Cuba: morte, fake news e corte à internet após protestos
Argentina: Macri é indiciado por suposto envio de munições ao governo golpista da Bolívia | Haiti: em meio a vazio de poder, chegam as primeiras vacinas
Cuba é o assunto da vez: a jornada de manifestações iniciada no último dia 11 se alastrou por 20 cidades da ilha e já é tida como a maior convulsão de cunho político contra o governo desde 1994, época do movimento conhecido como Maleconazo – ainda que a oposição já dimensione os protestos como os maiores desde o início da Revolução, em 1959, graças ao impulso dado pela internet, cujo acesso foi prontamente interrompido pelo governo nos dias seguintes. Para aprofundar a situação, o GIRO gravou um podcast especial trazendo o contexto da nova revolta: antes de acompanhar os desdobramentos das passeatas que tomaram manchetes pelo mundo, escute aqui o Giro Latino Cast desta semana.
A ilha vive um momento de crise dentro da crise: acossada por sanções econômicas que degradam o dia a dia de cidadãos que nada têm a ver com as motivações políticas alegadas pelos EUA, Cuba também enfrenta seu pior momento da pandemia: somente na última semana, foram 340 mortes oficiais por covid-19, em um país que havia registrado 146 óbitos ao longo de todo o ano de 2020 – números que vieram na carona de uma reabertura que inclusive buscou atrair turistas estrangeiros. O país já deu o pontapé inicial no programa de vacinação mas, até aqui, apenas 16% da população já está imunizada, repetindo um cenário visto anteriormente em outros pontos da América Latina: apesar de promissor, o índice ainda é insuficiente para conter o avanço do vírus em um momento em que várias restrições vinham sendo relaxadas e novas cepas entraram no país. Esse cenário, somado a um desabastecimento geral, que torna escassos desde itens básicos até o fornecimento de energia, acirrou ânimos: quem já tinha forte discurso contra o embargo, subiu o tom; quem se viu afetado pela crise geral por conta das pressões de fora e também questiona o modelo político cubano, resolveu se mobilizar e sair às ruas.
Até o momento, autoridades cubanas já confirmaram a morte de um manifestante, ferido durante uma abordagem policial na capital. A notícia da morte de Diubis Laurencio Tejeda, 36, veio somada a denúncias por parte do governo de que os grupos que protestavam haviam vandalizado casas e danificado redes de energia; governistas insistem na tese de que os protestos são motivados (além da crise econômica impulsionada pelas sanções) por tentativas imperialistas de “desestabilizar” a política local. O total de prisões de manifestantes, por outro lado, não tem confirmação oficial: o número passaria de 20, mas não há qualquer informação vinda do governo, e a oposição fala em até 130 pessoas presas ou desaparecidas. A imprensa estrangeira chegou, ainda, a noticiar um suposto pedido de demissão do vice-ministro de Interior, o general Jesús Manuel Burón Tabit, que teria renunciado por desacordo com a repressão aos protestos e um suposto conflito interno entre militares jovens e da velha guarda – a chancelaria cubana, porém, negou que Burón tenha deixado o cargo e qualificou a notícia como “fake news”. Não foi a única informação desencontrada em uma semana que viu as redes repercutirem mentiras como a fuga de Raúl Castro para Caracas ou, no sentido oposto, o envio de tropas venezuelanas a Havana.
Mesmo sem saber os números reais, a ONU, por meio de sua alta comissária para os direitos humanos Michelle Bachelet, pediu a libertação imediata dos detidos e o respeito a seus direitos universais. Após a primeira onda de protestos, um tom diferente: em fala autocrítica, o presidente Miguel Díaz-Canel reconheceu parte de culpa governista pela situação incerta na ilha, também dizendo que muitos cidadãos saíram para protestar diante do contexto “confuso”, que gera incerteza sobre possíveis caminhos para fora da crise. Díaz-Canel disse, ainda, que tudo é parte de uma “política de sufocamento” promovida pelos EUA para justamente levar cubanos ao esgotamento. Na quarta (14), em um primeiro aceno às reivindicações das ruas, o governo anunciou a suspensão de tarifas alfandegárias para alimentos, remédios e itens de primeira necessidade até o final do ano.
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DESTAQUES
🇦🇷 Macri investigado por golpe na Bolívia – O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) foi formalmente indiciado pela Justiça argentina pelo suposto contrabando de munições para o governo interino da Bolívia na sequência do golpe que levou à renúncia forçada de Evo Morales, em novembro de 2019. A denúncia feita pela atual administração em La Paz implica não só o governo argentino da época, mas também o equatoriano, e ainda há suspeitas de envolvimento chileno e brasileiro na trama (leia mais na seção da Bolívia deste GIRO). No radar, está a colaboração com as forças de repressão que atuaram nos massacres de partidários de Evo, mobilizados à época contra o golpe e o recém-instaurado governo de Jeanine Áñez. A gestão Macri é acusada de ter enviado, no mínimo, projéteis antidistúrbios. A investigação tenta determinar não apenas se isso ocorreu, mas em que dimensão, e se também foram enviados outros equipamentos letais. Os dias que se seguiram à derrubada de Morales foram marcados por violência do Estado contra opositores, com os casos mais notáveis sendo os massacres de Senkata e Sacaba, crimes que levaram inclusive ao início de um processo em que Áñez é acusada de promover um genocídio, versão embasada no perfil étnico das vítimas preferenciais de seu governo, majoritariamente indígenas. Agora, a Argentina também tenta determinar até que ponto seu governo colaborou efetivamente com a repressão. Além de Macri, também serão investigadas as ações da então ministra de Segurança, Patricia Bullrich, e do titular de Defesa da época, Oscar Aguad. Macri disse que o início das investigações contra si é uma “cortina de fumaça” para “desviar a atenção do fracasso na gestão da pandemia”, em uma semana em que a Argentina ultrapassou as 100 mil mortes acumuladas por covid-19. No Página 12.
🇨🇴 Mais militares indiciados por “falsos positivos” – A Jurisdição Especial para a Paz (JEP), tribunal criado no contexto do fim da guerra civil em 2016, aumentou para 25 o número de membros do Exército colombiano indiciados por crimes contra a humanidade e de guerra pelo assassinato de 127 pessoas dentro do escândalo dos “falsos positivos” (execuções de civis inocentes dadas oficialmente como baixas de guerrilha). Diz a denúncia que os militares “integravam uma organização criminosa” cujas condutas aconteciam “em larga escala e de forma extensa” entre 2002 e 2008, época da presidência de Álvaro Uribe. Na semana passada, já haviam sido dez acusados, aos quais se somaram outros quinze nos últimos dias, que deverão responder pela morte de civis cujos restos mortais, em muitos casos, sequer foram encontrados. Na teleSUR.
🇭🇹 Claude Joseph mantém poder após magnicídio – Choque de versões e disputa de poder que continua após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, no último dia 7. No domingo (11), os três líderes que se digladiam pelo comando do país em crise (saiba mais no GIRO #89 e no nosso podcast em Un sonido) chegaram a se encontrar com emissários dos EUA, mas sem grandes definições para o futuro. Reticente em público, Washington por enquanto não toma partido e descartou a possibilidade de enviar tropas a Porto Príncipe, contrariando a solicitação de Claude Joseph, que na prática está atuando como primeiro-ministro e centralizando o poder no momento. Enquanto isso, a própria narrativa em torno do assassinato é disputada: o governo interino argumenta que a ação foi levada a cabo por mercenários (em grande parte, colombianos) cujo contratante ainda não foi identificado, mas uma investigação conduzida por autoridades locais e da Colômbia apontou que Joseph Felix Badio, um ex-funcionário do Ministério da Justiça e de uma força-tarefa anticorrupção, teria dado a ordem da execução. Ao mesmo tempo, cada vez mais há suspeitas da oposição e da opinião pública de que o próprio primeiro-ministro em exercício poderia estar implicado no atentado – algo que a polícia, subordinada a Joseph mesmo antes da morte de Moïse, até aqui nega e chama de “mentira”. Vale lembrar que Claude Joseph oficialmente havia perdido seu cargo dois dias antes do assassinato, com a nomeação de Ariel Henry, um dos nomes que disputam o poder neste momento. Com a morte de Moïse, Henry sequer conseguiu montar um gabinete e ficou sem poder na prática, pois Joseph segue com apoio policial e militar. O papel dos mercenários colombianos também é disputado: muitos afirmam que desconheciam o atentado e teriam sido contratados como guarda-costas, embora o próprio presidente da Colômbia, Iván Duque, tenha dito durante a semana que “um grupo menor” deles provavelmente estava sabendo dos planos. Ainda no jogo de xadrez do poder, vale ficar de olho: na sexta (16), o popular ex-presidente Jean-Bertrand Aristide (1991, 1993-1996, 2001-2004), de 68 anos, retornou ao país após quase um mês em Cuba, onde passava por tratamento médico, e foi saudado por uma multidão na capital.
🇵🇪 Vitória de Castillo (enfim) perto da homologação – Pedro Castillo deve ter, finalmente, sua vitória nas eleições presidenciais homologada durante a próxima semana. O Júri Nacional de Eleições (JNE) decidiu a respeito dos últimos questionamentos da campanha de Keiko Fujimori, na prática confirmando o triunfo de Castillo, e agora o único entrave para a proclamação do vencedor é burocrático: uma vez que os órgãos regionais remanescentes tivessem oficializado os resultados após a decisão do JNE, o que ocorreu na terça (13), espera-se apenas que o fujimorismo volte a apresentar apelações, a serem deliberadas nos próximos dias. A promessa das autoridades eleitorais é que tudo se resolva antes da data prevista para a posse presidencial, no dia 28. Na hipótese improvável de que o fujimorismo não venha a questionar as últimas decisões, Castillo já poderia ser considerado presidente eleito no dia 20 – caso haja a apelação, a medida só deve retardar o processo em mais três dias, segundo especialistas no sistema eleitoral peruano. O país foi às urnas em 6/6 e, passados mais de 40 dias desde então, segue sem a homologação da vitória de Pedro Castillo graças às várias chicanas jurídicas empregadas pelo fujimorismo, alegando a existência de uma fraude eleitoral para a qual a candidata derrotada não foi capaz de apresentar qualquer prova até aqui. Em La República.
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“Efeito da vacinação”. É o que especialistas têm reforçado quando perguntados sobre a diminuição no número de mortes por covid-19 em países como Argentina, Brasil e Uruguai – tendência que muitos movimentos antivacina, sobretudo nas redes sociais, associam erroneamente à “imunização coletiva” causada pela infecção natural. A própria OMS desmente a tese de que é possível atingir imunidade de rebanho de alguma forma que não por meio da vacinação. “Nunca na história da saúde pública”, já garantiu a entidade, isso foi visto. Até aqui, porém, os países citados apresentam vacinação bastante desigual e, em sua maioria, ainda distantes da cobiçada taxa de pelo menos 70% da população totalmente vacinada: a Argentina tem 12% e Brasil, 16%. O mais próximo da meta é o Uruguai, um dos que mais vacina proporcionalmente no continente, que já imunizou 58% de seus habitantes e nesta semana ultrapassou a marca de 2 milhões de pessoas com duas doses. De fato, o Uruguai tem vivido uma melhora drástica nos seus números: nos últimos 40 dias, seus novos casos semanais despencaram 90%, passando de 26,2 mil contágios confirmados na semana encerrada em 4/6 para apenas 2,5 mil nos últimos sete dias (leia aqui nosso levantamento semanal com a situação da região). Via AFP.
O home office aumentou quase 10 vezes na América Latina durante a pandemia, segundo um novo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Antes adotado por cerca de 3% da força de trabalho do continente, e muitas vezes não de forma contínua, o trabalho remoto já representa de 20% a 30%, virando a realidade de até 23 milhões de trabalhadores no auge da pandemia, em 2020. Mas a desigualdade segue latente: segundo a entidade, ainda que a crise tenha apenas acelerado uma “tendência do mercado” que “deve continuar no pós-pandemia”, os benefícios do trabalho a distância não afetaram a maioria dos trabalhadores, em especial as mulheres. A mesma OIT alerta que mais de 26 milhões de postos de trabalho foram perdidos durante a crise sanitária. No Poder360.
A Copa América terminou no último sábado (10), com um resultado histórico: após 28 anos sem conquistas e sete finais perdidas no período, a Argentina finalmente voltou a erguer uma taça, derrotando o anfitrião Brasil em um Maracanã que recebeu público (10% da capacidade do estádio) – foi, também, o primeiro título do craque Lionel Messi pela seleção principal de seu país natal. O torneio foi atribulado desde o início: marcado originalmente para ocorrer na Colômbia e na própria Argentina, foi tirado da primeira por conta da convulsão social do país e, da segunda, em função da piora da pandemia por lá na época em que o início da disputa se avizinhava. O Brasil entrou em cena poucos dias antes da data do pontapé inaugural. Com isso, pela primeira vez, deixou de ser campeão em uma Copa América que sediou – marcado por surtos de covid-19 em delegações e nos hotéis que as receberam, o torneio ainda acabou confirmando as expectativas mais sombrias e trouxe uma cepa inédita do coronavírus para o país: a B.1.612, oriunda da Colômbia e ainda sem nome oficial. Em El País.
ARGENTINA 🇦🇷
Enquanto a vacinação vai dando sinais positivos preliminares, as tristes marcas seguem sendo batidas: na quarta (14), o país se tornou o quinto na América Latina a superar os 100 mil mortos por coronavírus, seguindo Brasil, México, Peru e Colômbia. Enquanto a pandemia continua sendo enfrentada, os efeitos socioeconômicos também preocupam o governo, que anunciou um bônus aos aposentados devido à alta inflacionária, além de novas restrições cambiais. No Página 12.
BOLÍVIA 🇧🇴
Os governos Mauricio Macri (2015-2019), na Argentina, e Lenín Moreno (2017-2021), no Equador, já foram acusados pela Bolívia de envolvimento no golpe de Estado de 2019 e suporte à interina Jeanine Áñez. Agora, o Congresso quer aprofundar as investigações para verificar se a trama regional não teria ido além: de acordo com Freddy Mamani Laura, presidente da Câmara, há “suspeitas” de que Brasil e Chile estariam envolvidos em “reuniões prévias” com lideranças do movimento golpista e poderiam ter participado das ações de desestabilização. Mamani também garantiu que já “está confirmada” a suposta conexão argentina e equatoriana para enviar o material bélico e antidistúrbios empregado pela gestão de Áñez para reprimir a oposição na sequência da derrubada de Evo Morales. Na Prensa Austral.
CHILE 🇨🇱
Pesquisadores apresentaram aos Ministérios da Saúde e da Ciência novos resultados de mais um estudo conduzido com a Coronavac: a Universidade Católica de Santiago acompanhou nos últimos meses 2,3 mil pessoas que receberam o imunizante durante a fase 3 do estudo clínico, anterior à liberação para uso geral, e os números têm sido animadores – apenas 45 pessoas se contagiaram com covid-19, na maioria de forma leve; das três que precisaram ser hospitalizadas, nenhuma morreu. Agora, os cientistas se voltam ao novo debate, que pretendem incluir na sequência do estudo: a aplicação de uma dose extra, como reforço, para manter o nível de proteção alto mais de seis meses após a vacinação original. Cresce o consenso de que, independentemente do tipo de vacina, é recomendável uma nova dose – a discussão já é menos se ela será necessária, mas quando, e quais tipos de imunizantes podem ser mesclados para garantir uma proteção melhor. Em La Tercera.
Dois delegados da Constituinte foram presos, na quinta (15), em meio a protestos pedindo a soltura de pessoas detidas desde o início das manifestações sociais de 2019 – definidos pelo grupo como “prisioneiros políticos”. Alejandra Pérez e Manuel Woldarsky fazem parte da Lista del Pueblo, organização independente à esquerda que obteve uma das maiores bancadas na assembleia de 155 membros que está redigindo a nova Carta Magna. Embora simbólica, a nova detenção manifestantes que reclamavam precisamente da prisão de chilenos que protestavam durou pouco: no mesmo dia, a Justiça ordenou a soltura de Pérez, Woldarsky e de outras pessoas capturadas na jornada, entendendo que a polícia não havia respeitado o direito de expressão e reunião dos manifestantes. Via Reuters.
Dale un vistazo:
Cuba e o Cameraman – pelas lentes do cineasta Jon Alpert, o documentário disponível na Netflix conta a trajetória de Cuba nas últimas décadas através de personagens e momentos da ilha, como se a história de resistência e declínio do país se misturasse à dos personagens. Primeiro, os anos de pujança revolucionária, quando entre o documentarista e Fidel Castro surge uma inesperada amizade; depois, os duros anos do Período Especial, já na ressaca econômica dos anos 90; por fim, o filme chega a uma Cuba moderna, já bastante gasta, mas que, como sua gente, segue sempre tentando se reinventar.
📽️ Cuba and the Cameraman (EUA, 2017). 113 minutos. Dir.: Jon Alpert.
COLÔMBIA 🇨🇴
É bem difícil chamar de democracia plena um país que já registra 93 assassinatos de lideranças sociais e/ou indígenas em 2021, para dizer só um dos exemplos da nova onda de violência. Segundo a ONG Indepaz, a morte de Marcos Tenorio Soto, líder indígena da comunidade de Nasa, departamento de Tolima, a 92ª do ano, soma-se às mais de 1,2 mil mortes registradas no país desde os controversos e ineficazes acordos de paz. Antes mesmo do fechamento desta edição, outro crime: em Cauca, um dos departamentos mais afetados pelo complexo contexto de violência armada, foi confirmada a morte da líder social Yeisi Campo. A Colômbia se destaca pela triste marca de ser o país que mais mata ativistas, lideranças rurais e ambientais em toda a América Latina. Na teleSUR.
COSTA RICA 🇨🇷
O país recebeu, na terça (13), uma doação de 500 mil doses de vacina da Pfizer, enviada pelo governo dos EUA. O “empurrão”, segundo o presidente Carlos Alvarado, vem para ajudar a Costa Rica a intensificar ainda mais uma campanha vacinal considerada eficiente para os padrões centro-americanos: até aqui, o país de 5 milhões de habitantes deu conta de imunizar 16% da população, patamar similar ao brasileiro. Com o novo envio, a Costa Rica já conta com 3,6 milhões de vacinas disponíveis e seguem os planos de vacinar 70% da população ainda em 2021. No Nación.
EL SALVADOR 🇸🇻
O Congresso proibiu reuniões em massa, públicas e privadas, pelos próximos 90 dias, com multas que podem chegar a US$ 30 mil pelo descumprimento. A decisão vem após uma subida contínua de mortes de covid-19 no país: na última semana, foram 44 óbitos, maior número desde março. Embora a base governista tenha os votos necessários para aprovar qualquer medida sem discussão, desta vez a votação foi praticamente unânime e incluiu opositores, com a anuência de 78 dos 84 deputados. Ainda assim, as limitações do decreto geram controvérsia: a proibição de “reuniões” não se aplica a restaurantes e bares, por exemplo, e há temor de que um governo cada vez mais autoritário tire proveito da proibição para coibir eventuais protestos. Via EFE.
Outros dois ex-presidentes foram convocados pelo Congresso nesta semana em meio à investigação sobre pagamentos secretos a funcionários do governo: agora, os nomes de Alfredo Cristiani (1989-1994) e Elías Antonio Saca (2004-2009) também entram na mira do inquérito e devem depor aos parlamentares no próximo dia 21. A corrupção é endêmica: Saca, por exemplo, já está preso por peculato e lavagem de dinheiro. Outros ex-mandatários, como o já falecido Francisco Flores (1999-2004), Mauricio Funes (2009-2014) e Salvador Sánchez Cerén (2014-2019) também estão implicados em casos de corrupção, os dois últimos inclusive ligados aos supostos pagamentos secretos e superfaturados que agora colocam mais dois antigos mandatários em maus lençóis. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
A variante delta do coronavírus, que ainda não se espalhou de forma significativa pela América Latina mas já vem causando preocupação pelos impactos vividos em outras partes do mundo, é a causa de um decreto de “estado de exceção focalizado” feito pelo presidente Guillermo Lasso: após o país identificar dez casos de contaminação com a cepa, cinco dos quais faleceram, o governo decidiu impor 15 dias de restrições de circulação em áreas do litoral, que incluem Guayaquil (cidade que, em 2020, foi a primeira a viver um colapso hospitalar e funerário na América Latina). As medidas incluem o retorno ao trabalho remoto de modalidades que podem fazê-lo, a suspensão de aulas presenciais, além de toque de recolher entre 20 horas e 6 da manhã, até o próximo dia 28. O país já identificou a delta e a delta plus, variantes consideradas as mais agressivas observadas até aqui, superando inclusive a gama, originada no Brasil no início deste ano e rapidamente convertida em dominante na maior parte da América do Sul. Via AP.
GUATEMALA 🇬🇹
Está proibido protestar. Este é o plano do presidente Alejandro Giammattei, anunciado na segunda-feira (12), usando como pretexto a necessidade de mais restrições contra a covid-19 após o país registrar recordes de casos e mortes desde a última semana de junho. Há meses, o governo conservador é alvo de manifestações (em novembro, no auge, o Congresso chegou a ser incendiado após uma negociação orçamentária feita na surdina), e semanalmente é possível ver grupos protestando na capital do país, acusando Giammattei, entre outras denúncias, de má gestão dos recursos para o combate à pandemia. O vice-presidente Guillermo Castillo, que não tem boa relação com o mandatário e chegou a sugerir que ambos renunciassem em conjunto durante a crise de novembro, voltou a discordar do presidente e afirmou que impedir protestos “não é a solução” para a pandemia. Jordán Rodas, o procurador de Direitos Humanos do país, criticou a medida e disse que “mais uma vez fica claro que não há capacidade de [Giammattei] governar sem restringir”. Ele apresentou um recurso à Corte de Constitucionalidade contra o “estado de prevenção” utilizado para coibir manifestações. Via AFP.
HAITI 🇭🇹
Finalmente, elas chegaram: desde quarta-feira (14), o Haiti tem vacinas contra a covid-19. Nesta primeira leva, foram 500 mil doses do imunizante da Moderna, oferecidos pelos EUA através do fundo global Covax. Único país que ainda não havia aplicado qualquer vacina na América Latina – condição que já ostentava desde abril –, o Haiti deveria ter recebido 756 mil doses da AstraZeneca em maio, mas o governo acabou rejeitando a entrega, na época, temendo os raríssimos casos de trombose relacionados àquela vacina. Desde então, a situação da pandemia seguiu se agravando, mesmo com o Haiti contando com a pior subnotificação da região. Apesar do meio milhão de imunizantes que agora estão em Porto Príncipe, ainda não havia anúncio oficial de quando a campanha de vacinação começaria no país até o fechamento desta edição – na sexta, as primeiras doses começaram a ser aplicadas em profissionais de saúde em uma rodada de testes no Hospital Universitário da Paz, na capital. Via AP.
Un hilo:
HONDURAS 🇭🇳
Faleceu a primeira vítima do chamado “fungo negro” relacionado à covid-19 no país. María Antonia Mejía, de 30 anos, deu entrada no hospital no início de junho com um quadro de mucormicose – embora ela já tivesse se recuperado do coronavírus, sua diabetes descontrolada contribuiu para a propagação do novo problema. O “fungo negro”, uma infecção oportunista cuja relação com a covid-19 (especialmente em diabéticos não tratados) ganhou destaque na Índia e passou a ser mais um aspecto observado por médicos ao redor do mundo, em particular em locais de clima mais úmido. Embora graves, esses casos ainda são considerados muito raros na região. Em El Heraldo.
MÉXICO 🇲🇽
Ainda falta muita estrada até as eleições de 2024, que devem escolher um sucessor para o presidente López Obrador, impedido pela lei de se reeleger consecutivamente. No entanto, nomes já pairam no ar: um deles é o de Marcelo Ebrard, atual ministro de Relações Exteriores. Visto como um nome mais pragmático se comparado a AMLO, o chanceler teve papel importante por trás das negociações de vacinas contra a covid-19, o que só aumentou seu prestígio dentro do partido governista Morena. “Quando chegar a hora, que estejamos preparados”, disse. Além de Ebrard, quem também poderia receber apoio de Obrador para se lançar ao cargo máximo é Claudia Sheinbaum, atual prefeita da capital Cidade do México. Em El País.
O engenheiro responsável pela reforma de um colégio na capital mexicana, que acabou colapsando durante o terremoto ded 2017 e matou 26 pessoas, foi condenado a 208 anos de prisão na quarta-feira (14), considerado culpado pelo homicídio culposo de todas as vítimas. A condenação de Juan Mario Velarde Gámez é a maior relacionada ao sismo de quatro anos atrás, até o momento, embora tenha um valor sobretudo simbólico – o México não permite o cumprimento de sentenças por mais de 60 anos. Outros dois engenheiros devem ser julgados nas próximas semanas e um terceiro está foragido. A diretora e dona da escola, Mónica García Villegas, havia sido condenada a 31 anos de cadeia no ano passado, após a Justiça entender que sua decisão de construir um apartamento em cima da escola contribuiu para o desastre. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Mais sanções, dessa vez vindas do Canadá: o governo norte-americano decidiu impor restrições a 15 funcionários do governo Daniel Ortega diante das “violações aos direitos humanos e da falta de garantias para eleições livres” no país. Principal combustível para a tese de ingerência sustentada pelo poder em Manágua – que só aumenta as pressões contra a oposição que tenta desafiar Ortega nas urnas em novembro (saiba mais neste vídeo) –, medidas unilaterais de represália também vêm dos EUA: durante a semana, o Departamento de Estado em Washington anulou o visto de mais de 100 autoridades ligadas aos governistas. Enquanto isso, segue um ciclo vicioso: a cada nova sanção, mais o governo sobe o tom, sem um desfecho positivo para o país. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
Após receber uma classificação de maior risco de viagem para turistas estadunidenses, o Panamá tenta convencer os EUA a reverter a advertência, relacionada aos números da pandemia. A chancelaria pediu ao embaixador panamenho nos EUA que apresente uma “nota formal com os argumentos” segundo os quais a nação centro-americana não mereceria o nível 4 de risco determinado por Washington. Embora longe dos seus piores dias na pandemia, o Panamá tem voltado a viver uma subida dos contágios: na última semana, foram 8,4 mil novos casos, o maior número desde janeiro, quando o país chegou a ter um pico de 23,3 mil infecções confirmadas em sete dias. Via ANP.
PARAGUAI 🇵🇾
Não é muito, mas é alguma coisa: ainda sofrendo para avançar com o programa de vacinação (até aqui, o país ainda não foi muito além da marca de 3% da população imunizada, um dos piores números no continente), autoridades de saúde paraguaias ao menos celebraram na segunda (12) o dia com a maior quantidade de doses administradas, o que ajudou o país a bater mais de 1 milhões vacinas aplicadas desde o início da campanha. Em meio a fogos de artifício, especialistas disseram esperar que o país de pouco mais de 7 milhões de habitantes comece a ver o efeito da vacinação em breve, sobretudo diante de hospitais que seguem lotados. Ainda assim, tudo passa longe de estar dentro do ideal: além de uma vacinação capenga, o Paraguai (que não tem órgãos regulatórios para aprovar imunizantes e se baseia em decisões de vizinhos) também se vê mencionado no contexto das investigações brasileiras envolvendo a compra de vacinas da Covaxin; até agora, Assunção ainda não recebeu nem parte das 2 milhões de doses acordadas com o laboratório indiano que as produz. No Última Hora.
Os familiares da primeira-dama paraguaia mortos no colapso de um edifício residencial em Miami na madrugada de 24/6 tiveram seus restos mortais repatriados nesta quinta (15). A família – um casal e seus três filhos pequenos, além da babá das crianças – incluía Sophia López Moreira, irmã de Silvana, a esposa do presidente Mario Abdo Benítez. Eles foram sepultados em uma cerimônia privada em Assunção, após um cortejo acompanhado por funcionários das empresas mantidas pela família. Até o fechamento desta edição, 97 mortes haviam sido confirmadas na queda do prédio na Flórida, incluindo 22 latino-americanos de oito nacionalidades. Oito pessoas seguiam desaparecidas nos escombros. Via AP.
Una expresión:
Kiricocho – é uma famosa expressão popular nascida na Argentina (mas já difundida mundialmente) para agourar adversários no futebol. Na final de Eurocopa de seleções, no último domingo (11), o zagueiro italiano Chiellini lançou os dizeres pouco antes de o goleiro Donnarumma defender a cobrança de pênalti derradeira que garantiu o título da azzurra contra a Inglaterra. A popularização do termo, no entanto, é mais antiga: no início dos anos 1980, o mítico treinador Carlos Bilardo teria se incomodado com um certo torcedor que trazia azar ao Estudiantes toda vez que acompanhava os treinos do clube de La Plata. Irritado com a presença do funesto hincha, a quem todos atribuíam lesões e partidas ruins, Bilardo teria ordenado que o sujeito (de nome Kiricocho) usasse seus supostos poderes contra os adversários, recebendo, então, todo time que fosse enfrentar los pincharratas. O Estudiantes acabaria campeão daquele mesmo ano, com só um tropeço em casa: para o Boca Juniors que, garante a lenda, teria sido a única equipe que não foi recebida por Kiricocho, cujo nome acabou virando mandinga.
PERU 🇵🇪
O Congresso aprovou os termos da Parceria Trans-Pacífica (TPP-11), acordo de livre-comércio que une onze países das Américas, Ásia e Oceania, convertendo o Peru na oitava nação signatária a ratificar o acordo, alvo de protestos na região há anos. Agora, dentre os onze países que originalmente firmaram o TPP-11, falta a ratificação somente de Chile, Brunei e Malásia. Entre os latino-americanos, além do Peru, o México também já ratificou a parceria. Os dois poderão participar, entre outras negociações, das conversas com o Reino Unido, que embora não seja banhado pelo Pacífico vem cogitando se tornar o primeiro membro não-fundador do TPP-11 após sua saída da União Europeia. Em La Tercera.
PORTO RICO 🇵🇷
Porto Rico não é país – e, na verdade, quer virar o 51º estado dos EUA (entenda mais sobre esta relação neste episódio de nosso podcast) –, mas nas Olimpíadas compete como se fosse um. Nos Jogos de Tóquio, que começam na próxima semana, a maior aposta porto-riquenha por medalhas reside no atletismo, modalidade individual em que a ilha conta com mais participantes: são quatro – três homens que competirão nos 800 metros, e Jasmine Camacho-Quinn, que disputa os 200 metros rasos e os 100 metros com barreira femininos. A pequena ilha enviará 37 representantes em 15 modalidades e espera subir ao pódio ao menos uma vez. O feito é raro: em 18 Olimpíadas disputadas, Porto Rico soma nove medalhas, sendo seis de bronze, duas de prata e apenas uma de ouro – justamente a dourada, porém, veio nos Jogos mais recentes, no Rio de Janeiro, através da tenista Monica Puig, que não estará no Japão. Os Jogos Olímpicos de 2020 (o nome não mudou apesar do adiamento) começam na próxima sexta-feira (23) e vão até 8/8. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O presidente Luis Abinader anunciou, no domingo (11), a abertura de um processo de licitação para começar a construir um novo muro fronteiriço com o Haiti dentro de três meses. Abinader já havia anunciado a polêmica decisão de aumentar o controle na divisa ainda em fevereiro e, nos meses seguintes, efetivamente ergueu cerca de 23 km de barreiras em áreas de passagem de migrantes irregulares e contrabando (leia no GIRO #81), mas ainda distante do projeto de cobrir a maior parte dos 380 km que cortam ao meio a ilha de Hispaniola. O anúncio da nova licitação veio apenas quatro dias depois do assassinato do presidente do país vizinho, Jovenel Moïse, em um momento em que as tensões internas do Haiti outra vez estão em alta até mesmo para os atribulados padrões locais. Apesar da busca por isolar um pouco mais o vizinho, Abinader garante que a República Dominicana está disposta a “facilitar qualquer mediação” para a crise em Porto Príncipe e reiterou que a fronteira “está em paz” mesmo com os acontecimentos recentes. Via EFE.
URUGUAI 🇺🇾
O país parou na quinta-feira (15) à noite, para acompanhar o duelo entre os dois clubes de futebol mais populares do Uruguai pelas oitavas-de-final da Copa Sul-Americana: Nacional e Peñarol não se enfrentavam pela fase eliminatória de um torneio continental havia 29 anos. Neste primeiro confronto, deu Peñarol, por 2 a 1, e na casa do maior rival – resultado que o deixa em vantagem para o reencontro, no dia 22. Ainda no tema do futebol uruguaio, a sexta (16) marcou o 71º aniversário do Maracanazo, a famosa vitória da seleção charrúa sobre o Brasil no jogo decisivo da Copa do Mundo de 1950 (contamos mais sobre essa história em um episódio do Giro Latino Cast), e o Congresso agora discute transformar a data em “Dia Nacional do Futebol”. Em El Observador.
Sem pudores para prender membros do alto escalão militar quando transgridem regras, o Ministério da Defesa uruguaio ordenou a detenção do contra-almirante Gustavo Luciani, um dos chefes de Estado Maior da Armada. Sem dar detalhes do motivo da prisão, o titular da pasta, Javier García, limitou-se a dizer que o caso tinha a ver com razões disciplinares: “há coisas que na vida civil são normais, habituais, e na vida militar não”, afirmou. É comum que o Uruguai veja a prisão de oficiais militares que desrespeitem suas funções legais – em 2018, o então comandante do Exército, o hoje senador e ex-candidato à presidência Guido Manini Ríos, foi preso por um mês após emitir opinião sobre um projeto de lei, posicionamento vedado aos militares pela Constituição local. Embora não haja confirmação oficial do motivo que levou ao pedido de detenção de Luciani, o contra-almirante é conhecido por manifesar publicamente suas ideias políticas, outro tema que não compete aos homens do quartel na Banda Oriental. No Montevideo Portal.
VENEZUELA 🇻🇪
O enfraquecido mas ainda vivo na política Juan Guaidó denunciou na segunda (12) que “homens encapuzados carregando armas pesadas” teriam invadido o prédio onde mora, em Caracas, por motivos desconhecidos. Segundo a família do líder opositor e boa parte dos adversários do governo Nicolás Maduro, tratou-se de mais um episódio de “perseguição”, que ganhou mais repercussão após uma foto de um homem amarrado (no que seria a garagem do tal prédio) viralizar nas redes sociais. A identidade do homem segue desconhecida. Até o fechamento desta edição, o governo não havia se manifestado sobre o caso. Em El Universo.
Drones mercenários. É o que diz uma nova denúncia por parte do Parlamento venezuelano, agora controlado pela situação. Segundo o líder da casa, Jorge Rodríguez, o presidente Nicolás Maduro teria sido alvo de uma fracassada tentativa de assassinato com quatro exemplares do equipamento no último 22/6 (em 2018, Maduro também foi alvo de drones, em um ataque bem mais famoso). “Havia um plano”, disse. Ainda que sem apresentar provas, os governistas afirmam (como também foi o caso em outros supostos atentados contra o mandatário) que a Colômbia, principal desafeto dos chavistas, estaria por trás da conspiração. Na Prensa.