Panamá: alta de preços desata paralisação massiva
Argentina: processo contra Macri não avança | El Salvador: relatório denuncia fim da divisão entre poderes | Honduras: filho de ex-presidente Porfirio Lobo é executado
🇵🇦 Em junho foi no Equador, mas não demorou para que a alta no custo de vida dos cidadãos, entre outros impasses socioeconômicos, também virasse motivo para uma onda de protestos massivos no Panamá. Nas últimas duas semanas, milhares de panamenhos têm ido às ruas em diversos pontos do país cobrando ações do governo frente a um cenário inflacionário que tem consumido o poder de compra e agravado a situação de pobreza, sobretudo entre populações mais vulneráveis. As novas manifestações que se alastram pelo país também têm na origem um inimigo comum em quase toda a região: a alta nos preços dos combustíveis ao longo do ano; só entre janeiro e julho de 2022, o valor subiu 47% nos postos panamenhos, tornando-se um ponto de ebulição para as mobilizações.
Por trás do paro estão os sindicatos, que ao lado de outras organizações sociais estabeleceram uma lista com 32 reivindicações. Entre as demandas enviadas ao governo, os grupos pedem aumento geral nos salários, redução do preço do galão de gasolina para US$ 3 (cotado a US$ 5,17 antes dos protestos), congelamento de preços dos produtos da cesta básica e maior fornecimento de medicamentos ao Fundo de Seguridade Social do país. Os indicadores econômicos já vinham se agravando desde o início da pandemia, com a queda de 17,9% do PIB em 2020, em função da alta dependência do Canal do Panamá em relação ao comércio internacional. Agora, em um cenário de recuperação pós-covid, o bolso da população panamenha foi afetado pelos efeitos inflacionários da guerra da Ucrânia, que jogou os preços dos combustíveis nas alturas.
Acuado, o presidente Laurentino Cortizo resolveu agir: em um recado à nação transmitido na segunda (11), anunciou que o galão de gasolina passaria a custar “US$ 3,95 para veículos particulares a partir do dia 15 (sexta)”. O mandatário também prometeu que vai congelar o preço de pelo menos 10 itens da cesta básica de consumo, e ainda cortar gastos do funcionalismo público e do salário de servidores – além da crise econômica, o combate à corrupção também se tornou uma das bandeiras das manifestações. Atribuindo a situação atual do país ao somatório de crises recentes, Cortizo fez votos por protestos pacíficos e pediu que se evite a obstrução de rodovias. Nas províncias de Veraguas e Chiriquí, próximas à fronteira com a Costa Rica, membros do paro interditaram a Via Interamericana, que conecta o Panamá ao restante da América Central. Assim como no caso equatoriano, o governo teme que as paralisações levem a maiores prejuízos econômicos, piorando uma situação já delicada.
Mas, por enquanto, nada de acordo: após as medidas anunciadas pelo governo, o Sindicato Único dos Trabalhadores da Construção do Panamá, apenas um dos grupos que endossa o levante, anunciou uma greve de 24 horas no setor de construção frente ao que seu Secretário-Geral, Saúl Méndez, chamou de falta de “respostas concretas às necessidades” da população. De forma uníssona, sindicatos e agremiações consideraram que as reduções anunciadas por Cortizo “estão longe de satisfazer as necessidades frente à situação que o país atravessa”. A Aliança Nacional pelos Direitos do Povo Organizado (Anadepo), outra que encabeça as jornadas, reiterou que “pedidos básicos” têm sido feitos desde o final de maio. Diante do rechaço, o governo convidou lideranças a uma mesa de diálogo na quinta (14), a fim de chegar a “soluções viáveis e factíveis”. Tão logo o debate foi convocado, sindicatos rejeitaram o que chamaram de diálogo entre “eu e eu mesmo”, sugerindo que tudo não passaria de um arranjo “para favorecer o governo e os empresários”. “Queremos algo real”, disseram. Mesmo assim, na sexta, as conversas entre governo e Anadepo tiveram início na província de Veraguas.
Os protestos em terras panamenhas não têm data para terminar, sintoma de incerteza que se repetiu por toda a América Latina ao longo de 2022. Como explicado pelo GIRO nas edições #136 e #137, o caso mais notável foi no Equador, onde, por 18 dias, as fortes organizações indígenas pararam o país e conseguiram baixar preços, derrubar ministros e até mesmo obter decretos que reduziriam a atividade extrativista de mineradoras. Manifestações contra preços altos nas bombas e de outros produtos também foram vistos em Honduras, Peru e Haiti.
No Paraguai, temendo ver o filme se repetir, o governo se viu obrigado a avançar com um fundo para subsidiar o preço dos combustíveis, além de outras medidas de auxílio para mitigar o impacto dos preços. A República Dominicana também prorrogou nesta semana um congelamento de preços que já vigorava. Uma injeção bilionária de verba para reduzir o baque da inflação também foi aprovada pelo Chile na segunda (11), e até o Brasil entrou na onda de benefícios criados alegadamente para mitigar a crise dos combustíveis, embora o projeto conviva com acusações de estar permeado por interesses eleitorais. E, em um dos casos inflacionários e cambiais mais brutais do mundo (e que vem de muito antes das crises atuais), a Argentina – com inflação de 64% nos últimos 12 meses e mais de 36% no acumulado deste ano – vê um recém-lançado iPhone 13 custar mais de 1 milhão de pesos (R$ 40 mil), o equivalente a mais de 20 salários mínimos, devido a uma mescla de alça descontrolada dos preços e escassez de eletrônicos importados no país. Diante de tudo isso, é provável que mais marchas pelas ruas do continente surjam nos próximos tempos. Já o prazo para o fim da tormenta é mais difícil de prever.
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DESTAQUES
🇦🇷 Processo contra Macri não avança – Sem provas suficientes. É o que concluiu nesta sexta-feira (15) a Câmara Federal de Justiça de Buenos Aires para revogar o processo que corria contra o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que era acusado de espionar os familiares das vítimas do desastre do submarino ARA San Juan – a embarcação desapareceu em novembro de 2017 carregando 44 tripulantes e só foi encontrada um ano mais tarde. Após deixar o poder, Macri foi acusado de ordenar escutas ilegais ao longo dos doze meses em que as famílias pressionavam o governo em busca de informações sobre o submarino, sem obter respostas. O ex-presidente sempre negou o caso e, após a divulgação da suspensão do processo contra si, celebrou: “ganhou a verdade”. Por outro lado, o atual governo, que foi oposição a Macri, protestou: “foi salvo por seus amigos”, alfinetou o ministro de Justiça, Martín Soria, insinuando que o arquivamento nada tem a ver com falta de provas. No Clarín.
🇸🇻 Relatório denuncia fim da divisão entre poderes – A separação dos poderes virou uma ficção em El Salvador. É o que conclui um novo relatório da Fundação para o Devido Processo, entidade de direitos humanos criada no país durante a Comissão da Verdade, na década de 1990. Segundo os pesquisadores, o “enfraquecimento” da divisão aconteceu com a “cumplicidade” do Supremo salvadorenho, em um processo que vem desde o ano passado: imediatamente após os aliados do presidente Nayib Bukele assumirem a maioria do Congresso em maio de 2021, a parte do Judiciário que lida com temas constitucionais foi inteiramente substituída por nomes favoráveis ao governo. “Mais do que três poderes independentes e separados, existe uma só força política no controle de todos eles, concentrada no Executivo. O sistema de pesos e contrapesos democráticos desapareceu”, resume o informe divulgado na quarta (13). Via EFE.
🇭🇳 Filho de ex-presidente é executado – Said Lobo Bonilla, de 23 anos, filho do ex-presidente hondurenho Porfirio Lobo (2010-2014), foi executado junto de outros três homens na capital Tegucigalpa, nas primeiras horas da madrugada de quinta-feira (14), quando saíam de uma casa noturna. As câmeras de segurança mostraram o grupo fortemente armado retirando os homens de seus carros e os colocando contra uma parede ainda na garagem do estabelecimento, antes de disparar os tiros. Tudo sem resistência: os criminosos vestiam coletes aparentemente associados a um esquadrão de combate ao crime organizado da polícia hondurenha – embora o governo afirme que, ao contrário, o grupo na realidade estaria ligado precisamente a uma pandilla. De início, inclusive, a Polícia Nacional chegou a atribuir o massacre à MS-13, gangue de origem salvadorenha com tentáculos no crime organizado em toda a América Central, mas depois voltou atrás e disse que “tudo está em processo de investigação”. Na Prensa.
🇻🇪 Briga por ouro em Londres tem novo capítulo – Uma disputa legal envolvendo lingotes de ouro no valor de US$ 1,5 bilhão. É sobre isso que a justiça do Reino Unido passou a deliberar na quarta (13), em um julgamento de quatro dias que vai decidir se aceita as decisões do Tribunal Supremo da Venezuela sobre a anulação de um “comitê paralelo” do Banco Central venezuelano criado por Juan Guaidó – quando ainda tinha algum prestígio, além de se autoproclamar presidente, o opositor (que até hoje tem interinidade reconhecida por Londres) fez um puxadinho no BC do país, em outra tentativa de estender seu poder à margem do chavismo. Pouco depois, esse comitê de Guaidó solicitou a devolução do ouro depositado pelo governo chavista no Banco da Inglaterra. A partir daí, virou imbróglio: por um lado, Londres segue dizendo que o presidente Nicolás Maduro não ocupa o cargo de forma legítima; ao mesmo tempo, são fortes as denúncias de tribunais venezuelanos contra Guaidó – que, hoje em dia, além de sequer ser a figura mais respeitada pela oposição, já nem ocupa mais o posto de presidente do Legislativo venezuelano, prerrogativa que usou para defender sua Presidência autoproclamada. Um novo parecer das cortes britânicas deve vir nos próximos dias. Via AFP.
🌎 John Bolton cita golpes que ajudou a planejar na região – Da série “quem poderia imaginar”: John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional do governo dos EUA durante os anos de Donald Trump e também ex-embaixador do país na ONU, falou na quinta (14) sem nem corar o rosto – durante seu tempo na Casa Branca, planejou tentativas de golpes de Estado em vários países, entre eles, a Venezuela. Rompido com Trump desde sua saída do cargo, o “falcão” Bolton chegou até mesmo a sugerir que o bilionário republicano não teria capacidade de organizar um golpe – algo que, para ele, deve ser “cuidadosamente planejado”. Mas as falas da antiga autoridade que praticamente resumem a política externa de Washington no século 20 não ficaram sem resposta: o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Jorge Rodríguez, disparou: “O que estava na mente desse maluco John Bolton era que a violência iria se acelerar para que eles tivessem uma desculpa para uma invasão militar na Venezuela”. Na CNN.
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MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro confirmou, na quinta (14), que não pretende participar da iminente reunião do Mercosul, marcada para o próximo dia 21 no Paraguai – será o primeiro encontro presencial dos líderes do bloco desde o início da pandemia. Preocupado com uma reeleição a perigo e conhecido por esnobar outros presidentes latino-americanos, Bolsonaro disse que tomou a decisão apesar de “gostar muito do Marito”, em referência ao paraguaio Mario Abdo Benítez. Na Folha.
ARGENTINA 🇦🇷
Mais protestos do setor agrícola contra o governo de Alberto Fernández: na quarta (13), organizações ruralistas do país voltaram a se manifestar contra a política econômica da gestão peronista, suspendendo a comercialização de grãos por 24 horas. Entre as demandas da vez, em um cenário de inflação acelerada que pode fazer o país terminar o ano com a maior escalada de preços do mundo em 2022, estão a isenção de impostos de exportação e a normalização do abastecimento de combustíveis (um drama regional, como explicado no abre deste GIRO) – o país vem enfrentando uma escassez de gasolina e diesel. O governo alega motivação política no protesto, e setores aliados afirmam que, apesar da crise que afetou outros setores, não teria havido falta de combustível para o campo. No G1.
BOLÍVIA 🇧🇴
“Potências do lítio”. Assim disse o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) sobre seu país e a Argentina, os dois maiores detentores de reservas do chamado “ouro branco” no mundo, segundo um ranking do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Em Buenos Aires – onde já recebeu status de refúgio após o golpe de 2019 – para um encontro com seu aliado Alberto Fernández, o ex-líder cocalero discutiu temas econômicos de interesse comum e os rumos democráticos da região. Em uma longa entrevista, Morales disse que as duas nações têm um enorme potencial natural a explorar nos próximos anos. No Público.
CHILE 🇨🇱
Sem fim à vista: o governo prorrogou pela terceira vez a emergência em zonas do sul do país. Desde meados de maio, o estado de exceção vigora na área em função dos conflitos entre o setor agrário e a população originária mapuche. Embora o presidente Gabriel Boric tenha chegado ao poder com a expectativa de solucionar a questão sem apelar à velha fórmula de intensificar a presença militar na área, uma sucessão de ataques contra empresas florestais e transportadores aumentou a pressão pela intervenção armada que agora tem sido continuamente prorrogada. Os povos originários exigem há anos a restituição de terras que, argumentam, foram-lhes usurpadas desde o século 19 – ainda que a maioria dos protestos sejam pacíficos, pequenas células radicalizadas ampliaram a tensão e teriam dado margem para outros grupos criminosos, sem relação com o conflito original, se aproveitarem do cenário de insegurança. No Valor.
Parece história de pescador: um peixe-remo (Regalecus glesne) de 5,8 metros foi encontrado na segunda-feira (11) na costa de Arica, no norte chileno. Incomum na região, sua presença levantou alerta por conta de uma antiga lenda japonesa, segundo a qual o animal é avistado sempre antes de catástrofes como ciclones, terremotos e tsunamis. Dito e feito: mesmo sem grandes estragos, no dia seguinte a região de Arica acabou registrando um forte tremor de terra. Apesar de confirmar a superstição para muitos, especialistas apontam que nenhum estudo já feito comprova uma relação entre as aparições do peixe e eventuais desastres – seria apenas uma “correlação ilusória” criada pelo folclore e pelo fato de que a criatura é mais presente justamente em áreas limítrofes entre placas tectônicas. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
A ONU pediu transparência e aceleração dos Acordos de Paz ao novo governo colombiano, que assume em 7/8. O chefe da missão da entidade na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, alertou que a violência contra comunidades, líderes e ex-combatentes continua. Desde a assinatura da paz com as FARC em Havana, em 2016, mais de mil líderes sociais e 331 ex-combatentes foram mortos – quatro deles só nas últimas duas semanas. Sem mencionar o fracasso no cumprimento dos acordos por parte do governo de Iván Duque, o representante da ONU mencionou que há “boas razões para manter o otimismo” em relação à postura do presidente eleito Gustavo Petro. Nas reuniões com a entidade, o novo mandatário assegurou que a paz seria uma “pedra angular” em seu governo. No site da ONU.
A política do governo Duque para tentar acabar com a produção de cocaína à base de bala e destruição de plantações não tem dado muitos resultados. Segundo um estudo feito pela divisão de Controle de Drogas nos EUA, o país sul-americano manteve, em 2021, uma produção anual de 972 toneladas de cocaína – praticamente empatada com as 994 toneladas de 2020. Os Estados Unidos são o principal mercado importador da droga colombiana e, não por acaso, o gigante do Norte mantém uma relação bem próxima (quase invasiva) na coordenação de políticas relacionadas ao tema. A parceria com a Casa Branca agora será posta à prova com a chegada do presidente eleito Gustavo Petro, que é crítico das táticas, apoiadas pelos EUA, de pulverização aérea em plantações. Via AP.
COSTA RICA 🇨🇷
Não é comum na Costa Rica, vista como uma exceção democrática na América Central, mas nesta semana o presidente Rodrigo Chaves entrou em conflito direto com a imprensa local: após o polêmico fechamento de um centro de eventos ligado ao grupo que controla o jornal La Nación, tanto o diário quanto a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) manifestaram preocupação com a possível violação da liberdade jornalística. Chaves reagiu indignado, afirmando que nenhum veículo foi fechado e nenhum repórter foi preso (caso bastante comum na vizinha Nicarágua), e que o La Nación “difamou a pátria” para defender os interesses de seus donos. “Não podem acreditar esses senhores feudais autocoroados que um governo do povo tenha a ousadia, a falta de respeito, de querer que eles operem conforme a lei que rege para os reles mortais”, ironizou o mandatário. O argumento oficial para suspender o alvará sanitário do Parque Viva seria o risco representado pela alta circulação de veículos e pessoas, que estaria afetando os moradores das redondezas ao bloquear o tráfego de policiais, bombeiros e ambulâncias. Na DW.
Una palabra:
Aguinaldo – A gratificação do final do ano aos trabalhadores que possuem vínculo empregatício – conhecido no Brasil como o décimo-terceiro. Apesar da origem do termo aguinaldo ser incerta, existem algumas hipóteses. Uma delas faz referência ao povo celta, em que o costume conhecido como eguinad promovia a troca de presentes de Ano-Novo. Outra possibilidade é que a palavra venha de “aguilan”, costume francês de se presentear uns aos outros no período das festas de fim de ano. É por isso que, em alguns países da região, os presentes natalinos também são chamados de aguinaldos. O termo associado a esse costume prevaleceu na Colômbia, na República Dominicana e no México – onde a palavra ganhou um novo significado para o mundo empregatício.
CUBA 🇨🇺
A data de início dos maiores protestos da era revolucionária da ilha completou um ano na segunda (11) e novas críticas ao governo cubano vieram à tona. Dessa vez, quem aproveitou a efeméride para cobrar Havana pela condução dos processos contra manifestantes no período posterior às jornadas de 11 de julho de 2021 foi a Human Rights Watch. A organização publicou um relatório de 36 páginas baseado em mais de 170 entrevistas, ouvindo civis presos, suas famílias e seus advogados. Segundo a HRW, que denuncia mais de 1,4 mil pessoas detidas no contexto das manifestações de julho passado – das quais 700 ainda estariam atrás das grades – houve casos de violação de direitos humanos e arbitrariedade legal contra detidos. A entidade fala, até mesmo, em casos de violência física. No site da HRW.
EQUADOR 🇪🇨
Os protestos acabaram – as negociações, não. Na quarta (13), menos de duas semanas após acordarem uma trégua em 30/6, governo e lideranças da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) iniciaram uma nova rodada de negociações relacionadas a um aumento dos subsídios aos combustíveis (tema que desencadeou as jornadas de 2019), entre outras condições para o fim dos levantes – como o perdão de dívidas e aumento de auxílio a comunidades campesinas. As discussões posteriores ao fim dos protestos (recapitule o caso aqui) devem acontecer em um prazo de 90 dias. Entre as demandas da Conaie aceitas pelo governo Guillermo Lasso estão uma maior redução nos preços dos combustíveis para o setor rural – o Executivo já havia determinado uma diminuição de US$ 0,15 por galão, mas os grupos indígenas pretendem pedir mais. Como também foi o caso no final do último mês, a mesa de diálogo tem sido mediada pela Igreja Católica equatoriana e conta com a participação de reitores de três universidades. Mas ainda que as partes estejam dialogando, o mesmo não vale para Lasso e Leónidas Iza, presidente da Conaie: em uma querela pessoal desde junho, os dois seguem trocando acusações. No RPP.
GUATEMALA 🇬🇹
Como costuma acontecer todos os anos, dramas climáticos têm afetado a vida de milhares de guatemaltecos. Dessa vez, são as fortes chuvas: segundo números recentes, autoridades já contabilizam 24 mortes, quatro desaparecimentos e mais de 3,4 mil pessoas afetadas por episódios que vão de deslizamentos de terra a inundações. Na segunda (11), o Instituto Nacional de Sismologia, Meteorologia, Vulcanologia e Hidrologia (Insivumeh) alertou que as precipitações iriam “regressar durante a semana” em função de nova mudança no clima. O órgão alertou para novos cenários de risco próximos às cadeias vulcânicas, além de maior incidência de inundações repentinas e obstrução de estradas e pontes. Por conta do quadro crítico que já afeta turismo e economia, fica mantido o decreto de calamidade pública em 8 dos 22 departamentos do país – decisão tomada pelo presidente Alejandro Giammattei há três semanas. Na Prensa.
HAITI 🇭🇹
Uma semana após o assassinato do presidente Jovenel Moïse completar um ano (saiba mais detalhes na última edição), o Haiti mostra como o magnicídio e o vazio de poder subsequente apenas agravaram um quadro de violência urbana que já era delicado: em mais um confronto entre as gangues rivais G9 e G-Pep – que já praticamente disputam o controle de cidades inteiras – ao menos 89 pessoas foram mortas em apenas uma semana, segundo informou na quarta (13) a ONG Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. A entidade também reporta pelo menos uma dezena de desaparecidos. Desde a morte de Moïse, o país caribenho tem sido varrido por protestos, rebeliões, motins e uma escalada sem precedentes na violência. Na DW.
HONDURAS 🇭🇳
A defesa do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), extraditado para os EUA por acusações de crime de narcotráfico (relembre o caso), vai solicitar à Justiça a anulação do processo contra o político. Segundo os advogados, as provas contra JOH em posse da CIA seguem classificadas, argumento que dizem ser suficiente para que tudo seja desfeito. “Parece que a CIA não quer entregar [as provas] ao governo. E, se não entregarem, vou pedir a anulação”, disse na terça (12) Raymond Colón, que lidera a equipe de defesa à frente do caso. Negando as acusações – que diz ser parte de uma retaliação que o próprio crime organizado teria desenhado para punir seu governo pelo enfrentamento aos cartéis – o ex-mandatário tenta a todo custo evitar uma condenação, que pode até mesmo ser uma pena de prisão perpétua (sentença que seu irmão, punido por crimes similares, recebeu no ano passado). Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Morreu aos 100 anos, no sábado (9) o ex-presidente Luís Echeverría (1970-1976), na cidade de Cuernavaca, não muito longe da capital. Apenas mais um líder do Partido Revolucionário Institucional (PRI), hegemônico durante o último século, Echeverría ficou marcado também por um massacre anterior ao seu tempo na presidência: em 1968, ainda à frente da pasta do Interior, foi um dos acusados de estar por trás das ordens que terminariam com a matança de centenas de estudantes, conhecido depois como “Massacre de Tlatelolco”. O banho de sangue na praça da capital, cujas cifras até hoje são motivo de divergência, aconteceu pouco antes da realização das Olimpíadas daquele ano. Já sob seu governo, outro massacre estudantil que entrou nas páginas infames da história mexicana: em 1971, presidiu sobre o “Halconazo”, violenta repressão àquela que havia sido a maior mobilização desde Tlatelolco. Apesar da repercussão e das críticas, Echeverría jamais seria devidamente punido: para além de ser recompensado com a faixa presidencial e a manutenção no cargo, o líder morreu sem ver as acusações de genocício que recebeu se transformarem em condenação – ficou em prisão domiciliar por apenas nove dias e, em 2009, foi exonerado de todas as acusações. Durante seu mandado, o priista também promoveu a chamada “guerra suja”, levando ao desaparecimento e morte de diversos opositores. Em El País.
Um mês após boicotar a Cúpula das Américas 2022, realizada em Los Angeles, o presidente Andrés Manuel López Obrador viajou a Washington para sua terceira visita oficial aos EUA. E o clima foi bem mais amistoso: falando em “defender os interesses dos compatriotas” – que representam 10% de toda a população do vizinho ao norte – o mandatário se sentou com Joe Biden na Casa Branca na terça (12) para discutir temas de migração, economia e segurança na fronteira – alguns dias antes do evento, um caminhão com dezenas de corpos de imigrantes latinos foi encontrado no Texas. Além do alto oficialato do governo, AMLO levou na comitiva representantes da estatal mexicana do petróleo, a PEMEX, que trocaram figurinhas com empresários dos dois países. Na F24.
O narcotraficante Rafael Caro Quintero, conhecido antigamente como o "capo dos capos", foi preso nesta sexta-feira (15) em uma operação militar em Sinaloa, no México. Segundo um comunicado da Marinha, ele foi encontrado "no meio do mato" por um cão farejador. Um helicóptero militar que participaria da ação sofreu um acidente que deixou 14 pessoas mortas. O governo ainda não revelou as causas do acidente. Caro Quintero foi um dos chefes do Cartel de Guadalajara e estava na lista dos mais procurados nos EUA, que também pedem sua extradição. Ele é acusado de ter assassinado, em 1985, Enrique "Kiki" Camarena Salazar, agente da Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA). Ele chegou a ser preso e condenado a 40 anos de prisão, mas ficou foragido desde 2013, após ser liberado por um erro no andamento do processo judicial. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Nada novo: a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) denunciou o que chamou de “nova onda de perseguição” exercida pelo governo Daniel Ortega contra os trabalhadores do La Prensa, apenas mais um veículo transformado em algoz da revolução pelos orteguistas durante a escalada autoritária do presidente. A SIP também exigiu a libertação de jornalistas e funcionários do jornal, detidos na última batida da polícia. As novas pressões à redação vieram após uma reportagem que detalhou a expulsão de mais de uma dezena de missionários religiosos, pouco depois do Executivo também determinar o fechamento de uma centena de ONGs (sempre arbitrariamente acusadas de, sob ordem internacional, conspirar contra o governo). Segundo a entidade, os profissionais detidos são “vítimas de abuso, intolerância e falta de respeito a seus direitos fundamentais”. Via EFE.
Dale un vistazo:
📺 Rompan Todo (2020) – Em homenagem ao Dia do Rock, celebrado no Brasil na quarta (13), nossa dica da semana é a série documental sobre a história oficial do gênero na América Latina. A produção começa pelas adaptações das músicas estadunidenses ao contexto hispanohablante, passa pelas canções feitas antes, durante e depois das ditaduras que assolaram o continente e termina com as novas bandas e as fusões com outros gêneros. Importante ressaltar: a série foi muito criticada por focar demais no mainstream do rock em espanhol e nos artistas agenciados pelo músico argentino Gustavo Santaolalla, um dos produtores da série. De qualquer forma, fica o convite para assistir aos seis episódios disponíveis na Netflix.
PARAGUAI 🇵🇾
Uma nova febre de mineração, mas digital, vem varrendo a cidade de Villarrica, cerca de 150 km a leste da capital Assunção: no município de 60 mil habitantes, há em torno de 30 mil computadores dedicados à controversa mineração de bitcoins – processo pelo qual as máquinas resolvem complexos problemas matemáticos e, em troca, ganham a criptomoeda. Condenada como danosa ao meio ambiente pelo extremo consumo energético necessário para obter um retorno economicamente viável, a mineração é considerada mais plausível em território paraguaio, se não em relação à natureza, pelo menos no bolso de quem tenta ir por este caminho, devido ao preço relativamente acessível da luz no país em função da produção excedente de Itaipu. A ideia por trás da criptomineração paraguaia é consumir esse excesso de energia sem “cedê-la” ao Brasil que, pelos termos do acordo binacional firmado em 1973, pode comprá-la por valores muito abaixo da média de mercado. Em Villarrica, além disso, a distribuição local ocorre por um valor inferior à própria média já baixa do país, atraindo paraguaios e estrangeiros para o setor. Em uma reportagem em vídeo, a BBC conta como Villarrica se tornou um polo de mineração em uma indústria que gera dinheiro sem criar empregos.
PERU 🇵🇪
Acusadas de praticar “bruxaria”, sete mulheres teriam sido perseguidas e torturadas por ronderos, patrulhas campesinas que atuam como uma espécie de guarda paralela em regiões remotas do país, sobretudo contra a violência de guerrilhas como o Sendero Luminoso (o próprio presidente Pedro Castillo já fez parte de uma). As mulheres teriam sido sequestradas no distrito de Chillia, em Pataz, a mais de 700 km de Lima, mas foram libertadas – mesmo assim, segundo investiga a Defensoria Pública de La Libertad desde terça (12), elas teriam sido torturadas e submetidas a castigos físicos, sendo açoitadas e até mesmo penduradas pelos pés. Segundo a Defensoria, as acusações teriam relação com o fato de que muitas pessoas do vilarejo andino estariam perdendo capacidades físicas e até morrendo. Em La Opinión.
A professora Lilia Paredes, esposa do presidente Pedro Castillo, foi chamada a depor no Congresso sobre um dos diversos escândalos recentes envolvendo o governo: as negociações envolvendo a irmã dela, Yenifer, e um empresário do setor de construção a respeito de obras de saneamento em um povoado de Cajamarca, ao norte peruano. A primeira-dama compareceu à casa legislativa na quarta (13), mas respondeu a mesma frase sucessivamente: “por recomendação dos meus advogados, me abstenho de declarar”, disse a cada pergunta dos parlamentares. Ela afirma que já tinha respondido a todos os questionamentos feitos pelo Ministério Público. Via AFP.
PORTO RICO 🇵🇷
Já tem data, ao menos como proposta: Porto Rico quer voltar às urnas em novembro de 2023 para decidir, supostamente de uma vez por todas, sobre seu status em relação aos EUA – hoje, a ilha é um estado livre associado, que goza de certa autonomia, mas não tem participação política; historicamente, sempre estiveram sobre a mesa as opções de independência (hoje com pouco apoio) e a conversão no estado número 51 da União. Agora, a expectativa dos políticos porto-riquenhos se renova porque o projeto para realização de um plebiscito vinculante – cujo resultado, em tese, deveria ser respeitado e seguido – finalmente avançou no Congresso em Washington. Em 2020, os habitantes da ilha já votaram pela anexação aos EUA e a conversão em um novo estado do país, mas o caráter não vinculante vem sendo usado como argumento para não seguir o voto da época. “O resultado que obtivermos nesse plebiscito é o final”, prometeu a comissária residente (representante porto-riquenha no Congresso dos EUA, sem direito a voto) Jenniffer González Colón. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O país está registrando uma explosão de casos de dengue em 2022, com um aumento de 277% nos registros em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a Direção Geral de Epidemiologia (Dipegi) dominicana, houve ainda 14 mortes em função da doença no que vai do ano. As autoridades, no entanto, apontam que o aumento substancial tem mais a ver com uma queda dos registros em 2021, que faz a porcentagem atual parecer maior, mesmo que o número absoluto de casos não esteja acima do esperado. “Temos um comportamento trianual: dois anos de alta incidência e um ano de baixa incidência. Este é um ano de alta incidência”, resumiu Ronald Skewes, diretor da Digepi, lembrando que a doença é endêmica na República Dominicana há mais de duas décadas. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou anunciou em uma coletiva de imprensa na quarta (13) que seu governo e a China vão iniciar as negociações para selar um acordo de livre-comércio que vai acontecer sem as bênçãos do Mercosul – bloco econômico que o Uruguai integra ao lado de Brasil, Argentina e Paraguai. Não foi falta de aviso: segundo o mandatário, que reiterou os diversos sinais dados por seu governo nos últimos encontros do grupo, “nós não gostaríamos de ir por conta própria (...) mas também não temos intenção de ficar parados”. O impasse envolvendo as negociações uruguaias fora do bloco já rendeu desavenças entre os países-membros: em outra oportunidade, o argentino Alberto Fernández – único não liberal do grupo e principal voz contrária à abertura proposta por Lacalle Pou – chegou a dizer que “aqueles que querem abandonar o navio, podem ir”. E é isso que o paisito tem feito: além do antigo romance com Pequim que agora avança, o país platino também já abriu conversas por um acordo comercial similar com o Reino Unido. Em 2021, 28% das exportações uruguaias de bens tiveram a China como destino. No Infobae.
VENEZUELA 🇻🇪
Três estadunidenses foram presos pela Venezuela entre janeiro e março, sob a alegação de estarem tentando entrar ilegalmente no país, revelou uma fonte anônima à agência AP nesta semana. Os casos teriam ocorrido justamente quando Washington voltava a ensaiar uma aproximação com Caracas, em busca de alternativas à crise de combustíveis gerada pela guerra russo-ucraniana. Essas novas três prisões se somariam a outros oito cidadãos dos EUA que seguem presos na Venezuela, a despeito de tentativas de negociação pela liberação.
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