Mercosul: ‘briga’ e ausência marcam reencontro de líderes
Cuba: luz verde ao casamento homoafetivo | Peru: ex-ministro também pede queda do presidente | Nicarágua: jornal oposicionista agora opera do exílio | Panamá: continuam negociações com manifestantes
Tensão, desavenças e desprezo. É isso que resume o clima das mais recentes reuniões do Mercosul – bloco econômico composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela (atualmente suspensa do clube), com os outros países sul-americanos na categoria de estados associados, sem poder de voto. E não foi diferente na última cúpula do grupo, concluída na quinta-feira (21), quando (quase todos) os presidentes dos países-membros se encontraram presencialmente pela primeira vez desde que a crise do coronavírus jogou lideranças em eventos remotos. Em Assunção, no que era para ser um momento de retomada de um bloco que pouco se uniu durante a crise sanitária, o que se viu foi a ampliação do conflito diplomático entre Uruguai e Argentina, as duas nações cujos governos passaram a sintetizar a falta de cooperação no Cone Sul.
O evento aconteceu, em primeiro lugar, desfalcado pelo Brasil. Preocupado com questões eleitorais diante de uma iminente derrota para o favorito Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de outubro, Jair Bolsonaro nem mesmo esteve presente no encontro. A participação do líder brasileiro se resumiu ao envio de uma mensagem em vídeo em que apareceu dando apoio à redução da chamada Tarifa Externa Comum (TEC), além de comentários genéricos sobre o momento delicado da economia na região. Nos bastidores, especula-se que o rumor da participação remota do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na cúpula – convite posteriormente vetado pelos governos anfitriões – também teria afugentado Bolsonaro, recentemente inclinado ao russo Vladimir Putin. Dias antes de tudo isso, após conversa por telefone com Bolsonaro, Zelensky chegou a criticar a posição de neutralidade do governo brasileiro em relação ao conflito no Leste Europeu.
O protagonismo do fiasco, no entanto, ficou para os países platinos. Já não era nova a desavença entre o uruguaio Luis Lacalle Pou e seu homólogo argentino Alberto Fernández. Um liberal, outro mais protecionista, ambos trocaram farpas em relação a uma possível abertura econômica do Mercosul nos últimos meses, até que a antiga amizade chegou ao ápice do desgaste em julho. No último dia 13, uma semana antes do encontro na capital paraguaia, Lacalle Pou já havia dito em entrevista coletiva que seu polêmico acordo bilateral de livre-comércio com a China estava “pronto para avançar”. Concebido em 2021, o tema se tornou a fagulha que faltava para transformar um desentendimento em um conflito pessoal. Mas foi somente esta semana, já frente a frente, que os dois começaram a lavar a roupa suja. Referindo-se diretamente às tratativas entre Montevidéu e Pequim, o peronista pediu que os países do bloco não se iludam com “soluções individuais” de curto alcance, porque assim “o Mercosul morre”. Também sugeriu que um tratado semelhante poderia ser feito em conjunto pelo bloco, mencionando que a participação de um país com o tamanho do Brasil “faria esse acordo muito mais forte”.
Fernández também voltou a citar os impactos do conflito na Ucrânia em economias emergentes (saiba como isso afeta toda América Latina em nossa última edição), reforçando que os países deveriam enfrentar os danos conjuntamente – a Argentina, por sinal, tem sido uma das nações mais afetadas: enfrentado greves e manifestações durante o ano, Buenos Aires quebra a cabeça para resolver uma inflação interanual acima dos 60% e uma desvalorização brutal do peso, que, nesta semana, ultrapassou pela primeira vez na história a cotação de 300 para um dólar no mercado paralelo. O recado mais duro aos uruguaios, no entanto, ficou a cargo do ministro argentino de Relações Exteriores, Santiago Cafiero. Em longa entrevista à CNN, o chanceler foi direto: “o Uruguai terá que decidir se quer fazer parte do Mercosul ou de um acordo com a China”.
Lacalle Pou, por sua vez, seguiu irredutível. Refutando as acusações de que as manobras solitárias do paisito violariam a resolução número 32 do estatuto do Mercosul – que proíbe qualquer um dos países membros de desenvolver acordos econômicos extra-bloco sem o consenso coletivo – o mandatário disse que seu governo não vai interromper o processo em função de ressalvas alheias, sobretudo por entender que “não há incompatibilidade [com o estatuto]”. O governo do liberal defende que haveria brechas no texto que permitiriam a negociação paralela. Partindo desse pressuposto, a abertura proposta pelo governo uruguaio poderia não ficar restrita aos chineses, afundando ainda mais as chances de apaziguar o clima: no final de maio, por exemplo, o líder uruguaio viajou a Londres para se encontrar com o agora demissionário primeiro-ministro britânico Boris Johnson, com quem discutiu acordos similares aos que pretende estabelecer com Pequim. E o céu parece ser o limite para Lacalle Pou: na Europa, chegou a dizer que seu governo “não ficará parado”. O Uruguai também resistiu a assinar pela quarta vez seguida um dos comunicados de encerramento do evento, reclamando da falta de menções à “flexibilização” e “modernização” do bloco cobradas por Montevidéu.
Assinando ou não, pouco importa: Lacalle Pou seguirá guiado por suas próprias ambições apesar do que definem os outros países envolvidos, intenção que deixou clara durante todo o evento. Quem também vê com preocupação o aceno dos uruguaios à China é o Paraguai. Único sul-americano a manter relações formais com Taiwan – reconhecido por Assunção como o Estado chinês legítimo – o país guaraní tem pouco a ganhar com uma maior penetração da China no comércio local. O presidente Mario Abdo Benítez, inclusive, chegou a dizer em entrevista que os “custos muito competitivos” da potência asiática poderiam “ameaçar a indústria” local. E assim deve seguir a toada, pelo menos ao longo do semestre: além de marcar a 60ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, o evento de agora confirmou que será justamente o Uruguai o responsável por assumir a presidência pró-tempore do Mercosul por seis meses. E se o grupo econômico já esteve às traças nos últimos tempos, não deve ser agora, sob comando simbólico do país que menos se importa com a cooperação regional, que os ventos vão soprar para outra direção.
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Un sonido:
DESTAQUES
🇨🇺 Cuba dá luz verde ao casamento homoaefetivo – A Assembleia Nacional cubana aprovou, na sexta (22), o novo Código Familiar. Aguardado há anos pela comunidade LGBTQIA+, o texto legal abre as portas, pela primeira vez, ao casamento homoafetivo no país, bem como estende o direito de adoção para qualquer casal – além de novas proteções a crianças, idosos, e revisões de outros direitos familiares. O texto final ainda precisa passar por referendo popular, marcado para 25/9, para entrar em vigor, mas não deve encontrar grandes resistências, apesar da oposição da Igreja Católica: segundo as consultas públicas já realizadas enquanto o projeto era discutido, o apoio da população às novas propostas gira em torno de 62% – um número baixo para os padrões cubanos, mas suficiente para a aprovação. Via Reuters.
🇵🇪 Ex-ministro também quer destituição de Castillo – O Ministério Público abriu uma quarta investigação preliminar contra o presidente Pedro Castillo, agora diretamente relacionada a uma denúncia de um ex-membro de seu governo: na quinta (21), apenas dois dias após ser abruptamente demitido do cargo, o agora ex-ministro do Interior Mariano González compareceu ao Congresso para pedir a destituição do mandatário, alegando que o governo vem obstruindo a Justiça para proteger pessoas próximas a Castillo. González ocupou a cadeira ministerial por somente duas semanas, e sua queda intempestiva teria – segundo ele próprio – relação direta com sua decisão de aprofundar as investigações e até mesmo prender os aliados do presidente que estão sob investigação. Ainda sem completar um ano no cargo, o que só ocorre na próxima quinta-feira (28), Castillo já sobreviveu a duas tentativas de destituição pelo Congresso, mas ainda não perdeu apoio da base que garante os votos para seguir no cargo. Ele também vem sendo rotineiramente investigado pelo MP, mas essa é uma preocupação para depois: com imunidade em função do cargo, ele só pode enfrentar problemas na Justiça após deixar a Presidência. Via Reuters.
🇳🇮 Jornal de oposição passa a operar do exílio – Na mira do governo Ortega há anos, o jornal oposicionista La Prensa anunciou, na quinta-feira (21), que agora opera inteiramente fora da Nicarágua. Fundado em 1926, o jornal mais antigo do país ainda em circulação já havia sofrido com a falta de papel para impressão após restrições do governo, viu seus diretores às voltas com a Justiça em acusações supostamente fabricadas e está desde agosto de 2021 sob ocupação de forças ligadas ao governo, o que o obrigou a demissões massivas. O diretor-geral Juan Lorenzo Holmann Chamorro segue preso desde então. Em anúncio feito no site, o jornal informou que todo o restante de sua equipe que ainda não havia sido detida foi obrigada a fugir da Nicarágua, mas seguirá atuando fora do país. Via AP.
🇵🇦 Continuam negociações com manifestantes no Panamá –
Ainda sem saída para a crise que segue gerando bloqueios em todo o país (leia mais no abre da última edição), o governo segue em negociações com entidades organizadas da sociedade civil – na quinta (21), uma nova demanda pediu a criação de um órgão fiscalizador para controlar preços, além de subsídios para derrubar em 30% o custo da cesta básica. O governo também garantiu subsídios ao combustível, atendendo a uma das pautas originais, com o presidente Laurentino Cortizo fazendo um apelo aos mais abastados: “por favor, não o utilizem (o bônus do governo)”. Com os protestos perto de completar um mês, as negociações balançaram ao longo da semana, com sindicatos chegando a romper com o governo, tentativas de saques e a entrada de movimentos indígenas na lista dos descontentes que foram às ruas protestar contra a carestia. Até o fechamento desta edição, as conversas seguiam, sem previsão de fim para as mobilizações. Em La Estrella de Panamá.
🇭🇹 ONU pede menos armas para o Haiti – A escassez de combustível vem se agravando no país, enquanto cada vez mais membros da comunidade internacional manifestam preocupação pela degradação das condições de vida no Haiti. Com conflito entre gangues que não cessam, o Conselho de Segurança da ONU renovou, no último sábado (16), uma exigência para que não sejam comercializados armamentos pequenos, leves e munições com qualquer suspeito de envolvimento com grupos criminosos do país – além da violência endêmica, tem chamado atenção a situação na favela da Cité Soleil, em Porto Príncipe, onde ao menos 234 pessoas já teriam sido mortas apenas desde o início de julho. Até mesmo o Brasil se juntou ao coro de preocupados, com o vice-presidente Hamilton Mourão citando “os relatos alarmantes sobre violência e escravidão sexual” de mulheres nos bairros dominados pelas gangues, antes de uma reunião do próprio Conselho de Segurança. A critério de curiosidade: foi na mesma Cité Soleil, maior favela da capital, que tropas da missão de paz liderada pelo Brasil foram acusadas de promover um massacre em 2005. Via AFP.
Un hilo:
MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
A crise econômica não dá trégua e o peso argentino passou a semana batendo recordes de desvalorização – no mercado paralelo, o chamado dólar “blue” foi cotado pela primeira vez em valor acima dos 300 pesos para cada unidade da moeda norte-americana, fechando a semana em 338. Com o peso em colapso e a inflação saindo de controle, mais uma leva de medidas para tentar conviver com a pior crise desde 2001 vem sendo anunciada. Uma delas é voltada aos turistas: desesperado por dólares, o governo agora quer que o mercado de câmbio formal pela primeira vez seja liberado para seguir os preços praticados no mercado paralelo, seguindo “uma taxa de câmbio diferenciada” que só valeria para estrangeiros. A iniciativa se justifica: enquanto o “blue” dispara, a taxa oficial está em apenas 136 pesos por dólar, o que leva os visitantes a procurar negociações irregulares e sem fiscalização do governo, favorecendo a evasão. Vantagens para turistas, novas pancadas no bolso dos argentinos no dia a dia: o governo anunciou o fim do congelamento de preços do transporte público em Buenos Aires, que valia desde 2019, e vai reajustá-los em 40% a partir de agosto – um aumento significativo que, no entanto, ainda está muito abaixo da inflação acumulada do período, calculada em quase 200%. Via EFE.
BOLÍVIA 🇧🇴
A Bolívia está a ponto de garantir a soberania total na produção de fertilizantes e tem a América do Sul como mercado prioritário para o excedente, informou o ministro de Relações Exteriores Rogelio Mayta, em intervenção na cúpula do Mercosul. Com grande produção de ureia e cloreto de potássio em diferentes estatais, o novo destaque é uma fábrica de NPK – mistura de nitrogênio, fósforo e potássio – que deve entrar em funcionamento em 2023. Com uma crise global no fornecimento de fertilizantes em função da guerra na Ucrânia, a Bolívia vê sua produção como um trunfo para concluir sua adesão ao bloco como Estado membro, não mais apenas convidado. “O novo contexto econômico global exige aprofundar a integração, por isso ratificamos a vontade da Bolívia de ser parte do Mercosul como membro pleno”, insistiu Mayta. Via EFE.
CHILE 🇨🇱
Não é mais tabu falar sobre um eventual fracasso da proposta de nova Constituição no plebiscito marcado para 4/9 (leia sobre quando essa hipótese começou a ganhar corpo no GIRO #131). Com a rejeição liderando as pesquisas nos últimos três meses, o Chile discute abertamente o que fazer para substituir o texto atual se a Carta Magna gestada na Convenção Constitucional não for aprovada – ainda parece haver uma opinião majoritária de que, qualquer que seja o resultado de setembro, a antiga Constituição já está sepultada. Na última semana, o presidente Gabriel Boric causou alvoroço entre os políticos do país, afirmando que seu governo insistiria na formação de uma nova Convenção. Parte da esquerda considerou a manifestação precipitada, pois daria força à campanha do “rechaço” e traria uma crítica implícita à Convenção recém-concluída, enquanto a oposição não parece disposta a reiniciar todo o processo constituinte pelo mesmo caminho – outras cartas na mesa incluem a elaboração do texto pelo próprio Congresso, do zero ou mesclando propostas apresentadas ao longo dos anos. Enquanto isso, a campanha rumo ao plebiscito segue a todo vapor, e a ex-presidenta Michelle Bachelet (2006-2010, 2014-2018) deu seu apoio público à aprovação do novo texto como está. Ela, que hoje ocupa o cargo de Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, encontrou-se com Boric na quinta (21): em uma conversa de três horas sobre os rumos da Constituição, os dois também “cantaram músicas de Pablo Milanés”, brincou o atual mandatário.
O Chile apresentou ao mundo uma concorrente ao título de árvore mais antiga ainda viva: o “Gran abuelo”, apelido de um exemplar de cipreste-da-patagônia, foi descoberto por casualidade há quase três décadas e novas estimativas sugerem que poderia ter até 5.500 anos de vida. Hoje, a árvore mais antiga conhecida no mundo é um pinheiro da Califórnia, apelidado de “Matusalém”, cuja idade está calculada em 4.853 anos. Com 30 metros de altura e um diâmetro de outros quatro metros, o “Gran abuelo” ainda precisa passar por novos testes para verificar sua idade, mas Jonathan Barichivich, engenheiro florestal da Universidade Austral do Chile que está por trás da descoberta, acredita que haja “80% de chances” de ser mais antigo que o rival californiano. Em El País.
COLÔMBIA 🇨🇴
Com posse marcada para 7/8, Gustavo Petro vai receber a faixa presidencial de Iván Duque com bons índices de popularidade: segundo números de julho da Invamer, o presidente eleito é aprovado por 64% dos colombianos. Com Duque, porém, não há o mesmo entusiasmo: de saída, o líder uribista é respaldado por apenas 27% dos entrevistados e foi vaiado em seu último discurso à frente do cargo, na sessão inaugural do novo Congresso. A pesquisa também perguntou aos cidadãos quais seriam as principais urgências para a nova administração. Para 34% deles, problemas relacionados à economia e ao desemprego estão no topo da lista de prioridades; 23% acreditam que a corrupção deve ser resolvida antes. A consultoria também perguntou sobre migração, violência e os controversos desdobramentos dos Acordos de Paz. Enquanto isso, seis grupos que seguem envolvidos na luta armada mesmo após a desmobilização das antigas FARC em 2016 emitiram uma nota conjunta manifestando a proposta de um cessar-fogo para abrir novas negociações com o governo que está a ponto de assumir. No Portafolio.
COSTA RICA 🇨🇷
Apenas um “capricho” que não irá adiante. Ao menos, foi a opinião do presidente Rodrigo Chaves, na quarta (20), ao anunciar que o projeto de construção de um trem elétrico na capital San José está inteiramente descartado. A ideia havia sido impulsionada pelo governo anterior, de Carlos Alvarado (2018-2022), que entregou o cargo em maio. O atual mandatário reclamou que o projeto já teria consumido 1 bilhão de colones (R$ 8,1 milhões), entregues a uma empresa espanhola sem licitação e que “não existe informação básica para dizer que esse trem faz sentido econômico”. Apesar de criticar a falta de dados para embasar o projeto, o próprio Chaves não apresentou prova de suas afirmações para defender a manutenção do transporte público tradicional. No Delfino.
CUBA 🇨🇺
De olho em retomar a atividade turística – muito abalada pelo anos de pandemia e pelas sanções endurecidas durante os anos de Donald Trump na Casa Branca – Havana concedeu toda a operação dos centros de hospedagem na praia paradisíaca de Cayo Largo del Sur ao grupo canadense Blue Diamond. Com isso, a gigante do ramo hoteleiro passará a administrar mais de 10 mil quartos para hóspedes. Tudo faz parte de uma investida do governo para reaquecer o setor, que outrora já correspondeu a 10% do PIB cubano. Além da mudança administrativa, também foi inaugurada a nova pista do Aeroporto Internacional do local, permitindo que voos partindo de pelo menos seis novos destinos canadenses cheguem à ilha. Dos mais de 4 milhões de turistas que chegaram a Cuba antes da pandemia, um milhão eram do Canadá. Via AFP.
Instituições médicas cubanas anunciaram que estão preparando o início da fase III de ensaios clínicos para um medicamento neurológico de produção nacional que – prometem – poderia revolucionar o tratamento das doenças de Alzheimer e Parkinson. Em entrevista ao diário mexicano Jornada, o diretor do Centro Internacional de Restauração Neurológica (Ciren), Héctor Vera Cuesta, disse que os resultados têm sido “espetaculares”, especialmente na parte cognitiva. A substância, conhecida como NeuroEPO, tem um “mecanismo neuroprotetor, que evita que os neurônios sigam se degenerando”, o que retardaria o avanço da doença. No Jornada.
Un nombre:
Cabo de Hornos – Também conhecido como Cabo Horn, é o famoso ponto no extremo sul da Terra do Fogo, já em território chileno, e deve o nome ao idioma holandês. Originalmente chamado Kaap Hoorn, seria uma homenagem à cidade homônima nos Países Baixos – embora outra versão diga que o cabo ganhou esse nome por parecer com um chifre, “hoorn” na língua europeia. Qualquer que seja a razão exata, a versão em espanhol acabou sendo uma corruptela com um sentido completamente distinto: nem Hoorn cidade, nem hoorn chifre (que, para os hispânicos, seria cuerno), mas “Hornos”, que em uma tradução literal para o português significaria “Cabo dos Fornos”.
EL SALVADOR 🇸🇻
Mais uma vez sob as bênçãos de Bukele, o Congresso do país aprovou na terça (19), por 76 votos a 15, a quarta extensão do decreto que estabelece regime de exceção em todo o país, mantendo garantias de poder irrestrito às autoridades contra as gangues salvadorenhas e suspendendo diversas garantias constitucionais. Determinada pelo presidente no final de março, a medida criou uma verdadeira caçada aos pandilleros; em pouco mais de 100 dias, mais de 46 mil pessoas foram detidas. O problema: em meio a essa onda de prisões, toda sorte de abusos (saiba mais detalhes no GIRO #127) vem sendo denunciada – ONGs relatam prisões arbitrárias de pessoas que sequer teriam relações com o crime organizado, casos de tortura e até acusados que morrem sob custódia sem ao menos um registro de autópsia ou de óbito. Segundo a Constituição salvadorenha – atropelada por Bukele há muito tempo – a suspensão de garantias só pode ultrapassar um prazo de 30 dias caso as razões para o decreto de emergência se mantenham; sem encontrar oposição, é o que o Executivo determinou mais uma vez. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
Uma triste rotina que se repete: um novo conflito no interior de uma prisão equatoriana ceifou mais 13 vidas, além de deixar dois feridos, informou o governo após os atos de violência na segunda-feira (18). A briga da vez ocorreu na penitenciária de Santo Domingo, a cerca de 150 km a oeste de Quito. O Equador vive uma prolongada série de conflitos dentro de suas cadeias, sem que o governo encontre solução: segundo a Anistia Internacional, desde dezembro de 2020 pelo menos 390 reclusos perderam a vida em diferentes episódios do tipo, e neste ano outros motins com mortes foram registrados em abril e maio – este último, com 44 vítimas, ocorrido na mesma prisão que voltou às manchetes nesta semana. Na F24.
GUATEMALA 🇬🇹
O drama dos migrantes em dois momentos distintos na Guatemala nesta semana, mostrando a condição do país tanto como origem quanto como corredor de passagem: no último sábado (16), uma aldeia maia no oeste do país despediu-se de Melvin Guachiac, de 13 anos, o primeiro guatemalteco repatriado entre aqueles que morreram em um caminhão que ingressou irregularmente no Texas – ao todo, 53 pessoas perderam a vida, incluindo 21 saídas da Guatemala. Poucos dias depois, na quinta-feira (21), a polícia do país centro-americano interceptou um caminhão que cruzava seu território e também tinha objetivo de chegar aos Estados Unidos, mas carregando sobretudo pessoas de outros países: desta vez, eram transportados 45 cubanos e três georgianos, além de um guatemalteco menor de idade. O motorista foi preso acusado de tráfico humano. Via AFP.
HONDURAS 🇭🇳
O governo hondurenho manifestou “rechaço categórico” à nova atualização da chamada Lista Engel, na qual os EUA apontam figuras públicas centro-americanas que devem ser sancionadas por supostos atos de corrupção. Na quarta (20), outros 60 nomes salvadorenhos, hondurenhos, guatemaltecos e nicaraguenses passaram a figurar na lista, incluindo o vice-presidente do Parlamento de Honduras, Rasel Tomé. “Honduras é uma nação soberana e seguirá defendendo o princípio da não intervenção e da autodeterminação dos povos”, protestou a Secretaria de Relações Exteriores em um comunicado, definindo a lista como um “documento motivado politicamente e ingerencista”. Via EFE.
O assassinato de Said Lobo Bonilla, filho do ex-presidente Porfirio Lobo (2010-2014), segue repercutindo no país enquanto as investigações avançam. Executado na madrugada do último dia 14, Lobo teria sido o alvo principal do grupo criminoso que matou outros três jovens junto com ele. Em meio à prisão de suspeitos, causou alvoroço um alegado documento interno da polícia vazado à imprensa, em que se aponta uma suposta vinculação dos sicários com um grupo ligado ao ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), que hoje está preso nos Estados Unidos aguardando julgamento, sob acusação de crimes relacionados ao narcotráfico. Posteriormente, tanto a defesa de JOH quanto a própria polícia afirmaram que o tal documento – segundo o qual os criminosos teriam recebido US$ 200 mil para agir – não passaria de “fake news”. Em El Heraldo.
MÉXICO 🇲🇽
Apenas alguns dias após descobrir que estava sendo investigado pela Unidade de Inteligência Financeira (UIF) do país por transações milionárias feitas durante seu mandato, o ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018) se envolveu em uma polêmica: no dia 14, tornou-se público que o antigo líder colocou à venda um luxuoso apartamento que tem em um dos principais bairros de Madri, na Espanha. Avaliado em mais de US$ 650 mil, o imóvel de alto padrão fica no mesmo país citado nas investigações como possível destino de transferências milionárias feitas por pessoas (parentes e parceiros comerciais) de Peña Nieto. Consultado sobre o timing da venda, o priista não quis comentar o caso. Segundo dirigentes da UIF, “todos os detalhes” do novo escândalo envolvendo o ex-mandatário já estão nas mãos da Procuradoria-Geral. No Expansión.
Outro caso com novos desdobramentos é o que diz respeito à prisão de Rafael Caro Quintero, um dos fundadores do cartel de Guadalajara e conhecido como “capo dos capos”. Preso este mês sob ordem de extradição, o chefe do narco não deve ir tão cedo para os EUA: na segunda (18), um juiz de Jalisco suspendeu o processo que levaria o criminoso às cortes do país ao norte. A decisão veio após familiares de Quintero entrarem com um recurso e levantou um debate sobre o histórico controverso do próprio capo à frente da justiça: condenado a 40 anos de prisão por assassinato, ele chegou a sair livremente da cadeia em 2013, após uma polêmica decisão da justiça mexicana. O caso causou revolta à época – e agora autoridades dos dois países temem ver o filme se repetir. Em El Universo.
Un dibujo:
PARAGUAI 🇵🇾
O ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), ainda hoje um dos nomes mais poderosos dos bastidores da política paraguaia, foi incluído na sexta-feira (22) na lista elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA de pessoa com “designação pública” por ter participado “em atos significativos de corrupção”. Entre as sanções contra o ex-mandatário, está o impedimento de que ele e seus familiares imediatos entrem nos EUA. Cartes é acusado de ter se utilizado do cargo para obstruir uma investigação criminal internacional envolvendo nomes do círculo de poder. O embaixador dos EUA em Assunção, Marc Ostfield, advertiu que outros nomes paraguaios em breve seriam sancionados de maneira similar. Via EFE.
Busca por reparação pela guerra mais sangrenta da história da América do Sul. É isso que quer Assunção, que reabriu em julho uma comissão no Parlasul (Parlamento do Mercosul) para revisar a verdade histórica da Guerra do Paraguai (1864-1870) e até mesmo analisar eventuais crimes de genocídio cometidos pela Tríplice Aliança. Formada por Brasil, Argentina e Uruguai, a união de exércitos se sagrou vencedora no conflito, não sem antes dizimar mais da metade da população paraguaia e 90% dos homens acima de 20 anos, gerando problemas econômicos geracionais a um país já pobre se comparado aos vizinhos. Quando a notícia veio à tona, foi reverberado que o país pediria até mesmo uma indenização de US$ 150 bilhões aos vencedores da guerra – informação que a historiadora Noelia Quintana, assessora do bloco paraguaio no Parlasul, classificou como uma “mentira vil” da imprensa brasileira. De todo modo, os paraguaios querem cobrar responsabilidade, em especial pela matança de crianças e idosos já nos atos finais da guerra. O conflito começou por uma disputa de poder no Uruguai que colocou em jogo a saída ao mar paraguaia e foi detonado pela invasão do território brasileiro a mando das tropas de Francisco Solano López. Implacável, o marechal paraguaio preferiu encarar a morte e colocar até crianças no front de batalha a aceitar a rendição. O país foi ocupado pelo Brasil durante seis anos, perdeu parte do território e foi obrigado a pagar indenização. No Poder360.
PORTO RICO 🇵🇷
O Departamento de Justiça da ilha informou nesta semana que, desde o início de julho, está operacional uma nova ferramenta para compilar e catalogar os casos de violência de gênero ocorridos em território porto-riquenho, inclusive com dados retroativos. Em 2021, por exemplo, foi registrado um aumento de 18,1% em relação aos casos do ano anterior. Nos primeiros quatro meses deste ano, mais de 2 mil casos já foram denunciados, e em 84% deles a vítima era mulher. A crescente violência de gênero em Porto Rico se tornou uma questão de Estado nos últimos anos, com o governador Pedro Pierluisi decretando, em janeiro do ano passado, estado de emergência na ilha em função da repetição de casos do tipo. Em El Nuevo Día.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um aeroporto livre de carbono. Conquista importante, o triunfo dominicano foi comunicado pelo Conselho Internacional de Aeroportos da América Latina e Caribe (ACI-LAC), que passou a creditar o Aeroporto Internacional de Cibao com a certificação de nível 4 (neutralidade) do Programa Airport Carbon Accreditation (ACA) – o único padrão de certificação de gestão de carbono no setor aeroportuário. O aeroporto em questão fica em Santiago de los Caballeros, segunda maior cidade do país. Com o novo reconhecimento, a instalação de Cibao se torna a terceira da América Latina a receber a certificação. Os outros que contam com o status de neutralidade são o Aeroporto Internacional de Quito e o Aeroporto Ecológico de Galápagos, ambos sob administração equatoriana. No DDT.
URUGUAI 🇺🇾
Um edifício residencial de Montevidéu sofreu uma explosão na manhã de sexta-feira (22), em frente ao Parque Villa Biarritz. Segundo os bombeiros, um vazamento de gás teria causado o desastre, que afetou também um prédio da vizinhança – até o fechamento desta edição, pelo menos onze apartamentos nas duas edificações estavam interditados, e não se descartava a possibilidade de queda dos andares mais afetados. Ao menos três pessoas foram internadas em UTI em estado grave, com queimaduras que chegavam a até 80% do corpo. Em El Observador.
Talvez haja golpe, mas, felizmente, desta vez não é na política. Fãs do futebol dentro e fora do Uruguai passaram as últimas semanas mobilizados em torno de uma votação online para eleger o mascote da Seleção Uruguaia na Copa do Mundo deste ano: concorrendo contra animais típicos da fauna do paisito, quem realmente conquistou os corações e mentes para representar a Celeste foi uma simpática térmica de mate chamada Botija. E não deu pra ninguém: após cerca de 100 mil votos, o termito Botija conquistou 58% das preferências em uma eleição em que nenhum dos outros quatro concorrentes superou a barreira dos 12%. Parecia uma vitória óbvia, mas na América Latina nem eleição de mascote parece ocorrer sem ameaças golpistas: na quinta (21), a Associação Uruguaia de Futebol anunciou que gostou do engajamento, disse que “novas ideias surgiram” e abriu inscrições até o dia 26 para artistas e designers enviarem suas próprias sugestões de mascotes. A vitória de Botija virou apenas um “primeiro turno” e a térmica terá que passar por outra rodada de votação contra novos desenhos, para revolta do público. Na Trivela.
VENEZUELA 🇻🇪
Apesar de uma ligeira aproximação por conta da situação delicada do mercado global de petróleo, EUA e Venezuela seguem de lados opostos da mesa. Na terça (19), o presidente Joe Biden incluiu a Venezuela na lista de países onde Washington considera que há risco de que seus cidadãos sejam detidos arbitrariamente. Segundo a Casa Branca, essas prisões serviriam para que os detidos se tornassem moedas de troca. Recentemente, uma delegação com autoridades dos EUA viajou a Caracas para se encontrar com o presidente Nicolás Maduro, tudo a fim de aprofundar negociações bilaterais. O encontro, no entanto, terminou sem resoluções para a soltura de cidadãos estadunidenses em território venezuelano, o que mantém uma tentativa de conversas entre os dois governos em marcha lenta. Via AFP.
E por falar em petróleo e sanções, o Irã, outro alvo de pressões econômicas vindas de Washington, vai aumentar a oferta da commodity para estimular a produtividade de suas refinarias e liberar excedente doméstico para exportação. A informação foi obtida na terça (19) e se junta a uma série de medidas (muitas vezes, tomadas em conjunto) que países sancionados determinam para driblar os efeitos econômicos vindos principalmente dos EUA. A cooperação energética entre Teerã e Caracas ganhou força nos últimos anos, em especial após a mão dura de Donald Trump contra adversários políticos. Com a decisão do governo iraniano, a PDVSA, estatal venezuelana, deve receber 4 milhões de barris de petróleo bruto ainda em julho, um aumento em mais de 1 milhão de unidades. Também visando sair da crise, a Venezuela tem oferecido petróleo à Europa, sob condição de pagamento adiantado. Via Reuters.
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Excelente compilado, muito obrigada equipe Giro Latino pelo trabalho!
amo o trabalho de vocês!