Chile: plebiscito de domingo inicia nova Constituição
Bolívia: esquerda volta à Presidência com vitória em 1º turno | Venezuela: soldados russos treinam na fronteira com o Brasil | Uruguai: Pepe Mujica se retira definitivamente da política
Exatamente um ano e uma semana depois da explosão social de 18 de outubro de 2019, o Chile vai às urnas neste domingo (25) para o primeiro passo de um dos pedidos mais ambiciosos das mobilizações: a reescrita da Constituição. A população está convocada para o plebiscito que, em duas perguntas, decidirá se o país deve ou não iniciar o processo de elaboração de uma nova Carta Magna – e, caso a resposta seja “sim”, se o texto deve ser escrito por uma comissão formada parcialmente por membros do atual Congresso ou por uma Constituinte exclusiva, inteiramente eleita para isso. Tanto o “sim” quanto a Constituinte exclusiva vêm liderando por ampla margem em todas as pesquisas nacionais realizadas em 2020.
Mas a aprovação do início dos trabalhos, se realmente vier, não passa disso: um início. Entre este domingo em que os manifestantes de 2019 podem obter uma primeira vitória e a apresentação do texto final, o Chile ainda passará por outras três votações, duas delas diretamente relacionadas à Constituição propriamente dita e outra para escolher o novo presidente. Uma vez aprovada a Constituinte, seus 155 membros serão eleitos em paralelo ao pleito municipal que ocorre em 11 de abril de 2021, para um mandato de nove meses prorrogáveis por mais três. Depois, em novembro do ano que vem, o Chile escolherá o sucessor de Sebastián Piñera – e, após um ciclo de 15 anos com alternância entre Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) e Piñera (2010-2014 e desde 2018, sem poder se reeleger), há incerteza sobre qual lado do espectro larga em vantagem, e quais nomes surgirão como lideranças. Por fim, em algum momento de 2022, o país será convocado para um novo plebiscito, o definitivo, em que dirá se aprova ou não a Constituição – caso ela seja rejeitada, permanece a que vale hoje.
A atual é uma herança da ditadura, escrita à sombra do liberalismo econômico da Escola de Chicago e do autoritarismo de Augusto Pinochet, e imposta ao país após outro plebiscito, com acusações de fraude por agentes do próprio regime, em 1980. O texto passou por importantes reformas em 2005, mas manteve muitas disposições que, segundo os apoiadores da reescrita, aprofundaram as desigualdades sociais que culminaram com os protestos do ano passado. Conservadores, por outro lado, insistem que foi sob esse texto que o Chile alcançou altos níveis de renda média e desenvolvimento humano para os padrões regionais. Será esse difícil equilíbrio que estará em jogo na Constituinte: embora qualquer cidadão possa concorrer, políticos conhecidos já se apontam como candidatos, inclusive aqueles que desejam o mínimo de mudanças.
Como qualquer alteração significativa dependerá de uma maioria qualificada de dois terços dos votos na futura assembleia, os acordos serão inevitáveis: se o número mágico de votos não for atingido, uma questão pode simplesmente ficar fora do texto final. Para alguns juristas, isso não seria necessariamente um fim das mudanças: se a nova Constituição for tratada como uma hoja en blanco, uma folha em branco sem resquícios do texto atual, deixar temas de fora abre possibilidade para que eles sejam discutidos fora da Carta Magna, em leis comuns, muito mais fáceis de alterar. O contraponto é o risco de um texto final vago, que soe incompleto à esquerda ou inseguro à direita e, eventualmente, venha a ser rejeitado em 2022.
O tema seguirá dividindo o país e levando gente às ruas. No último domingo, o primeiro aniversário do chamado estallido social teve cerca de 25 mil pessoas marchando sobre Santiago, apesar das normas da pandemia, e incluiu cenas de grande repercussão como a queima de duas igrejas – um episódio muito utilizado pela direita para questionar a legitimidade dos protestos dentro e fora do Chile, mas ainda não totalmente esclarecido e com suspeitas de infiltração militar para causar desordem, já que um cabo da Marinha foi detido nas imediações de um dos templos. Em tempos de crise e fake news, com mais três campanhas eleitorais no próximo ano e meio, os ventos ainda favoráveis à mudança no Chile podem se fortalecer ou acabar mudando de direção quando a nova Constituição vier à luz.
O domingo, porém, já é histórico: o país transandino teve dez textos constitucionais desde a Independência, por vezes aprovados em plebiscitos, mas sempre escritos pelas mãos de grupos montados “de cima para baixo”. Se as pesquisas acertarem, 2020 será a primeira vez em que se abre a oportunidade para os chilenos decidirem diretamente não apenas se o país quer uma nova Constituição, mas também quem a escreverá.
😷 Covid: com a Argentina ainda liderando os novos casos e óbitos, a América Latina segue com tendência geral de baixa, apesar de ligeira subida em relação à semana passada, cujos registros foram afetados pelo feriado de 12/10. Leia nosso levantamento semanal da situação da pandemia no continente.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
Advogados e organizações humanitárias seguem tentando encontrar os pais de 545 crianças migrantes cujas famílias foram detidas e das quais foram separadas na fronteira dos EUA entre 2017 e 2018. Uma das políticas mais brutais (mas longe de ser a única) da “tolerância zero” do governo Trump com os latinos que pedem asilo a partir do México, a separação de crianças foi revertida após uma ordem da Justiça e, segundo Washington, mais de 4,2 mil crianças puderam ser reunidas com seus pais. Ainda assim, centenas de pais que foram deportados para seus países (a maioria para a América Central) continuam sem ser localizados, compondo um drama que as dificuldades impostas pela pandemia só amplificaram. Via Reuters.
A crise econômica, que já é sentida em toda a região, deve aprofundar ainda mais a desigualdade, atesta o Fundo Monetário Internacional (FMI), citando os pelo menos 30 milhões de empregos que foram perdidos na América Latina desde o início da pandemia. O Fundo vem “melhorando” suas previsões de queda do PIB regional conforme o ano avança e, neste mês, prevê que o declínio registrado em 2020 será em torno de 8,1% – o que, ainda assim, seria a maior queda já vista no coletivo das nações latino-americanas. Via Reuters.
ARGENTINA 🇦🇷
Com a pandemia ainda vivendo uma curva ascendente no país, após ser atrasada por meses por uma severa quarentena que já deixou de ser realidade, a Argentina se tornou, na segunda-feira (19), o segundo país latino-americano a superar a marca de 1 milhão de casos acumulados de covid-19. Até então, apenas o Brasil (que já tem 5,35 milhões) havia ultrapassado o número. Em números proporcionais à população, a Argentina é o país em que a situação vem se agravando mais rapidamente em outubro, tendo registrado 2.296 novos casos e 58 novas mortes a cada milhão de habitantes na última semana (no Brasil, estes números foram, respectivamente, 726 e 16). Via AP.
Com abstenção da Argentina, a assembleia geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução que condenou “as ações do regime ilegítimo de Nicolás Maduro”. O documento considerou ausentes as condições mínimas para garantir a realização das eleições parlamentares na Venezuela, marcadas para dezembro. O país comandado por Alberto Fernández foi um dos únicos do Grupo de Lima, formado supostamente para resolver a crise política venezuelana, a não votar a favor da resolução. O México também se absteve. No Infobae.
BOLÍVIA 🇧🇴
Luis Arce, o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo Morales, obteve uma vitória acachapante nas eleições presidenciais do último domingo (18), superando até mesmo as já otimistas perspectivas trazidas pelas últimas pesquisas. Com 55,1% dos votos e uma vantagem de mais de 26 pontos percentuais para Carlos Mesa, o oponente mais próximo, Arce garantiu o triunfo ainda em primeiro turno e somou meio milhão de votos a mais que o próprio Evo nas eleições supostamente “fraudadas” de 2019. Já nas primeiras horas de segunda (19), com a apuração ainda em andamento, tanto a presidenta interina Jeanine Áñez quanto o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que endossou o golpe do ano passado ao empurrar a narrativa de uma fraude até hoje não comprovada, parabenizaram a chapa de Arce pela vitória, esvaziando o temor de que um triunfo masista não seria reconhecido. Horas depois, veio a admissão da derrota de Mesa. O resultado só foi contestado pelos grupos de ultradireita ligados a Luis Fernando Camacho, um dos impulsores do golpe de 2019, que ficou em terceiro lugar com 14% dos votos, mas observadores internacionais garantiram não ter qualquer suspeita sobre o processo. Com o MAS vencedor e, aparentemente, uma oposição sem força para movimentações como a do ano passado, persistem as dúvidas: como será o novo governo, agora que o partido não possui mais os dois terços do Senado, e qual a situação de Evo Morales, asilado na Argentina e às voltas com a Justiça (que ele alega estar perseguindo-o em uma guerra suja), que já manifestou seu desejo de voltar ao país. Em entrevista à BBC, Arce procurou se distanciar estrategicamente de Evo neste momento. O novo presidente toma posse em 8/11. Leia mais do noticiário das eleições em nosso fio no Twitter.
CHILE 🇨🇱
Patricio Manns, um dos baluartes do cancioneiro chileno dos anos 1960 e 1970, causou furor na semana passada ao revelar que teria colaborado com o atentado que tentou matar o ditador Augusto Pinochet em 7 de setembro de 1986. De acordo com o músico, comandos do Frente Patriótico Manuel Rodríguez (FPMR) se reuniram na casa de Manns, exilado na França, e ele teria cooperado com os preparativos da operação, como a obtenção de coletes à prova de balas. O ataque deu errado: o FPMR matou cinco membros da escolta do general, mas o próprio Pinochet saiu quase ileso, apenas com um ferimento na mão. Aos 83 anos, Manns, que perdeu a esposa neste ano, também se recupera de uma grave enfermidade e mobilizou artistas nos últimos dias para ajudar a arrecadar fundos para pagar suas milionárias despesas médicas. Em La Tercera.
Un nombre:
Pitita – diminutivo de “pita”, corda fina feita de folhas. O termo foi usado em 2019 por Evo Morales para debochar de seus opositores mais ferrenhos, que tentaram bloquear estradas usando cordões. Formados por diversos setores da classe média boliviana, os pititas lideraram as manifestações violentas que conduziram ao golpe de Estado na Bolívia, mas não conseguiram derrotar a esquerda nas urnas. No léxico brasileiro, o apelido equivalente seria uma mistura de “bolsominion” com “coxinha” – algo como BolsoDoria.
COLÔMBIA 🇨🇴
A marcha de 8 mil indígenas colombianos – conhecida como minga – chegou a Bogotá no último domingo (18), mas não foi recebida pelo presidente Iván Duque. O movimento reclamava ações do governo contra assassinatos de líderes sociais, violações nos acordos de paz e usurpação dos territórios dos povos nativos. Sem apresentar provas, o governo Duque tentou vender a versão de que o movimento teria a participação de guerrilhas infiltradas. Porém, o ato pedia proteção justamente contra esses mesmos grupos armados. A chegada da caravana à capital coincidiu com outra rodada de manifestações realizadas na quarta-feira (21): a greve geral, que pede renda básica para trabalhadores afetados pela pandemia, melhorias no acesso ao sistema de saúde, um plano de apoio à educação e ações de combate à violência contra as mulheres. Em El Espectador.
Após quase 80 anos de promessas e disputas políticas, Bogotá finalmente vai ter metrô. Ou, pelo menos, já determinou o início das obras, que seguirão pelos próximos oito anos. A construção da primeira linha vai custar 26 trilhões de pesos colombianos (mais de R$ 38 milhões). Um dos motivos do atraso do projeto foi a briga histórica sobre a posição em que o transporte que deveria ser construído – elevado ou subterrâneo. Cada prefeito que chegava ao poder escolhia um ou outro e derrubava os planos da gestão anterior. A decisão final pela escolha de um metrô elevado se deu por razões práticas: a topografia irregular da cidade e os cuidados ambientais tornam mais cara a opção subterrânea. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
Uma das grandes referências latino-americanas em proteção ambiental, a Costa Rica aprovou nesta semana uma medida considerada um retrocesso por ambientalistas: a reativação da pesca de arrasto de camarões, que havia sido suspensa em 2017 para realização de estudos de impacto da prática sobre a vida marinha. Os deputados defensores da ideia alegam que, dentro da nova normativa, a pesca seria “sustentável”, autorizada somente a barcos de bandeira e registro costarriquenhos, e que as redes teriam que contar com dispositivos capazes de excluir peixes e tartarugas. Em El País.
CUBA 🇨🇺
US$ 5,6 bilhões. Seria esse o tamanho do rombo econômico causado pelas sanções à economia da ilha, que só cresceram durante o governo Trump. Segundo o chanceler Bruno Rodríguez, as medidas da administração republicana “sufocam” o país e privam a população de direitos básicos. Além das sanções mais severas, como o bloqueio de cruzeiros e redes hoteleiras estadunidenses em território cubano, Washington mina a atividade econômica até em pequenas coisas, como no cerceamento à compra de charutos e rum. Como o GIRO contou neste vídeo, os desmandos vindos da Casa Branca não foram menores nem mesmo durante a pandemia, que comprometeu a já fragilizada economia em Havana. Via AP.
EL SALVADOR 🇸🇻
O Departamento de Estado dos EUA declarou que pelo menos 127 pessoas foram processadas neste ano no país, acusadas de envolvimento com a gangue Mara Salvatrucha, ou MS-13, a maior em atividade em território salvadorenho. Desses, seis já haviam sido condenados à prisão perpétua. A força-tarefa de autoridades estadunidenses busca cercar a atividade das pandillas nos EUA. Desde 2016, a procuradoria acusou 749 pessoas de participação em atividades criminosas relacionadas aos grupos centro-americanos. Via AP.
EQUADOR 🇪🇨
Novos protestos contra o FMI à vista. Quase atemporal no país, o fato da vez acontece meses depois de um acordo de empréstimo entre Quito e a organização diante da crise econômica em 2020. A nova rodada de manifestações foi convocada pela Frente Unitária de Trabalhadores e ocorreu na quinta (21). O clima é de tensão: como contado em outras edições do GIRO, protestos contra o Fundo remetem a 2019, quando, também em outubro, dezenas morreram, milhares se feriram e acabaram presos na pior crise no país em anos – com direito ao poder central mudando de cidade, instalando-se em Guayaquil. Além das aglomerações, o governo teme que o paro geral inviabilize ruas e estradas, o que pode comprometer o tráfego de ambulâncias. Em El Mercurio.
GUATEMALA 🇬🇹
A procuradoria do país está atrás do ex-ministro da Comunicação José Luis Benito Ruiz, que serviu no governo do ex-presidente Jimmy Morales (2016-2020) e é acusado de lavar dinheiro e de possuir milhões de dólares não declarados. O montante de US$ 16 milhões foi encontrado em uma propriedade de Ruiz, distribuído em 22 maletas. Procurado pelas autoridades, o ex-ministro não foi encontrado, o que pode provocar uma operação de busca nos próximos dias. Via AP.
Neftaly Aldana, o membro da Corte de Constitucionalidade (CC) que sofreu dois derrames e vinha gerando uma crise institucional devido à impossibilidade de continuar no cargo, foi finalmente removido na quarta-feira (21), após 19 dias de debates sobre o que fazer (entenda mais sobre a questão na seção guatemalteca do GIRO #51). Segundo os magistrados, a demora foi para definir uma maneira de retirar Aldana sem abrir o precedente de permitir que um pedido “de terceiros” levasse à destituição de um membro da corte: embora o resultado prático tenha sido o mesmo, oficialmente a solicitação da família para que Aldana fosse removido acabou rejeitada, e o afastamento do juiz se deu por decisão dos pares. Na Prensa Libre.
Un clic:
HAITI 🇭🇹
Uma década após o surto de cólera que matou mais de 10 mil pessoas, o país segue em busca de reparação. À época ocupado por tropas brasileiras e por agentes da ONU, o Haiti viu na própria ajuda o motivo para a doença se espalhar: segundo estudos, a enfermidade foi trazida ao caribe por soldados nepaleses, o que levou as Nações Unidas ao banco dos réus anos depois. Em 2016, a entidade chegou a reconhecer publicamente sua participação na epidemia. Enquanto isso, mais uma vez na história, o país mais pobre desse lado do mundo segue em apuros e sem ajuda, com os piores índices de desenvolvimento da América Latina e dificuldade para garantir direitos básicos, como acesso a saneamento e água potável. Para ser declarado livre da cólera pela OMS, o Haiti deve permanecer sem novos casos por três anos consecutivos. Muitos haitianos dizem que beber água dos rios outrora contaminados é “a única opção” que têm. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Poderia ser um conto de García Márquez, mas é só um caso triste em San Pedro Sula. O médico Luis Enamorado, que trabalhou na linha de frente durante a pandemia, morreu de covid-19 durante a semana. Nesse aspecto, ele não é exceção: em um país com resposta tímida à crise sanitária e denúncias de corrupção que teriam subvertido a verba destinada à saúde, Enamorado é só um dos quase 100 profissionais que morreram em 2020 por conta do vírus, segundo dados do Colégio Médico de Honduras (CMH) até o mês de setembro. A vítima, porém, acabou conhecida por outras razões. Na companhia de outros colegas, o médico criou os tratamentos “maíz” e “catracho”, que combinavam vários medicamentos e, sem comprovação científica, prometiam curar os doentes. Segundo Suyapa Figueroa, diretora do CMH, o coquetel – que não salvou seu inventor – era vendido como uma espécie de “cura mágica”. No Criterio.
MÉXICO 🇲🇽
O presidente López Obrador disse que seu governo pedirá às autoridades dos EUA informações sobre as supostas ligações entre o ex-secretário de Defesa, o general Salvador Cienfuegos, e células narcotraficantes. Aposentado, Cienfuegos foi preso na última semana no aeroporto de Los Angeles e, em seguida, apontado como um ponto de suporte para que drogas de cartéis mexicanos chegassem aos EUA. Segundo AMLO, ainda que seu governo seja contra a impunidade, são necessárias mais provas para evitar injustiças. O militar ocupou a pasta de 2012 a 2018, no governo do ex-presidente e adversário de Obrador, Enrique Peña Nieto. Via AP.
Poucas datas são tão importantes e celebradas no país quanto ao Día de Muertos, em 2/11. Levando pessoas às ruas em festejos e vários mexicanos aos cemitérios, para homenagens aos entes queridos que já partiram, o dia movimenta dinheiro e comércios locais. Mas aí veio a pandemia. E para que o dia dos mortos não ganhe um sentido literal, autoridades já ligam o alerta por conta das possíveis aglomerações. O subsecretário de Saúde, Hugo López-Gatell, pediu que as administrações municipais tomem decisões responsáveis, dizendo ser “esperado” que os mexicanos deixem suas casas para celebrar. Em 2019, a data reuniu cerca de 2 milhões de pessoas nas ruas. Via Reuters.
NICARÁGUA 🇳🇮
Com apenas uma companhia aérea funcionando, o país corre o risco de ficar sem voos até o final de 2020, um possível duro golpe no setor turístico. Enquanto a maioria das companhias tem optado por adiar o retorno às atividades, só a Avianca tem operação regularizada. À pandemia (quase ignorada pelo governo), soma-se a incerteza gerada pela instabilidade política no país, o que também repele o interesse dos turistas, além dos preços elevados. Segundo dados oficiais, após uma alta de arrecadação no setor no primeiro trimestre, a covid-19 foi implacável: em um comparativo interanual, a atividade turística caiu 95% no segundo trimestre de 2020. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
O presidente Laurentino Cortizo anunciou que vai prolongar a moratória (quando um credor permite o atraso ou adiamento do pagamento de uma dívida) até junho de 2021, aliviando a situação financeira de clientes de bancos de varejo. Além da extensão dos prazos, o governo vai manter a alteração nos valores de crédito, que já atingem mais de US$ 26 bilhões devidos ao sistema bancário, segundo dados da Associação Bancária do Panamá (ABP). Estima-se que o PIB do país deva cair pelo menos 9%, com o desemprego saltando de 7,1% para 25% da força de trabalho em 2020. A informalidade também deve crescer 10 pontos percentuais, chegando a 55%. Em El Comercio.
PARAGUAI 🇵🇾
Sete cadáveres em estado avançado de decomposição foram encontrados, na sexta (23), dentro de um contêiner de fertilizantes procedente da Sérvia, no porto de Villeta, a 30 km da capital, Assunção. Alguns dos corpos carregavam consigo documentos em cirílico, o que permitiu identificar que, entre os falecidos, estavam três marroquinos e um egípcio. A polícia paraguaia diz ter encontrado restos de comida junto aos mortos, o que indica que eles poderiam ter embarcado clandestinamente na expectativa de uma viagem curta, talvez até a Croácia, e agora contatará as autoridades sérvias em busca de informações sobre desaparecidos naquele país. De acordo com as autoridades forenses, eles poderiam ter morrido juntos ou em diferentes momentos, por asfixia, desidratação ou inanição. Os contêineres, embarcados em 21/7, passaram por Croácia, Egito, Espanha e Buenos Aires, antes de chegar a Villeta, mais de três meses depois. Via AFP.
O Rio Paraguai segue batendo recordes na longa seca que castiga o país (saiba mais no GIRO #49 e em nosso vídeo sobre a crise climática no continente) e, nesta sexta (23), atingiu a marca de -0,49 metro em Assunção, nove centímetros abaixo do que até este ano era o recorde histórico, registrado em 1969. No ABC Color.
Un nombre:
Titicaca – o lago navegável mais alto do mundo, na fronteira entre Bolívia e Peru, a 3,8 mil metros de altitude e com mais de 100 metros de profundidade. Embora a origem do nome seja incerta, a palavra quéchua “titi” significa puma ou gato e “caca” quer dizer pedra. Curiosamente, vistos do espaço, os contornos do lago formam a figura estática de um felino caçando outro bicho. O lago Titicaca tem mais de 40 ilhas naturais e outras flutuantes, feitas de junco. Nas margens desse enorme espelho d’água, habitaram diversos povos andinos, como os purakas, os incas e os tiwanakus – que ali construíram até mesmo um templo milenar, hoje submerso.
PERU 🇵🇪
Uma nova moção de vacância, que pode eventualmente levar à destituição do presidente Martín Vizcarra, segue avançando no Congresso peruano pouco mais de um mês depois de o mandatário se livrar de um processo semelhante (leia no GIRO #48). Agora, o pedido se refere a um suposto suborno que Vizcarra teria recebido em 2013, quando ainda era governador de Moquegua (contamos no GIRO #52), e tenta enquadrar o presidente por “permanente incapacidade moral”. Nesta semana, o Congresso confirmou que a admissibilidade da nova vacância será votada no próximo sábado (31). Em El Comercio.
O governo não vai assinar um acordo de compra de vacinas feitas pela AstraZeneca, anunciou um representante em Lima. Segundo pessoas próximas à presidência, o motivo seria a insuficiência de dados enviados pelo laboratório. Com os piores números proporcionais no mundo – a cada mil peruanos, um morreu de covid-19 – o Peru também disse, por meio de seu primeiro-ministro Walter Martos, que condições oferecidas por outros laboratórios são mais vantajosas. Martos também não descartou a possibilidade de uma segunda onda de contágio, dizendo, no entanto, que não deve ser tão severa se comparada à que ocorre na Europa. Via Reuters.
PORTO RICO 🇵🇷
Um surto de covid-19 entre autoridades obrigou o governo a fechar provisoriamente os serviços de atendimento emergencial da polícia, chamados popularmente de 911, número usado para fazer as denúncias. Segundo o secretário de Segurança Pública, Pedro Janer, as chamadas de socorro devem ser feitas em dois números alternativos, que seguirão trabalhando em regime de 24 horas. Diversos setores do país temem que essa mudança, determinada pela primeira vez desde que se tem registro, possa alterar a data de resposta às emergências relatadas pelos porto-riquenhos. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Nova marca, polêmica de brinde. Empossado há poucos meses, o governo do presidente Luis Abinader resolveu lançar uma nova identidade visual, apresentando um estilizado logo com as iniciais R e D. O problema: pouco depois do lançamento, o governo foi acusado de usar um design plagiado, cuja fonte original seria um modelo criado por uma empresa de publicidade russa, em 2014. Após uma imensa mobilização na rede social, o poder em Santo Domingo entrou em contato com a firma mexicana responsável pelo cambio de marca. Segundo os contratados pelo governo, que cobraram cerca de US$ 567 mil, o trabalho foi resultado de meses de pesquisa e não constitui plágio. Em El Día.
URUGUAI 🇺🇾
“Há um tempo para chegar e um para ir”. Com frases como essa (e outras), o ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015) disse seu adeus oficial à vida política na terça (20), quase três décadas depois de pisar pela primeira vez no parlamento uruguaio. Além das preocupações geradas pela pandemia, o político de 85 anos também diz que o momento é de formar as futuras gerações. A sessão do Congresso foi histórica: além de Mujica, o ex-presidente Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), primeiro mandatário civil a liderar o país depois dos anos de ditadura militar, também formalizou sua renúncia. Via Reuters.
VENEZUELA 🇻🇪
O Nabarima, um navio com mais de 1 milhão de barris de petróleo no Golfo de Paria, entre a Venezuela e Trinidad e Tobago, vem causando preocupação em ambientalistas após aparecer inclinado em alto mar em fotografias tiradas na semana passada. Na terça (20), autoridades trinitário-tobagenses fiscalizaram o local e garantiram que o navio não corria risco iminente de afundar, mas planos para transferir a carga estão em andamento e poderiam levar a vazamentos. O Nabarima é operado por uma joint venture entre a estatal venezuelana do petróleo, a PDVSA, e a italiana Eni. Via Reuters.
A presença de soldados russos próximos à fronteira do Brasil nas últimas semanas vem levantando alertas deste lado da fronteira. Segundo o governo de Nicolás Maduro, a presença dos estrangeiros no estado Bolívar, que faz divisa com Roraima, tem como objetivo a realização de treinamentos conjuntos. Os russos teriam chegado à Venezuela em 9/10, pouco tempo depois de o próprio Brasil ter realizado uma operação inédita de simulação de guerra na Amazônia, entre 8/9 e 22/9 (leia mais no GIRO #52). No Infobae.
O ex-presidente boliviano Evo Morales, asilado na Argentina desde dezembro, partiu à Venezuela na sexta (23), em um voo do governo da nação caribenha. A expectativa é que ele se reúna com autoridades ligadas a Nicolás Maduro e regresse à Argentina já no domingo, enquanto ainda não se resolve o tema de seu eventual retorno ao país natal. Em El Tiempo.
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