Equador: bombas em Guayaquil renovam medo por narcoterrorismo
Colômbia: Gustavo Petro derruba generais da polícia | Honduras: na cadeia, ex-presidente alega ser ameaçado de morte | Paraguai: vice volta atrás e diz que não vai mais renunciar
“Foi uma declaração de guerra ao Estado”, afirmou o ministro do Interior equatoriano, Patricio Carrillo, antes mesmo que as investigações avançassem. Desde que um atentado com explosivos deixou pelo menos cinco mortos e 17 feridos em Cristo del Consuelo, uma periferia pobre da importante cidade portuária de Guayaquil, no último domingo (14), o Equador está imerso em um novo estado de emergência. Forças-tarefa de segurança pública voltaram a ocupar o noticiário e ganhou espaço o temor de que a escalada do conflito entre grupos do crime organizado – que já vem contando vítimas, às centenas, dentro das cadeias do país – esteja tomando definitivamente as ruas das principais metrópoles.
A hipótese inicial das autoridades é de que a bomba, de fabricação caseira, tenha sido posicionada no contexto de uma disputa territorial e teria como alvo principal um homem conhecido pelo apelido de “Cucaracha” (barata), dono de casas noturnas clandestinas e supostamente ligado à gangue Los Tiguerones. A família do suposto alvo, identificado apenas como Juan Carlos C. M., e que saiu ferido no atentado, nega o envolvimento dele, alegando que o Cucaracha seria apenas mais um empreendedor vitimado pela extorsão dos grupos criminosos que atuam na área. “Cucaracha é um apelido carinhoso que ele tem desde que era criança, e não por pertencer a uma gangue”, garantiu a esposa do homem, que seguia hospitalizado até o fechamento desta edição.
Sem dar crédito à versão, as autoridades seguiram fechando o cerco na vizinhança, em uma investigação que contou até com a consultoria de agentes enviados pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Além de um gabinete especial de segurança que vem tentando esclarecer as causas do violento ataque, a polícia equatoriana foi autorizada a utilizar equipamento mais pesado e o estado de exceção suspendeu uma série de direitos civis, facilitando operações de busca e apreensão que o governo considera indispensáveis para perseguir os criminosos – especialistas seguem dizendo, porém, que os decretos continuamente assinados pelo presidente Guillermo Lasso não passariam de “medidas paliativas” frente ao problema.
Na quarta (17), o governo anunciou a prisão de Darío Arturo C., conhecido como “Morado”. Libertado de forma condicional apenas seis dias antes da explosão, ainda usando tornozeleira eletrônica e já suspeito do atentado, ele ainda foi encontrado em posse de uma arma utilizada no assassinato de três membros de uma mesma família na noite da segunda-feira. Um dia após a queda de Morado nas mãos das autoridades, a polícia também anunciou ter encontrado seis bombas artesanais “similares às que foram utilizadas em Cristo del Consuelo”. Segundo as investigações, por ser um material irregular, seu potencial destrutivo frequentemente acaba sendo superior ao de um explosivo simplesmente roubado do Exército, por exemplo: além da tragédia humana, a explosão danificou pelo menos 11 imóveis do bairro, com duas residências sendo consideradas inabitáveis por risco de desabamento.
Para o ministro Carrillo, não há dúvida de que a escalada da violência viu “atos de terrorismo ligados ao crime organizado transnacional”, embora a conexão exata do evento com os grupos supostamente implicados não tenha sido totalmente esclarecida até agora. Seja como for, nos últimos anos o Equador vive sob uma densa crise de segurança, com massacres prisionais entre gangues rivais que já deixaram mais de 400 mortos desde o final de 2020 – uma crise contínua que fez o governo Lasso criar, no início deste mesmo mês de agosto, uma nova Secretaria Nacional de Segurança Pública, comandada pelo ex-conselheiro de Governo Diego Ordóñez, que agora se depara com o primeiro grande desafio de sua gestão.
O temor de muitos equatorianos é que a violência atípica de episódios como o de domingo passado faça o país estar diante de um cenário de guerra aberta entre grupos narco rivais, como aquela que já é vivida no México e respinga na população civil. Na sexta-feira da semana passada (12), um desacordo entre organizações criminosas mexicanas, que também começou dentro da cadeia, transbordou para as ruas de Ciudad Juárez e teve civis como alvo principal – 11 pessoas foram mortas, a maioria sem envolvimento com qualquer lado do conflito. “A ‘normalidade’ para eles (os cartéis) é ter os cidadãos como reféns”, disse um especialista em segurança ouvido pela BBC para analisar a crise mexicana. Na equatoriana Cristo del Consuelo, onde a população já reclama que a polícia não tem permanecido no local do atentado menos de uma semana após a explosão, os “reféns” também parecem estar se acumulando.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇨🇴 Gustavo Petro derruba a cúpula policial – O governo Gustavo Petro mal começou e já deu a primeira sacudida nas forças de segurança: 22 generais da cúpula policial foram removidos de seus cargos. A canetada foi formalizada na terça-feira (16), no mesmo dia em que o presidente deixou as Forças Armadas esperando em pé antes de cancelar a cerimônia de reconhecimento das tropas. A mudança abriu caminho para que a generala Yackeline Navarro Ordóñez assumisse o posto de subdiretora da Polícia Nacional – foi desejo de Petro que uma mulher chegasse ao cargo mais alto possível dentro da corporação, nem que para isso precisasse derrubar todos os uniformizados à frente dela na hierarquia. Navarro é formada pela Escola de Cadetes General Santander e, desde 1992, ocupa cargos administrativos em diferentes capitais do país, com foco em melhorar a formação acadêmica dos oficiais, principalmente em temas de direitos humanos, investigação e serviço à comunidade. A indicação também faz parte de uma bandeira do novo governo de zerar a corrupção policial e as violações contra civis. No Cambio.
🇭🇳 Na cadeia, ex-presidente hondurenho diz sofrer ameaça de morte – O ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), que foi detido pouco após deixar o cargo no início deste ano e hoje cumpre prisão preventiva nos Estados Unidos, estaria sendo alvo de ameaças de morte na cadeia. Ao menos, é o que alegou na terça-feira (16) a defesa de JOH, argumentado que a gangue MS-13 – uma das mais poderosas do narcotráfico centro-americano e com braços nos EUA – teria encomendado o assassinato do político no centro de detenção onde ele se encontra, no Brooklyn, em Nova York. Hernández aguarda julgamento por supostos crimes relacionados ao próprio tráfico de drogas, um envolvimento pelo qual o irmão dele, o ex-deputado Tony Hernández, já foi preso e condenado à pena perpétua pela Justiça estadunidense. JOH vem defendendo sua inocência e alega que as investigações só começaram após membros de gangues terem feito delações premiadas citando seu nome, como represália pelas políticas de combate aos narcos que teria levado a cabo em seu governo. Na Prensa.
🇲🇽 México conclui investigação pelo desaparecimento de 43 estudantes em 2014 – O ex-procurador-geral do México (2012-2015), Jesús Murillo Karam, foi preso nesta sexta-feira (19), acusado de negligência e falsear informações no comando das investigações sobre o desaparecimento forçado dos 43 estudantes de Ayotzinapa, em 2014. Após a ação criminosa das autoridades da época, novos inquéritos realizados posteriormente mostraram que o massacre ocorreu com a conivência de agentes do Estado, envolvendo procuradores e militares para alterar provas e registros sobre o caso. A detenção de Murillo veio um dia após a Comissão da Verdade dedicada ao caso entregar seu relatório definitivo ao subsecretário de direitos humanos do atual governo, Alejandro Encinas. Com base em mais de 41 mil documentos que incluíram transcrições de ligações telefônicas e mensagens de texto, a Comissão concluiu que aquilo que a PGR definiu como a “verdade histórica” do caso em 2014 não passava de uma fabricação, e que o desaparecimento dos 43 “foi um crime de Estado”. No Excelsior.
🇵🇾 Após prometer renúncia, vice agora diz que fica – Cai ou não cai? Apenas alguns dias após prometer que iria renunciar à Vice-Presidência do país – decisão tomada após ser acusado de corrupção pelo Departamento de Estado dos EUA – Hugo Velázquez disse na quinta (18) que não deixará o cargo… por enquanto. Mantendo o discurso de que provará sua inocência na Justiça, o agora ex-demissionário disse que aguardará “mais detalhes” da denúncia antes de, enfim, abandonar o posto no Executivo. Mas se a “des-desistência” envolvendo seu posto oficial é um fato, o mesmo não vale para outra renúncia recente: a que fez à campanha interna do governista Partido Colorado para as eleições presidenciais em 2023. Outrora favorito e indicado pela ala do presidente Mario Abdo Benítez para concorrer nas primárias marcadas para dezembro, Velázquez disse que esta decisão, ao contrário da outra, é irreversível. E não teria como ser diferente: durante a semana, Abdo Benítez já havia indicado o ex-pastor Arnoldo Wiens como representante de sua ala no partido. Wiens, por sua vez, renunciou ao cargo de ministro de Obras Públicas e Comunicações na terça (16) e já foi devidamente registrado. Seu adversário nas primárias será o economista Santiago Peña, apoiado pelo ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018). Ainda que rival de Velázquez (e Abdo Benítez) no tabuleiro colorado, Cartes também enfrenta acusações de corrupção vindas de Washington. Via Reuters.
🇬🇹 Novos elementos sugerem armação judicial contra jornalista preso – Segue nebulosa a trama que levou o jornalista e fundador do El Periódico José Rubén Zamora, crítico ferrenho ao governo, à prisão no final de julho (saiba mais no GIRO #143): jogando nova luz sobre o tema, uma reportagem do El Faro revelou que todo o caso que levou ao processo aberto pelo Ministério Público contra Zamora – por lavagem de dinheiro, conspiração, chantagem e tráfico de influência – foi montado em apenas 72 horas, tempo considerado incomum para a elaboração de um caso relativamente sensível. Mais do que isso, a matéria mostrou que a suposta testemunha-chave do caso, o banqueiro Ronald Giovanni García Navarijo, ex-gerente do Banco dos Trabalhadores (Bantrab), sequer estava no radar da procuradoria dias antes de prestar depoimento e lançar as denúncias contra o jornalista. A defesa também questiona o fato de todo o processo ser montado em cima de apenas um depoimento. Zamora – que se diz vítima de “perseguição” em retaliação à reportagens publicadas por seu jornal contra políticos – também lançou outra denúncia: ele alega que o mesmo banqueiro teria lavado dinheiro para os ex-presidentes Mauricio Funes (2009-2014), de El Salvador, e Jimmy Morales (2016-2020), da Guatemala. O MP nega a perseguição e diz que a prisão de Zamora se relaciona apenas “com sua função de empresário, não de jornalista”.
Un hilo:
REGIÃO 🌎
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky voltou a pedir apoio da América Latina à causa de seu país, ainda mergulhado no esforço de guerra contra a invasão russa. Em um evento organizado pela Universidade Católica do Chile e do qual participou virtualmente, na quarta (17), Zelensky solicitou aos países da região que “disseminem a verdade” sobre a guerra, além de apoiarem sanções “para que [a Rússia] pague o preço máximo pela agressão”. Apesar da solidariedade internacional com os ucranianos, Kyiv encontra na América Latina uma das regiões mais reticentes, tendo se deparado com abstenções à condenação da ONU contra a Rússia já no início do conflito. Recentemente, Zelensky também viu ser vetado um pedido para discursar na última cúpula do Mercosul. Em El País.
ARGENTINA 🇦🇷
Milhares de argentinos saíram novamente às ruas nesta quarta-feira (17) para protestar por melhores salários, mais empregos e contra a disparada nos preços. No mesmo dia, foi anunciado um reajuste nas tarifas de eletricidade, água e gás. Como muitos movimentos sindicais são peronistas – e, portanto, alinhados ao governo – parte das mobilizações não foram dirigidas ao presidente Alberto Fernández, mas contra os “formadores de preço”, entidades patronais e empresários que fixam os valores dos produtos. Ainda assim, alguns manifestantes montaram acampamentos em frente à Casa Rosada e pediram uma reunião com o novo ministro da Economia, Sergio Massa. Também houve quem carregasse um caixão simbolizando a “morte” dos salários diante da carestia. O chefe da pasta não tocou no tema, mas destacou, na quinta (18), a necessidade de aumentar as reservas de dólares e mencionou possíveis acordos de recompra de dívida que podem ajudar nesse quesito. Em setembro, Massa deve viajar a Washington para uma reunião com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em La Nación.
Aproveitando a sensibilização da comunidade internacional pela invasão russa à Ucrânia, o Estado argentino está numa turnê pela vizinhança em busca de apoio na causa pelas ilhas Malvinas – motivo de uma famosa guerra com o Reino Unido em 1982, que hoje controla o território. O secretário argentino designado para o assunto no Ministério de Relações Exteriores, Guillermo Carmona, agradeceu o apoio do Brasil, reconhecendo que o gigante sul-americano mantém uma “posição constante no reconhecimento da soberania e apoio à Argentina na causa das Malvinas”. De acordo com ele, essa movimentação diplomática “visa reposicionar a questão das Malvinas como um caso de colonialismo anacrônico no século 21”. Carmona, na sequência, levou a pauta a Chile e Uruguai. No Yahoo.
BOLÍVIA 🇧🇴
Apenas uma formalidade – pois ela já cumpre outra condenação. A ex-presidenta interina Jeanine Áñez (2019-2020) teve um pedido de prisão preventiva estendido por mais três meses nesta terça-feira (16). A prorrogação da vez tem relação com o chamado processo “Golpe de Estado I”, primeiro evento antidemocrático em que Áñez é acusada de terrorismo, sedição e conspiração para cometer os atos de violência que vieram na sequência da queda de Evo Morales, em novembro de 2019. A pena preventiva seria uma forma de evitar que ela obstruísse as investigações ou fugisse do país. Na prática, porém, pouco muda: em junho, Áñez já recebeu uma sentença de 10 anos de cárcere pelo processo “Golpe de Estado II”, em que foi julgada sua atuação em descumprimento à Constituição do país em meio à crise sucessória na qual ela acabou se proclamando presidenta após a renúncia forçada de Evo e de vários outros nomes que poderiam assumir o cargo no lugar dele. A defesa da antiga líder golpista segue alegando um caráter político na série de decisões judiciais contra ela. No Infobae.
CHILE 🇨🇱
A lei foi aprovada em julho, mas o alvoroço só veio nesta semana: na quarta (17), o Congresso do Chile sorteou o primeiro grupo de parlamentares que vai ser submetido a um teste de consumo de drogas, por meio de uma amostra de cabelo. Vista como moralista por nomes à esquerda, a proposta não foi barrada pelos aliados do presidente Gabriel Boric, que temiam críticas por um posicionamento que poderia ser encarado como contrário à transparência. Ainda assim, a polêmica segue: Marcela Riquelme, independente que integra a bancada progressista e uma das 78 pessoas sorteadas para essa primeira leva, já disse que não quer passar pelo teste que considera uma “violação de privacidade”. Já Camila Flores, do conservador Renovação Nacional, defendeu que os positivados deveriam perder seus cargos como deputados – algo que não está previsto na lei. Segundo a legislação aprovada no mês passado, todos os representantes deverão ser testados ao menos duas vezes durante o mandato, e aqueles que derem positivo para consumo de drogas terão seu nome divulgado e precisam autorizar a quebra do próprio sigilo bancário – a ideia, supostamente, é revelar eventuais vínculos com o narcotráfico. Caso nenhuma reviravolta legislativa ocorra, os testes devem ser realizados até o final de agosto. Em El País.
Duras sanções serão aplicadas após o aparecimento do sumidouro próximo a uma área de mineração no Atacama, garantiu na terça (16) a Superintendência do Meio Ambiente do Chile. Seis medidas “urgentes e transitórias” foram propostas, tudo enquanto seguem as investigações para determinar as reais causas que levaram ao surgimento da cratera de 36,5 metros de diâmetro em Tierra Amarilla, cerca de 665 km ao norte de Santiago. “Depois de várias visitas de fiscalização na área, detectamos que a empresa estava realizando uma extração excessiva de material, o que pode ter causado um aumento de afloramentos de águas que não foram adequadamente controlados”, afirmou o superintendente de meio ambiente Emanuel Ibarra. Via Reuters.
Una expresión:
¡Ajúa! – Grito de guerra usado pelos militares colombianos e popularizado pelas exaltadas manifestações públicas do ex-comandante das Forças Armadas, o general Eduardo Zapateiro. A interjeição, porém, não é uma criação dele. Seu antecessor, Alejandro Navas, fez uma corruptela de “Hooah!”, grito de guerra comum nos Estados Unidos, onde ele recebeu treinamento militar. Por sua vez, a versão estadunidense tem uma origem controversa: pode ter sido uma expressão indígena com sentido de “boa sorte” e usada em uma reunião com as tropas dos colonos; ou até uma herança de algum termo vietnamita, também herdado no contexto da guerra.
COLÔMBIA 🇨🇴
Mais de 102 mil colombianos indocumentados foram detidos nas fronteiras dos Estados Unidos nos últimos 10 meses, exibindo um incremento veloz do fluxo rumo ao norte neste ano: o número representa um aumento de 1.600% nas detenções em relação ao acumulado no mesmo período do ano passado. De outubro para cá, mais de 2,2 milhões de migrantes sofreram detenções ao entrar em solo estadunidense neste ano – um avanço de mais de 14% na comparação do período anterior. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
Há 100 dias completados nesta semana, Rodrigo Chaves tomava posse como presidente da Costa Rica. Eleito sob uma bandeira de reformas fiscais (ex-ministro do antigo governo, renunciou por discordar justamente da condução dessa área) e promessas de recuperação econômica após a pandemia, o ex-economista do Banco Mundial chegou ao poder apesar das denúncias de assédio sexual que recebeu durante os anos na entidade financeira. Entre as principais medidas sinalizadas até aqui, Chaves prometeu regularizar até 200 mil imigrantes que vivem em solo tico, em sua maioria nicaraguenses fugidos da crise social e política além da fronteira, e também concedeu vistos especiais e isenções tributárias a nômades digitais vivendo no país. Também teve polêmica: em julho, o mandatário entrou em uma guerra-relâmpago com o jornal La Nación, acusado de, nas palavras do presidente, “difamar a pátria” (saiba mais no GIRO #140). Em uma carta divulgada pelo El País, o presidente fez um balanço de seus primeiros dias no Executivo.
Recuperar a economia segue sendo assunto prioritário para Chaves que, na terça (16), disse que planeja apresentar um projeto de lei para vender o Banco da Costa Rica e o Banco Internacional da Costa Rica, ambos estatais, além de 49% dos direitos da seguradora (também controlada pelo Estado) INS. A iniciativa é parte de um enredo que busca soluções para redução da dívida pública do país, que chegou a atingir os maiores patamares entre os centro-americanos. Se aprovada, só a venda dos bancos deve render aos cofres de San José até US$ 1,8 bilhão, o equivalente a 2,8% do PIB. O presidente disse que apresentará o projeto ao Congresso “em breve”. No evento que marcou seus 100 dias no comando, o chefe de Estado também informou que o Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) aprovou uma linha de crédito de US$ 290 milhões para ajudar o país em sua jornada de retomada fiscal. Via Reuters.
CUBA 🇨🇺
Muito pior do que o pensado inicialmente: após as primeiras informações sugerirem que o incêndio nos reservatórios de combustível de Matanzas, na última semana, tinha deixado dois bombeiros mortos, o governo cubano confirmou na quarta-feira (17) que o número de vítimas subiu para 16. A trágica correção aconteceu após a extinção das chamas, quando os restos ósseos de outras 14 pessoas até então dadas como desaparecidas foram encontrados nas ruínas. Segundo fontes oficiais, no auge do desastre as temperaturas ultrapassaram os 2.000 °C, o que teria destruído qualquer amostra de DNA capaz de identificar a quem pertenciam as ossadas. Via ANSA.
O governo informou na quarta (17) que dará luz verde para investidores estrangeiros atuarem no comércio atacadista e varejista, revertendo uma proibição em vigor havia seis décadas. A medida é enormemente atrelada à tentativa cubana de sair de uma crise financeira que piorou nos últimos dois anos em função de sanções e da crise da pandemia – e vem na esteira de uma série de outras aberturas econômicas implementadas de 2018 para cá. Segundo a ministra do Comércio Exterior, Betsy Díaz Velázquez, porém, a permissão não vai permitir uma entrada indiscriminada de investimento, sobretudo pela intenção governista de fazer o “mercado estatal prevalecer”. Já o chefe da pasta da Economia, Alejandro Gil, disse que a ideia é “ampliar e diversificar a oferta à população e contribuir para a recuperação da indústria nacional”. Na Veja e Brasil de Fato.
EL SALVADOR 🇸🇻
Já chegou a 50 mil o número estimado de prisões realizadas pelo governo desde o início do atual estado de exceção, em guerra declarada contra as gangues do país, no final de março – quando, em um único dia, 62 mortes foram registradas ao redor de El Salvador, um número que chocou mesmo para os padrões da violência local. Nesta semana, na noite de terça (16), o Congresso de maioria governista aprovou a quinta prorrogação – por mais um mês – do regime que suspende direitos fundamentais para facilitar a prisão arbitrária de supostos membros dos grupos criminosos. Embora o presidente Nayib Bukele venda a medida como uma história de sucesso para combater as pandillas e o tráfico, acumulam-se relatos de detenções de pessoas inocentes e de dados falseados para reduzir artificialmente o índice de homicídios. Via AFP.
EQUADOR 🇪🇨
O presidente Guillermo Lasso confirmou a membros de seu gabinete, na segunda (15), um diagnóstico de melanoma, revelado após passar por uma cirurgia para uma lesão na pálpebra. Após informar o quadro, Lasso viajou para Houston, nos EUA, onde iniciou o tratamento no dia seguinte. Segundo o calendário oficial da presidência, o mandatário só deve voltar ao país no final de semana. Em 2021, o presidente já havia buscado hospitais estadunidenses para a retirada de um cisto na região lombar, problema que forçava o mandatário de 66 anos a andar com ajuda de bengalas. Na CNN.
Un clic:
GUATEMALA 🇬🇹
As notícias ruins no universo dos direitos fundamentais seguem: em agosto, também chegam ao fim os cinco anos de mandato de Jordán Rodas, advogado e titular da Procuradoria de Direitos Humanos, conhecido por denunciar abusos e prestar apoio às missões anticorrupção guatemaltecas (em parte desmanteladas por perseguições promovidas pela procuradora-geral Consuelo Porras, como explicado na edição #134). Baixa importante, especialmente agora, Rodas chegou a ser tratado como desafeto pelo ex-presidente Jimmy Morales (2016-2020). A relação não é diferente com o atual presidente Alejandro Giammattei, chamado pelo advogado de “obcecado pelo poder, como um imperador”. Via AP.
HAITI 🇭🇹
A violência das gangues está em alta e, com ela, também cresceu o tráfico de armas rumo ao Haiti. Segundo autoridades de segurança e alfandegárias dos EUA informaram na quarta (17), os últimos meses tiveram um aumento no fluxo de armamentos para a nação caribenha, propiciando esforços para debelar a situação. Em julho, o Conselho de Segurança da ONU já havia pedido o fim da transferência de armas leves – que acabam nas mãos das gangues – para o país, que desde os anos 1990 convive com um embargo nesse tipo de comércio, embora com flexibilizações e o constante fantasma do contrabando, que agora volta a ganhar força. Via Reuters.
MÉXICO 🇲🇽
Outra semana se passou e, por enquanto, seguem malsucedidas as buscas pelos 10 mineiros presos dentro da mina de carvão “El Pinabete”, no estado de Coahuila. Como detalhado na abertura da última edição deste GIRO, o drama começou quando fortes chuvas alagaram as instalações da mina, fechando canais de acesso ao local. Sem dar conta de resolver o problema – ou de sequer atualizar familiares sobre o estado de saúde dos mineiros – o governo mexicano resolveu pedir ajuda internacional para intensificar as missões de resgate. Na quarta (17), a coordenadora nacional de Proteção Civil, Laura Velázquez, disse que empresas dos EUA e da Alemanha se juntariam aos esforços. “Queremos uma segunda opinião”, disse. Nas últimas duas semanas, especialistas de diversas áreas, incluindo mergulhadores do exército, deram conta de retirar mais de 340 mil metros cúbicos de água de dentro da mina, requisito necessário para certificar a segurança dos resgatistas. Mas, até aqui, frustração: com novas chuvas comprometendo o processo, investidas mais profundas foram abortadas pelo menos duas vezes. Na quinta (18), um outro caso de trabalhadores presos em uma mina ilegal se repetiu em Lenguazaque, na Colômbia – mas, lá, as autoridades conseguiram resgatar os nove mineiros em algumas horas. Em El País.
NICARÁGUA 🇳🇮
A oposição, em sua maioria, está presa, ameaçada ou suprimida. Veículos de imprensa já optam por trabalhar no exílio temendo prisões em massa. Agora, a nova investida do governo cada vez mais autoritário de Daniel Ortega (confira um novo perfil do líder feito pela BBC) é contra a Igreja Católica, que conta com várias vozes dissidentes e críticas ao regime. No começo do mês, o poder em Manágua já havia fechado sete rádios pertencentes à Igreja e, pouco depois, abriu uma investigação contra o bispo Rolando Álvarez, que se tornou uma das principais vozes a denunciar os abusos do orteguismo. Na madrugada de sexta (19), a Polícia Nacional da Nicarágua resolveu tirar Álvarez da prisão domiciliar, encaminhando o líder religioso para um local alternativo na capital, sem dar mais informações. O caso foi confirmado pelo Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam). O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) disse que a retirada do bispo de dentro da Diocese de Matagalpa aconteceu de forma “violenta”. No final do dia, a polícia nicaraguense disse que Álvarez teria sido devolvido à prisão domiciliar, uma informação que ainda não havia sido confirmada por outras fontes até o fechamento desta edição. Em La Nación.
Dale un vistazo:
📻 Ouça a proposta de Constituição do Chile – Com 388 artigos elaborados em dez eixos, o texto da nova proposta de Constituição chilena divide opiniões no país, entre aqueles que querem enterrar de uma vez por todas a constituição de Augusto Pinochet e os que rejeitam o fruto da Convenção encerrada em julho. Apesar das dúvidas sobre aprovação do novo texto que passará por plebiscito em 4/9, tem algo que não dá para negar: a popularidade do livrinho azul. A proposta de Carta Magna, que reconhece o Chile como uma “república solidária, inclusiva e paritária” ficou entre as leituras mais requisitadas entre os chilenos e agora está disponível no Spotify, em formato de audiolivro. A duas semanas do pleito que pode até sepultar este texto, conheça-o clicando aqui.
PANAMÁ 🇵🇦
Um susto, agora com registro em vídeo: na terça (16), começaram a circular nas redes sociais imagens da queda de um helicóptero na Cordilheira Central do Panamá, que deixou seis pessoas feridas, inclusive o pré-candidato presidencial Dimitri Flores. A queda aconteceu no último dia 10, e atraiu atenção porque, logo após o acidente, o próprio Flores gravou um vídeo pedindo ajuda, com os destroços atrás – sem feridos graves, o episódio chegou a gerar algumas piadas, com internautas querendo saber a companhia de telefonia usada pelo político, que seguia com serviço em uma área remota. Imagens da própria queda, porém, não haviam aparecido até agora. Flores, que é advogado, pretende se lançar de forma independente à Presidência do país no pleito de 2024. As autoridades ainda investigam o que causou o acidente. No UOL.
PERU 🇵🇪
Destaque negativo em números da pandemia e, agora, no surto de varíola do macaco: o subsequente drama sanitário do Peru se confirmou com números divulgados pelo Ministério da Saúde na segunda (15), colocando o país andino em terceiro lugar no ranking mundial de contágios por milhão de habitantes. Até o início da semana, eram mais de 834 casos, sendo quase 80% registrados na capital Lima. Considerando o dado de infecções ajustado à população, só EUA e Canadá seguem à frente dos peruanos. Na América Latina, o país ocupa a segunda posição em casos absolutos, atrás apenas do Brasil. Mais de 320 pacientes receberam alta. No RPP.
Pandemia, sete presidentes em 10 anos e inúmeros escândalos de corrupção ajudam a explicar a turbulenta crise econômica que o país andino vem enfrentando. Frente a tudo isso, o Peru deve reduzir sua expectativa de crescimento do PIB em 2022 de 3,6% para 2,2%, de acordo com o recém-nomeado ministro das Finanças Kurt Burneo. Na CNN.
PORTO RICO 🇵🇷
A população já vem protestando há meses, mas, na quinta-feira (18), foi a primeira vez que a voz do governador Pedro Pierluisi se somou ao coro dos descontentes com o serviço prestado pela concessionária Luma Energy, que assumiu a distribuição de energia elétrica da ilha no ano passado. “Não estou satisfeito com a performance da Luma”, disse Pierluisi, acrescentando que “é óbvio” que mudanças precisam ser feitas para melhorar o serviço prestado a 1,5 milhão de clientes que (muitas vezes não) recebem a energia. A Luma assumiu um contrato de 15 anos em junho de 2021, herdando uma rede elétrica que ainda não se recuperou da destruição do Furacão María em 2017, mas com promessas de melhorias – desde então, porém, o preço subiu, os apagões se tornaram mais frequentes, a população já foi às ruas em diversos protestos exigindo o cancelamento do contrato e até o CEO da companhia encarou um pedido de prisão por não entregar documentos exigidos pelo governo em uma investigação sobre as circunstâncias da concessão para uma empresa que não consegue entregar um serviço de qualidade. A autoridade reguladora aponta que, desde janeiro, cada consumidor porto-riquenho passou uma média de 21 horas mensais sem luz. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Com direito a drones e aviões leves, a Fundação Dominicana para Estudos Marinhos (Fundemar) informou na quarta (17) que foi feito um acordo com a empresa Planeta Azul para realizar um estudo inédito: o primeiro censo nacional de peixes-boi. A iniciativa, que busca aumentar o cuidado à espécie em um momento de diversos dramas ambientais, contará com o apoio da Embaixada da Alemanha em Santo Domingo e já obteve a aprovação do Ministério dominicano do Meio Ambiente. O peixe-boi antilhano (Trichechus manatus manatus), típico de regiões caribenhas, é a única espécie de mamífero marinho oficialmente declarada como criticamente ameaçada no país. Em castelhano, o nome do animal é traduzido para manatí, termo explicado na seção Un nombre desta edição. Na Prensa.
Un nombre:
Manatí – Versão castelhana mais comum para “peixe-boi”, o nome da espécie teria origem nos dialetos aruaques falados pelo povo taíno, etnia pré-colombiana que vivia em regiões das Antilhas e do Caribe. A palavra para designar o animal poderia significar algo como “um ser com tetas”, possível referência feita à natureza mamífera do bicho. Outra teoria aponta para uma eventual relação entre o nome e a anatomia do manatí: os “dedos” nas pontas das nadadeiras frontais do animal formariam uma espécie de “mão”, o que teria levado antigos à palavra “lamanati” – numa mistura de termos nativos e o espanhol “la mano” (ou “a mão”). Ameaçado de extinção, o peixe-boi caribenho vai contar com uma verdadeira força-tarefa de conservação, como explicado na seção dominicana deste GIRO.
URUGUAI 🇺🇾
Pioneiro em avanços de direitos civis e em pautas progressistas, o paisito deu um passo adiante mais uma vez, dessa vez no esporte: na terça (16), a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) anunciou a criação da “Copa Sem Gênero”, torneio inédito no futebol mundial que surge com objetivo de integrar as modalidades feminina e masculina a fim de estimular a prática entre as mulheres. Mas, sem prever partidas entre equipes, o que poderia gerar polêmica: a ideia do “campeonato à parte” é criar uma tabela paralela que una as pontuações das equipes nos torneios nacionais de clubes para homens e mulheres, resumindo o confronto a uma disputa numérica. Segundo os idealizadores, além de estimular competitividade, a iniciativa busca “unir paixões” pelo mesmo esporte. No Yahoo.
Contagem regressiva para a reforma previdenciária que a direita uruguaia deseja. Após receber o sinal positivo da base aliada, o presidente Luis Lacalle Pou indicou, na segunda (15), que deve enviar ao Congresso em setembro a proposta que está entre as prioridades de seu governo. “A reforma não só é necessária, é também uma oportunidade política”, cravou o mandatário. Além de estar na metade do mandato, o que daria mais tempo de transição para o novo modelo, Lacalle Pou fala com a segurança de estar respaldado pelas pesquisas, o que nem sempre ocorre diante de mudanças do tipo: um levantamento recente mostrou que 72% dos uruguaios são favoráveis a uma reforma do sistema de seguridade social, e 61% apoiam a ideia de elevar de 60 para 65 anos a idade de aposentadoria. Em El Observador.
VENEZUELA 🇻🇪
Novos protestos, dessa vez promovidos por professores da rede pública de ensino. Como conta a reportagem da AP, docentes planejavam usar o bônus anual de férias para uma série de reparos necessários à vida cotidiana: novos uniformes para os filhos, reformas da casa, óculos novos, entre outras coisas. A expectativa, até aqui, era de receber entre US$ 100 e US$ 200, quantia alta frente ao (ainda) desvalorizado bolívar em tempos de inflação. Mas, para surpresa dos docentes, apenas uma pequena fração desse valor foi parar nas contas bancárias. “Não temos nem lápis para meus filhos iniciarem o ciclo letivo em setembro”, disse uma das integrantes das passeatas pacíficas, que leciona em bairros pobres da capital. Há algumas semanas, também no Caribe, protestos no setor de educação se tornaram o estopim das marchas nacionais no Panamá.
Quatro garimpeiros brasileiros e um venezuelano foram executados a tiros em uma área de extração ilegal na região de fronteira entre os dois países sul-americanos, informou a Polícia Civil de Roraima. Segundo as primeiras investigações, a chacina teria como objetivo o roubo do maquinário. A União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal (Usagal) diz que cerca de 5 mil garimpeiros exploram ouro no lado venezuelano da fronteira, entre eles de 500 a mil brasileiros que passaram a trabalhar no país vizinho devido às operações contra a extração ilegal em terras indígenas de Roraima. Muitos deles, no entanto, mantêm as atividades nos dois lados da divisa. No Estadão.
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