R. Dominicana expulsou crianças haitianas sem os pais, diz Unicef
E mais: os destaques de Argentina, Costa Rica, Equador, México e Uruguai, os países que representam a América Latina na Copa do Mundo ao lado do Brasil
A crise humanitária que se alastra nos limites entre o Haiti e a República Dominicana, os dois países que dividem a ilha caribenha de Hispaniola, teve a confirmação de uma de suas facetas mais sombrias até aqui: só este ano, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef, pelo menos 1,8 mil crianças haitianas desacompanhadas dos pais foram expulsas do lado dominicano da ilha. A informação foi divulgada pela entidade na segunda-feira (21) e jogou luz sobre uma parte da crise que, a despeito do visível aumento recente de casos de haitianos deportados, ainda carecia de novos números capazes de dimensionar o problema que estremece a relação entre as nações vizinhas.
Os relatos denunciam um cenário de abandono e desamparo, com registros de crianças e adolescentes deixadas às dezenas em centros de imigração, muitas vezes aglomeradas, sem documentação e – mais importante – sem a supervisão de um responsável. Da mesma forma, mães são vistas carregando pertences de seus filhos, mas sem a companhia das crianças. A situação virou motivo de preocupação no Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que exortou o governo dominicano a interromper as deportações diante da falta de garantias para “um retorno seguro, digno e sustentável de haitianos ao país”. A ONU recebeu respostas duras do presidente Luis Abinader, que não dá sinais de recuo em sua política anti-imigração.
Cada vez mais irredutível, o mandatário dominicano classificou no mesmo dia de “inaceitáveis e irresponsáveis” as críticas do órgão multilateral, defendendo que cada país cuide de seus próprios problemas. Um dia depois, dobrando a aposta, emitiu um decreto que reforçou a logística de deportação, com destaque para a criação de uma unidade policial responsável por investigar imigrantes que vivem no que o Abinader chamou – botando mais fogo no palheiro – de “ocupações ilegais de terra”. Para além do recrudescimento de uma agenda migratória que ganha nuances de tolerância zero, Santo Domingo amplia um leque de artifícios para deixar os 360 quilômetros de fronteira cada vez mais intransponíveis: além das novas medidas, o país está construindo um muro dividindo o território insular e, mais recentemente, também intensificou os investimentos militares.
A crise atual já gera um saldo de deportações aos milhares, ainda que com possível subnotificação: estima-se que pelo menos 50 mil civis tenham sido mandados de volta ao Haiti nos últimos três meses. E, além da ONU, autoridades haitianas também têm demonstrado insatisfação diante do aumento vertiginoso do fluxo forçado de pessoas: o porta-voz do atual premiê Ariel Henry disse no último dia 16 que o governo interino em Porto Príncipe está “muito preocupado” com as deportações massivas e espera que “os direitos dos cidadãos [haitianos] sejam respeitados”. Vale lembrar: a pedra angular que faz haitianos preferirem o lado mais rico e próspero de Hispaniola é a crise social, econômica e política de níveis catastróficos que transformou o lugar onde vivem em um “pesadelo absoluto”. Nesse contexto, a diplomacia entre vizinhos minguou a seus piores dias em décadas.
Segundo o governo dominicano, a enorme entrada de haitianos gera custos exorbitantes para os cofres públicos, com destaque para as despesas com partos gratuitos nos hospitais (já que dar à luz custa caro no Haiti). Só em 2021, o custo adicional chegou a 10 bilhões de pesos (US$ 183 milhões), segundo o Ministério da Saúde; o número de mulheres nessas condições aumentou 40%. Outro elemento que entra na equação é o incremento agressivo do surto de cólera no Haiti, que voltou a preocupar em 2022 após três anos de trégua, com pelo menos 188 mortes, mais de 920 casos confirmados e outros mais de 10 mil suspeitos até o início da semana – segundo a ONU, crianças representam quase metade dos casos. Na segunda (21), a República Dominicana confirmou o segundo caso da doença no país, fato que dá ainda mais munição a quem é favorável ao isolamento.
A guinada radical dos dominicanos em assuntos migratórios, somada à trágica revelação de crianças separadas das famílias, gera uma comparação inevitável: como sempre mostrado por este GIRO, é algo que se vê de tempos em tempos – e há anos – na fronteira entre os Estados Unidos e o México, o principal corredor usado por outros latino-americanos que, igualmente em desalento, tentam chegar à rica nação do Norte. Triste ironia, os próprios EUA têm visto a atual situação dominicana com preocupação: no último sábado (19), denunciando algo na linha do que relata o Unicef, a embaixada estadunidense em Santo Domingo emitiu um comunicado condenando práticas sistemáticas e até discriminatórias, especialmente contra “pessoas de peles mais escuras”. Apesar da hipocrisia, as denúncias não devem ser desconsideradas. E deixam aos dominicanos uma mensagem nas entrelinhas: se até Washington acha que os abusos estão passando do limite, é porque talvez a revisão das práticas migratórias seja mais do que urgente.
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Un sonido:
⚽🏆 DESTAQUES DA COPA
🇦🇷 Zebra histórica obriga argentinos a buscar recuperação imediata – De virada, a Argentina foi vítima, na terça-feira (22), da maior zebra da história das Copas do Mundo – ao menos segundo alguns modelos estatísticos. Segundo o grupo de análise de dados esportivos Gracenote, os 2 a 1 sofridos pela equipe de Lionel Messi (cuja situação física gerou dúvidas, mas a princípio não preocupa) diante da Arábia Saudita superaram o histórico triunfo dos EUA contra a Inglaterra no Mundial de 1950: se lá os norte-americanos tinham 9,5% de chance de vitória, agora os sauditas contavam com apenas 8,7%, conforme o modelo estatístico da empresa. Se a fórmula é questionável, a surpresa não é, e o rei da Arábia Saudita chegou a decretar feriado nacional para celebrar o triunfo – que, além de tudo, colocou fim aos 36 jogos de invencibilidade da Albiceleste, que ficou a apenas uma partida de igualar a maior série da história das seleções. Após a derrota inesperada contra a equipe tida como a mais fraca do grupo antes da Copa, a Argentina – que entrou no torneio como uma das favoritas ao título – agora busca recuperação imediata em duelo latino contra o México, às 16 horas deste sábado, e ainda enfrenta a Polônia na rodada final marcada para a próxima quarta (30).
🇨🇷 Fiasco deixa ticos por um fio no Mundial – Catástrofe. Não há outra palavra para definir a humilhante derrota sofrida pelos costa-riquenhos em sua estreia (já com cara de despedida) na Copa do Mundo: na quarta (23), a única equipe centro-americana do torneio tomou inapeláveis 7 a 0 da Espanha, no que foi simultaneamente sua pior derrota em qualquer competição (igualando um último vexame, também levando sete, quando “La Sele” perdeu um amistoso para o México em 1975) e a maior vitória espanhola na história do torneio mundial. Longe vão os dias de 2014, quando a hoje envelhecida geração de ouro costa-riquenha surpreendeu o mundo ao vencer um grupo contra as poderosas equipes de Uruguai, Itália e Inglaterra, antes de avançar para um posto entre as oito melhores seleções do mundo, nas quartas-de-final. Matematicamente, a Costa Rica segue viva na competição, mas, em função dos critérios de desempate que incluem o saldo de gols, a tendência é que esteja obrigada a vencer os dois duelos que restam: contra o Japão, neste domingo (27) e a Alemanha, na próxima quinta (1º/12).
🇪🇨 Equatorianos despacham anfitriões e são destaque latino – A seleção responsável pelo jogo de abertura do Mundial de 2022 é, também, a única latino-americana que já jogou duas vezes na Copa. Vamos por partes: no último domingo (20), coube aos equatorianos a missão de inaugurar o torneio contra o anfitrião Catar, deixando uma belíssima impressão. Foram dois gols do esmeraldenho Enner Valencia (veja a história da região natal dele no hilo desta edição), que ainda teve outro anulado. O triunfo por 2 a 0 representa também a primeira vez que um dono da casa perdeu sua partida de estreia em uma Copa do Mundo. O Catar gastou bilhões para “comprar” a condição de sede da Copa, mas não conseguiu convencer seus próprios torcedores a ficarem no estádio, vendo uma debandada geral das arquibancadas enquanto a partida ainda corria – a equipe, inclusive, acabaria se tornando a primeira eliminada de sua própria Copa, após perder por 3 a 1 para Senegal na sexta (25). Restaram os torcedores do próprio Equador, que inclusive viraram notícia duas vezes: primeiro, pelos cânticos de “queremos cerveja”, protestando contra o banimento de última hora da venda de bebidas alcoólicas para o público comum nos estádios da Copa (embora ela siga liberada nos camarotes); depois, pela abertura de um processo disciplinar por parte da FIFA, que pode punir a Federação Equatoriana por músicas homofóbicas de sua torcida – embora a entidade não tivesse qualquer problema em levar adiante o Mundial no Catar, país que persegue a população LGBTQIA+ e vem reprimindo ativamente qualquer manifestação em prol da diversidade na Copa. Já na segunda partida, na sexta (25), uma atuação superior contra a Holanda manteve a boa impressão quanto ao Equador, mas não foi premiada com a vitória: com um gol anulado por uma minúcia da regra e outra bola na trave, os sul-americanos ficaram no 1 a 1 – Enner Valencia voltou a ser o artilheiro do dia, isolando-se momentaneamente como o maior goleador de toda a Copa de 2022. Ainda sem classificação assegurada, o Equador joga com Senegal na próxima terça (29) e avança aos mata-matas sem depender de resultado paralelo se, no mínimo, empatar.
🇲🇽 ‘Cometa Ochoa’ reaparece após quatro anos – O brilho ficou todo com o goleiro Guillermo Ochoa, como costuma ser quando falamos de México e Copa do Mundo, ao menos na última década. O “interminável” arqueiro mexicano foi outra vez o destaque de seu país em uma jornada mundialista, ao defender um pênalti do polonês Robert Lewandowski, um dos maiores artilheiros da atualidade, no que de resto foi um apagado 0 a 0 na estreia dos dois países na Copa, na última terça (22). Em 17 participações no Mundial, foi apenas a segunda vez que um goleiro do México defendeu uma penalidade máxima com o jogo andando (isto é, sem contar decisões por pênalti após um empate): a outra havia ocorrido mais de 92 anos atrás, obra de Óscar Bonfiglio contra a Argentina na primeira de todas as Copas, em 1930. Com o destino totalmente aberto após o empate, os mexicanos agora encaram uma Argentina em busca de recuperação (e podem ter até um argentino de nascimento em campo) às 16 horas deste sábado. Um jogo que já começou tenso fora de campo, com cânticos da torcida do México provocando os platinos com referências às Malvinas, à inflação e à dependência química do ídolo Diego Armando Maradona. Em qualquer cenário, o time precisa da última rodada para confirmar (ou não) a classificação, e o jogo derradeiro acontece na próxima quarta (30) contra a Arábia Saudita. O México conta com uma estatística favorável: superou a fase de grupos nas últimas sete Copas do Mundo consecutivas, atualmente a segunda maior marca ativa da competição no quesito, atrás apenas das 13 do Brasil. Porém, é bem verdade que o outro lado da moeda é a “maldição do quarto jogo” – os mexicanos passavam da fase de grupos, mas nesse período sempre caíram logo em seguida, na primeira partida eliminatória.
🇺🇾 Inescrutável, Uruguai não dá pistas sobre suas chances com 0 a 0 na estreia – Duas bolas na trave, mas, além disso, muito mais transpiração do que inspiração (como convém à Celeste) marcaram a estreia do Uruguai na Copa, com um 0 a 0 diante da Coreia do Sul na quinta-feira (24). Em um grupo repleto de incertezas para a equipe sul-americana que vive um processo de renovação (embora ainda com baluartes de outros tempos, como Luis Suárez, Diego Godín e Edinson Cavani), tudo vai ficar para as próximas rodadas: na segunda-feira (28), o Uruguai encara Portugal, em um jogo com sabor de revanche para os europeus – em 2018, a caminho das quartas-de-final, os orientales derrubaram a equipe de Cristiano Ronaldo no primeiro mata-mata daquela Copa. Depois, ainda resta o duelo final contra Gana, na próxima sexta (2). Na mística torcedora, o dado da esperança: nas cinco Copas em que, como esta, o Uruguai empatou sua primeira partida, o time depois conseguiu superar a fase de grupos.
Un hilo:
MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
Milhares de pessoas reuniram-se em Buenos Aires, na quinta (24), para dar adeus a Hebe de Bonafini, uma das fundadoras e histórica líder das Mães da Praça de Maio, falecida aos 93 anos no último domingo. Cultuada por sua mobilização contra a última ditadura argentina (1976-1983), quando ajudou a coordenar a busca pelos desaparecidos políticos, nas últimas décadas ela também se tornou uma figura polêmica dentro e fora do país – por sua militância desde a redemocratização e por declarações anti-EUA, como ter dito que ficou feliz com o atentado contra as Torres Gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001. Hebe, que passou a semana sendo homenageada por uma faixa preta de luto na TV Pública da Argentina, também gerou controvérsia no contexto da Copa do Mundo – a FIFA, que não gosta de manifestações políticas relacionadas a seus eventos, exigiu que a tarja fosse removida da tela durante as transmissões de jogos. N’O Globo.
BOLÍVIA 🇧🇴
A oposição até aceitou a data, mas não suspendeu as paralisações: já são 35 dias de mobilização no departamento de Santa Cruz, mesmo com um acordo – agora, os manifestantes exigem que o Congresso coloque a promessa do governo em lei (até o fechamento desta edição, uma sessão parlamentar com trâmites acelerados tentava dar ponto final à questão, mas ainda não havia concluído os trabalhos). Pelos termos acordados, o país não vai fazer o Censo em 2023, como queriam os cruceños originalmente, mas o fará no início de 2024, entregando os resultados às autoridades eleitorais a tempo das eleições do ano seguinte, o que significa que Santa Cruz deverá ganhar assentos legislativos em função do crescimento de sua população desde o último levantamento, há uma década. Enquanto o Congresso não vota, a economia na região mais rica da Bolívia segue parada, a fronteira com o Brasil continua fechada e o governo já ajusta para baixo as projeções de crescimento do PIB no próximo ano – de 5,1% para 4,8%, segundo o novo cálculo divulgado esta semana. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
Caso comum pela região, caminhoneiros chilenos promoveram vários dias de paralisação parcial de estradas com um pedido também bastante recorrente: redução de 30% nos preços dos combustíveis, além de um congelamento provisório desse custo. Enquanto alguns setores já temem episódios de desabastecimento, o ministro de Finanças, Mario Marcel, disse que a medida mitigadora poderia custar o equivalente a R$ 13,8 bilhões, um valor muito alto para as atuais contas do Estado. O presidente Gabriel Boric diz que as manifestações “não têm fundamento”. Na Folha.
COLÔMBIA 🇨🇴
Enfim começaram, na segunda-feira (21), as negociações de paz entre o governo de Gustavo Petro e líderes da guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN), tentando dar fim a quase seis décadas de conflito armado. Uma das plataformas de campanha de Petro, o diálogo vinha sendo anunciado há tempos, e visa a “paz total” com o grupo, que além das bandeiras ideológicas também é acusado de envolvimento com o narcotráfico e o garimpo ilegal. Na sexta (25), os dois lados também anunciaram um acordo para convidar Brasil, Chile e México como países “fiadores” do diálogo. Autoridades militares adiantam que as conversas com os elenos não significam o fim das ofensivas contra grupos armados, lembrando que o caminho é difícil mesmo que o grupo em si seja desarticulado: em 2016, os históricos acordos de paz com as antigas FARC acabaram oficialmente com aquele que era o maior grupo guerrilheiro do país até então, convertendo-o inclusive em um partido político, mas guerrilheiros descontentes formaram organizações paralelas que seguem ativas ainda hoje – um conflito entre dissidências das antigas FARC, inclusive, deixou 18 mortos no início da semana, em uma suposta briga pelo controle do tráfico na região de Putumayo, no sul do país, junto à fronteira com o Peru. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
Vai de zap: mais um presidente da região que busca ampliar a presença nas redes sociais para manter o eleitorado mobilizado, o costa-riquenho Rodrigo Chaves anunciou durante a semana a criação de um grupo público de WhatsApp para “prestar contas” à população. Segundo o governo, o canal entrou em funcionamento nesta quinta (24) e será personalizado de acordo com as regiões do país, com diferentes grupos de acordo com o local de residência do usuário. Em La República.
Una palabra:
Mufa – Termo derivado de “mofo” ou “mofado”, na gíria argentina. A palavra é usada para se referir a algo que dá azar ou a uma pessoa que atrai má-sorte. Também aparece como mufado, algo como “zicado”. Na primeira rodada da Copa do Mundo no Catar, a torcida alviceleste procurou os culpados pela mufa que resultou na inesperada derrota da seleção contra a Arábia Saudita: um influencer recebeu ameaças de morte por ser pé-frio e até mesmo o ex-presidente argentino Mauricio Macri, que compareceu à partida enquanto presidente da Fundação FIFA, virou um dos assuntos mais comentados nas redes por sua macrimufa. Para os próximos jogos, “La Scaloneta” vai precisar repetir com força outra expressão popular que serve como repelente contra o azar: anulo mufa.
CUBA 🇨🇺
Com a inauguração de um novo monumento homenageando Fidel Castro (1926-2016), cuja morte fez seis anos nesta sexta (25), o presidente russo Vladimir Putin recebeu seu homólogo cubano Miguel Díaz-Canel no início da semana. Em um cenário de crescente isolamento de Moscou, Putin apontou para o passado de cooperação com Havana e comparou a “injustiça” das sanções sofridas pelos dois países. “A União Soviética e a Rússia sempre apoiaram [...] o povo cubano em sua luta por independência e soberania [...] e vemos que Cuba tem a mesma postura em relação a nós”, disse Putin. Depois da Rússia, a China: na sexta, Díaz-Canel foi recebido por Xi Jinping, com promessas de cooperação para “desenvolver o socialismo” conforme as características de cada país. Via AP.
Aos 79 anos, morreu, na terça (22), o cantor e compositor Pablo Milanés, um dos expoentes do cancioneiro cubano que mais influenciaram a música latino-americana (incluindo a do Brasil) nas últimas décadas. Visto como uma das grandes vozes da Revolução ao lado de Silvio Rodríguez, com quem colaborou e de quem depois se afastou (assim como o fez em relação ao próprio avanço do governo socialista), Milanés passou os últimos anos de sua vida em Madri, na Espanha, onde faleceu após uma internação pelo que sua assessoria definiu como “infecções recorrentes” relacionadas a um problema renal que já o havia levado a receber um transplante em 2014. Na RFI.
EL SALVADOR 🇸🇻
A guerra às gangues promovida pelo presidente Nayib Bukele agora vai incluir – literalmente – cercos militares às principais cidades do país. O governo anunciou na quarta (23) que forças policiais e o Exército serão mobilizados para formar “cordões” que impeçam a fuga dos pandilleros, classificados pelo presidente como “terroristas” durante uma cerimônia de formatura de soldados. Bukele não revelou quais cidades seriam alvo da operação. Desde março, quando um final de semana particularmente violento fez o governo decretar um estado de exceção que segue vigente até hoje, mais de 58 mil pessoas foram presas sumariamente em El Salvador por suposto envolvimento com as organizações criminosas – uma política que se tornou marca registrada da gestão Bukele, mas também acendeu alertas de organizações de direitos humanos, não só pelas denúncias de violações contra os detentos, mas também pelos inúmeros indícios de prisões arbitrárias de pessoas sem envolvimento com o crime, algumas das quais chegaram a ser mortas nas mãos dos agentes de segurança. Até junho, uma entidade da área contabilizava pelo menos 54 mortos sob custódia do Estado entre os presos sem julgamento. Na Folha.
EQUADOR 🇪🇨
Organizações feministas fizeram barulho nas redes sociais durante a última semana, unindo forças para a realização de uma passeata na sexta (25) contra o cenário da violência de gênero no país, na efeméride que marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Uma coalizão nacional composta por 21 coletivos que atuam na mesma área disse que o movimento acontece em nome “de quem não está mais aqui”, referência às vítimas de feminicídio, e também “por quem está aqui e pelo nosso direito a uma vida livre de violência”. Do início do ano até 15/11, 272 mulheres foram mortas por serem mulheres no país, superando os 197 casos registrados no ano passado, segundo a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento Alternativo (Aldea). Um dos casos mais recentes e que abalou o país foi o assassinato da advogada Maria Belén, um crime que, segundo uma resolução do Congresso da sexta-feira passada (18), é de responsabilidade do Estado equatoriano. Na teleSUR.
GUATEMALA 🇬🇹
O presidente Alejandro Giammattei agradeceu ao Congresso na terça (22) pela aprovação de uma medida que permitiu a ampliação por dois meses de um subsídio ao gás propano, tema tratado agora como de “urgência nacional”. Segundo Giammattei, o apoio social temporário vem em benefício de “milhões de famílias” e joga “a favor dos guatemaltecos”. O pagamento bimestral será de 100 milhões de quetzals (US$ 12,8 milhões) e usará um saldo do orçamento de 2022. Com índices delicados mesmo antes da pandemia, a nação centro-americana viu o drama socioeconômico se agravar durante a crise de saúde e a posterior guerra na Ucrânia. No La Hora.
HONDURAS 🇭🇳
Emergência nacional contra grupos criminosos, mas dessa vez em outro país centro-americano: a vez agora é de Honduras, que por meio da presidenta Xiomara Castro decretou na quinta (24) estado de emergência em todo o país e “guerra” contra gangues que atuam em território hondurenho. A decisão suspende garantias constitucionais, o que amplia o escopo de atuação de agentes de segurança – leia-se, carta branca para reprimir. É justamente o vazio dessas e outras garantias que geram casos de abusos aos direitos humanos, seja em El Salvador (o principal caso atual da região nesse tema) ou historicamente em outros países latinos. Segundo Castro, a medida é parte de um plano do governo para conter o narcotráfico e a prática de extorsão que “está imersa em diferentes zonas do nosso país, é uma das principais causas da migração e do encerramento de pequenas e médias empresas”, disse. No News360.
MÉXICO 🇲🇽
Uma reforma legal promovida pelo presidente Andrés Manuel López Obrador para combater a corrupção foi derrubada na quinta-feira (24) pelo Supremo do México: em 2019, AMLO havia instituído a prisão preventiva sem direito a aguardar julgamento em liberdade para uma série de crimes, com foco naqueles de colarinho branco, incluindo fraude e evasão fiscal. Até então, mesmo sem a instituição da fiança, era possível que os suspeitos se comprometessem a não viajar e utilizassem uma tornozeleira eletrônica, o que deve voltar a ser a norma após a decisão desta semana. A Justiça entendeu que a prisão no aguardo do julgamento é equivalente a estabelecer uma punição sem qualquer sentença, contrariando a Constituição. López Obrador classificou a decisão do Supremo como um “dia ruim para o Poder Judicial” e “uma vergonha” que “protege” os mais ricos. Via AP.
Un clic:
NICARÁGUA 🇳🇮
O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) denunciou na quinta-feira (24) que o sociólogo, analista político e escritor Óscar René Vargas, ex-assessor e antigo aliado do presidente Daniel Ortega, virou alvo de uma denúncia judicial no mínimo controversa, apresentada pelo Ministério Público um dia antes: consta que a decisão do MP, recheado de colegas do orteguismo, sequer menciona o suposto crime cometido pelo hoje crítico do governo, de 76 anos, que também foi detido essa semana. Segundo a Cenidh, que detalhou as frágeis condições de saúde de Vargas, “denunciar é um direito, reprimir é um crime”. Nada de novo sob o sol, diga-se de passagem: nos últimos anos, há uma longa lista não apenas de abusos judiciais contra inimigos do governo, mas também contra figuras que, em tempos passados, militaram ao lado de um Daniel Ortega hoje transfigurado em um autoritário intransigente. Via EFE.
PANAMÁ 🇵🇦
Passando pano? Os EUA, agora, querem que o Panamá seja retirado das listas de paraísos fiscais e deixe de ser visto como um “lugar onde se esconde dinheiro”, declarou na terça (22) a nova embaixadora estadunidense, Mari Carmen Aponte. Segundo a nova autoridade, Washington não tem “nenhum interesse” em ver o país do istmo com uma fama tão indigesta – ainda que não sejam poucos os escândalos envolvendo atividades financeiras para lá de obscuras. A nação tampouco é bem vista fora de suas fronteiras: atualmente, integra a chamada “lista cinza” do Grupo de Ação Financeira (Gafi) e também figura entre os “paraísos fiscais”, segundo a União Europeia. Sem dizer exatamente como, Aponte disse que os EUA vão tentar ajudar o governo panamenho a mudar essas classificações. Via AFP.
PARAGUAI 🇵🇾
Antonio Fretes, presidente da Corte Suprema do Paraguai, afastou-se do posto “por tempo indeterminado” na segunda-feira (21). Embora a alegação oficial de Fretes seja a necessidade de licença para tratar da própria saúde, o movimento vem poucos dias após vir a público que seu filho, Amílcar Fretes Escobar, teria recebido propina para ajudar um narcotraficante brasileiro – que havia sido alvo, aliás, das investigações conduzidas pelo promotor Marcelo Pecci, assassinado em maio deste ano na Colômbia, em um atentado com fortes indícios de envolvimento de organizações criminosas internacionais. Manifestantes se reuniram em frente à casa do ministro para protestar na quinta (24), exigindo que, mais do que um afastamento do comando do Supremo, ele também renuncie inteiramente ao seu lugar na Corte. No Infobae.
PERU 🇵🇪
Sem voto: na quinta-feira (24), o Congresso peruano se negou a colocar em discussão a “questão de confiança” proposta pelo Executivo, no que havia sido interpretado como uma manobra do governo Pedro Castillo para contra-atacar os legisladores após meses de acosso político e judicial. O Tribunal Constitucional (TC), mais alta corte do país, também entendeu que a questão era “infundada”, e não haveria sentido para convocar uma votação do tipo. A decisão do TC é particularmente relevante porque esvazia, ao menos aos olhos da Justiça, o argumento utilizado originalmente pelo governo, de que a simples decisão do Congresso por não votar o tema já seria interpretada como uma recusa na prática – pela lei, a primeira rejeição derruba o gabinete ministerial, mas na segunda vez que isso ocorre o presidente pode dissolver o Parlamento. Apesar da decisão do TC, o Executivo segue no ataque: manteve sua interpretação original de que o não-voto significaria uma primeira recusa e, na sexta (25), Castillo aceitou a renúncia do primeiro-ministro Aníbal Torres (que já era o quarto a ocupar o cargo até aqui), iniciando o processo de remontagem do gabinete, que em condições normais seria obrigatório nesse cenário. No lugar de Torres, foi anunciada Betssy Chávez, que até aqui ocupava a pasta de Cultura – não sem polêmica, pois Chávez é investigada por tráfico de influência. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
Há pouco mais de cinco anos, em setembro de 2017, Porto Rico foi devastada pelo furacão María – que deixou milhares de vítimas, estragos bilionários e cicatrizes que ainda não sararam na população local (entenda a dimensão do problema aqui). Falando de uma ilha que “não existe mais”, um grupo de 20 artistas porto-riquenhos lançou uma exposição no Museu de Arte Americana Whitney, em Nova York, que os organizadores consideram a maior já dedicada a trabalhos da ilha em mais de meio século. “Não existe um mundo pós-furacão”, o título da exibição, vem exatamente da sensação de que o desastre deixou uma realidade nova que se perpetuou por lá: “os porto-riquenhos não podem se dar ao luxo de pensar fora do furacão. Tudo é uma consequência do desastre”, diz Marcela Guerrero, a curadora da exposição. Na CNN.
URUGUAI 🇺🇾
Como você já leu neste GIRO, enquanto tiver bambu, tem flecha: é mais ou menos por aí que se desenrola a crise envolvendo Alejandro Astesiano, o ex-chefe da segurança pessoal do presidente Luis Lacalle Pou. A cada semana, um novo desdobramento: preso por liderar um amplo esquema de falsificação de documentos envolvendo uruguaios e russos, Astesiano, que tinha acesso a toda uma estrutura de poder em função do cargo que exercia (e chegou até a usar sistema de câmeras de Montevidéu para operar seu negócio fraudulento), foi além, indicam novas investigações: mensagens trocadas entre o artífice da trama e um empresário argentino mostram que o ex-chefe da segurança supostamente negociava o envio de contatos da área de inteligência e um programa para invadir celulares. O novo capítulo foi tão preocupante que levou o governo Lacalle Pou a mais uma vez se explicar, desta vez, na segunda (21), diante de uma comissão do Senado. A oposição segue endurecendo as críticas. Via Télam.
VENEZUELA 🇻🇪
Após mais de um ano, a mesa de diálogo entre o governo Nicolás Maduro e a oposição (ainda) liderada por Juan Guaidó deve ser retomada neste sábado (26), anunciaram as duas partes durante a semana. Em setembro de 2021, as históricas conversas foram reiniciadas no México – que volta a sediar as negociações agora –, mas logo acabaram interrompidas como retaliação após Maduro ver um aliado extraditado para os EUA. Se a conversa do ano passado já era marcada por um momento de fragilidade dos oposicionistas, hoje o chavismo chega ainda mais forte: com uma onda de governos à esquerda ganhando eleições na América do Sul e com o próprio Maduro se vendo reabilitado junto à comunidade internacional, agora que o petróleo venezuelano voltou a ser visto como uma alternativa “aceitável” em meio à crise energética vivida pelos países do Norte em função da guerra na Ucrânia. A oposição diz que busca “acordos tangíveis” em temas como o respeito aos direitos humanos e garantias para “eleições livres e observáveis”, enquanto o governo afirma estar atrás de um acordo que resolva as crises humanitárias que atribui às sanções e ao bloqueio sofrido pela Venezuela no sistema financeiro internacional. Via AFP.
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