Venezuela: recomeçam negociações entre governo e oposição
Uruguai registra dias sem mortes por covid-19 | Chile já aplica terceira dose da vacina | Bolívia: OEA insiste que houve fraude em 2019 | Vídeo: por que latino-americanos estão queimando estátuas?
Começou, na sexta-feira (13), uma nova rodada de negociações entre o governo e a oposição venezuelana, em busca de um inédito meio-termo na crise política que se arrasta há anos. Representantes de Nicolás Maduro e de Juan Guaidó deram o pontapé inicial nas conversas no México – país que, tentando consolidar seu protagonismo regional (leia mais no GIRO #93), colocou-se como sede do diálogo. A tentativa de entendimento também conta com a mediação da Noruega, que já esteve por trás de ensaios anteriores de reaproximação entre os campos políticos venezuelanos, todos fracassados. No mais recente deles, em 2019, o processo foi dado por encerrado após Donald Trump impor sanções ainda mais severas contra o governo Maduro, o que contribuiu para que os dois lados não chegassem a um acordo. Além disso, a pandemia de covid-19 veio na sequência para mudar radicalmente o foco dos políticos venezuelanos e da comunidade internacional.
O encontro inicial no México está previsto para durar três dias, mas as negociações tendem a se estender por meses. Sobre a mesa, estão temas como a redução das sanções internacionais, os ativos venezuelanos congelados no exterior, a busca de auxílio estrangeiro para o país, as violações de direitos humanos cometidas por agentes do governo Maduro (denunciadas repetidamente pela ONU), e o calendário eleitoral de 2021. Em novembro, o país deve ir às urnas para renovar a maioria dos prefeitos e governadores, em um processo que – espera-se – pode ter uma participação mais ativa de candidatos contrários ao governo, após uma série de pleitos em que a oposição convocou boicote alegando a inexistência de garantias de que a votação seria limpa – o que acabava culminando em vitórias governistas nas urnas. Desta vez, mesmo líderes como Henrique Capriles – última grande esperança antichavista antes de Guaidó – estão pedindo que os descontentes marquem presença.
O cenário, hoje, é diferente daquele visto em negociações passadas. A oposição chega para conversar com Maduro na sua forma mais frágil dos últimos anos, com o próprio Juan Guaidó nem sequer ostentando um cargo oficial para justificar sua alegação de que ainda é o “presidente encarregado” da Venezuela. Embora Guaidó continue sendo visto como o líder do país por atores importantes, incluindo os próprios Estados Unidos, seu principal argumento para tanto era ocupar a presidência da Assembleia Nacional (AN), condição que deixou de ser verdadeira após a renovação dos assentos legislativos no fim do ano passado. Em um processo boicotado na época pela oposição, Nicolás Maduro ocupou a Casa com nomes ligados ao governo e, oficialmente, retirou de Guaidó seu argumento legal para contestar o poder. A incerteza jurídica levou até a União Europeia a não reconhecer mais a autoridade de Guaidó como presidente interino – ele passou a ser definido como um “interlocutor privilegiado”, algo que se somou ao desgaste de sua imagem ao passo que alguns de seus aliados acabaram involucrados em escândalos de corrupção. Hoje, menos de uma dezena dos mais de 60 países que já viram Guaidó como presidente legítimo mantêm essa posição.
Nem Maduro nem Guaidó estarão no México. Em vez disso, o lado chavista será representado por nomes como Jorge Rodríguez, atual presidente da AN, e o filho do mandatário, Nicolás Maduro Guerra, eleito deputado no ano passado, além de uma delegação russa; já o campo oposto é liderado por Stalin González, ex-vice-presidente da AN nos tempos de Guaidó, representantes dos principais partidos de fora do governo e negociadores holandeses. A fraqueza dos opositores a Maduro vem provocando ceticismo quanto à capacidade de as negociações deste final de semana realmente resolverem os problemas atuais da Venezuela, mas a aposta reside nas sanções: estrangulado por uma crise sem fim que foi agravada pela pandemia (a hiperinflação, por exemplo, não cessa, e em outubro o país vai cortar mais seis zeros de sua moeda), Maduro vem fazendo diferentes acenos à comunidade internacional na busca por reduzir as punições que pesam sobre ele próprio e seu governo.
Na outra ponta, os EUA, a UE e o Canadá já sinalizaram que poderiam, de fato, diminuir as sanções hoje impostas sobre Caracas, desde que haja garantias de “eleições locais, parlamentares e presidenciais confiáveis, inclusivas e transparentes”, seguindo “os padrões internacionais” – uma das pautas mais caras nas negociações destes dias, embora as implicações práticas disso ainda sejam uma incógnita.
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DESTAQUES
🇺🇾 Uruguai volta a ter dias sem mortes por covid – Há luz no fim do túnel: após passar boa parte de 2021 vivendo picos de contaminação e morte por covid-19 – chegando a ter, inclusive, o maior índice do mundo de baixas pela doença em maio – o Uruguai vai vendo a pandemia ficar novamente sob controle. No último final de semana, autoridades sanitárias registram pela primeira vez no ano um dia sem mortes pelo coronavírus; a marca de 24 horas sem óbitos do sábado (7) ainda se repetiria no dia seguinte. Tanto a época ruim quanto a trégua na curva do vírus são explicados: após encerrar 2020 com menos de 200 mortes pela doença, o governo acabou subestimando o potencial de contaminação comunitária de um ano para o outro. Já na virada, os casos começaram a aumentar, até que veio o colapso: no pior momento, algumas semanas de 2021 contaram com mais mortes do que em todo o ano de 2020. E o país só contornou a crise com vacinas: atingindo 68% de imunizados ao fim da segunda semana de agosto, o Uruguai já anunciou a reabertura do país para turistas em novembro e se prepara para distribuir a terceira dose, em busca de reforço na imunização. No Infobae.
🇦🇷 Condenação histórica a antigos repressores – Pela primeira vez, um tribunal argentino condenou repressores da ditadura (1976-1983) por crimes sexuais cometidos no maior centro clandestino de detenção que funcionou durante o regime, a Escola de Mecânica da Armada (a ESMA, também chamada de “escola do terror”). Os ex-militares Jorge Tigre Acosta e Alberto González foram condenados a 24 e 20 anos de prisão, respectivamente, por crimes violência sexual contra três mulheres que foram sequestradas e mantidas na ESMA entre 1977 e 1978. A denúncia foi feita em 2014, mas só avançou durante o ano passado. Segundo Alejandra Naftal, diretora do museu que fica onde um dia funcionou o centro de torturas, “a Justiça não é só a condenação dos responsáveis, e sim também a reparação e a memória”. Em El País.
🇨🇱 Terceira dose vira realidade – Segundo na América Latina, primeiro na América do Sul. Durante a semana, o Chile deu início a uma nova fase de sua campanha de vacinação, aplicando a terceira dose da vacina contra a covid-19 em pessoas acima dos 55 anos de idade que já estão duplamente vacinadas com a Sinovac (Coronavac no Brasil). A decisão, muito similar à que está em fase de agendamento no Uruguai, vem diante de números que preocupam autoridades sanitárias no que diz respeito à eficácia para prevenir a doença sintomática: segundo dados do Ministério da Saúde, a resposta da vacina da Sinovac caiu de 67% para 58,49% com o passar dos meses (para casos de hospitalização, internação em UTI e morte, os números seguem positivos). Até aqui, o único país do continente a já iniciar a inoculação com doses de reforço é a República Dominicana. O índice de vacinação chilena, o melhor da região ao lado do Uruguai (até aqui, 67,5% da população já tomou duas doses), levou o governo a aprovar a volta de parte do público nos estádios de futebol. Em El País.
🇬🇹 Protestos seguem paralisando a Guatemala – Os protestos não acabam, ainda que as razões já sejam múltiplas: na segunda (9), indígenas ligados ao Comitê de Desenvolvimento Campesino (Codeca) bloquearam estradas cobrando a renúncia do presidente Alejandro Giammattei, ainda no rescaldo da destituição do procurador anticorrupção do país, Juan Francisco Sandoval, que há semanas vem levando gente às ruas contra o governo (leia mais no GIRO #92). No dia seguinte, novo bloqueio de estradas, mas por um motivo completamente diferente: ex-soldados envolvidos no conflito civil (1960-1996), no qual milhares de indígenas foram massacrados pelas próprias Forças Armadas, estão cobrando o pagamento de indenizações por sua participação no “esforço de guerra” – eles querem que o governo dê prosseguimento ao pedido de que cada soldado seja ressarcido em US$ 15 mil, um projeto apresentado em 2019 pelo deputado Felipe Alejos. O político, aliás, acaba sendo um curioso ponto de contato entre as duas mobilizações tão distintas desta semana: Alejos foi incluído pelos EUA em uma lista de políticos centro-americanos “corruptos” e é casado com uma ex-deputada que estaria por trás do movimento que levou à queda de Sandoval. Por enquanto, Giammattei segue lá e a controversa indenização não será paga.
🇧🇴 OEA insiste na tese da fraude eleitoral em 2019 – “Político e parcial” é como o Ministério Público da Bolívia qualificou um novo comunicado da Organização dos Estados Americanos (OEA), ratificando que a entidade considera ter havido “uma manipulação maliciosa” nas eleições presidenciais de 2019. A acusação de fraude na vitória de Evo Morales, endossada pela OEA, foi a base para as mobilizações golpistas que derrubaram o então presidente e abriram caminho para um ano de governo interino sob a batuta de Jeanine Áñez, com forte repressão aos opositores. Desde então, diferentes análises dos resultados do pleito de 2019 não conseguiram comprovar a existência da suposta fraude, sugerindo que a leitura da OEA pode ter sido enviesada. Com o retorno da esquerda ao poder em 2020 (em eleições que, desta vez, não tiveram contestação), o governo voltou a bater de frente com os achados da OEA. No final de julho, a Procuradoria boliviana deu por encerradas as investigações em torno da alegada manipulação, afirmando que ela não teria existido. Via AFP.
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MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
Em uma semana marcada por alertas globais a respeito do clima, o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) anunciou em um relatório que o planeta vai aquecer 1,5 graus nos próximos 20 anos “se medidas imediatas e drásticas não forem implementadas para eliminar a poluição dos gases de efeito estufa”. Para tanto, foram estabelecidas metas de redução, que classificam países pela capacidade de preparo diante das mudanças exigidas. E os latinos têm parte na história. Por aqui, o ranking é liderado, respectivamente, por Chile, Uruguai e Costa Rica – nações que já costumam aparecer em destaque nessas questões. Já entre os mais vulneráveis e menos preparados, segundo a classificação do IPCC, aparecem Bolívia, Honduras e, por último, Venezuela. Na Bloomberg.
A imagem que se tem de Miami, na Flórida, é de um povo ressentido quando o assunto é América Latina. Mas por quê? A reportagem da BBC ouviu especialistas para entender o que (e do quê) é feito o “caldeirão de conspirações” na ensolarada região dos EUA. Segundo a jornalista Ann Louise Bardach, conhecedora do exílio latino-americano no estado sulista, “Miami é a sede mundial dos exilados. É o lugar que abriga ‘governos em espera’ de uma gama de países caribenhos e latinoamericanos, começando por Cuba, mas também Haiti, Venezuela e Nicarágua”.
ARGENTINA 🇦🇷
“Uma a cada 100 anos”. É como especialistas têm se referido à super seca que já gera preocupação dado o peso do agronegócio para a cambaleante economia argentina. A estiagem reduziu o nível de água do principal canal de transporte de grãos do país, o que dificultou as exportações e aumentou os custos de logística. E não deve parar por aí: segundo os meteorologistas, a crise climática provavelmente continuará no próximo ano, afetando a safra de 2022 e inclusive outros países vizinhos. “Precisaríamos de algo como 130% da precipitação normal entre agora e fevereiro para restabelecer os níveis dos rios”, diz o analista meteorológico Isaac Hankes. Via Reuters.
As vacinas Sputnik V produzidas dentro da Argentina começaram, enfim, a ser distribuídas pelo país na quinta-feira (12). Produzidas a partir do antígeno enviado pela Rússia, elas já estavam em fabricação nos Laboratórios Richmond, em Buenos Aires, desde junho, mas ainda precisavam passar por um controle de qualidade em Moscou. Agora liberada, a “vacina russa” made in Argentina já tem 1,14 milhão de doses em distribuição, com a expectativa de outros 3 milhões ao longo deste mês. Com a Sputnik V liderando os números, o país já aplicou 36,1 milhões de doses desde o início de sua campanha, tendo completado o esquema vacinal em 21% da população. Via AFP.
Era 14 de julho de 2020, aniversário da primeira-dama Fabiola Yáñez, quando o presidente Alberto Fernández resolveu posar para uma foto em frente a uma mesa de jantar na residência oficial da presidência, acompanhado de familiares e amigos. Mas não foi uma confraternização qualquer: enquanto o mandatário de um país que pouco soube controlar a pandemia celebrava, milhares de argentinos sequer podiam deixar suas casas por conta de uma rígida quarentena imposta pelo mesmo Fernández. A foto viralizou e o presidente, agora por mais um motivo, está no centro das críticas. Para além de gerar repúdio entre cidadãos, o líder peronista também pode ser alvo de um pedido de impeachment pelo “desempenho ruim de sua administração frente à covid-19”, argumento usado pela oposição na rabeira da foto viral. Após a foto se tornar pública, o político diz que “se arrepende”. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
O segundo maior lago boliviano secou – e pode ser para sempre. Hoje, onde um dia passaram as águas do Poopó, há apenas uma imensa paisagem branca e seca, com pouca vegetação, tudo fruto de uma “tempestade perfeita”, segundo diz Jorge Molina, pesquisador da Universidade Maior de San Andrés. De acordo com especialistas, o lago salgado, que já serviu de fonte de vida para comunidades aimaras locais que pescavam e cultivavam ao longo de suas margens, foi vítima de desvios de água para atender às necessidades regionais de irrigação de um clima cada vez mais quente no departamento de Oruro. Segundo os povos originários da região, as temporadas de cheia completa só eram vistas a cada 50 anos. Agora, temendo um dano irreversível, várias famílias já deixaram de viver no local. Em El País.
Un nombre:
Talcahuano – o nome dessa cidade de pouco mais de 150 mil habitantes no sul chileno vem do mapudungun tralkawenu e significa “céu que emite trovões” ou “trovão no céu”. Vem do nome de um cacique guerreiro que habitava a área. A cidade entrou no imaginário brasileiro principalmente por conta de seu time de futebol, que também tem um nome sonoro originado do idioma dos mapuche: o Huachipato, batizado assim por conta da siderúrgica local que mantinha a equipe, e que significa literalmente “armadilha para caçar patos”.
COLÔMBIA 🇨🇴
A JEP, Jurisdição Especial para a Paz, tribunal que cuida de casos relacionados à guerra civil colombiana, alega que ao menos 18.667 crianças foram forçadas a se juntar às FARC enquanto a guerrilha ainda não era pacificada. O anúncio se baseia num cruzamento de dados munido de testemunhos e análise de vítimas do conflito armado. Para a corte especial, esses menores também teriam sofrido abusos e violência durante pelo menos 20 anos. Segundo o presidente da JEP, Eduardo Cifuentes, o caso é responsável por “instrumentalizar meninos e meninas no conflito que causou dor à sociedade colombiana”. Na Caracol.
COSTA RICA 🇨🇷
O governo em San José concedeu à jornalista cubana Karla Pérez, que já era radicada no país, status de refúgio após ela ser impedida de retornar à ilha por ordem de autoridades em Havana. Pérez relata que foi expulsa da Universidade Las Villas, em Cuba, sob acusação de promover propaganda contrarrevolucionária ao criticar o governo local em um blog pessoal. No entanto, o único aviso que teve da chancelaria cubana veio por meio de uma coletiva de imprensa que anunciou sua situação de exílio. O governo comunista argumenta que a jornalista seria vinculada a grupos opositores radicados em Miami e que trabalharia a serviço de uma “agência financiada pelos EUA” (o portal ADN Cuba, de linha crítica ao governo). A jornalista, por sua vez, diz que seguirá firme em sua “trincheira”. No 14ymedio.
CUBA 🇨🇺
O presidente Miguel Díaz-Canel admitiu a situação crítica enfrentada pelo país diante da piora acelerada da pandemia nas últimas semanas. “Estamos no limite das capacidades que temos de infraestrutura, de recursos, de medicamentos e de oxigênio. Estamos no limite do que é possível, hoje, nas condições que tem o país”, disse, em reunião com o grupo de trabalho dedicado ao combate da pandemia e em declarações que foram divulgadas pelos próprios veículos oficiais do governo. Díaz-Canel insistiu na necessidade de mais eficiência para conter o ritmo dos contágios, sob pena de ver o sistema colapsar definitivamente (opositores e alguns médicos afirmam que o colapso já veio em partes do país). Após um 2020 de notável controle da crise sanitária, que a colocou entre as exceções latino-americanas, Cuba neste momento é um dos lugares mais afetados do mundo pela pandemia – nos últimos sete dias, foram mais de 5,3 mil novos casos por milhão de habitantes, dez vezes a média mundial, enquanto a taxa de positividade dos testes de covid-19 está em 20%, quatro vezes o índice de 5% utilizado pela OMS para indicar o limite em que a situação ainda está sob controle. A piora da pandemia, somada à escassez de produtos com uma crise que só se agravou no último ano, é uma das razões que levou a ilha a viver seus maiores protestos contra o governo em décadas. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
Todo o poder está nas mãos do presidente Nayib Bukele e o mais novo ato já tem rascunho: a reforma da Constituição. O esboço elaborado pelo parlamento de ampla maioria governista – que, em maio, já havia destituído a parte do Supremo que versa sobre temas constitucionais – prevê a ampliação do mandato presidencial de cinco para seis anos, a reorganização do Poder Judiciário e a extinção do Tribunal Superior Eleitoral, entre outras medidas que contemplam, por exemplo, a possibilidade de “usar moedas não concretas, não físicas, em política monetária” – um reflexo direto da aprovação da utilização do Bitcoin como moeda legal no país, uma decisão pioneira no mundo. Ao todo, são 215 modificações na Carta Magna e, com uma Assembleia Legislativa dominada pelos partidários de Bukele, a tendência é que o novo texto passe sem grandes ressalvas. No Infobae.
Cidades-irmãs. É como a capital San Salvador e a homônima brasileira Salvador, na Bahia, passaram a se considerar na terça (10), após os prefeitos de cada uma assinarem o termo de “irmanamento” em solo centro-americano. Vale lembrar que a semelhança dos nomes é ainda maior do que a denominação popular atual sugere, já que a cidade brasileira surgiu como São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Vastamente simbólica, a decisão de criar cidades-irmãs pressupõe cooperação em diferentes áreas, embora raramente se veja algum resultado na prática. Mais uma aproximação entre dois locais que turistas gringos por vezes confundem um com o outro. No Correio.
EQUADOR 🇪🇨
Cumprindo a promessa de acelerar a vacinação tão logo tomasse posse em maio (leia mais sobre o avanço da campanha no GIRO #93), o presidente Guillermo Lasso agora vai colhendo os frutos políticos dos resultados iniciais: a aprovação do novo mandatário, que já era alta, subiu outros dois pontos percentuais e atingiu 73,5% no início de agosto. Mais bem avaliada ainda é a bem-sucedida promessa de aplicar ao menos 9 milhões de doses nos 100 primeiros dias de governo: 95,9% dos equatorianos ouvidos aprovam a forma como a campanha foi levada a cabo. Até aqui, o Equador já distribuiu quase 14,1 milhões de doses, cerca de 12 milhões das quais foram aplicadas depois que Lasso assumiu o poder. Até a segunda semana de agosto, 24% da população estava totalmente imunizada. Em El Universo.
Un clic:
Ruta 237 a caminho de Bariloche, na Argentina.
HAITI 🇭🇹
Diante de um país cada vez mais violento e afetado por uma crise geral desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, na primeira semana de julho, haitianos que vivem no exterior enfrentam outro problema: o exôdo dentro do êxodo – o que não significa voltar pra casa. Em travessia desde 2010, quando a nação caribenha foi devastada por terremotos, cidadãos que já viviam em países como Brasil e Chile, onde buscavam uma vida melhor, agora se veem obrigados a buscar um terceiro destino: os EUA. Mas não é mera questão de escolha: duplamente afetados pela pandemia (um dos motivos que leva milhares de haitianos a migrar mais uma vez), agora precisam passar pelas tortuosas selvas entre o Panamá e a Colômbia para chegar cada vez mais perto da terra prometida ao norte das Américas. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) lamenta: “os fluxos continuam crescendo”. Em El País.
HONDURAS 🇭🇳
Já são dois os suspeitos presos pelo assassinato da ex-deputada e ex-presidenciável Carolina Echeverría, ocorrido em 25/7. Apesar das detenções, a polícia afirma que “ainda falta” encontrar outros envolvidos no crime, cuja responsabilidade intelectual segue em investigação – a imprensa hondurenha afirma que os pistoleiros foram contratados por 1 milhão de lempiras (R$ 222 mil). Echeverría pretendia concorrer novamente a uma vaga legislativa em novembro, um cargo que já havia ocupado entre 2006 e 2010. No Hola.
MÉXICO 🇲🇽
Os violentos cartéis de droga têm um novo alvo prioritário: a imprensa. Em um vídeo que circulou nas redes sociais, lideranças do temido Cartel Jalisco Nova Geração, um dos mais brutais do país, aparecem ameaçando de morte um jornalista e se posicionando abertamente contra a classe. Com capilaridade cada vez maior pelos rincões do país, os grupos armados têm desafiado o poder público e fazem um banho de sangue, sobretudo em regiões periféricas e nos estados sulistas. O ataque direto a um profissional de informação, porém, despertou o repúdio de diversas organizações, que agora cobram proteção do presidente López Obrador. Em resposta, o governo federal disse que “tomará medidas pertinentes”, mas sem detalhar um plano de ação (como tem sido durante os anos de Obrador ante a violência endêmica no país). Segundo ONGs, ao menos 43 jornalistas foram assassinados desde a posse de AMLO, fazendo do México o país mais inseguro para a classe na América Latina; só no ano passado, foram mais de 692 atos de agressão contra profissionais da imprensa. Em El País.
A sexta-feira (13) marca a celebração tradicional da “conquista” de Tenochtitlán (hoje Cidade do México) pelo espanhol Hernán Cortés e seus aliados indígenas – inimigos do povo que ali vivia – em 1521. Mas, desta vez, e justamente quando se completaram 500 anos da efeméride, o governo local tentou reivindicar um novo significado: a prefeita Claudia Sheinbaum pediu que a data seja de celebração da “resistência indígena” e para “desmistificar” o “racismo” e “classismo” que marcaram a herança colonial das comemorações nos últimos séculos. O presidente López Obrador foi pelo mesmo caminho, dizendo que o 13/8 seria recordado “com dor e pesar” pela “imensa violência que significou”. Estima-se que 40 mil pessoas do povo mexica (também chamados de astecas) foram assassinadas ou presas durante a invasão, que marca o começo do domínio espanhol na região. Via EFE.
NICARÁGUA 🇳🇮
Um recado ao exterior: nos últimos dias, o presidente Daniel Ortega convocou para consultas os embaixadores nicaraguenses que atuam em Argentina, Colômbia, México e Costa Rica, no que o governo argumenta ser uma decisão “em resposta recíproca a chamados similares” dos governos mencionados. O anúncio é um claro recado de incômodo por parte do poder em Manágua, que discorda das críticas vindas dos países em questão – todos eles denunciam a escalada autoritária do líder sandinista (saiba mais no vídeo); durante a semana, pela terceira vez desde 2018, o jornal oposicionista La Prensa viu-se obrigado a suspender suas edições impressas, depois que o governo barrou a entrada do papel utilizado para produzi-lo. Segundo a vice-presidenta Rosario Murillo, a situação acontece diante de “constantes e indevidos apontamentos desrespeitosos, intrometidos e intervencionistas”. E pode ser o início de um ciclo de isolamento diplomático: em resposta à posição de Ortega, a Espanha também resolveu convocar seu representante na Nicarágua. Na Corporación.
Enquanto a situação se agrava na Nicarágua, quem continua a sentir os efeitos é a vizinha Costa Rica, destino prioritário dos migrantes que tentam uma melhor sorte fora do país natal: só em julho, segundo o serviço de imigrações costa-riquenho, foram 5.379 pedidos de refúgio feitos por nicaraguenses, o número mais alto para um mês desde que o governo Ortega passou a reprimir opositores mais duramente em 2018 – e o triplo do que havia sido registrado apenas dois meses mais cedo, em maio. Via Reuters.
Una palabra:
Chavo – expressão mexicana para se referir a uma pessoa jovem, um rapaz ou menino. Seu uso com esse sentido acabou popularizado pela série El Chavo del 8, que no Brasil virou o Chaves. A etimologia é uma história à parte: na Espanha e em parte do Caribe que fala espanhol, chavo é um termo comum para se referir a moedas de valor muito pequeno (derivando de ochavo, uma moeda de cobre que pesava um oitavo de onça), e algumas versões acreditam que os mexicanos teriam tomado a palavra por empréstimo para se referir às pessoas de menor estatura. Também há quem ateste que chavo seria apenas uma corruptela de chaval (rapaz). No México, por outro lado, linguistas defendem que a origem poderia estar na língua náhuatl, a partir da palavra chamáhuac, relacionada a um comportamento infantil – para os que acreditam nessa versão, viriam daí alguns termos de uso corrente hoje em dia para se referir a crianças e jovens, como chamaco e o próprio chavo.
PANAMÁ 🇵🇦
A travessia de migrantes pelo Tampão de Darién, considerada uma das florestas mais perigosas do mundo, tem intrigado autoridades panamenhas. Para além dos haitianos que lideram a lista (leia mais acima na seção do país), o contingente inclui cubanos e cidadãos de países asiáticos e africanos. Autoridades migratórias relatam um aumento vertiginoso nos números: durante o mês de julho, pelo menos 19 mil pessoas chegaram ao Panamá a pé partindo da Colômbia; em janeiro, o número havia sido próximo de 1 mil. Segundo o governo, além das óbvias preocupações pelas condições da travessia, países centro-americanos têm trabalhado com medidas de cooperação para “controlar o fluxo”. Panamá e Colômbia definiram, na quarta (11), um limite de 650 migrantes por dia autorizados a cruzar a fronteira ao longo de agosto, baixando o número para 500 no próximo mês. Como a fiscalização na área é precária, há dúvidas quanto à efetividade da medida. Na Bloomberg.
PARAGUAI 🇵🇾
Após adotar, mais cedo neste ano, uma política de distribuir o máximo de vacinas possível para aplicações de primeira dose, o Paraguai agora muda de rumo: nas próximas semanas, até os estoques se normalizarem, o país vai priorizar a segunda dose naqueles que já foram inoculados. A medida vem poucos dias após o Ministério da Saúde confirmar os primeiros contágios comunitários da variante delta, em pacientes que não haviam estado fora do país, acendendo os alertas – embora as vacinas atualmente em uso protejam bem contra a cepa originada na Índia, estudos vêm demonstrando que sua eficácia cai muito se a pessoa recebeu uma dose só. O Paraguai é um dos países mais atrasados da região em sua campanha de imunização, e só 8% da população recebeu o ciclo vacinal completo. Nesta semana, outras 99,6 mil doses de Moderna foram recebidas através de uma doação feita pelo Catar, e o governo ainda espera cargas de até 26 mil doses semanais de Pfizer até o final do mês. Via EFE.
PERU 🇵🇪
O início do governo Pedro Castillo, empossado em 28/7, tem sido turbulento, com o socialista indicando que não deve abandonar algumas das pautas consideradas mais radicais no início de sua campanha, como a busca por uma Assembleia Constituinte. Ao menos na economia, porém, a semana trouxe um sinal que tenta acalmar o mercado: Julio Velarde, chefe do Banco Central desde 2006 (tendo ocupado o cargo sob sete presidentes diferentes), deve mesmo aceitar a proposta de permanecer no posto. Mas mesmo a busca por calma já teve uma alfinetada de que essa estabilidade pode ser momentânea: primeiro-ministro de Castillo, o controverso Guido Bellido disse que Velarde segue no cargo enquanto trabalhar “para as grandes maiorias”, um sinal de que decisões mais austeras não deverão ser bem-vindas nos próximos anos. No Gestión.
Pedro Castillo realizou, na quinta (12), sua primeira reunião com a presidenta do Congresso de maioria opositora, María del Carmen Alva. O encontro acontece dias antes de a Casa se reunir para a confirmação do primeiro gabinete ministerial do novo governo, e em meio ao repúdio do partido do presidente, o Perú Libre, à disposição de forças no Parlamento: embora tenha a maior bancada individual, com 37 dos 130 assentos, a sigla governista não conseguiu formar alianças majoritárias e ficou sem o comando de nenhuma das 16 comissões legislativas estratégicas – Castillo solicitou pessoalmente que Alva considere ceder, ao menos, a Comissão de Educação, enquanto seus correligionários já tentam juntar assinaturas para uma moção de censura contra a chefa do Congresso. Comprovando que o presidente não terá vida fácil, durante a semana os parlamentares aprovaram a abertura de um inquérito para decidir se Castillo cometeu um delito ao despachar, nos primeiros cinco dias de governo, de sua residência particular, o que seria uma quebra das regras de transparência da administração pública. Via AP.
PORTO RICO 🇵🇷
O governador Pedro Pierluisi confirmou que, a partir do próximo dia 23, entra em vigor um decreto ampliando a vacinação compulsória para todos os empregados de restaurantes, bares, cinemas, teatros e demais estabelecimentos fechados com venda de comidas e bebidas. Além da obrigatoriedade da vacina para trabalhar nesses lugares (com as únicas exceções sendo por motivos religiosos ou de saúde), os proprietários também são encorajados a exigir a vacinação de seus clientes – locais que não exigirem comprovação da imunização deverão operar com apenas 50% da capacidade. Apesar da vacinação avançada, Porto Rico tem vivido uma piora nos números causada, sobretudo, pela parte da população que se nega a receber a inoculação e continua mais sujeita a causar (e sofrer com) surtos: a ilha, que chegou a ter apenas três óbitos na semana encerrada em 9/7, registrou 60 novas vítimas nos últimos sete dias. Na CNN.
Uma corrida de rua marcada para ocorrer entre as cidades de Cidra e Santa Isabel, ao sul da capital San Juan, foi desbaratada pela polícia e rendeu um número recorde de multas de trânsito aplicadas: 1.749 boletos emitidos de uma só vez no último domingo (8). O evento, organizado por Rey Charlie, um nome conhecido no universo dos rachas porto-riquenhos que na realidade se chama Misael González, havia sido divulgado previamente nas redes sociais, o que facilitou o trabalho da polícia. De acordo com as autoridades, corridas do tipo até podem acontecer, mas precisam de autorização prévia. Na Wipr.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A passagem da tempestade tropical Fred, na quarta (11), causou transtornos no país, deixando mais de 300 mil pessoas sem luz e provocando alagamentos em áreas baixas. Os temores de que a tormenta se intensificasse, porém, não se confirmaram, embora os dominicanos devam seguir convivendo com os efeitos indiretos nos próximos dias: mais chuvas e ventania. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Sua participação nos Jogos Olímpicos foi discreta, mas o boxeador Eldric Sella fez história nas disputas ocorridas em Tóquio como o primeiro latino-americano a competir pela Equipe Olímpica de Refugiados. Venezuelano, Sella é um dos milhares de expatriados que deixaram seu país em crise buscando novas oportunidades – no seu caso, primeiro na vizinha Trinidad e Tobago. Mas, após a passagem pelo Japão, o pugilista foi impedido de retornar para o país que o havia acolhido originalmente, já que não tem um passaporte vigente. E então veio o Uruguai: na quarta-feira (11), a chancelaria em Montevidéu confirmou que Sella agora viverá no país na condição de refugiado. “Aqui termina um capítulo da minha vida e começa outro em um nível muito mais alto”, escreveu o boxeador em seu Instagram. “O frio aqui definitivamente está em um nível muito mais alto”, brincou, a seguir. Na BBC.
Condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana por crimes cometidos durante a Operação Condor, nos anos 1970, o repressor uruguaio Pedro Antonio Mato Narbondo é considerado foragido em seu país natal e pela Interpol, mas, na verdade, está muito perto da fronteira: vive na gaúcha Santana do Livramento, a vinte quadras da divisa – mas, como também tem a nacionalidade brasileira, já não pode ser extraditado e pagar por seus crimes. A história, em elDiarioAR.