Rio Paraguai enfrenta pior seca em 50 anos
México investiga supostas esterilizações forçadas em migrantes || Bolívia: presidenciável de ultradireita diz que Evo foi vítima de golpe || Uruguai vai às urnas no domingo em eleições regionais
Na quinta-feira (24), o Rio Paraguai amanheceu com uma marca rara em Assunção: suas águas estavam em nível negativo. Mais precisamente, os medidores apontavam -0,03 metro, revelando paralelamente a enorme quantidade de lixo acumulado no fundo e um cenário que se aproxima de um recorde histórico, acendendo todos os alertas para a emergência climática cada vez maior na América do Sul. O rio já esteve mais baixo, mas isso foi há 51 anos (exatamente 51 anos): em 24 de setembro de 1969, o Paraguai bateu em -0,40 metro na capital do país, 37 centímetros abaixo da marca desta semana.
O nível de um rio pode chegar a ser negativo porque, como seu fundo nunca é plano, a marca zero costuma ser estabelecida no nível mínimo para que o leito seja adequadamente navegável pelas embarcações. A incrível coincidência de datas para as marcas abaixo de zero pode sugerir que se trata de uma ocorrência comum nesta época do ano, mas a média histórica para setembro aponta o Paraguai com 2,7 a 3,0 metros positivos. A baixa do rio resulta das enormes secas que também têm sido sentidas no Centro-Oeste brasileiro (apesar das chuvas recentes) e intensificam os incêndios – tanto os naturais quanto os criminosos – dos dois lados da fronteira.
Esse email foi encaminhado por um amigo? Assine!
A preocupação dos paraguaios é que seja apenas o início de uma catástrofe e já levou o presidente Mario Abdo Benítez a decretar estado de emergência hidrológica e a empresa de saneamento a estabelecer um plano de contingência para não interromper o abastecimento de água. O Centro de Armadores Fluviais e Marítimos (CAFyM) do país acredita que, pelos próximos cinco anos, no mínimo, a situação tende a ficar em níveis parecidos. A Direção de Meteorologia afirma que, até dezembro, não haverá chuvas significativas. E não está descartado que o recorde de 1969 seja superado ainda neste ano. Em maio, a CAFyM já havia alertado que o setor de navegação poderia se ver inviabilizado a partir de julho. A previsão errou por um par de meses, mas ultrapassar a marca de zero indica que havia acerto no aviso do primeiro semestre. Com a chegada da primavera, as temperaturas também começam a subir em meio à estiagem: partes do país devem registrar até 42 °C neste fim de semana.
Quanto menos água, obviamente, menos navios de grande porte são capazes de circular, e todo o comércio regional, já bastante impactado pelas restrições da pandemia (leia mais na seção dedicada ao Paraguai neste GIRO), pode ser afetado conforme o problema for sentido em outros grandes rios da bacia platina, como o Paraná. Em meio a um endêmico negacionismo climático e respostas que parecem sempre vir somente quando a crise estoura, o Paraguai agora trabalha com alternativas para tornar o rio que lhe empresta o nome novamente viável. Na própria quinta (24), o Ministério de Obras Públicas anunciou um projeto de dragagem – o processo de escavação do fundo de um leito fluvial – tentando aumentar o calado do rio até o final de 2022. A promessa é um investimento de quase 130 bilhões de guaranis (R$ 105 milhões).
😷 Covid: com o menor número de casos em 10 semanas, a América Latina segue mantendo a tendência de baixa. Apenas quatro países da região têm casos em ascensão significativa na última quinzena. Leia nossa atualização semanal completa clicando aqui.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
Os ex-presidentes Pepe Mujica (Uruguai), Dilma Rousseff (Brasil) e Ernesto Samper (Colômbia) são só alguns dos convidados ilustres do curso “Estado, política e democracia na América Latina”, oferecido gratuitamente pelo Grupo de Puebla, em parceria com várias universidades. Clique aqui para saber mais e se inscrever.
ARGENTINA 🇦🇷
O pior desempenho econômico em 18 anos. É isso que diz o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) em seu mais recente relatório. Segundo o Indec, o PIB argentino caiu 19,1% no segundo trimestre de 2020, em comparação ao mesmo período em 2019. Se comparado aos primeiros três meses do atual ano, a queda foi um pouco menor: 16,2%. O declínio trimestral entre os anos é o pior resultado para o país desde 2002, quando Buenos Aires enfrentava a pior crise financeira em 100 anos. Conhecido como corralito, o turbilhão político-econômico do início do milênio congelou contas bancárias, derrubou presidentes em sequência, aumentou fome e pobreza em níveis colossais e deixou mortos e feridos durante manifestações. E, se os números do trimestre já revivem fantasmas daquela época, tudo deve ser pior ao final do ano: em recessão, o país pode ver o PIB cair de 9 a 15% em 2020, segundo estimativas. No Ámbito.
O deputado Juan Emilio Ameri, da província de Salta, passou a ser um nome conhecido durante a semana por uma razão constrangedora: em plena sessão virtual da Câmara na quinta-feira (24), o parlamentar apareceu em cenas íntimas com uma mulher. O momento picante viralizou e gerou repúdio dos membros da Casa, que pediram o afastamento de Ameri. O pedido foi ouvido pelo presidente da Câmara, Sergio Massa, que suspendeu o deputado, que diz estar “muito envergonhado”. Mas, em vez de apenas se desculpar e sair de cena, Ameri tentou se justificar e só piorou a situação. Em entrevista a uma rádio local, disse: “perguntei a ela como estavam as próteses, porque há dez dias ela fez prótese mamária (...) Então eu disse: ‘Posso te dar um beijo?’ E eu a beijei no peito, nada aconteceu”. Pressionado, o deputado – que alegou não ter percebido que a câmera estava ligada – acabou renunciando na sexta (25). O momento bizarro, via La Nación.
BOLÍVIA 🇧🇴
Semana de discursos na Assembleia Geral da ONU, com vários líderes latinos dando show de inverdades e hipocrisia diante da plateia mundial. A Bolívia esteve entre eles: Jeanine Áñez, a senadora que se tornou presidente interina a partir de um golpe seguido de enorme violência por parte da polícia e das Forças Armadas, afirmou que “a América Latina, em geral, não superou a ameaça autoritária”. Sem ruborizar, Áñez garantiu que a Bolívia está trilhando o caminho para “entregar o poder ao Estado de Direito”. Ela também denunciou a suposta ingerência argentina, país que asila o ex-presidente Evo Morales, sobre as eleições presidenciais do próximo 18/10. Em La Nación.
Em clima eleitoral, o pastor e presidenciável Chi Hyun Chung, conhecido por suas declarações intempestivas, revelou considerar que Evo Morales foi, sim, vítima de um golpe em 2019. A afirmação, em um programa de rádio durante a semana, surpreendeu ainda mais porque Chung, que já foi chamado de “Bolsonaro boliviano”, concorreu como o grande nome da extrema-direita no pleito passado, ficando em terceiro lugar com quase 9% dos votos. Em 2020, com o cenário transformado pela derrubada de Evo, boa parte de seu apelo extremista foi perdido para Luis Fernando Camacho, um dos artífices do golpe, que parece ter ocupado o espaço de Chung no espectro eleitoral. O pastor de ascendência coreana não deixou por menos: para ele, Camacho “deveria estar na cadeia”. Em La Razón.
CHILE 🇨🇱
A proposta de venda de uma ilha desabitada no sul do Chile vem causando controvérsia e pedidos de intervenção estatal. Guafo, um pedaço de terra de 202 km² localizado a 37 km da famosa Ilha Grande de Chiloé, apareceu na lista de terrenos à venda do site canadense Private Islands, estimada em US$ 20 milhões. Políticos e ativistas logo apontaram para os problemas do negócio: por um lado, indígenas afirmam que Guafo é terra sagrada, um local onde seus ancestrais realizavam rituais; por outro, há temor que um eventual empreendimento turístico ameace a biodiversidade da região. O histórico da ilha é cheio de idas e vindas: particular desde pelo menos 1910, chegou a ser expropriada em 1940 mas a medida foi revertida cinco anos depois. Com a nova polêmica, voltaram os pedidos para que o Estado adquira o território. Depois da repercussão, o site tirou Guafo do mercado. Na BBC.
Mais de 830 mil autorizações para reuniões familiares foram emitidas pelo governo durante o feriadão das Festas Pátrias, no último final de semana. A permissão dava a liberdade de sair de casa por seis horas durante um dos três dias festivos, flexibilizando as normas ainda em vigor por conta da pandemia. Segundo as autoridades, apesar de 2,8 mil pessoas detidas por não respeitar o toque de recolher, o balanço da experiência foi positivo. Em La Tercera.
Un clic:
COLÔMBIA 🇨🇴
Ao menos sete pessoas, incluindo um menor de idade, foram mortas em um novo massacre no interior de uma cidade chamada Buenos Aires, em Cauca. Segundo autoridades, um grupo armado entrou em uma gallera, como são conhecidos os locais onde se organizam rinhas de galo, e disparou e jogou uma granada contra um grupo de pessoas. O número de sobreviventes feridos é incerto. O departamento de Cauca se tornou o palco de um enorme derramamento de sangue, sendo rota de grupos armados (tanto paramilitares, quanto guerrilheiros) em uma disputa comercial e territorial por rotas do tráfico. Além disso, é a região colombiana com maior número de líderes sociais e ativistas assassinados (veja mais no vídeo do GIRO LATINO desta semana), muitas vezes em detrimento de denúncias contra esses mesmos bandos de extermínio. Como contamos também no GIRO #45, a Colômbia volta a viver uma triste rotina de massacres. Em El País.
O Departamento de Estado dos EUA colocou a prêmio a cabeça de Wilber Villegas Palomino, 39, apontado como o principal líder do Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha oficialmente ativa em território colombiano. Segundo autoridades em Washington, a compensação para quem fornecer informações que levem a Palomino, acusado formalmente pela justiça estadunidense, é de US$ 5 milhões. Os EUA dizem que o guerrilheiro está envolvido com tráfico de cocaína há pelo menos 20 anos. A busca pelo suposto chefe do ELN foi endossada pelo secretário de Estado Mike Pompeo, que se reuniu com o presidente colombiano Iván Duque depois de um tour sul-americano que envolveu uma visita bastante contestada a Roraima. Em El Comercio.
COSTA RICA 🇨🇷
É um fato que os pequeños Uruguai e Costa Rica, separados por milhares de quilômetros, são os polos mais estáveis e exemplares em termos de desenvolvimento humano de toda a América Latina. O desempenho dos dois países durante a pandemia foi um reflexo claro disso, com Montevidéu e San José reportando números baixos de contágios e mortes, sobretudo se comparados aos de vizinhos descontrolados como Brasil e México, líderes em mortes e casos confirmados, e Peru, com índices proporcionais de fatalidades que já são os maiores do mundo. Mas, apesar de ainda viverem pandemias controladas se comparados ao resto do continente, os dois países se desencontraram ao longo do tempo: em junho, quando a pandemia completava quatro meses, os uruguaios ainda mantinham o número de casos um pouco acima de 1 mil, enquanto os costarriquenhos viveram uma aceleração e já registravam números 12 vezes maiores – mesmo que, em população, os caribenhos sejam só 1,4 vezes maiores do que os sul-americanos. A reportagem do Delfino explica a bifurcação no caminho.
CUBA 🇨🇺
De olho no eleitorado hispano conservador na Flórida, o presidente dos EUA, Donald Trump, não poupou nem mesmo o rum e os charutos: agora, cubanos que voltarem aos EUA não poderão trazer para casa os produtos típicos, em uma nova investida para minar a economia já cambaleante da ilha. O anúncio foi feito em meio a uma cerimônia de homenagem a veteranos da invasão da Baía dos Porcos, ataque paramilitar contrarrevolucionário que tentou derrubar Fidel Castro, sem sucesso, em 1961. Segundo o Pew Research Center, um em cada 5 dos 13,8 milhões de eleitores da Flórida é hispânico, e se estima que quase um terço deles seja ligado a Cuba. E são esses votos pendulares que Trump busca angariar em sua tentativa de vencer o democrata Joe Biden. Apesar de ser um integrante do establishment estadunidense, Biden prometeu mudar a retórica de Washington em relação à ilha, com um resgate das boas relações mantidas com Havana nos tempos de Barack Obama. Enquanto isso, Trump dá sequência às sanções contra os cubanos apesar da pandemia, como o GIRO LATINO explicou neste vídeo. Via AP.
EL SALVADOR 🇸🇻
Cindy Erazo passou os últimos seis anos presa até ser liberada pela justiça do país na quarta-feira (23). Como muitas em El Salvador, um dos mais violentos do mundo, sua condenação por homicídio não seguiu a tendência do conflito armado entre gangues: ela sofreu um aborto espontâneo em um banheiro público e foi acusada de interromper a gravidez de propósito, o que, à mercê de uma lei arcaica, configura crime gravíssimo sob qualquer circustância no país. Atualmente, 18 mulheres estão presas em episódios similares, segundo denúncias de organizações locais de direitos humanos. O caso de Erazo não é uma exceção. Sua conterrânea Evelyn Hernández também chegou a ser sentenciada a 30 anos após sofrer um aborto espontâneo. Ela foi estuprada aos 18 e só saiu da prisão após uma epopeia contra as cortes salvadorenhas que ganhou destaque internacional. O caso das duas e de outras milhares de mulheres latino-americanas foi tema deste vídeo do GIRO. Via AP.
Un nombre:
Manuela – o Equador não teve uma, nem duas, e sim três libertadoras famosas com o mesmo prenome: Manuela. Clique aqui para conhecer suas histórias.
EQUADOR 🇪🇨
Após confirmar a condenação por corrupção contra o ex-presidente Rafael Correa, a Justiça do país ordenou a “localização imediata e captura” do político, que hoje vive exilado na Bélgica. Como detalhado pelo GIRO neste vídeo, Correa acusa o atual governo de Lenín Moreno, seu antigo aliado e hoje maior adversário, de aparelhar o sistema penal por razões políticas, prática conhecida como lawfare. Além da pena de oito anos de prisão que recai sobre o ex-presidente, a decisão recente dos tribunais em Quito impõe a perda de direitos políticos e suspende a candidatura do socialista. No poder entre 2007 e 2017, o ex-mandatário queria voltar ao Palácio Carondelet como vice, caso pudesse concorrer nas eleições em 2021. A Justiça equatoriana também ordenou a suspensão de US$ 4,2 mil mensais que Correa recebia pelo tempo como presidente. Na CNN.
A volta do futebol provocou o primeiro grande incidente político durante a semana, em torno da partida entre o Barcelona de Guayaquil e o Flamengo pela Copa Libertadores, na terça-feira (22). Às vésperas do jogo, o clube carioca teve sete casos positivos de covid-19 confirmados, o que levou a municipalidade de Guayaquil a interditar o estádio do Barcelona, na tentativa de evitar a realização da partida – a cidade, vale lembrar, viveu o trauma de ser o primeiro símbolo do colapso sanitário da pandemia nas Américas, ainda em março. A Confederação Sul-Americana de Futebol, porém, garantindo a infalibilidade de seus protocolos supostamente rigorosos, interveio junto ao governo nacional, com poder para derrubar as ordens locais – e foi o que aconteceu. O jogo ocorreu e, em campo, apesar dos vários desfalques em função do coronavírus, o Flamengo venceu por 2x1. Mas a confusão expôs a debilidade do protocolo que fez o futebol continental colocar de joelhos os governos sul-americanos, driblando normas sanitárias e fronteiras fechadas com a promessa de que a rigidez das regras impediria surtos. Desde a viagem para o Equador, os casos do Flamengo seguem subindo: até o fechamento desta edição, já eram 41 infectados, sendo 19 jogadores.
GUATEMALA 🇬🇹
Furtado no México, um pulinho na Venezuela até finalmente cair em solo guatemalteco. É o que aconteceu com um pequeno avião clandestino, encontrado pelo Exército da Guatemala em uma área montanhosa, em Alta Verapaz, ao norte do mapa. Além de dois corpos não identificados, os agentes encontraram três quilos de cocaína e armas. A aeronave teria burlado o sistema de rastreamento e saído de Cuernavaca, capital do estado mexicano de Morelos, e passado pelo estado venezuelano de Zulia até o acidente. Toda a região que vai dos Andes ao topo da América Central é conhecida por ter rotas requisitadas por cartéis de droga. Em muitos casos, pilotos voam baixo para despistar e são submetidos a viagens arriscadas com combustível limitado, para evitar fugas com o produto. Via Reuters.
HAITI 🇭🇹
Em seu discurso na ONU, o presidente Jovenel Möise prometeu a realização de eleições “inclusivas, transparentes e democráticas”, entre outros adjetivos que geraram crítica dentro do país. Alvo de pedidos de renúncia desde o ano passado e responsável por fechar o Parlamento, o que lhe deu poderes quase incontroláveis, o político também chamou o órgão legislativo de “indispensável”. O contrassenso nas falas de Möise, segundo a oposição, é justamente uma tentativa de desviar o foco para um pleito em 2021 que já começará contestado. A embaixada dos Estados Unidos em Porto Príncipe manifestou seu apoio a um decreto convocatório para as eleições, que já estão mais de um ano atrasadas. No Notimérica.
HONDURAS 🇭🇳
Os resultados de uma profunda reforma na polícia hondurenha têm levantado um debate importante no país. Tudo começou em 2011, quando Honduras alcançou uma média assustadora de 86,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Com um histórico desolador de abuso policial, corrupção e outros crimes associados aos agentes de segurança, o país mexeu nas estruturas: passou a elevar os requisitos de admissão, estendeu o período de treinamento, incluiu mais mulheres, elevou salários e modernizou equipamentos. Além disso, demitiu milhares de agentes considerados incapacitados e/ou envolvidos em denúncias de abuso de autoridade. Segundo números oficiais, a reforma deu resultado: de 2011 a 2019, a taxa de homicídios caiu quase pela metade e, conforme diversos centros de pesquisa, a população passou a confiar mais nos policiais. Organizações de direitos humanos e antigos membros da organização, no entanto, questionam o avanço. Para muitos dos críticos, a mudança estrutural não reflete números reais e pode ser confundida com uma mera “mudança de imagem”. Outros profissionais denunciam a forma com que são feitos os desligamentos compulsórios, além de supostos dados subnotificados. Episódios recentes de massacre envolvendo agentes do Estado também levantam pontos na discussão. Na BBC.
Um tsunami de lixo. É isso que chegou às praias do município de Omoa, ao norte do país. A sujeira veio pelas águas do Rio Motagua, que se alonga pela Guatemala e desemboca no mar do Caribe. Diante do incidente, o Ministério de Relações Exteriores de Honduras entrou em contato com o governo vizinho solicitando “medidas urgentes” para mitigar os efeitos, sobretudo em um momento em que fortes chuvas podem só acelerar o transporte dos detritos. Só este ano foram extraídas do Motagua quase 100 toneladas de lixo, o que equivale a cinco campos de futebol repletos de rejeitos. Em La Nación.
Un video:
MÉXICO 🇲🇽
Assombrado pelas denúncias de esterilizações forçadas que teriam ocorrido em um centro de detenção de imigrantes dos EUA (destacamos o caso no GIRO #48), o México dedicou a última semana a entrevistar cidadãs do país que passaram pela instalação no condado de Irwin, no estado da Geórgia. De acordo com o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, até quinta (24) já haviam sido localizadas 20 de 24 mulheres que teriam passado pelo local – e todas negaram terem sido submetidas aos procedimentos invasivos. Apesar da revelação tranquilizadora, Ebrard lembrou que seu país irá até o fim para saber se nenhuma mexicana foi vítima dos crimes que teriam ocorrido em Irwin. “Ainda temos que terminar a investigação”, indicou o chanceler. Via Reuters.
Que 2019 havia sido o ano com um triste recorde de homicídios para o México, já se sabia desde janeiro. Mas agora há números definitivos para o ano mais violento da história, acrescentando quase mil assassinatos a mais do que o divulgado no levantamento preliminar do início do ano: segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI), foram 36.476 homicídios no ano passado, contra 35,5 mil contabilizados em janeiro. Em média, foram praticamente 100 mortes violentas por dia, ou 29 para cada 100 mil habitantes. E piora: em 2020, mesmo com a circulação reduzida em função da pandemia, os números seguem em alta – até aqui, já foram 24,1 mil homicídios no ano, 1,5% a mais do que no mesmo período em 2019. No TRT.
NICARÁGUA 🇳🇮
O partido do presidente Daniel Ortega, que controla 71 das 92 cadeiras no Congresso, quer passar uma lei polêmica que registraria pessoas físicas, jurídicas e ONGs que recebem dinheiro de outros países como “agentes estrangeiros”. Uma vez rotuladas assim, essas pessoas ou organizações ficariam impedidas de exercer qualquer papel dentro da política nacional, sob pena de apreensão dos bens enviados de fora. Segundo membros da oposição, que têm se unido para tentar vencer a hegemonia sandinista nas urnas em 2021, a proposta é “inconstitucional” e seria só outro aparato do governo para “perseguir adversários”. Diante da censura à atividade política e à liberdade de imprensa, muitos partidos, organizações civis e jornais dependem de variados tipos de recursos para custear a operação em território nicaraguense (onde até mesmo insumos de jornais impressos, como papel e tinta, são apreendidos pelo governo), incluindo dinheiro que vem de fora. Desde 2018, quando as forças de segurança de Ortega reprimiram manifestações e deixaram mais de 300 mortos, o discurso do regime é de que “agentes externos” estariam por trás de uma conspiração, o que abre ainda mais margem para as críticas ao novo projeto de lei. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
Boas notícias: depois de mais de 20 meses enfrentando níveis baixos de água, o Canal do Panamá voltou a operar com um calado máximo de 50 pés, o que evita que eclusas sejam danificadas e aumenta o números de contêineres permitidos no transporte. Um dos principais motivos para a crise hídrica recente é a falta de chuvas, em situação semelhante à que agora atormenta o Paraguai. Além de prejudicar a estrutura, um Canal do Panamá comprometido impacta o comércio internacional: atualmente, 6% dos negócios do mundo passam pelo estreito aquático que recorta a América Central. No mais, a contradição de um efeito climático impactando diretamente o comércio tem estimulado mais debates sobre uma economia sustentável. No Economista.
PARAGUAI 🇵🇾
Parecia o fim do impasse, mas ganhou novo capítulo: após longa discussão que foi contada pelo GIRO neste vídeo para o Intercept Brasil, o Paraguai anunciou que finalmente reabrirá a Ponte da Amizade, a partir da próxima terça-feira (29), por um período de teste de três semanas. O anúncio do presidente Mario Abdo Benítez sintetiza a discussão que foi feita até a polêmica reabertura: “compromisso” contra a covid-19, pediu o mandatário, ao anunciar a volta da circulação na principal ligação por terra entre Paraguai e Brasil. Há alguns meses, diante da pressão de lojistas da região de Alto Paraná, que faz fronteira com o Brasil e depende do fluxo internacional, Abdo Benítez foi um dos que se manteve cauteloso antes de defender a reabertura precoce. Só que, logo após o anúncio de flexibilização paraguaio, o governo brasileiro publicou uma nova portaria estendendo as restrições em suas fronteiras por trinta dias a contar de quinta (24). Apesar do aparente complicador, há expectativa do lado paraguaio que isso não afete os planos de reabertura, pois o texto prevê liberdade de movimento para moradores de “cidades-gêmeas” de fronteira, o que inclui Ciudad del Este, desde que garantida a reciprocidade para brasileiros – algo que, agora, deve ocorrer. Até então, a condição para voltar à normalidade era uma diminuição significativa dos casos de coronavírus no Brasil – o que, apesar de números em declínio, ainda não aconteceu de forma substancial. Autoridades de saúde temem que a volta da circulação de pessoas possa gerar surtos inéditos no Paraguai. No Infobae.
O sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013) por guerrilheiros do Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP) completou duas semanas na quarta (23), em silêncio. Tanto as autoridades quanto a família do político seguem sem receber notícias ou prova de vida de Denis, que tem 74 anos e foi levado sem seus medicamentos de uso contínuo, o que vem gerando dúvidas cada vez maiores sobre seu estado de saúde. No GIRO #47 contamos como o caso começou. No ABC Color.
Una expresión:
Pico y placa – é o rodízio de carros no linguajar colombiano. Válida em Bogotá e outras grandes cidades, a medida limita a circulação de veículos em horários de pico, segundo o número final da placa de cada carro e o dia da semana. Com a chegada do coronavírus ao país, o rodízio de automóveis foi temporariamente substituído: virou pico y género e depois pico y cédula – ou seja, restrições do fluxo de gente nas ruas conforme o gênero das pessoas ou o número da identidade. Desde segunda-feira (21), a prefeitura de Bogotá acabou com o pico y cédula e voltou a usar o pico y placa.
PERU 🇵🇪
Os ministros brasileiros de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, participaram de um encontro com autoridades peruanas para tratar do projeto de construção do trecho da rodovia que vai ligar o Brasil ao Peru a partir da BR-364, pelo Parque Nacional da Serra do Divisor, no estado do Acre. Segundo as autoridades, o governo do Estado pretende concluir o projeto em breve, a fim de incluí-lo no orçamento da União de 2021. Durante o encontro, um senador brasileiro chegou a dizer que o governo peruano estaria “criando dificuldades do ponto de vista ambiental” para a sequência do projeto e que “inimigos do progresso” existem nos dos países. No ac24horas.
PORTO RICO 🇵🇷
Morreu aos 73 anos Soraya Santiago, ícone LGBTQIA+ da ilha e primeira pessoa de Porto Rico a passar por uma cirurgia de redesignação de gênero, ainda na década de 1970. Ela lutava contra um câncer. Muito conhecida na comunidade local, recebeu condolências de diversas personalidades, incluindo políticos do alto escalão e vários ativistas. Santiago também era popular nos EUA, onde militou pela causa. Antes da fama, estudou Ciência Política na universidade pública de Porto Rico. Também foi destaque em vários documentários, incluindo o filme porto-riquenho Mala, Mala (2014), protagonizado por nove pessoas trans. Soraya ainda escreveu o livro Hecha a mano (“Feita à mão”), sobre suas vivências. Uma das admiradoras a resumiu como “uma pioneira, nossa professora, nosso farol de luz”. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O presidente Luis Abinader anunciou durante a semana um plano de incentivo ao turismo interno, com linhas de crédito atreladas a taxas baixas de juros para o uso em hotéis do país. Segundo o governo, que pretende autorizar a reabertura de pelo menos mais 50 hotéis e resorts em outubro, a medida é parte de um amplo projeto de retomada de todo o setor turístico, incluindo o estrangeiro. No último dia 15, também havia sido confirmado o início oficial do chamado Plano de Recuperação Responsável do Turismo, medida que busca atrair de volta pessoas de fora do país. Além de garantir gratuitamente auxílio médico presencial e virtual e estadias prorrogadas, o plano, válido até 31/12, prevê alteração no valor de passagens de avião para o caso de morte ou contágio por covid-19. Segundo números do governo dominicano, o setor turístico representa 12% do PIB do país. Com a pandemia, o baque foi de pelo menos US$ 5 bilhões. Em El Dinero.
URUGUAI 🇺🇾
O país vai às urnas neste domingo (27) para as eleições regionais, que decidirão os 19 intendentes dos departamentos uruguaios, além de 125 prefeitos e 500 vereadores. Grande bastião da esquerda, Montevidéu deverá ser vencida novamente pela Frente Ampla (FA), que governa a capital ininterruptamente desde 1990 e tem 53% das intenções de voto nas últimas pesquisas. Existem boas chances, porém, de o nome inicialmente visto como o mais forte da coalizão não levar o cargo: Daniel Martínez, que já governou a capital entre 2015 e 2019, renunciou para tentar a Presidência no ano passado e agora volta a buscar o assento montevideano, vem apenas em terceiro lugar dentro do frenteamplismo – no Uruguai, diferentes nomes de uma mesma coalizão podem concorrer, e o indivíduo mais votado do grupo vencedor é quem assume. Martínez é o último entre os três postulantes da FA a Montevidéu, com pouco mais da metade (13% a 24%) das intenções de votos da líder Carolina Cosse, ex-ministra de Indústria, Energia e Mineração no segundo governo Tabaré Vázquez (2015-2020). O outro candidato da FA é o médico Álvaro Villar (16%), que nunca ocupou cargo eletivo, mas tem histórico familiar na política: seu pai, Hugo Villar, ajudou a fundar a Frente Ampla e foi o primeiro nome do partido a concorrer ao governo da capital, em 1971. Com números da covid-19 sob controle, o Uruguai será o primeiro país sul-americano a realizar eleições nesta pandemia, mas não é o pioneiro na América Latina: a República Dominicana já havia ido às urnas escolher seu presidente em julho. No Cronista.
VENEZUELA 🇻🇪
Na sequência de um dos informes mais destrutivos à reputação internacional do governo chavista, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos reafirmou os achados de seu levantamento (leia mais no GIRO #48). “Preocupam-me os altos números de jovens assassinados em bairros marginalizados como resultado de operações de segurança”, afirmou a alta comissária, Michelle Bachelet, indicando que até agosto teriam ocorrido pelo menos 2 mil mortes de jovens nessas condições nas mãos de agentes do Estado. Ela também insistiu que os ataques à liberdade de expressão permanecem sistemáticos no país. A fala de Bachelet, ex-presidente do Chile pelo Partido Socialista, pegou Nicolás Maduro de surpresa, apenas um dia depois de o líder venezuelano assinalar sua disposição de cooperar com a ONU e se reunir com a alta comissária por videoconferência para discutir o tema. Em La Tercera.
A União Europeia enviou dois representantes à Venezuela para tornar as eleições parlamentares “mais confiáveis”. Previsto para 6/12, o pleito é a grande esperança de Maduro retomar pelas urnas o controle da Assembleia Nacional, cuja liderança foi a base para Juan Guaidó se autoproclamar presidente encarregado do país. Confiante, o próprio chavista pediu à ONU e à UE o envio de observadores para monitorar a votação, em busca de legitimidade internacional. N’O Globo.
No fim, “vamos tirar Maduro de lá” não teria passado de um erro de tradução. Pelo menos é a versão oficial da Embaixada dos EUA, após toda a imprensa – e também a última edição deste GIRO – repercutir a suposta frase do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, indicando disposição de Washington para derrubar o governo na Venezuela, durante sua visita a Roraima na semana passada. A ausência da frase, porém, não quer dizer que os EUA não tenham interesse direto em concretizá-la.
Gostou do nosso conteúdo? Ajude a construir um GIRO ainda melhor e mais completo. Conheça nossa campanha no Catarse!
Conheça quem faz o Giro Latino. Também estamos no Twitter, Instagram, YouTube e em Podcast.