🇦🇷 Chacina em Rosário e derrota no Senado acuam governo Milei
Após dias de terror na 3ª maior cidade argentina forçarem plano de intervenção federal, presidente viu novo revés depois que ‘megaprojeto’ de lei sofreu seu mais duro golpe no legislativo até aqui
Paralisação do transporte público, escolas fechadas, toque de recolher, centros médicos com escolta e até a criação de um comitê de crise com pedidos de intervenção federal. Desde o último final de semana, essa tem sido a rotina da cidade de Rosário, terceira maior da Argentina, após uma onda de ataques cometidos por grupos criminosos aterrorizar o principal município da província de Santa Fé. A tensão escalou após integrantes de grupos narcotraficantes assassinarem a tiros pelo menos quatro civis sem qualquer relação com organizações criminosas, em um claro sinal de intimidação às forças de segurança. Ao lado do corpo de uma das vítimas, um taxista de 25 anos, sicários deixaram um bilhete endereçado ao governador, Maximiliano Pullaro, e ao ministro de Justiça e Segurança da província, Pablo Cococcioni, com uma sentença: “vamos matar mais inocentes”.
Na carta, assinada por diferentes facções que se dizem unidas por uma causa comum, células criminosas de várias zonas da cidade reivindicaram direitos e afirmaram que a disputa “não é por território”, como costuma acontecer nesses casos: “Nós não queremos celulares, queremos nossos direitos de ver nossos filhos e famílias, e que isso seja respeitado. Não queremos negociar nada”, disseram, na primeira reação mais enérgica às novas políticas da gestão Pullaro, que desde sua posse em dezembro resolveu endurecer o controle penitenciário e remanejar criminosos de alto escalão.
Na segunda-feira (11), pouco após a confirmação da quarta execução, o presidente Javier Milei e a ministra de Segurança do país, a ex-presidenciável Patricia Bullrich, anunciaram a formação de um Comitê de Crise para determinar ações de intervenção em Rosário, incluindo o envio de forças de segurança federais à região afetada pelos ataques. Segundo o comunicado da Presidência, a ação respondeu a pedidos do governador Pullaro e prevê o amparo do Exército em ações de segurança em variados níveis. “O governo está decidido a enfrentar a máfia do narcotráfico e os sicários que instauraram um regime de morte e terror em Rosário”, diz o documento.
Na sequência ao anúncio, após as primeiras reuniões do comitê extraordinário, Bullrich decidiu trocar toda a cúpula do Serviço Penitenciário Federal (SPF), mas garantiu, sem convencer muita gente, que as demissões eram “programadas” e que “nada têm a ver” com a situação de momento. Até o fechamento desta edição, pelo menos 30 suspeitos haviam sido detidos, ao passo que autoridades santafesinas seguiam oferecendo recompensa por informações que levassem aos autores materiais dos assassinatos do final de semana.
Além da fama internacional que ganha por ser a cidade natal de Lionel Messi, Rosário há anos aparece em destaque por ter se convertido no epicentro da violência na Argentina, registrando estatísticas que fogem totalmente à realidade (relativamente segura para os padrões latino-americanos) do resto do país: em dado momento de 2023, a cidade atingiu uma taxa de 22 homicídios por 100 mil habitantes, quatro vezes a média nacional, equiparando-se a países vizinhos historicamente mais violentos, como Brasil e Colômbia. A penetração de grupos narco na região acontece majoritariamente pelo fato de a cidade abrigar o principal porto do país, responsável por concentrar a intensa atividade agroexportadora argentina – uma estrutura ideal para maquiar envios do tráfico internacional. O boom recente de violência em regiões costeiras do Equador, como o GIRO já explicou, segue uma lógica similar.
A nova onda de terror na terra natal de Messi – ele próprio alvo de ameaças de narcos no passado – também ganhou contornos políticos para além das fronteiras rosarinas: algumas análises atribuem a retaliação indiscriminada de dias atrás, entre outros elementos, a uma imagem publicada conjuntamente nas redes sociais por Pullaro, Cococcioni e pelas contas oficiais de Santa Fé. Nela, detentos aparecem sem camisa, sentados em fileira aos pés de agentes fortemente armados, repetindo cenas “à moda salvadorenha”, comuns no contexto do infame plano de segurança que Nayib Bukele aplica em El Salvador nos últimos anos. Com um discurso que seria possível ouvir em qualquer sessão do Congresso em San Salvador, o ministro Cococcioni subiu o tom: “os detentos estão presos, não vamos aceitar nenhuma extorsão e se eles não entenderem isso, a situação deles ficará pior”. Uma referência direta ao contexto salvadorenho ainda apareceria num discurso de Patricia Bullrich, dado no último domingo. A ministra prometeu enviar ao Congresso “um projeto de lei antimáfias” como “o que fez [Nayib] Bukele contra as maras [como são conhecidas as gangues de El Salvador atualmente reprimidas pelo Estado]”.
A retórica, no entanto, teve um timing ruim – segundo os próprios integrantes do governo Bukele. De acordo com informações do Clarín, o ministro salvadorenho Gustavo Villatoro, homólogo de Bullrich, teria entrado em contato com a ministra argentina e afirmado ser “um erro muito grave” divulgar imagens como a que foi postada nas redes por autoridades de Santa Fé. Villatoro explicou que investir em discursos de tolerância zero contra o crime sem antes “controlar totalmente as ruas” é equivocado: “isso é algo que só se pode fazer quando os grupos já estão neutralizados”, disse. A decisão de trucar sem as cartas na mão também incomodou a população de Rosário, que comentou a polêmica publicação no mesmo sentido: “Era necessário todo esse show?”; “por culpa desse circo, estão matando a gente!”; “Não era necessário copiar a estética de Bukele”; “E os direitos humanos, ministro?”, escreveram os internautas.
Enquanto a tensão seguiu ditando o ritmo em Rosário, em Buenos Aires o governo Milei também teve tempo de ser afetado por novas preocupações. Na quinta-feira (14), o Senado, onde governistas são minoritários, rejeitou o Decreto Nacional de Urgência (DNU), megadecreto imposto pelo presidente logo após tomar posse. O pacotaço de medidas ultraliberais tornou-se a ‘menina dos olhos’ da nova gestão, mas sempre esteve em posição precária depois que o governo não conseguiu aprovar a chamada “lei ônibus”, um projeto de ideias complementares ao DNU, que pretendia dar um carimbo mais permanente às propostas de Milei. Além da série de derrotas em âmbito legislativo, o projeto de lei gerou massivos protestos na capital. A escalada da situação forçou Milei a retirar a maior parte de suas controversas propostas, deixando apenas o DNU em vigor – ao menos, até passar pela apreciação dos congressistas.
A rejeição dessa semana é inédita: nunca antes um DNU, que tem caráter de medida provisória, havia sido barrado com o presidente que o propôs ainda no cargo. Para o texto ser derrubado de vez, porém, ainda precisa sofrer nova derrota na Câmara dos Deputados, que ainda não determinou prazo para a votação derradeira e decisiva para o futuro do governo Milei.
Apenas quatro dias após se pronunciar sobre a calamidade em Rosário, o governo voltou a quebrar o silêncio, fazendo duras críticas ao desfecho no Senado, episódio que classificou de “atentado à convocatória do presidente”. Apelando a seus eleitores, a Presidência atacou a antiga administração, dizendo que a mesma Casa que bloqueia o governo Milei “habilitou mais de 500 DNUs do kirchnerismo”. Algumas análises enxergam a reação como sinal de desespero, à medida que, em apenas três meses de governo completados na sexta-feira (15), tudo vai desmoronando aos pés do líder direitista. Além da resposta do narcotráfico em Santa Fé e das surras políticas na capital, Milei pouco consegue fazer para conter o aumento da pobreza, o descontrole inflacionário e está em pé de guerra até mesmo com sua vice-presidenta – treta que, no entanto, fica para uma próxima edição.
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🇭🇹 Ariel Henry anuncia renúncia no Haiti; conselho de transição deve assumir o controle até novas eleições – Ainda impossibilitado de voltar ao país (saiba mais), o primeiro-ministro haitiano Ariel Henry parece finalmente ter admitido que sua situação é insustentável e anunciou a disposição a renunciar ao cargo na noite de segunda-feira (11). Mas, em se tratando de Haiti, é bom lembrar que nenhuma notícia sobre transição de poder está escrita em pedra: embora as manchetes pelo mundo tenham dado a renúncia como fato consumado, Henry condicionou a entrega do cargo à formação de um “conselho de transição” de sete membros que assumiria suas funções – só quando esse órgão estiver consolidado é que ele, efetivamente, deixaria o posto de premiê; até aqui, o noticiário local apenas dava conta de que o grupo começava a tomar forma. O problema é que isso, embora seja tratado como urgente, não tem data garantida para acontecer – e é sempre importante notar que a especialidade de Henry tem sido fazer promessas para datas futuras, que depois são descumpridas. As intenções foram anunciadas após uma reunião envolvendo líderes da Comunidade do Caribe (Caricom), os Estados Unidos e representantes haitianos – mas não o próprio Henry – no começo da semana, em que a ideia do conselho para substituir o primeiro-ministro acabou saindo vitoriosa, mesmo que sigam os desacordos sobre como exatamente esse órgão seria constituído. Também voltaram a ficar no ar as promessas feitas em fevereiro, durante reuniões da mesma Caricom, sobre a possibilidade de realizar eleições no Haiti “até 31 de agosto de 2025” (algo que já era bastante incerto quando Henry, que supostamente havia se comprometido a cumprir a missão, ainda nem falava em renunciar). Enquanto isso, após uma aparente calmaria, as gangues voltaram à carga ao longo da semana, ateando fogo a diferentes prédios em Porto Príncipe, e o envio da missão policial do Quênia para ajudar o Haiti está novamente paralisado – ainda que o presidente do país africano tenha reiterado seu interesse em avançar com operação. De certeza, no momento, é que o governo haitiano segue acéfalo, Henry não consegue sair de Porto Rico, a República Dominicana enfatiza que ele “não é bem-vindo” por razões de segurança e os diferentes grupos políticos haitianos brigam por uma vaga no ainda turvo conselho, com alguns deles indicando que não aceitarão o novo arranjo, embora o jornal Nouvelliste afirme que seis dos sete integrantes já estariam definidos. Ingrediente extra no caldeirão, Jimmy “Barbecue” Chérizier, o líder rebelde e autoproclamado revolucionário que segue no comando das principais gangues que controlam 80% da capital (segundo a ONU), rechaçou o plano de transição, dizendo que a tal nova saída “mergulhará o Haiti no caos ao eleger um pequeno grupo de políticos tradicionais que se sentarão num hotel e negociarão quem será o presidente e que modelo de governo será imposto”.
🇸🇻 Em gesto de autopropaganda, Bukele diz que pode intervir no Haiti e “destruir gangues” – “Nós podemos resolver isso”. Com a autopromoção de sempre, e a ciência de como o eleitor latino-americano médio se encanta por sua infame agenda de segurança pública, foi assim que o presidente Nayib Bukele reagiu no domingo (10) ao tuíte de um influenciador estadunidense de extrema direita que denunciava “o colapso do Haiti” ante os últimos acontecimentos (citados acima). Sem se comprometer, o presidente disse que seu país toparia agir militarmente no convulsionado país caribenho, mas com ressalvas: “precisaremos de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, do consentimento do país anfitrião [o Haiti] e da cobertura de todas as despesas”. Compartilhada por mais de 10 mil internautas, a postagem incendiou apoiadores de Bukele dentro e fora de El Salvador. O presidente iria ainda mais a fundo num tuíte seguinte, no qual compartilhou imagens – que agências de checagem denunciaram terem sido usadas fora de contexto – de supostos membros de gangue praticando canibalismo em Porto Príncipe. Sem se preocupar com a origem do vídeo, o mandatário subiu o tom: “Vimos imagens semelhantes em El Salvador há alguns anos, com gangues se banhando com os crânios de suas vítimas. (...) Nós os destruímos e o mesmo deve ser feito no Haiti”. Enquanto o presidente era aclamado nas redes por sua proposta indecorosa, o Congresso de seu país, de maioria governista (um domínio que será ampliado a partir da próxima Legislatura) aprovou a 24ª prorrogação do regime de exceção, justamente a licença que permite a Bukele esmagar o crime organizado sem contrapesos legais – e vender esse modelo mundo afora.
🇵🇦 Eleições no Panamá: substituto de ex-presidente Martinelli, inabilitado por corrupção, denuncia medidas que também o tirariam da disputa – Já é um fato consumado que a inabilitação do ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014), excluído das eleições presidenciais de maio após ser condenado por corrupção, mexeria com o jogo eleitoral: até sua candidatura ir de arrasta pra cima, o milionário empresário era o principal favorito nas pesquisas. Sem Martinelli, ficou decidido que seu vice de chapa, José Raúl Mulino, assumiria a missão de tentar chegar ao Executivo representando o grupo político Realizando Metas (RM). Agora, até esse cenário alternativo é incerto: na quarta-feira (13), a Corte Suprema de Justiça (CSJ) admitiu um pedido de inconstitucionalidade movido contra a resolução do Tribunal Eleitoral (TE) que designava Mulino como candidato substituto. “Querem me decapitar porque sou amigo de Martinelli”, disse Mulino ao saber da decisão, criticando o fato de a Justiça agir contra “o partido de preferência” dos eleitores “pela segunda vez”. O desdobramento também chamou a atenção de entidades como o Grupo de Ação para a Igualdade Financeira Internacional (Gapifi), entidade multidisciplinar criada em 2023 para ajudar o Panamá a melhorar sua reputação internacional em casos de corrupção e crimes financeiros. Representantes do Gapifi dizem enxergar o caso com “preocupação”. No Panamá América.
🇵🇪 Peru prende 18 suspeitos conectados a arma utilizada em assassinato de presidenciável equatoriano – Uma megaoperação policial desmantelou, na quarta (13), uma rede peruana de tráfico de armas que também é acusada de fornecer equipamentos a grupos criminosos do vizinho Equador. “Los Abastecedores de Lima y Callao”, como se anunciava o grupo, teriam sido os responsáveis por fazer chegar a solo equatoriano a arma utilizada no assassinato de Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador executado em plena campanha eleitoral, em agosto de 2023. Na operação desta semana, 18 pessoas foram presas e 270 armas apreendidas. De acordo com as autoridades peruanas, um mercado de armamentos mais restritivo no outro lado da fronteira teria tornado o contrabando atrativo, gerando organizações criminosas especializadas no tema dentro do Peru. Quanto ao caso Villavicencio, o promotor Jorge Chávez, envolvido nas investigações, afirmou que “a informação que o Ministério Público para o Crime Organizado tem, juntamente com nossa polícia, é que uma das armas que saiu justamente desta empresa teria sido usada no assassinato do ex-candidato presidencial do Equador”. Via AFP.
🇺🇾 Mulher trans denuncia presidenciável por suposta agressão cometida há uma década; ele nega – Nome forte da Frente Ampla (FA) para as eleições presidenciais deste ano, Yamandú Orsi cruzou com a primeira grande dor de cabeça de sua campanha nesta semana. Na quarta-feira (13), uma mulher trans de 42 anos apresentou denúncia contra Orsi afirmando que o político a teria agredido em 2014, após contratar seus serviços sexuais. Segundo a denunciante, o caso só foi levado às autoridades agora porque ela nunca havia conseguido identificar o político, mas o reconheceu após ele ser alçado ao destaque nacional durante a campanha. Yamandú Orsi, que é o atual intendente do departamento de Canelones e conta com o respaldo do ex-presidente José Mujica (2010-2015) para as primárias da centro-esquerda uruguaia, é a grande aposta da FA para voltar a governar o paisito, depois que os conservadores retomaram o poder com Luis Lacalle Pou em 2020. Após a denúncia, Orsi negou tudo, questionando o timing das revelações e dizendo que a notícia seria parte de uma campanha “orquestrada” para prejudicá-lo eleitoralmente, já que a FA vem liderando as pesquisas. “Essa pessoa se confunde [...] ou, o que é mais triste ainda, alguém a está usando”, argumentou o político. O Uruguai decide seus candidatos em 30/6, com as eleições internas dos partidos, e vai às urnas escolher o novo presidente em 27/10. No Infobae.
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BOLÍVIA 🇧🇴
No domingo (1o), autoridades declararam estado de emergência em toda a região de La Paz e localidades próximas em função de danos causados por fortes chuvas. Os fenômenos provocaram danos estruturais na capital, destruindo várias casas próximas a encostas após o transbordamento dos rios. O presidente Luis Arce lamentou o ocorrido e se disse “consternado” pela “situação difícil”, confirmando o envio de maquinário pesado e pelo menos 3 mil soldados para as áreas mais afetadas. O problema seguiu durante a semana, e novos alertas de “fortes tempestades” foram acionados na terça. Com uma nova morte confirmada durante a semana, já são 52 casos fatais diretamente relacionados à temporada de chuvas que acomete o país altiplânico desde novembro. Em La Tercera e Opinión.
CHILE 🇨🇱
O Instituto Butantan produziu veneno para a ditadura chilena usar contra opositores, revelou uma reportagem da Agência Pública na terça-feira (12). Com uma relação próxima também com o regime militar brasileiro, nos anos 1970 o Butantan estaria por trás da fabricação de toxina botulínica entregue a repressores em sua cruzada contra figuras inconvenientes aos desígnios dos generais da vez. A mesma toxina foi encontrada, por exemplo, nos restos mortais do poeta Pablo Neruda, cuja investigação da morte foi reaberta no ano passado por suspeita de envenenamento. Ainda não há comprovação de que Neruda efetivamente tenha sido vítima da ditadura chilena e muito menos, se for o caso, que a toxina encontrada em seu corpo tenha vindo do Brasil, mas as novas revelações trazem um elemento a mais sobre a colaboração entre os governos dos dois países para causar a morte de opositores. Neruda, vale lembrar, morreu apenas 12 dias após o golpe chileno de 1973, oficialmente por complicações de um câncer.
COLÔMBIA 🇨🇴
A Suprema Corte do país elegeu na terça-feira (12) a advogada Luz Adriana Camargo, uma das indicadas na lista tríplice de Gustavo Petro, como nova procuradora-geral. A escolha aconteceu após meses de conflitos entre o Executivo e o Ministério Público, concentrados em desavenças entre Petro e o ex-chefe do MP, Francisco Barbosa. No auge do desencontro entre os dois, o mandatário chegou a denunciar um suposto plano, concebido, segundo o presidente, dentro da Procuradoria, para derrubá-lo (entenda). Já a escolha de Camargo foi bem recebida por integrantes da coalizão governista, ainda que se espere que a nova gestão do MP mantenha esforços de investigação que potencialmente afetem a vida do próprio chefe de governo – como a que enfrenta Nicolás Petro, filho do presidente, por suposto crime de lavagem de dinheiro. Em El Tiempo.
COSTA RICA 🇨🇷
Por supostas fraudes em contratos públicos, que estariam sendo elaborados sob medida para que empresas amigas vencessem a concorrência, caiu na terça-feira (12) o ministro de Obras Públicas e Transportes, Luis Amador Jiménez. Além da demissão em desgraça – apesar das tentativas do presidente Rodrigo Chaves de minimizar a crise –, a passagem de Amador pelo cargo ficou marcada por um vídeo bizarro (assista) em que recebe uma serenata motivacional para que faça um bom trabalho e ajude a consertar nuestras carreteras [que] están tan mal. No Telediario.
CUBA 🇨🇺
Com a ilha sofrendo com uma crise de escassez de alimentos, um possível alívio que pode vir do Brasil: foi assinado no último dia 8 um acordo de cooperação bilateral entre os governos dos dois países, em que a Embrapa vai fornecer assessoria técnica e científica para um programa voltado à agricultura urbana, suburbana e familiar de Cuba. Conforme os pesquisadores da Embrapa envolvidos, o plano é que a iniciativa comece melhorando a segurança alimentar de pelo menos 400 mil pessoas, com potencial de beneficiar até 2 milhões de cubanos quando todo o programa estiver devidamente implementado. No site da Embrapa.
EQUADOR 🇪🇨
O ativista ambiental e ex-presidenciável Yaku Pérez (que já deu entrevista a este GIRO sobre temas afins) apresentou na quarta-feira (13) uma demanda de inconstitucionalidade contra o chamado ‘Manual de Consulta Prévia’, artifício criado pelo Ministério de Energia e Minas no início do mês para consultar povos indígenas a respeito da realização de eventuais projetos de investimento que envolvam riscos ao meio ambiente. O polêmico manual foi utilizado pelo presidente Daniel Noboa durante a maior feira de mineração do mundo, realizada no Canadá, onde o governo buscou atrair investimentos no setor – estima-se que o mandatário tenha saído do evento com seis acordos assinados, avaliados em US$ 4,8 bilhões. No entanto, segundo Pérez e outras entidades indígenas, este documento, nascido de um acordo ministerial, poderia “gerar maior conflito socioambiental”. Em frente à sede da Corte Constitucional em Quito, o ativista também garantiu que a medida é irregular por contornar a aprovação legislativa. Na teleSUR.
Dale un vistazo:
El Encargado – Um zelador que há décadas vive e trabalha em um edifício de alto padrão em Buenos Aires encara um problema monumental: a administração quer construir uma piscina no terraço do prédio, onde fica o apartamento dele, e podem deixá-lo sem emprego e sem lugar para morar. Diante dessa ameaça, Eliseo (interpretado por Guillermo Francella) articula diversos estratagemas e chantagens para se manter no cargo. Confira aqui o trailer da série, disponível no Star+.
🎞️ ‘El Encargado’ (Argentina, 2022). Dir.: Mariano Cohn, Gastón Duprat.
GUATEMALA 🇬🇹
Fora todo mundo. Depois de ganhar fama até fora da Guatemala por mover diferentes ações contra o Semilla, partido do atual presidente Bernardo Arévalo, o Ministério Público avança com medidas contra outros quatro diferentes partidos do país. E não são legendas quaisquer: além do VOS, Cabal e o partido Minha Família, quem agora está na lista do MP por supostas irregularidades eleitorais é nada menos que o Vamos, partido do ex-presidente Alejandro Giammattei (2020-2024) – e que, nas últimas eleições legislativas, tornou-se a maior bancada do Congresso (entenda). Os supostos erros se assemelham aos que o MP acusa o Semilla de ter cometido e têm gerado diferentes reações por parte das agremiações sob investigação. Na Prensa Libre.
HONDURAS 🇭🇳
“Justiça, não vingança” é como a presidenta Xiomara Castro resumiu na última sexta-feira (8) a decisão judicial que condenou por crimes de narcotráfico seu antecessor Juan Orlando Hernández (2014-2022) em um tribunal dos EUA. Segundo Castro, o “fracassado sistema judicial hondurenho” foi responsável por “dar apoio à narcoditadura” durante os dois mandatos do último presidente – que pode até receber pena de prisão perpétua, como explicado no último GIRO de fevereiro (embora JOH já esteja condenado, a sentença só será divulgada em data futura). A atual mandatária também aproveitou os últimos desdobramentos para lembrar o golpe de Estado de 2009, que derrubou seu marido e então presidente, Manuel Zelaya, e o mandou ao exílio na Nicarágua. “Hoje está mais uma vez comprovado que (...) sequestraram o Estado em cumplicidade com o sistema judicial para cometer crimes e submeter o povo a eleições ilegítimas”, disse. Enquanto o governo explora a condenação de um opositor conservador, os adversários se articulam: durante a semana, quem anunciou que concorrerá à Presidência para o ciclo de 2026-2030 foi a esposa de Hernández, Ana García. Ainda sem dar mais detalhes, a ex-primeira-dama disse que se lançará pela mesma legenda do marido, o Partido Nacional de Honduras (PNH). Via EFE.
MÉXICO 🇲🇽
Líder de novo: após 20 anos, o México superou a China e voltou a ocupar o posto de país que mais exporta para os EUA, segundo dados de 2023 consolidados nos últimos dias. Com uma guerra comercial em andamento entre Washington e Pequim, coube aos vizinhos ao sul do Río Grande ocupar o vácuo gerado pelo menor influxo de produtos chineses: enquanto as exportações do gigante asiático para os EUA despencaram impressionantes 20%, as vendas do México aumentaram 4,6% no mesmo período. Segundo especialistas, o novo cenário tem contribuído para incrementar o crescimento econômico mexicano e gerar mais empregos qualificados dentro do país. Via BBC News Mundo.
NICARÁGUA 🇳🇮
De forma surpreendente, o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, preferiu ficar em cima do muro quando convidado a definir seu homólogo nicaraguense Daniel Ortega: nem democracia nem ditadura, mas uma postura pragmática, enfatizou o costa-riquenho, após ser perguntado sobre como encarava o regime em Manágua. Com seu país recebendo um número crescente de imigrantes nicaraguenses fugindo da escalada autoritária de Ortega, Chaves admitiu que já o criticou muito, mas que agora tenta priorizar uma política de boa vizinhança. Enquanto isso, mais pressão internacional sobre o orteguismo: no último final de semana, o Fundo Verde do Clima, chancelado pela ONU, cancelou o financiamento para um projeto de preservação de florestas na Nicarágua, citando a incapacidade do governo de proteger os direitos humanos dos povos indígenas que vivem na região-alvo dos investimentos.
Una expresión:
Teikapichi – “Havíamos desembarcado em Santiago de Atitlán, um povoado indígena, ao cabo da travessia do esplêndido lago: ali as crianças nos rodearam, aos gritos de ‘Teikapichi!, ‘Teikapichi!’. Recém-chegado à Guatemala, supus que se tratava de uma expressão do dialeto local. Fui rapidamente desenganado: era uma expressão do difundido idioma inglês, take a picture, que os meninos tinham aprendido a dizer para cobrar por posar para as fotografias dos turistas”.*
* relato de Eduardo Galeano em Guatemala, clave de Latinoamérica, publicado originalmente em 1967.
PARAGUAI 🇵🇾
A jornalista Claudia Aguilera, viúva do promotor antimáfia paraguaio Marcelo Pecci, executado a tiros por um grupo armado em uma praia colombiana em 2022, voltou a fazer críticas públicas à condução da investigação. Em um comunicado, Aguilera se disse “preocupada” diante das “quase nulas possibilidades de esclarecer quem foram os mandantes do atentado”. A mensagem foi direcionada ao Ministério Público em Assunção, de quem ela cobrou “vontade real” para investigar o caso e “não dar por perdida a batalha contra o crime organizado”. O crime cometido em Barú tem fortes indícios de participação do narcotráfico transnacional, incluindo suposta relação com o PCC, como explicado pelo GIRO há dois anos. Pecci esteve envolvido em megaoperações que buscavam desmantelar a atividade desses grupos em diferentes pontos da América do Sul. No Crónica.
PERU 🇵🇪
Se uma Câmara já derrubava presidentes como folhas secas, o que virá com duas: brincadeiras à parte, a decisão de devolver o Congresso peruano ao regime bicameral foi confirmada no início de março, no último dia 6, em uma segunda votação que contou com 91 votos a favor, 30 contra e uma abstenção. A deliberação exigiu duas rodadas por se tratar de uma reforma na Constituição. A mudança, porém, não será imediata: a divisão de forças legislativas passa a valer a partir das próximas eleições gerais, marcadas para 2026. Atualmente, peruanos elegem 130 parlamentares, composição que irá se ramificar daqui dois anos em 130 deputados mais 60 senadores. A votação final teve argumentos contra e a favor da bicameralidade. O Congresso em Lima contou com duas câmaras na maior parte de sua existência, da criação, em 1829, até 1993, ano em que foi aprovada uma nova Constituição na sequência do autogolpe imposto pelo ditador Alberto Fujimori (1990-2000). Na RPP.
PORTO RICO 🇵🇷
As eleições mesmo são só daqui a oito meses, mas as primárias já começam a aparecer no horizonte, e Porto Rico entrou em modo campanha: a equipe do atual governador Pedro Pierluisi anunciou, na segunda (11), que o mandatário tem um orçamento de US$ 5,2 milhões para investir em propaganda, e deve começar a bombardear os porto-riquenhos com o lema Continuemos con Pierluisi. Liderando as pesquisas internas do seu Partido Novo Progressista (PNP), que tem primárias em 2/6, o governador – caso seja escolhido pela sigla – depois precisa medir forças com a oposição no pleito propriamente dito, marcado para 5/11. No PNP, sua principal adversária é Jenniffer González, atual comissária residente em Washington (cargo sem direito a voto que representa Porto Rico no Congresso dos EUA). Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A catástrofe humanitária do outro lado da ilha não é motivo suficiente para o governo dominicano abrir mão de sua rígida política contra a imigração irregular de haitianos. Mesmo com o país vizinho mergulhado em uma crise total, o presidente Luis Abinader mantém as deportações como antes, obrigando milhares de pessoas a voltar para a nação conflagrada com quem a República Dominicana compartilha o território de Hispaniola. A reportagem da BBC se debruça sobre a crise na fronteira e as histórias dos deportados nesse contexto de intensificação dos cruzamentos irregulares da divisa – só no último trimestre, estima-se que 15 mil haitianos foram deslocados pela violência interna.
VENEZUELA 🇻🇪
Sem surpresas, o governista PSUV escolheu o presidente Nicolás Maduro como candidato oficial da legenda nas eleições de 28/7, por meio das quais ele tentará chegar a seu terceiro mandato consecutivo. Caso conquiste mais cinco anos de Presidência, o líder chavista governaria até 2031, chegando a 18 anos à frente do Executivo, tempo superior até mesmo aos 14 anos de gestão do finado Hugo Chávez (1999-2013), líder moral do movimento. A escolha da candidatura é fruto de decisões de diferentes assembleias espalhadas pelo país, da qual participaram, no domingo (10), mais de 4,2 milhões de integrantes da base governista, segundo o vice-presidente do PSUV, Diosdado Cabello. Do outro lado do ringue, incerteza: na mesma semana, o site do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) já exibia a inabilitação da ex-deputada opositora María Corina Machado, vista como a principal concorrente de Maduro – mas impedida de participar por supostas irregularidades administrativas, o que já faz os adversários do governo se dividirem entre apostar todas as fichas em Corina ou buscar outra alternativa. Na teleSUR.
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