Dominicanos escolhem presidente em plena pandemia
Covid: 2,8 mi de casos e 124 mil mortes || Mercosul: Alberto Fernández deixa Áñez falando sozinha || México: T-MEC, o “novo Nafta”, já está valendo || País a país, um resumo das notícias do continente
A República Dominicana será palco, neste domingo (5), das primeiras eleições da América Latina desde que a pandemia se agravou. Marcada em um primeiro momento para 17/5, a votação foi adiada na expectativa de que a crise fosse amenizada. A espera, no entanto, não funcionou: a reabertura recente provocou uma nova onda ainda pior, e os dominicanos chegaram à sexta-feira (3) vivendo seu recorde diário de novos casos em 24 horas: foram 951, elevando o total de contágios para mais de 35 mil na nação de pouco menos de 11 milhões de habitantes.
Apesar da piora, as eleições irão em frente. A pandemia mudou muita coisa: os comícios deixaram de existir, a campanha digital se tornou prioritária e mais de um candidato se valeu da distribuição de insumos médicos para se promover. Além disso, a recuperação econômica se tornou tema central, e máscaras e distanciamento serão obrigatórios nos locais de votação. Teve até presidenciável precisando se afastar da linha de frente por pegar coronavírus: o empresário Luis Abinader, do Partido Revolucionario Moderno (PRM), favorito em todas as pesquisas, precisou fazer quarentena por duas semanas na reta final da campanha, até ser considerado curado em 23/6.
A dificuldade de garantir os direitos dos eleitores em um período excepcional também entrou em pauta. Quase 10% dos dominicanos habilitados a votar vivem fora do país, dependendo da boa vontade alheia para autorizar a possibilidade de “aglomeração” em terras estrangeiras. Dentro do próprio país, centenas de mesários contaminados precisaram ser substituídos, observadores europeus cancelaram a ida a Santo Domingo, e os partidos ainda correm para tentar reverter uma controversa regra imposta pela Junta Central Eleitoral: tentando encurtar filas, ninguém poderá votar após o horário bater em 17h30, mesmo se tiver chegado dentro do prazo previsto em lei.
Se as pesquisas acertarem, Abinader derrotará (em primeiro ou segundo turno) o situacionista Gonzalo Castillo, encerrando 16 anos de governo do Partido pela Liberação Dominicana (PLD), hoje encabeçado pelo presidente Daniel Medina. Seria também o primeiro presidente nascido após a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo (1930-1961), um marco geracional. Em um distante terceiro lugar, corre o ex-presidente Leonel Fernández (2004-2012), que deixou o PLD em outubro do ano passado, após perder as primárias, para lançar uma sigla própria. Em um pleito onde todos os principais candidatos são identificados como de “centro-esquerda”, o que efetivamente mudará ainda está por ser visto.
A República Dominicana, a rigor, já celebra suas segundas eleições em 2020. As primeiras, municipais, deveriam ter ocorrido em 16/2, mas também foram adiadas, por razões diferentes: uma falha nas urnas eletrônicas suspendeu o pleito e o empurrou para 15/3, quando o PRM de Abinader levou o maior número de prefeituras. Embora a covid-19 já estivesse no país, o estágio ainda inicial da pandemia levou a precauções menores. Amanhã, os dominicanos irão às urnas para as primeiras de mais de uma dezena de votações latino-americanas que o coronavírus adiou (uma lista à qual o Brasil se juntou nesta semana), um teste inicial que servirá de termômetro para os demais. O continente olha com apreensão, não tanto para os resultados das urnas em uma nação periférica mesmo dentro da região, mas para as eventuais consequências que isso terá nos números de doentes.
Un sonido:
Um abraço de 4 de julho.
REGIÃO 🌎
Clima tenso na reunião da cúpula de chefes de estado do Mercosul e Estados Associados, ocorrida nesta semana. Para começar, entre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o argentino Alberto Fernández. Antagônicos e com um histórico de ofensas trocadas, os dois dividiram a bancada, ainda que virtualmente, pela primeira vez. Enquanto Bolsonaro falou em “desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil”, sabendo que sua gestão é a principal responsável pelas derrotas do bloco na Europa, o peronista chegou a evocar Simón Bolívar para pedir “unidade” e multilateralismo – um recado sutil aos vizinhos à direita. Por outro lado, se o tema Venezuela passou a dividir menos as lideranças desde a renúncia de Evo Morales, um dos últimos aliados do chavismo na América do Sul, a mesma Bolívia assumiu o posto de vizinho polêmico: assim que a interina e contestada Jeanine Áñez passou a discursar, a tela de Fernández se apagou. Fontes confirmaram que o gesto foi proposital, já que Buenos Aires não reconhece “o governo de fato” de Áñez. Na semana passada, em live com o ex-presidente Lula, Fernández já havia lamentado ser um dos últimos exemplos da esquerda democrática na região. Uma mistura de incômodo com críticas a Maduro e Daniel Ortega que, em diferentes dimensões, são escanteados pela diplomacia latina. “A duras penas”, disse, “somos dois os que queremos mudar o mundo”, incluindo-se ao lado do mexicano López Obrador. Em El País.
ARGENTINA 🇦🇷
O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) teve alta médica no início da semana após 15 dias internado por conta de uma pneumonia. Apesar do quadro delicado, uma possível infecção por covid-19 foi descartada ao final do tratamento. Menem é senador pela província de La Rioja desde 2005 e, no cargo, mantém um perfil bem mais discreto do que em seus anos na Casa Rosada. Na quinta (2), completou 90 anos. Na Prensa.
Pelo menos 22 pessoas foram detidas acusadas de envolvimento no caso de espionagem durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). Se você está por fora, leia o GIRO #36. Entre os detidos por ordem do juiz Federico Villena estão figuras próximas do presidente, como Susana Martinengo, que coordenou a documentação durante o mandato macrista. Outros nomes fortes do ex-mandatário também estão na mira da Justiça. No Nación.
BOLÍVIA 🇧🇴
Aos 56 anos, morreu a líder campesina Silvia Lazarte, conhecida pela luta sindical e por ser a primeira indígena a presidir uma Assembleia Constituinte. Fez história ao comandar o corpo legislativo entre 2006 e 2008, resultando na nova Constituição boliviana em 2009, que estabelecia o Estado Plurinacional da Bolívia (que passou, pela primeira vez, a considerar geopoliticamente os povos andinos do país). A cochabambina sofria de uma doença pulmonar contraída dentro da prisão, por onde passou durante a juventude, e não resistiu à deterioração do quadro. O ex-presidente Evo Morales e o atual candidato do MAS à presidência, Luis Arce, lamentaram a morte. A presidente interina Jeanine Áñez disse que, “apesar das diferenças políticas”, Lazarte “foi uma mulher lutadora”. Em El Deber.
Apesar da quarentena decretada pelo governo, profissionais do sexo não param de trabalhar e afirmam que sabem evitar a doença. Usando uma proteção plástica dos pés à cabeça sobre a roupa normal, dizem que é possível “evitar contato com os clientes”. Segundo uma das mulheres que trabalha em El Alto, cidade conurbada a La Paz, a situação do país anda difícil e a tentativa de contornar a doença é para sustentar os três filhos: “para que não falte nada a eles”. No Yahoo.
Em entrevista exclusiva ao colombiano El Espectador, o ex-presidente Evo Morales, derrubado em novembro, disse que seu partido “ganhará com facilidade” as eleições presidenciais previstas para 6/9. Exatamente por isso, acredita o antigo mandatário, “a instrução dos Estados Unidos é que o MAS não pode voltar ao governo nem Evo à Bolívia”. Asilado na Argentina, Morales acredita que o plano de Áñez, acusada de usar a pandemia para se eternizar no poder e fazer propaganda eleitoreira, é que nem haja eleições. Na sexta (3), voltando à carga no Twitter, Evo apontou que a alternativa da direita será unir as várias candidaturas para tentar fazer frente ao MAS, em uma “mega-coalizão do neoliberalismo”.
Un hilo:
CHILE 🇨🇱
O presidente Sebastián Piñera se envolveu em nova polêmica após ser flagrado violando a quarentena (que ele mesmo decretou) para fazer compras em uma vinícola em Santiago. Acompanhado de sua equipe de segurança, o mandatário é visto caminhando até a loja. A aparição, filmada no último sábado (27), aconteceu dias após o mesmo Piñera ser criticado por comparecer ao funeral de seu tio e ex-sacerdote Bernardino Piñera, que morreu de covid-19, aos 104 anos (reconhecido pela Igreja Católica como o bispo mais velho do mundo). O evento em questão teria comportado mais pessoas do que o permitido e, para o azar do presidente, teve até música ao vivo e caiu na rede. No Vanguardia.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, incluiu o Brasil na lista de negacionistas da pandemia e disse que o comportamento do governo Bolsonaro à frente da crise de saúde pode prolongar a situação de calamidade. O grupo criticado pela ex-presidente ainda inclui Burundi, Nicarágua (cuja situação o GIRO vem acompanhando desde o começo), Tanzânia e EUA. No Valor.
Morreu, aos 93 anos, Ángela Jeria, mãe da própria Michelle Bachelet. Nascida em Talca em agosto de 1926, teve papel importante na defesa dos direitos humanos e, assim como seu marido Alberto, pai da ex-mandatária, enfrentou a ditadura militar, que a prendeu e torturou. Em 1975, um ano após a morte do marido, partiu para o exílio e, acompanhada da filha, passou por Austrália, União Soviética e Alemanha Oriental. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
O general Eduardo Zapateiro revelou um novo escândalo dentro das Forças Armadas. Dias depois de militares serem acusados de estuprar uma menor indígena durante uma operação, o chefe do Exército reportou que, desde 2016, pelo menos 118 militares da ativa estão sendo investigados por crimes sexuais. Desses, só 45 foram afastados, enquanto outros 73 enfrentam investigações criminais e disciplinares junto à Procuradoria-Geral do país. Via Reuters.
Um grupo de mais de 300 colombianos que dormia no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, finalmente conseguiu retornar ao país depois de quase 50 dias. Impedidos pela pandemia – as fronteiras foram fechadas pelo governo em Bogotá até, pelo menos, o final de agosto – e pela falta de dinheiro, contaram com doações de roupa e alimento nos dias em que foram alojados em salas de um dos terminais. Na Folha.
COSTA RICA 🇨🇷
Mesmo integrando o seleto grupo de países bem sucedidos no combate à pandemia, a Costa Rica vem enfrentando seus piores surtos. Só na última semana, atravessou seus três dias com mais casos registrados em 24 horas: 294 na quarta (1º), 270 na quinta e 288 na sexta. Os números, fora da curva que o país vinha mantendo desde o início da crise, preocupam autoridades. Alerta também nos hospitais, que já manejam pacientes internamente para não ver o colapso de perto. O país ainda tem a taxa de letalidade mais baixa da região e uma das menores do mundo (apenas 18 de seus 4.311 casos resultaram em morte, equivalente a 0,4%), mas a aceleração dos últimos dias tornou o cenário futuro difícil de prever. No Nación.
A produção de café no país deve ser afetada em 2020 pelo fechamento de fronteiras, que impede imigrantes nicaraguenses e panamenhos de trabalharem nos cafezais. Segundo números oficiais, esses estrangeiros representam mais da metade da força de trabalho no setor cafeeiro costarriquenho que, embora pequeno em comparação com os vizinhos, é cultuado no mercado de grãos refinados por suas características raras. Além de afetar o mercado exportador, a crise global deixa esses trabalhadores em condições ainda mais vulneráveis. Via Reuters.
Una palabra:
Essequibo – também encontrado na grafia esequibo ou no holandês essequebo, é um termo geopolítico aplicado em diversas situações. Primeiro, à região leste da antiga Guiana Inglesa, vendida como colônia aos holandeses em 1616. Como a ocupação europeia se deu à margem do maior rio guianense, os 1.014 km de água – que nascem na fronteiriça cadeia de montanhas brasileira da Serra do Acaraí e desembocam no Atlântico – também levam o nome de Essequibo. Mas seu uso mais conhecido é uma metonímia que remete à disputa territorial entre Guiana e Venezuela.
CUBA 🇨🇺
Com a melhor situação da região diante da covid-19 no momento (foi o país com menor avanço de casos e mortes em junho), Cuba agora está inteiramente reaberta. Mesmo Havana, que permanecia com medidas mais rígidas quando o restante do país retornou à normalidade, levantou a quarentena. Favorecida não só pela atenção sanitária eficiente (que a levou a exportar médicos para a Europa durante a crise atual), mas também pela condição insular, Cuba agora estuda medidas para reiniciar o turismo internacional sem colocar sua população em risco. De início, os estrangeiros serão isolados em lugares específicos e testados, e só os que derem negativo terão a circulação permitida. Via AP.
Ajuda socialista para contornar o embargo: o governo vietnamita entregou nesta semana uma carga de 5 mil toneladas de arroz, como parte das medidas para garantir segurança alimentar durante a pandemia. Ainda que tenha conseguido deixar a crise sanitária sob controle, a ilha voltou a enfrentar escassez de produtos essenciais e precisou recorrer uma vez mais à libreta de racionamento nos últimos meses. Não é só a pandemia: o cotidiano cubano tem voltado a se dificultar devido à reversão da política de aproximação entre EUA e Cuba, ensejada por Barack Obama e implodida sob Donald Trump. No CubaDebate.
EL SALVADOR 🇸🇻
O Departamento de Estado dos EUA chamou a atenção do presidente Nayib Bukele diante das repetidas investidas autoritárias contra os outros poderes do país: segundo Washington, os salvadorenhos podem seguir recebendo a ajuda atual, mas Bukele “não pode usar sua popularidade para violar a Constituição”, como vem tentando fazer. Curiosamente, o puxão de orelha veio logo após Luis Almagro, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que frequentemente ecoa as posturas norte-americanas, minimizar o autoritarismo de Bukele e dizer que as críticas ao mandatário são “histéricas”. Em ElSalvador.com.
EQUADOR 🇪🇨
Depois de Guayaquil, a vez de Quito. Embora com uma situação menos dramática que a experimentada pela cidade litorânea ainda em março, a capital do Equador viveu nas últimas semanas os seus piores dias na pandemia. A taxa de ocupação de UTIs para covid-19 se aproximou do máximo na terça (30), com 122 dos 123 leitos recebendo pacientes. Segundo o Ministério da Saúde, desde então a cidade registrou, pela primeira vez, uma queda na demanda por leitos, mas a situação crítica continua recomendando cautela. Entre outras medidas, os terminais de ônibus interurbanos foram fechados. Em El Universo.
“Carlos Luis Morales, Carlos Luis Morales, todo el clamor de su gente lo lleva siempre en su mente”. O trecho é parte de uma música divulgada esta semana em homenagem ao prefeito de província de Guayas, falecido no último 22/6 por um infarto fulminante, aos 55 anos. A tragédia de Morales é um caso tipicamente latino em que a morte parece absolver todos os pecados: um dos personagens mais odiados dos últimos meses no país, ele havia falhado em conter a catástrofe pandêmica na região e vinha convivendo com acusações de tráfico de influência para a assinatura de contratos na emergência sanitária. O governante chegou a ser detido em 3/6, as administrações municipais vinham pedindo sua destituição, e outros 12 envolvidos estavam foragidos na época. Pressionado por todos os lados, Morales foi surpreendido pela morte e passará à história como inocente, já que a lei não permite a continuidade dos processos contra ele. Agora tudo são loas ressaltando, principalmente, sua trajetória esportiva: antes da política, Carlos Luis Morales foi um dos maiores goleiros do Equador nos anos 1980 e 1990, “triunfando humildemente”, como diz a canção recém-composta.
GUATEMALA 🇬🇹
O país anunciou, na quinta (2), que vai abandonar a Organização Internacional do Café (OIC), acusando a entidade fundada em 1963 de nada ter feito para conter a baixa dos preços em meio à pandemia. Segundo a própria OIC, as vendas da commodity despencaram 14,6% em maio, mês mais recente com dados consolidados. Décima maior exportadora do planeta, respondendo por 2,5% da produção mundial, a Guatemala diz que vai passar a tratar do tema diretamente com os compradores. Inspirada na rebeldia dos vizinhos, a também cafeicultora Honduras (6ª no ranking mundial da exportação, que tem o Brasil em primeiro lugar) indica que pode seguir pelo mesmo caminho. Via Reuters.
HAITI 🇭🇹
País que menos testa para coronavírus na região e dono do que se suspeita ser o pior caso de subnotificação na América Latina, o Haiti segue defendendo seus números oficiais relativamente baixos e se guiando por eles para determinar as próximas políticas. Na sexta (3), o presidente Jovenel Moïse anunciou novas etapas de reabertura do país: serviços religiosos retornam em 12/7, enquanto escolas e universidades voltam à ativa em 10/8. Via AFP.
Un clic:
HONDURAS 🇭🇳
Mais um jornalista foi morto na América. Enquanto comemorava seu aniversário de 41 anos, German Vallecillo Jr. e seu câmera Jorge Posas foram abordados por um grupo de homens armados, que disparou e fugiu. Nenhum deles resistiu aos ferimentos. Horas depois do crime, a polícia prendeu cinco suspeitos de participar do ataque, sendo um deles um suposto membro da violenta gangue Barrio 18. A principal organização de jornalistas do país pediu justiça e cobrou investigações. Entre 2001 e 2020, pelo menos 84 jornalistas hondurenhos foram assassinados, sendo que 93% dos casos seguem impunes, segundo o Colegio de Periodistas de Honduras (CPH). Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Julho deve ser um mês de aproximação entre México e EUA. Na quarta (1º), entrou em vigor o novo acordo comercial entre os três países norte-americanos – USMCA para os anglófonos, T-MEC para os mexicanos ou “novo Nafta” para os saudosos. Aproveitando o embalo, o chanceler Marcelo Ebrard confirmou o convite da Casa Branca, que deve receber o presidente López Obrador entre os dias 8 e 9/7. Será não só o primeiro encontro com Trump, como também a primeira viagem internacional do mexicano. Enquanto AMLO se vê encurralado por um possível desastre na economia (com queda do PIB acima de 10%, segundo projeções revisadas do FMI), o republicano tenta driblar os desempenhos ruins nas pesquisas eleitorais – o que leva deputados hispânicos a pedir o cancelamento do encontro “oportunista”. Na Forbes México.
O caso dos 43 estudantes desaparecidos ganhou uma nova etapa nesta semana: o procurador-geral Alejandro Gertz reverteu a antiga posição oficial sobre o trágico episódio, ordenando investigações profundas contra agentes do próprio Estado, acusados de envolvimento com o crime e seu acobertamento. Os estudantes da escola Ayotzinapa, no estado de Guerrero, desapareceram em 2014. O governo da época disse que a “verdade histórica” era que eles haviam sido detidos pela polícia municipal, entregues a um grupo do narcotráfico, mortos e incinerados. A versão, porém, foi contestada por investigações posteriores: entre outras discrepâncias, haveria envolvimento até mesmo de agentes federais no crime. Com um novo governo, agora o país declara que “acabou a verdade histórica”, ordenando a prisão de 46 funcionários do Estado. Entre eles, o líder das investigações da própria procuradoria-geral na época, o hoje foragido Tomás Zerón, acusado de plantar evidências. A Interpol foi convocada para ajudar em sua captura. O governo atual também não endossa a versão de que os corpos incinerados eram dos estudantes e retomou a busca pelo paradeiro dos restos mortais dos 43 desaparecidos. Na BBC.
Pelo menos 26 pessoas foram assassinadas em um centro de reabilitação ilegal na cidade Irapuato, estado de Guanajuato, no que a polícia acredita ter sido um acerto de contas entre gangues rivais. Segundo sobreviventes, um bando armado entrou no local, pediu que mulheres saíssem e disparou contra todos os homens presentes. Parentes das vítimas cobraram ajuda do governo que “já não faz nada” para ajudar. Guanajuato se transformou em um dos lugares mais violentos do país, servindo de campo de batalha para o confronto sem escrúpulos entre o temido Cartel Jalisco Nova Geração e gangues locais. Foi o maior atentado a uma casa de reabilitação desde 2010, quando 19 foram pessoas foram mortas em Chihuahua. No Infobae.
NICARÁGUA 🇳🇮
Pelo menos 20 veículos de comunicação foram fechados pelo regime de Daniel Ortega nos últimos anos, especialmente depois da crise política de 2018. Além de perseguir jornalistas e forçá-los ao exílio, o governo apelou para o bloqueio de insumos (como papel e tinta) para privar os periódicos de suas versões impressas. Até o jornal mais antigo do país foi um dos alvos. Como a pandemia é outro fato que o governo tenta esconder, a tendência é que a supressão da liberdade de imprensa, já tão frágil no país, só aumente. Um exemplo: segundo o Ministério da Saúde, na semana entre os dias 23 e 30 de junho teriam morrido de covid-19 apenas nove pessoas em todo o país. Relatórios médicos, porém, dizem que esse é o número de óbitos registrado em um só dia em um dos principais hospitais da capital. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
O ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014) enfrentará a justiça mais uma vez, agora por suspeitas de envolvimento em um esquema de corrupção ligado ao caso “New Business”. O ex-mandatário é acusado de participar da compra de um grupo editorial com dinheiro público, fato que teria ocorrido durante seu mandato. Martinelli já foi julgado recentemente em um caso de espionagem política após ser extraditado pelo governo do EUA. Vários nomes fortes de seu governo acabaram detidos depois de 2014. Na Prensa Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
“Maligno” López é o nome que está na boca do povo nos protestos recentes que vêm tomando as ruas de Assunção. É um trocadilho com o nome do ministro da Fazenda, Benigno López, acusado de endividar o país excessivamente durante a pandemia, em um cenário de suspeitas de contratos superfaturados. Até a venda de títulos de dívida da usina de Itaipu estaria sendo cogitada como forma de amenizar momentaneamente a crise, gerando pesadas contas a pagar no futuro. Nesta semana, diferentes protestos contra o governo, centrados na imagem do ministro que se tornou figura central no desarranjo fiscal, tomaram as ruas do país: de empresários cobrando mais ajuda do governo, de pais reclamando atenção sanitária imediata a seus filhos e da esquerda contrária à “corrupção vende-pátrias” de um governo que já foi muito questionado pela relação subserviente com o Brasil, deixando o presidente Mario Abdo à beira de um impeachment no ano passado. Em comum em meio a tantas bandeiras, o pedido pela destituição de López. No ABC Color.
Un nombre:
Usnavy – nome popular em Cuba e outros países banhados pelo Mar do Caribe e vigiados pelo Grande Irmão do Norte, vem da identificação dos navios vistos no horizonte: “US Navy”, a marinha dos Estados Unidos.
PERU 🇵🇪
Como visto no Chile e na Colômbia, os peruanos também não souberam reagir à reabertura de forma responsável. Após 106 dias, o governo encerrou o lockdown em diversas partes do país (que, por si só, enfrentam estágios diferentes de contágio). Mas a população não fez essa distinção: onde o isolamento foi afrouxado, houve aglomeração. Um dos motivos da mudança, diz o governo, é a necessidade de reativar a economia. Ainda que prudente desde o início da crise sanitária, o presidente Martín Vizcarra terá que lidar com uma queda de 12% na atividade econômica em 2020, segundo o Banco Mundial. O governo alega ter feito a lição de casa para chegar a esta fase: segundo o ministro da Saúde, Víctor Zamora, o fechamento do país em 16/3 salvou 145 mil vidas e evitou mais de um milhão de internações. Ainda assim, o Peru é um dos mais devastados pela covid-19, ocupando o segundo lugar da região em mortes por milhão de habitantes. Via AP.
PORTO RICO 🇵🇷
Com as feridas do Furacão Maria ainda bem abertas, a ilha enfrenta um período econômico preocupante, que só piorou com a pandemia. Como resposta à crise, o governo Wanda Vásquez acordou um novo orçamento de US$ 10 bilhões que, por um ano, suspende medidas de austeridade e cortes. Os valores atuais foram autorizados pelo comitê federal, que havia rejeitado a primeira versão proposta por San Juan. Segundo o comitê, é o quarto orçamento “inconsistente com o plano fiscal dos EUA” que o estado livre associado submete. Desde 2017, Porto Rico alega que não obtém ajuda suficiente de Washington. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Tatuagem na pandemia? Há quem diga que sim. Proprietários de estúdios no país dizem que, mesmo com a paralisação dos trabalhos por conta da fase inicial da quarentena, a procura não diminuiu. Agora, com um esquema “digno de hospital”, que inclui uma pessoa extra na equipe só para cuidar da higiene, pulverização eletrostática dos materiais e atendimentos individuais, peles voltam a ser pintadas. Perguntada sobre desenhos com temática coronavírus, a tatuadora respondeu que “ainda não”, mas se quiserem, é só pedir. No Listín Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Único latino-americano que poderá cruzar as fronteiras parcialmente reabertas da União Europeia, o Uruguai é, até aqui, uma amostra do que não é a pandemia na maior parte do continente. Com menos de mil casos confirmados, já é considerado um dos exemplos de sucesso no combate ao vírus. Mas a vigilância é constante: mesmo controlando a crise, alguns pequenos surtos, como o recente em Treinta y Tres, têm acendido a luz amarela do governo. Em El Observador.
A situação positiva diante da crise sanitária fez o Uruguai retomar, por fim, as aulas em todas as escolas do país, após um plano de reabertura gradual que começou pelos estabelecimentos rurais e depois incluiu os de pequenos centros urbanos, antes de chegar a Montevidéu. A ideia era que, se as aberturas anteriores não ocasionassem um aumento no número de doentes, todo o sistema voltaria a operar nesta segunda (29), o que efetivamente ocorreu. O único lugar que aguarda para retornar é o departamento de Treinta y Tres, devido ao surto recente que o transformou no epicentro uruguaio da covid-19 (67 dos 87 casos ativos do país estão lá). No Infobae.
O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Talvi, renunciou ao cargo na quarta (1º), em meio à cúpula de líderes do Mercosul que aconteceu por videoconferência. A decisão causou espanto não só por ocorrer durante o encontro, mas por ter sido anunciada justamente no momento em que os uruguaios assumiram a presidência temporária do bloco. Adversário do presidente Lacalle Pou nas eleições em 2019, depois convertido em aliado no segundo turno, Talvi disse que pretendia ficar até o final do ano, mas que “não tinha intenção de ser um obstáculo” para que o novo presidente escolhesse um nome mais adequado. A saída do chanceler também mostra certo desgaste entre os nomes fortes do novo governo. Com a mudança, o cargo de chanceler será ocupado pelo embaixador uruguaio em Madri, Francisco Bustillo. Em La Diaria.
VENEZUELA 🇻🇪
O presidente Nicolás Maduro havia ordenado que a embaixadora da União Europeia no país, Isabel Brilhante Pedrosa, deixasse o país em até 72 horas, em nova resposta a sanções dos europeus a parlamentares aliados. Com a nova restrição, medidas contra nomes ligados ao governo já somam 36 e incluem Luis Parra, líder chavista na Assembleia Nacional. O impasse para a saída da diplomata, porém, são as fronteiras fechadas pelo próprio Maduro. Na terça (30), dia seguinte ao pronunciamento do mandatário, a UE resolveu convocar Pedrosa, dizendo que resolveria a situação futuramente. Na última hora, porém, o governo venezuelano anulou a decisão de expulsar a embaixadora. No Infobae.
As exportações de petróleo, setor que corresponde a mais de 90% da economia, caíram para o nível mais baixo desde 1943. O resultado vem como efeito de uma série de sanções econômicas impostas pelo governo dos EUA, ampliadas após a vitória de Donald Trump em 2016. Além das decisões de Washington, outro fato que agrava a crise é a pandemia, que deve encolher a atividade econômica do mundo em pelo menos 6% em 2020. Por tabela, a demanda pela commodity também caiu. Via Reuters.
Uma briga territorial que não tem fim. Disputando a região de Essequibo, riquíssima em petróleo, Venezuela e Guiana estão mais uma vez diante da Justiça internacional, que segue deliberando sobre o direito soberano que os dois países alegam possuir sobre o território pouco conhecido no topo da América do Sul. Para a Guiana, um dos países mais pobres de toda a América, o tesouro subterrâneo poderia significar um crescimento avassalador e jamais visto, segundo projeções do FMI. Para a Venezuela, que já detém a maior reserva do mundo, seria um alento para a crise no setor, como mencionado na notícia acima. Além disso, a questão da soberania é ponto importante para o país desde Hugo Chávez (1999-2013). Na teleSUR.
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