Giro #64: Venezuela oferece oxigênio para Manaus
EUA recolocam Cuba na lista do terror | Ford deixa Brasil rumo à Argentina | Presidente de Honduras acusado de laços com o tráfico | Evo Morales está com covid-19
“Solidariedade latino-americana acima de tudo”, disse o chanceler venezuelano Jorge Arreaza em seu Twitter, na noite de quinta-feira (14), ao anunciar que seu país colocaria oxigênio à disposição para o governo amazonense tentar contornar a catástrofe humanitária que ganhou novos contornos durante a última semana. Segundo Arreaza, a instrução partiu do próprio Nicolás Maduro. Imediatamente, o governador do Amazonas, o bolsonarista (agora atacado pelo próprio Bolsonaro) Wilson Lima, deixou as divergências ideológicas de lado para agradecer o oferecimento do vizinho ao norte. Ele diz que, apesar da “comoção mundial”, nenhum outro lugar ofereceu ajuda concreta.
Não está claro quando (ou se) a carga venezuelana efetivamente chegará a Manaus, que se viu obrigada a transferir pacientes para outros estados e vive um drama pela falta de oxigênio que afeta inclusive internados que não sofrem diretamente com a covid-19, como bebês prematuros. Certo é que o Brasil voltou a centralizar as preocupações pandêmicas da região, meses depois de ter sido um dos países que alçou a América do Sul ao triste posto de epicentro da pandemia, em maio passado: além das “câmaras de asfixia” em que os hospitais manauaras se converteram, o país segue na incerteza sobre o início da sua campanha de vacinação e encerrou a semana com o fiasco de cancelar o voo que iria à Índia buscar vacinas, depois que a nação asiática indicou que era “cedo demais” para exportar os imunizantes de que também necessita. De quebra, a nova cepa de coronavírus identificada no próprio estado do Amazonas passou a preocupar o mundo – o Reino Unido já suspendeu viagens vindas do Brasil e seus vizinhos, além de Portugal, entreposto comum aos brasileiros circulando pela Europa.
A situação agora enfrentada por Manaus não é inédita nas Américas, e o mais notável exemplo anterior dá poucas esperanças em relação ao desfecho do drama: em junho de 2020, o Peru também enfrentou uma escassez de oxigênio, com muitas famílias precisando adquirir cilindros por conta própria, como ocorre agora no Amazonas, chegando a pagar sobretaxas de até 1.000% em relação ao valor de mercado habitual. O Peru acabaria se tornando o primeiro país latino-americano a atingir a triste marca de uma vítima de covid-19 a cada mil habitantes (limiar estatístico que o Brasil também vai atingir ao longo da próxima semana) e ainda hoje é a nação com mais mortes proporcionais na região – leia aqui nosso levantamento semanal da situação da pandemia na América Latina, que voltou a bater recorde de casos. Neste início de 2021, o México também passou a registrar problema semelhante de falta de oxigênio.
A Venezuela, que agora oferece auxílio aos brasileiros, vê-se diante de uma oportunidade imperdível de propaganda, prestando solidariedade a um país cujos governantes vinham tripudiando sobre a crise em Caracas até pouco tempo atrás. O oferecimento também joga luz sobre a paradoxal situação da pandemia por ali: os principais órgãos internacionais veem com justificada desconfiança os baixos números venezuelanos, diferentemente do que ocorre com Cuba e, oficialmente, o governo Maduro reconhece apenas 118 mil casos e 1.089 mortes, os mais baixos números proporcionais da América do Sul. Embora médicos do país denunciem a falta de produtos mais básicos e, por vezes, até mesmo cortes no fornecimento de água e luz para os hospitais, imagens extremas como as vistas em Guayaquil ou em Manaus não chegaram a se difundir, apesar do colapso visto em locais como Maracaibo – nem mesmo a partir de lideranças opositoras, que denunciaram que os números reais seriam “mais que o dobro” dos oficiais.
Para explicar a situação, especialistas apontam não apenas para os controles rígidos impostos no país, mas também para a pouca integração internacional ocasionada pelas sanções e pelos números irrisórios de turistas, o que teria reduzido a circulação do vírus – o governo dificultou até mesmo o retorno de expatriados, especialmente através da fronteira com a Colômbia, e chegou a tachá-los de “armas biológicas”. Diante da crise, até um improvável acordo entre Maduro e Guaidó para enfrentar a pandemia chegou a ser firmado. Não quer dizer que a Venezuela não enfrente seus próprios problemas com o coronavírus. Ainda em abril do ano passado, o país recebeu concentradores de oxigênio da Unicef para driblar a estrutura sucateada, e uma missão da Médicos Sem Fronteiras (MSF) se retirou em novembro, citando as “restrições de entrada de pessoal humanitário especializado no país”. Hoje, porém, sufocado em todos os sentidos, o Brasil recebe ofertas de auxílio de um país sinônimo de infâmia pela boca do bolsonarismo – que agora pode acabar tendo que aceitar a ajuda da mesma nação em que tanto teme se transformar.
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Un sonido:
REGIÃO 🌎
A Copa Libertadores, principal competição de clubes da América do Sul, definiu seus finalistas durante a semana: pela terceira vez na história, uma decisão inteiramente brasileira terá lugar, com o confronto entre os paulistas Palmeiras e Santos – classificados, respectivamente, sobre os argentinos River Plate e Boca Juniors. A finalíssima, em partida única no Rio de Janeiro, acontece no próximo dia 30. No GE.
Atenção, amantes do cinema latino: entre os dias 18 e 31/1, o curso de Comunicação da UFF apresenta a “Mostra Cinema Político Argentino”, com diversas obras que desenham a formação social e política dos vizinhos platinos. Por meio dos filmes, conheça mais sobre capítulos de exílio, repressão e do processo de redemocratização argentinos. Mais informações no Instagram da Mostra e no formulário de inscrição.
ARGENTINA 🇦🇷
O anúncio de que a montadora Ford encerraria suas operações no Brasil dominou manchetes no início da semana, especialmente pela confirmação de que a empresa pretende investir US$ 580 milhões para ampliar seus negócios na Argentina. Citada como um exemplo do fracasso da economia sob Jair Bolsonaro, a decisão não reflete, necessariamente, um sucesso argentino mais amplo, e sim um episódio pontual: os dois países vêm enfrentando repetidas saídas de empresas estrangeiras nos últimos anos. Na BBC.
Um acordo envolvendo o minúsculo território de Gibraltar, península no sul da Espanha que pertence ao Reino Unido, pode abrir novas perspectivas para as demandas argentinas em relação às Malvinas: apesar do Brexit efetivado na virada do ano, o pré-acordo envolvendo Gibraltar indica que o território pode manter a livre circulação de pessoas que valia enquanto a Grã-Bretanha fazia parte da União Europeia. Embora isso não tenha a ver diretamente com as Malvinas, em Buenos Aires a medida é vista como um “debilitamento” da “política colonial britânica”. O Brexit também significa que esses locais não estão mais sob a guarida do Tratado de Lisboa, que confere proteção adicional aos resquícios coloniais dos membros da UE. A Argentina quer voltar à mesa de negociações. Via Télam.
BOLÍVIA 🇧🇴
O ex-presidente Evo Morales (2006-2019) testou positivo para covid-19, informou um comunicado de imprensa do seu partido, o MAS, durante a semana. Inicialmente, Evo e seu entorno negaram o diagnóstico, mas a versão mudou pouco após o rumor. Segundo o documento, Evo (que já perdeu a irmã, Esther Morales, para o coronavírus em agosto) está estável e recebendo tratamento. A curiosidade da semana ficou por conta de quem desejou melhoras a Evo: pelo Twitter, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, considerado a pedra fundamental do impasse que levou ao golpe em 2019, estimou “pronta recuperação”. Os internautas não perdoaram. No Página 12.
Um locaute de caminhoneiros paralisou o departamento de Santa Cruz, principal reduto de oposição ao governo de esquerda do país, por 24 horas. As organizações de transportadores alegam que a mobilização buscou pressionar o governo para renegociar o pagamento de dívidas bancárias que venciam em dezembro, algo que efetivamente acabou ocorrendo: na quarta (13), foi anunciada uma moratória de seis meses. Ainda assim, os caminhoneiros exigem um prazo maior e seguem prometendo uma nova paralisação, desta vez de 48 horas, se o governo não garantir um adiamento até o final de 2021. No Infobae.
Un video:
CHILE 🇨🇱
Alvoroço na esquerda chilena com o avanço de investigações por subornos na comuna de Recoleta, uma das 32 que compõem a capital Santiago: após uma operação de busca e apreensão no prédio do governo municipal, os holofotes ficaram sobre o prefeito Daniel Jadue, candidato a reeleição em abril e pré-candidato do Partido Comunista às eleições presidenciais em novembro. Conhecido como Caso Luminarias, o escândalo se refere a uma doação feita por uma empresa ao governo da Recoleta, em paralelo à escolha da mesma companhia para renovar a iluminação pública na comuna. Após a repercussão do caso, a procuradoria se apressou em afirmar que os investigados são membros do governo municipal, mas que até o momento Jadue não é tratado como acusado. Na Biobío.
O Congresso passou a debater legalização do aborto até a 14ª semana de gestação, decisão similar à que foi aprovada de forma histórica na vizinha Argentina e passou a valer oficialmente na quinta (14). No Chile, porém, o apoio não é tão contundente: além da falta de respaldo popular e presidencial, a legalização é vista com maus olhos até pela ministra da Mulher e da Equidade de Gênero, Mónica Zalaquett. A lei do aborto aprovada em 2017, também parecida com que vigorava na Argentina até agora, permite que a gravidez seja interompida em casos de estupro, inviabilidade fetal e risco à vida da mãe. Na Prensa Latina.
Mais de 25 mil pessoas tiveram que ser evacuadas de suas casas em Quilpué, cidade vizinha a Valparaíso e Viña del Mar, em função de um incêndio florestal ainda não controlado na região. Os moradores foram alojados temporariamente em um estádio local e depois transferidos a albergues. Até o fechamento desta edição, o fogo iniciado na noite de quinta (14) já havia consumido 300 hectares e dez casas, e autoridades locais acreditam que se trata de um incêndio criminoso. O presidente Sebastián Piñera prometeu investigações. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
Policiais que participaram do homicídio do advogado Javier Ordóñez foram destituídos de seus cargos e proibidos de trabalhar na administração pública por 20 anos. Segundo a decisão da Procuradoria-Geral, Juan Camilo Lloreda Cubillos e Harby Damián Rodríguez Díaz foram responsáveis pelos golpes que levaram Ordóñez a morrer de hemorragia interna, após ser detido no dia 9 de setembro de 2020, em Bogotá. A morte de Ordóñez provocou uma onda de manifestações em todo o país contra a violência policial, como contamos no GIRO #47. Pelo menos 13 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nos protestos. Em El Espectador.
Margarita Cabello é a nova procuradora-geral da Colômbia. É a primeira mulher a ser alçada ao cargo, embora assuma em um clima de tensão política devido às suas ligações com investigações em curso pelo Ministério Público. A ex-ministra da Justiça teria que cuidar do processo contra o diretor da Polícia Nacional, o general Óscar Atehortúa, por indícios de corrupção. Além disso, Cabello teria que se declarar impedida de investigar um caso no qual ela mesma foi responsável por autorizar uma ação policial que resultou na morte de 24 detentos, durante um motim, em um presídio de Bogotá. No Infobae.
O presidente Iván Duque fez um pedido à comunidade internacional dizendo que o multilateralismo não foi “forte o suficiente” para contornar os problemas da pandemia e que esforços precisam ser feitos para ajudar países mais pobres. Segundo Duque, ainda que alguns países recorram à iniciativa global COVAX, o agravamento da pandemia os obriga a abrir negociações bilaterais pela vacina com outros laboratórios. Citando ONU, OMS e Banco Mundial, Duque defendeu que a imunização só acontecerá se for igualitária e universal. Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
Após protestos, idas e vindas e muita especulação, o governo em San José finalmente abre negociações com o FMI, de quem pretende pegar emprestado um valor de US$ 1,75 bilhão para equilibrar as contas afetadas pela pandemia. Entre os objetivos do presidente Carlos Alvarado está a resolução de um quadro de endividamento e déficit fiscal, que afeta o país desde antes de seu mandato. Mas os termos diretos do empréstimo não são a única dor de cabeça para o governo: para que a ajuda aconteça, o FMI exige medidas de austeridade que apontam para reformas no setor público, algo bastante criticado pelos sindicatos. Via EFE.
Un nombre:
Guantánamo – cidade na ilha de Cuba, onde fica a baía de 116 km² que comporta uma base naval arrendada de forma perpétua pelos EUA, em 1903. Esse paradoxo geopolítico, no entanto, virou metonímia para algo pior: desde os atentados do 11 de setembro, “Guantánamo” remete à prisão política em que os EUA mantinham acusados de vínculos com atividades terroristas. Apontado como antro de tortura física e psicológica, o lugar fica fora dos radares das leis internacionais e, desde 11 de janeiro de 2002, quando os primeiros prisioneiros chegaram à ilha, é alvo de críticas de diversas entidades defensoras de direitos humanos. O ritmo da música Guantanamera, criada a partir de um poema escrito pelo revolucionário cubano José Martí, ajuda a criar o imaginário desse contrassenso histórico.
CUBA 🇨🇺
Os EUA voltaram a incluir Cuba na lista de “Estados patrocinadores do terrorismo” na segunda-feira (11), recolocando a ilha no clube hoje integrado por Coreia do Norte, Irã e Síria, mas não por nações “amigas” de Washington e com laços com o extremismo como a Arábia Saudita. A designação impede o acesso do governo cubano ao comércio de armas com aliados dos EUA e dificulta ainda mais a busca de auxílios financeiros de entidades como o Banco Mundial e o FMI. Cuba fez parte da lista entre 1982 e 2015, mas foi retirada durante os esforços de reaproximação de Barack Obama. Já com seu governo no fim, Trump ainda tinha reservada uma última sanção para Havana, justificando-a pelo abrigo concedido pelo governo cubano a guerrilheiros da Colômbia e pelo apoio a Nicolás Maduro. Na BBC.
A ilha firmou um acordo com o Irã para testar sua vacina própria, a Soberana 2, durante a próxima fase dos estudos. A ideia é que 150 mil pessoas participem dessa nova etapa, mas a ilha precisava de parceria estrangeira, ironicamente, por conta de seus bons resultados na pandemia: dentro de Cuba, não há doentes graves em número suficiente para uma amostragem confiável. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, o país tem 27 pacientes graves em UTIs. Apesar de avançar na vacina e ainda estar entre os países com os melhores números da região frente à covid-19, Cuba acaba de viver sua pior semana desde o fim de abril, com 14 mortes. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
[Alerta de gatilho]
Há um surto de suicídio dentro da polícia do país, quadro comum em países violentos. Segundo dados da Polícia Nacional Civil (PNC), seis agentes entraram na estatística entre dezembro e a primeira semana de janeiro. Fontes anônimas ligadas à corporação atribuem o fenômeno aos efeitos “devastadores” da rotina à saúde mental dos policiais, que sofrem com falta de perspectiva pessoal e profissional em um país conhecido por ser um dos mais violentos do mundo. Um dos motivos da violência endêmica são as conhecidas gangues, cujos membros são alvos de processo por terrorismo até mesmo fora do país. Na Prensa Latina.
O presidente Nayib Bukele causou polêmica ao desqualificar os Acordos de Paz de Chapultepec que, em 1992, estabeleceram o fim da guerra civil (1980-1992) e selaram a trégua entre o Estado e os guerrilheiros da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Segundo Bukele, as tratativas serviram para que “um grupo de aproveitadores lucrasse com as mortes do confronto”. A fala espinhosa do presidente vem pouco mais de um mês antes das eleições legislativas e municipais em que os governistas enfrentam o FMLN, convertido em partido político hegemônico depois de Chapultepec. Na Prensa Grafica.
EQUADOR 🇪🇨
De olho nas eleições presidenciais de 7/2, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) já se mexe para garantir um processo seguro em meio à pandemia. Para evitar aglomerações, a jornada será determinada pelos números da cédula de identidade, para que a ordem de chegada seja organizada. O CNE também pede que cada um dos mais de 13 milhões de eleitores convocados ao sufrágio obrigatório leve sua própria caneta para preencher a documentação. O mandato do presidente Lenín Moreno se encerra no dia 24/5. Na RFI.
O país realizou um exercício simulado da logística de distribuição das vacinas da Pfizer, que prevê a utilização de caixas térmicas com chips de rastreamento. A expectativa é que as primeiras 86 mil doses do imunizante cheguem ao Equador na próxima segunda (18), com o início da campanha marcado para imediatamente após isso. O Equador espera se tornar o sexto local da América Latina a iniciar a vacinação, após Porto Rico, Chile, Costa Rica, México e Argentina, que começaram em dezembro. Em El Universal.
GUATEMALA 🇬🇹
Os furacões Eta e Iota, que devastaram a América Central em novembro passado, deixaram um prejuízo de US$ 780 milhões aos cofres guatemaltecos, segundo o governo. Os danos foram avaliados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) junto a órgãos de segurança do país. Os fenômenos também deixaram 150 vítimas, entre mortos e desaparecidos, e afetaram a vida de pelo menos 1,7 milhão de guatemaltecos. Na DW.
A pandemia não parou as caravanas de migrantes, grupos de centro-americanos que deixam a região para tentar uma nova vida nos EUA. Nos últimos dias, autoridades do país detiveram 600 pessoas tentando atravessar as fronteiras, sendo 102 hondurenhos que foram encaminhados de volta ao país de origem. Segundo a Cruz Vermelha, essa caravana pode chegar a reunir mais de 4 mil pessoas, em geral latinos que migram fugindo da violência, fome e dos impactos dos furacões. Via Reuters.
HAITI 🇭🇹
Mais protestos: a oposição ao governo de Jovenel Moïse organizou manifestações durante a semana, pedindo que o presidente “respeite a Constituição” já que o país “não é uma selva” sem leis e que deixe o cargo no próximo dia 7/2. Eleito em 2016 para um mandato de cinco anos, o político só teve a vitória referendada em 2017, sob acusações de fraude. Ele já disse que não pretende renunciar. Além da mudança no poder, alterar a Constituição está entre as reivindicações populares, que não têm data para terminar. No Hola.
HONDURAS 🇭🇳
O presidente Juan Orlando Hernández passou a ser oficialmente alvo da procuradoria dos EUA: nos primeiros dias do ano, chegou a Tegucigalpa uma acusação formal contra o mandatário, agora acusado de receber propinas do tráfico de drogas. A justiça estadunidense também alega que o exército hondurenho teria colaborado com traficantes, além de proteger laboratórios de cocaína. Se a acusação contra JOH é nova, não se pode dizer o mesmo de seu sobrenome: em 2019, o irmão do presidente, Tony Hernández, foi declarado culpado por narcotráfico em Nova York, o que apertou o cerco contra o governo. Em El Heraldo.
Ainda sem datas para vacinar, o governo traz boas notícias em relação ao número de doses a que terá acesso: 9,4 milhões, segundo o Ministério da Saúde. O número deve garantir que 81% da população que pode receber a vacina seja imunizada de forma gratuita, seguindo a ordem de prioridades. Até agora, só menores de 16 anos e mulheres grávidas estão fora da lista. Por fazer parte da aliança global COVAX, as primeiras doses a desembarcar no país serão da Pfizer. O governo pretende divulgar datas sobre a aplicação dos primeiros imunizantes no próximo dia 18. Via EFE.
Un clic:
Um panorama de Bogotá.
MÉXICO 🇲🇽
Três anos após a liberação do uso medicinal da maconha, o governo divulgou as regras que definem e regulamentam compra e venda da erva, além da produção e do manuseio. O objetivo das normativas, segundo o documento oficial, também mira a “vigilância sanitária” do que for produzido. Ao contrário de muitos vizinhos, o debate sobre a cannabis entra na esfera da saúde pública: em 2017, o uso medicinal foi aprovado junto às reformas da Lei Geral de Saúde. Faltava, então, a regulamentação, impasse que existe na legislação já aprovada em muitos países. A situação da maconha na América Latina foi tema deste vídeo do GIRO. Via EFE.
O presidente López Obrador causou polêmica ao sugerir que algumas das agências reguladoras do país sejam dissolvidas e passem a integrar pastas do governo. Segundo ele, seria uma forma de cortar gastos e evitar demissões, já que os tais órgãos independentes “custam metade do que custou a vacina contra a covid-19”. Entre as entidades que AMLO pretende absorver, estão as de telecomunicações e de transparência, apontadas por especialistas como cruciais para a luta anticorrupção e contra práticas anticompetitivas. O Congresso votará a medida em fevereiro. No Financiero.
A Procuradoria anunciou, na quinta (14), que não levará adiante o processo contra o general Salvador Cienfuegos, ex-secretário de Defesa do país no governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018), acusado de envolvimento com o tráfico de drogas. Segundo a nota, não haveria provas que embasassem a denúncia. O presidente López Obrador também disse que os EUA de “fabricaram” as acusações. Cienfuegos foi detido por autoridades dos EUA em outubro (leia no GIRO #52), mas posteriormente entregue ao México, na sequência de um acordo para que fosse julgado no próprio país. Sentindo-se tapeado, o Departamento de Justiça dos EUA diz que vai reiniciar o processo “se o governo do México não o fizer”. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Ao estilo Black Mirror, mas por uma boa causa: um time de jovens sem vínculos com grupos políticos criou uma plataforma em que os concorrentes a cargos públicos nas eleições de novembro poderão ganhar notas e receber comentários da população. A iniciativa, que já dura um ano e se chama Nicaragua Decide, pretende ampliar o ambiente democrático de um país acusado de suprimir a oposição e concentrar o poder. Em novembro, nicaraguenses escolhem um novo presidente; Daniel Ortega está no poder desde 2007 e quer se manter no cargo. Na Prensa.
Após os EUA recolocarem Cuba na lista de países apoiadores do terrorismo (saiba mais em Un video), o presidente Daniel Ortega classificou o regime político em Washington de “ditadura bipartidarista”. O sandinista, também acusado de comandar o país de forma ditatorial, citou a obra do escritor nicaraguense Rubén Darío, que, segundo ele, alertou o mundo sobre os perigos do imperialismo estadunidense. Na teleSUR.
PANAMÁ 🇵🇦
A Costa Rica iniciou um “processo de consulta” frente à Organização Mundial de Comércio (OMC) pelo que considera um bloqueio irregular de seus produtos por parte do Panamá. A disputa começou em fevereiro do ano passado, quando autoridades panamenhas barraram a entrada de morangos produzidos no vizinho, e se aprofundou em julho, após o Panamá impedir – sem aviso prévio – a importação de produtos lácteos, bovinos e de outras frutas vindas de estabelecimentos autorizados há anos para trazê-los ao país. Apesar da abertura formal da disputa na OMC, os dois lados ainda têm 60 dias para chegar a um consenso em negociações bilaterais e prometem manter “diálogo aberto”. Caso não cheguem a um acordo, porém, a questão pode ser levada a um painel da entidade internacional e demorar anos para ser dirimida. No Noticias Bancarias.
PARAGUAI 🇵🇾
O governo paraguaio rejeitou que a Comissão Internacional da Cruz Vermelha faça a mediação das negociações pela liberação do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), sequestrado em setembro por guerrilheiros do Exército do Povo Paraguaio (EPP). A entrada da Cruz Vermelha foi solicitada por familiares de Denis, frustrados com a incapacidade do governo em localizar o político de 74 anos: desde o rapto, as autoridades paraguaias não conseguiram descobrir o paradeiro de Denis e sequer obtiveram uma prova de que ele ainda está vivo. A justificativa da chancelaria para recusar a ajuda se baseia em normas jurídicas: ao envolver a Cruz Vermelha, há o risco de que seja reconhecido um “status de beligerância” para o EPP, dificultando seu enquadramento como um grupo terrorista. No Hoy.
A Justiça brasileira autorizou a transferência emergencial de Giovanni Barbosa da Silva, vulgo “Bonitão”, líder da facção PCC no Paraguai. Detido pela polícia paraguaia na cidade fronteiriça de Pedro Juan Caballero no último sábado (9), Silva foi alvo de uma malsucedida operação de resgate conduzida por homens armados com fuzis. No dia seguinte, o Paraguai entregou Bonitão ao Brasil, em Foz do Iguaçu. Após pedido do Ministério Público, o criminoso foi transferido ao sistema penitenciário federal brasileiro, em localização não divulgada por razões de segurança. No UOL.
PERU 🇵🇪
A ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, confirmou que o país já se encontra diante de uma segunda onda de contágio, o que se confirma com mais pacientes sendo recebidos pelo sistema de saúde. Um dos membros do Ministério atribui a situação a uma nova e mais contagiosa variante do coronavírus. A última semana teve o maior número de casos registrados no país desde o início de outubro. O Peru sustenta o maior número de mortes por covid-19 nas Américas, com o ajuste feito ao tamanho da população: a cada mil peruanos, mais de um morreu vítima da doença. O Brasil caminha para também superar a triste marca. Em El Comercio.
Uma marca expressiva para o setor agro peruano: em 2020, o país se manteve como maior exportador e produtor mundial de quinoa, superando a fortíssima concorrência do mercado boliviano, informou o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Irrigação (Midagri); os dois países representam 90% do mercado global del cereal de los incas. Só no Peru, o governo estima que há mais de 68 mil pequenos produtores do grão, que rendeu quase US$ 100 milhões entre janeiro e setembro passados. Via Andina.
PORTO RICO 🇵🇷
Recém-empossado, o governador Pedro Pierluisi se juntou à lista de vacinados nas Américas, recebendo a primeira dose do imunizante da Moderna na terça-feira (12), em um batalhão da Guarda Nacional. Por sua conexão política com os EUA, Porto Rico foi o primeiro local da América Latina a iniciar a vacinação contra a covid-19, em 15/12. No evento, Pierluisi também comentou um crime cinematográfico que ocupou o noticiário da ilha durante a semana: o assassinato de três policiais durante uma perseguição automobilística, por um homem que acabou se suicidando. Na Univision.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um importante acordo de colaboração bilateral foi anunciado pelo governo dominicano de Luis Abinader e pelo haitiano de Jovenel Moïse, após reunião celebrada no último domingo (10). Na declaração conjunta, o governo em Santo Domingo afirmou apoiar o processo de reforma constitucional no país vizinho, convocando as autoridades haitianas a “assegurar que este processo cumpra com as aspirações do povo”. O acordo também promete cooperação para construção de hospitais no Haiti, para reduzir o uso da estrutura de saúde dominicana pelos moradores do outro lado da fronteira, bem como a sistematização de um registro civil que dê conta de todos os imigrantes haitianos residentes em solo dominicano, algo dificultado pelas fronteiras porosas entre dois países que dividem a mesma ilha. Em El Día.
URUGUAI 🇺🇾
Buscando atrair novos “residentes fiscais”, o governo Lacalle Pou prometeu alterar as condições tributárias para argentinos que já estejam no Uruguai: após anunciar vantagens para novos imigrantes vindos do país vizinho em 2020, o governo vai estender os benefícios também a quem já estava no país antes das novas regras. A agenda liberal em Montevidéu argumenta que a mudança pode fomentar o capital produtivo. No Infobae.
Um novo tipo de golpe tem alertado autoridades, em meio às inéditas restrições desde o primeiro pico de casos, em dezembro: as vítimas, no geral comerciantes, recebem ligações anônimas de pessoas dizendo que possuem vídeos de quando seus estabelecimentos estavam cheios, com um número superior ao permitido pelas medidas recentes. Em seguida, o golpista ameaça enviar as “provas” às autoridades e cobra um valor em dinheiro. Governos locais alertaram para que as vítimas não passem os valores exigidos e que tenham em mãos as provas da extorsão. Em La Nación.
VENEZUELA 🇻🇪
Um confronto entre membros de uma gangue e agentes policiais da FAES deixou pelo menos 23 pessoas mortas no bairro de La Vega, em Caracas. A ação foi denunciada por ativistas de direitos humanos. Algumas organizações dizem que essa foi a “operação de pacificação” com o maior número de vítimas dos últimos tempos. A FAES (Força de Ações Especiais) é acusada de ser o braço político da polícia nas ruas e enfrenta uma série de denúncias de abuso, em um país com uma das mais altas taxas de homicídio por 100 mil habitantes (45,6). No Efecto Cocuyo.
Oficiais iranianos estariam treinando comandos do Exército da Venezuela “para controlar a sociedade”, denunciou uma ONG de estudos latino-americanos com sede na Tchéquia, perante autoridades da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia. O Instituto Casla, que fez a denúncia e desde 2018 acusa o governo Nicolás Maduro de crimes contra a humanidade, diz que os treinamentos para “operações psicológicas” acontecem no Fuerte Tiuna, uma das principais instalações militares de Caracas. Via AFP.
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