Guatemala: entenda como MP tentou tirar esquerda do 2º turno
Órgão conhecido por perseguir adversários do presidente voltou às manchetes ao forçar canetada contra partido Semilla; presidenciável Bernardo Arévalo e juristas dizem que manobra é “inconstitucional”
Este GIRO já alertou, em edições anteriores, que as eleições gerais da Guatemala seriam problemáticas. Agora, depois de meses de incerteza em função da exclusão prévia de quatro candidatos à Presidência, o caldo engrossou: nas últimas duas semanas, a oficialização dos resultados do primeiro turno, realizado em 25/6, foi suspensa por uma decisão embasada em denúncias de candidatos derrotados que acusaram uma suposta fraude eleitoral. Para piorar, na última quarta-feira (12), colocando mais gasolina no imenso fogaréu, o Ministério Público do país pediu a suspensão do partido de centro-esquerda Semilla, cujo presidenciável, Bernardo Arévalo, havia contrariado as pesquisas e conquistado uma das duas vagas ao segundo turno em 20/8. O pedido foi acatado pela 7ª Vara Penal de 1ª Instância. É nesse contexto que o novo capítulo da trama se desenrola.
A primeira das duas bombas foi desarmada antes mesmo de explodir: após inicialmente acatar uma ordem da Corte Constitucional (CC) do início de julho que barrava a divulgação dos resultados do 1º turno e ordenava uma recontagem de votos em todo o país, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) deu meia-volta e, na própria quarta-feira em que o MP estourou uma nova crise, enfim validou os resultados da votação do mês passado, mantendo o calendário eleitoral conhecido. “Os guatemaltecos podem ficar tranquilos”, disse um comunicado do TSE, afastando-se dos questionamentos de outrora e exaltando o que chamaram de um “processo eleitoral confiável e transparente”.
A tranquilidade, porém, parou por aí. Se por um lado o entrave aos resultados de junho foi rapidamente revertido, por outro, o pedido do MP contra o segundo partido mais bem votado alimentou a crise eleitoral.
A suspensão da legenda foi comunicada ao público por ninguém menos que Rafael Curruchiche, atual chefe da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI, em espanhol). Responsável, em teoria, por ser o ‘braço’ do MP em assuntos de colarinho branco desde a época em que a ONU se instalou no país com o mesmo propósito, a FECI, pelo contrário, tornou-se justamente o pivô da atual onda de judicializações controversas, agindo como centro nevrálgico nos casos de perseguição contra juízes, procuradores, ativistas e jornalistas – com destaque, nesta última questão, para o fechamento do jornal El Periódico e a prisão de seu fundador. Vale lembrar: Curruchiche, o MP e a FECI são acusados há anos de agir de forma questionável aos sabores do presidente Alejandro Giammattei, como explicado pelo GIRO no ano passado.
Segundo Curruchiche, as investigações da FECI apontaram “irregularidades” e “registros ilegais” no cadastro de pelo menos 5 mil membros do Semilla. Os registros teriam sido feitos até mesmo com “assinaturas falsificadas” e nomes de pessoas “que já estariam mortas”, diz o procurador. A decisão judicial ordenou a suspensão temporária da pessoa jurídica do partido (ou seja, o CNPJ), impediu os candidatos da legenda de assumirem os cargos para os quais foram eleitos e vetou o Semilla de seguir com sua campanha eleitoral – tudo isso enquanto a disputa no segundo turno se desenrola.
A resposta foi enérgica: candidato à Presidência e chefe do partido, Bernardo Arévalo classificou a canetada como “um golpe de Estado técnico” e “inconstitucional”, prometendo recorrer e avisando que não acataria a “medida espúria e ilegal”. Além de levantar óbvias suspeitas pelo histórico questionável do MP, a investida também causou alvoroço por ir na contramão do Artigo 92 da Lei Eleitoral e dos Partidos Políticos (Lepp): segundo o texto, uma vez convocado o processo eleitoral, passa a ser proibida a suspensão de um partido até que a votação seja realizada. Juristas também apontam que decisões dessa esfera cabem unicamente à competência de órgãos eleitorais.
Mas, então, o que pensam os magistrados do TSE? Num primeiro momento, a Corte chegou a dizer que sequer havia sido notificada pelo Ministério Público a respeito da tal suspensão. Mais adiante, porém, quando a polêmica começou a esquentar, o próprio TSE deu ‘ganho de causa’ ao Semilla, anunciando que não suspenderia o status legal do partido, conforme indicado pela decisão abraçada pela FECI. Em mais um gol anotado contra o MP, magistrados da Corte Constitucional (CC) também concederam tutela provisória ao partido de Arévalo – que, em outras palavras, não encontra (por enquanto) qualquer obstáculo legal para disputar o segundo turno no próximo mês. O Semilla nega todas as acusações.
O clima entre os poderes segue tenso. Acuada e alvo de críticas vindas de todos os cantos – numa lista que inclui a vizinha Costa Rica, os EUA, organizações civis, de imprensa, sindicatos, observadores internacionais, a Organização dos Estados Americanos (OEA), protestos populares nas ruas e até o lobby da exportação – a FECI resolveu trucar, enviando à sede do TSE uma operação de busca e apreensão para vasculhar o cadastro de cidadãos, setor em que estariam contidas as alegadas irregularidades. A presidenta do TSE, Irma Palencia, criticou a condução das buscas, questionando o uso de balaclavas e armas num operativo que, até onde se sabe, envolveria apenas a checagem de documentos antigos.
Cada vez mais pressionado, o MP respondeu nesta sexta-feira em nota que não tem intenções de interferir no calendário eleitoral ou de “inabilitar a participação de qualquer candidato”; o documento diz, por fim, que o órgão seguirá com as “investigações correspondentes” contra o Semilla a despeito do processo eleitoral, algo que acontece com o aval da CC.
Até o momento, o panorama de ‘todos contra a FECI’ parece indicar que, apesar da turbulência, o segundo turno vai acontecer e que o Semilla não será barrado. Outro elemento que deu certo respiro diante dos rumores sufocantes foi uma carta à nação publicada pelo próprio presidente Giammattei no último dia 10, ou seja, antes da mais nova crise: nela, o mandatário nega boatos “falsos e tendenciosos” que o acusam de querer se manter no poder. Ele também faz um chamado por votações no prazo correto e diz que passará o bastão em janeiro do próximo ano a “quem for eleito”.
Mas, em se tratando da Guatemala de hoje, nunca se sabe. Especialmente pelos nexos íntimos demais de Giammattei com o Ministério Público, sempre implacável contra os adversários políticos e civis do presidente. Sem Arévalo na disputa final, o terceiro colocado do primeiro turno poderia ter uma nova chance: e o nome dele é Manuel Conde Orellana, do Vamos, o candidato do oficialismo.
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🇨🇺 Cuba se irrita com submarino dos EUA em Guantánamo – “Provocação”. Foi assim que Cuba definiu a presença de um submarino nuclear dos EUA na Baía de Guantánamo, no início deste mês, com “motivos políticos ou estratégicos desconhecidos”, conforme informou o Ministério de Relações Exteriores da ilha na terça (11). Segundo Havana, o submarino permaneceu na base que os EUA mantêm em um enclave na ilha – desde o início do século 20, antes mesmo da Revolução – entre os dias 5 e 8. Uma fonte anônima disse à agência AP que não teria passado de uma “parada logística”, enquanto o Departamento de Estado em Washington se limitou a ironizar as preocupações cubanas e criticar o timing da declaração: os EUA recordaram que no mesmo dia 11 em que a chancelaria de Cuba se manifestou ocorria o segundo aniversário dos massivos protestos contra o governo socialista em 2021, os maiores desde a Revolução, e tudo seria apenas uma tática para ‘mudar o foco’. Seja como for, o dia 11 acabou sendo mesmo movimentado para temas relativos à costa cubana: também foi o dia em que um navio de treinamento militar russo atracou em Havana para exercícios de quatro dias, mas, neste caso, com anuência do governo local – mais um indício da aproximação dos dois países nos últimos tempos.
🇭🇹 Embaixador europeu revê postura e nega reconhecimento da UE a Ariel Henry – Tirou o corpo fora: o italiano Stefano Gatto, embaixador da União Europeia em Porto Príncipe, falou à imprensa do país na quarta-feira (12) e preferiu ficar em cima do muro a respeito da legitimidade do governo do premiê Ariel Henry, bem como do envolvimento europeu para ajudar o país caribenho a sair da crise. “Muitas vezes dizem que o governo de Henry é apoiado pela comunidade internacional. Na verdade, é o único governo que existe neste país, o único com quem podemos nos relacionar. Não há julgamento sobre sua constitucionalidade ou não”, disse Gatto, minimizando o fato de que Henry só venceu a queda de braço pelo poder – após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, uma trama da qual o próprio desprestigiado premiê é acusado de participar – graças ao suporte estrangeiro. Agora, a conversa é que o apoio não é a Henry, mas “ao Estado haitiano”. Sobre um possível apoio da União Europeia ao Haiti, o embaixador disse que as capacidades militares do bloco estão voltadas à Ucrânia no momento, e instou Estados Unidos, Canadá, “ou mesmo os países da América Latina” a tomarem a liderança no processo. No Nouvelliste.
🇲🇽 México: prefeita da capital é favorita para ser presidenciável governista em 2024 – Falta quase um ano para as eleições presidenciais mexicanas, mas uma pesquisa divulgada na quinta (13) já indicou as primeiras tendências: confirmação do amplo favoritismo do partido governista Morena e, dentro dele, uma força maior para Claudia Sheinbaum como possível sucessora de Andrés Manuel López Obrador – que não pode se reeleger. Já excluídos os eleitores que disseram não ter preferência por nenhuma sigla na disputa, o Morena aparece com 58% de apoio, enquanto a coalizão oposicionista marca menos da metade desse número, 26%. Com os aliados de AMLO acumulando vitórias sequenciais em diferentes pleitos ao redor do México, parece que a verdadeira disputa não será com a oposição, mas nas primárias do próprio Morena. Ali, uma corrida mais acirrada: Sheinbaum, prefeita da Cidade do México, aparece com 30% de apoio, contra 20% do concorrente mais forte, o ex-chanceler Marcelo Ebrard – os demais pré-candidatos acumulam 30% entre si, além de outros 20% de eleitores que não escolheram um nome. A pesquisa foi realizada pelo instituto Parametria e ouviu 800 pessoas, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais. Via Reuters.
🇳🇮 Justiça internacional enterra ‘luta marítima’ entre Nicarágua e Colômbia – Nada feito: a Corte Internacional de Justiça (CIJ) rejeitou na quinta-feira (13), em Haia, um processo apresentado por Manágua contra a Colômbia, por meio do qual os centro-americanos há anos reivindicavam o direito de ocupar parte de uma zona marítima no mar do Caribe, a cerca de 370 quilômetros da costa nicaraguense. No local, porém, está localizado um arquipélago colombiano, provocando antigas tensões territoriais entre os dois países. Agora, a decisão coloca um ponto final na velha disputa e dá ganho de causa aos colombianos, que lutam contra a expansão nicaraguense sob o argumento de proteger os ecossistemas das ilhas. A postura da corte de “não ceder às reivindicações da Nicarágua de expandir sua plataforma continental” foi celebrada pelo presidente Gustavo Petro, que disse esperar que, com a determinação, chegue ao fim uma “controvérsia fronteiriça”. Os nicas, porém, não estão de todo tristes: apesar de rejeitar a petição original, a CIJ manteve inalterada uma sentença proferida em 2012, quando obrigou o Estado colombiano a ceder quase 75 mil km² de seu território marítimo à Nicarágua. Via AP.
🇺🇾 Chuva alivia preocupações, mas crise hídrica está longe do fim – Choveu bem durante a semana, finalmente, e os uruguaios agora esperam notícias de que possam vislumbrar uma luz no fim do túnel – ou, mais apropriadamente, água no fundo do poço. As precipitações dos últimos dias fizeram com que o principal reservatório que abastece a região metropolitana de Montevidéu chegasse a registrar oito dias consecutivos de aumento das águas, após quase um ano inteiro de queda continuada, mas as autoridades responsáveis pelo abastecimento preferem moderar as expectativas: “foi um pequeno alívio” para a crise hídrica, enfatizam. As chuvas apenas igualam a média histórica de julho, o que não é uma notícia menor diante da pior seca em um século, mas ainda assim insuficiente para repor tudo o que a região perdeu em suas reservas. Por isso, alertam: mesmo com um pouco mais de água (o que afastou temporariamente o medo de que as torneiras secassem de vez), o líquido disponível ainda será salobro e não potável – e novas avaliações serão feitas conforme a situação evolua nas próximas semanas. Pensando em situações inéditas para o país, uma empresa chilena – acostumada às secas em seu próprio território – já sugeriu a hipótese de “semear nuvens” para forçar a chuva no Uruguai. Em El Observador.
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MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
Faixa cortada: depois de semanas de espera, o governo inaugurou no domingo (9) o primeiro trecho do Gasoduto Néstor Kirchner (GNK), projeto que ligará as grandes reservas de gás de Vaca Muerta, em Neuquén, a Buenos Aires. Ao todo, a construção terá mais de 570 quilômetros de extensão e deve alavancar a cambaleante economia argentina com uma “injeção” de gás de xisto – “vamos economizar US$ 2 bilhões em importações”, comemorou a secretária de Energia Flavia Royón, que projetou um valor duas vezes maior para o ano seguinte. Mas, apesar das óbvias expectativas ao redor do gasoduto, ambientalistas alertam para os riscos ambientais associados à obra, como explicado em detalhes no GIRO #166. Via AFP.
Máxima histórica (outra vez) para o dólar blue, nome dado ao câmbio paralelo praticado cotidianamente na Argentina: enquanto as renegociações da dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) se arrastam, a moeda estadunidense bateu o patamar simbólico de 500 pesos argentinos por cada dólar na quarta-feira (13) e seguiu subindo, fechando a semana em 522. Em Buenos Aires, o governo diz que o novo aumento da divisa estrangeira não passa de especulação, e justificou a demora da renegociação com o FMI à necessidade de garantir que o país não saia prejudicado pelos novos termos. “As discussões vão demorar o que tiverem que demorar para que os interesses argentinos sejam preservados”, afirmou a porta-voz do governo, Gabriela Cerruti. No UOL.
BOLÍVIA 🇧🇴
A oposição, liderada pelo partido Comunidade Cidadã (CC) do ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), quer submeter o atual mandatário Luis Arce a um julgamento político por suposto descumprimento da Constituição. O imbróglio começou no fim de junho, quando o ministro de Governo, Eduardo Del Castillo, foi destituído e imediatamente reconduzido ao cargo pelo presidente, a despeito de uma moção de censura aprovada pelo Congresso em 27/6 – na tese defendida pela oposição, a decisão dos parlamentares deveria remover Del Castillo definitivamente do cargo, enquanto o governo alega que Arce teria a atribuição de decidir seus ministros em qualquer cenário. Apesar de simbolicamente grave, o movimento do CC tende a ser apenas um puxão de orelhas na prática: a ideia é “exigir respeito” ao Congresso e pedir que Arce “mude de atitude”, admitiu o deputado Enrique Urquidi. Aliados do presidente afirmam que a contestação da CC não passaria de uma “invenção” para ganhar manchetes, e que a denúncia deveria passar antes pela Procuradoria-Geral. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
O governo chileno realizou um evento, na quinta (12), para celebrar a contagem regressiva de 100 dias rumo à edição 2023 dos Jogos Pan-Americanos, marcados para ocorrer em Santiago entre outubro e novembro. Em tom que oscilou entre o ufanista e o realista, o presidente Gabriel Boric admitiu que o Chile “é um país que segue sendo profundamente desigual, mas se há algo que está distribuído equitativamente é o talento, e a diferença se nota quando damos as condições materiais para que ele se desenvolva”. O Chile, que nunca sediou o Pan antes, espera contar com a maior delegação de sua história para melhorar ainda mais seu desempenho – em 2019, na vizinha Lima, o país ficou em 8º lugar com 50 medalhas, sendo 13 de ouro. Ao todo, 41 países e territórios das Américas devem enviar mais de 8 mil competidores à nação transandina. No site da Presidência do Chile.
COLÔMBIA 🇨🇴
Vivo ou morto? Até o fechamento desta edição, essa era a pergunta sem resposta que pairava sobre a cabeça dos colombianos a respeito de Iván Márquez, antigo número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e convertido em líder rebelde de dissidências armadas da grande guerrilha pacificada em 2016. Os rumores sobre a condição de Márquez, cujo verdadeiro nome é Luciano Marín, começaram a circular no início de julho, quando figuras próximas ao combatente teriam afirmado que ele havia falecido em um hospital em Caracas, cerca de um ano após resistir a um grave atentado no país vizinho. Desde então, pouco se soube do guerrilheiro – que, para piorar, não veio a público desde a tal tentativa de assassinato. Assim, tudo ficou no ar: pouco depois dos boatos, o ministro colombiano da Defesa, Iván Velásquez, disse que autoridades do país ainda tentavam verificar a situação – o governo reafirmou a dúvida na sexta (14), sem confirmar o destino do guerrilheiro até o fechamento desta edição. A saga de Márquez é quase uma metáfora para as esburacadas tentativas de paz na Colômbia: depois de ser um dos cabeças das FARC, passou a atuar como um dos negociadores do cessar-fogo – porém, em 2018, após a prisão e deportação para os EUA de seu sobrinho (também guerrilheiro) por tráfico de drogas, abandonou a trégua e passou a liderar a célula armada Segunda Marquetalia, pegando em armas novamente no ano seguinte. Em El Comercio.
COSTA RICA 🇨🇷
Não é turismo! Ou, pelo menos, é o que promete o presidente Rodrigo Chaves sobre uma viagem com destino curiosamente conveniente que fará na próxima semana – o líder costa-riquenho vai para a… Letônia. Um destino pouco usual, mas com motivo familiar: a esposa de Chaves, a primeira-dama Signe Zeikate, é natural do país do Báltico, o que imediatamente levantou a suspeita de que o compromisso seria apenas pretexto para visitar parentes. Questionado, o presidente da Costa Rica – já conhecido por suas frases de efeito – garantiu que a viagem não é “para ver os sogros”, mas também reconheceu que “é preciso ir cumprimentá-los, não fazer isso seria má-educação”. Polêmica à parte, a justificativa oficial da ida à Letônia é para conversar com o novo presidente daquele país, Edgars Rinkevics, que tomou posse no último sábado (8). A breve turnê na Europa, que se estenderá entre os dias 17 e 21, também inclui uma passagem pela Bélgica – onde a promessa é discutir ações contra o crime organizado, já que os portos do país são destino frequente dos envios dos narcos centro-americanos. Em La República.
Una palabra:
Escarabajo – É o termo para “besouro” em espanhol. Mas é muito mais do que isso: além de ser uma forma alternativa de chamar o carro “fusca”, escarabajo também é uma alcunha bastante usada no ciclismo colombiano. Essa história começou na Volta à Colômbia de 1955, principal competição do ciclismo de estrada no país: o jovem Ramón Hoyos (1932-2014) era a grande estrela do momento, mas sofria com as subidas íngremes no chão de terra batida. Em um trecho, perdeu o controle da bicicleta e bateu a cabeça contra uma pedra no meio da estrada. Mesmo com o forte golpe, subiu de novo no selim e não se deu por vencido. Desengonçado, torto e com um movimento de pernas que lembrava um grilo ou algum outro inseto de pernas saltadoras, o atleta foi batizado de escarabajo por um ato falho do narrador José Enrique Buitrago. “Não é um humano, é um besouro em bicicleta!”, exaltou o locutor de rádio ao vê-lo cruzar a linha de chegada. Hoyos não venceu a etapa, mas sim a classificação geral da competição. E o apelido ficou – não só para ele, mas para todos os escarabajos colombianos que vieram depois e fizeram seu nome no ciclismo mundial.
EL SALVADOR 🇸🇻
Sem surpresas, só formalidade: o partido Nuevas Ideas confirmou, no domingo (9), a indicação do seu líder, o presidente Nayib Bukele, para concorrer a um novo mandato nas eleições do ano que vem. O tema é extremamente controverso: juristas não alinhados ao governo e observadores internacionais garantem que a reeleição é inconstitucional, mas a própria Justiça do país, aparelhada com aliados de Bukele, entregou no ano passado uma nova e criativa interpretação da Carta Magna que abriu caminho para a empreitada (entenda mais aqui). O atual vice, Félix Ulloa, também foi confirmado pelo partido como postulante a um novo mandato. Apesar de colecionar críticas fora de El Salvador, Bukele tem uma altíssima taxa de aprovação dentro de casa e se acredita que não deva enfrentar problemas para renovar o mandato quando a população for às urnas em fevereiro de 2024. Via AP.
EQUADOR 🇪🇨
Vivendo uma crise no sistema carcerário, o Equador agora tem novos números para tentar compreender melhor sua situação: um novo censo nacional prisional, divulgado na segunda (10), indicou que o país tem uma população carcerária de 31.321 pessoas, cerca de 1,2 mil acima da capacidade das penitenciárias. Além disso, um a cada seis detentos – um total de mais de 5 mil pessoas – está na cadeia mesmo sem ter recebido uma sentença para seus crimes. O presidente Guillermo Lasso, que está de saída após dissolver o Congresso e convocar eleições extraordinárias que incluem a própria troca de mandatário no Executivo, comentou os números e disse que os dados deveriam ser motivo de preocupação para a Justiça equatoriana. “Nossa política não é ter mais detentos ou construir mais prisões, nossa política é liberar aqueles que merecem a liberdade porque já cumpriram suas sentenças”, disse Lasso. Via Reuters.
HONDURAS 🇭🇳
Vai sair, mas aos poucos. Velha promessa de campanha da presidenta Xiomara Castro, a criação de uma comissão contra a corrupção com apoio da ONU deu um novo passo nesta quarta (12), com a chegada de um grupo de especialistas enviados pelo órgão internacional a Tegucigalpa. Ainda sem uma data exata de quando iniciaria seus trabalhos, a Comissão Internacional contra a Corrupção e a Impunidade em Honduras (Cicih) terá a função de auxiliar as autoridades locais a combater os crimes de colarinho branco (estrutura montada de forma similar na vizinha Guatemala em anos passados, gerando muitas discussões). Por enquanto, porém, as visitas são apenas de consultoria, para “avaliar os instrumentos e capacidades nacionais existentes”, segundo Andrés Salazar, do Departamento de Assuntos Políticos e Consolidação da Paz do Secretariado da ONU. Castro, que tomou posse no início do ano passado e vem sendo criticada por atrasar a implementação da Cicih, voltou a manifestar seu “forte apoio” ao grupo que ainda precisa ser criado. No Opera Mundi.
PANAMÁ 🇵🇦
Não será fácil, mas poucas vezes houve uma chance tão boa: a Seleção Panamenha de futebol masculino disputa neste domingo (16) a final da Copa Ouro da Concacaf, principal torneio continental da confederação que reúne os países das Américas do Norte, Central e Caribe – e busca um título inédito diante do México, a grande potência histórica da região. A oportunidade é rara porque, desta vez, tanto mexicanos quanto estadunidenses enviaram à competição equipes alternativas, longe da força total, o que já ajudou o Panamá nas semifinais: a equipe do istmo derrotou os EUA, donos da casa, nos pênaltis, na noite de quarta (12). Agora, atenção total para a finalíssima de domingo, quando mais de 50 mil pessoas são aguardadas no SoFi Stadium, em Inglewood, na Califórnia, na expectativa de saber se o México reafirma sua hegemonia ou se, pela primeira vez, o caneco sai da América do Norte: desde que a Copa Ouro foi criada, em 1991, foram oito conquistas mexicanas, sete estadunidenses e uma canadense. O Panamá já foi finalista duas vezes no passado, perdendo em 2005 e 2013 para os EUA. No TUDN.
PARAGUAI 🇵🇾
Para não deixar dúvida: pouco mais de um mês antes de tomar posse, o presidente eleito Santiago Peña desembarcou em Taiwan na terça-feira (11) para reforçar os laços diplomáticos com a ilha. Peña afirmou que o Paraguai e Taiwan já “são próximos”, mas precisam ficar “ainda mais”. O presidente eleito, que assume em 15/8, foi à capital Taipei para celebrar o 66º aniversário, na quarta (12), do início das relações diplomáticas – estabelecidas ainda no começo da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). O Paraguai é um de apenas 13 países do mundo que reconhecem a causa taiwanesa, contrariando o posicionamento de Pequim de que o território não passa de uma província autogovernada que pertence à China continental. A manutenção dessa situação foi tema quente durante as eleições presidenciais do país – havia um temor, em Taipei, de que uma vitória da oposição encerrasse a histórica parceria. Via AP.
Dale un vistazo:
🎥 Mostra de cinema viajero em SP – Começou nesta semana a mostra “El Camino: cinema de viagem da América do Sul”, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Até o dia 7/8, serão exibidos 19 títulos de nove países latino-americanos. A entrada é gratuita. A programação e os horários estão disponíveis no site.
PERU 🇵🇪
O governo decretou, no sábado (8), estado de emergência nacional por 90 dias em função de um “aumento incomum” em casos da chamada síndrome de Guillain-Barré. A rara e pouco conhecida condição causa, na maioria dos quadros, inflamações dolorosas nos nervos e pode até afetar o sistema nervoso central – ou, pior ainda, evoluir para uma fase autoimune. Sempre fruto de um quadro infeccioso prévio – seja causado por bactérias (este o principal ‘gatilho’ no Peru) ou até por vírus mais conhecidos, como a meningite, o coronavírus ou a própria dengue, que atualmente bate recordes por lá –, a síndrome tem soado os sinos em Lima após a detecção de mais de 180 casos, com quatro mortes registradas até o mês de maio. Segundo o Ministério da Saúde, o decreto possibilita o uso emergencial de uma verba milionária durante os momentos de crise. Especialistas, porém, observam que o risco de um surto regional ainda é remoto. Na BBC.
PORTO RICO 🇵🇷
Casos de família: dois primos do governador Pedro Pierluisi foram condenados, na terça (11), a passar uma temporada na cadeia após cometer fraudes contra o governo federal dos Estados Unidos, na ordem de US$ 3,7 milhões. Eduardo e Walter Pierluisi Isern terão que cumprir penas de 24 e 43 meses de prisão, respectivamente, além de outros dois anos de liberdade condicional, e, por fim, devolver grande parte do dinheiro como forma de restituição aos cofres públicos. A sentença concluiu que os primos do governador Pierluisi roubaram deliberadamente verbas do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, entre 2014 e 2022, para uso próprio. Via EFE.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Casos ainda controlados, mas sempre em alerta: com o vizinho Haiti vivendo uma nova crise sanitária em função da cólera, a República Dominicana também vem registrando seus próprios casos desde outubro do ano passado, embora em nível muito menor. Ainda assim, um surto na província de Barahona, no sudoeste do país, faz o governo temer que os casos possam sair do controle em áreas cada vez mais distantes da fronteira: as autoridades aguardam o resultado de exames feitos em 11 pessoas, todas de origem haitiana, que vêm sofrendo com diarreia aguda e estão hospitalizadas. O governo impôs um cerco epidemiológico na comunidade em que os 11 residem e está realizando testes de potabilidade na água da comunidade. Desde o primeiro caso em solo dominicano, já há mais de uma centena de contágios confirmados – no Haiti, porém, o surto é muito mais grave, com pelo menos 750 mortes atribuídas à doença desde o início da atual epidemia. No Página 12.
VENEZUELA 🇻🇪
Um pedido feito por uma fundação estadunidense foi acolhido pelo Ministério Público argentino para julgar crimes… venezuelanos. É isso mesmo: segundo informações divulgadas nesta semana, o procurador federal argentino Carlos Stornelli abriu uma investigação sobre supostas violações de direitos humanos cometidas pelo governo de Nicolás Maduro, após uma requisição feita no mês passado pela Fundação Clooney pela Justiça – organização criada pelo ator George Clooney e sua esposa, a advogada Amal Clooney. A escolha da Argentina não é aleatória: o país aplica o princípio da jurisdição universal para crimes de lesa-humanidade, o que permite levar a julgamento fatos ocorridos em qualquer lugar do mundo, independentemente da nacionalidade dos envolvidos – seus tribunais já avaliaram anteriormente casos ocorridos na Espanha, durante o regime franquista, e em Mianmar. O pedido dos Clooney é em nome dos familiares de dois manifestantes venezuelanos que foram mortos em meio a protestos antigoverno ocorridos em 2014, e tem o objetivo de demonstrar que a violência do Estado era um “plano sistemático” de violação de direitos. É improvável que as investigações levem a uma punição na prática, mas Stornelli requisitou à Venezuela e à ONU o envio de documentos que permitam avaliar o mérito da denúncia. No Infobae.
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