Colômbia: polícia mata 13 em protestos contra violência
Peru: áudios vazados podem derrubar presidente || Evo Morales e Rafael Correa têm candidaturas barradas || Paraguai: guerrilha sequestra ex-vice || Venezuela: Constituinte pode acabar sem Constituição
Javier Ordóñez, 46, tinha algumas certezas na vida. A primeira é que seus dias como taxista, emprego que mantinha com esforço para sustentar seus dois filhos, estavam contados: sem encontrar trabalho como engenheiro aeronáutico, o colombiano estava a uma prova de pegar o diploma em direito, virada de chave que aliviaria uma árdua rotina de estudo e trabalho. A segunda é que a repressão da polícia da Colômbia, um país com longo histórico de violações dos direitos humanos, já não tem sequer o medo de mostrar o rosto: Ordóñez foi covardemente assassinado por agentes de segurança após ser imobilizado e submetido a diversas descargas elétricas de armas de choque, sem qualquer chance de reagir. “Dessa você não se salva”, teria dito um dos policiais.
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No momento da agressão, registrada em vídeo por testemunhas, o homem chegou a implorar para que o soltassem, inclusive sinalizando que toda a abordagem violenta vinha sendo gravada. Sob custódia, sem ser escutado, Ordóñez não resistiu. A outra certeza nesse relato, que nunca vai chegar ao taxista e quase advogado, é que seu caso não foi uma exceção: em resposta à brutalidade policial, milhares de bogotanos marcharam contra a violência do Estado, o que, paradoxalmente, gerou uma nova onda de repressão que matou pelo menos outras 13 pessoas e feriu mais de 400 ao longo da semana. Pelas ruas da capital, barricadas, objetos queimados e gritos contra a impunidade. Apesar da guerra campal em várias partes da cidade, não houve, até o fechamento deste GIRO, imposições de toque de recolher.
A prefeita Claudia López, progressista, confirmou que os mortos têm idade entre 17 e 27 anos e que foram vítimas de arma de fogo. Primeira mulher a ocupar o cargo, ela suspendeu os policiais e cobrou explicações: “que tipo de treinamento recebem para ter aquela resposta absolutamente desproporcional a um protesto?”, questionou. López exclamou que havia vetado o uso armas de fogo para reprimir protestos na cidade, mas a Polícia Nacional desobedeceu. A mesma indignação não foi vista nas falas do presidente Iván Duque. Muito cobrado por um histórico de violência estatal que virou um dos símbolos de seus dois anos de gestão, o mandatário chegou a dizer que abusos não seriam tolerados, ainda que fosse preciso separar “responsabilidades pontuais do comportamento de toda uma instituição”.
Fato é que a instituição vem sendo muito cobrada por esses episódios cada vez mais recorrentes. Em junho, como contado neste GIRO, o jovem Anderson Andrés Arboleda, 19, negro, morreu após ser golpeado por policiais na cidade de Puerto Tejada, estado Cauca, na porta de casa. Por acontecer próximo ao assassinato de George Floyd por policiais nos EUA, um marco para a retomada do movimento Black Lives Matter nas ruas e nas redes, o caso Arboleda fez a indignação pela violência policial e a luta antirracista fervilharem na Colômbia. Em comum, os casos de Ordóñez e Arboleda tiveram a promessa da Procuradoria de que serão investigados e não serão facilmente esquecidos pelos compatriotas que cobram justiça. Durante a semana, o contexto das mortes em resposta aos protestos alertou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Em comunicado, a entidade “condenou enfaticamente” a brutalidade policial e pediu explicações. Ainda não se sabe até quando a onda de protestos vai durar na região metropolitana de Bogotá ou se vai avançar pelo resto do país.
Juan Camilo Lloreda Cubillos, um dos agentes acusados pela morte de Javier Ordóñez, também tem algumas certezas na vida. Uma delas é que é muito difícil um policial ser punido por atacar civis em seu país. Procurado pela imprensa para comentar o caso, disse que ainda precisava falar com sua advogada, mas garantiu: “estou tranquilo”.
😷 Covid: na semana em que superou os 8 milhões de casos e 300 mil mortes no acumulado da pandemia, a América Latina seguiu registrando uma desaceleração nos números. Foi a semana com menor número de novos óbitos nas últimas 13. Leia a atualização completa.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
O preço elevado do arroz centralizou as discussões da semana no Brasil e, como tudo em economia, esse comércio tem muito a ver com os nossos vizinhos. Com os produtores locais preferindo exportar em função do dólar alto, os principais destinos do arroz brasileiro são latino-americanos: com mais de 246 mil toneladas compradas, a Venezuela é quem mais recebe o produto nacional, seguida pela Costa Rica, que viu suas compras crescerem incríveis 662% em relação ao mesmo período do ano passado. Na tentativa de reabastecer o mercado interno, o Brasil olha para o Cone Sul: Argentina, Paraguai e Uruguai são responsáveis por 99% do grão que chegou ao mercado brasileiro. No G1.
A Copa Libertadores, principal torneio do futebol de clubes da América do Sul, retornará na próxima semana, seis meses após a suspensão por conta da pandemia, sem torcedores e até mesmo com um retorno do SBT às transmissões no Brasil (com forte apoio estatal para bancar a empreitada). A retomada, em um momento em que muitas fronteiras ainda estão fechadas (foi armado todo um protocolo que inclui setores exclusivos para os times nos aeroportos), vem causando controvérsia, sobretudo em países que controlaram bem a pandemia. Em La Diaria, uma perspectiva uruguaia, o país mais bem-sucedido em conter a covid-19 na região, e que agora teme os perigos da reabertura para jogar bola: “isso é por dinheiro”.
ARGENTINA 🇦🇷
Um grupo de policiais da província de Buenos Aires passou a semana em protesto contra os baixos salários, com direito a um cerco à residência de Olivos, casa oficial da presidência. O episódio chegou a esquentar após um coquetel molotov ser atirado contra o prédio que hospeda o presidente Alberto Fernández, mas, até o momento, não há relação comprovada entre o atentado e as manifestações. Com tambores, sinalizadores e cartazes pedindo salários mais dignos, os policiais pressionaram o governo de Buenos Aires, que atendeu: o governador Axel Kicillof prometeu aumentar a remuneração de 37 mil pesos (R$ 2.630) para 44 mil pesos (R$ 3.13o), além de sinalizar a compra de materiais, entre outras reivindicações da classe. Ouvidos, os policiais encerraram a rodada de manifestações. O episódio gerou um amplo debate nas redes sociais, com paralelos traçados com a situação da Bolívia em 2019, quando motins policiais acabaram como elemento decisivo no golpe contra Evo Morales. Em Buenos Aires, porém, parece ter sido um evento esporádico. No Página 12.
Após longa batalha diplomática, a Argentina assumiu sua derrota na disputa pela presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e decidiu não apresentar candidato após a desistência, na quinta (10), de Gustavo Béliz. Com isso, está aberto o caminho para que Donald Trump domine o órgão, com a eleição do estadunidense Mauricio Claver-Carone, que ficou como candidato único, colocando fim à tradição dos 60 anos de existência do BID, que sempre foi dirigido por latino-americanos. Sem Béliz, a aposta da Argentina era conseguir juntar abstenções suficientes para postergar a votação até março de 2021, quando, pela aposta do governo Alberto Fernández, Trump não estaria mais na Casa Branca. A estratégia parece ter fracassado. Salvo uma reviravolta de última hora, Carone, um defensor da linha dura contra países como Cuba e Venezuela, será eleito neste sábado (12), em votação virtual. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
A Justiça determinou que o ex-presidente Evo Morales (2006-2019) não poderá se candidatar ao Senado nas eleições gerais marcadas para 18/10, após uma série de adiamentos. A decisão segue o que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), inteiramente modificado após o golpe em 2019, já havia determinado em fevereiro deste ano. Com status de refugiado na Argentina, Evo sequer pode voltar à Bolívia sem que corra o risco de ser preso, o que torna a decisão oficial de impugná-lo algo que já era esperado. O governo interino e setores contrários à esquerda também tentam tirar todo o Movimento ao Socialismo (MAS) do pleito, como foi contado no GIRO #40. Apesar das pressões e chicanas jurídicas do atual governo, Luis Arce, o presidenciável do MAS, ainda lidera as pesquisas. Na ATB.
Quase 1,6 mil mortes por covid-19, até então não contabilizadas pelo governo, entraram na soma oficial do Ministério da Saúde nesta semana, o que elevou o total de fatalidades a mais 7 mil. O ajuste estatístico, segundo a pasta, foi motivado pela “sobrecarga” de procedimentos de testagem no departamento de Santa Cruz – região que, até o mês de abril, concentrou quase metade dos casos de coronavírus no país. O salto estatístico inesperado, que em países vizinhos chegou a derrubar ministros da Saúde, foi capitalizado pela oposição à interina Jeanine Áñez, que contrariou suas próprias promessas e será candidata nas eleições de logo mais: o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga (2001-2002), que é candidato em 2020, chamou a contabilização repentina de “incompetência criminosa”. No Télam.
Un clic:
CHILE 🇨🇱
O presidente Sebastián Piñera recordou, na sexta (11), mais um aniversário do golpe que, em 1973, pôs fim ao governo de Salvador Allende e deu início à ditadura de Pinochet. A um mês e meio do plebiscito de 25/10, que poderá começar a mudar de vez a Constituição herdada do pinochetismo, o conservador Piñera disse que “até hoje persistem distintas visões e interpretações” sobre a razão do golpe, mas que “a perda da democracia foi uma dura derrota, um grande fracasso de toda a sociedade”. O presidente lembrou que três quartos da população chilena atual não viveram aquele 11 de setembro há 47 anos e pediu que os mais antigos ajudem a nova geração a não repetir as divisões do passado. Além dos protestos massivos de 2019 e da iminência do plebiscito, Piñera terá mais uma dor de cabeça no horizonte: o Ministério da Fazenda prevê, para 2021, o maior déficit fiscal do país desde 1972, justamente o ano em que a crise pré-golpe se aprofundou de vez. Em La Tercera.
Na semana de aniversário do golpe, o poeta Raúl Zurita foi agraciado com o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, considerado o mais prestigioso do gênero em língua espanhola, reconhecendo o conjunto da obra de autores vivos. Zurita, 70, foi prisioneiro político sob Pinochet e ficou conhecido por usar a literatura como forma de resistência. É o terceiro chileno galardonado, após Gonzalo Rojas (1992) e Nicanor Parra (2001). Via Reuters.
COSTA RICA 🇨🇷
As duas mulheres que haviam denunciado o ex-presidente Óscar Arias (1986-1990 e 2006-2010) por abuso sexual retiraram suas acusações nas últimas semanas, confirmou a procuradoria na segunda-feira (7), indicando que o caso não seguirá adiante na Justiça. Na semana passada, os advogados de uma das supostas vítimas e do ex-mandatário já haviam se pronunciado sobre a extinção da denúncia, e ambos disseram que não poderiam dar mais explicações. Arias, que recebeu o Nobel da Paz em 1987 por ajudar a conduzir os processos de paz nos vizinhos centro-americanos, havia sido acusado no início do ano passado por Yazmin Morales, ex-Miss Costa Rica, e Alexandra Arce Von Herold, por supostas violações ocorridas entre 2014 e 2015. Via AP.
CUBA 🇨🇺
A agência Reuters reportou, citando três fontes anônimas ligadas ao governo, que o país se prepara para a primeira desvalorização oficial do peso cubano (referenciado pela sigla CUP) desde a Revolução de 1959. A medida seria a conclusão de uma promessa feita por Raúl Castro ainda em 2013, de unificar as moedas existentes na ilha: em paralelo ao peso CUP do dia a dia há o chamado peso conversível (também chamado de CUC), mantido a um valor oficial em paridade com o dólar e utilizado em negócios estatais (hoje, são necessários 24 CUP para comprar 1 CUC). A medida, que extinguiria os pesos conversíveis e alteraria a taxa de câmbio, incentivando exportações para propiciar a entrada de dólares nesses tempos de crise, poderá ser “traumática”, segundo um analista ouvido pela agência. Há incerteza sobre o que a desvalorização significaria, na prática, para os subsídios estatais e o dinheiro que hoje circula nas mãos da população. Após a repercussão internacional da notícia, o Banco Central de Cuba apressou-se em desmentir que a unificação ocorreria a partir de outubro, pedindo que a população aguarde anúncios oficiais sobre o tema. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
O presidente Nayib Bukele, convivendo com acusações de negociar com gangues para baixar os índices de criminalidade na marra (como destacamos no GIRO #46) e desde o início do mandato envolvido em brigas com o Legislativo e o Judiciário salvadorenhos, voltou à carga contra a imprensa e a oposição nesta semana. Agora, citando uma reportagem da alemã Deutsche Welle, Bukele disse que a oposição “compra correspondentes” em meios de comunicação estrangeiros para desacreditar seu governo. Na quinta (10), congressistas democratas dos EUA endereçaram uma carta ao presidente, novamente assinalando as preocupações do país que é aliado do governo salvadorenho com a “crescente hostilidade aos meios de comunicação independentes e investigativos” do país. Acusado de caminhar para um governo cada vez mais autoritário, durante a semana Bukele também reforçou sua intenção de reformar a Constituição em busca de “mudanças estruturais” na forma “como se constitui o Estado”.
EQUADOR 🇪🇨
Continua a saga do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) para se reabilitar politicamente. No início da semana, os recursos apresentados pelo antigo mandatário equatoriano foram negados pelas cortes do país e, com isso, ele não poderá concorrer nas eleições gerais previstas para 2021. Correa pretendia voltar na condição de vice-presidente, como contamos no GIRO #44. Vivendo na Bélgica após uma condenação a oito anos de prisão em seu próprio país por um escândalo de subornos, Correa havia despontado como pré-candidato a vice na chapa de Andrés Arauz, seu ex-ministro, mesmo sabendo da escassa viabilidade de a candidatura ser registrada oficialmente. Considerado foragido e podendo ser preso no momento de um eventual reingresso no país, Correa diz estar sofrendo perseguição política. Em El Mundo.
Un nombre:
Aconcágua – a montanha mais alta fora da Ásia e, consequentemente, a maior dos Andes, tem 6.962 metros de altitude e um nome de origem incerta. Alguns garantem que viria do quéchua akonkauak, “sentinela de pedra”; outros, que seria derivado do aimará kon-qaua, “monte nevado”. Também poderia vir do mapundungun aconca hué e se referir a “algo que vem do outro lado”. Certeza, mesmo, só que ninguém passa indiferente à maior elevação da América Latina.
GUATEMALA 🇬🇹
O país se prepara para uma reabertura total de fronteiras, na próxima sexta (18), tanto aéreas quanto terrestres. O anúncio, que reverte as medidas tomadas em março, foi feito na quinta-feira, em uma reforma no decreto de calamidade pública vigente no país. Com os casos em queda há duas semanas, mas 59% dos municípios ainda no estágio de “alerta máximo” em função da pandemia, a medida vem sendo criticada. A Guatemala é o país mais populoso da América Central e um dos que menos testes realizou no continente até aqui, o que dificulta a formação de uma noção mais clara da real situação. Via AFP.
HAITI 🇭🇹
Os já endêmicos protestos contra o caos sob o governo de Jovenel Moïse recobraram força nesta semana, em resposta ao assassinato do advogado Moferrier Dorval, na semana passada. O ex-presidente da Ordem dos Advogados de Porto Príncipe foi morto com três tiros no último 1º/9, em episódio que serviu de estopim para manifestações contra a crescente insegurança em um país que Moïse vem governando de forma autocrática, ainda que sem conseguir combater a violência. Um informe preliminar elaborado por uma comissão independente ligada à Igreja Católica revelou que, só entre abril e agosto, mais de 307 assassinatos foram registrados na capital haitiana. No Acento.
HONDURAS 🇭🇳
É oficial: as medidas de isolamento salvaram vidas no país – em dose dupla. Não só em relação às mortes excessivas por covid-19 que foram evitadas, mas também por uma drástica redução nos homicídios: até o fim de agosto, a Polícia Nacional contabilizou 16,6% menos mortes violentas do que no mesmo período do ano passado, uma redução de 437 casos que as autoridades atribuem em parte à menor circulação de pessoas. Um dos cinco países com maior taxa de homicídios per capita no mundo (e segunda colocada na América Latina, atrás de El Salvador), Honduras teve até 2016 aquela que foi considerada a “capital mundial de assassinatos”, a cidade de San Pedro Sula. Hoje, o triste título pertence a Tijuana, no México. Via EFE.
MÉXICO 🇲🇽
Procuradores ameaçaram denunciar criminalmente uma casa de leilões que tentava vender documentos históricos, entre eles cartas de heróis do processo de independência mexicana (1810-1821). Segundo a PGR, a posse de materiais considerados “parte do legado histórico nacional” é permitida; o mesmo não vale para a venda desses registros. Após a notificação, os leiloeiros retiraram os documentos do catálogo. Entre as peças de venda proibida estariam cartas do pároco e militar Miguel Hidalgo y Costilla, conhecido como “El Padre de la Patria”. No Excelsior.
Uma fotografia em uma concessionária de automóveis causou indignação no México e um alvoroço de relações públicas na Alemanha: tudo porque um vendedor da Volkswagen na capital mexicana achou uma excelente ideia pendurar, em destaque na parede da loja, uma imagem de um fusca rodeado por oficiais e bandeiras nazistas, com várias suásticas exibidas de forma proeminente ao redor A subsidiária mexicana da montadora alemã se apressou a romper quaisquer relações com a concessionária. O fusca, vale lembrar, foi desenvolvido como um carro popular na Alemanha nazista com o apoio de Hitler, mas a empresa vem se esforçando para se distanciar desse passado quando a história é recordada. Na DW.
NICARÁGUA 🇳🇮
Dezoito nicaraguenses detidos durante os protestos de abril de 2018 testemunharam nesta semana frente a uma comissão formada por juristas e psicólogos, acusando as forças de segurança do país de submetê-los a torturas e abuso sexual na prisão. O chamado “Tribunal de Consciência” foi instaurado pela Fundação Arias para a Paz na vizinha Costa Rica, país onde mais de 80 mil imigrantes nicaraguenses vivem, muitos deles refugiados do governo de Daniel Ortega. As novas denúncias se somam à miríade de acusações internacionais contra o governo desde a explosão das manifestações, que também deixaram mais de 300 mortos pelas mãos de agentes do Estado. Via AP.
Un hilo:
PANAMÁ 🇵🇦
A Autoridade do Canal do Panamá anunciou a abertura de concorrência para um projeto de US$ 2 bilhões que encontre uma solução para as secas que vêm afetando o fluxo de embarcações no famoso canal. Em 2019, a região viveu o quinto ano mais seco em sete décadas, com um volume 20% abaixo do habitual, levando a prejuízos e fazendo com que o canal venha cobrando um pedágio extra dos navios com mais de 125 pés (38 m) de comprimento. O objetivo é encontrar alternativas que permitam que os lagos Gatún e Alajuela, utilizados para encher as eclusas e também para abastecer mais de metade da população do país, mantenham níveis sustentáveis. A transposição de águas de outros lagos ou a dessalinização de água do mar estão entre os projetos considerados. Via AP.
PARAGUAI 🇵🇾
Óscar Denis, ex-vice-presidente da República (2012-2013), foi sequestrado e seguia desaparecido até o fechamento deste GIRO. Em um agravamento de uma crise que vem desde o início do mês, o crime vem sendo atribuído a guerrilheiros ligados ao Ejército del Pueblo Paraguayo (EPP), organização paramilitar surgida em meados dos anos 90 e que voltou às manchetes nos últimos dias depois de uma ação desastrosa da polícia paraguaia: na semana passada, duas meninas de 11 anos (que depois se descobriu serem argentinas, o que levou a protestos em frente à embaixada paraguaia em Buenos Aires) foram mortas em uma investida contra o EPP em Concepción, no centro do país. O ataque contra Denis, que assumiu a vice-presidência de forma extraordinária após o impeachment de Fernando Lugo (2008-2012) e a subsequente ascensão do então vice Federico Franco ao poder, seria uma represália. Na noite de sexta (11), o EPP divulgou suas exigências: US$ 2 milhões em víveres distribuídos entre 40 comunidades carentes em bolsas identificadas como “Gentileza do EPP”, além da liberação de dois guerrilheiros presos. O grupo promete “dar o caso por encerrado” e fuzilar Denis se não for atendido em um prazo de oito dias. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
Não foi preciso nem um ano inteiro. Antes do primeiro aniversário da crise política em Lima que levou o presidente Martín Vizcarra a fechar o Congresso e convocar novas eleições parlamentares – depois da oposição da Casa rejeitar sua proposta de reforma anticorrupção –, uma nova crise, desta vez contra o próprio Vizcarra. Áudios vazados por um deputado da oposição e divulgados em sessão mostram que o mandatário teria pedido que aliados mentissem em um inquérito que ligaria o presidente a um antigo funcionário acusado de ser contratado de forma irregular. O tal funcionário é o cantor Ricardo Cisneros, vulgo Richard Swing, recrutado junto ao Ministério da Cultura para dar palestras motivacionais, entre outras coisas (falamos do caso “Swing” pela primeira vez no GIRO #32). Segundo investigações, o cantante, que seria próximo a Vizcarra desde a corrida presidencial em 2016, teria recebido até US$ 50 mil pelos serviços oficiais pitorescos e teria ido ao Palácio do governo pelo menos nove vezes. O caso gerou revolta porque teria acontecido em abril, quando a pandemia da covid-19 já castigava os peruanos (hoje, o país é o líder mundial em fatalidades por milhão de habitantes e tem mais de 700 mil casos confirmados). O caso levou seis das nove legendas no Congresso a votar uma moção de vacância contra Vizcarra, alegando “incapacidade moral” do mandatário. Aprovada no final desta sexta-feira por 65 votos a favor, 36 contra e 25 abstenções, a moção agora espera uma nova votação de defesa do presidente no plenário, além da deliberação sobre o próprio afastamento. Tecnicamente, Vizcarra também perdeu o cargo em 2019, quando sua então vice, Mercedes Aráoz, chegou até a juramentar como presidente graças a uma declaração de vacância similar (mas sem efeito prático) à que foi aprovada nesta semana. Por sua vez, Vizcarra disse que não vai renunciar e segue seu plano de comandar o país até as eleições em abril de 2021, nas quais não concorrerá. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
A maioria dos moradores dos Estados Unidos apoia que Porto Rico se torne um estado em condição de igualdade com os outros 50 já existentes na União, revelou uma pesquisa da YouGovBlue, instituto com viés progressista. Nacionalmente, diz a enquete, 54% dos norte-americanos são favoráveis à medida, e apenas 26% a rechaçam. O apoio é maior, inclusive, do que o existente para a transformação do Distrito de Colúmbia (onde fica a capital Washington) em estado: 43%. Os números vêm em meio ao fortalecimento da discussão sobre o status de Porto Rico diante dos EUA, após a apresentação de um controverso projeto de lei no Congresso para formar um comitê que discuta o assunto (leia mais no GIRO #46). Hoje, a ilha é um estado livre associado, sem ser totalmente independente nem plenamente integrado aos EUA, uma condição que muitos criticam como uma herança colonialista. Em El Nuevo Día.
Una expresión:
A perro flaco, todo son pulgas – expressão que se refere às desgraças que se abatem sobre quem já vinha mal. A ideia é que as coisas ruins costumam se acumular justamente em quem já convive com problemas cotidianamente, como o pobre cão faminto que, além de tudo, ainda é devorado pelas pulgas.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A intensificação dos protestos no vizinho Haiti acendeu também os alertas no outro lado da divisa. A República Dominicana anunciou a formatação de um “plano integral” para reforçar a segurança na fronteira, de modo a evitar que a crise haitiana respingue em seu território. Além das manifestações sociais habituais, durante a semana até mesmo a polícia do Haiti voltou a demonstrar oposição ao presidente Moïse, ainda reflexo de protestos anteriores que levaram à prisão de um dos líderes da forças de segurança. Na teleSUR.
URUGUAI 🇺🇾
Guido Manini Ríos, o polêmico ex-comandante do Exército que chegou a ser preso, ex-candidato à Presidência em 2019 defendendo uma reforma legal para adotar punições mais duras aos crimes e hoje senador, corre o risco de ter seu foro privilegiado retirado. Tudo porque há algum tempo veio à tona que, quando ainda estava na ativa, Manini Ríos teria ocultado confissões de outros militares sobre suas atos ilegais cometidos na época da ditadura. A sessão que votará a retirada do foro vem sendo sucessivamente postergada (a previsão é que volte à pauta em 30/9), o que deu tempo de Manini até mudar de ideia: inicialmente garantindo que se retiraria da sala no momento da votação pois nada teria a ocultar se perdesse o privilégio e tivesse que depor diante da Justiça, nesta semana passou a garantir que permanecerá presente e votará a favor de si mesmo. O motivo? O ex-presidente Pepe Mujica (2010-2015), hoje também senador, lembrou que depois de ter a imunidade levantada Manini Ríos precisará ser aceito de volta pelo Senado, e a esquerda tem votos para barrar seu retorno. “Não se pode ser néscio e, vendo as mudanças que ocorreram (após a fala de Mujica), seguir aferrado à primeira decisão”, disse o acovardado general. No Montevideo Portal.
Em novo passo do projeto para atrair estrangeiros endinheirados, o Uruguai anunciou que ampliará para 10 anos o período de “férias fiscais” para quem se fixar no país para investir. Na prática, isso significa que cidadãos vindos de fora terão uma década sem qualquer tributação sobre a renda que seguirem obtendo fora do Uruguai. Para quem estiver pensando em um prazo mais longo, ainda haverá outra opção: pagar impostos desde o início, mas a uma “taxa eterna” de 7%, contra os 12% cobrados normalmente. No Infobae.
VENEZUELA 🇻🇪
Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e homem mais forte do governo abaixo de Nicolás Maduro, indicou que seu órgão legislativo deve encerrar seus trabalhos no final do ano sem apresentar um projeto de reforma à Constituição – o que, em tese, seria o seu papel. A fala de Cabello, respondendo a uma pergunta em uma live no YouTube, reforçou o argumento da oposição de que a ANC, surgida em 2017 com poderes maiores que a própria Assembleia Nacional justamente quando o governo perdeu a maioria nesta, só tinha a função de contornar o Legislativo tradicional. A expectativa de Maduro é recuperar o controle da velha Assembleia no final deste ano, nas eleições marcadas para 6/12 e desde já rodeadas de controvérsias (veja mais na nota abaixo). Para viabilizar o processo e as campanhas, aliás, Maduro fala até em distribuir a vacina russa contra a covid-19 para mais de 15 mil candidatos pelo país. Via Reuters.
A meses das eleições legislativas de dezembro, o presidente Nicolás Maduro indultou uma série de presos políticos, incluindo nomes da oposição mantidos presos em solo nacional e exilados. Segundo o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, os favorecidos pela medida têm caminho livre para participar das eleições. Um dos liberados foi o deputado antichavista Freddy Guevara, que ficou três anos refugiado na embaixada chilena em Caracas. Ele recorreu à representação diplomática pouco antes de ser detido, acusado de promover os protestos em 2017 que acabaram com centenas de mortos e viraram um marco da degradação democrática no país, incluindo a criação da ANC, mencionada acima. Guevara é ligado ao líder da oposição Leopoldo López, um dos eternos cotados para se postular como alternativa ao chavismo. O próprio López já foi, ele mesmo, preso por razões políticas, e segue recebendo asilo da embaixada da Espanha na capital. Apesar da decisão, ele e Henrique Capriles, que violaria o boicote da oposição e estaria até tentando se acertar com Maduro para disputar o pleito no final do ano, não são afetados pelo indulto. Entre os vários pontos no ar, uma questão se destaca: o que Maduro, tão firme contra adversários, quer com essa decisão? O Efecto Cocuyo dá mais detalhes.
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