🇭🇹 Premiê vai ao Quênia para viabilizar missão internacional e eleições no Haiti
Sob pressão, primeiro-ministro Ariel Henry visita pessoalmente país africano em busca de destravar envio de policiais a Porto Príncipe. Pela primeira vez, possível data de eleições é mencionada
Em uma semana que teve de tudo – desde a ONU novamente pedindo milhões de dólares para ajudar o Haiti a uma nova onda de sequestros de figuras religiosas –, destaque para a viagem do premiê Ariel Henry ao Quênia, onde chegou na quinta-feira (29). Em Nairóbi, o primeiro-ministro haitiano buscou destravar o envio de policiais a Porto Príncipe, medida prometida há mais de quatro meses pelo governo queniano, mas que vem sendo barrada por um pedido da oposição, que encontrou guarida na Suprema Corte daquele país.
Em outubro passado, o Quênia aceitou liderar uma missão de segurança, aprovada pela ONU, que previa o envio de pelo menos mil agentes ao Haiti. A medida foi abraçada com entusiasmo por Henry, que desde 2022 implora por algum tipo de suporte internacional na tentativa de estabilizar o país, e logo recebeu promessas de outras nações africanas e caribenhas de que também enviariam efetivos tão logo os trabalhos fossem iniciados.
O plano, no entanto, acabou adiado e finalmente barrado pelo Supremo em Nairóbi em janeiro, sob o argumento de ser inconstitucional. A Justiça do país africano entendeu que deveria haver algum tipo de acordo bilateral que previsse uma intervenção dessa espécie, algo que não existia na ocasião. A visita de Henry tentou acelerar o processo burocrático para vencer as barreiras que ainda restam ao auxílio: na sexta (1º), os tais acordos recíprocos foram enfim assinados – resta ver, agora, se serão considerados suficientes pelo Supremo do Quênia.
Além de interessar a Henry, o envio de policiais também é bem-visto pelo presidente queniano William Ruto, que fez o convite ao político haitiano para que os dois pudessem tratar do assunto pessoalmente. O premiê do Haiti vive seu momento mais conturbado no cargo, sobrevivendo (por enquanto) a uma queda de braço com forças de oposição, que exigiram sua saída do cargo no último dia 7/2, com base em um acordo firmado pelo próprio Henry no final de 2022. Em Porto Príncipe, na mesma sexta-feira em que os tratados foram acertados em Nairóbi, o líder de gangue (e autoproclamado revolucionário) Jimmy “Barbecue” Cherizier prometeu seguir lutando para derrubar o primeiro-ministro.
Não menos importante, o país também viu, pela primeira vez, a promessa de uma data para as tão adiadas eleições haitianas.
Isso porque, antes da ida à África, Henry também esteve na Guiana para participar da cúpula da Comunidade do Caribe (Caricom). O próprio líder do Haiti ainda mantém a discrição quanto ao tema, mas a promessa já foi trazida a público por um de seus interlocutores no evento: segundo o premiê das Bahamas, Philip Davis, Ariel Henry teria assumido o compromisso de convocar a população de seu país às urnas até 31 de agosto de 2025.
Ou seja, ao menos segundo o que foi discutido na Caricom, agora há uma nova data-limite autoimposta pelo primeiro-ministro do Haiti, com um prazo de 18 meses a contar desta semana. Mesmo que Henry ainda não tenha feito muito alarde sobre a data, a disposição de outros líderes caribenhos de expor o falado também traz um indício de que, mesmo entre os vizinhos, passou da hora para uma atitude ser tomada com a volta das disputas eleitorais no atribulado Haiti – o país não realiza qualquer eleição desde 2016.
A pressão feita pelos EUA, cujos interlocutores já sugerem um acerto entre partidos de oposição a Henry para que o país “restaure a paz e a segurança” o quanto antes, também deve aumentar a vigilância global para evitar que o pleito siga sendo adiado indefinidamente.
No Quênia em busca de uma missão supostamente pacificadora (e de fato apenas supostamente, já que a corporação policial queniana é acusada de cometer abusos em seu próprio país), Henry finalmente parece dar um passo mais convicto na tentativa de estabilizar o Haiti de modo a convocar um pleito nacional – responsabilidade que vem empurrando com a barriga nos dois anos e meio desde que assumiu o poder após o assassinato do presidente Jovenel Moïse.
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🌎Bukele e Milei são tietados em evento trumpista nos EUA – Os editores do GIRO já te contaram em uma parceria com a Agência Pública que o CPAC, sigla para Conservative Political Action Conference, é um evento conhecido por amalgamar a causa direitista nas Américas. Ele aconteceu novamente no último sábado (24) e, apesar de ter como principal pauta uma possível volta do ex-presidente Donald Trump (2017-2021) à Casa Branca, teve dois convidados alçados ao patamar de estrela entre trumpistas e ultraconservadores: os presidentes latino-americanos Javier Milei, da Argentina, e Nayib Bukele, recentemente reeleito presidente de El Salvador por mais cinco anos. Se no caso de Milei os aplausos republicanos são fruto de ideias afins no campo econômico – o próprio presidente do enfadonho evento, Matt Schlapp, revelou que já havia se encantado por Milei e sua motosserra (o símbolo dos seus cortes insanos) em anos anteriores – a tietagem a Bukele é reflexo da obsessão da direita por sua política inescrupulosa de combate a gangues, que reduziu o crime a despeito de violações aos direitos humanos, suspeitas de manipulação de dados e atropelo total das instituições (este, outro tema comentado na Pública). Além do óbvio objetivo de fortalecer alianças, a presença dos políticos ali não é um acaso: mais do que nunca, Trump está de olho em conquistar o voto latino dos EUA, e ninguém melhor do que representantes da política do subcontinente para ajudá-lo nessa missão.
🇨🇴 Colômbia se prepara para buscar tesouro bilionário no fundo do mar; caso é cercado de disputas – Dependendo apenas das condições climáticas apropriadas, deve ser iniciada a qualquer momento, segundo o governo de Gustavo Petro, uma expedição subaquática que tenta localizar os destroços do galeão San José, um navio espanhol afundado pela marinha britânica durante a Batalha de Barú, em 1708. Para além das óbvias questões históricas, os supostos valores envolvendo o tesouro contido na embarcação destruída geram uma intensa disputa internacional: estimativas falam em até US$ 20 bilhões em ouro, prata e joias, perdidos 600 metros abaixo da superfície. De acordo com autoridades colombianas, o tesouro de “valor incalculável” seria acessado por um ROV, sigla em inglês para veículos de operação remota que permitem intervenção em águas profundas, numa operação total que custaria US$ 4,5 milhões. De todo modo, dizem especialistas, a fase inicial da missão contaria apenas com o reconhecimento da zona marítima a ser vasculhada (o local exato, descoberto pela marinha colombiana em 2015, segue em segredo de Estado), além de estimativas sobre quais itens poderiam ser retirados do oceano sem afetar o ecossistema. Daí em diante, controvérsias: para além de acadêmicos que denunciam um plano “apressado”, “improvisado” e cheio de “falhas metodológicas e técnicas”, há também uma longa treta diplomática e legal ao redor do tal tesouro: se por um lado a Espanha argumenta desde 2015 ter autoridade sobre os itens do naufrágio, por se tratar de um navio que, à época, pertencia à sua Coroa (a Colômbia só se tornaria independente cem anos depois desse naufrágio), a briga maior é com a Sea Search Armada, uma empresa ‘caçadora de tesouros’ dos EUA. A firma privada alega que teria descoberto vários naufrágios – dentre os quais o San José – ainda nos anos 1980 e que, por isso, teria direito a 50% do valor total das quinquilharias valiosas, que eles avaliam em US$ 10 bilhões. Se com os pares de Madri a coisa caminha para um acordo, com expectativa de que os dois países compartilhem o patrimônio histórico, a briga entre Colômbia e Sea Search se arrasta na Corte Permanente de Arbitragem (CPA). Não menos importante é a demanda dos indígenas Qhara Qhara da Bolívia, que também declaram ter direito sobre as relíquias que, segundo eles, teriam sido retiradas pelos colonizadores de minas altiplânicas em Potosí. Em El Espectador.
🇨🇱 🇻🇪 O que se sabe sobre o ex-militar venezuelano sequestrado no Chile – A ministra do Interior do Chile, Carolina Tohá, precisou vir a público na terça (27) para desmentir rumores de veículos venezuelanos que sugeriram um possível conluio entre Santiago e Caracas para sequestrar o ex-militar venezuelano Ronald Ojeda, raptado no último dia 21 por homens fortemente armados e vestidos com uniformes da polícia. Segundo Tohá, “o esforço que o Chile tem feito para colaborar com a Venezuela visa perseguir o crime organizado, não realizar perseguições políticas”. Por mais que pareça protocolar, a declaração foi dada à medida que uma série de investigações tenta desvendar o estranho caso envolvendo Ojeda – que, até o fechamento deste GIRO, seguia desaparecido. Antigo integrante do Exército da Venezuela, o ex-tenente foi expulso em 2017 sob acusações de “conspiração” e acabou detido por quase um ano em uma prisão militar, até fugir para o Chile, sua residência nos últimos cinco anos. Recentemente, ele recebeu do governo status de refúgio no país transandino. Há pouco mais de uma semana, porém, tudo ficou obscuro quando o homem foi abordado por um grupo, que vestia os trajes da Polícia de Investigações do Chile (PDI), e foi retirado de dentro da própria casa na capital chilena vestindo apenas uma bermuda. Até o momento e ao menos de forma oficial, não há mais informações sobre o paradeiro de Ojeda, cuja família também não foi procurada pelos supostos sequestradores em troca de resgate. Segundo outros funcionários do Ministério do Interior chileno, as investigações serão mantidas em confidencialidade “para preservar a vítima e sua família”. Tudo é suspeito: conforme os dias passaram, descobriu-se que o carro usado no crime seria roubado e de placa clonada – especialistas da área de inteligência também garantem que apenas uma equipe “altamente treinada” poderia realizar tudo daquela forma. Uma das hipóteses não descartadas por órgãos chilenos é a de uma possível motivação política por trás do rapto, algo que a oposição ao governo de Nicolás Maduro, sem surpresas, tem feito questão de denunciar de forma enfática. A tese ganha força entre os críticos ao chavismo, já que o nome de Ronald Ojeda aparece na lista de 33 militares que, em janeiro, foram acusados de “traição à pátria” e até de conspirar para assassinar Maduro. Além disso, após o sequestro, um outro ex-militar venezuelano exilado no Chile teria solicitado proteção à polícia local, conforme a ministra Tohá. O caso segue à espera de novos desdobramentos.
🇨🇷 Costa Rica: Congresso aprova relatório que implica presidente em escândalo de ‘caixa 2’; impeachment é improvável – Uma longa investigação parlamentar contra o presidente Rodrigo Chaves teve seu relatório aprovado na segunda-feira (26), afirmando que o mandatário foi “autor intelectual” de um esquema de desvio de verbas para financiar sua campanha para chegar ao poder em 2022. Junto com a votação, os deputados de oposição também sugeriram que o Ministério Público realize uma análise das atas da ‘CPI’ que investigou o caso, e quebre o sigilo bancário de Chaves e de outros membros do alto escalão do governo que também tiveram papel durante a distribuição do financiamento de campanha. Apesar de aumentar a pressão sobre o presidente, a decisão desta semana ainda não significa uma denúncia criminal, nem há perspectiva de que haja força para transformá-la em um pedido de impeachment. Já Chaves disse que os trabalhos da comissão foram um “circo” e reclamou não ter sido convocado a depor ao longo dos 16 meses em que a investigação parlamentar transcorreu. No Semanario Universidad.
🇵🇪 Dengue: Peru declara emergência sanitária em 20 de 25 províncias – O governo peruano declarou na segunda-feira (26) emergência sanitária em 20 dos 25 departamentos do país em função de um aumento descontrolado de casos de dengue. A medida vale por 90 dias e, segundo autoridades, facilitará a resposta de órgãos de saúde pública à doença. Até o início da semana, segundo o Ministério da Saúde, o número total de casos confirmados foi de 31,3 mil, ao passo que 32 pessoas morreram entre janeiro e fevereiro deste ano. A estatística assusta se comparada aos valores do mesmo período no ano anterior, quando 12,2 mil casos foram registrados e 18 pessoas morreram. Responsável pela pasta em Lima, o ministro Vásquez Sánchez deu declarações fortes sobre o tema, dizendo que, “como a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia anunciado há alguns meses, 2024 seria um ano catastrófico para a América Latina em termos de dengue. A onda de calor incomum e a ausência de inverno causam cenário perfeito para a propagação da doença”, disse. Não é exatamente uma novidade o fato de mudanças climáticas se tornarem um impulsionador de problemas sanitários, como já alertado por organizações internacionais. Em 2024, a dengue tem sido um problema particular para a região, com o Brasil também colocando regiões em situação epidêmica, à medida que o fenômeno El Niño tem prolongado e intensificado altas temperaturas em toda a América Latina. Em El Comercio.
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ARGENTINA 🇦🇷
Semana nova, tensões novas: a primeira treta tomou forma logo na segunda-feira (26), quando o governador da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof, convocou, furioso, uma coletiva de imprensa para anunciar que já estava em contato com o Ministério Público para contra-atacar um decreto de Javier Milei, que determinou uma série de cortes de recursos. Segundo Kicillof, a decisão do presidente de cancelar o Fundo de Fortalecimento Fiscal da província não é algo “contra a casta” (como Milei, que se diz “outsider”, descreve de forma pejorativa os políticos tradicionais), mas sim “contra o povo da província e de todo o país”, bradou, alegando que despesas básicas indispensáveis na área da educação estão agora sob risco. O caso já havia virado problema na semana anterior, quando o alvo das canetadas de Milei foram recursos da província de Chubut, na Patagônia – o governador local, Ignacio Torres, até conseguiu reverter a decisão na Justiça, mas viu o Executivo trucar e recorrer da decisão, gerando um problema em cascata que deve seguir ruidoso. Já Kicillof promete levar o caso à Corte Suprema de Justiça (CSJ). Enquanto isso, caos aéreo, com mais de 300 voos cancelados na quarta (28) após os principais sindicatos do setor anunciarem uma greve de 24 horas – a classe reivindica aumentos salariais acima dos 12% oferecidos pelas empresas. Companhias brasileiras também suspenderam trajetos até Buenos Aires em função da paralisação.
BOLÍVIA 🇧🇴
Rumores de uma possível detenção no Paraguai do ex-ministro da Defesa, Luis Fernando López Julio, considerado um dos nomes mais influentes no governo golpista de Jeanine Áñez (2019-2020), foram desmentidos na quarta-feira (28) pelo escritório da Interpol em Assunção. Em nota, a Interpol diz que López está no país “com status de refugiado”. Por essa razão, autoridades paraguaias também não puderam cumprir uma ordem de pedido de extradição contra o ex-ministro, que entrou com um pedido de proteção junto à Comissão Nacional para os Refugiados (Conare) no último dia 19, menos de um mês após a Justiça boliviana solicitar sua repatriação. O antigo chefe da pasta da Defesa é acusado de “conduta antieconômica”, “contrato prejudicial ao Estado” e “uso de influência” num caso envolvendo a compra irregular de gás lacrimogêneo para as forças de segurança do governo Áñez – conhecidas pelo uso de violência contra civis. Em 2020, após a eleição de Luis Arce, que fez a ex-presidenta deixar o cargo que havia usurpado sem qualquer base legal, Luis Fernando López chegou a fugir para o Brasil. Em La Razón.
CUBA 🇨🇺
Mais sinais de amizade: dias após uma visita do chanceler russo Sergey Lavrov a Havana, quem foi à ilha durante a semana para demonstrar novo sinal de aproximação entre Cuba e Moscou foi Nikolái Pátrushev, secretário do Conselho de Segurança do país eurasiático. Num encontro considerado de mais alto patamar, Pátrushev foi recebido na segunda-feira (26) pelo presidente Miguel Díaz-Canel e por Raúl Castro, atual comandante máximo do Exército e líder moral da causa revolucionária. Tirando esses detalhes, a reunião teve mais do mesmo protocolo e sempre: afagos, acenos ideológicos, abraços cordiais enviados a Vladimir Putin por seu homólogo cubano e promessas de fortalecer ainda mais as relações bilaterais entre os Estados aliados. Na teleSUR.
Afagos de um lado, pedidos de auxílio do outro: pela primeira vez, Cuba solicitou ao Programa Mundial Alimentar (PMA), das Nações Unidas, ajuda com o envio de caixas de leite para crianças de até sete anos. A nação caribenha não se pronunciou oficialmente sobre o tema, mas o PMA destacou a “necessidade urgente” do pedido cubano em meio à “profunda crise econômica” que atravessa o país. A carta endereçada ao órgão internacional foi enviada por Havana no fim do ano passado. Até o momento, o PMA destinou 144 toneladas de leite em pó desnatado a 48 mil crianças cubanas de sete meses a três anos de idade. Este mês, o Brasil também enviou cargas de leite em pó, arroz, milho e farinha, como parte de um acordo de cooperação com Cuba e os Emirados Árabes Unidos. No El País.
EL SALVADOR 🇸🇻
Neste domingo (3), salvadorenhos completam o ciclo eleitoral de 2024, dessa vez escolhendo os representantes nas 44 prefeituras do país – que antes eram 262, mas acabaram drasticamente reduzidas após uma reforma administrativa aprovada pelo Congresso, de maioria governista, no ano passado. Além de nomes para conselhos municipais, eleitores também devem escolher deputados para o Parlamento Centro-Americano (Parlacen). Com relação à capital, com a nova configuração, o que estará em jogo no final de semana não é apenas a chefia de San Salvador, mas a administração de “San Salvador Centro”. Repaginada, a região mais importante do país conta com uma disputa entre o atual prefeito Mario Durán, do partido do reeleito presidente Nayib Bukele, e Simón Paz, do FMLN, de esquerda. Ao fechar sua campanha, Paz fez críticas ao grupo no poder, dizendo que “fazem de tudo para nos fazer desaparecer”. E o FMLN pode de fato “sumir” do jogo político caso perca a prefeitura, já que, nas eleições legislativas de fevereiro, o partido nascido da antiga guerrilha homônima não conseguiu eleger nenhum representante para a próxima Legislatura – o que não havia acontecido nas últimas três décadas. Na teleSUR.
EQUADOR 🇪🇨
Vai rolar: na terça (27), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) convocou oficialmente a população à consulta popular em 21/4, para votar sobre as reformas constitucionais consideradas cruciais pelo governo de Daniel Noboa (que enfrentou seus primeiros protestos durante a semana). O CNE fez um apelo aos votantes, pedindo que todos participem do processo que contará com um total de 11 questões – cinco sobre possíveis emendas e seis ligadas a reformas legais na área de segurança, investimento e trabalho. No país, o voto é obrigatório para cidadãos maiores de 18 anos, sendo facultativo apenas para jovens entre 16 e 18 anos e pessoas com mais de 65 anos. Mais de 13,6 milhões de equatorianos estão aptos a participar do processo, que acontece, entre outros motivos, como resposta a uma onda de violência urbana que assola o país andino desde os anos de pandemia, como já explicado por este GIRO em diversas oportunidades. No Primicias.
Una expresión:
🗿 “Devuelvan el moai” – Reeditando uma demanda bem mais antiga, a expressão se popularizou na internet nos últimos meses após o influencer Mike Milfort, um haitiano baseado no Chile, convidar seus milhões de seguidores a invadirem as redes sociais do Museu Britânico para cobrar a devolução de um dos dois moai (a conhecida estátua simbólica para o povo Rapa Nui, na Ilha de Páscoa) que está sob o poder do museu em Londres desde 1868, quando uma expedição marítima passeou pelo Pacífico para roubar relíquias. Tão robustos foram os ataques que o próprio museu precisou trancar os comentários no Instagram. Apesar da reivindicação numerosa, é improvável que o moai volte à ilhota polinésia de onde foi saqueado: ainda que se digam abertos ao “debate”, os próprios britânicos garantem que a mudança de endereço do artefato de mais de quatro toneladas (saiba como ele se chama em Un nombre) esbarra em questões legais.
GUATEMALA 🇬🇹
Um tribunal condenou a quase oito anos de prisão na quarta-feira (28) um grupo de seis militares pela participação que tiveram na morte de indígenas da etnia maia k'iche, reprimidos pelo Exército enquanto protestavam por melhorias sociais em 2012. O caso ficou popularmente conhecido como “Massacre do Cume do Alaska” devido ao clima frio que se registra no trecho entre os departamentos de Totonicapán e Sololá, onde tudo ocorreu. Para muitos grupos, o episódio é visto como a primeira grande matança de pessoas originárias por parte de forças de segurança do Estado desde o final da Guerra Civil (1960-1996), período em que milhares de civis indígenas foram sistematicamente assassinados por militares de extrema-direita, especialmente nos anos 1980. A decisão, no entanto, desagradou a defesa e familiares das vítimas, que prometeram recorrer da sentença por considerarem brandas as punições determinadas durante a semana. Além disso, a despeito das primeiras condenações, a mesma corte absolveu um coronel e outro soldado que respondiam a acusações de “execução extrajudicial”. Em anos anteriores, o coronel em questão, Juan Chiroy, havia sido responsabilizado pelo Ministério Público por ordenar que agentes disparassem contra os manifestantes – agora, no que já se considera como uma reviravolta judicial, o tribunal absolveu o militar alegando falta de provas. Na Prensa Libre.
HONDURAS 🇭🇳
O julgamento do ex-presidente Juan Orlando Hernández nos tribunais dos EUA prosseguiu durante a semana (entenda o processo), com cada vez mais depoimentos comprometedores contra o mandatário que deixou o poder em Honduras no início de 2022. Desta vez, foram ouvidos narcos já condenados: Devis Leonel Rivera, fundador do cartel Los Cachiros e hoje cumprindo pena perpétua por tráfico de drogas, garantiu que comprou a proteção de JOH, e chegou a se referir ao antigo presidente como “meu sócio”. Outro relato bombástico foi dado pelo ex-narcotraficante colombiano Luis Pérez, que chegou a integrar o temido Cartel de Sinaloa, afirmando que deu US$ 2,4 milhões para a campanha presidencial de Hernández (Pérez, que se entregou à Justiça dos EUA em 2015, um ano após JOH chegar ao poder, cumpriu uma pena reduzida por colaborar com as autoridades e já está em liberdade). Com o cerco se fechando, JOH seguia sustentando a própria inocência e mantendo a tese de que todas as denúncias seriam uma operação de vingança dos narcos contra a sua política de combate ao tráfico. Se condenado, Hernández pode pegar prisão perpétua.
MÉXICO 🇲🇽
Eleições chegando, gente morrendo. Como infelizmente costuma acontecer à medida que processos eleitorais no México se aproximam, a violência política dá as caras: apenas na última semana, em questão de horas, dois pré-candidatos a prefeito na cidade de Maravatío, no convulsionado estado de Michoacán, foram assassinados por homens armados não identificados. O primeiro ataque cobrou a vida do médico Miguel Ángel Zavala, do partido governista Morena – um crime “covarde”, segundo descreveu o partido em um comunicado. A outra vítima é Armando Pérez Luna, pré-candidato pelo Partido Ação Nacional (PAN). Segundo o atual prefeito da cidade, “tudo aponta” para uma relação entre as mortes e a atividade dos temidos cartéis de drogas que dominam cada vez mais a região. O México realiza eleições gerais em junho, sob o fantasma de números alarmantes do processo anterior – em 2018, mais de 110 políticos foram assassinados. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Toda semana a mesma notícia. Quando não é o governo de Daniel Ortega fechando alguma entidade que considera incômoda, é um organismo multilateral condenando Ortega por isso e muito mais. Na quinta-feira (29), foi a vez de um painel de especialistas indicados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU apontar o regime nicaraguense por abusos sistemáticos que configuram “crimes contra a humanidade”. Embora não falem em nome da entidade, os investigadores avaliaram a deterioração da situação no país centro-americano a pedido das Nações Unidas, observando o recrudescimento da repressão a opositores que começou nos protestos nacionais de 2018. O governo nicaraguense diz que “não vai aceitar” as conclusões e acusa o grupo de estar agindo a serviço do imperialismo. Cada vez mais isolada, Manágua busca alianças com outros párias da geopolítica global, e durante a semana voltou a discutir cooperação com a Rússia. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
A partir de julho deste ano, a Cidade do Panamá será a sede de um novo escritório regional da Organização Internacional para as Migrações (OIM), da ONU. A entidade informou na terça (27) ao governo de Laurentino Cortizo que a capital foi selecionada como um ponto estratégico para oferecer “eficiente assistência” para a “convergência e fortalecimento das relações com os Estados-membros da organização”. Cortizo – que será sucedido por um novo chefe de Estado exatamente no início da vigência do novo posto da OIM em julho, após eleições presidenciais que acontecem em maio – recebeu a decisão com entusiasmo. A escolha não vem à toa: dentro do território do Panamá está o estreito de Darién, um corredor de selva que se tornou um trajeto comum para migrantes que saem da América do Sul em direção aos EUA – em 2023, mais de 500 mil pessoas cruzaram o local, muitas vezes em condições de extrema vulnerabilidade. Em La Estrella de Panamá.
Un nombre:
Hoa Hakananai’a – Um dos moai expostos no Museu Britânico, em Londres, leva um nome que significaria algo como “amigo perdido, oculto ou roubado”, segundo a língua nativa dos Rapa Nui. Esculpido em basalto (algo que nem sempre se repete na composição de outras estruturas famosas da Ilha de Páscoa, oficialmente parte do território chileno), foi construído entre 1000 e 1200 d.C. e tem marcas rupestres na parte traseira que seriam ligadas a tangata manu, ou “homem-pássaro”, alegoria religiosa conhecida por dar nome a uma competição anual que cultua essa mesma entidade.
PARAGUAI 🇵🇾
A briga em torno da destituição da senadora Kattya González não tem data para acabar. Durante a semana, políticos favoráveis ao retorno da representante ao seu assento tentaram organizar uma sessão extraordinária, mas, na quinta (29), o grupo fiel ao ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018) – o mandamás da política paraguaia ainda hoje – conseguiu barrar a votação. Vale recapitular: em 14/2, governistas removeram González do posto sem contar com votos suficientes para isso, desrespeitando uma regra que os próprios cartistas (como são chamados os seguidores de Cartes) tinham colocado em vigor. Opositores apontam que a mira voltada a Kattya González foi mais uma forma de silenciar uma das raras dissidências barulhentas ao governo atual na Casa, e desde então vêm tentando reverter a decisão tomada à revelia na metade de fevereiro. Desta vez, embora apoiadores da causa de González acreditassem ter votos suficientes, o boicote dos senadores cartistas e simpatizantes garantiu que não houvesse quórum para realizar a sessão. Os debates e negociações devem continuar. No ABC Color.
PORTO RICO 🇵🇷
Donald Trump não vai reduzir os fundos que Porto Rico tem a receber das agências federais dos EUA. Ao menos, é o que acredita o governador Pedro Pierluisi, comentando na segunda-feira (26) sobre o que implicaria para a ilha o retorno do republicano à Casa Branca, uma hipótese cada vez mais plausível. Pierluisi afirma que os compromissos já estabelecidos no passado não correm risco, e confia que não seriam impostos novos obstáculos para obter outros financiamentos no futuro. Tranquilizar sobre o tema é assunto caro ao governador, ele próprio em uma corrida eleitoral: ainda enfrentando primárias dentro do seu Partido Novo Progressista (PNP), Pierluisi por enquanto aparece à frente nas pesquisas na comparação com Jenniffer González, sua principal concorrente na sigla. Caso seja confirmado como nome do PNP, ele depois passará às eleições propriamente ditas, que ocorrem na mesma data do pleito dos EUA, quando Trump também tenta voltar ao governo em Washington: tudo se desenrola em 5/11. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Às vésperas de tentar uma reeleição que as pesquisas indicam como quase certa, o presidente Luis Abinader fez, na terça-feira (27), a última prestação de contas de seu atual mandato. Eleito em 2020, no que à época foram as primeiras eleições latino-americanas realizadas sob pandemia, Abinader conseguiu manter altos índices de popularidade durante o período de recuperação econômica que se seguiu à crise sanitária – o país tem grande dependência do setor turístico, que viveu suas maiores dificuldades antes da posse de Abinader – e pela política radical que adotou na fronteira com o Haiti, inclusive erguendo um muro. “A República Dominicana não é a mesma de quatro anos atrás. A mudança é uma realidade irreversível”, afirmou o presidente no discurso desta semana, em tom eleitoreiro. O pleito presidencial acontece no dia 19/5. Em fevereiro, outro indício de que Abinader chegará favorito: seu Partido Revolucionário Moderno (PRM) dominou as eleições municipais. Via AFP.
URUGUAI 🇺🇾
Árbitros querem mais proteção. Foi o que disse, na terça (27), a Associação Uruguaia de Árbitros de Futebol (Audaf), ao solicitar a ampliação de medidas de segurança por meio de um ofício enviado à Associação Uruguaia de Futebol (AUF), a ‘CBF’ do paisito. Dirigentes da Audaf cobram, entre outras coisas, a presença de contingente policial em jogos com histórico de alto risco de confronto entre torcedores, além de custódia do Ministério do Interior para determinados eventos. A demanda dá destaque aos jogos do Club Atlético Cerro, de Montevidéu, após um incidente no último final de semana: num jogo em que o Cerro perdia fora de casa por 5 a 0 para o Defensor, um membro da equipe de arbitragem foi atingido por um objeto (arremessado por um torcedor visitante) e sofreu um corte na cabeça. Após o atendimento, a partida foi suspensa e gerou enfrentamentos nas arquibancadas. O Cerro lamentou o ocorrido em nota publicada nas redes sociais e prometeu tomar providências. No Subrayado.
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