Honduras: ex-presidente é preso 3 semanas após deixar cargo
Rep. Dominicana encerra todas as restrições da pandemia | Cuba começa consulta por casamento igualitário | Equador regulamenta aborto por estupro | Chile: povo Yagán perde sua última falante nativa
O relógio sequer apontava seis horas da manhã de terça-feira (15) em Tegucigalpa e o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, que havia deixado o cargo há apenas 19 dias, recorreu às redes sociais para dar um anúncio bombástico: ele se entregaria à polícia. Durante a madrugada, dezenas de agentes fortemente armados cercaram a casa do ex-mandatário, que um dia antes havia sido alvo de um pedido oficial de extradição por parte do governo dos Estados Unidos. JOH, como é conhecido, é acusado pelas autoridades estadunidenses de tráfico de drogas, e vê o cerco se fechar agora que não veste mais a faixa presidencial.
Como naquela mesma manhã na capital, tudo começou às escuras na justiça: ainda que Hernández já estivesse na mira dos tribunais dos EUA há alguns meses, o Ministério de Relações Exteriores de Honduras publicou, na segunda, um tuíte que não o citava nominalmente. A postagem apenas afirmava que a Corte Suprema de Justiça (CSJ) do país latino havia sido notificada de um pedido de prisão preventiva de “um político” com propósitos de extradição. Não demorou muito para o fato ser desvendado pela imprensa local. A confirmação ganhou força após o atual vice-presidente do país, Salvador Nasralla, garantir não apenas a ordem judicial, mas também que Hernández já negociava uma redução de pena junto às autoridades estadunidenses. Nasralla, que perdeu as eleições de 2017 para o mesmo JOH sob denúncias de fraude na contagem de votos, classificou seu adversário como “um capo da droga, não um narcotraficante pequeno”.
Em meio ao rebuliço, a alta Corte hondurenha, devidamente informada sobre a solicitação de Washington, convocou uma sessão emergencial para a tarde de terça-feira a fim de definir o magistrado que ficaria responsável por analisar o pedido – o que também facilitaria o processo, pois o ex-presidente determinou que a designação de um juiz natural para o caso era uma condição para colaborar com a Justiça. Algumas horas depois, fumaça branca: todos os 15 magistrados aprovaram por unanimidade a nomeação de Edwin Francisco Ortez. Seria ele o encarregado de decidir se JOH entraria ou não algemado em um avião.
A situação do ex-chefe de Estado não é nada fácil. Primeiro, pelo histórico familiar: seu irmão, o ex-deputado Juan Antonio Tony Hernández, foi condenado à prisão perpétua em 2021 por tráfico de drogas e outros crimes relacionados. Além disso, nos primeiros julgamentos contra Tony, em 2019, promotores dos EUA já diziam que o Estado hondurenho, sob a tutela de JOH, conspirava a favor de promover uma verdadeira rede de tráfico da América Central ao norte do continente. O nome do ex-presidente chegou a ser citado pelo menos 58 vezes durante os julgamentos e foi até mesmo ligado a um possível recebimento de propina milionária por parte do mexicano Joaquín El Chapo Guzmán, um dos maiores lordes do tráfico no planeta. Os detalhes estão em uma investigação independente da organização InsightCrime.
Os indícios aumentaram em 2022. Além de deixar o Executivo, JOH também viu seu nome ser incluído na chamada Lista Engel, criada em 2020 para monitorar e sancionar presidentes e autoridades centro-americanas que os EUA acusam de “contribuir com a corrupção e prejudicar a democracia” regional. O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse após o mandado de prisão que o líder hondurenho “se envolveu em corrupção significativa, cometendo ou facilitando atos de corrupção e narcotráfico, e usando o produto de atividades ilícitas para facilitar campanhas políticas”. No dia seguinte, para completar uma sequência de acontecimentos trágicos para o ex-mandatário, Geovanny Fuentes Ramírez, que já havia testemunhado contra JOH e é apontado como um dos principais nomes na rede criminosa, também recebeu sentença de prisão perpétua acusado de uma porção de crimes, entre eles o de conspirar com altos funcionários do poder em Tegucigalpa para levar droga fronteira acima. Durante o julgamento, Fuentes chegou a atribuir a Hernández a frase “vamos enfiar a droga no nariz dos gringos sem que percebam”.
JOH e sua defesa negam totalmente as acusações. Enquanto seus advogados dizem se tratar de uma “perseguição” que “viola os direitos fundamentais e humanos”, o político garante que é alvo de “vingança” por parte dos narcotraficantes, que estariam acusando o ex-governante como retaliação aos anos de enfrentamento. “Capturamos muitos deles [narcotraficantes] e os entregamos [aos EUA] ou estão em prisões em Honduras”, disse. O ex-presidente também apostava que seu ingresso como deputado no Parlamento Centro-Americano (Parlacen) logo após o fim do mandato poderia lhe garantir imunidade duradoura. Mas ainda que o órgão multilateral conceda a regalia para processos locais, estariam protegidos contra uma ordem de extradição apenas congressistas da própria Assembleia de Honduras. Além disso, a imunidade alcançada com o cargo legislativo regional poderia ser revertida por decisão da Justiça hondurenha.
Até o fechamento deste GIRO, a última novidade sobre o caso apontava para um hiato: JOH ficará preso preventivamente por um mês, até o dia 16/3, quando acontece uma nova audiência para definir seu futuro. Já sob custódia, o ex-presidente conservador só poderá recorrer às vias judiciais para evitar a extradição – durante a semana, correu um boato de que, no desespero, ele cruzaria a fronteira para se refugiar na Nicarágua, país que não tem acordo de extradição com os EUA. Por conta de um tratado marítimo assinado em 2021, JOH e o sandinista Daniel Ortega mantêm boas relações, sem contar que Manágua já abriu as portas para outros dois ex-presidentes – de El Salvador – que estavam às voltas com a justiça. Mas essa possibilidade foi pelo ralo e, ao que tudo indica, o líder hondurenho, acusado por seus opositores de ser um “narcopresidente”, não escapará tão fácil dos tribunais ao norte da América – que também o enxergam da mesma forma.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇩🇴 Extintas todas as restrições da pandemia – O presidente dominicano Luis Abinader anunciou o fim de todas as restrições relacionadas à covid-19 no país, o primeiro a dar um passo tão extremo na América Latina. Seguindo medidas já tomadas – e questionadas – em alguns países da Europa, o governo definiu que o uso de máscara, a apresentação do cartão de vacinação para entrar em lugares com potencial de aglomeração e outras restrições em espaços públicos passam a ser “responsabilidade individual” de cada um. Em seu pronunciamento na quarta-feira (16), Abinader atribuiu a nova política ao êxito da campanha de vacinação: “temos uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo e uma ocupação hospitalar muito baixa”, enfatizou o mandatário. “O país merece e precisa de uma recuperação emocional e deixar para trás as medidas que tivemos que impor para um tempo que já é passado”, insistiu. No Gestión.
🇨🇺 Cuba consulta população por casamento igualitário – A ilha deu um novo passo rumo à implementação do casamento igualitário, tema que vem sendo ventilado nos últimos anos: de acordo com o governo, entre fevereiro e abril serão realizadas 78 mil reuniões comunitárias em todo o país, com o objetivo de recolher opiniões da população sobre o assunto. O tema mais quente está relacionado aos casamentos homoafetivos – e à adoção de crianças por esses casais – mas a reforma legal busca revisitar mais de 400 artigos do código familiar, incluindo direitos de avós e netos, proteção a idosos e punição em casos de violência de gênero, entre outros. Embora o Estado cubano seja oficialmente alheio à religião desde a Revolução de 1959, aberturas recentes aumentaram a influência de grupos cristãos sobre o debate público, e os direitos de casais homossexuais enfrentam resistência de diferentes igrejas. Atualmente, na América Latina, uniões entre pessoas do mesmo sexo só podem ser reconhecidas como casamento em Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, México e Uruguai. Via AP.
🇪🇨 Regulamentado aborto em caso de estupro – A Assembleia Nacional do Equador aprovou, em segunda votação e após alterações no texto inicial, o projeto de lei que permite o aborto em casos de estupro. A votação, tornada necessária após a Corte Constitucional ordenar a despenalização da interrupção da gravidez para vítimas de violações, concentrou-se principalmente no tempo máximo para a realização do procedimento. No fim, o texto que chegará à mesa do presidente Guillermo Lasso para sanção (ou veto) prevê que o aborto pode ocorrer até a 12ª semana de gestação na maioria dos casos, e excepcionalmente até a 18ª semana quando as vítimas forem crianças, adolescentes e mulheres indígenas ou de áreas rurais. Na BBC.
🇻🇪 Suposto testa de ferro de Maduro teria colaborado com os EUA – Alex Saab, o empresário colombiano que há tempos é visto como testa de ferro de Nicolás Maduro, parece também ter sido um “colaborador ativo” da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, colocando uma nova reviravolta em sua nebulosa relação com a Venezuela. Documentos judiciais divulgados durante a semana indicam que Saab colaborou com as autoridades norte-americanas por quase um ano a partir de 2018, oferecendo informações sobre suas relações com Caracas, como parte de um acordo para se entregar voluntariamente em troca de uma pena menor. Saab hoje está preso em Miami. Na BBC.
🇨🇱 Morre a última dos Yagán – Aos 93 anos, faleceu na quarta-feira (16) a artesã Cristina Calderón, a última falante nativa da língua do povo Yagán, do sul do Chile. Desde que sua irmã faleceu, em 2009, a abuela Cristina era reconhecida pelo governo do país como um “Tesouro Humano Vivo”, um verdadeiro repositório da língua e das tradições de seu povo. “Sou a última oradora Yagán. Outros ainda entendem, mas não falam ou sabem como eu”, afirmou Calderón há cinco anos. “Seu carinho, ensinamentos e lutas a partir do sul do mundo, onde tudo começa, seguirão vivos para sempre”, afirmou o presidente eleito Gabriel Boric, que toma posse em março. Na Cultura.
Un clic:
REGIÃO 🌎
A América do Sul está a ponto de confirmar, coletivamente, a maior quebra de safra de soja de sua história, após novas projeções que apontam um recorde negativo para o Brasil, principal produtor e exportador do mundo. A quebra brasileira, que uma consultoria estimou em 122 milhões de toneladas para a safra 2021/22, viria a se somar às perdas já registradas em Argentina e Paraguai, também afetadas pelas condições climáticas desfavoráveis, confirmando um cenário sombrio para toda a região – e a expectativa de uma disparada nos preços em função da redução da oferta do produto. Na Forbes.
ARGENTINA 🇦🇷
Brigados, sim; mas ainda aliados. Na terça (15), o presidente Alberto Fernández depôs como testemunha de defesa da ex-presidenta (e sua atual vice) Cristina Kirchner, em um caso que tenta investigar supostos desvios de verbas públicas para um empresário ligado ao kirchnerismo ainda durante o governo do marido dela, Néstor Kirchner, entre 2003 e 2008. O depoimento do atual mandatário ganhou ainda mais simbolismo após Fernández decidir fazê-lo presencialmente, ao longo de duas horas, quando poderia testemunhar por escrito. Para o presidente, que era chefe de gabinete na época dos fatos investigados, “o que estão discutindo são decisões políticas e não judiciais”, já que os processos começaram no governo Mauricio Macri (2015-2019), de oposição ao kirchnerismo. O empresário Lázaro Báez, pivô do escândalo, foi preso no ano passado por lavagem de dinheiro. Em El País.
Com uma inflação que na região só é superada pela venezuelana, o governo argentino cogita a criação de uma empresa nacional de alimentos para tentar conter a escalada nos preços dos produtos básicos. Sem detalhar como funcionaria a estatal, a porta-voz da gestão Fernández, Gabriela Cerrutti, diz que estão sendo estudadas estratégias, “como buscar que os pequenos produtores possam distribuir suas mercadorias ou que os preços sazonais sejam dissociados dos internacionais”. O custo de vida aumentou 50,9% na Argentina em 2021 e, apenas em janeiro deste ano, a inflação já ficou em 3,9%. No UOL.
BOLÍVIA 🇧🇴
Em 2006, uma carta ao British Medical Journal propôs – de forma satírica – que a “síndrome de Pinochet” entrasse nos diagnósticos médicos: a “doença” era definida por um ex-líder de um país apresentando problemas de saúde para evitar extradição ou julgamento – uma referência às frequentes internações do ex-ditador chileno cada vez que se tentava julgá-lo por crimes contra a humanidade. A ex-presidenta interina Jeanine Áñez (2019-2020) parece ser a mais nova vítima da suposta enfermidade na América Latina, e novamente sofreu uma descompensação quando deveria passar por uma audiência judicial na quinta-feira (17). Apresentando-se como “presa política” e garantindo que está em greve de fome desde o dia 9, o que explicaria sua constante fraqueza, Áñez está presa preventivamente há onze meses e é investigada por violar a Constituição do país no golpe de 2019, além de seu possível envolvimento nos massacres que se seguiram à tomada de poder. Seus advogados pedem que ela seja liberada por razões humanitárias. O governo afirma que Áñez dispõe da atenção médica necessária e que a manutenção da greve de fome é uma “decisão pessoal”. Na DW.
Enquanto Áñez não consegue ser julgada, Evo Morales não será levado à Corte de Haia por supostos crimes contra a humanidade: um pedido do próprio governo Áñez contra o ex-mandatário deu em nada após o Tribunal Penal Internacional (TPI) entender, nesta segunda (14), que as ações alegadas não cumprem os critérios para iniciar um processo. O antigo governo tentou enquadrar Evo pelos bloqueios de estrada levados a cabo em 2020, alegando que eram “ataques sistemáticos e organizados contra a população boliviana” para evitar que ela tivesse acesso a serviços e suprimentos de saúde durante a pandemia. Os bloqueios foram parte da estratégia da esquerda boliviana para pressionar o governo Áñez a realizar novas eleições presidenciais, após sucessivos adiamentos. O pleito finalmente foi convocado e Luis Arce, aliado de Evo, venceu em primeiro turno com 55% dos votos – vantagem maior do que a obtida pelo próprio golpeado Morales um ano antes. Via AP.
CHILE 🇨🇱
Mais de 600 militares foram enviados ao norte do país para ajudar a conter a imigração irregular, em meio a uma crise migratória que vem se intensificando nas regiões fronteiriças com Bolívia e Peru – por cujas passagens vêm, principalmente, venezuelanos. A presença reforçada de militares dá sequência à decisão do governo Sebastián Piñera de impor estado de exceção na zona – uma resposta a protestos de caminhoneiros que vinham bloqueando estradas após um motorista ser morto em um incidente com estrangeiros. Via AFP.
COLÔMBIA 🇨🇴
O crescimento do produto interno bruto em 2021, que chegou a 10,6% segundo cifras oficiais, foi o maior já registrado e atinge níveis de recuperação pré-pandemia, informou o governo durante a semana. Quarta maior da América Latina, a economia do país andino passou por uma queda durante a crise sanitária, tudo aumentado por conta dos protestos contra a situação socioeconômica do país no último ano. Em El País.
A vice-presidenta Marta Lucía Ramírez afirmou, durante a semana, que a Colômbia “chegou ao seu limite” e já não pode garantir que será capaz de “seguir assimilando” os milhares de imigrantes venezuelanos que cruzam a fronteira. O tom contrasta com políticas recentes que buscam garantir a regularização dos cidadãos vindos do país vizinho, um contingente que já conta 1,7 milhões de pessoas. Falando em sessão virtual da Organização dos Estados Americanos (OEA), Ramírez voltou a insistir que os demais países aumentem a pressão contra o governo de Nicolás Maduro, cuja crise fez explodir o número de saídas da Venezuela na última década – quase um terço deles tiveram a Colômbia, vizinha de fronteira, como destino, e o país também reclama que o perfil dos imigrantes que chegam até ali é “menos qualificado” do que os que vão aos EUA ou à Europa. Em El País.
Un nombre:
Bolívia – se a origem da denominação é uma evidente homenagem ao libertador Simón Bolívar (1783-1830), a forma como se chegou a ela é menos óbvia. A região era conhecida como Alto Peru antes de obter autonomia. Quando da independência, em 6 de agosto de 1825, imediatamente se tomou a decisão de honrar o grande nome do movimento, mas de forma ainda mais clara: o país começou, simplesmente, como República de Bolívar. A mudança para o que conhecemos hoje aconteceria dois meses mais tarde, em outubro, quando um deputado sugeriu uma pequena alteração estilística usando uma frase de efeito que entrou na história – “se de Rômulo, Roma; de Bolívar, Bolívia”. Desde então, o país permaneceu com a mesma denominação principal, mas teria outra alteração importante em seu nome completo: em 2010, a República da Bolívia passou a se chamar oficialmente Estado Plurinacional da Bolívia, em reconhecimento aos diferentes povos que habitam seu território.
COSTA RICA 🇨🇷
Preocupada com o fluxo de imigrantes vindos da Venezuela, a Costa Rica anunciou que exigirá vistos aos cidadãos do país sul-americano, a partir da próxima semana – porém, os costa-riquenhos sequer têm embaixada em Caracas para realizar o trâmite. Até 2020, os ticos haviam acolhido 40 mil imigrantes, mas se acredita que o número tenha crescido durante a crise pandêmica. O governo também anunciou novas exigências de vistos de trânsito para cidadãos cubanos e nicaraguenses que estejam de passagem pela nação centro-americana rumo a outros países. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
O presidente Nayib Bukele segue convicto na defesa do uso do bitcoin como moeda legal do país (leia mais no GIRO #117) e aproveitou para tripudiar sobre as preocupações dos EUA em relação ao tema. Após senadores estadunidenses pedirem um relatório sobre os riscos que o uso do bitcoin pelo governo salvadorenho poderia causar à economia do gigante norte-americano, o presidente reclamou da ingerência externa: “OK boomers… vocês têm zero jurisdição sobre uma nação soberana e independente”, escreveu Bukele, conhecido pelo uso de memes e retórica millennial, em um tweet em inglês. “Não somos sua colônia, seu quintal ou seu jardim. Fiquem fora dos nossos assuntos internos. Não tentem controlar algo que vocês não podem controlar”. Via Reuters.
GUATEMALA 🇬🇹
Uma testemunha não identificada está acusando o presidente Alejandro Giammattei de ter financiado sua campanha eleitoral, em 2019, utilizando subornos de construtoras. De acordo com o depoimento, obtido com exclusividade pelo portal investigativo salvadorenho El Faro, Giammattei teria feito um acordo com o então ministro de Comunicações, Infraestrutura e Habitação, José Luis Benito: o ainda candidato teria pedido US$ 2,6 milhões para bancar a campanha em troca da manutenção de Benito no cargo e da continuidade da estrutura de corrupção que já existiria nas obras públicas durante a gestão do presidente Jimmy Morales (2016-2020). Procurado pelos crimes sob Morales, Benito entregou-se em janeiro. Agora, os olhos da Justiça parecem estar sobre o atual mandatário, que goza de imunidade pelo cargo e já afirma que a notícia publicada por El Faro não passaria de “vinculações falsas, maliciosas, manipuladas e coordenadas” por um veículo estrangeiro.
As alegações contra Alejandro Giammattei vêm justamente em um momento em que diferentes procuradores anticorrupção do país estão caindo presos. Nesta semana, mais dois integrantes da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI, na sigla em espanhol) foram detidos por suposto abuso de autoridade em suas investigações. O Ministério Público alega que a FECI operava por meio de “ameaças, violência ou procedimento intimidatório” para obter delações premiadas. Vale lembrar que chefes de Estado guatemaltecos não costumam se dar bem com forças-tarefa dessa natureza: antecessor de Giammattei, Jimmy Morales chegou a tornar personas non gratas membros da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (Cicig) quando ainda vestia a faixa. Em La Hora.
HAITI 🇭🇹
Trabalhadores do setor de vestuário organizaram manifestações na capital Porto Príncipe, na quinta (17), em meio a uma escalada de protestos exigindo melhores condições salariais em empresas que exportam para os EUA. O sindicato pede que a remuneração diária salte de 500 para 1.500 gourdes (R$ 25 para R$ 75), alegando que, sem subsídios do governo, o salário atual não é suficiente para as necessidades básicas. Há décadas, o Haiti conquistou espaço como fabricante de roupas pelos salários baixíssimos, e governo e empresas dizem que um reajuste pode afetar a competitividade do setor e afastar as firmas estrangeiras. Via Reuters.
Os EUA, a União Europeia e outros países prometeram mais US$ 600 milhões para ajudar o Haiti em mais uma reconstrução pós-terremoto, agora relacionada ao sismo do último mês de agosto, que deixou mais de 2,2 mil mortos e 130 mil casas e 1,25 mil escolas destruídas ou danificadas. A oferta veio durante uma conferência da ONU, na quarta-feira (16), mas ainda ficou abaixo do valor de US$ 2 bilhões que o país buscava. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Sob nova direção, o Congresso autorizou o governo a contrair empréstimo de até US$ 2 bilhões em 2022 e 2023, em termos de dívida interna e externa, sob um decreto de emergência fiscal e financeira destinado a aliviar os desequilíbrios nas contas públicas, confirmaram autoridades durante a semana. Segundo a presidenta Xiomara Castro, que propôs a decisão, medidas dessa natureza são necessárias porque sua gestão herda um Estado “em bancarrota” depois de uma década com a direita no poder. Atualmente, a dívida pública hondurenha representa quase 60% do PIB. Via Reuters.
Dale un vistazo:
📚 Balas de Washington – se você lê e acompanha o GIRO, sabe bem que os EUA nunca mediram esforços para manter seus interesses na região latina. Se quiser saber mais detalhes das (violentas) ambições imperialistas neste e em outros continentes, este livro de 2020 escrito pelo jornalista e historiador indiano Vijay Prashad, com prefácio do ex-presidente boliviano Evo Morales (2006-2019), é uma boa pedida. Em uma viagem pelo mundo que se desenvolveu sob a influência do capital estadunidense, em especial após a Segunda Guerra, a obra destrincha toda a falta de escrúpulos do país que mais patrocinou contrarrevoluções, golpes e crises no século 20.
📚
Washington Bullets
foi lançado em inglês em 2020 e tem edição brasileira pela
Expressão Popular
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MÉXICO 🇲🇽
Mortes nas mãos dos cartéis mexicanos não são exatamente novidade, mas o governo parece ter encontrado uma vítima de uma violência inédita: um agricultor de Michoacán, onde há disputa territorial entre os narcos do Cartel Jalisco Nova Geração e do Los Viagras, pode ser reconhecido como o primeiro civil morto por uma mina terrestre instalada na guerra do tráfico. O homem, de 79 anos, morreu após sua caminhonete passar por cima do explosivo, feito de forma artesanal e colocado na região de El Aguaje. O ineditismo, porém, seria parcial: embora não haja confirmação oficial, há relatos de outras vítimas anteriores de minas terrestres no país, que são feitas de forma improvisada com explosivos instalados dentro de tubos de PVC e acionados remotamente via celular ou instantaneamente por pressão, como parece ter sido o caso em El Aguaje. Via AP.
O vídeo viralizou nos últimos dias: um grupo de pássaros simplesmente despenca do céu no México, e vários deles ficam mortos pelo chão. Com autoridades perplexas pelo colapso das graúnas-de-cabeça-amarela, uma espécie que costuma vir do Canadá durante o inverno setentrional, cientistas agora tentam explicar o que pode ter causado a cena pouco comum: inalação de fumaça tóxica, choque com cabos elétricos e até mesmo um desvio desastrado para evitar um predador estão entre as hipóteses. Uma resposta definitiva, porém, só será possível após a divulgação do laudo da necropsia. Na Exame.
NICARÁGUA 🇳🇮
Há quase 50 anos, ele se tornou um herói do que viria a ser a triunfante Revolução Sandinista, resgatando da prisão o líder guerrilheiro Daniel Ortega. No último sábado (12), porém, o general reformado Hugo Torres morreu na cadeia, aos 73 anos, preso pelo governo do próprio Ortega. A jornada de Torres, da revolução à oposição, tornou-se mais um exemplo da escalada autoritária na Nicarágua, que transformou em alvos até mesmo ex-sandinistas que depois se tornaram críticos do regime. O militar aposentado havia sido preso em junho do ano passado, acusado de ameaçar a segurança nacional, em meio a uma série de detenções arbitrárias de adversários políticos nos meses prévios às eleições que – sem oposição real – garantiram um novo mandato para Ortega. Via Reuters.
PANAMÁ 🇵🇦
O governo anunciou o início de uma investigação sobre possíveis esterilizações forçadas de mulheres indígenas (saiba mais sobre casos similares com povos originários peruanos e com imigrantes mexicanas), realizadas em um hospital público, enquanto uma comissão legislativa tenta levar o caso à Justiça. Segundo o Ministério da Saúde, que vem sendo acusado de menosprezar o tema, “faltam dados” sobre o escândalo, o que levou interessados independentes a criar uma força tarefa para descobrir a verdade. As denúncias vieram da deputada Walkiria Chandler, que também acusa a antiga pasta da Saúde de ter conhecimento sobre os casos e não agir para investigá-los. As suspeitas foram crescendo quando a parlamentar fez uma visita à comunidade indígena de Charco La Pava, região noroeste do país. Mais de 12% da população panamenha se identifica como nativa. Na DW.
PARAGUAI 🇵🇾
O tardio início da vacinação infantil no Brasil gerou um problema inesperado no Paraguai, vizinho que está ainda mais atrasado em sua campanha: crianças estão sendo barradas na fronteira por não conseguir cumprir as novas exigências brasileiras, que desde segunda-feira (14) só aceita o ingresso de crianças maiores de 5 anos que tenham recebido as duas doses iniciais do imunizante contra a covid-19 – uma obrigação que já valia para adultos. O Ministério da Saúde paraguaio prometeu intervir para pedir bom senso dos brasileiros, lembrando que o país ainda não teve tempo hábil de oferecer a segunda dose às crianças, já que só começou a vaciná-las em 31/1. No ADN Digital.
PERU 🇵🇪
O vazamento de petróleo na costa peruana, já considerado “o pior desastre ecológico” da história recente do país, não deverá ser um problema resolvido no curto prazo: uma missão de especialistas da ONU visitou o país e estimou que a região ainda sentirá os efeitos mais graves da contaminação por um período de seis a dez anos. O vazamento ocorrido em janeiro (leia mais no GIRO #115) já afeta 112 km² e inclui duas áreas protegidas, além de causar preocupação nos pescadores da faixa litorânea afetada, já que não há perspectiva de quando o consumo das espécies locais voltará a ser considerado seguro. Em El País.
Sem causar surpresa, o novo primeiro-ministro Aníbal Torres denunciou que há um plano da oposição em andamento para tentar destituir o presidente Pedro Castillo, enrolado em trocas de gabinete e crises políticas desde que tomou posse, em julho. Em pronunciamento na segunda-feira (14), Torres disse que “estão advertidos deste plano que agora fica a descoberto. Estas ações são produto de um setor minoritário do Congresso”, sugerindo que o “dia do ataque” seria na quarta – que veio e passou com Castillo ainda no cargo. Em meio à disputa de poder, o presidente já bate nos 70% de rejeição. Na DW.
PORTO RICO 🇵🇷
Frente aos protestos por aumentos de salário dos funcionários públicos que seguiram tomado conta da ilha na última semana, o governador Pedro Pierluisi foi direto: os fundos são limitados e é impossível atender a todos. A autoridade também disse que o momento pede que alguns setores da economia tenham prioridade nos reajustes, mencionando as áreas de segurança, educação e, claro, saúde. Para os demais setores que não forem contemplados no momento, o governador prometeu novidades no planejamento orçamentário da ilha em 2023. Porto Rico se encontra em situação de insolvência financeira e já planeja renegociar a dívida com a União (os EUA) em breve. Em El Nuevo Día.
URUGUAI 🇺🇾
Nem mesmo a manutenção das flexibilizações a despeito da chegada da ômicron salvou o setor turístico de uma nova temporada ruim no verão de 2022: segundo diferentes entidades que representam hotéis e restaurantes, os últimos meses foram “medíocres” e “nefastos”. Em Punta del Este, a cidade litorânea que mais recebe visitantes, a ocupação semanal em janeiro não passou de 65%, em uma época em que normalmente a lotação deveria ser total. Os empresários dizem que um verão tão fraco promete vacas ainda mais magras para a baixa temporada, quando os lucros do início do ano costumam ser usados como estofo para aliviar a falta de clientes. Para compensar as perdas, o setor de hospitalidade agora briga para que o governo o isente de impostos e tarifas de água, eletricidade e gás. No Infobae.
Após dois anos de espera em função da pandemia, os tambores voltaram a soar no Carnaval uruguaio, o “mais longo do mundo”. Direto de Montevidéu, o TAB UOL conta sobre a volta dos festejos.
VENEZUELA 🇻🇪
Jair Bolsonaro foi até Moscou, mas quem expandiu sua cooperação militar com os russos foi a Venezuela de Nicolás Maduro. Importante aliado de Vladimir Putin na América do Sul, os caribenhos – que poderiam até mesmo se tornar um ponto estratégico para a Rússia caso uma guerra contra forças ocidentais estourasse – disseram que a parceria bélica servirá para “defender a paz e a soberania”. O anúncio veio após Caracas reforçar “apoio total” às ambições russas no conflito cujo início já foi prometido – e adiado – diversas vezes nos últimos dias. No UOL.
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