Nova prisão de filho de ‘El Chapo’ espalha caos no México
Região: retorno de Lula é saudado com encontros oficiais | Argentina: presidente quer impeachment do Supremo | Primárias no Paraguai dão o tom da política nos próximos meses
Mortes, estradas bloqueadas e atentados a um aeroporto. Foi sob esse violento – mas bastante conhecido – contexto que o dia terminou na cidade de Culiacán, no estado mexicano de Sinaloa, após forças de segurança do país realizarem na madrugada de quinta-feira (5) uma extensa operação que mais uma vez prendeu Ovidio “El Ratón” Guzmán López, 32, filho e herdeiro de Joaquín “El Chapo” Guzmán, considerado um dos mais poderosos chefões da história do narcotráfico latino-americano e que hoje está preso nos EUA. Guzmán López era procurado sob acusações de herdar a liderança de parte da estrutura do cartel de Sinaloa, poderoso grupo transnacional que teve controle fragmentado após a recaptura de “El Chapo” – que chegou a escapar da prisão meses antes – em 2016. O megatraficante foi condenado à prisão perpétua pela Justiça dos EUA em 2019.
Os fatídicos meses finais de 2019 foram marcantes para os Guzmán. Naquele mesmo ano, com o chefão oficialmente fora do jogo, o filho Ovidio voltou a entrar na mira da segurança pública e foi detido durante uma operação igualmente cinematográfica. No entanto, em um desfecho não muito diferente do ocorrido esta semana, a detenção do herdeiro do cartel, conhecida posteriormente como “Culiacanazo”, acabou gerando uma onda de violência na cidade, rapidamente convertida em campo de guerra pelos fortemente armados membros do grupo criminoso. Não demorou para o episódio se tornar um dos maiores fracassos políticos do governo: diante do caos, e temendo um massacre de civis em retaliação ao encarceramento do príncipe narco, o presidente Andrés Manuel López Obrador ordenou que Ovidio fosse liberado pouco depois. “Se fizemos bem ou mal, a história dirá”, disse, à época.
O roteiro dos primeiros dias de 2023 vai repetindo a violência que se alastrou após a operação falida de anos atrás. Ainda que desta vez o governo não considere recuar da decisão de prender Guzmán López, os momentos seguintes à detenção também foram brutais. Até o fechamento desta edição, os enfrentamentos deixaram um saldo de quatro agentes de segurança mortos e pelo menos 18 pessoas hospitalizadas. Mais de 100 voos em três aeroportos do estado foram cancelados e pelo menos 250 veículos foram roubados para os “narcobloqueios” em rodovias, tudo enquanto cidadãos, especialmente em Culiacán, eram instruídos a não sair de casa até que a situação fosse normalizada. Se ruas e estradas mais uma vez eram povoadas de carros incendiados e barricadas, as cenas mais impactantes da operação desta quinta foram registradas no aeroporto da cidade: dando uma amostra do poder dos cartéis, homens armados chegaram a atirar contra duas aeronaves – uma delas se preparava para decolar em voo comercial rumo à Cidade do México e outra era da própria Força Aérea mexicana. Ninguém se feriu.
Sem indícios de que Ovidio vá ser posto em liberdade por enquanto, a trama segue se desenrolando. No final da tarde de quinta, o chanceler Marcelo Ebrard atualizou a situação, negando qualquer envolvimento dos EUA na última operação. A hipótese de participação do governo Joe Biden considera o fato do filho de “El Chapo” ser alvo de um pedido de prisão e extradição feito pela justiça estadunidense em 2019 (por enquanto, a Justiça mexicana suspendeu a extradição para que o “Ratón” responda ao processo no próprio país). Ebrard também foi questionado sobre um possível caráter diplomático da nova prisão, que poderia ser um “presente” para Biden, que viajará ao México na próxima segunda (9) para a Cúpula de Líderes da América do Norte. “Não tem nada a ver”, enfatizou.
Impossível, porém, que um triunfo desse quilate contra uma das mais ricas e poderosas células criminosas de um país assolado pela violência – e num começo de ano que já teve outros episódios sangrentos ligados ao universo narco – não seja visto com uma vitória política para Obrador. Já considerada uma espécie de redenção para o mandatário após o fiasco de anos passados, a operação da última semana também se alinha a uma recente guinada do presidente no âmbito da segurança pública: antes defensor de “abrazos, no balazos” para combater a violência, figura de linguagem usada para argumentar que anos de uma falida guerra às drogas só trouxeram um rastro maior de sangue, AMLO tem endurecido sua agenda de enfrentamento aos cartéis, algo que, apesar de controverso, pode lhe render algum capital político.
Começa 2023 e o GIRO segue atento ao que acontece na vizinhança. Neste ano, que tal juntar-se a nós?
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🌎 Retorno de Lula é saudado com encontros oficiais – Era sabido que a mudança de ares na diplomacia brasileira já havia começado mesmo antes do início do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a posse do petista no domingo (1º) deu contornos concretos à expectativa: de vários pontos do continente, presidentes e representantes de governos marcaram presença na cerimônia que oficializou a volta do petista ao Planalto e iniciou uma nova fase do Itamaraty. Por sinal, o Ministério, agora sob comando do chanceler Mauro Vieira, vai até voltar a ter uma secretaria específica para a América Latina, outro indício de que Lula pretende retomar uma política multilateral na vizinhança. Um novo rumo também deve ser visto à frente do Mercosul, grupo renegado por Bolsonaro e seus ministros e que, agora, terá até mesmo os esforços da nova ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, à frente da luta para destravar a ratificação de um acordo comercial dentre o bloco e a União Europeia (como já contado pelo GIRO, o desastre ambiental sob o último governo rendeu derrotas às ambições do Mercosul nesse assunto). O estreitamento de relações não deve se restringir à zona vermelha do espectro: ainda que cartas marcadas como o argentino Alberto Fernández, o chileno Gabriel Boric e o colombiano Gustavo Petro tenham comparecido ao evento em Brasília, outros, como o equatoriano Guillermo Lasso e o uruguaio Luis Lacalle Pou (este ao lado de dois ex-presidentes, incluindo o sempre ativo Pepe Mujica) mostraram que mesmo os conservadores da vizinhança estão dispostos à aproximação. Veja a lista completa de lideranças que foram à posse.
🇦🇷 Presidente quer impeachment do Supremo – O presidente Alberto Fernández deu na quarta (4) o primeiro passo de uma sinuosa empreitada contra o Judiciário: oficializou o início do trâmite parlamentar para abrir um pedido de impeachment contra os juízes da Corte Suprema de Justiça do país. O mandatário alega que seu governo pretende ir adiante com o processo diante de “reiteradas condutas que constituem causa de mau desempenho de suas funções”. Para tanto, é necessário atingir maioria qualificada (dois terços dos votos nas duas Casas legislativas) – apoio com o qual o governo ainda não conta, porém. O impasse entre os Poderes ganhou novos contornos em dezembro, quando a Corte determinou a favor da província de Buenos Aires em meio a uma disputa legal sobre a arrecadação de impostos federais. Para Fernández, que chamou o caso de uma “derrota para o federalismo”, a decisão também acabou beneficiando politicamente grupos de oposição à frente do poder buenairense. Via Reuters.
🇨🇴 ELN frustra anúncio precoce de pacificação – Numa virada inesperada, o Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha ativa no país, negou na terça (3) ter chegado a um acordo de cessar-fogo bilateral com o governo, pouco após o presidente Gustavo Petro publicar um comunicado anunciando a tal trégua histórica. Em nota, o grupo armado afirmou que “não discutiram nenhuma proposta” que indicasse uma trégua dessa natureza e que “portanto, não há acordo sobre o assunto”. O ELN reforçou que “um decreto unilateral do governo não pode ser aceito como um acordo”. Após o assunto vir a público e gerar incerteza, sobretudo diante de consideráveis avanços recentes num diálogo visto como fundamental para Petro e seu plano de “paz total” no país, o negociador do governo e chefe da delegação de paz, Otty Patiño, disse que se tratou de um “engano”, indicando que a proposta que gerou confusão foi apenas uma “sugestão” e que “será discutida no próximo ciclo de negociações”. Em El Colombiano.
🇵🇾 Primárias deram o tom do futuro próximo da política paraguaia – Semanas movimentadas após um duplo triunfo da ala que representa o ex-presidente e polêmico empresário do tabaco Horacio Cartes (2013-2018): em 18/12, após a realização de votações primárias, foi confirmada não apenas a vitória de Cartes como novo chefe do governista Partido Colorado (ele derrotou o atual presidente do país, Mario Abdo Benítez), mas, também, o triunfo do economista e ex-ministro de Finanças Santiago Peña como nome que representará a legenda nas eleições gerais de 30/4. Peña, que em uma entrevista se comparou ao argentino Mauricio Macri e criticou a “ideologização da diplomacia”, era o nome dos cartistas e venceu a concorrência interna do pré-candidato Arnoldo Wiens, esse o indicado do presidente “Marito”. O agora presidenciável colorado enfrentará nas urnas o liberal Efraín Alegre, também vencedor de eleições prévias dentro de uma frente ampla opositora – que em 2022 juntou forças para tentar destronar os hegemônicos colorados. Não será fácil para a coalizão “Concertación”, porém: pesquisas prévias já apontam boa vantagem de Peña contra Alegre. Entre outras viradas políticas, Alegre vem prometendo romper laços com Taiwan e se voltar à China, em busca de um incremento nas exportações – atualmente, o Paraguai é o único país sul-americano a não manter relações com Pequim, uma postura mais comum na região caribenha e centro-americana. Além de um novo presidente para um mandato de cinco anos, paraguaios escolherão governadores, deputados, senadores, entre outros cargos.
🇻🇪 Guaidó agora é preterido também pela oposição – Em uma segunda e derradeira votação em 30/12, deputados oposicionistas (que não mais controlam o legislativo real, mas seguem mantendo instalado um ‘Congresso opositor paralelo’) votaram massivamente pelo fim do governo interino de Juan Guaidó, que em 2019 se autoproclamou chefe de Estado baseado em uma difusa interpretação da Constituição do país – isso logo após o presidente Nicolás Maduro ser reeleito sob acusações de fraude, o que levou boa parte do mundo ocidental a apoiar Guaidó. A votação, feita no apagar das luzes de 2022 e que apenas confirmou um sufrágio de dias antes, não apenas encerra o governo fantasioso de Guaidó (que depois de 2020 sequer detinha o cargo de presidente do Congresso verdadeiro, esta a posição que outrora lhe dava ao menos a prerrogativa da autoproclamação), como também revela um novo rumo da oposição diante de meses cruciais até as eleições de 2024, quando grupos adversários do chavismo pretendem se consolidar para medir forças com o governo nas urnas. Por enquanto, a liderança do movimento contrário ao chavismo será dividida por uma espécie de triunvirato, conforme definido na quinta (5), com três parlamentares exiladas sendo a “cara” do grupo: Dinorah Figueroa encabeça a frente, que também conta com Marianela Fernández e Auristela Vásquez, todas elas representantes dos partidos que vinham buscando remover Guaidó do cargo para tentar reconquistar o eleitorado desiludido após anos de impotência. Na DW.
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BOLÍVIA 🇧🇴
A passagem de ano também foi turbulenta no país do altiplano após ser preso em 28/12 o líder opositor, governador de Santa Cruz e um dos próceres do golpe de 2019, Luis Fernando Camacho. Segundo a Procuradoria-Geral do país, que confirmou a detenção negando as acusações de que Camacho havia sido “sequestrado pelo governo”, o líder golpista vinha sendo investigado desde 2020 pelo crime de terrorismo e atentado às instituições por sua participação na crise que destituiu o ex-presidente Evo Morales (saiba mais neste texto assinado pelos editores deste GIRO). Em seu reduto oposicionista (que há meses segue convulsionado, como explicado na edição #155), porém, protestos: imediatamente após a detenção do governador, manifestantes foram às ruas e cenas de depredação e violência se espalharam, com direito à interdição temporária de um aeroporto local. Detido, Camacho vem repetindo o script da também golpista (e já condenada) Jeanine Ánez: chama o governo de “ditadura” e o responsabiliza por sua saúde – após pedidos, a Justiça permitiu que o opositor seja atendido na cadeia. E, por falar em golpistas na mira da Justiça, a volta de Lula ao Planalto deve cozinhar ainda mais esse caldo boliviano: em entrevista à Folha, o presidente Luis Arce disse que pedirá ao petista apoio para investigar as relações entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o golpe. Em dias atribulados para os envolvidos na gestão de Áñez, a semana também viu o ex-ministro do Interior do governo interino, Arturo Murillo, recebendo sua sentença nos EUA: foi condenado a 70 meses de prisão por participar de um esquema de lavagem de dinheiro junto a uma companhia estadunidense.
CHILE 🇨🇱
A crise de segurança pública sentida na pele ao longo de 2022 foi confirmada pelas estatísticas oficiais, no balanço final do ano: com 842 homicídios registrados, o país teve um aumento de 43% em relação ao ano anterior. Vivendo um incremento da violência na última década, o Chile tem na região nortenha de Tarapacá a pior situação do momento: um índice de 10,3 homicídios a cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional de 4,6. Em La Tercera.
Após os acordos do final do ano, era mera formalidade: com 42 votos a favor, sete contra e uma abstenção, o Senado aprovou na terça (3) o processo para a elaboração de uma nova Constituição, com termos diferentes do processo de redação anterior – que culminou em setembro passado, com ampla rejeição nas urnas à Carta Magna proposta naquele momento. Além de confirmar que haverá uma comissão de especialistas não-eleita assessorando o órgão que será escolhido nas urnas, a decisão indicou uma data para o plebiscito final, quando os trabalhos da vez forem concluídos e novamente a população será chamada para decidir se desta vez o texto será adotado: 17/12. Após a aprovação, a Comissão Chilena dos Direitos Humanos enviou uma carta ao Alto Comissário das Nações Unidas para o tema, reclamando da presença do grupo de 24 peritos que não passará por eleição – de acordo com o documento, esse novo esquema viola o acordo original de que o processo constituinte seria inteiramente tocado por uma bancada eleita pelo povo chileno. Na Tercera Información.
COSTA RICA 🇨🇷
Ainda na mira de uma “CPI” que investiga supostas irregularidades de sua campanha eleitoral, o presidente Rodrigo Chaves agora enfrenta uma nova acusação: a de que seu governo estaria fazendo uso de trolls na internet para atacar jornalistas, meios de comunicação e opositores. A revelação veio após um homem denunciar que teria recebido dinheiro da ministra da Saúde para liderar um esforço de ataque – sob o perfil falso “Piero Calandrelli” – a quem contraria a gestão de Chaves nas redes. A Presidência agora tenta isolar a ministra Joselyn Chacón, afirmando que seriam ações “unilaterais e pessoais” que “não refletem o proceder do governo”. Em La Región.
CUBA 🇨🇺
Uma espiã que trabalhou a serviço de Fidel Castro (1926-2016) foi solta após 20 anos atrás das grades, confirmaram autoridades dos EUA na sexta (6). Ana Belén Montes, uma cidadã estadunidense que hoje tem 65 anos, passou uma década utilizando seu cargo na Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) para repassar informações sigilosas para Havana. Recrutada após chamar a atenção dos cubanos por criticar a política do governo Ronald Reagan (1981-1989) para a América Central, Montes foi presa em setembro de 2001, dez dias após o atentado ao World Trade Center, em meio às preocupações renovadas dos EUA com a segurança interna. Condenada a 25 anos pelo crime de conspiração, ela deve cumprir o restante da pena em liberdade condicional. Na época da sentença, Montes disse ter feito “o que achei certo para reparar uma grave injustiça” vivida por Cuba. Na Folha.
Após seis anos, a embaixada estadunidense em Havana retomou, na quarta-feira (4), a capacidade integral de seus procedimentos para emissão de vistos. A prioridade, de acordo com autoridades norte-americanas, será para “reunificação familiar”, com vistos para cubanos que já tenham familiares vivendo nos EUA. As atividades da embaixada tinham sido suspensas após seus funcionários relatarem uma série de casos do que ficaria conhecida como a (ainda hoje mal explicada) “síndrome de Havana”. No Poder360.
EL SALVADOR 🇸🇻
Marcado pelo estado de exceção declarado em março para enfrentar as gangues do país – e prorrogado indefinidamente desde então –, o ano de 2022 terminou com um número impressionante: cerca de 2% da população adulta do país, algo em torno de 100 mil pessoas, está presa. A onda de detenções massivas começou em resposta a um final de semana de violência atípica até para os padrões salvadorenhos e, a despeito das repetidas denúncias de prisões indevidas e violações de direitos humanos (que incluem até mortes sob a custódia estatal), a medida tem sido um sucesso para o presidente Nayib Bukele: a taxa de aprovação segue muito alta, na faixa dos 86%, segundo a mais recente pesquisa Gallup, carregada por uma redução nos números (oficiais) de homicídios – menos de 500 no ano passado, contra 1.147 em 2021. Há, porém, inúmeras críticas: além das denúncias de violações, observadores internacionais apontam que a melhora da estatística teria relação com uma maquiagem dos dados, como o aumento vertiginoso do registro de “desaparecidos”, que não contam mais como homicídios. Durante a semana, também vieram à tona novas evidências de que o governo Bukele, antes da “guerra” às gangues em 2022, teria buscado repetidamente acordos com os bandidos, algo que o presidente sempre negou. Na CNN.
EQUADOR 🇪🇨
O governo anunciou, na terça (3), que as negociações para um tratado de livre comércio (TLC) com a China foram concluídas com sucesso, um fato celebrado pelo presidente Guillermo Lasso: “nossas exportações terão acesso preferencial ao maior mercado do mundo, e nossas indústrias poderão adquirir máquinas e insumos a custos mais baixos”, escreveu em uma rede social. O Equador é o quarto país latino-americano a assinar um TLC do tipo com Pequim, após Chile, Costa Rica e Peru (os chineses também têm negociações avançadas com El Salvador e Uruguai), e promete buscar acordo semelhante com os Estados Unidos. Via AFP.
GUATEMALA 🇬🇹
Pesquisadores guatemaltecos e estadunidenses revelaram no final de 2022 a descoberta de um novo – e vasto – complexo de edifícios e estruturas da civilização maia, do chamado período pré-clássico (entre os anos 1000 a.C. e 150 d.C.): ao todo, são 964 edificações em diferentes assentamentos, conectados por 177 quilômetros de estradas, na região nortenha de Mirador-Calakmul. O achado foi facilitado pelo uso da tecnologia de laser LiDAR, que permite identificar tamanhos e volumes nem sempre visíveis a olho nu, como em áreas de floresta densa. As estruturas encontradas incluem também o que se acredita serem quadras para a prática de esportes e um intrincado sistema de canais para a água. Na DW.
Un nombre:
Culiacán – Palavra de origem indígena nahuatl, é composta pela aglutinação dos termos col-hua-can. O termo “col”, vem de Coltzin, nome de uma divindade adorada pelos povos daquele território, “hua”, que pode ser traduzido como o ato de ter alguma coisa, posse; e “can”, que significa lugar. A palavra Culiacán é entendida como “lugar daqueles cujo deus é Coltzin”.
HAITI 🇭🇹
A promessa se repete, mas como confiar? No último domingo (1º), data que celebra não apenas a abertura do ano, mas também o aniversário da independência do país, o premiê Ariel Henry voltou a prometer a realização de eleições gerais “em breve” – exatamente como já havia feito na virada de ano anterior. Henry vem governando o país desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, que por sua vez já vinha administrando o Haiti via decreto após falhar em realizar eleições legislativas, o que deixou o Congresso sem quórum para tomar decisões. Em dezembro, a poucos dias de 2023 nascer, o atual governo chegou a um acordo com partidos políticos e organizações da sociedade civil prometendo que deixaria o cargo em até 14 meses, o que exige a realização das tão adiadas eleições – mas, com um histórico de garantias vagas que nunca se concretizam, só resta esperar para ver se agora vai. “Peço que me levem a sério”, disse Henry sobre seu suposto interesse em restaurar a democracia no país. Via Europa Press.
HONDURAS 🇭🇳
O último ano foi o menos violento no país nos últimos 16, informou o governo no domingo (1º). Em 2022, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, que ajusta a quantidade de crimes à população, foi de 35,79, a mais baixa do período. O governo de Xiomara Castro, que tomou posse no início do último ano, tem capitalizado politicamente a estatística positiva, destacando a prisão e extradição para os EUA do ex-mandatário Juan Orlando Hernández (2014-2022), antecessor de Castro e acusado de ligações com o tráfico de drogas, como um pilar da nova agenda de segurança pública. No total, dizem os dados, mais de 1,3 mil membros de gangues foram capturados e mais de 300 quadrilhas foram desbaratadas. Apesar de números que geram alívio na sociedade civil, o país pode repetir as cenas brutais da vizinha El Salvador: recentemente, Tegucigalpa iniciou um controverso plano de enfrentamento ao crime organizado que prevê a suspensão parcial de garantias constitucionais, algo que abre caminho para uma série de abusos. Via AFP.
MÉXICO 🇲🇽
É oficial: a partir de agora, mexicanos que trabalham de forma registrada no setor privado terão, por lei, o dobro de tempo de férias remuneradas, tirando o país de uma desconfortável situação: entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o México é onde mais se trabalha – e onde menos se descansa. O decreto que confirma o chamado plano “Férias Dignas” (aprovado de forma unânime no Senado dias antes) foi assinado pelo presidente Andrés Manuel López Obrador em 27/12 e determina que trabalhadores gozem de 12 (e não mais seis) dias de descanso pago para cada ano de trabalho. O benefício – ainda irrisório, especialmente se comparado aos dias garantidos por lei em Brasil e Peru, onde se folga 22 dias por ano – será aplicado de forma escalonada, concedendo aos trabalhadores dois dias adicionais para cada novo ano trabalhado. A medida enfrentou uma óbvia rejeição entre setores do empresariado, que temem o impacto dos descansos (que podem ser usados de forma consecutiva ou divididos ao longo do ano de serviço) em pequenas e médias empresas. Em El Financiero.
“Sou grata a quem sempre acreditou, a quem não cansou de tentar mudanças que pouco a pouco encurralam nossa cultura patriarcal”. Foram essas as palavras que a juíza Norma Piña usou para celebrar um momento histórico no país: na segunda (2), ela se tornou a primeira mulher a ocupar a presidência da Suprema Corte do país, instância tradicionalmente composta por um quadro masculino de magistrados. Empossada para um mandato que termina em dezembro de 2026, Piña é vista por alguns como uma pedra no sapato de López Obrador, já que, no papel de ministra da Corte, mais de uma vez se posicionou contra medidas impulsionadas pelo presidente. Em El Financiero.
NICARÁGUA 🇳🇮
Cada vez mais isolada na região e alvo preferencial do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (2019-2022), a Nicarágua agora aposta suas fichas em uma virada da relação com o Brasil depois da mudança de governo. À Folha, durante a posse do novo ministro brasileiro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, a embaixadora Lorena Martínez afirmou que Manágua está “contente” com o retorno de Lula e confia em “estreitar as relações” com Brasília. Os petistas têm relações históricas com os sandinistas e Daniel Ortega, mas estão ocupando o poder pela primeira vez desde a escalada autoritária vivida pela Nicarágua a partir de 2018, o que poderia dar lugar a um diálogo mais frio do que em outros tempos.
PANAMÁ 🇵🇦
Recorde absoluto (e que praticamente dobrou a cifra máxima anterior): o número de migrantes que chegou ao país com destino aos EUA ultrapassou a casa dos 248 mil em 2022, superando com folga os mais de 133 mil que fizeram o percurso em 2021, informou no domingo (1º) o Serviço Nacional de Migração. A estatística atual é ainda mais brutal considerando que menos de 110 mil pessoas decidiram cruzar o território panamenho no acumulado entre 2010 e 2019. Dos migrantes em travessia no último ano, metade são de nacionalidade venezuelana e 17% são menores de idade. Ainda que o istmo panamenho seja um caminho óbvio por ligar a América do Sul à Central, os números crescem a despeito das mais do que inóspitas condições de Darién, o imenso corredor de selva pelo qual migrantes precisam passar para seguir rumo ao topo do continente. Na DW.
PERU 🇵🇪
Pelo menos 700 ‘Pelés’ e 371 ‘Messis’. É este o saldo dos curiosos registros de nomes de crianças peruanas em 2022, segundo cifras oficiais. No caso do Rei do futebol, que nos deixou aos 82 anos em 29/12 após travar uma árdua luta contra um câncer, a homenagem vem com variações: para além das mundialmente conhecidas quatro letras, niños também estampam em seus documentos “Rey Pelé” ou até “Edson Arantes do Nascimento”, este o nome completo do maior jogador de todos os tempos. Nomes de outros jogadores de futebol – peruanos ou não – também são figurinha carimbada nos cartórios do país andino. Em El Colombiano.
Após uma “trégua” no final do ano, os protestos contra a presidenta Dina Boluarte voltaram a tomar conta do país na quarta-feira (4), com registro de bloqueios de estrada e manifestações, inclusive na capital, Lima. Os manifestantes, apoiadores do ex-presidente Pedro Castillo (2021-2022), derrubado em dezembro após tentar fechar o Congresso em um autogolpe que não encontrou qualquer suporte institucional, exigem a convocação imediata de novas eleições. Em 20/12, após rejeitar inicialmente uma proposta de antecipação do pleito, o Congresso aprovou que as eleições sejam realizadas em abril de 2024 – dois anos antes do previsto originalmente –, mas os manifestantes exigem que elas ocorram ainda mais cedo. Via AFP.
PORTO RICO 🇵🇷
Novo ano, velhos problemas. Já no primeiro dia de 2023, Porto Rico registrou seu primeiro feminicídio, com uma mulher de 60 anos sendo morta pelo marido na cidade de Trujillo Alto. O tema é caro ao governo local, que em 2021 decretou um inédito estado de emergência por violência de gênero, e desde então vem estendendo a medida, em um esforço mais simbólico do que prático para coibir o crime tristemente comum na ilha de cerca de 3 milhões de habitantes: no ano passado, em dados atualizados só até novembro, foram 62 feminicídios. O novo crime se somou a um início de ano mais violento do que a média: na segunda-feira (2), os dois primeiros dias de 2023 já haviam registrado 12 assassinatos no país, nove a mais do que no mesmo período em 2022. O governador Pedro Pierluisi prometeu “fazer todos os ajustes que tenham que ser feitos”, lembrando que o número de mortes violentas – de qualquer tipo – havia caído em torno de 10% no ano passado. No Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A falta de mão-de-obra para a construção civil em Porto Rico virou um efeito dominó que, agora, vem causando uma escassez de trabalhadores do setor na vizinha República Dominicana. Além de atrativos salários em dólar, os porto-riquenhos agora pediram ao Congresso dos EUA, através de sua representante (sem direito a voto) em Washington na terça-feira (3), que conceda vistos especiais para dominicanos que buscam emprego para “acelerar os esforços de reconstrução” na ilha devastada por diferentes catástrofes naturais nos últimos anos. A busca por trabalhadores de construção também tem a ver com o medo da perda de recursos federais, caso as obras não sejam concluídas no prazo. Em Santo Domingo, que também enfrenta sua própria crise no setor e tem suas doses de desastres e furacões, o governo estuda maneiras de evitar uma evasão ainda maior de trabalhadores, após já ter reajustado os salários da construção civil em 24% no ano passado. No BNAmericas.
URUGUAI 🇺🇾
Sob protestos e após horas de debate, o Senado aprovou em 28/12 o polêmico projeto de reforma da previdência, medida apoiada pelo governo de Luis Lacalle Pou e elaborada por uma comissão de especialistas. Entre outras mudanças, o texto prevê o aumento (para até 65 anos) da idade mínima obrigatória para a aposentadoria. Segundo o presidente, que reconheceu o caráter impopular do projeto, a reestruturação é “necessária, sustentável e solidária”. A medida voltará à Câmara em 2023 e deve ter seus artigos votados e discutidos individualmente. Centrais sindicais e a coalizão de centro-esquerda Frente Ampla, principal grupo de oposição, têm feito críticas duríssimas à reforma, lembrando que Lacalle Pou traiu suas promessas de campanha que rejeitavam um aumento na idade mínima dos aposentados. O mandatário chegou a fazer um mea culpa em agosto, mas disse que mudou de ideia e que seria “impossível” não alterar as regras do sistema após conhecer os gastos previdenciários. Na teleSUR.
Uma recepção “impactante”, como definiu o diário El País, aguardou o histórico centroavante Luis Suárez em Porto Alegre, na apresentação como novo reforço do Grêmio, na quarta-feira (4) à noite. O maior artilheiro da história da Seleção Uruguaia de futebol masculino, cujo retorno ao país natal no segundo semestre de 2022 mobilizou os torcedores do Nacional de Montevidéu, rendeu coberturas especiais no paisito e reafirmou o orgulho do esporte local consigo mesmo, com uma apresentação que reuniu mais de 30 mil pessoas no estádio gremista – muitas carregando bandeiras uruguaias. Suárez, que faz 36 anos neste mês, chega após uma passagem rápida – mas decisiva – pelo clube que o revelou: no Nacional, para onde regressou para manter a forma enquanto aguardava a Copa do Mundo, jogou 16 vezes e balançou as redes em oito ocasiões, inclusive na final que rendeu o título uruguaio do ano passado. No Grêmio, além de encher estádio sem jogar, Luisito também esgotou camisas personalizadas com seu nome e número antes mesmo da apresentação. No Ovación.
VENEZUELA 🇻🇪
E as derrotas de Guaidó (leia mais nos destaques desta edição) se acumularam na reta final do último ano: em 27/12, o governo da Espanha decidiu nomear um novo embaixador em Caracas após dois anos de retaliação diplomática ao governo Maduro. Diante do que chamou de “novas circunstâncias”, Madri resolveu promover à condição de embaixador Ramón Santos Martínez, que até então vinha atuando como encarregado de Negócios. Guaidó classificou o movimento (que vem na esteira de uma tendência global de normalizar as relações com a Venezuela nos últimos tempos) de “um favor” espanhol a Maduro. Em El Observador.
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