Porto Rico: furacão Fiona reabre feridas de crise elétrica
Eleições: personalidades latinas fazem apelo a Ciro Gomes | Cuba vai às urnas por direitos LGBTQIA+ | Dois terremotos atingem o México | Paraguai: mesmo com acordo, segue impasse com caminhoneiros
O evento climático que vem deixando um rastro de destruição na ilha de Porto Rico nos últimos dias segue um roteiro conhecido: geralmente nesta mesma época, sobretudo em anos de La Niña, a temporada de chuvas e furacões passa pelo Caribe deixando mortos, feridos, desabrigados e milhões de pessoas sem eletricidade. No caso porto-riquenho, as coisas pioraram de fato na segunda (19), quando a tempestade tropical Fiona finalmente passou a ser classificada como um furacão, com ventos que atingiram 215 km/h. O impacto foi sentido por toda a ilha, afetando as mais de 3,3 milhões de pessoas distribuídas pelo território livre associado aos EUA – os números só começaram a ficar mais evidentes no dia seguinte, quando a Luma Energy, a controversa provedora privada de energia, confirmou que 80% dos lares e estabelecimentos já estavam no escuro. Segundo a companhia, a restauração total poderia levar “vários dias”.
Até o fechamento deste GIRO, autoridades locais haviam confirmado a morte de pelo menos oito pessoas. Tudo enquanto a população seguia em alerta diante de “inundações repentinas” e “catastróficas” que poderiam afetar diversas áreas urbanas, especialmente em locais próximos a rios e córregos, segundo informações do Serviço Meteorológico da capital San Juan e do Centro Nacional de Furacões dos EUA, responsável pelo monitoramento de crises climáticas. A falta de água potável também virou um problema. Já projetando um prejuízo “bilionário”, o governador Pedro Pierluisi pediu que a população de zonas mais afetadas pelo furacão ficasse em casa e aconselhou aqueles vivendo em áreas sob risco de deslizamentos a procurar refúgio em abrigos. Em países como El Salvador e Costa Rica, deslizamentos causados pelas chuvas sazonais deixaram pelo menos 15 mortos nos últimos dias. Na República Dominicana, outra nação caribenha varrida pelos ventos, uma pessoa morreu e pelo menos 12 mil ficaram desalojadas.
A relação entre efeitos climáticos devastadores e problemas de acesso à energia não é novidade para os porto-riquenhos. O drama ganhou nova dimensão em 2017, com a passagem do furacão María. Na ocasião, o fenômeno deixou, oficialmente, 2.975 mortos – número que, no entanto, só passou a ser considerado após investigações independentes questionarem a improvável cifra oficial de apenas 64 vítimas fatais (e mesmo o novo número é posto em dúvida, com algumas estimativas sugerindo ao menos 4,6 mil mortes). Os danos do María foram gerais: além de exigir um reparo inicial durante quase um ano, os problemas na estrutura geraram um gasto de US$ 12 bilhões em recursos federais, não sem antes levar várias autoridades em San Juan a acusar Washington de não destinar ajuda suficiente. Parte do problema também tem relação com a troca de comando na distribuição e transmissão de energia da ilha em 2021, quando a Autoridade de Energia Elétrica de Porto Rico (Prepa), até então detentora do monopólio legal no setor, passou o bastão para a Luma Energy, empresa privada que ficou incumbida não apenas de normalizar o abastecimento de eletricidade, mas também de modernizá-lo.
Essas melhorias prometidas nunca aconteceram – pior ainda, a privatização só trouxe mais problemas. Em agosto, no que foi apenas um entre tantos protestos contra a empresa, cidadãos foram às ruas pedir o rompimento do contrato de 15 anos com a Luma. Desde que a companhia assumiu o controle, o valor das contas de energia subiu 400%: quem antes pagava cerca de US$ 120 hoje paga US$ 600, ao passo que o serviço segue entregando eletricidade de forma intermitente – quando entrega. A condução dos negócios também é obscura: já acusada pela Prepa e por autoridades de faltar com transparência, a Luma se viu às voltas com escândalos de corrupção desde sua ascensão. Em novembro de 2021, um juiz de Porto Rico ordenou a prisão do CEO da companhia, Wayne Stensby, acusado de descumprir uma ordem judicial para fornecer documentos para deputados porto-riquenhos. Outro elemento que sempre jogou contra a empresa é o fato de ser uma joint venture criada apenas um ano antes de pleitear o controle da malha energética do território caribenho.
A situação se arrasta há tanto tempo que já chama a atenção de autoridades dos EUA. Na terça (20), a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, pediu às autoridades federais que investiguem a situação, mencionando a necessidade de “apoio estrutural de longo prazo para a ilha, não apenas ‘band-aids’ que nos levam de uma crise para outra”, disse. Dizendo serem pertinentes as reclamações de porto-riquenhos diante das falhas da Luma, James entende que a empresa precisa ser investigada para que cidadãos “nunca mais sejam deixados no escuro”. Representantes de ONGs da ilha também relatam uma situação de “estrangulamento” devido às falhas corriqueiras de energia. Enquanto isso, representantes da companhia seguem com um discurso sempre parecido: fazem algum mea culpa, prometem melhorias e sempre que possível culpam um cenário de “abandono” deixado pela Prepa. No começo de setembro, o governador Pierluisi exortou a Luma a parar com a transferência de responsabilidade: “estou pedindo que não ‘passem a bola’ e que cada um cumpra sua missão”. No mês anterior, ele já havia dito que não estava satisfeito com o serviço.
A tríade ‘furacão, Luma e apagões’ é tão conhecida pelos habitantes da ilha que virou tema de um outro (e mais difundido) protesto: no último sábado (17), aparecia no YouTube o clipe documental El Apagón - Aquí Vive Gente, do artista porto-riquenho Bad Bunny. Em pouco mais de 20 minutos, o cantor mistura ritmo e uma reportagem da jornalista Bianca Graulau para contar ao mundo o drama que seus compatriotas vêm enfrentando nos últimos tempos, expondo uma situação de crise que, entre outras coisas, vê o paradoxo de crianças sem luz para estudar e executivos da empresa privada ganhando milhões. Uma semana depois de ser lançado, o vídeo já tem 7 milhões de visualizações. E agora deve direcionar mais holofotes sobre uma questão latente e que parece piorar com o acirramento da crise climática.
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🌎 Personalidades latinas fazem apelo a Ciro Gomes – Ao lado do ex-presidente do Equador Rafael Correa (2007-2017), do ex-vice-presidente da Argentina Amado Boudou (2011-2015) e do argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Nobel da Paz em 1980, diversos intelectuais, políticos, escritores e antigas autoridades latino-americanas à esquerda assinaram uma carta conjunta pedindo que Ciro Gomes, candidato à presidência do Brasil pelo PDT, abra mão do pleito e facilite uma já possível vitória do ex-presidente Lula (atual favorito nas principais pesquisas) no primeiro turno. “Parece-nos que, diante de sua trajetória, você não deve entrar na história do Brasil por essa porta indigna”, diz o documento, lembrando que Ciro “sabe muito bem” que suas chances políticas são mínimas. Apesar de sequer alcançar 10% das intenções de voto em pesquisas recentes, Ciro vem sendo duramente criticado por radicalizar (apelando até mesmo a discursos conservadores) contra Lula. O petista, por outro lado, vislumbra uma vitória em turno único, orbitando a marca de 50% dos votos válidos, de acordo com alguns levantamentos – superado esse patamar, não há necessidade de uma nova votação. Leia a carta na íntegra.
🇨🇺 Cuba vai às urnas por direitos LGBTQIA+ – Vai a referendo no domingo (25) o chamado Código da Família, abrindo uma votação que definirá se os cubanos aceitam a nova lei aprovada pela Assembleia Nacional em julho e que pode atualizar o atual conceito de “família”, ampliando os direitos femininos e da comunidade LGBTQIA+ na ilha. Segundo dados oficiais, mais de 7 milhões de pessoas estão habilitadas a votar – é a primeira vez na história em que os cidadãos são consultados sobre temas do tipo. Tudo acontece em um contexto em que grupos conservadores, especialmente ligados a setores religiosos, discordam da mudança. A oposição política também vem usando a oportunidade de ir às urnas como uma forma de afrontar o governo, favorável à mudança, mesmo que na prática isso represente contrariar direitos civis. Historicamente, sem oposição real na ilha, referendos populares costumam passar suas pautas com mais de 90% de aprovação, e a expectativa parece ser menos derrubar o Código Familiar em si do que sinalizar um apoio menor à gestão do Partido Comunista. De todo modo, a mobilização pela aprovação é forte: jornal oficial do governo, o Granma publicou um texto dizendo que “para aqueles de nós que vivem nesta terra, é um passo em direção a uma sociedade mais inclusiva, mais respeitosa, que não sanciona ou censura o amor, mas que, ao oferecer igualdade de oportunidades, costura as feridas de padrões que já não cabem mais em nossos tempos”. No Terra.
🇲🇽 Terremoto volta a atingir México em um 19/9 – Uma semana não com um, mas com dois terremotos. Primeiro, na segunda (19), o registro foi de um tremor de magnitude 7,4 que atingiu o estado de Michoacán, na região sudoeste do país. O fenômeno foi registrado em uma profundidade de 15 quilômetros perto de La Placita de Morelos, mas deixou uma vítima em um local mais distante: a morte ocorreu na cidade costeira de Manzanillo, estado de Colima, a cerca de 100 quilômetros do epicentro, após o colapso de um prédio. O primeiro dos dois terremotos também marcou uma trágica efeméride: foi exatamente em 19 de setembro que o país sofreu com outros dois eventos similares, em 1985 e 2017, abalos que deixaram mais de 5 mil e 370 mortos, respectivamente. Na quinta (22), outra vez: ainda que com menor intensidade (6,8 na escala Richter), o segundo terremoto da semana deixou pelo menos duas pessoas mortas, desalojou mais de 3 mil e causou danos materiais em diversos locais. No Animal Político.
🇵🇾 Apesar de acordo, segue impasse com transportistas – Até teve acordo, mas os transportistas seguem mobilizados: depois de o governo pacificar a última rodada de protestos pela alta dos combustíveis na sexta passada (16), prometendo enviar ao Congresso uma medida que busca baixar os preços da gasolina e do diesel, a demora de senadores em analisar o texto voltou a colocar a pulga atrás da orelha na categoria. A manobra legislativa é necessária já que mexer nos preços oferecidos pela estatal Petropar na canetada é proibido – configurando malversação de fundos e podendo “afetar o patrimônio da companhia”, diz o governo. A proposta inicial é de baixar o preço em 560 guaranis (cerca de R$ 0,42), valor que, por enquanto, satisfaz os grevistas. Mas, até lá, os caminhoneiros seguem a postos: nesta sexta (23), o dirigente dos transportistas da localidade de Tobatí, Darío Toñánez, exigiu uma resposta rápida ou a volta das mobilizações com um timing terrível para o governo – o próximo dia 1º/10, quando Assunção começa a receber os Jogos Sul-Americanos. “Da forma que seja, vamos colocar muita gente lá” se nada mudar, ameaçou Toñánez, que diz falar em nome de 16 associações que incluem, além dos caminhoneiros, motoristas de táxi e motociclistas de delivery. Mesmo com a lei, os transportistas já diziam que só esperavam “respirar” de fato em outubro, quando mais baixas nos preços estão previstas mediante uma renovação de estoque na Petropar – para o próximo mês, a expectativa é que o preço caia um total de 1 mil guaranis (cerca de R$ 0,75) por litro. Via EFE.
🇻🇪 Comissão da ONU faz novas denúncias contra Maduro – A Missão Internacional Independente estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar crimes de lesa-humanidade cometidos pelo Estado venezuelano divulgou um novo relatório na terça-feira (20), trazendo mais detalhes sobre como os órgãos de inteligência sob comando de Nicolás Maduro vêm atuando na repressão aos dissidentes no país. Foram documentados 122 casos de tortura, violência sexual e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes cometidos por agentes da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) e investigados outros 51 episódios envolvendo agentes do temido Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin). Segundo o relatório, Maduro teria se envolvido diretamente na política sistemática de repressão, que não foi investigada nem processada pelo Judiciário local. No site da ONU.
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REGIÃO 🌎
O fantasma da poliomielite pode voltar a atormentar a saúde pública em diferentes pontos da América Latina, alertou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) na quarta-feira (21), citando os baixos índices de vacinação em alguns países da região. Entre os destaques negativos com alto risco de reintrodução da pólio, atualmente considerada erradicada, está o Brasil, ao lado de Peru, Haiti e República Dominicana – em um patamar abaixo, outros locais que também precisam de atenção especial nas Américas e Caribe seriam Argentina, Bahamas, Equador, Panamá, Suriname e Venezuela. Segundo a entidade, a cobertura vacinal média caiu para 79% na região, o pior nível desde 1994, com a pandemia de covid-19 tendo afetado as campanhas regulares de imunização. Via Reuters.
ARGENTINA 🇦🇷
A Secretaria de Comércio do governo argentino convocou comerciantes e fabricantes para uma reunião inusitada na terça-feira (20): discutir a escassez de figurinhas da Copa do Mundo no país. Apesar da motivação aparentemente insólita, a reclamação tinha a ver com um suposto favorecimento das distribuidoras locais da Panini – que produz o álbum e os cromos – ao comércio virtual, a aplicativos de entrega e a supermercados, em detrimento das bancas de revista que tradicionalmente vendem os pacotinhos. Na reunião, este setor representado pela União dos Quiosqueiros (Ukra, na sigla em espanhol) alegou que a falta de critérios está gerando um mercado paralelo em que o produto é vendido a preços majorados, mais um sintoma da inflação rampante. “Faltam figurinhas e álbuns em todo o país”, reclamou o vice-presidente da Ukra, Adrián Palacios, dizendo que as entregas às bancas não passam de míseros 50 pacotes semanais. “Isso não é suficiente”, bradou. A Panini prometeu aumentar o controle sobre os distribuidores oficiais em solo argentino. No UOL.
Trabalhadores do setor privado de petróleo e gás anunciaram uma greve por tempo indeterminado após uma explosão em uma refinaria que matou pelo menos três pessoas na província de Neuquén, cerca de 1,2 mil km ao sul de Buenos Aires, na quinta-feira (22). De acordo com o sindicato da categoria, a paralisação é um protesto contra “o descaso com a vida e a segurança” que constantemente coloca os funcionários das empresas em situações de risco. Via AFP.
“Oportunidade histórica” afirmou o embaixador da Argentina ao oficializar o pedido do país para se tornar parte do bloco dos Brics. No grupo, formado atualmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a Argentina já conta com apoio de chineses e indianos, que possuem acordo com Buenos Aires para venda de armamentos avançados. O grupo representa as economias emergentes mais importantes do início do século, 40% da população mundial, quase um quarto da economia global e são responsáveis por mais de um terço da produção de cereais. No Valor.
BOLÍVIA 🇧🇴
Nos EUA para a Assembleia Geral da ONU, o presidente Luis Arce voltou a falar das relações diplomáticas entre a Bolívia e os norte-americanos, dizendo não ver um fim próximo para um impasse que persiste há mais de década entre os dois países: a ausência mútua de embaixadores. No último dia 10, completaram-se 14 anos da declaração de “persona non grata” feita pelo então presidente Evo Morales (2006-2019) contra o embaixador estadunidense Philip Goldberg, que deixou o país quatro dias depois. Depois viria a resposta dos Estados Unidos, com a retirada do embaixador boliviano naquele país, Gustavo Guzmán. No final de 2011, foi assinado um acordo para a normalização das relações, em que foi enfatizado o “respeito mútuo” e até a possível reposição de embaixadores, o que não se concretizou. Segundo Arce, a atuação dos EUA no golpe boliviano de 2019 voltou a azedar de vez a relação: “é um país com o qual podemos conversar temas comerciais e outros, mas definitivamente não vamos ter embaixadores”, reafirmou o mandatário a um veículo russo nesta semana. Em La Razón.
CHILE 🇨🇱
Um novo processo para mudar a Constituição é apoiado por 76% dos chilenos, revelou no domingo (18) uma nova pesquisa do Cadem, divulgada apenas duas semanas após a vitória do “rechaço” – que, de forma categórica, minguou o plano de substituir a Carga Magna em 2022. A mesma pesquisa mostrou que 49% dos chilenos dizem acreditar que a realização de um novo processo deve ser definida por meio de um novo plebiscito que defina se o atual texto deve ser apenas reformado ou inteiramente substituído; outros 44% estão inclinados a um acordo político para ter a Constituição totalmente reescrita, respeitando o que se planejou desde o primeiro plebiscito sobre o tema, em 2020. O assunto foi mencionado pelo presidente Gabriel Boric durante seu discurso na ONU, na terça (20), quando declarou estar em busca de um meio termo que “orgulhe e satisfaça” a sociedade chilena. No Diario Usach.
Uma suposta “falha de segurança” detectada em e-mails da cúpula militar levou o governo a pedir a abertura de investigações criminais, além do retorno imediato da ministra da Defesa, Maya Fernández, que estava nos Estados Unidos. Na quarta (21), o Ministério da Defesa disse que o pedido de retorno de Fernández veio pela necessidade de “dar resposta a esses eventos”. Segundo o jornal El Mercurio, possíveis documentos confidenciais poderiam ter sido divulgados após a suposta invasão, originalmente divulgada em plataformas que informam as atividades de grupos hackers. Via AFP.
Un hilo:
COLÔMBIA 🇨🇴
O presidente Gustavo Petro usou o Twitter para algo inusitado: na quarta (21), pediu “perdão” ao Haiti pelo assassinato do presidente Jovenel Moïse, morto em julho de 2021 – mais de um ano antes de Petro virar presidente – a partir de uma densa trama que contou, entre outros elementos, com a participação de mercenários de origem colombiana. Boa parte dos acusados foi presa em diferentes países após o crime, enquanto familiares dos supostos assassinos seguem pedindo a libertação dos detidos alegando falta de provas (relembre os detalhes do magnicídio aqui). A semana, aliás, teve mais falas marcantes por parte de Petro: em seu primeiro discurso durante o encontro anual da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o mandatário colombiano fez um discurso histórico a favor do fim da chamada guerra às drogas, cobrando uma união latino-americana pela criação de novas soluções para o combate ao narcotráfico. E provocou com uma pergunta: “o que é mais venenoso? Cocaína ou petróleo?”. Na CNN.
COSTA RICA 🇨🇷
Teve início na quarta-feira (21) a “CPI” que vai investigar o suposto financiamento irregular na campanha que elegeu o presidente Rodrigo Chaves, empossado no último mês de maio. O caso, com características de um clássico esquema de caixa dois, vem mobilizando a oposição costa-riquenha após as primeiras investigações judiciais indicarem que os apoios e patrocínios recebidos não chegaram pelos meios corretos – o que impediria a fiscalização de doadores e a prestação de contas, entre outros problemas. Os parlamentares têm, a princípio, dois meses para conduzir essa fase da investigação. Chaves nega envolvimento pessoal com a suposta irregularidade e diz que as denúncias têm motivações políticas. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
A escalada autoritária do governo Nayib Bukele pode em breve ganhar um novo reforço legislativo, alertam juristas que vêm analisando a proposta de reforma no Código Penal do país. Uma das mudanças mais polêmicas, que tem como objetivo alegado garantir a condenação de mais de 81 mil foragidos, é a possibilidade de condenar um réu ausente – pela nova regra, um defensor público seria designado para representar a pessoa, podendo sofrer sanções caso se negue a participar do processo –, de modo a ter uma sentença antes que o crime prescreva. Um advogado constitucionalista ouvido pelo portal oposicionista ElSalvador.com aponta os riscos de que a mudança venha a ser usada para perseguições políticas, em particular de expatriados. Os aliados de Bukele já controlam os três poderes do país e a reforma legal só deve ser barrada se o presidente mudar de ideia.
EQUADOR 🇪🇨
Uma semana atipicamente violenta em um país que vê a segurança pública virar crise nacional: nos dias do último final de semana, autoridades confirmaram uma onda de assassinatos que terminou com 10 vítimas em apenas 24 horas, todas mortas em Guayaquil – a cidade que de forma controversa recebe a final da Copa Libertadores em 29/10, o que vem levantando temores da organização e eventuais viajantes. E não ficou só nisso: na segunda (19), logo nas primeiras horas, a mesma cidade testemunhou o assassinato do promotor Édgar Escobar, encarregado de investigações de crimes de gênero. O homem foi alvejado à luz do dia, em frente à sede do Ministério Público na cidade portuária, em um local movimentado da cidade. Dois suspeitos foram presos. A procuradora-geral Diana Salazar lamentou o ocorrido dizendo que Escobar é o terceiro integrante da categoria morto só este ano. A chamada Zona 8, região de 2,8 milhões de habitantes composta por Guayaquil, Durán e Samborondón, aproxima-se da marca de mil homicídios no que vai do ano. Na Radio Pichincha.
Infelizmente, mais notícias brutais: se no início da semana morreu quem investiga feminicídios, na quarta (21) autoridades confirmaram mais um crime do tipo. A advogada María Belén Bernal, que havia desaparecido no dia 11 após entrar na Escola Superior de Polícia (ESP) para visitar o marido, foi encontrada morta nos arredores de Quito, a cerca de 5 km da instituição. A informação foi confirmada pelo ministro do Interior, Patricio Carrillo, e condenada pelo presidente Guillermo Lasso, que prometeu buscar justiça. O tenente Germán Cáceres, companheiro da advogada, já é considerado o principal suspeito: o militar fugiu após ser convocado a depor ante o Ministério Público, o que acendeu alertas. O governo também pediu a demissão do responsável pela ESP. Organizações de defesa dos direitos humanos relatam um total de 206 feminicídios em 2022. Nas ruas, equatorianos protestaram. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
Milhares de agricultores, estudantes e organizações sociais, sob a batuta do Comitê de Desenvolvimento Camponês (Codeca), foram às ruas da capital na quarta (21) para protestar contra a corrupção, com cartazes e gritos exigindo a renúncia do presidente Alejandro Giammattei e da procuradora-geral Consuelo Porras (pivô de um escândalo de perseguição judicial que colocou o país nos holofotes do mundo, como explicado no GIRO #134). A massa se mobilizou desde o interior do país e, apesar das dificuldades causadas pelas fortes chuvas na região (saiba mais no texto de abertura de hoje), deu conta de se reunir em vários pontos da cidade, até finalmente chegar à sede do governo. Cerca de 200 mil pessoas integram a Codeca – ainda que não haja uma estimativa exata de quantos participaram dos atos dessa semana. E não foram as únicas jornadas de protesto na capital: um dia antes, veteranos do Exército cercaram o Congresso para exigir a aprovação de um projeto de lei que destinaria uma compensação financeira a antigos combatentes da Guerra Civil guatemalteca (1960-1996). Alvo de manifestações há tempos, a medida encontra forte oposição de grupos originários e defensores de direitos humanos, já que foram os mesmos militares os responsáveis pelo chamado “Holocausto silencioso” durante o conflito, que deixou mais de 200 mil indígenas mortos, a maioria da etnia maia. Em La Provincia.
HAITI 🇭🇹
Nada de novo sob o céu de Hispaniola: após o primeiro-ministro Ariel Henry pedir calma à população no último domingo (18), em meio a semanas de intensos protestos cobrando sua renúncia em um cenário de escalada de violência e carestia, várias partes de Porto Príncipe amanheceram com barricadas mesmo diante da perspectiva de mesclar atos contra o governo com os riscos da passagem do furacão Fiona pelo Caribe (o Haiti sentiu impactos, embora a vizinha República Dominicana tenha sofrido mais diretamente, como contado na abertura desta edição). A rejeição aos apelos de Henry também teve a ver com o tom adotado pelo premiê, que tentou associar as crescentes manifestações a grupos criminosos. No Haitian Times.
Dale un vistazo:
El Apagón – Aquí Vive Gente – “Yo no me quiero ir de aquí, que se vayan ellos”. Além de abordar a questão da falta de energia elétrica em Porto Rico, o novo clipe documental do cantor Bad Bunny denuncia a gentrificação impulsionada por estadunidenses que se mudam para a ilha em busca de incentivos fiscais e baixo custo de vida. Ótimo negócio para os gringos, mas não para os locais, que são forçados a deixar suas casas pelo encarecimento dos aluguéis e dos serviços – às vezes diante de grandes projetos arquitetônicos que burlam a legislação ambiental. Com influência musical de “bomba”, um dos ritmos afro-caribenhos tradicionais de Porto Rico, o vídeo de 23 minutos foi lançado apenas dois dias antes do novo furacão que deixou milhões no escuro. A música faz parte do álbum mais recente do conejo malo, Un Verano Sin Ti (2022). O clipe com a reportagem da jornalista Bianca Graulau está disponível no YouTube.
HONDURAS 🇭🇳
A ex-primeira-dama Rosa Elena Bonilla, esposa do ex-presidente Porfirio Lobo (2010-2014), conheceu nesta quarta-feira (21) a sentença de sua condenação por corrupção, que havia sido confirmada no último mês de março: ao todo, uma pena acumulada de mais de 14 anos por fraude e apropriação indébita, além de uma multa de 13,8 milhões de lempiras (R$ 2,9 milhões). O ex-secretário pessoal de Bonilla, Saúl Escobar, recebeu uma pena superior a sete anos de prisão. A antiga primeira-dama já havia sido condenada anteriormente por esse mesmo caso, com uma pena ainda maior (58 anos, embora a lei local só permita cumprir um máximo de 30), mas o julgamento original foi anulado no início de 2020 devido a inconsistências legais no processo. A defesa promete recorrer da nova sentença. Na DW.
MÉXICO 🇲🇽
Avançando em busca das punições para os envolvidos no desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, em 2014 (saiba mais na abertura da última edição), o México agora vive um impasse diplomático com Israel: foi para lá que fugiu Tomás Zerón, chefe da Agência de Investigação Criminal do governo federal na época dos acontecimentos e um dos principais nomes implicados no acobertamento do ocorrido. Na quarta-feira (21), um grupo se manifestou em frente à embaixada israelense na Cidade do México, exigindo a extradição do acusado. Faixas lembravam do apoio mexicano ao povo judeu durante a Segunda Guerra e pediam retribuição, enquanto uma pichação era mais direta sobre os desejos da multidão: “Zerón, al paredón”. O embaixador reclamou da violência de alguns manifestantes e disse que Israel avaliará o pedido de acordo com a sua própria legislação. Via AFP.
NICARÁGUA 🇳🇮
A versão em língua espanhola do canal de notícias CNN engrossou a lista de veículos de mídia com difusão cerceada no país centro-americano, informou a própria emissora na quinta-feira (22). A CNN en Español, sediada nos EUA, era considerada o último espaço televisivo abertamente crítico ao governo de Daniel Ortega ainda acessível de modo regular dentro da Nicarágua, embora apenas através de serviços de TV a cabo. Em tempos recentes, prisões e exílios marcaram a rotina da imprensa crítica ao governo, com destaque especial para o jornal oposicionista La Prensa, que teve sua sede confiscada e passou a operar inteiramente fora do país. “A censura na Nicarágua atingiu um ponto crítico para o jornalismo”, comentou Pedro Vaca, relator especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), após o mais novo desdobramento. Via Reuters.
PANAMÁ 🇵🇦
“Que me corten los huevos”, bradou o ex-presidente panamenho Ricardo Martinelli (2009-2014), se houver alguma prova de seu suposto envolvimento no escândalo de corrupção em que é investigado. Colocando os próprios testículos a preço diante de uma multidão na capital do país nesta terça (20), o antigo mandatário alega que as delações da construtora brasileira Odebrecht envolvendo seu nome não passariam de um bochinche, um mero rumor, com interesses políticos. Martinelli, que tem pretensões de voltar a se lançar à Presidência, já viu seus dois filhos serem presos nos Estados Unidos após admitirem ter recebido US$ 28 milhões em propinas da empreiteira na época em que o pai governava o país. O cerco contra o ex-presidente – e, aparentemente, seu saco escrotal – ficou mais apertado na semana passada, quando tiveram início as audiências preliminares do caso. Na RFI.
PERU 🇵🇪
Por motivos de eleição, o vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão passou a semana cumprindo uma agenda aleatória em solo peruano: na segunda (19), encontrou-se com sua homóloga local, Dina Boluarte, que estava como presidenta em exercício da nação andina em função da viagem de Pedro Castillo para a Assembleia Geral da ONU; no dia seguinte, em evento na embaixada brasileira, Mourão falou do comércio bilateral entre os países. Mas havia pouco interesse real do vice nos assuntos envolvendo o Peru: o motivo da viagem foi bem mais prosaico – fugir de ocupar a Presidência da República temporariamente durante a ausência do titular Jair Bolsonaro, que viajou para o enterro da rainha Elizabeth II e, depois, para a própria Assembleia Geral. Como concorre ao Senado pelo Rio Grande do Sul e não renunciou ao cargo que ocupa hoje, Mourão poderia ter a candidatura impugnada se substituísse Bolsonaro. O drible na legislação pode ter custado caro em termos de campanha: em terceiro lugar em algumas pesquisas, a viagem fez Mourão perder até um debate entre os candidatos de seu estado. Via Agência Brasil.
Un nombre:
Chan Chan – É o nome da maior cidade do mundo feita de adobe. Localizada no Peru, Chan Chan era considerada a capital do reino de Chimú, nome do grande líder desta cultura. A temperatura do local é denunciada pelo nome: Chan Chan significa “Sol Sol”. Com a invasão espanhola e a posse do vice-reinado, entre 1532 e 1821, Chan Chan foi alvo de saques e destruição, pois acreditava-se que entre suas ruínas estavam escondidos magníficos tesouros de ouro e prata. A cidadela de Chan Chan foi declarada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade em 1986, ao mesmo tempo que foi incluída na lista do Patrimônio da Humanidade em Perigo.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Aos 42 anos e na última temporada de sua carreira, o lendário jogador dominicano de beisebol Albert Pujols atingiu uma marca raríssima na noite de sexta-feira (23): 700 home-runs na MLB, a liga estadunidense do esporte amado pelos dominicanos e considerada a melhor do mundo. Pujols, que joga no paísdesde 2001 e atualmente defende os St. Louis Cardinals, é apenas o quarto jogador a chegar à sétima centena em 146 anos da Liga profissional norte-americana – e o primeiro nascido fora dos EUA a chegar lá. A marca aconteceu durante a vitória dos Cardinals por 11 a 0, fora de casa, sobre os Los Angeles Dodgers. No site da MLB.
Altruísta ou oportunista, certo é que o ex-primeiro-ministro haitiano Claude Joseph se valeu da passagem do furacão Fiona pela vizinha República Dominicana – que, além de danos materiais, deixou uma vítima fatal – para manifestar “solidariedade” com o sofrimento dos “irmãos e irmãs dominicanos”. Joseph, que também é presidenciável em potencial nas muito adiadas eleições de seu país (ainda sem data), recentemente foi proibido de entrar na República Dominicana, em um episódio polêmico que ele próprio definiu como sendo motivado por racismo da elite política vizinha. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Foi lindo, mas vai durar pouco: a segunda passagem de Luis Suárez pelo Nacional do Uruguai já tem data para acabar. Não é bem uma novidade, já que o ex-atacante do Atlético de Madrid havia assinado por só cinco meses com o Bolso. Agora o clima já é de despedida: na terça (20), o presidente do clube de Montevidéu, José Fuentes, afirmou que o atacante deixará o time depois do encerramento do Campeonato Uruguaio, que termina em novembro, às vésperas da Copa do Mundo. “Não vou gerar falsas expectativas. Ele fez um grande esforço para vir e, a cada vez que me perguntam, digo para não gerar expectativas para o futuro”, disse. Até aqui, além de matar a saudade de uma legião de torcedores no paisito, já deixa suas marcas: são 10 partidas oficiais pelo Nacional e quatro gols, que se somam aos outros 12 tentos anotados há 16 anos, antes de El Pistolero cruzar o oceano para brilhar na Europa. Especula-se que seu próximo destino possa ser a MLS, a liga dos EUA, destino que vem se tornando preferencial para craques em fim de carreira. No GE.
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