Giro #65: 1,5 milhão de vacinados na América Latina
Presidente argentino é o 1º líder vacinado | Nicarágua aprova prisão perpétua | Caravana migrante dispersada na Guatemala | Oxigênio venezuelano chega a Manaus | Em Cuba, Lula deu positivo para covid
A América Latina já tem, segundo os números oficiais, mais vacinados contra a covid-19 do que mortos pela doença. O início das inoculações no Brasil, no último domingo (17), deu um novo impulso aos números da região, que agora registra pelo menos 1,5 milhão de pessoas que já receberam a primeira dose de algum dos imunizantes atualmente em uso nos países latinos – o da Pfizer, a Sputnik V e a CoronaVac. O México lidera a lista, com 552 mil vacinados, seguido por Brasil, com 462 mil, e Argentina, com 279 mil.
São números que enchem a região de expectativa e esperança, mas também lembram o tamanho do desafio que vem pela frente: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 70% da população de um país precise ser vacinada para se alcançar uma imunidade coletiva que efetivamente torne os contágios mais raros – hoje, nenhum país latino-americano ainda chegou sequer a 1%. O único lugar a ter superado a marca é o território de Porto Rico, com 5,65%. No mundo inteiro, quem tem os melhores números percentuais é Israel, que já vacinou 39% da sua população, mas conta com trunfos: um número diminuto de habitantes que se tornou ainda menor após a exclusão da contagem dos palestinos que vivem em áreas contestadas. E mesmo a milionária marca regional ainda é tímida e reflete a desigualdade em relação aos países ricos quando se lembra que os Estados Unidos, com metade da população latino-americana, já aplicaram mais de 17 milhões de doses.
Apesar do rápido avanço deste primeiro mês e da entrada de Brasil, Equador e Panamá na lista da vacinação na última semana, a América Latina ainda tem 13 países que não iniciaram oficialmente uma campanha de vacinação. É o caso da Colômbia, terceira nação mais populosa da região e que, segundo a OPAS, terá suas primeiras “na primeira semana de fevereiro”, além daqueles cuja resposta ao vírus vinha sendo exemplo no mundo (apesar do agravamento da pandemia nas últimas semanas), como Uruguai e Cuba – a ilha terá uma vacina própria, inclusive, mas ainda está nas fases finais de testes.
Mesmo quem já começou a vacinar mostra alguns gargalos, sobretudo na produção: o Brasil conseguiu avançar rápido ao gastar o pé-de-meia de CoronaVac produzido pelo Butantan em São Paulo e, na sexta-feira (22), recebeu as vacinas de Oxford vindas da Índia, mas só ampliará a escala depois que resolver a crise diplomática para obter insumos importados da China, além de precisar esperar até março para receber as 20 milhões de doses por meio do acordo que tem com o fundo Covax. O Panamá iniciou as imunizações nesta semana recebendo menos de 13 mil das 40 mil doses prometidas no primeiro carregamento. A Costa Rica viu suas cargas da Pfizer serem suspensas por três semanas. Para tentar acelerar sua campanha, o México já autorizou que empresas privadas e governos estaduais façam compras de vacina por conta própria.
A partir de agora, com um noticiário mais esperançoso sobre as perspectivas da pandemia, autoridades sanitárias e a própria população parecem se ver diante do desafio de não afrouxar os cuidados no que poderia ser uma espécie de “reta final” da época mais difícil da covid-19: para chegar no patamar pretendido da OMS, são necessários até 450 milhões de latinos imunizados, quase 300 vezes mais do que temos hoje. Até lá, os problemas de antes permanecem: a última semana voltou a ser de recordes tristes na pandemia na América Latina e, enquanto a vacinação ganhava espaço, a região teve seu maior número de novas mortes em um intervalo de sete dias – 22,7 mil. Leia aqui nosso levantamento semanal completo, que a partir de agora passará a incluir não só os dados oficiais de contágios e mortes, mas também os de vacinados onde houver dados disponíveis.
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Un sonido:
REGIÃO 🌎
Duas mudanças importantes na questão imigratória foram anunciadas tão logo Joe Biden assumiu a Presidência dos EUA durante a semana, afetando as nações latinas. A partir desta sexta (22), o Departamento de Segurança Interna anunciou uma pausa nas deportações de parte dos estrangeiros por 100 dias, embora não tenha revelado os detalhes de quem será contemplado pela medida. Outra mudança é ainda mais significativa para a região: o governo Biden anunciou o fim do programa “Stay in Mexico”, política de Trump que obrigava solicitantes de asilo a esperar em solo mexicano até que a Justiça estadunidense contemplasse seus pedidos, deixando milhares de pessoas em um limbo e sem proteção legal de nenhum dos lados da fronteira, tornando os acampamentos de migrantes um terreno eivado de estupros, sequestros e assassinatos. Ainda não está claro o que acontecerá com os acampamentos que já existiam no momento da transição em Washington. Saiba mais sobre o que a posse de Biden pode representar para a América Latina na seção Un video.
ARGENTINA 🇦🇷
O governo aprovou, na quarta (20), a utilização da vacina russa Sputnik V em maiores de 60 anos. As dúvidas sobre a qualidade do imunizante aplicado na Argentina desde o fim de dezembro vinham gerando controvérsia, e a impossibilidade de uso em idosos – uma das populações prioritárias em todas as campanhas de vacinação ao redor do mundo – era um dos pontos mais discutidos. O Wall Street Journal, por exemplo, chegou a definir a Argentina como “campo de testes” da Sputnik V. Após a aprovação, o presidente Alberto Fernández, que tem 61 anos, recebeu sua dose para dar o exemplo, tornando-se o primeiro líder imunizado da América Latina. Via Reuters.
A Argentina fechou, na terça (19), um acordo com a AstraZeneca para a fabricação de insumos que possibilitem a produção da vacina de Oxford – justamente o que está faltando para a Fiocruz fazer este imunizante no Brasil, já que o país depende da importação da mesma matéria-prima a partir da China, com quem o governo Bolsonaro vive crise diplomática. Apesar da escassez brasileira, o país não poderá importar a produção argentina, já que isso envolveria novos entraves burocráticos e barreiras contratuais: a ideia é que as 200 milhões de doses que venham a ser produzidas por lá sejam exportadas para o restante da América Latina. No EM.
Um inesperado pedido feito por uma companhia aérea se tornou o mais novo argumento argentino para reivindicar a soberania sobre as Malvinas (ou Falklands): a alemã Lufthansa solicitou autorização ao órgão de aviação civil argentino para dois voos charter que serão realizados em fevereiro e março rumo ao arquipélago em eterna disputa. Para a chancelaria argentina, o gesto “implica o reconhecimento das Ilhas Malvinas como parte do território argentino”. O governo alemão se apressou em evitar uma crise diplomática e disse que os atos de empresas privadas não refletem sua posição. Os aviões levarão cientistas alemães para embarcar em um navio rumo à Antártica, onde devem realizar pesquisas sobre as mudanças climáticas. No Página 12.
Um terremoto de magnitude 6,4 na província de San Juan sacudiu casas e rachou estradas na última segunda (18), com relatos de tremores na região de Mendoza, San Luis, Córdoba, Tucumán, Rosario, na capital Buenos Aires e até mesmo em cidades do Brasil e do Chile. Duas crianças e um adulto foram hospitalizados por conta dos abalos, mas não correm risco de morte. Segundo o Instituto Nacional de Prevenção Sísmica, o terremoto aconteceu a 8 km de profundidade e foi um dos mais fortes dos últimos tempos. No Clarín.
Un video:
BOLÍVIA 🇧🇴
Morreu aos 78 anos o icônico líder sindical e ex-guerrilheiro Felipe Quispe, também conhecido como “El Mallku”. Simbólico no imaginário de resistência indígena dos nativos aimaras, Quispe era considerado um dos mais respeitados de sua classe, com uma história de oposição a cinco ex-presidentes bolivianos, entre eles a interina Jeanine Áñez. Após anos à frente da luta social, partiu para a luta armada: em 1988, fundou o grupo Ayllus Rojos para, posteriormente, integrar o Exército Guerrilheiro Túpac Katar, tendo o ex-vice-presidente Álvaro García Linera (2006-2019) como um de seus irmãos em armas. Nas redes, Evo Morales prestou homenagens e criticou as condolências “racistas” de Áñez. Em El Deber.
Há 15 anos nesta sexta (22), Evo Morales assumia a Presidência da Bolívia, cargo em que permaneceria até a crise eleitoral e subsequente golpe de 2019. Acusado de tentar se eternizar no poder com várias manobras legais e jurídicas que garantiram suas reeleições, Evo fez um governo marcado pela redução da extrema pobreza, a expropriação de empresas estrangeiras e o reconhecimento de diferentes direitos dos povos originários. Na Aventuras na História.
CHILE 🇨🇱
Um escândalo de venda de exames negativos para covid-19 foi desbaratado por autoridades sanitárias durante a semana: em Las Condes, uma das comunas mais abastadas que compõem a capital Santiago, uma clínica estaria cobrando 60 mil pesos (R$ 450) para forjar um exame PCR indicando que o cliente não estava com coronavírus – independentemente do resultado real. Segundo a denúncia, o serviço era procurado sobretudo por viajantes que precisavam comprovar a não-contaminação antes do embarque em voos internacionais, e a demanda cresceu nas últimas semanas, com as festas de fim de ano e as férias de verão. A clínica foi fechada enquanto correm as investigações e as autoridades prometem punições pesadas pelo que definiram como “um atentado à saúde pública”. Na Cooperativa.
O país aprovou o uso emergencial da CoronaVac, a vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac que vem sendo utilizada nas primeiras imunizações do Brasil, além de Turquia e Indonésia. O Chile, que já vem vacinando sua população com o imunizante da Pfizer desde 24/12, em um primeiro momento não recomendou a CoronaVac para pessoas de 60 anos ou mais, citando a necessidade de mais estudos. O país espera receber 4 milhões de doses antes do fim de janeiro. No Valor.
COLÔMBIA 🇨🇴
O Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha oficialmente ativa do país, entrou novamente na mira das autoridades após sequestrar o político Fermiliano Meneses, no município de Argelia. Acredita-se que Meneses tenha sido assassinado, segundo o Alto Comissário da Paz, Miguel Ceballos. Meneses, que foi eleito para um período de três anos como vereador na região de Cauca, conhecido por ser um dos lugares mais violentos do país e terreno de massacres cometidos por diversos grupos armados, era defensor de uma política de substituição de cultivos ilícitos e virou alvo do ELN nos últimos meses. Grupos de diálogo tentam obter informações. As negociações de paz entre o governo e o ELN acontecem desde 2017, mas chegaram a um desgaste após atentados atribuídos à guerrilha. Via EFE.
Um grupo de cientistas colombianos e mexicanos recomendou uma solução radical a um problema impensável para uma nação sul-americana: o sacrifício de dezenas de hipopótamos que hoje vivem no Rio Magdalena, a 260 km de Medellín. Nativos da África, os gigantescos e agressivos mamíferos foram uma extravagância do megatraficante Pablo Escobar (1949-1993), que nos anos 1980 trouxe quatro hipopótamos para seu zoológico particular em uma fazenda que mantinha na região. Após a morte de Escobar e o abandono da propriedade, porém, os animais começaram a se reproduzir sem controle, ameaçando a fauna nativa e até mesmo a população humana das redondezas. Estima-se que haja entre 80 e 100 hipopótamos vivendo no Magdalena hoje e, sem predadores naturais, a população poderia passar a até 1,5 mil nos próximos 20 anos. Para os especialistas, é tarde demais para uma alternativa que não envolva a matança dos animais. Na DW.
COSTA RICA 🇨🇷
O Congresso aprovou, por unanimidade, o primeiro orçamento extraordinário de 2021, e por uma boa causa: a compra de mais vacinas. Um total de 40,5 bilhões de colones (R$ 358 milhões) serão investidos para adquirir 640 mil doses a mais para imunizar os grupos prioritários. Com sua campanha iniciada em 24/12, a Costa Rica já vacinou cerca de 30 mil pessoas, incluindo seu habitante mais velho, José Uriel “Chepito” Delgado, que diz ter 120 anos (embora a idade seja questionada). No Nación.
Após meses de discussões e protestos, o governo finalmente chegou a um acordo, na sexta (22), para obter US$ 1,75 bilhão junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O acordo prevê que a Costa Rica deve buscar um superávit primário equivalente a 1% do PIB até 2023, e uma redução da sua dívida pública para cerca de 50% do PIB até 2035 (em 2020, a dívida fechou em 70%). Como de hábito nesses acordos, o temor é por um sucateamento dos serviços públicos em meio às medidas de austeridade necessárias para alcançar as metas do Fundo. No Nación.
CUBA 🇨🇺
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) encerrou uma estadia de um mês na ilha, reunindo-se com o atual presidente, Miguel Díaz-Canel, e seu antecessor, Raúl Castro, o irmão de Fidel. Durante a semana, revelou-se que Lula chegou a testar positivo para covid-19 no dia 26/12, assim como outros oito integrantes do grupo que o acompanhou até a ilha. Lula agradeceu a solidariedade cubana durante seu período preso sob acusações de corrupção, condenou a recente inclusão da ilha na lista de patrocinadores do terrorismo elaborada pelos EUA, e manifestou sua admiração pela forma como o país vem lidando com a pandemia – o que, de fato, ficou comprovado durante a visita do líder brasileiro: o diagnóstico dele e de seus acompanhantes só saiu quando Cuba refez o teste cinco dias após a chegada à ilha, protocolo que tem ajudado Havana a evitar falsos negativos. Via AFP.
Una palabra:
Vacuna – o termo em espanhol para vacina guarda semelhança com “vaca” e “vacuno” (bovino) e não é casualidade. Assim como ocorre em português, mas ainda mais explícito na versão hispânica da palavra, o termo se origina na variolae vaccinae, nome em latim dado à varíola bovina no fim do século 18 pelo britânico Edward Jenner, considerado o pai da imunologia. Quase cem anos mais tarde, o francês Louis Pasteur sugeriu utilizar a palavra para se referir às inoculações que estavam sendo desenvolvidas na época. E o termo pegou em quase todas as línguas: vacuna no espanhol, vacina no português, vaccin no francês, vaksen no créole haitiano, e por aí vai.
EL SALVADOR 🇸🇻
O discurso relativista do presidente Nayib Bukele em relação aos Acordos de Paz de 1992 – que colocaram ponto final na sangrenta guerra civil – vem reverberando da pior forma possível: nos últimos dias, diversas vozes se uniram para reafirmar a importância histórica do cessar-fogo, contando com ativistas, membros da Procuradoria em Defesa dos Direitos Humanos e até membros do TSE. Números da ONU dão conta que o conflito armado iniciado em 1979 deixou pelo menos 75 mil mortos e um número ainda maior de desaparecidos, incluindo 30 mil bebês. Além de proibir celebrações em 16/1, dia da trégua firmada na cidade mexicana de Chapultepec, Bukele anunciou que mudará o nome do feriado, de “Dia do Acordo de Paz” para “Dia das Vítimas do Conflito”. Na Prensa Latina.
EQUADOR 🇪🇨
As primeiras doses da vacina da Pfizer chegaram ao aeroporto de Quito na quarta (20) e o início da vacinação não demorou: no dia seguinte à chegada do primeiro lote, funcionários do Hospital Pablo Arturo Suárez se tornaram os primeiros imunizados da chamada “fase zero”, que promete aplicar 80 mil doses até o final do mês em um piloto para a verdadeira campanha. Em El Comercio.
O candidato à presidência César Montufar denunciou que vem recebendo ameaças de dirigentes do Banco de Guayaquil, após acusar o candidato Guillermo Lasso (ex-integrante da instituição e apoiado pela classe bancária) em um escândalo envolvendo o Instituto de Seguridade Social da Polícia Nacional, conhecido como ISSPOL. Montufar alega ter recebido uma carta nas redes sociais em que o presidente do banco promete tomar medidas legais contra sua candidatura, o que, na visão do candidato, é um “atentado à democracia”. Os equatorianos vão às urnas no próximo dia 7/2, em meio a um panorama eleitoral quente. Na teleSUR.
GUATEMALA 🇬🇹
Uma caravana de migrantes com milhares de pessoas saindo de Honduras foi reprimida pela polícia guatemalteca na última segunda (18), o que impediu o avanço do grupo até as fronteiras com os EUA. Qualificada como “terceiro país seguro” desde 2019, a Guatemala estabeleceu um acordo com Washington que prevê garantias de segurança a migrantes que tentam chegar ao país ao norte – o que, desde o surgimento das caravanas em 2018, não vem acontecendo. A resposta violenta dos agentes de segurança deixou pessoas feridas e apenas dispersou o grupo, que seguirá tentando atravessar fronteiras para fugir da violência e do desemprego em seus países de origem. Em Honduras, um dos integrantes que voltou frustrado direcionou sua raiva ao presidente Juan Orlando Hernández, dizendo que pretende “derrubar esse narcoditador”. Na Prensa.
HAITI 🇭🇹
Um novo relatório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, chefiado por Michelle Bachelet, relatou que a crise sociopolítica do país “mostra um padrão de violações e abusos” de garantias fundamentais, citando a atividade em alta de gangues e os vários episódios de repressão policial durante o último ano. “Atos de violência cometidos por manifestantes em protestos anteriores não devem servir de pretexto para restringir as liberdades fundamentais e reduzir o espaço cívico”, diz a porta-voz Marta Hurtado. Entre abril e agosto, mais de 300 pessoas morreram em atos de violência, em maioria relacionados a grupos criminosos. Durante a última semana, novos protestos contra o governo de Jovenel Moïse foram vistos pelo país. Na ONU.
HONDURAS 🇭🇳
O Congresso aprovou, na quinta (21), uma reforma constitucional com o objetivo de blindar o artigo 67, que garante a proibição total do aborto no país – Honduras tem uma das legislações mais restritivas do mundo, impedindo a interrupção da gravidez mesmo em casos de estupro, risco à vida da mãe ou má-formação do feto. Parlamentares conservadores consideravam que o texto atual abriria margem para a aprovação de leis mais brandas no futuro e agora incluíram um dispositivo que “anula e invalida disposições legais criadas posteriormente ao artigo”. A pressa em “proibir algo que já está proibido”, como definiram ativistas pró-direitos das mulheres, veio em resposta aos impulsos de legalização vistos recentemente em outros pontos da América, como Argentina e Chile. Neste vídeo, o GIRO deu um panorama da questão do aborto na região. Na BBC.
Um escândalo: a Justiça do país inabilitou o mandato da deputada María Luisa Borjas, ex-integrante da polícia e conhecida por denunciar um amplo esquema de corrupção na corporação. Borjas foi processada criminalmente por ler um relatório denunciando os autores (já condenados) do assassinato da ativista ambiental Berta Cáceres, morta por bandoleiros em 2016 após encabeçar uma luta contra o desenvolvimento do projeto hidrelétrico Agua Zarca. Além da possível perda de mandato, a deputada pode ficar de fora do processo eleitoral de novembro, cujas votações primárias começam em março. Em uma longa entrevista ao Criterio, a parlamentar fez críticas à justiça do país, além de detalhar seu papel no combate à corrupção.
MÉXICO 🇲🇽
Novidade no espinhoso caso Salvador Cienfuegos (leia mais no GIRO #64): depois da procuradoria sugerir o arquivamento do processo em que o general e ex-secretário de Defesa mexicano era acusado de laços com o narcotráfico, membros da força-tarefa que analisa o caso publicaram um documento gigante para sustentar a decisão de absolver o militar, que ainda é alvo da justiça dos EUA. O problema: os trechos “censurados” eram tantos que quase ninguém conseguiu entender o que, exatamente, o México queria mostrar com o calhamaço de mais de 700 páginas. O caso Cienfuegos virou foco de disputa entre os dois países, com o presidente López Obrador dizendo que os EUA “fabricaram” as acusações, enquanto o Departamento de Justiça estadunidense promete reabrir a querela, sentindo-se enganado – Cienfuegos, preso no ano passado em Los Angeles, foi entregue ao México com a promessa de que seria julgado ali, o que não ocorrerá. Em El País.
A crise dos insumos não é exclusividade brasileira: com cada vez menos leitos de UTI disponíveis e mais de 20 mil novos casos diários de covid-19, o México também vive episódios de falta de oxigênio. Em alguns casos, autoridades também reportam furtos: segundo o Instituto Mexicano de Seguridade Social, dois homens armados entraram em um hospital em Sonora pedindo cilindros. Em Tultepec, próximo à capital, a polícia prendeu homens que carregavam 44 tanques de oxigênio em um caminhão roubado. Nas últimas semanas, o México vem sendo o país com mais mortes por covid-19 na América Latina em números absolutos, superando inclusive o Brasil. Via AP.
Apesar da pandemia, o número de homicídios seguiu alto no México em 2020, revelou um relatório do governo divulgado durante a semana. Dados preliminares indicam 34.515 mortes do tipo no último ano, apenas 133 a menos do que o número considerado pelo governo no cálculo de 2019 – embora o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI) tenha afirmado, em setembro, que o número real seria de 36.476 homicídios, o que indicaria uma redução maior agora, de quase 2 mil mortes. De todo modo, quase 100 pessoas seguem morrendo de forma violenta no país a cada dia, e nem os lockdowns colocaram um freio perceptível no derramamento de sangue. Via AP.
Un clic:
Crianças brincam em gangorra instalada em parte do “muro” (na verdade, uma cerca) erguido na fronteira EUA-México durante o governo Trump.
NICARÁGUA 🇳🇮
A dez meses das eleições mais aguardadas em uma década, o Congresso dominado pela situação aprovou uma polêmica lei que permite a pena de prisão perpétua, inclusive para “crimes de ódio” definidos em termos vagos. A medida, bastante criticada pela minoria opositora da casa, pode ser mais uma investida do governo contra adversários: o próprio presidente Daniel Ortega admitiu que opositores são culpados pelo crime. Além de usar um dos poderes para criminalizar a oposição, orteguistas também tentam tirar oponentes do processo eleitoral de novembro. Segundo os governistas, que dizem ter reunido 3 milhões de assinaturas favoráveis à pena perpétua, a lei serve apenas para proteger a sociedade civil de estupradores e assassinos. Na Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
O país se juntou à lista da vacinação nas Américas na quarta-feira (20), quando as primeiras doses do imunizante da Pfizer chegaram ao Panamá. Por problemas de produção, porém, o carregamento inicial foi bem menor que o previsto: 12.840 doses das 40 mil originalmente calculadas. No primeiro dia de imunizações, 641 panamenhos receberam a sonhada injeção, começando pela enfermeira Violeta Gaona de Cocherán, de 59 anos. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
Ainda não há vacina no Paraguai, mas já tem “jacaré”: em Limpio, na região metropolitana de Assunção, voltaram a aparecer com força os chamados “yacaré yrupé”, nome popular da Victoria cruziana, uma parente próxima da vitória-régia (ou Victoria amazonica) e típica dos rios Paraguai e Paraná. Considerados ameaçados de extinção, os yrupés são protegidos no país desde 2006, e costumam ser vistos em maior número somente a cada três anos, o que os converte em uma atração turística. Segundo a crença popular, suas folhas também teriam propriedades curativas contra a tosse, motivo que coloca as autoridades em alerta com a pandemia presente – em 2018, no último “boom” da planta, houve uma depredação massiva dos yrupés por quem buscava um suposto tratamento natural para os brônquios. No ABC Color.
E quando haverá vacina? A promessa do governo, agora, é que isso se dará a partir da segunda quinzena de fevereiro. Na sexta (22), o Ministério da Saúde anunciou que chegou a um acordo com duas empresas para adquirir 3 milhões de doses, embora o nome das companhias ou das vacinas não tenha sido revelado até o fechamento desta edição. Na CNN.
PERU 🇵🇪
Passados dois meses da grave crise que fez o Peru ter três presidentes em uma semana e levou ao assassinato de manifestantes pela polícia, o governo permanece impopular: o Congresso é desaprovado por 73% da população, enquanto o presidente Francisco Sagasti, que assumiu após a sucessiva troca de mandatários e deve permanecer no cargo só até julho, já viu sua reprovação subir 12 pontos percentuais no último mês, chegando a 47%. O Peru vai às urnas em 11/4, em eleições que poderão ter um número recorde de até 22 candidatos, que incluem nomes bem conhecidos como Keiko Fujimori: às voltas com a Justiça, a herdeira do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000) e candidata nas eleições de 2016, promete indultar o pai, hoje preso, caso seja eleita. Via EFE.
Ainda não há certeza se o ex-presidente Martín Vizcarra (2018-2020), cuja derrubada em novembro iniciou a crise que levou Sagasti ao poder, poderá dar o próximo passo que pretende na política: aproveitando a popularidade que mantinha ao deixar o cargo, Vizcarra lançou campanha para o Congresso e vem prometendo elaborar uma nova Constituição que, entre outros pontos, eliminaria a imunidade parlamentar. Só que o ex-presidente ainda não garantiu que efetivamente poderá concorrer: a Justiça Eleitoral, por enquanto, vem considerando sua candidatura “excluída” após uma omissão na declaração de bens. Vizcarra está recorrendo e sua defesa diz que a exclusão não teria base jurídica. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
O beisebol, uma das paixões esportivas da ilha, viu um recorde no último domingo (17): os Indios de Mayagüez massacraram os Atenienses de Manatí por um placar de 30x8, superando uma marca que já durava 81 anos na liga profissional de Porto Rico – até então, o máximo de corridas (como são chamados os “pontos” no placar do beisebol) já visto no território tinham sido 23, em 1939, pelos Brujos de Guayama, uma equipe que nem existe mais. A vitória acachapante foi a segunda das quatro que o time de Mayagüez obteve na série melhor-de-sete, avançando para definir o título porto-riquenho contra os Criollos de Caguas em outra série que pode chegar a sete jogos até o próximo dia 27 — embora os Criollos já tenham vencido os dois primeiros. O campeão representará a ilha na Série do Caribe, principal competição de beisebol da América Latina e que está marcada para a primeira semana de fevereiro, no México. No Chron.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A cor fúcsia “nasceu” nas montanhas da ilha de Hispaniola, em flores da Serra de Barohuco. Hoje, há mais de cem plantas do gênero Fuchsia catalogadas ao redor do mundo, mas a primeira de todas – a Fuchsia triphylla – foi descrita pelo botânico francês Charles Plumier em 1703, após achados no que depois se tornaria a República Dominicana. O nome do gênero taxonômico, e depois da cor encontrada nas flores, foi uma homenagem de Paulmier ao botânico alemão Leonhart Fuchs, que no século 16 ficou conhecido por pesquisar as propriedades medicinais de diferentes ervas. A história da planta dominicana e da cor, no Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
O presidente Luis Lacalle Pou anunciou na quinta-feira (21) que seu governo finalmente escolheu as vacinas da Pfizer e da Sinovac para dar início à vacinação contra covid-19 no país. Segundo o anúncio do presidente, feito via Twitter, há ainda mais negociações com outros fornecedores. Atualmente, o Uruguai vive sua primeira grande onda da pandemia, com média de mais de 700 novos casos e 10 novas mortes diárias na última semana. O país fechou as fronteiras para evitar a propagação do vírus. No Infobae.
Querendo reativar o turismo quando o pior da pandemia passar, o Uruguai se voltou às principais atrações de seu diminuto território: uma iniciativa do Ministério do Turismo em parceria com o jornal El País criou uma pré-lista de 36 destinos imperdíveis do paisito, com o objetivo de escolher as “7 maravilhas” do Uruguai. Locais como as praias de Cabo Polonio e Punta del Diablo, a Rambla de Montevidéu ou a Colônia do Sacramento estão entre as opções em que qualquer residente do país poderá votar até o dia 15/4 no site 7maravillas.uy.
VENEZUELA 🇻🇪
Em meio à crise da falta de oxigênio em Manaus, o carregamento prometido pela Venezuela na semana anterior chegou finalmente à cidade brasileira na terça (19) à noite, após mais de 1,5 mil quilômetros de estrada. A ajuda humanitária, autorizada por Nicolás Maduro, envolveu cinco caminhões carregando 107 mil metros cúbicos de oxigênio – uma ajuda suficiente para menos de um dia e meio, já que no auge da crise a capital do Amazonas chegou a consumir 76 mil m³ diários. Apesar do gesto benevolente dos vizinhos, ainda há relatos de números subestimados da pandemia no país, da falta de insumos em hospitais locais e até efeitos nocivos da crise política no processo de compra das vacinas. No G1.
Como contamos em Un video, o apagar das luzes do governo Trump foi movimentado: além de reinserir Cuba na lista de países “patroncinadores do terrorismo”, o agora ex-mandatário também emitiu um decreto que suspende a deportações de venezuelanos no país por 18 meses. O documento, assinado no último dia de mandato, diz que o governo de Nicolás Maduro “tem constantemente violado as liberdades soberanas do povo venezuelano”. Com a chegada de Biden, é ainda incerto o que será da relação dos EUA com a Venezuela: mesmo cada vez mais enfraquecido, Juan Guaidó vai contar com suporte, ainda que simbólico, da nova administração, além da União Europeia, que resolveu voltar atrás depois de descartar o apoio ao opositor e agora busca uma maneira de voltar a formalizar o reconhecimento retirado no último dia 6. No Efecto Cocuyo.
Autoridades de Cabo Verde aprovaram um pedido da defesa do empresário colombiano Alex Saab, apontado como testa de ferro de lideranças chavistas, para ser transferido a um regime de prisão domiciliar. Saab está detido na capital Praia desde junho, onde acabou preso por meio de um mandado de prisão emitido nos EUA. Sua defesa luta contra uma possível extradição para Miami, onde ele é acusado formalmente de corrupção, e também alega que os meses de detenção em regime fechado foram “desumanos”. Autoridades estadunidenses acreditam que Saab pode ser o caminho para revelações contundentes contra Nicolás Maduro. Via AP.
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