também anunciou a data e local de sua primeira sessão descentralizada: na semana de 22/11, a Convenção deixa Santiago e parte para a região do Biobío, ao sul, onde promete ouvir os anseios locais. Na Infinita.
🇨🇴🇻🇪 Iván Duque não quer conversa – Sem diálogo. Ao menos é o que determinou Iván Duque após o presidente do Senado colombiano, Juan Diego Gómez, enviar uma carta a seu par parlamentar venezuelano, Jorge Rodríguez, em uma tentativa inesperada de reaproximar os dois vizinhos de fronteira, que há dois anos romperam totalmente relações políticas e diplomáticas. Apesar da boa vontade das duas casas legislativas, Duque bateu o pé: enquanto for ele o ocupante da cadeira presidencial, a Colômbia não reconhecerá o que chamou, mais uma vez, de “ditadura”. Já o governo Nicolás Maduro diz que tem “vontade absoluta” de normalizar relações. No Efecto Cocuyo.
🇬🇹 Fogo no Congresso – Um novo incêndio no Congresso guatemalteco, mas dessa vez não por obra de civis (e apenas do lado de fora): durante a semana, ex-militares invadiram a sede do legislativo na capital e queimaram carros nos arrabaldes para pressionar parlamentares pela aprovação de uma indenização que reivindicam pelos anos de serviço durante a guerra civil do país (saiba mais no GIRO #103). O fogo remeteu a cenas de novembro de 2020, quando outra manifestação também deixou o Congresso em chamas (contamos aqui). Durante os atos, um jornalista chegou a ser agredido. Os antigos soldados querem que seja aprovada uma proposta que destinaria 120 mil quetzais (ou R$ 84,5 mil) em função do trabalho no conflito, ou que o valor seja repassado a familiares em caso de falecimento. A guerra civil guatemalteca aconteceu de 1960 a 1996 e dizimou a população originária maia-ixil; as estimativas, bastante incertas, apontam para mais de 200 mil vítimas entre mortos e desaparecidos. Na BBC.
Un clic:
Protestos na Plaza Baquedano, rebatizada Plaza Dignidad pelos manifestantes, marcaram o segundo aniversário do estallido social no Chile. Muitos subiram no pedestal onde ficava a antiga estátua do general Baquedano, removida do local em março após se tornar um alvo comum das mobilizações.
REGIÃO 🌎
“A região [latina] não está no mapa da União Europeia”. Foi assim, com um tom crítico, que o Diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch, José Miguel Vivanco respondeu às perguntas e deu seu balanço sobre a atual situação do continente. Quase nenhuma autoridade foi poupada das críticas de Vivanco: para ele, o presidente dos EUA, Joe Biden, “decepcionou” em sua agenda para Cuba (que, aliás, também foi acusada pela HRW de abusos contra manifestantes), “sendo uma réplica de Donald Trump” no que diz respeito a sanções e políticas de conciliação. “Não existe uma política de Biden para a América Latina”, disse. Quem também foi alvo das duras palavras de Vivanco foi o secretário-geral da ONU, António Guterres, que “não existe na região nem mesmo para casos extremos”. A entrevista, em El País.
Ainda a HRW, mas para uma denúncia estarrecedora: documentos obtidos pela ONG junto ao governo dos EUA, e disponibilizados esta semana em um novo relatório, dão conta de mais de 160 registros internos de má conduta e abusos físicos e sexuais por parte de funcionários estadunidenses contra solicitantes de asilo. A maior parte das violações parte de agentes de fronteira. Segundo a entidade de direitos humanos, que se diz “espantada” com o conteúdo dos documentos, é necessário cobrar e punir os responsáveis. O nada surpreendente dossiê vem no momento em que a migração bate recordes históricos nos primeiros meses do governo Biden. No site da HRW.
ARGENTINA 🇦🇷
Com a inflação superando 50%, aumento da pobreza e outros problemas sociais em decorrência da pandemia de covid-19, o governo argentino anunciou o retorno do congelamento de preços por decreto – após o fracasso das negociações para que isso ocorresse em comum acordo com empresários. Conforme a resolução da Secretaria de Comércio Interior, cerca de 1,5 mil produtos básicos terão os valores congelados por três meses ao consumidor final. Não é a primeira vez que o país adota essa estratégia para tentar conter a inflação. Vários presidentes já recorreram à medida de congelar preços, inclusive Juan Domingo Perón, há sete décadas. Já nos anos 2000, nomes como Macri, Nestor Kirchner, e depois sua viúva, Cristina Kirchner, também apostaram na medida, que invariavelmente fracassou no longo prazo. Em El País.
O Twitter suspendeu, na terça (19), uma pessoa supostamente envolvida no maior roubo de dados que se tem notícia na Argentina: a conta havia divulgado informações pessoais de 44 figuras notáveis do país, incluindo o presidente Alberto Fernández e o craque do futebol Lionel Messi, que seriam parte de um vazamento que violou a confidencialidade de 45 milhões de cidadãos do país – número equivalente a toda a população que atualmente reside no território nacional. A invasão havia sido confirmada pelo Ministério do Interior no último dia 13, garantindo que o ataque teria durado só uma hora, com acesso a apenas 19 fotos e sem vazamentos críticos. No entanto, em fóruns da dark web já havia anúncios da venda dos dados sigilosos, além de promessa de vazamento de informações de até 2 milhões de pessoas, indicando que a versão oficial não era verdadeira. Os dados teriam sido obtidos junto ao sistema do Registro Nacional de Pessoas, o Renaper, órgão responsável por emitir cédulas de identidade. No Yahoo.
BOLÍVIA 🇧🇴
Em resposta ao avanço da direita na região, a esquerda se mexe: no México, o ex-presidente boliviano Evo Morales inaugurou um seminário organizado pelo Partido do Trabalho (PT) local, uma formação que apoia do mexicano López Obrador. Com objetivo declarado de debater a “ingerência imperialista”, o fórum iniciado na quinta-feira (21) conta com diversas figuras à esquerda da região. Morales aproveitou a oportunidade para mostrar gratidão ao país norte-americano, que o recebeu após o golpe em 2019: “o México salvou a minha vida”, disse. Em El País.
CHILE 🇨🇱
O governo traçou o plano para que, até 2035, todos os veículos leves e médios à venda no Chile sejam elétricos, além de buscar a emissão zero de carbono também para o transporte público e as grandes máquinas, como caminhões de mineração. Juan Carlos Jobet, o ministro de Energia, disse que o objetivo é a “consolidação do Chile como um país de energia limpa”. Nos dez anos seguintes, até 2045, o plano busca que pequenas máquinas, de construção e agrícolas, além de veículos de transporte de carga e ônibus intermunicipais, também sejam inteiramente de emissão zero. Na Istoé Dinheiro.
Un nombre:
Carondelet – a sede do governo equatoriano foi reconstruída em grande parte na metade do século 20, mas deve seu nome à reforma responsável por sua icônica fachada com colunas, iniciada em 1790. A denominação do prédio, que durante o período colonial era conhecido como Palácio Real de Quito, faz referência ao francês François Louis Hector (1747-1807; também hispanizado como Francisco Luis Héctor), barão de Carondelet, que presidiu a Audiência Real durante a remodelação do prédio. Segundo a versão tradicional, teria sido o próprio libertador Simón Bolívar quem começou a chamar a edificação de “Palácio de Carondelet”, impressionado com a arquitetura encomendada pelo administrador, que antes de ir para Quito havia sido governador, em nome da Coroa Espanhola, de El Salvador e da Louisiana.
COLÔMBIA 🇨🇴
Unidade pela Amazônia. É isso que prometem Iván Duque e Jair Bolsonaro, dois presidentes conhecidos por fazer justamente o contrário quanto o assunto é a causa ambiental. Em Brasília, o colombiano se encontrou com seu par brasileiro e com empresários que prometem investimentos para ajudar a conter problemas como a seca e o desmatamento. O encontro teve a formalização de uma cooperação entre os países na proposta de preservação da floresta durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP-26 de Glasgow, que inicia no próximo dia 31. Mas, apesar do discurso positivo, vale lembrar que pesam sobre Bolsonaro três denúncias no Tribunal Penal Internacional por destruir a Amazônia, ao passo que Duque é o líder máximo do país que mais mata e ameaça ambientalistas no mundo. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
Sempre expoente em causas ambientais, o país caribenho se tornou vencedor do Prêmio Earthshot na categoria “Proteger e Restaurar a Natureza”, honraria concedida pelo Príncipe William junto à Fundação Real britânica. Além do título, o país também receberá um valor de 1 milhão de libras esterlinas (R$ 7,8 milhões) para investir na causa. Para escolher os indicados em cinco categorias, a iniciativa destacou as soluções para os principais problemas ambientais que o planeta enfrenta atualmente. O presidente Carlos Alvarado celebrou a conquista e prometeu usar a premiação em dinheiro para trabalhos de conservação dos ecossistemas marinhos. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
Com a perspectiva de ter vacinado mais de 90% da população no mês de novembro, o Ministério do Turismo de Cuba informou que, a partir do dia 15/11, abrirá totalmente as fronteiras para o turismo internacional, sem exigir teste PCR como faz atualmente. A busca é por acelerar a retomada desse setor econômico, responsável por mais de 10% do PIB da ilha. O governo anunciou que 80% da população já recebeu alguma dose de vacina contra a covid-19, e usando imunizantes próprios: a Soberana 02, Soberana Plus e a Abdala. Cuba foi o primeiro país da América Latina a desenvolver seu próprio imunizante. Na teleSUR.
Entre o medo de voltar ao passado e a tentativa de recriar a imagem de seu pai, Roberto Batista vive um eterno dilema. Seu pai não foi qualquer pessoa: trata-se de Fulgencio Batista, ditador que reprimiu opositores e deu um golpe de Estado na ilha, anos antes de ser destronado pela Revolução de Fidel Castro, em 1959. O filho Roberto, 73, falou em uma entrevista a El País sobre suas memórias de infância, assoladas pelo fantasma da derrubada do pai e do rechaço ao sobrenome vencido pelo triunfo socialista. “Diziam-me a palavra Cuba, e eu não podia nem falar”, conta, de seus anos já na Europa, onde tentava viver (sem sucesso) no anonimato. Perguntado sobre a mão dura do pai durante os anos de regime, respondeu: “foi um ditador absoluto”. Mas, em seguida, relativizou: “em todos os acontecimentos bélicos há atropelos das duas partes que se enfrentam”.
EL SALVADOR 🇸🇻
Em novo passo para trás, o Congresso rejeitou a proposta de reforma do Código Penal que tiraria da esfera criminal mulheres que abortarem por casos de estupro, mal formação do feto ou risco à saúde da mãe – os três cenários clássicos em que muitos países latino-americanos, mesmo conservadores, permitem a interrupção da gravidez. Mas, tudo seguirá em outro século em El Salvador, um dos países menos avançados no mundo quando o assunto são direitos reprodutivos (saiba mais neste vídeo): por 73 votos a 11, em uma Casa totalmente dominada por governistas, a Assembleia sepultou a demanda. Segundo a deputada Marcela Pineda, que é da sigla da situação Nuevas Ideas, trata-se de uma “reforma insconstitucional”. Desde 1998, é a quarta tentativa de descriminalizar parcialmente o aborto no país. Pudera: atualmente, cerca de 40 mulheres estão presas sob longas penas por abortarem (em muitos casos, de forma espontânea e após violação). Em La República.
Se os avanços sociais em El Salvador estacionam, o que segue adiante é a escalada autoritária do presidente Nayib Bukele – que, mesmo jovem e autointitulado millennial, endossa as decisões sobre o aborto explicadas na nota acima. Absoluto em todos os poderes, o mandatário segue usando seu domínio para determinar a proibição de protestos pelo país, justamente no momento em que mais civis têm ido às ruas se manifestar contra os desmandos do ainda muito popular presidente. A oposição questionou ainda mais a decisão por afetar apenas protestos, isentando eventos culturais e esportivos. Segundo os governistas, manifestações podem ocorrer “com distanciamento social”. Via AP.
Dale un vistazo:
📽️ Wiñaypacha – que tal passar pela experiência de ver um filme todo gravado em um idioma originário andino? Wiñaypacha, do aymara “eternidade”, é uma produção gravada no meio dos andes peruanos, aos pés da montanha Allincapac, mais de 5 mil metros acima do nível do mar. Nessa história carregada de elementos culturais milenares, um casal de abuelitos são os protagonistas inseparáveis que esperam a volta do filho. O filme está disponível no Prime Video.
📽️ Wiñaypacha (Peru, 2017). 88 min. Dir.: Óscar Catacora.
GUATEMALA 🇬🇹
Uma hora a mais para beber a cada novo milhão de vacinados. Este é o pitoresco incentivo que o presidente Alejandro Giammattei está propondo para tentar acelerar a vacinação contra a covid-19 no país, um dos mais atrasados da região nesse quesito. Hoje, os bares que vendem álcool precisam encerrar as atividades às 21 horas, mas o presidente garante que vai ampliar em uma hora a mais no momento em que o país superar a marca de 9 milhões de vacinados. “Se chegamos aos 10 milhões, vamos subir das 22 às 23 horas e, se superamos os 11 milhões, vamos abrir até meia-noite”, garante o mandatário. Até aqui, a Guatemala aplicou pouco menos de 8,2 milhões de doses, com apenas 17% da população tendo completado o esquema vacinal. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
A gangue 400 Mawozo voltou às manchetes nesta semana, outra vez pelo sequestro de missionários estrangeiros: 17 pessoas, entre religiosos e crianças, foram raptadas pela organização criminosa, conhecida por priorizar alvos estrangeiros e cobrar altos valores para liberá-los. Desta vez, a pedida é de US$ 1 milhão por indivíduo. O grupo missionário, com base no estado de Ohio, nos EUA, foi sequestrado com cinco menores, de idades entre 8 meses e 15 anos. O caso está mobilizando agências governamentais dos EUA, incluindo o FBI, a polícia federal, e até o fechamento desta edição não havia avanço no sentido de um desfecho para o caso. Uma liderança do grupo criminoso afirmou que os reféns seriam mortos se a demanda não fosse atendida. O mais novo sequestro é parte de uma epidemia de crimes similares que vêm tomando conta da nação caribenha nos últimos anos. Em El País.
HONDURAS 🇭🇳
Liderada pelo chanceler Lisandro Rosales, uma comitiva do país viajou aos Emirados Árabes com um objetivo: atrair investimentos ao país centro-americano, que ainda vive uma imensa ressaca econômica por conta da pandemia da covid-19 e dos atrasos no calendário de vacinação. Rosales se encontrou com o presidente do Fundo de Desenvolvimento de Abu Dhabi, buscando estreitar relações diplomáticas e comerciais, que se iniciaram em 1996. Na mesma viagem, o ministro aproveitou para manter contato com vários hondurenhos radicados na península, o que poderia, no limite, ajudar Tegucigalpa a estabelecer um novo escritório na região para facilitar trâmites comerciais. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Em meio à crise mundial do novo coronavírus e acusações do presidente López Obrador contra a OMS por descaso na distribuição de vacinas, um antigo problema alcança proporções históricas: prisões de imigrantes na fronteira entre os EUA e o México bateram recorde, de acordo com dados obtidos pelo jornal Washington Post. Segundo os documentos revelados pelo veículo, 1,7 milhão de pessoas foram detidas pelas autoridades estadunidenses ao longo do ano fiscal de 2021, a marca mais alta já vista e um reflexo da crise migratória enfrentada desde o início do governo Biden. No G1.
No território mexicano, com algumas vacinas em produção no país, o presidente AMLO acusou a OMS de ser “gargalo” para a distribuição de imunizantes. Segundo ele, seu governo está há uma semana solicitando à organização que aprove vacinas como a Sputnik e a chinesa CanSino, em aplicação no país. Sem o aval da organização, os mexicanos que receberam esses imunizantes não poderão entrar nos Estados Unidos de forma regular, já que o vizinho ao norte só permitirá o ingresso de pessoas imunizadas com doses autorizadas pela OMS. No Financiero.
NICARÁGUA 🇳🇮
Mais prisões: a semanas das eleições de 7/11, dois líderes da principal federação empresarial do país foram detidos, aumentando a lista de lideranças políticas e candidatos à presidência encarcerados a mando do governo de Daniel Ortega, que articula para se reeleger mais uma vez. As prisões da vez foram do presidente e vice do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), que engloba mais de uma dezena de associações. Os dois foram presos sob acusação de lavagem de dinheiro. Michael Healy e Álvaro Vargas também fizeram parte de uma mesa de opositores que, em 2019, tentaram negociar saídas com o governo, sem sucesso. Como o GIRO explicou neste vídeo, seja prendendo adversários nas urnas ou coibindo a participação de partidos inteiros, Ortega amplia sua estratégia autoritária. Segundo os sandinistas, os empresários seriam apenas mais dois a “ameaçarem a soberania” do país com práticas criminosas (acusações que, muitas vezes, não são esclarecidas). Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
A chanceler panamenha, Erika Mouynes, instou os demais países da região a “conter” o fluxo da migração irregular, que tem no pequeno país centro-americano um de seus pontos mais dramáticos, com a mortífera selva de Darién sendo passagem obrigatória para quem vem por terra a partir da América do Sul. “A migração irregular superou nossa capacidade de resposta”, disse a ministra, argumentando que, embora Panamá e Colômbia tenham dificuldade de fiscalizar a fronteira devido à densa mata em Darién, os demais países poderiam ampliar os esforços para barrar a circulação de tantos migrantes, que vêm cruzando a região em números recordes, tentando chegar aos EUA. Além de centro-americanos e caribenhos, o encontro virtual também contou com a participação de representantes de países sul-americanos como Brasil, Chile e Colômbia, e dos vizinhos ao norte, casos de EUA e Canadá. Na Prensa Latina.
Una palabra:
Waype – nome dado a uma bola feita com fios de algodão, geralmente utilizada na limpeza (a expressão poderia vir de uma corruptela do inglês wipe), mas também embebida em líquidos entorpecentes e depois cheirada por quem busca um “barato” na noite. O waype, quando usado nesse contexto na Guatemala, também pode estar relacionado ao simples ato de sair para fazer festa e beber. Ao anunciar sua política de incentivo à vacinação oferecendo uma hora extra de bares abertos a cada novo milhão de vacinados, o presidente guatemalteco Alejandro Giammattei usou a frase “eu sei que muitos gostam do waype” para justificar a medida (leia mais na seção do país).
PARAGUAI 🇵🇾
O governo e o setor turístico celebraram a nova classificação dada ao país pelos EUA, que voltou a considerar o Paraguai como integrante da categoria 1, seguro em matérias de saúde, para viajantes oriundos do país ao norte. O anúncio vem após meses de restrições por conta da pandemia, e reflete a melhora dos números paraguaios: o país, que chegou a ter uma média de 136 mortes por dia no auge da pandemia, em junho, agora registra menos de três óbitos diários. De acordo com a Secretaria Nacional de Turismo (Senatur), o Paraguai já teve um aumento de 26% nos visitantes que ingressaram no país entre janeiro e setembro, na comparação com 2020, a maioria vindos dos vizinhos Brasil, Argentina e Bolívia. Em La Nación.
Um giro latino: a pedido do Paraguai, o México prendeu Rodrigo Granda, um dos ex-líderes da colombiana FARC. O caso começou quando autoridades em Assunção indicaram a inclusão do nome do ex-combatente na lista da Interpol, o que permitiria à jurisdição de outro país realizar a detenção. Mas por que o Paraguai resolveu ajudar? No começo do século, segundo registros, a guerrilha pacificada em 2016 colaborou com uma célula armada paraguaia no sequestro e assassinato de Cecilia Cubas, filha do ex-presidente Raúl Cubas (1998-1999). Na DW.
PERU 🇵🇪
Temendo ser só mais um presidente derrubado no país mais acostumado a essa prática nos últimos anos, Pedro Castillo encaminhou ao Congresso (justamente o carrasco dos mandatários) um projeto de reforma constitucional – o objetivo é alterar o próprio argumento legal que facilita o avanço do processo de afastamento dos presidentes. Por lá, o mecanismo do impeachment não existe oficialmente, mas há um processo de mesmo valor que determina a vacância do cargo por “incapacidade moral” – definição vaga que muitos especialistas entendem como um perigoso precedente para gerar insegurança jurídica. A nova proposta quer alterar o texto de modo que o argumento para tirar o presidente só exista em caso de “incapacidade mental ou física”. O governo Castillo também pretende alterar na Carta Magna o trecho que diz respeito ao voto de confiança que o Congresso deve dar ao gabinete presidencial – sem essa aprovação, o presidente deve dissolver sua equipe e formar uma nova, em 30 dias, o que também rende um clima de eterna instabilidade no Executivo. No Perú 21.
Por ordem de um juiz, o embaixador peruano designado para atuar na Venezuela, Richard Rojas, foi impedido de deixar o país por seis meses, prazo que a justiça deu para que seja investigada a suposta participação de Rojas em um crime de lavagem de dinheiro durante a campanha eleitoral do partido Perú Libre, hoje no poder. É o primeiro caso nos últimos tempos em que um embaixador peruano não pode deixar o país para cumprir funções diplomáticas por estar sob suspeita. O presidente Pedro Castillo, que não está sendo investigado, indicou Rojas como responsável por restabelecer relações diplomáticas entre Lima e Caracas, rompidas desde que o Peru se tornou um dos pilares do processo de isolamento continental contra Nicolás Maduro. Via AP.
PORTO RICO 🇵🇷
Mas, afinal, de quem é a culpa pela constante falta de energia na ilha? Segundo novos relatórios, não é uma pergunta de resposta única. É fato que o furacão María, de 2017, devastou o já debilitado sistema de distribuição de Porto Rico. Mesmo assim, muitos habitantes dizem que “hoje não tem furacão, e o serviço é pior”. Eles se referem ao sistema privatizado de energia, que veio após o anterior, estatal, declarar falência. Com catástrofes e crises financeiras circundando a questão energética, reparos que deveriam ser sazonais se tornaram esporádicos e circunstanciais. Além disso, apenas uma parte do sistema está sobre o guarda-chuva do capital privado, rendendo desacertos entre os dois lados. Cansados dos apagões, civis têm ido às ruas pedir respostas. Na NBC.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Conforme a campanha de vacinação avança, diferentes doações vão chegando de países mais ricos. Mas não para a República Dominicana: em um novo relatório, os EUA afirmam ter distribuído 200 milhões de doses para mais de 100 países do mundo, sendo os dominicanos os únicos da América Latina que não receberam qualquer imunizante prometido por Washington. Apesar da pouco desejável exclusividade, a República Dominicana deu conta de evoluir bem na vacinação por conta própria, tendo sido o primeiro país latino-americano a iniciar a aplicação de uma terceira dose de reforço e contando com 59% da população com o esquema vacinal completo, um dos índices mais altos da região. Via EFE.
URUGUAI 🇺🇾
Um escândalo financeiro de duas décadas atrás pode finalmente encontrar justiça em seu próprio país: José Peirano Basso, ex-diretor do Banco Alemão Paraguaio SA (Bapsa), preso no Uruguai, concluiu sua condenação no país platino e poderá enfim ser extraditado para o Paraguai, 17 anos após a Justiça em Assunção solicitar que fosse repatriado para ser julgado em casa. Peirano é acusado, junto a outros diretores do antigo banco, de retirar recursos do país e enviar a contas estrangeiras, o que acabou levando à falência do Bapsa em 2002. Ele havia sido preso no Uruguai pelo mesmo caso, no qual o banqueiro seria pessoalmente responsável por um prejuízo de US$ 12,9 milhões aos cofres da instituição. Além do desvio de dinheiro, Peirano é acusado de fraude ao apresentar o Bapsa como sucessor do antigo Banco Alemão, que havia saído do Paraguai, enganando milhares de correntistas “com cumplicidade do estamento político [paraguaio]”, segundo advogados das vítimas. A expectativa é que o Uruguai entregue José Peirano às autoridades paraguaias no próximo sábado (30). Em La Diaria.
VENEZUELA 🇻🇪
Alex Saab, Hugo Carvajal e Claudia Díaz. Os nomes da vez entre autoridades dos EUA também são os que tiram o sono de lideranças chavistas. Esses três figurões, pertencentes ou próximos do alto escalão de poder na Venezuela, podem ser o que Washington precisa para trilhar o caminho sobre o qual pretende sustentar novas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro contra Nicolás Maduro, o principal alvo. Além de Saab, tido como testa de ferro do presidente em Caracas, também entram na lista de extraditados Díaz, ex-tesoureira do país e enfermeira do falecido ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), e El Pollo Carvajal, antigo chefe de inteligência do chavismo. O país latino, por sua vez, nega as acusações desde sempre e enxerga as manobras como mais das mesmas “intimidações imperialistas”. Em El País.
Após o presidente Nicolás Maduro afirmar que vai tomar uma dose da vacina cubana Abdala, a ONG venezuelana “Médicos Unidos” fez críticas ao que chamou de “experimento” com cidadãos. O grupo voltou a pedir que o governo não utilize vacinas que não contam com aprovação da OMS, caso, por enquanto, dos imunizantes cubanos. Cuba, no entanto, segue sustentando a eficácia elevada de suas vacinas (as primeiras produzidas em solo latino-americano) e inclusive já atingiu a meta de cobertura vacinal estipulada pela entidade global.
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