México prende militares por massacre de 43 estudantes
Detenção de general e outros membros das Forças Armadas acontece após novas investigações sobre o desaparecimento forçado dos ‘43 de Ayotzinapa’ em 2014
Não é todo dia que um país como o México vê militares do alto escalão serem responsabilizados por um massacre. Mas foi o que aconteceu nesta quinta-feira (15), quando as autoridades confirmaram a prisão de pelo menos três nomes ligados às Forças Armadas acusados de participar do desaparecimento forçado de 43 estudantes de Ayotzinapa em 2014, crime que ganhou destaque mundial pela brutalidade e que, neste ano, sofreu uma reviravolta após o desfecho de novas investigações. Entre os detidos desta semana está o general aposentado José Rodríguez, à época comandante do 27º Batalhão de Infantaria com sede na cidade de Iguala, estado de Guerrero, mesmo lugar onde os estudantes foram vistos com vida pela última vez. O subsecretário de Segurança e Proteção Cidadã, Ricardo Mejía, não deu detalhes sobre a identidade dos outros militares presos, mas revelou a existência de quatro mandados de prisão – o que sugere que um deles ainda não foi detido.
É mais um capítulo que corrobora a responsabilidade estatal no massacre de oito anos atrás. Em agosto, a Comissão da Verdade de Ayotzinapa, força-tarefa criada em 2018 nos primeiros dias de governo do presidente Andrés Manuel López Obrador, já havia concluído em seu relatório final que se tratou de um “um crime de Estado”. Na leitura do documento, o subsecretário de Direitos Humanos, Alejandro Encinas, disse que “funcionários de várias instituições estaduais e federais” contribuíram para os desaparecimentos, responsabilizando o poder público em pé de igualdade ao grupo narcotraficante Guerreros Unidos, tido como responsável material pelo crime. Na fatídica noite em 2014, as vítimas teriam sido interceptadas, mortas e incineradas pelos criminosos enquanto se dirigiam à capital para um protesto, em uma narrativa obscura e cheia de pontas soltas.
O trabalho da Comissão buscou justamente juntar essas peças e montar o quebra-cabeças. Mas acabou fazendo mais que isso: ao identificar toda uma rede que conspirou para o sumiço dos estudantes, o relatório sepultou de uma vez por todas a chamada “verdade histórica” de Ayotzinapa. Essa tese, adotada sem muitos questionamentos pelo governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), levava em conta uma investigação da então Procuradoria-Geral da República (PGR) que montava uma sequência simplista de eventos: dizia essa versão que a polícia municipal de Iguala (e somente ela) havia entregue os estudantes aos Guerreros Unidos – e que estes, ao confundir os civis com uma gangue rival, teriam cometido a chacina e sumido com qualquer vestígio. A narrativa nunca foi convincente: familiares das vítimas e mesmo a Anistia Internacional já apontavam irregularidades nessa versão enxuta e denunciavam a existência de um conluio muito mais amplo por trás do massacre. O atual presidente López Obrador, que também sempre questionou a versão original, transformou a busca por reparação em um dos pilares de seu mandato. Cada vez mais desgastada, a dita “verdade histórica” foi descartada em 2020 após a identificação dos restos mortais de um dos estudantes e, agora em agosto, foi por fim substituída pelo trabalho da Comissão da Verdade.
A lista de abusos e interferências, agora iluminada pelo novo relatório, é longa. O próprio general Rodríguez, preso esta semana, é acusado de ser pessoalmente responsável pela morte de seis dos 43 estudantes (uma minoria que teria permanecido viva por razões desconhecidas até quatro dias depois da noite do desaparecimento). Outras informações reveladas em março de 2022 pelo Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes (GIEI) – célula criada em 2014 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para apoiar as investigações – acusam autoridades mexicanas, incluindo o Exército e a Marinha, de ocultação de informações, destruição de evidências e até adulteração da cena do crime. Investigações do GIEI também mostraram que o ex-procurador-geral Jesús Murillo Karam, considerado o ‘pai’ da narrativa do governo Peña Nieto, foi visto de forma suspeita no local onde os restos mortais das vítimas foram encontrados. Karam foi preso no final de agosto, apenas uma das 83 ordens de prisão emitidas imediatamente após a divulgação do relatório da Comissão da Verdade.
As polêmicas ao redor do caso de violência mais famoso da história recente do México também envolvem solturas questionadas, mostrando que a busca pela reparação total às famílias dos estudantes ainda enfrenta obstáculos. Na mesma semana em que novos nomes foram implicados e detidos no âmbito dos “43 de Ayotzinapa”, um juiz decidiu absolver o ex-prefeito de Iguala, José Luis Abarca, preso desde 2014 e ainda hoje acusado de também estar envolvido na rede que coordenou e facilitou o massacre. Abarca, que seguirá preso por enfrentar outras queixas criminais, seria solto por ordem do magistrado Samuel Ventura Ramos, que tem histórico de exonerar quase uma centena de acusados pelos desaparecimentos de 2014. O subsecretário Encinas, que lembrou das irregularidades judiciais trazidas à tona pela Comissão, criticou a decisão de soltura, sugerindo que autoridades apelem da decisão. O governo López Obrador disse pouco depois que a PGR vai recorrer da sentença a favor do ex-prefeito.
E é assim, entre prisões decretadas com anos de atraso e solturas determinadas em circunstâncias suspeitas, que familiares das vítimas da matança seguem em constante vigília para saber o que de fato levou à crueldade naquele mês de setembro. Avanços que não vão devolver as vidas perdidas, mas que, sobretudo em um dos momentos mais sangrentos da história mexicana, têm o papel de fazer algo pouco comum: permitir um luto digno em um país que, neste ano, chegou à trágica marca de 100 mil desaparecidos em seis décadas.
Referendos, atentados, golpes e crises políticas. É muita coisa acontecendo o tempo todo na América Latina, e o GIRO traz tudo de forma rápida e contextualizada para você. Ajude-nos a manter este trabalho – faça parte da nossa comunidade de apoiadores, com qualquer valor!
Un sonido:
DESTAQUES
🇦🇷 Presos mais suspeitos do atentado contra Cristina Kirchner – Seguem os desdobramentos do atentado que quase tirou a vida da vice-presidenta Cristina Kirchner no início do mês: na quinta (15), a juíza responsável pelo caso indiciou formalmente o casal Fernando Sabag Montiel e Brenda Uliarte pelo crime daquela noite. Os dois seguirão presos preventivamente por serem considerados co-autores de tentativa de homicídio qualificado e, segundo a magistrada, de premeditar o crime junto a terceiros. A semana também teve a detenção de mais duas pessoas: Agustina Mariel Díaz, amiga de Brenda e suposta integrante do “plano prévio” para assassinar Kirchner, e Nicolás Gabriel Carrizo, que teria recebido Uliarte em sua casa após a tentativa de assassinato. Mas se o cerco aos alegados conspiradores vai se fechando, o clima de violência política se acirra: com base em depoimentos derivados das investigações, o presidente Alberto Fernández afirmou que seria ele o “próximo alvo” de um atentado. Dias antes de Cristina ser atacada, o mesmo mandatário já havia dado a entender que recebia ameaças de morte.
🇸🇻 Bukele confirma que buscará reeleição – Já era esperado, mas agora foi confirmado pelo próprio presidente: Nayib Bukele anunciou, na quinta-feira (15), que vai buscar uma reeleição no próximo pleito do país, marcado para 2024. O plano é extremamente polêmico e considerado inconstitucional por muitos juristas do país, mas, na prática, ninguém tem força para barrar os desígnios do presidente – em maio do ano passado, vale lembrar, o Congresso com maioria governista destituiu toda a parte da Suprema Corte que decide sobre temas relativos à Constituição, colocando aliados do próprio Bukele para apitar o que “vale” nas regras do país. O caminho da reeleição já estava aberto há um ano, quando o tribunal havia derrubado o entendimento anterior de que um presidente só poderia voltar a concorrer ao cargo após uma “quarentena” de 10 anos a partir do momento em que deixasse o cargo. Desde então, só faltava a confirmação expressa de que Bukele realmente tentaria se valer da extrema popularidade e do controle sobre os três poderes para se eternizar no cargo – não falta mais. Horas mais cedo, no mesmo dia em que Bukele fez o anúncio (também a data de Independência do país), um raro protesto contra o mandatário foi registrado na capital San Salvador. Em ElSalvador.com.
🇪🇨 Equador anuncia perguntas de referendo sobre segurança pública, congresso e ambiente – O presidente Guillermo Lasso anunciou na segunda (12) uma lista de oito perguntas que, se aprovadas pela Corte Constitucional (CC) do país, serão submetidas a um referendo popular. Entre as propostas pretendidas pelo governo, destacam-se um plano para aumentar presença de forças militares na segurança pública (em resposta a uma onda de violência com massacres prisionais e atentados ligados ao narcotráfico), redução de cadeiras na Assembleia Nacional de 137 para 100 (Lasso quer “menos quantidade, mais qualidade”, num gesto de dominância relacionado a um conflito recente entre ele e parlamentares de oposição) e até mesmo medidas no campo ambiental, como compensações por atividades sustentáveis e um plano de proteção hídrica (este um tema sempre urgente). Tais mudanças pretendidas pelo governo vêm na esteira dos protestos de junho (e de outras concessões do governo para encerrá-los), quando cidadãos liderados pelos fortes movimentos indígenas foram às ruas contra o alto custo de vida, a violência e a corrupção. Especialistas alertam, no entanto, que as pretensões de Lasso de esbanjar flexibilidade por meio de uma consulta popular podem acabar saindo pela culatra em um momento de desaprovação e desconfiança. No Primicias.
🇭🇹 Claude Joseph capitaliza politicamente seu banimento enquanto crise continua – A proibição de que o ex-premiê (e presidenciável em potencial) Claude Joseph entre na vizinha República Dominicana, medida atribuída por ele ao racismo (leia mais na última edição), parece já estar rendendo seus primeiros dividendos políticos em seu próprio país: uma live conduzida por ele no Facebook após o anúncio contou com mais de 26 mil visualizações, número considerado expressivo para os padrões da internet haitiana. Mas, enquanto o Haiti segue às voltas com sua companheira de ilha, os problemas internos também crescem: durante a semana, dois jornalistas e três policiais foram mortos supostamente por ação das temidas gangues do país, e novos protestos tomaram as ruas contra o atual primeiro-ministro Ariel Henry e a alta dos preços dos combustíveis. A nova escalada de violência fez diferentes países anunciarem o fechamento temporário de suas embaixadas (leia mais na seção da República Dominicana desta edição), enquanto Henry voltou a pedir ajuda internacional para superar a crise do momento. O premiê também voltou a fazer a promessa, até aqui vazia, de que o Haiti entrará em “modo eleitoral” antes do final do ano, com a convocação de um pleito para renovar assentos legislativos e a própria Presidência, vaga desde o assassinato de Jovenel Moïse em julho de 2021. Atualmente, o Haiti conta com apenas 10 políticos eleitos com mandato ativo em nível nacional, todos senadores que não dispõem de quórum para votar coisa alguma, após os sucessivos adiamentos nos últimos três anos dos pleitos que deveriam renovar o assento presidencial, todos os 119 postos na Câmara dos Deputados e outros 20 lugares no próprio Senado.
🇵🇪 Congresso propõe mudar regras do ‘impeachment’ – Semana tranquila na política peruana? Não dessa vez. A sequência de acontecimentos começou na segunda (12) com a eleição do novo presidente do Congresso, José Williams Zapata. Um ex-comandante do Exército e membro do partido conservador Avanza País, Zapata venceu a votação contra o centrista Luis Aragón e manteve a Casa sob comando da direita. O militar vem para o lugar de Lady Camones, derrubada na semana anterior após vazamento de áudios que apontavam um possível esquema de favorecimento a integrantes de seu partido. E por falar em Congresso peruano, durante a semana também foi levantado um debate sobre uma possível redução ou aumento de votos necessários para aprovação da polêmica moção de vacância, dispositivo legal similar ao impeachment que transformou o legislativo peruano em um moedor de presidentes – são sete pedidos de vacância nos últimos seis anos, sendo dois (fracassados) contra o atual presidente Pedro Castillo. Por último, mas não menos importante, a semana também teve a volta de César Landa ao comando das Relações Exteriores apenas 39 dias após sua saída. Ele substitui o efêmero Miguel Rodríguez Mackay, que renunciou por discordâncias com o presidente. Em média, o governo Castillo troca um ministro a cada seis dias desde seu início em julho de 2021.
Cuatro clics:
REGIÃO 🌎
A ‘disputa’ que Equador e Chile travavam nos tribunais por uma vaga na Copa do Mundo de 2022 parece ter finalmente chegado ao fim – pelo menos, dentro das instâncias próprias do futebol. Na sexta (16), o Comitê de Apelações da FIFA recusou um novo pedido feito pelos chilenos e manteve os equatorianos no torneio do final do ano. Os transandinos vêm alegando há tempos que o jogador Byron Castillo teria jogado as Eliminatórias pelo Equador com documentos falsos – e que ele seria colombiano. A entidade máxima do futebol já havia dado o processo por encerrado em junho, por falta de provas. No entanto, áudios recentes atribuídos a Castillo e que conteriam uma suposta confissão sobre sua nacionalidade verdadeira reacenderam o debate sobre uma possível nova tentativa de impugnação. Com a recusa da FIFA em segunda instância, o assunto se encerra de vez dentro da própria entidade, mas o Chile segue prometendo recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), embora seja cada vez mais improvável que esse caminho encontre uma sentença antes do começo do torneio. Pela Copa, o Equador encara o anfitrião Catar na abertura da competição, em 20/11. No GE.
ARGENTINA 🇦🇷
Emanuel David Ginóbili – mais conhecido como “Manu” Ginóbili – entrou oficialmente para o Hall da Fama do Basquete no último sábado (10). Ginóbili foi o maior jogador argentino da modalidade, liderando a seleção na conquista do ouro nas Olimpíadas de Atenas de 2004. Pelo San Antonio Spurs, time de uma das cidades mais latinas dos Estados Unidos, venceu quatro títulos da NBA entre 2003 e 2014 e foi eleito duas vezes para o All-Star, partida de exibição com os melhores da liga. Na cerimônia de condecoração, Ginóbili lembrou de sua trajetória e do lugar onde tudo começou: um pequeno clube em Bahía Blanca, na província de Buenos Aires, onde jogava por horas a fio quando criança. Lionel Messi, que escreveu o prólogo de uma biografia do jogador em 2013, dedicou as seguintes palavras ao companheiro: “Fico muito orgulhoso quando ouço um jornalista dizer que o Manu é o Messi do basquete. Na verdade, deveriam dizer que eu sou o Manu do futebol”. Na NBC.
BOLÍVIA 🇧🇴
“Trabalhando” de maquinista, o presidente Luis Arce inaugurou pessoalmente, na terça (13), um novo sistema de trem metropolitano na região de Cochabamba, o mais moderno do país e considerado o primeiro “metrô” de nível internacional da Bolívia. “É um transporte moderno de passageiros que vai ter wi-fi e pontos onde os jovens vão poder recarregar os celulares para conversar com o namorado e a namorada”, brincou Arce. Chamado de “Mi Tren”, o projeto que custou 3,1 bilhões de bolivianos (R$ 2,37 bilhões) inteiramente bancados pelas finanças públicas promete ser amigável ao meio ambiente e utilizar apenas energia elétrica, sem recorrer aos combustíveis fósseis. As duas linhas já abertas, cujas obras foram iniciadas em 2017, se estendem ao longo de 32 km e conectam a capital departamental Cochabamba a cinco municípios vizinhos. Em La Razón.
CHILE 🇨🇱
Buscando consensos após a derrota massacrante da nova Constituição no plebiscito de 4/9, os principais partidos chilenos concordaram na segunda (12) com a ideia de confiar a elaboração de um novo texto a um órgão totalmente eleito pelos cidadãos – com a presença de especialistas, uma nova dinâmica de elaboração, mas mantendo, por exemplo, uma composição paritária em gênero e desfechos novamente sujeitos a plebiscitos. Com já dito pelo GIRO em outros momentos, apesar dos indícios de que a Carta Magna votada no início do mês não seria aprovada, legendas (inclusive da direita) concordam que ainda que aquele texto não entrasse, outro, a ser redigindo do zero a partir de agora, deve ser concebido para entrar no lugar da Constituição adotada em 1980 e que ainda vale hoje. Mas as pedras para um acordo nacional seguem no caminho: há setores pedindo, por exemplo, que o governo do presidente Gabriel Boric (que fez campanha aberta pelo “aprovo”) não participe da mesa de diálogos sobre o assunto. Na DW.
COLÔMBIA 🇨🇴
O governo colombiano acenou para uma retomada das negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN). Na terça-feira (13), em visita ao sul do departamento de Bolívar, o presidente Gustavo Petro disse esperar que “essas opções de diálogo possam fazer com que não morram mais jovens, nem civis nem uniformizados” na região. Petro também pediu que a Venezuela ajudasse a mediar as negociações, papel que foi rapidamente aceito pelo homólogo venezuelano Nicolás Maduro. Apesar das tentativas frustradas com governos anteriores, desta vez o ELN se mostrou favorável a um cessar-fogo bilateral para dar continuidade ao diálogo. Na CNN.
Um novo capítulo de uma trama digna de novela: a empresária e influencer Aida Victoria Merlano, de 23 anos, foi condenada a 7,5 anos de prisão (com possibilidade de troca por regime domiciliar) por ter ajudado na fuga de sua mãe de um consultório odontológico em 2019. A mãe dela, a ex-deputada e ex-senadora eleita Aida Merlano, foi detida em 2018 e condenada pela Corte Suprema a 15 anos de prisão por compra de votos. A fuga ficou gravada nas câmeras de segurança e mostra como a ex-congressista usa uma corda para escapar pela janela do consultório, cai no chão e sobe na garupa de uma moto. Dois meses depois, foi detida na Venezuela. Agora, ela tenta ser extraditada de volta para a Colômbia para contar tudo o que sabe – segundo a ex-congressista, os responsáveis pelo esquema de compra de votos e pela fuga seriam membros da família Char, o clã político mais poderoso do Atlântico colombiano e que, por enquanto, não foram incomodados pela justiça. Aida Victoria, a filha, afirma que sua condenação é uma forma de vingança dos inimigos de sua mãe e que não teve qualquer participação nos crimes maternos. Em Cambio.
COSTA RICA 🇨🇷
Os seis grupos políticos que dividem o poder no Congresso definiram na terça (13) quais deputados vão integrar uma comissão especial que ficará responsável por investigar as contas de campanha do governista Partido Progresso Social Democrático (PPSD), no âmbito de um possível escândalo de “caixa 2” durante a jornada que terminaria com a vitória do hoje mandatário Rodrigo Chaves. Com a composição definida, a comissão fica agora pendente de ser juramentada pelo presidente do Legislativo, Rodrigo Arias Sánchez, fato que não deve encontrar resistência – na última semana, a criação do grupo especial teve voto favorável de 34 dos 57 membros da Casa. As denúncias contra Chaves e seu vice-presidente (e ex-tesoureiro do PPSD durante o período de campanha) apontam a existência de uma estrutura paralela de financiamento, o que é proibido pela lei eleitoral. O próprio presidente confirmou a existência de áudios comprometedores em que ele e seu vice falam sobre o caso – Chaves diz, no entanto, que está tranquilo quanto à sua inocência, ao passo que o PPSD defende que tudo foi feito dentro da legalidade. No CRHoy
CUBA 🇨🇺
Quando Joe Biden venceu as eleições dos Estados Unidos, no final de 2020, uma das grandes expectativas tinha a ver com o futuro das relações com Cuba. Vice-presidente nos tempos de Barack Obama (2009-2017), quando os dois países fizeram a aproximação mais intensa desde a época da Revolução, Biden carregava a esperança de dias melhores após o sufocamento promovido pela gestão Trump. Alguns passos foram dados, mas muito menos do que os de Obama. Nesta quarta-feira (14), o governo Biden admitiu que sua política “não é idêntica” à daqueles tempos, alegando que o endurecimento teria ocorrido porque “o regime cubano se tornou muito mais repressivo em muitos aspectos” – hoje, o foco principal das críticas vindas do Norte está na reação aos protestos de 2021, os maiores vistos na ilha desde a ascensão de Fidel Castro ao poder, que renderam centenas de prisões. Via EFE.
GUATEMALA 🇬🇹
Um show celebrando o aniversário da Independência do país terminou em tragédia nas primeiras horas da quinta-feira (15): pelo menos nove pessoas morreram pisoteadas, incluindo duas crianças, e outras 20 ficaram feridas em meio a uma confusão ao final do espetáculo, quando o público tentando sair do local colidiu com quem fazia o caminho oposto pelo mesmo acesso. Testemunhas também apontam que as fortes chuvas, que deixaram o terreno escorregadio, teriam contribuído para as quedas que levaram ao pisoteio. O show em Quetzaltenango, cidade localizada a 200 km da capital do país e famosa por uma das maiores celebrações na data, havia começado na tarde do dia anterior e atraído várias famílias no feriado. Até o fechamento desta edição, ainda havia um jogo de empurra entre autoridades e organizadores pela responsabilidade do desastre. Na Prensa Libre.
HONDURAS 🇭🇳
As fortes chuvas que vêm açoitando a América Central nas últimas semanas também deixaram um rastro de transtornos e destruição na capital hondurenha, que ainda tenta contabilizar os prejuízos. Segundo informaram as autoridades na quarta-feira (14), só por conta de casas destruídas em meio aos temporais já havia pelo menos 300 pessoas obrigadas a deixar seus lares em Tegucigalpa. Na Prensa.
Un nombre:
Copacabana – Aquele que talvez seja o bairro mais famoso do Brasil tem uma cidade homônima (e mais antiga) na Bolívia. A Copacabana dos Andes, com cerca de 15 mil habitantes, fica às margens do Titicaca, e deve seu nome a uma expressão quéchua que se referia à geografia do local: “mirante do azul”. Além de ser um nome que também combina com a paisagem do bairro carioca, a vizinhança do Rio de Janeiro deve sua denominação diretamente a essa origem boliviana: comerciantes de prata vindos de lá rumo à então capital brasileira trouxeram uma imagem da Nossa Senhora de Copacabana e ergueram um templo a ela no local, o que acabaria influenciando a adoção do novo nome. Até então, a Copacabana brasileira também era conhecida por uma denominação de um povo ancestral, mas vinha do tupi: Socopenapã, algo como “o caminho dos socós”, uma ave bastante comum por ali.
MÉXICO 🇲🇽
O governo do presidente López Obrador recebeu na segunda (12) a visita do Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken. Segundo o chanceler e homem forte de AMLO, Marcelo Ebrard, o encontro foi “cordial” e contou com avanços “históricos” em matéria de parceria econômica. Entre outros temas debatidos, Washington convidou o México para participar de um programa de investimento e produção de semicondutores e eletromobilidade. Temas como lítio e energia limpa também estiveram sobre a mesa. No Financiero.
Deputados aprovaram, na quarta (14), a manutenção do Exército nas ruas do país por mais cinco anos (iria até 2024, agora irá até 2028), parte de um plano apoiado pelo presidente para conter o avanço da criminalidade. Outrora favorável a uma agenda de “abrazos, no balazos” (em alusão ao fim da cara, mortífera e ineficiente política de guerra às drogas em vigor desde 2006), López Obrador tem adotado um tom diferente, o que já preocupa organizações de direitos humanos e partidos da oposição. Esta é a segunda medida de ampliação de poder militar que avançou só este mês – na semana passada, o Senado também deu aval a uma decisão que transfere o controle da Guarda Nacional (criada pelo mesmo Obrador em 2019 e até então sob controle civil) ao Exército. As divergências ao redor do avanço da militarização também racharam a aliança de partidos de oposição que haviam se unido na tentativa de fazer frente ao governista Morena no Congresso e nas eleições presidenciais de 2024. Na DW.
NICARÁGUA 🇳🇮
A repressão da Nicarágua a membros da Igreja Católica conhecidos por criticar o regime de Daniel Ortega, que virou pauta até nas eleições brasileiras, finalmente rendeu uma intervenção mais direta do papa Francisco. Na quinta-feira (15), o líder religioso afirmou que o Vaticano havia iniciado contato com Manágua em busca de soluções para os impasses – “no mínimo”, disse o papa, havia expectativa de que um grupo de freiras expulso do país recebesse autorização para voltar a operar na Nicarágua. Em busca de conciliação, Francisco adotou um tom diplomático para falar dos recentes acontecimentos envolvendo a Igreja por lá: “há diálogo. Isso não significa que aprovamos ou reprovamos tudo o que o governo tem feito”. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
Na segunda-feira (12), começaram as audiências preliminares por supostos casos de pagamentos de propina envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht no país. Em um caso com mais de 40 réus, os olhos estão voltados sobretudo a dois ex-presidentes do Panamá, Ricardo Martinelli (2009-2014) e seu sucessor Juan Carlos Varela (2014-2019), acusados de corrupção e lavagem de dinheiro, crimes que podem ser punidos com até 12 anos de cadeia no país. A expectativa é que essa etapa do processo siga até o final de setembro. Executivos da Odebrecht já afirmaram ter destinado mais de US$ 55 milhões a subornos no Panamá, e os presidentes supostamente teriam embolsado o dinheiro para favorecer a empresa em contratos de obras públicas, em um esquema semelhante ao que já foi desbaratado em outros países latino-americanos. Via ANSA.
PARAGUAI 🇵🇾
“Na volta a gente compra”. Não foi bem isso que o presidente Mario Abdo Benítez disse, mas o espírito era o mesmo: na segunda-feira (12), pressionado pela alta dos combustíveis que se estende desde o início de 2022, o mandatário garantiu que “logo” o preço vai cair – mas sem dizer quando nem quanto. Caminhoneiros do país vêm protestando em busca de uma redução, mas “Marito” diz que a lei não permite que o valor seja subsidiado, mesmo com a estatal Petróleos Paraguayos (Petropar) registrando lucros significativos em 2022. A baixa, afirmou, vai depender da próxima vez que o país adquirir combustíveis por um preço menor do que o dos últimos estoques. No Última Hora.
Estudantes brasileiros que sonhavam em obter uma pós-graduação no Paraguai agora reclamam que foram vítimas de um golpe: durante a semana, veio à tona a denúncia de mais de 50 pessoas que dizem que jamais receberam seus títulos, cursados em uma universidade privada paraguaia, mesmo após concluir o curso. Eles reclamam que um certo Instituto IDEIA, localizado no lado brasileiro, estaria “recrutando” estudantes com promessa de cursos de especialização mais acessíveis, sem realizar os trâmites burocráticos necessários para que o título seja obtido no final do serviço. As universidades conveniadas negam que tenham qualquer culpa no suposto esquema e alegam que o problema é da empresa intermediária. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Triste filme repetido no continente: três mineiros que trabalhavam em na mina de Yauricocha, de propriedade de um grupo canadense, morreram após um deslizamento de terra em Yauyos, região central do país. A informação foi confirmada pela companhia na segunda (12). A América Latina tem países com economias muito dependentes da mineração, com ingressos milionários e um histórico de concessões que muitas vezes ignoram riscos sanitários, danos ambientais e sociais a comunidades indígenas (saiba mais sobre o tema relembrando casos recentes no México e no Chile). Na teleSUR.
PORTO RICO 🇵🇷
Exatamente no quinto aniversário da formação do Furacão María, que se iniciou em 16 de setembro de 2017 e trouxe um rastro de destruição do qual Porto Rico ainda não se recuperou totalmente, a ilha aguarda com apreensão a chegada da tempestade tropical Fiona, prevista para atingir seu território ao longo deste final de semana. Alertas já foram emitidos por autoridades porto-riquenhas, com a esperança de que os ventos não se tornem ainda mais destrutivos nas próximas horas. Enquanto aguardam, os porto-riquenhos já fazem piada sobre a perspectiva de ficar sem luz, um problema crônico que este GIRO vem acompanhando há meses: “não sei por que fazem essa pergunta [sobre o medo da interrupção do fornecimento], se aqui até quando se sopra uma vela de aniversário falta luz”, gracejou uma senhora ouvida pela TV local. No Washington Post.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Novo estremecimento nas relações bilaterais com o Haiti, embora desta vez não seja um ato só da República Dominicana: as autoridades em Santo Domingo confirmaram, na quinta-feira (15), o fechamento até segunda ordem da embaixada no país vizinho de ilha. Segundo os dominicanos, o motivo é a mais nova escalada de violência registrada em solo haitiano nos últimos dias, que levou até ao envio de efetivos especiais para proteger a missão diplomática do outro lado da fronteira. Outros países, como Canadá, México e Espanha, também anunciaram o fechamento temporário de suas embaixadas, assustados com a escalada dos protestos nos últimos dias. Na Prensa Latina.
URUGUAI 🇺🇾
A principal central sindical do país, a PIT-CNT, realizou uma nova paralisação nacional de 24 horas contra a política econômica do presidente Luis Lacalle Pou. Garantindo que tiveram adesão de mais de um milhão de pessoas, os organizadores pediram aumentos salariais e maior orçamento para habitação e educação. “[O dinheiro] não está chegando ao fim do mês. Isso significa que há uma estratégia que aumenta a brecha da desigualdade, concebida como um modelo de crescimento excludente e de acumulação voltado a uns poucos”, bradou o dirigente Marcelo Abdala. Foi a quarta paralisação nacional do tipo desde que Lacalle Pou tomou posse, em março de 2020. No Página 12.
VENEZUELA 🇻🇪
“Nicolás Maduro está cometendo um erro crítico se ele pensa que nossa paciência é infinita”, declarou na quinta-feira (15) Brian Nichols, um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, em referência ao pouco avanço dos diálogos entre governo e oposição na Venezuela. A provocação veio junto com a ameaça de novas sanções contra Caracas, caso as conversas não sejam retomadas em breve. Vale recordar: em agosto do ano passado, em uma decisão que parecia ter potencial histórico, Maduro concordou em ceder e enviar representantes para discutir os rumos do país com emissários do grupo oposicionista ligado a Juan Guaidó, em uma série de negociações na Cidade do México. Mas, após as rodadas iniciais de diálogo, tudo voltou a ser suspenso, os chavistas não fizeram qualquer concessão significativa e Guaidó – ainda reconhecido como o interlocutor legítimo em nome da Venezuela por diferentes potências internacionais, incluindo Washington – seguiu tão impotente quanto antes. Agora, os EUA voltam a pressionar. Via Reuters.
Gostou do nosso conteúdo? Com o seu apoio, podemos construir juntos um GIRO ainda melhor e mais completo. Faça parte!
Também estamos no Twitter, Instagram, YouTube, Podcast e Telegram.