Equador: governo e indígenas dialogam sem encerrar crise
Argentina: eleições parlamentares no domingo | Nicarágua: só três latino-americanos reconhecem reeleição de Ortega | Chile: avança 'impeachment' de Piñera | Bolívia: greve geral contra Arce
O presidente equatoriano Guillermo Lasso e representantes de organizações indígenas do país concluíram durante a semana o segundo dia de conversas para resolver a atual crise socioeconômica, impulsionada pela pandemia e irrompida em outubro após uma súbita alta no preço dos combustíveis, o que levou milhares de civis às ruas (saiba mais na edição #105). Com foco em exigir novas concessões por parte do governo, delegados da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), liderados por Leonidas Iza, e de outras organizações originárias representando três regiões equatorianas, demonstraram que a decisão de Lasso de suspender o aumento mensal no custo dos combustíveis e congelar os valores não é suficiente: os grupos indígenas querem, também, novos subsídios e garantias para que as condições de vida e trabalho sejam mais igualitárias. Só no caso dos combustíveis, o acumulado desde 2020 já aponta um encarecimento de quase 100%.
Após o fim da nova rodada de conversas, na quarta (10), as duas partes lamentaram o fato de que ainda não foram estabelecidos acordos concretos: de um lado, o presidente diz que gostaria de poder abaixar o valor dos combustíveis, mas que a situação de “crise geral” o impede de promover um choque nos preços; lideranças indígenas, por sua vez, temem não alcançar seu principal objetivo, mas exaltaram que houve “avanços” em temas alternativos, como o pagamento de créditos produtivos para trabalhadores do campo e o controle de preços de insumos agrícolas. Segundo a ministra de Governo, Alexandra Vela, os outros pontos em que se enxergam “coincidências” são relativos ao controle de contrabando e à educação bilíngue intercultural – todos, porém, sem um desfecho concreto. A Conaie também não teve atendido seu pedido simbólico de que o encontro ocorresse de forma pública: a reunião se deu a portas fechadas nos gabinetes do Palácio de Carondelet.
Mas há um longo caminho até o aperto de mãos. Além das conversas não indicarem qualquer alteração na pedra angular das reivindicações (uma revisão ainda que mínima no preço dos combustíveis, tema sensível por lá), os primeiros contatos também expuseram diferenças entre as partes no que diz respeito a temas como mineração e segurança pública, deixando evidentes os desafios do governo: com quatro anos pela frente, Lasso terá que equilibrar sua agenda econômica de viés liberal (e a bandeira de redução do déficit fiscal para 2022) com reivindicações que exigem cada vez mais do Estado – tudo na esteira de um cenário de pandemia que fez decolar índices de pobreza, violência e desemprego. Tudo isso, também, enquanto tenta evitar um novo estouro social aos moldes do que ocorreu no final de outubro. Sobretudo pelo histórico recente: além de já ter passado por um paro nacional em 2019 por razões similares, o Equador viu mais de um presidente ser derrubado por passeatas lideradas pelos mesmos grupos indígenas que hoje se sentam com o mandatário em Quito. Para o presidente, “o diálogo e a resolução das diferenças em um ambiente de paz e tranquilidade é fundamental”, disse, insistindo que novas paralisações prejudicariam ainda mais a economia. Os delegados indígenas, no entanto, não garantem o fim dos atos. Em 15 dias, os dois lados se encontram novamente para uma nova tentativa de achar uma saída à crise.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇦🇷 Argentina renova Congresso com governo em crise – É “apenas” uma renovação parcial do Legislativo (127 dos 257 assentos da Câmara e 24 dos 72 lugares no Senado), mas as eleições deste domingo (14) são vistas como cruciais para o presidente Alberto Fernández e a governabilidade no que virá de seu mandato. Em setembro, as primárias obrigatórias, conhecidas pela sigla PASO, já indicaram um provável revés para os peronistas no poder: na ocasião, a coalizão oposicionista Juntos, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), recebeu mais votos do que a governista Frente de Todos. Resultados que, se forem repetidos agora, devem retirar de Fernández as maiorias que atualmente possui nas duas Casas. A derrota nas PASO já havia provocado uma fratura interna entre Alberto Fernández e sua vice (e ex-presidenta) Cristina Kirchner (leia mais no GIRO #99). Além de poder dificultar a sequência do governo, o pleito deste final de semana é visto como um grande ensaio nacional antes das eleições presidenciais de 2023, e até a outrora inviável extrema direita já começa a acreditar que pode brigar por algo, encabeçada por Javier Milei, o mais novo candidato a Bolsonaro que habla na vizinhança. Via AFP.
🇳🇮 Só três latinos reconhecem reeleição de Ortega – Sem surpresas, as eleições da Nicarágua concluíram com a vitória de Daniel Ortega e de sua vice (e esposa) Rosario Murillo, que agora têm caminho aberto para seguir no cargo até janeiro de 2027, completando 20 anos consecutivos no poder (leia mais no abre do GIRO #106). O processo foi marcado pela escalada autoritária do governo sandinista, com a prisão de sete potenciais candidatos de oposição nos meses prévios ao pleito. No fim, sem adversários reais autorizados a concorrer, Ortega somou quase 76% dos votos. Observatórios independentes locais afirmam que a abstenção teria sido altíssima, como protesto da população, na ordem de 81% – já a autoridade eleitoral afirma que só cerca de 34% dos eleitores realmente se ausentaram, um número mais condizente com pleitos anteriores que contaram com aval de observadores internacionais. A perseguição à oposição já havia sido condenada pela ONU e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e as eleições receberam repúdio não só dos atores habituais – como os EUA, que chamaram o processo de “pantomima” – mas também de governos à esquerda, como o Peru de Pedro Castillo, que afirmou que as eleições nicaraguenses merecem “rechaço da comunidade internacional” pela forma como ocorreram. A vizinha Costa Rica, país que mais recebe imigrantes da Nicarágua, também não reconheceu as eleições como legítimas. Na América Latina, só Bolívia, Cuba e Venezuela respaldaram abertamente a vitória de Ortega até agora, enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução, na sexta (12), considerado o processo sem “legitimidade democrática”. No Brasil, o pleito nicaraguense também repercutiu na política interna, após o PT inicialmente parabenizar Ortega e depois voltar atrás, alegando que a nota não havia sido autorizada pela direção do partido. Já no Chile, o Partido Comunista defendeu as eleições nicaraguenses e recebeu um puxão de orelha de Gabriel Boric, candidato presidenciável à esquerda que conta com o apoio do PC e exigiu retratação; lá também se argumentou que a nota “não foi discutida” internamente e foi publicada à revelia. No link, a cobertura do jornal opositor La Prensa, que teve sua redação invadida pela polícia e colaboradores presos ao longo de 2021.
🇨🇱 ‘Maratona’ para derrubar Piñera – Uma jornada que beirou o realismo fantástico para garantir que a mais nova acusação constitucional (processo similar a um impeachment) contra o presidente Sebastián Piñera fosse adiante: na segunda (8), o deputado socialista Jaime Naranjo passou quase 15 horas consecutivas lendo as mais de mil páginas da acusação completa contra o mandatário – não porque fosse um texto particularmente interessante, mas porque queria ganhar tempo para que a sessão não fosse encerrada antes da chegada de Giorgio Jackson, o voto que faltava para a acusação chegar a 78 apoios e seguir em frente. Jackson, por sua vez, não podia estar presente na Câmara durante o dia porque estava encerrando o período de quarentena obrigatória após contrair covid-19, mas, pela lei, poderia sim comparecer a partir da meia-noite, por já se tratar de um novo dia. No fim, Naranjo falou sem parar, Jackson conseguiu chegar e votar (ele até fez uma breve live durante a viagem para Valparaíso, onde fica o Congresso), e Piñera segue podendo ser derrubado – embora a medida tenha mais efeito simbólico do que prático, já que o presidente encerra o mandato no próximo mês de março. Apesar do esforço na Câmara, a acusação ainda será apreciada pelo Senado na próxima terça (16), onde se acredita que a oposição não conseguirá juntar os votos necessários para realmente afastar o presidente. Piñera já foi acusado constitucionalmente antes por outros temas e sobreviveu ao processo. Desta vez, o caso está relacionado aos Pandora Papers. Em La Tercera.
🇧🇴 Greve geral recoloca a direita nas ruas – O governo de Luis Arce enfrenta seu segundo paro nacional desde que assumiu o cargo, há exatos 12 meses. Um jovem de 22 anos morreu durante os protestos na cidade de Potosí, na terça-feira (9), segundo dia da greve. As causas da morte ainda estão sendo investigadas. Desta vez, os grupos responsáveis pelo golpe de Estado contra Evo Morales tiveram protagonismo nas mobilizações, que exigem a revogação da Ley Madre, um pacote legislativo aprovado em agosto que daria um poder “excessivo” ao governo. Segundo os manifestantes, o texto legal ameaça o trabalho informal e independente, além dos bens privados dos cidadãos do país, entre outras alegações. A Lei 1386, oficialmente nomeada de Estratégia Nacional de Luta contra a Legitimação de Ganhos Ilícitos e Financiamento do Terrorismo, ficou conhecida como “lei mãe” justamente por ser anterior a um projeto de reforma que, em outubro, serviu de estopim para os primeiros protestos; na ocasião, a “lei filha” foi tirada de tramitação pelo governo, mas a lei original, agora vista como a “mãe”, seguiu em vigor. Até o momento, foram registrados confrontos nas regiões de Santa Cruz de la Sierra (governada por Luis Fernando Camacho, um dos líderes do golpe de 2019), Potosí, Tarija e Cochabamba. Também houve protestos em La Paz, Oruro e Beni. “Condenamos a violência registrada e a retenção de pessoas por civis. Pedimos o fim dos confrontos”, disse a Defensoria Pública via Twitter. Na BBC.
🇸🇻 Bukele quer lei semelhante à de Ortega – Faça o que eu digo, não faça o que eu faço: é sob a batuta desta incoerência que deputados aliados ao presidente Nayib Bukele (cuja legenda governista Nuevas Ideas detém controle majoritário do Legislativo) aprovaram, com dias de diferença, duas medidas conflitantes: primeiro, uma moção de repúdio aos resultados eleitorais na Nicarágua – um pleito marcado pela falta de observadores e por pouquíssimo respaldo de líderes latinos, como contamos acima. Dias depois, o plenário avançou com um projeto para a chamada Lei de Agentes Estrangeiros: uma resolução que praticamente espelha uma mesma decisão autoritária do governo nicaraguense, e que serviu justamente como argumento para que opositores acabassem presos e impedidos de desafiar Daniel Ortega (agora reeleito) nas urnas. Segundo Bukele, a medida visa “garantir a segurança, a soberania nacional e a estabilidade social e política do país” e vai criar um imposto de 40% sobre transações internacionais no caso de organizações atingidas pela lei. Assim como no caso sandinista, explica-se que se trata de evitar a “ingerência estrangeira”, mas pode acabar como um novo instrumento legal para intimidar jornalistas e opositores e cercear grupos que recebem remessas de cidadãos emigrados. Em El País.
Un hilo:
ARGENTINA 🇦🇷
Apesar de viver em inflação crônica há duas décadas, e atingir números que chegam a 52,5% neste ano, a Argentina ajustou para cima a projeção de crescimento econômico em 2021, na esteira da recuperação após as restrições que marcaram o primeiro ano da pandemia: antes previsto para se incrementar em 8%, o PIB agora pode crescer até 9%, afirma o Ministério da Economia. De acordo com a pasta, o país passará por uma recuperação e crescimento econômico importante para a sociedade, que atualmente passa por mais um congelamento de preços. “Hoje a economia argentina está passando por uma recuperação sólida”, disse o comunicado. “Todos os setores […] estão crescendo”. No G1.
Mais um repressor da última ditadura (1976-1983) encontrou um desfecho tragicômico: o tenente-coronel da reserva Carlos Cialceta, foragido desde abril por crimes de lesa-humanidade cometidos no início do regime, foi capturado a quinta-feira (11) em Salta, tentando se esconder dentro de um armário, em uma imagem que viralizou nas redes. Cialceta era parte do Regimento de Infantaria Monte 28, um local de detenção e tortura já comprovado pela Justiça, e é suspeito de evolvimento no sequestro, tortura e homicídio do militante personista Jorge René Santillán, em agosto de 1976. No Página 12.
CHILE 🇨🇱
Mais de dois anos após o estallido social que desencadeou a formação de uma nova Constituinte chilena, atualmente presidida pela líder mapuche Elisa Loncon, o Congresso do Chile prorrogou por mais 15 dias a militarização em áreas de conflito mapuche, no sul do país. Regiões de Araucanía e Biobío seguem sendo palco de guerras dos militares, que com frequência disparam de forma arbitrária para matar, especialmente contra membros da nação originária. O governo argumenta que a militarização e sua prorrogação são necessárias devido ao aumento dos atos de violência naquela parte do país, vinculados ao narcotráfico, ao terrorismo e ao crime organizado, cometidos por grupos armados como a guerrilha mapuche Weichan Auka Mapu (WAM), que assumiu a autoria de algumas ações. Via EFE.
Considerado o deserto mais seco do mundo, o Atacama, destino certo para o turismo sul-americano, virou também o destino para o descarte de roupas não comercializadas de lojas dos EUA, Europa e Ásia. As montanhas coloridas das peças compõem uma paisagem agora desoladora e convertida em um lixão de fast fashion: todos os anos, cerca de 59 mil toneladas de roupas entram na zona franca do porto de Iquique, a 1,8 mil quilômetros de Santiago. Os vestuários, quando não são comprados, são levados ao porto do Chile, para serem revendidos a outros países. O que novamente não é comercializado vai parar no deserto. O Chile é o maior importador de roupas usadas da América Latina. Há quase 40 anos, existe um sólido comércio de “roupas americanas” em lojas de todo o país, que são abastecidas com lotes vindos de Estados Unidos, Canadá, Europa e Ásia. No Milenio.
COLÔMBIA 🇨🇴
Luta contra a cocaína, esperança com o mercado medicinal da maconha. Esse tem sido o discurso do presidente Iván Duque, que durante a semana esteve em Israel e defendeu a cannabis com um argumento ambiental: segundo ele, “para cada hectare plantado de folha de coca, dois de floresta natural são destruídos”. O presidente disse, ainda, que a produção da droga branca, além de ser cercada de violência, tem altas pegadas de carbono, já que inclui o uso de combustíveis e outros elementos pouco sustentáveis. Mas o discurso a favor da maconha não tem só o meio ambiente no pano de fundo (na COP26, em Glasgow, a Colômbia prometeu se tornar livre de carbono até 2050): Duque também enxerga no mercado verde colombiano, um dos principais produtores da planta, um potencial bilionário, sendo os próprios israelenses possíveis consumidores. Via AP.
Em Jerusalém e tentando agradar os anfitriões, o ministro da Defesa, Diego Molano, causou dores de cabeça para o governo ao se referir ao Irã como um “inimigo comum” da Colômbia e de Israel. Molano acabou sendo contrariado até mesmo pelo presidente Iván Duque, que tentou colocar panos quentes na história ao lembrar que colombianos e iranianos mantêm relações diplomáticas, e que Bogotá “não usa a palavra inimigo para se referir a nenhum país”. As declarações de Molano foram incentivadas em grande parte pela colaboração de Teerã com a Venezuela, inclusive enviando combustível como forma de driblar as sanções dos EUA. Mohammad Ali Ziaei, embaixador do Irã na capital colombiana, lançou indireta: “Irã e Venezuela têm relações econômicas e comerciais benéficas. Outros países latino-americanos também podem desfrutar de relações econômicas e comerciais benéficas com o Irã”. Em El Espectador.
Una expresión:
¡Ay ñeñe! – Interjeição típica da República Dominicana que indica desacordo com algo dito ou feito anteriormente. Em português, seria o equivalente a expressões como “ah, tá”, “ah, pronto” ou “conta outra” usadas de forma irônica. A expressão também serve para denotar preocupação ou medo, dependendo do contexto. Por exemplo: ¿Abinader quiere pelearse con el presidente de Haiti? ¡Ay ñeñe!
COSTA RICA 🇨🇷
Procuradores do país acusam um grupo de autoridades do setor de distribuição de água e saneamento de oferecer contratos públicos para lavar dinheiro do tráfico de drogas, revelou no início da semana a Agência de Investigação Judicial. Órgãos de investigação concluíram 37 operações de busca que terminaram com a prisão de 26 pessoas, incluindo 14 funcionários governamentais. No total, foram identificados 17 contratos no valor de US$ 1,2 milhão. Via AP.
CUBA 🇨🇺
A Marcha Cívica pela Mudança, principal ato de grupos contrários ao governo – e declarada ilegal por Havana – sofrerá mudanças: o dramaturgo Yunior García, um dos principais nomes à frente da nova onda de oposição à administração comunista, anunciou uma mudança na estratégia do ato, prometendo protestar sozinho neste domingo (14), um dia antes da data previamente escolhida para ser o dia ‘D’ dos que estão insatisfeitos com a política local. “Não serei eu quem impedirá”, diz García, “só peço que evitem qualquer tipo de confronto violento”. A mudança brusca de rota, que pegou muitas outras vozes opositoras de surpresa e não deve afastar a massa de insatisfeitos das ruas, vem à medida que aumentam as denúncias de pressões contra os articuladores das marchas do dia 15: além de acusaram o governo de demitir civis para intimidar, paira sobre os manifestantes o medo de uma prisão por sedição, que pode resultar em uma pena de 20 anos de cadeia. O poder, por sua vez, segue irredutível e uníssono (e promete até processar o Facebook por ‘ajudar’ os mobilizados): o chanceler Bruno Rodríguez disse mais uma vez que não serão toleradas ações subversivas e “financiadas pelos EUA”. Em El País.
Um novo grupo econômico da ilha já começa a jogar suas primeiras cartas no histórico conflito com os EUA: cerca de 250 empresários cubanos enviaram, na segunda (8), uma carta a Joe Biden pedindo que seu governo volte às políticas de aproximação da época de Barack Obama (2009-2017), já que a atual postura de Washington “freia” a “capacidade de prosperar” e “afeta em grande medida” as “operações comerciais diárias”. Já são mais de 400 micro, pequenas e médias empresas abertas em Cuba sob um novo modelo autorizado pelo governo no final de setembro, e o histórico bloqueio, somado a restrições (especialmente ao turismo) impostas nos dias de Donald Trump, agora vêm pesando no bolso de quem tenta investir na transição econômica. Em El País.
EL SALVADOR 🇸🇻
Um aumento inesperado nos homicídios durante a semana fez o presidente Nayib Bukele colocar novamente as tropas nas ruas na quinta-feira (11): em apenas 48 horas, mais de 30 mortes foram registradas no país que ainda é um dos mais violentos do mundo, mas viu um declínio em crimes do tipo nos últimos anos. O governo não esclareceu quantos soldados foram deslocados nem por quanto tempo a operação deve durar, e Bukele apenas se limitou a dizer que o aumento dos crimes era resultado da ação de “forças obscuras”, sem definir o que seria isso, o que abriu margem para várias especulações. Via Reuters.
Un clic:
Não é a Avenida Paulista nem o pato da Fiesp. Este patão faz parte do festival ‘Hecho en Casa’, que circula por diferentes destinos do Chile entre outubro e dezembro com obras de artistas internacionais. Um dos favoritos do público, o pato é assinado pelo holandês Florentijn Hofman e já havia passado pela nação andina em 2017. Clique na foto para conhecer outras obras que passaram recentemente por Santiago e ainda vão visitar Iquique, Valdivia e Concepción.
GUATEMALA 🇬🇹
Durante os primeiros 10 meses de 2021, a Guatemala registrou um total de 3.380 vítimas de homicídio, um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período do ano anterior, detalha o Grupo de Apoyo Mutuo (GAM). A entidade tambem traz informações sobre violência de gênero no relatório e, segundo o Observatório da Mulher do Ministério Público, são 55 mil vítimas de algum tipo de abuso, entre casos de estupro (8.379), violência física (17.048) e psicológica (26.774), além de 538 mulheres mortas. No Periódico.
Mais uma operação antidrogas apontou o envolvimento das forças policiais com o crime organizado. Na quarta-feira (10), as autoridades capturaram 28 pessoas vinculadas ao narcotráfico, incluindo 19 agentes da Polícia Nacional Civil e Lester El Tono Morales – megatraficante de fama internacional e procurado nos EUA por tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público, os policiais presos seriam responsáveis por administrar um “sistema de distribuição” na zona sul da Cidade da Guatemala. Na DW.
HAITI 🇭🇹
Garantir a segurança em território haitiano é responsabilidade do próprio governo local e não da comunidade internacional – esta é a posição oficial dos EUA, expressada pelo emissário Todd Robinson, em visita a Porto Príncipe para se encontrar com o primeiro-ministro Ariel Henry. Embora não de todo inesperada, a confirmação de que Washington não deve intervir na crise crescente no país caribenho provocou fúria na vizinha República Dominicana, onde legisladores afirmam que só uma solução conjunta com outros países é capaz de aliviar um cenário que respinga também ali. Enquanto isso, os próprios EUA voltaram a insistir que seus cidadãos ainda em território haitiano deixem o país “enquanto há passagens comerciais disponíveis”, prevendo uma escalada da violência e a escassez de combustível nas próximas semanas. A projeção de uma piora no quadro já extremamente conturbado do Haiti também fez o Canadá remover os funcionários não essenciais de sua embaixada em Porto Príncipe. No Notimérica.
HONDURAS 🇭🇳
Acusado de envolvimento direto com o narcotráfico por pessoas que já foram presas nos Estados Unidos, o presidente Juan Orlando Hernández aproveitou uma passagem por Washington, na quarta (10), para se defender novamente: o mandatário alega que seria vítima de um “tsunami de mentiras” por parte dos próprios narcos, que teriam uma “sede de vingança” por sua ação para combater o tráfico – segundo JOH, a passagem de drogas por Honduras caiu 95% durante seu tempo no poder. Hernández alega que o cartel Los Cachiros, cujos membros agora afirmam ter feito acordos com o governo, foi justamente um dos alvos prioritários de sua gestão. Com mandato se encerrando – JOH deixa o cargo em 27 de janeiro, após oito anos –, o presidente estava nos EUA para promover um livro laudatório sobre o seu período no comando do país. O irmão dele, o ex-congressista Tony Hernández, foi condenado à prisão perpétua pela Justiça estadunidense em março deste ano, precisamente por crimes relacionados ao narcotráfico. Via EFE.
Dale un vistazo:
📽️ Retablo – O retábulo ayacuchano faz parte da arte folclórica peruana, herança da colonização espanhola católica que foi ressignificada aos costumes dos povos originários andinos e transformada em caixas de madeira que retratam, através de bonecos de massa de batata, cenas do cotidiano familiar, da história local e/ou figuras religiosas. Diferente do objeto, este filme que leva o mesmo nome foge à tradição ao, além de contar a história da sobrevivência de uma família numa pequena comunidade andina, abordar também a luta contra a homofobia e questionamentos bastante atuais sobre conservadorismo. O filme do diretor Álvaro Delgado-Aparicio foi escrito e rodado inteiramente em Quechua, idioma originário mais falado da América do Sul, e levou mais de nove anos para ser produzido. A produção ganhou diversos prêmios e inclusive foi pré-indicada ao Oscar em 2019.
📽️ Retablo (Peru, 2017). 95 min. Dir: Álvaro Delgado-Aparicio.
MÉXICO 🇲🇽
Seguem os planos do presidente López Obrador contra a desigualdade mundial: de volta a Nova York, para discursar à frente do Conselho de Segurança da ONU (cuja presidência mensal foi assumida pelo México), AMLO lançou um plano de luta contra a pobreza que pretende dar “vida digna” a 750 milhões de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia. O mecanismo proposto pelo mandatário é chamado de Programa Mundial pela Fraternidade e Bem-Estar e busca arrecadar US$ 1 bilhão por meio de três dispositivos: contribuição voluntária anual de 4% das mil maiores fortunas do mundo, aportes similares das maiores empresas do planeta, e que cada país do G20 destine 0,2% de seu PIB para o programa. Obrador ainda falou de temas como segurança, clima, migração, pandemia e diplomacia. Em El País.
Santiago Nieto, chefe da Unidade de Inteligência Financeira (UIF) e responsável por combater a lavagem de dinheiro no país, acabou renunciando ao cargo após aparecer envolvido em um escândalo que descobriu US$ 35 mil em dinheiro vivo dentro de um jato particular que transportou figuras influentes da política mexicana. O caso está relacionado à viagem para um casamento celebrado na Guatemala, e já havia levado à renúncia do secretário de Turismo da Cidade do México, também envolvido no episódio suspeito. Mesmo sem comprovação de que o dinheiro era irregular, a percepção da opinião pública foi negativa e levou o presidente López Obrador a aceitar o afastamento de forma imediata. “Temos muito respeito [por Santiago Nieto], mas não podemos tolerar nenhum ato de extravagâncias nem um ato que vá contra a austeridade republicana”, disse o presidente. “O povo está farto disso”. No Financiero.
PANAMÁ 🇵🇦
Nova vitória judicial para o ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014), absolvido pela segunda vez no âmbito das investigações que o acusavam de gastar milhões de dólares para grampear telefones e espionar adversários políticos e jornalistas durante seus anos de mandato. O ex-mandatário já havia sido absolvido de forma semelhante em 2019, à época sob o argumento do tribunal de que procuradores haviam cometido irregularidades e apresentado provas insuficientes. Após uma apelação, no entanto, o caso voltou às cortes, mas viu novo desfecho favorável a Martinelli. Segundo o empresário, que mantém os planos de concorrer novamente à presidência em 2024, a decisão desta semana encerra “sete anos de tortura” e uma tentativa de “perseguição” para impedi-lo de voltar a vestir a faixa presidencial. Via AP.
Boas notícias para Martinelli pai, mas não para seus filhos: nos últimos dias, a justiça da Guatemala aprovou a extradição para os EUA dos dois filhos do ex-presidente, detidos em solo guatemalteco em 2020 e acusados de lavagem de dinheiro e ocultação de informação dentro do macro-esquema envolvendo a construtora brasileira Odebrecht (a justiça panamenha, aliás, marcou para janeiro de 2022 a primeira audiência preliminar envolvendo o caso). Os dois foram capturados por indicação da Justiça dos EUA, quando estavam prestes a embarcar ao Panamá em um avião particular. Para o pai, os dois devem sim enfrentar a justiça estadunidense para “provar inocência”. Na DW.
PARAGUAI 🇵🇾
Um crime misterioso que comove o país desde o final de outubro segue ganhando contornos imprevistos nas investigações. Em 22/10, o arqueólogo alemão Bernard von Bredow, 62, e sua filha Lorena, 14, foram encontrados mortos a tiros em sua casa em Areguá, a 22 km da capital Assunção. Sem muitas informações sobre o assassinato dos estrangeiros, a polícia paraguaia começou a investigar a hipótese de um latrocínio, já que a casa dava indícios de que havia sido saqueada. Agora, as autoridades acreditam que Bredow, que também era músico, teria sido morto por outros três cidadãos alemães que queriam roubar vários violinos Stradivarius que o compatriota supostamente guardava em casa – feitos artesanalmente em número limitado durante os séculos 16 e 17, esses violinos raros chegam a ser vendidos por milhões de dólares. Os suspeitos, que “se autodenominavam amigos da vítima”, segundo a polícia, estão presos e aguardam julgamento. Bredow e a filha viviam no Paraguai desde 2018. Na BBC.
Una palabra:
Manotazo – Uma das infinitas variações de algo como “tapa” ou “safanão”, aparece de formas variadas a depender do país, região ou até mesmo geração. Entre os mais conhecidos, estão zape, cachetada, guantazo ou mesmo em pequenas expressões, como dar una paliza. Seja como for, foi um desses bofetões que o empolgado jogador Erik Lira, do Pumas (México), deu em um policial que fazia a segurança do jogo, após a vitória dos felinos de la UNAM contra o Cruz Azul. O vídeo, claro, viralizou.
PERU 🇵🇪
Ferida aberta no país, crimes de esterilizações forçadas ganharam nova data para julgamento: a próxima quarta-feira (17). Elas foram realizadas na década de 1990 pelo regime de Alberto Fujimori, em nome de um alegado “plano de saúde pública” com o objetivo de controlar a natalidade dos setores mais pobres do Peru – em outras palavras, a população indígena, o que levou o caso a ser considerado, também, uma forma de limpeza étnica. Mais de 244 mil mulheres originárias foram esterilizadas à força e até hoje clamam por justiça. O julgamento do caso foi adiado inúmeras vezes, com destaque para a sessão suspensa em janeiro, por falta de intérpretes da família linguística quechua, um dos idiomas oficiais do país. As vítimas são mulheres pobres, indígenas, racializadas, quechua, quechuahablantes, que lutam por justiça e reparação há mais de 20 anos. Nos últimos dias, Fujimori, que já está preso por outros crimes, novamente foi internado em uma clínica de Lima, supostamente com uma fibrose pulmonar, enquanto sua ex-esposa Susana Higuchi também continua em estado grave devido a problemas respiratórios, informou a ex-candidata presidencial (e filha) Keiko Fujimori na última terça-feira (9), alguns dias antes da nova data do julgamento. Em LaMula.
Quem vê Pedro Castillo chegar a 100 dias de mandato deve se perguntar como o socialista eleito em um país fraturado chegou até aqui. Não foi fácil: cercado de incertezas desde a (acirrada) apuração dos votos que lhe deram a vitória contra Keiko, Castillo acumula até aqui 10 mudanças de cargos ministeriais, entre renúncias e demissões. Entre as baixas, destaca-se a do ex-primeiro-ministro Guido Bellido, nome radical à esquerda, que investia em declarações polêmicas e atrapalhava os planos de pacificação de Castillo. Com a queda de Bellido, caiu também todo o gabinete, mas a crise acabou sendo útil: numa mesma tacada, o presidente se afastou da ala mais radical (e que dava argumentos para uma eventual artimanha do Congresso, que qualifica sua gestão até aqui como um “completo desastre”), colocou a moderada Mirtha Vásquez no cargo, aumentou o número de mulheres no quadro e deu um forte aceno “à governabilidade”, como ele mesmo insiste. Em seu discurso que marcou a data, falou em uma nova reforma agrária, valorizou o avanço da vacinação e manteve a promessa de fazer um governo “em prol do país”. Em La República.
PORTO RICO 🇵🇷
Pode dar cadeia: após meses de problemas no fornecimento da energia e protestos da população nas ruas, o presidente da concessionária Luma Energy, Wayne Stensby, recebeu uma ordem de prisão por um motivo prosaico – o Tribunal de Primeira Instância da capital San Juan entendeu que o executivo havia desacatado a corte ao não entregar uma série de documentos nos prazos exigidos pela Justiça. Após um controverso processo de privatização, a Luma Energy assumiu o serviço em junho deste ano e, desde então, o preço subiu e a frequência dos apagões cresceu, sem respostas à população, que foi às ruas protestar. A Justiça agora investiga o processo de transição do sistema para as mãos da Luma e definiu como “escárnio” os repetidos atrasos que culminaram na ordem de detenção de Stensby – que, no entanto, está “suspensa” após uma nova manobra legal da empresa. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O acirramento da crise no Haiti e o endurecimento das restrições no lado dominicano da fronteira deixam estudantes haitianos em uma situação de incerteza. Isso porque, entre as medidas anunciadas pelo presidente Luis Abinader para dificultar a entrada de migrantes do país vizinho, está a suspensão de vistos para realizar estudos na República Dominicana – um canetaço que pode afetar até 70 mil haitianos, segundo o Grupo de Apoio a Refugiados e Repatriados. A entidade pediu que o governo em Santo Domingo reconsidere imediatamente a medida, citando que famílias haitianas investem anualmente cerca de US$ 240 milhões para que seus filhos estudem no país vizinho. Além da maior qualidade do ensino, a frequente suspensão de aulas por conta da insegurança do Haiti é um dos motivos citados para realizar os estudos no outro lado da fronteira. No Sputnik.
URUGUAI 🇺🇾
O Prêmio Cervantes 2021, mais conceituado das letras espanholas, é de uma uruguaia. A romancista e poeta Cristina Peri Rossi recebeu a honraria esta semana por sua trajetória literária nos mais diversos gêneros e pelo compromisso com questões contemporâneas como a condição da mulher e a sexualidade. Segundo a própria Peri Rossi, o prêmio representa o reconhecimento “de uma franco-atiradora” que permaneceu “à margem da moda e grandes grupos editoriais”. Aqui no GIRO, ela também foi destaque na série recente Páginas de um rio, em que o jornalista e escritor Iuri Müller trouxe traduções inéditas de textos de autores e autoras da região do Rio da Prata. Clique aqui para ler alguns dos textos de Cristina Peri Rossi. Em El País.
Um feito histórico no esporte uruguaio: o Albion Football Club, clube de futebol mais antigo do país e um dos pioneiros fora da Europa, garantiu durante a semana o acesso à primeira divisão do campeonato local, algo que jamais havia feito na era profissional, iniciada em 1932. Fundado por filhos de imigrantes britânicos em 1891 exclusivamente para a prática do ainda pouco conhecido football em Montevidéu, o clube que se considera o “verdadeiro Decano” do esporte no Uruguai viveu décadas no ostracismo e chegou a atravessar períodos de inatividade. A última vez que o Albion disputou o escalão mais alto do Campeonato Uruguaio, ainda no amadorismo, havia sido em 1908. No Clarín.
VENEZUELA 🇻🇪
Segue a trama de Alex Saab, mas com um plot twist: segundo novos documentos revelados, o acusado de ser testa de ferro do presidente Nicolás Maduro (e extraditado para os EUA recentemente sob acusações de lavagem de dinheiro e crime de narcotráfico) teria se encontrado com agentes legais dos EUA em 2017, com o objetivo de dar informações sobre o governo chavista. O novo capítulo do caso também aponta para um ex-professor da Universidade de Miami que estudou tráfico de drogas na América Latina e que foi preso em 2019 acusado de receber quantias milionárias de contas no exterior controladas por Saab. Todo o esforço de Washington para ter o empresário colombiano em solo estadunidense tem um objetivo: conseguir informações que levem ao que a Casa Branca acredita ser um mapa de crimes internacionais cometidos por Caracas. A revelação de um possível contato de Saab com o governo pode dar novos contornos ao incidente. Via Reuters.
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