Latinas teriam sofrido esterilizações forçadas nos EUA
Bolívia: Jeanine Áñez desiste das eleições || Guatemala: presidente é o 5º com covid na região || Peru: Congresso não aprova impeachment de Vizcarra || Vídeo: lawfare e eleições
Mileidy Cardentey Fernández, uma cubana de 39 anos, foi informada de que seria submetida a uma operação para remover os cistos ovarianos. “Você vai dormir e, quando acordar, tudo terá terminado”, ela relatou ter ouvido, em uma entrevista à agência de notícias AP. Mileidy foi uma das migrantes encarceradas no Centro de Detenção do Condado de Irwin, no estado da Geórgia, nos EUA, que passou pelas mãos de Mahendra Amin – um médico que na última semana ganhou o epíteto de “colecionador de úteros”, após a denúncia de Dawn Wooten, enfermeira que trabalhou em Irwin. Segundo ela, as mulheres mantidas no local estariam sendo submetidas a procedimentos obstétricos desnecessários e sem consentimento, incluindo histerectomias – o processo de remoção parcial ou total do útero, último recurso geralmente aplicado em casos de câncer.
O centro de Irwin, que pertence à iniciativa privada, recebe detentos do Serviço de Imigração e Aduanas (ICE, na sigla em inglês), que desde o início do governo Donald Trump vem se tornando infame pela sucessão de violações de direitos humanos contra migrantes. As novas denúncias de violência obstétrica se somam à separação dos filhos dos pais (muitas vezes perdendo o seu rastro), à manutenção de crianças em jaulas e a um sem-número de mortes em custódia do Estado. Publicada na sexta-feira (18), a reportagem da AP ainda não havia encontrado evidências de que a prática de histerectomias fosse disseminada, mas a delação de Wooten acendeu os alertas na oposição estadunidense: Nancy Pelosi, a democrata que preside o Congresso, exigiu uma investigação sobre o tema.
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As possíveis vítimas vêm tendo suas identidades preservadas. Mas, após as primeiras denúncias virem à tona, uma imigrante camaronesa que escapou da deportação graças à intervenção do Congresso relatou também ter passado por uma cirurgia esterilizante sem consentimento em Irwin: em busca de tratamento para ciclos menstruais irregulares, Pauline Binam diz que suas tubas uterinas foram removidas sem que fosse previamente informada. O procedimento, conhecido como salpingectomia bilateral, torna a fecundação impossível.
O acusado de realizar as esterilizações sem informar as mulheres sobre as consequências dos procedimentos, Mahendra Amin, já foi pego fraudando seguros-saúde e, junto com outros profissionais, teve que pagar meio milhão de dólares em um acordo em 2015. Conforme a denúncia de Wooten, mulheres hispânicas são as que sofreram o pior tratamento em Irwin, devido à barreira linguística. Benjamin Osorio, advogado que representa duas delas, afirma que suas clientes tiveram seus úteros removidos após Amin afirmar falsamente que elas tinham tumores que justificariam a operação: uma delas em função de cistos que jamais passaram por biópsia para confirmar o risco, outra pelo diagnóstico de um câncer cervical em estágio 4 que, após a histerectomia ser feita, outro médico constatou jamais ter existido.
Enquanto as denúncias se acumulam com grande rapidez – nesta mesma semana, o México requisitou explicações sobre um suposto caso de abuso sexual sofrido por uma migrante em outro centro de detenção do ICE, no Texas, e a própria Dawn Wooten já havia apontado a ausência de medidas de controle da covid-19 nesses recintos –, o ICE segue garantindo que não há qualquer irregularidade nas suas práticas. “Todas as detentas do ICE recebem atendimento ginecológico e obstétrico de rotina e apropriados para a sua idade”, afirmou o órgão repressivo, em nota.
😷 Covid: mantendo uma queda sustentada, a América Latina teve o menor número novos óbitos das últimas 16 semanas (desde 29/5), baixando a uma média diária de menos de 2 mil óbitos nos últimos sete dias pela primeira vez desde o final de maio. Clique aqui para ver nossa atualização semanal.
Un sonido:
Há 40 anos na sexta-feira (18), o cubano Arnaldo Tamayo se tornou o primeiro latino-americano no espaço. Outros vieram depois dele, e nós contamos suas histórias no episódio desta semana do Giro Latino Cast. Clique acima para ouvir no Spotify e aqui para escutar em outros tocadores.
REGIÃO 🌎
Você certamente já ouviu falar de lawfare, palavra usada para denunciar o uso de recursos jurídicos com a finalidade de perseguição política. Na América Latina, o uso do termo, que já é recorrente, ganhou força em setembro quando tribunais de Bolívia e Equador determinaram que os ex-presidentes Evo Morales e Rafael Correa não poderiam voltar a disputar eleições em seus países. Abaixo no mapa, o governo do presidente argentino Alberto Fernández enfrenta críticas em razão de uma proposta de reformar o sistema judiciário, sob a alegação de justamente evitar que o lawfare seja praticado. Em Buenos Aires, a ex-presidente e hoje vice Cristina Kirchner se diz perseguida pela justiça; já a oposição diz que a reforma é uma manobra de Cristina para evitar o banco dos réus. O GIRO LATINO contou no vídeo abaixo:
ARGENTINA 🇦🇷
O Banco Central determinou um novo limite pessoal de compra de dólares, como forma de driblar a inflação e proteger as reservas nacionais em moeda estrangeira. Chamada de “cepo cambial” e já adotada durante o governo de Cristina Kirchner e de Mauricio Macri por motivos parecidos, a medida é uma velha conhecida dos argentinos e estabelece um limite de aquisição fixado em US$ 200 por mês, além de restringir o uso de cartão de crédito fora do país. A decisão veio após quase 5 milhões de cidadãos comprarem o limite oficial em dólar só no mês de agosto, números que certamente seriam superados em setembro caso o BC não agisse. A entidade argumenta que isso pode “favorecer o desempenho do mercado local” e tem o apoio do presidente Alberto Fernández, que disse que “dólares são necessários para produzir, não para guardar”. Diante de uma moeda própria frágil e sempre sujeita a oscilações bruscas, o argentino tem um longo histórico de sempre tentar poupar “en verde”, o que gera um acúmulo de divisas “embaixo de colchões”: estima-se que US$ 219 bilhões estejam atualmente fora de circulação, o que só incentiva novos “cepos”. Em El Observador.
A morte da estudante brasileira Ana Karolina Lara, 22, intriga a polícia de Buenos Aires. Ela foi encontrada morta em 4/9 no poço do elevador de um prédio na capital, em circunstâncias “duvidosas”, segundo a classificação dada ao caso. Após sair com um grupo de amigas, a jovem paulistana foi ao apartamento de um homem com quem se relacionava e não deu mais notícias. Apesar de resultados preliminares da autópsia terem revelado que a causa da morte foi o choque no momento da queda, a polícia trabalha com a hipótese de crime de gênero. No Brasil, a família segue tentando reaver o corpo. O caso, em todos os seus detalhes, é narrado pelo Infobae.
BOLÍVIA 🇧🇴
A presidenta interina Jeanine Áñez anunciou, na quinta (17), que não tentará mais se manter no poder nas eleições previstas para o próximo 18/10. Ocupando um modesto quarto lugar nas pesquisas com pouco mais de 10% das intenções de voto, Áñez – que assumiu após o golpe contra Evo Morales, prometeu que não seria candidata e mudou de ideia – disse estar desistindo “por um bem maior”. O “bem”, no caso, seria tentar evitar a vitória do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo: na véspera da desistência da interina, uma nova pesquisa apontou que o candidato do MAS, Luis Arce, superava os 40% das intenções de voto, com 14 pontos percentuais sobre o segundo colocado. Pela lei eleitoral boliviana, a votação de Arce seria suficiente para vencer ainda em primeiro turno (a regra exige 50% mais um voto ou 40% dos votos com diferença superior a 10 pontos para o concorrente mais próximo). Ainda de acordo com as pesquisas, a tendência é que dois terços dos potenciais eleitores de Áñez migre para Carlos Mesa, candidato mais próximo de Evo nas eleições suspensas de 2019, que novamente aparece em segundo lugar, com 26% das intenções. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
O Tribunal Ambiental do Chile confirmou, na quinta (17), o fechamento “total e definitivo” do controverso projeto de mineração de ouro conhecido como Pascua Lama, uma operação bilionária em região montanhosa do Atacama, próximo à fronteira com a Argentina. Mantida por uma companhia canadense e orçada em US$ 8,5 bilhões, a mina teve suas obras interrompidas em 2018, após denúncias de várias irregularidades: movimentos ambientalistas apontavam a falta de estudos para proteção dos glaciares da região, além do inexistente monitoramento da distribuição e da qualidade da água disponível para a população ao redor. Segundo a Corte, que ainda multou a companhia em 7 bilhões de pesos chilenos (R$ 48 milhões), não foi constatada viabilidade de funcionamento seguro da mina, o que justifica um encerramento definitivo e não uma simples suspensão parcial do projeto. Em La Tercera.
Há 50 anos na última terça (15), onze dias após as eleições vencidas pelo socialista Salvador Allende, o então presidente dos EUA, Richard Nixon, pediu que seu país evitasse que ele assumisse o poder. O plano deu errado, mas, três anos mais tarde, o mesmo Allende morreria dentro do Palácio de La Moneda, em Santiago, sob uma chuva de bombas que levantaria uma espessa fumaça e mergulharia o país nos anos da ditadura comandada por Augusto Pinochet, com grande apoio norte-americano. O envolvimento direto dos EUA nas ditaduras da região é notório, sobretudo por todo o material disponível sobre a Operação Condor, que marca o tamanho da influência de Washington nos anos de chumbo na América Latina, mas o documento de 1970 tem grande valor histórico por ser “o único registro conhecido de um presidente dos EUA ordenando um golpe secreto para derrotar um líder eleito”. Ainda que haja suspeita de ação semelhante em incontáveis outros casos, as aberturas de registros da Inteligência estadunidense confirmando a ação direta dos presidentes é raríssima. O histórico memorando, parte de uma série de documentos sobre o Chile que vêm sendo desclassificados desde a década de 1990, foi objeto de análise de Peter Kornbluh, responsável pelo Arquivo de Segurança Nacional da George Washington University, replicado em espanhol pelo Ciper.
COLÔMBIA 🇨🇴
Uma cadeira vazia foi a forma nada sutil que o governo de Bogotá encontrou para protestar contra o presidente Iván Duque após a resposta violenta da Polícia Nacional aos protestos da semana passada (leia mais no GIRO #47), que matou pelo menos 14 pessoas na capital do país. A prefeita, a progressista Claudia López, organizou um evento em homenagem às vítimas no último domingo (13), e a ausência do presidente foi assinalada por uma cadeira vazia com seu nome sobre o palco. A silla vacía tornou-se um símbolo colombiano para indicar que alguém é indiferente ou contrário ao debate sobre um tema importante, desde o fracasso das tentativas de negociações de paz com as FARC no fim do século passado: em 1999, o então líder da guerrilha, Manuel Marulanda, não compareceu a um encontro com o presidente da República, Andrés Pastrana (1998-2002), inaugurando o símbolo. Na BBC.
“O sequestro foi um grave erro do qual não podemos fazer nada além de nos arrepender”. Uma nova declaração de mea culpa por parte das FARC, antes a maior e mais influente guerrilha da América Latina, gerou todo tipo de sentimentos na sociedade colombiana, ainda refletindo a indecisão ao redor do acordo de 2016 que selou a trégua entre os combatentes e o Estado (oito anos após a morte de Marulanda, citado na nota acima). Hoje um partido, que manteve a sigla ao se rebatizar de Força Alternativa Revolucionária do Comum, o grupo segue buscando reparar os mais de 20 mil sequestros ainda sob investigação e em andamento nos chamados Tribunais da Paz (sistemas de justiça transitória responsáveis por julgar os crimes cometidos durante os mais de 50 anos de conflito armado). A declaração foi dada por pelo menos oito antigos dirigentes da fase armada da guerrilha, entre eles Rodrigo Londoño “Timochenko” que, em 2016, apertou a mão do então presidente Juan Manuel Santos (2010-2018) para, ao menos em teoria, sacramentar o polêmico cessar-fogo. Em El Espectador.
Aos pulos e com cantos alegres como uma hinchada comemorando um gol, indígenas das etnias Misak, Nasa e Pijao derrubaram a estátua do colonizador espanhol Sebastián de Belalcázar, como forma de protesto contra a violência que sofrem enquanto povos originários. Com gritos denunciando o genocídio “físico e cultural” da população nativa, o grupo de mais de 5 mil pessoas da cidade de Popayán, em Cauca, não encontrou resistência nem da polícia – o que, em especial nos últimos dias, é também um fato a se exaltar. A derrubada do monumento segue uma tendência mundial, ainda tímida na América Latina, que busca apagar linhas tortas escritas pelos que triunfaram na história às custas de muito sangue derramado. O caso de Belalcázar, que veio em uma das primeiras expedições de Cristóvão Colombo e é conhecido por ser um dos fundadores de Quito, capital equatoriana, é ainda mais chamativo: ele chegou a ser condenado à morte em 1551 por, entre coisas razões, maltratar nativos. O protesto, porém, não foi apoiado pelo prefeito de Popayán, que prometeu restaurar a estátua e até dar um prêmio em dinheiro a quem denunciar os responsáveis por derrubá-la. Em resposta, foi criada uma campanha de apoio aos manifestantes, em que várias pessoas aparecem tirando fotos com os dizeres “alcade, fui yo” (“prefeito, fui eu”). Leitores deste GIRO também denunciaram comentários ofensivos de jornalistas de uma rádio colombiana que noticiou o ocorrido. No 20Minutos.
Una palabra:
Arbolitos – são pessoas que, como árvores, ficam paradas pelas ruas do centro turístico de Buenos Aires, oferecendo serviços de compra e venda de moeda estrangeira pela cotação (sempre mais salgada) do mercado paralelo. Ver esse serviço é também um indício de que o câmbio não vive seus melhores dias, como acontece agora (leia mais na seção do país). Mas por que árvores e não estátuas? Bom, verde é a cor do dólar, a principal moeda vendida pelos caricatos inertes – ainda que, no país, o nome dado à moeda estrangeira negociada clandestinamente seja dólar blue.
COSTA RICA 🇨🇷
As restrições de circulação da pandemia foram um baque para muitos setores da economia, mas certamente não para quem está disposto a cometer fraudes: na fronteira da Costa Rica, redes que comercializam documentos falsos para nicaraguenses tentando emigrar intensificaram seus trabalhos nos últimos meses. Nesta semana, a polícia da Nicarágua prendeu três pessoas envolvidas em um desses esquemas, que lucravam oferecendo “soluções” a quem, antes da pandemia, circulava livremente para trabalhar do outro lado da fronteira e agora busca uma maneira de vencer as restrições. Segundo dados oficiais do governo costarriquenho, desde o fechamento das fronteiras em março até a última terça (15), mais de 19,6 mil pessoas tiveram o ingresso no país rejeitado, 97% delas vindas da Nicarágua. No Confidencial.
CUBA 🇨🇺
Há 60 anos na sexta-feira (18), só um ano após o triunfo da revolução pelas ruas de Havana, Fidel Castro chegava à cidade de Nova York (pela qual já havia se encantado durante sua lua de mel, 12 anos antes) para discursar na Assembleia Geral da ONU de 1960. Com direito a um encontro amistoso com Malcom X, um monólogo histórico de quatro horas e afagos ao então líder soviético Nikita Kruschev, o símbolo do temor capitalista na América Latina desfilava pelo centro nervoso do imperialismo, um paradoxo histórico que rendeu bons registros. Na época, Fidel ainda não havia feito a famosa declaração segundo a qual Cuba passaria a operar sob um regime socialista, algo que ocorreria sete meses mais tarde, em 16 de abril do ano seguinte.
O presidente Miguel Díaz-Canel homenageou, na quarta (16), o aniversário do médico cubano Landy Hernández, que há mais de ano centraliza os esforços da diplomacia da ilha na tentativa de um resgate humanitário: em abril de 2019, Landy e Assel Herrera, dois dos enviados por Cuba para uma missão no Quênia, foram sequestrados quando se dirigiam ao hospital onde trabalhavam, próximo à fronteira com a Somália. Díaz-Canel recebeu familiares de Hernández e reforçou que Havana segue em contato com o governo queniano em busca de respostas sobre o misterioso caso. Os profissionais de saúde teriam sido raptados pelo grupo radical islâmico Al Shabab. No Vanguardia.
EL SALVADOR 🇸🇻
Mais uma ordem de captura contra o ex-presidente Mauricio Funes (2009-2014) foi emitida nesta semana, novamente relacionada à acusação das negociações de trégua com as gangues do país, ocorrida em 2012. É a sexta ordem do tipo que pesa contra Funes, que desde 2016 vive asilado na Nicarágua, onde inclusive recebeu a cidadania. O controverso tema dos supostos acordos com as pandillas salvadorenhas, em um esforço desesperado para reduzir a criminalidade, não tem fim: como contamos no GIRO #46, mesmo o atual presidente Nayib Bukele, que se elegeu denunciando essas negociações, agora é acusado de ter feito algo similar após chegar ao poder. Na CNN.
EQUADOR 🇪🇨
Após o impedimento do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) de tentar concorrer nas eleições de 2021 na condição de vice, ainda por conta do escândalo de subornos que o condenou a oito anos de prisão e o levou a se exilar na Bélgica, sua chapa anunciou um substituto: o jornalista e empresário Carlos Rabascall, 59, natural de Guayaquil. Rabascall, que nunca ocupou cargo eletivo, é vinculado com empresários e conhecido por trabalhar na Ecuador TV, canal público do qual se afastou em 2017, em protesto contra o que alegou ser uma interferência do atual presidente, Lenín Moreno, sobre a cobertura do noticiário – Moreno é ex-apadrinhado do próprio Correa e acabou se tornando seu ferrenho adversário. Se a chapa for ratificada, Rabascall será companheiro de chapa do economista Andrés Arauz, ex-ministro de Conhecimento e Talento Humano de Correa. Em El Universo.
GUATEMALA 🇬🇹
O presidente Alejandro Giammattei testou positivo para covid-19, segundo confirmou o governo na sexta (18). A última aparição pública do presidente havia sido em 15/9, durante sessão solene para comemorar os 199 anos da Independência, e agora todos os ministros e outros funcionários do alto escalão que participaram do evento estão sob recomendação de também se isolar, por precaução. Giammattei é o quinto mandatário latino a confirmar oficialmente ter contraído o coronavírus, depois de Juan Orlando Hernández (Honduras), Jair Bolsonaro (Brasil), Jeanine Áñez (Bolívia) e de Luis Abinader (República Dominicana), que adoeceu antes de tomar posse, ainda durante a campanha eleitoral deste ano. Na Prensa Libre.
A Bélgica devolveu, na segunda (14), uma máscara de jade do período pré-hispânico que havia sido roubada por traficantes internacionais. A peça, datada entre os anos 600 e 900 d.C. (entre seis e nove séculos antes da chegada dos europeus), havia sido confiscada em Bruxelas em 2008. Após a confirmação da autenticidade e anos de litígio, os belgas realizaram a entrega em uma cerimônia na Embaixada da Guatemala na capital europeia. A relíquia, que deverá ser repatriada em breve, representaria Chaac, o deus maia das chuvas e trovões, e é proveniente da região de Petexbatún, no norte do país. Na DW.
Un clic:
HAITI 🇭🇹
Os protestos seguiram pelo país nesta semana, englobando desde a reclamação de longa data da polícia por melhores condições de trabalho até mobilizações estudantis denunciando a falta de professores na retomada das aulas em meio à pandemia. Enquanto o presidente Jovenel Moïse pede diálogo, lideranças sindicais falam cada vez mais abertamente que o país vive um momento semelhante à época da ditadura. Governando de forma quase autocrática desde que os mandatos do Parlamento chegaram ao fim no início do ano e não foram renovados devido à não realização das eleições em 2019 (como contamos no GIRO #13), o presidente diz que deseja novas eleições no ano que vem, mas setores da oposição e membros do antigo Conselho Eleitoral Provisório temem que um pleito organizado por Moïse não seja disputado em condições justas, atuando como uma manobra para legitimar o governo. A oposição promete novos protestos cobrando a renúncia de Moïse neste domingo (20).
HONDURAS 🇭🇳
A população garífuna, como são conhecidos os hondurenhos de ascendência africana e indígena, agora tem um portal jornalístico próprio (e gratuito) na internet. Esta é a promessa do Wa-Dani.com, site lançado na terça-feira (15) com o objetivo de trazer a atualidade regional através da perspectiva de uma parcela desta importante minoria, estimada em mais de 600 mil pessoas espalhadas por Honduras e pelos países vizinhos. O Wa-Dani, que na língua garífuna significa “Nosso Tempo”, quer “denunciar o que acontece em nossa comunidade, sem esquecer a notícia hondurenha, mas por ângulos que não estão nos meios tradicionais”, explica o fundador do site, Kenny Castillo Fernández, ao Criterio.
MÉXICO 🇲🇽
A criminalidade do México parece sempre encontrar uma maneira criativa de tirar proveito da desgraça do momento, amplificando-a. Durante a pandemia, denúncias de ambulâncias piratas explodiram no país: vans, muitas vezes caindo aos pedaços, que acompanham o sistema de rádio dos serviços de emergência e correm aos locais onde o atendimento é requisitado, tentando chegar antes das ambulâncias legítimas. Uma vez lá, cobram valores extorsivos das famílias desesperadas para transportar o paciente ao hospital – que, às vezes, é uma clínica particular envolvida no esquema. Em alguns casos, os farsantes chegaram a cobrar 7,3 mil pesos mexicanos (R$ 1,8 mil) pelo transporte, o equivalente a dois salários mínimos. Via AP.
Como vem ocorrendo em outros lugares do continente nesta pandemia, a devastação causada pela covid-19 no México tende a ser muito maior do que os números oficiais dão conta: entre janeiro e agosto, só a capital do país registrou mais de 30 mil mortes em excesso, ou seja, acima da média habitual de óbitos para o período – oficialmente, porém, a contagem de vítimas do coronavírus na Cidade do México sequer chegou a 9,5 mil, um descompasso de mais de 20 mil falecidos. Embora nem todas as mortes em excesso sejam necessariamente por covid-19, as autoridades acreditam que grande parte das vítimas ou tivessem complicações do vírus ou tenham vindo a óbito por outras doenças não tratadas em função da dificuldade de acessar o sistema de saúde sobrecarregado pela pandemia. O México é um dos países com a pior subnotificação da região e, mesmo assim, já registra quase 73 mil óbitos na pandemia. Em El Comercio.
O presidente Andrés Manuel López Obrador foi um dos líderes mundiais agraciados com o Prêmio Ig Nobel de 2020, na categoria “Educação Médica”. Criado como uma paródia do Nobel, o Ig Nobel costuma lembrar estudos atípicos e pouco usuais, mas também vem sendo usado para críticas políticas – neste ano, para apontar as piores respostas à pandemia. AMLO dividiu o prêmio com Jair Bolsonaro (Brasil), Boris Johnson (Reino Unido), Narendra Modi (Índia), Aleksandr Lukashenko (Belarus), Donald Trump (EUA), Recep Tayyip Erdogan (Turquia), Vladimir Putin (Rússia) e Gurbanguly Berdimuhamedow (Turcomenistão) por “usar a pandemia de covid-19 para ensinar ao mundo que políticos têm um efeito mais imediato sobre a vida e a morte do que cientistas e médicos”. No Improbable Research.
NICARÁGUA 🇳🇮
O presidente Daniel Ortega fez um pedido à Corte Suprema de Justiça para que o tribunal passe a reconhecer penas de prisão perpétua em casos que atentem contra “os direitos à vida, convivência familiar, harmoniosa e segura”. O episódio que levou o líder a sugerir uma reforma na lei, que só permite pena máxima de 30 anos, foi o assassinato de duas meninas de 10 e 12 anos, ambas vítimas de estupro, que tem comovido os nicaraguenses. O anúncio foi feito pela vice e esposa de Ortega, Rosario Murillo, que classificou o ocorrido como “crimes de ódio degradantes”. Há, porém, um contrassenso nas falas de Murillo: em 1998, ela ficou ao lado do marido quando a própria filha, Zoilamérica Narváez Murillo, denunciou Ortega por abuso sexual. Em El Nacional.
PANAMÁ 🇵🇦
Mais de cinco meses após entrar em vigor, a criticada quarentena “por gênero” finalmente chegou ao fim nesta segunda (14). Desde 1º/4, homens e mulheres só podiam sair em dias alternados para comprar produtos essenciais, e por duas horas cada. A medida foi muito questionada desde o início por expor a população trans a discriminações pela falta de definições claras sobre o “dia certo” da saída. Apesar da norma rígida que ainda valia oficialmente, a cena de homens e mulheres saindo à rua no mesmo dia há muito tempo havia deixado de ser raridade, devido aos milhares de salvo-condutos emitidos para trabalhadores de setores que já tinham voltado a funcionar. Via EFE.
O futebol pode ter voltado na América do Sul, com a retomada da Copa Libertadores nesta semana, mas no Panamá não há perspectiva: a federação local confirmou, na sexta (18), que o torneio Clausura, o campeonato do segundo semestre, está oficialmente cancelado em função da pandemia. O Apertura, na metade inicial do ano, já havia sido anulado após nove rodadas, ainda em março. A notícia caiu como uma bomba sobre o esporte local, que acreditava em uma retomada das atividades seguindo os protocolos do restante do mundo: após o anúncio, os jogadores da Seleção Panamenha, que há 26 dias estavam treinando em uma “bolha” sanitária para os próximos compromissos internacionais, abandonaram a concentração em solidariedade com os colegas cujo emprego agora está em risco. Em El Gráfico.
Un nombre:
República Federal de Centroamérica – um nome sem muito mistério na sua origem, mas com uma boa história para contar. Entre 1824 e 1839, o sonho de manter unidas as várias províncias da antiga Capitania Geral da Guatemala, que tomava toda a América Central, existiu como uma república federal. Uma série de guerras civis acabou com o projeto e rendeu o quebra-cabeça de fronteiras que hoje existe na região, mas em setembro esse passado de unidade volta à tona: Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica celebram seus dias da Independência na mesma data, o 15/9 em que a Capitania Geral, da qual todos eles eram parte, proclamou sua autonomia diante da Espanha em 1821.
PARAGUAI 🇵🇾
O país segue atento ao caso mais dantesco do ano, rebuliço até maior que a pandemia, ainda bastante controlada se comparada aos números de países vizinhos. Como contado no GIRO #47, o ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013) foi sequestrado no último dia 9/9 pelos guerrilheiros do Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP). Durante a semana, o grupo chegou a liberar um de seus funcionários, Adelio Mendoza que, por ser de origem indígena, “não era o alvo”, como o próprio grupo declarou. Adelio acabou sendo contaminado pela covid-19 depois dos dias em cativeiro. A situação de Denis, por outro lado, segue obscura e sem desfecho: familiares chegaram a dizer que cumpriram as exigências do EPP (o envio de US$ 2 milhões em donativos a 40 comunidades), mas não havia, até o fechamento desta edição, sequer uma prova de que ele segue vivo. Outra exigência feita ao governo, porém, segue pendente: a liberação de Carmen Villalba e Alcides Oviedo, líderes históricos do EPP que seguem presos. Vale lembrar: a guerrilha prometeu fuzilar o presidente caso as demandas não fossem cumpridas. Pessoas próximas de Denis, que tem 74 anos e integra o grupo de risco, também estão preocupadas porque ele não tem tomado seus remédios controlados. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
O presidente Martín Vizcarra salvou-se do impeachment na sexta (18), em uma votação tranquila no Congresso: os 87 votos favoráveis necessários para a destituição provaram-se impossíveis de obter pela oposição – apenas 32 congressistas apoiaram, diante de 78 contrários e 15 abstenções. Durante a semana, dias depois da aprovação da moção de vacância que pretendia destituir Vizcarra, o Tribunal Constitucional havia rejeitado um pedido de liminar por parte da defesa do presidente que visava travar todo o processo. A decisão colocou Vizcarra oficialmente na rota do impeachment, quase um ano depois de ele, tecnicamente, já ter sido substituído por sua então vice, Mercedes Aráoz. Na oportunidade, porém, nada foi concreto: Vizcarra havia dissolvido o Congresso e o juramento de Aráoz, que renunciou no dia seguinte, não teve efeito prático. O fracasso do impeachment confirma o que alguns especialistas peruanos já previam: apesar de o pretexto para a moção de vacância desta vez ser mais crível se comparado ao apresentado em 2019, quando deputados votaram a saída do presidente em rechaço ao fechamento do Congresso, era esperado que a casa entendesse as duras consequências de derrubar um presidente em plena pandemia. Outro fato chama a atenção (e joga os holofotes sobre o presidente da Casa, Manuel Arturo Merino, acusado pelo próprio Vizcarra de “conspirar” para chegar ao poder): o presidente, que tem mandato até o meio do ano que vem, já está de saída e prometeu não tentar reeleição em 2021. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
Tentando conquistar os votos latinos na Flórida, um estado decisivo para as eleições presidenciais de 3/11, o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, apresentou suas propostas para Porto Rico: o presidenciável indicou o fim das medidas de austeridade que pesam sobre a ilha e o perdão de parte da dívida. Biden também disse apoiar que Porto Rico se torne o 51º estado dos EUA, mas afirma que os próprios habitantes da ilha deverão tomar essa escolha democraticamente. Há motivo para tanta benevolência: o candidato lidera as intenções de voto entre os latinos na Flórida, mas tem uma fatia menor desses eleitores do que Hillary Clinton contava na mesma época em 2016 – e ela acabou derrotada por Donald Trump no estado por 1,2 ponto percentual. Os porto-riquenhos representam cerca de um terço dos votos latinos em potencial na Flórida. No Buzzfeed News.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A busca pela tumba da icônica rainha Cleópatra tem dedos dominicanos. À frente da saga desde 2005 está a arqueóloga Kathleen Martínez, que vai retomar as atividades em outubro depois da paralisação das escavações forçada pela pandemia. A história de Martínez até sua chegada ao templo egípcio de Taposiris Magna – um tributo à deusa Ísis, onde se acredita estar Cleópatra, sua “representação viva” – é inusitada: ela largou a carreira de advogada no país caribenho e se lançou a montar expedições, muitas delas autofinanciadas, para realizar um sonho de vida. Hoje a latina também ocupa o cargo de encarregada de negócios na embaixada dominicana no Cairo. Perguntada sobre sua trajetória, disse: “na República Dominicana ter ideias não é tão fácil. Muitas das pessoas próximas de mim, inclusive minha família, pensaram que estava passando por um problema mental”. Na Prensa Latina.
URUGUAI 🇺🇾
O país viveu sua primeira paralisação geral desde o início do governo Luis Lacalle Pou, em março. Foi uma greve de 24 horas na quinta-feira (17), convocada pela PIT-CNT, maior central sindical do país, e contou com adesão de funcionários públicos, professores, trabalhadores do transporte e empregados dos setores de comércio e serviços. Os manifestantes citam um estudo da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) que aponta o Uruguai como o país da região que menos investiu em políticas sociais compensatórias durante a pandemia. Embora o Uruguai ostente alguns dos menores números de contaminações e mortes por coronavírus no mundo, o país também sofreu com os efeitos econômicos da pandemia. Só no comércio, cerca de 40 mil trabalhadores desligados no início da crise ainda estão sem emprego, segundo os sindicalistas. Via EFE.
VENEZUELA 🇻🇪
Uma comissão de investigação da ONU declarou, durante a semana, que o presidente Nicolás Maduro cometeu “violações flagrantes” e manteve a repressão como “política de estado”, fato que coloca o mandatário na mira do Tribunal Penal Internacional. Segundo o documento, os crimes, que seriam equivalentes aos de lesa-humanidade, ocorreram nos últimos anos com o consentimento não só de Maduro, como também de todo o alto escalão do poder em Caracas. Mais de 3 mil opositores teriam sido presos desde 2014. Entre as denúncias também estão supostas ordens de Maduro para que a inteligência venezuelana realizasse prisões sem ordens judiciais. Especialistas consideram que o resultado da investigação possa levar tribunais internacionais a abrir investigações contra o presidente, fato inédito até agora. O governo Maduro rechaçou o que chamou de “informe fraudulento”. No Efecto Cocuyo.
O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, fez um tour em países sul-americanos durante a semana, passando por Boa Vista, capital de Roraima, além de Suriname, Guiana e Colômbia, onde deve se encontrar com o presidente Iván Duque neste sábado (19). Em solo brasileiro, Pompeo foi recebido pelo ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que o acompanhou em uma visita a um posto da Operação Acolhida, que administra os processos de entrada de imigrantes venezuelanos desde 2018. Há expectativa de que o gesto seja uma tentativa de fortalecer relações por parte de Washington, que enfrenta eleições em novembro. Durante a visita, que foi criticada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, Pompeo garantiu: “vamos tirar Maduro de lá”. Em El Comercio.
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