Dinamite e bazuca: central sindical é atacada na Bolívia
Ex-presidentes na mira da Justiça em Equador, México e Paraguai || Reforma judicial estremece política argentina || Porto Rico: caos nas primárias || País a país, um resumo das notícias do continente
O centro de La Paz foi sacudido por fortes explosões na noite de quinta-feira (13). Duas bananas de dinamite e o que se acredita ser um coquetel molotov foram atirados contra a sede da Central Obrera Boliviana (COB), principal central sindical operária do país. Mais tarde, quando a polícia capturou seis suspeitos pelo ataque, encontrou ainda bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e até mesmo uma bazuca artesanal. Com o país imerso em uma crise política que está às vésperas de completar um ano, desde a controversa reeleição de Evo Morales em outubro e o subsequente golpe em novembro de 2019, o terrorismo parece estar entrando definitivamente em cena para agravar ainda mais o nebuloso cenário da nação andina.
Nas últimas semanas, a COB havia se unido às manifestações do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo, cobrando a realização imediata de eleições. Adiado várias vezes por conta da piora da pandemia no país, o processo eleitoral vem sendo empurrado desde maio. O mais recente adiamento, de 6/9 para 18/10, gerou uma onda de protestos e bloqueios em estradas desde o início de agosto, que o governo interino de Jeanine Áñez logo utilizou para acusar a esquerda por “sedição” e “crimes de lesa humanidade”, alegando que a interrupção do tráfego impediu a chegada de oxigênio a hospitais e potencializou as mortes por covid-19. Asilado na Argentina, Evo rebateu, lembrando que a falta de insumos para tratar os pacientes já era noticiada muito antes dos bloqueios.
A própria relação da COB com Evo é revestida por muitas camadas: embora tenha marchado ao lado do MAS nas últimas semanas, a central sindical já havia tido certa oposição ao antigo governo, como nos protestos de 2013 contra uma reforma pensional e, no ano passado, manifestou-se favorável à renúncia do presidente para “pacificar o país”. Pacificação, aliás, foi novamente a palavra de ordem após o atentado da quinta à noite: a Central Obrera anunciou a suspensão de sua presença nos protestos até a data das eleições, confiando em uma resolução passada pelo Senado na própria quinta-feira, que garantiu que 18/10 seria a data-limite para o pleito, sem novas prorrogações. Evo também pediu paciência aos correligionários, para que aguardassem o dia prometido. Simultaneamente, começaram a emergir suspeitas não comprovadas (de ambos os lados) de que o ataque desta semana não passaria de um “autoatentado” para forçar um atalho para a conciliação. Em El Alto, reduto do MAS na região metropolitana de La Paz, manifestantes prometem seguir nas ruas.
Se a tal data-limite será mesmo respeitada – e se o MAS terá alguma chance justa de efetivamente concorrer e vencer –, porém, ainda está por ser visto. O fervente caldeirão boliviano segue transbordando, e o governo interino não tem qualquer interesse em largar o poder. Mesmo que, para isso, precise se contradizer.
😷 A América Latina superou os 6 milhões de casos de covid-19 nesta semana, chegando também a 237 mil mortes. Mais uma vez, tristes recordes semanais foram estabelecidos na região, mas boa parte dos países parece ter estabilizado seus números. Confira nossa atualização semanal clicando aqui.
Un sonido:
Já se perguntou por que o GIRO não fala do Belize? Das Guianas? Ou de Trinidad e Tobago? Neste episódio do nosso podcast, nós falamos! Clique na imagem acima para ouvir.
ARGENTINA 🇦🇷
Vai ter vacina contra a covid-19. É isso que anunciou o governo, citando um acordo feito entre Argentina, México, a Universidade de Oxford e a gigante farmacêutica AstraZeneca. O presidente Alberto Fernández garantiu que o medicamento estará disponível no primeiro semestre de 2021 e custará “entre 3 e 4 dólares” (entre 200 e 300 pesos, segundo a cotação oficial). Fernández revelou que a demanda vai bater pelo menos 230 milhões de doses. Já no México, segundo López Obrador, a distribuição será “universal e gratuita”. Os dois líderes devem manter contato para discutir o acordo. Via Reuters.
Passado o maremoto do acordo entre Buenos Aires e seus credores internacionais (leia mais no GIRO #42), que deu fôlego para o acossado governo Alberto Fernández, um novo tumulto pode voltar a ganhar destaque na política do país: o presidente anunciou um polêmico plano para reformar o sistema de justiça, inaugurando um novo capítulo de protestos vindos da oposição. Segundo o mandatário peronista, que é um professor experiente na área de direito penal, o plano tem como objetivo, entre outras coisas, modernizar o Judiciário para garantir maior independência do poder político e agilizar o andamento dos processos. Mas não é isso que a oposição, unida contra a medida, entende: segundo os adversários de Fernández (e até peronistas que não simpatizam com a vice-presidente Cristina Kirchner), a intenção da reforma seria justamente inocentar funcionários peronistas, incluindo a própria ex-presidente. Ainda que responda a 12 processos de corrupção, Cristina conta com um foro privilegiado, que se soma ao que já tinha durante seus anos como senadora, antes de integrar a atual chapa governista. Com a morte do juiz Claudio Bonadio (que personificou a guerra judicial contra Kirchner, sendo acusado por ela e seus correligionários de “lawfare” contra a esquerda), muitos oposicionistas temem ver cair a zero as chances de tê-la novamente no banco dos réus e, mais ainda, de vê-la condenada. É nesse contexto cheio de rusgas que Fernández tenta avançar uma proposta que “já nasce impopular” (mesmo entre aliados) e que tem grandes chances de ser dada como “inconstitucional”, segundo especialistas argentinos ouvidos pelo GIRO. No New York Times.
BOLÍVIA 🇧🇴
“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”. A frase, bem conhecida, pode fazer sentido quando olhamos o tuíte de um bilionário dos EUA, que prometeu golpes indiscriminados para obter matéria prima latino-americana. Mas, apesar da piada infame de Elon Musk, vista como só mais um insulto à frágil democracia da região, há um pano de fundo bem sério: a Bolívia de Evo Morales (de quem Musk tirou sarro) concentra as maiores reservas de lítio do mundo. E é justamente desse ouro branco dos Andes que a empresa do empresário excêntrico precisa para produzir seus carros elétricos – ou seja: apoiar um golpe vindo de setores da direita só traria benefícios. No entanto, antes de abraçar a conspiração, é preciso separar a teoria dos fatos. É o que fazemos no vídeo abaixo:
CHILE 🇨🇱
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos enviou uma missão ao sul do Chile entre os dias 11 e 14/8, para se reunir com lideranças mapuche e policiais para investigar as denúncias de violência cometidas contra manifestantes indígenas nos protestos recentes, além de coletar informações sobre o estado de saúde de lideranças que estão em greve de fome (mais sobre os protestos no GIRO #42). A atenção especial ao tema não é casual: a atual mandachuva dos direitos humanos na ONU é a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, o que levou a críticas de apoiadores do atual governo de que a missão estaria sendo usada com fins politiqueiros. Em La Tercera.
Os números da pandemia seguem diminuindo no país, que vem flexibilizando restrições. Na próxima segunda (17), inclusive a região central de Santiago (que estava em quarentena desde 26/3, muito antes de o restante da Região Metropolitana entrar em lockdown, algo que só ocorreu em 15/5) passará à fase de transição para o desconfinamento. Após uma liberação inicial no final de abril, o Chile viveu uma explosão de casos e mortes por covid-19, o que levou a restrições ainda mais duras à circulação em Santiago por outros dois meses e meio. Essas medidas começaram a ser levantadas novamente em 28/7, mas o coração da capital acabou por ser o primeiro a se fechar e um dos últimos a reabrir. Via Reuters.
COLÔMBIA 🇨🇴
Autoridades prenderam dois homens procurados pela Justiça dos EUA, acusados de vender compostos químicos apresentados como “curas milagrosas” contra a covid-19. Segundo a procuradoria colombiana, os homens, provenientes da Flórida, foram detidos na cidade costeira de Santa Marta e vendiam dióxido de cloro como um verdadeiro elixir mágico. Um dos detidos, que é bispo em seu país natal, chegou a associar forças sobrenaturais ao uso do composto, que já foi vendido como solução para câncer e autismo. Via AP.
O líder social afro-colombiano Patrocinio Bonilla foi assassinado por um grupo paramilitar no município de Alto Baudo, departamento de Chocó. O caso foi denunciado por organizações locais. Segundo testemunhas, o grupo armado abordou Bonilla e outras 15 pessoas, das quais não se tem notícia. A Colômbia enfrenta uma epidemia de violência contra lideranças sociais, sobretudo pela mão de paramilitares conservadores: além de Bonilla, outros 182 representantes já foram mortos em 2020, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz). Na Semana.
Há um genocídio indígena na América Latina, como os editores deste GIRO contaram no Intercept Brasil. Um dos povos ameaçados pela doença (e pelo descaso) são os Wayuu, no território colombiano, sobretudo pela falta de acesso a mantimentos básicos e medicamentos, segundo um relatório publicado pela Human Rights Watch e o Centro Johns Hopkins. O diretor para as Américas da HRW, José Miguel Vivanco, alerta que os Wayuu são privados até de práticas básicas, como a de lavar as mãos. No departamento de Guajira, onde esses indígenas se concentram, já são mais de 3 mil casos confirmados de covid-19, sendo incerto o número de indígenas afetados. Na Prensa.
COSTA RICA 🇨🇷
Uma viagem turística do presidente Carlos Alvarado, no último final de semana, pegou mal. De helicóptero e rumo a um luxuoso hotel-fazenda, o mandatário foi criticado por se dar um prazer em meio a um momento de dificuldades econômicas no país. A oposição também levantou dúvidas sobre quem teria pagado a viagem, apontando a possibilidade de um conflito de interesses. Alvarado defendeu-se alegando que custeou a folga do próprio bolso, versão que foi posta em dúvida após a apresentação de notas fiscais irregulares. No fim das contas, o hotel garantiu que a confusão com as notas havia sido de um funcionário seu, livrando o presidente da dor de cabeça. Entre os custos de viagem, hospedagem e alimentação, toda a escapada teria custado em torno de US$ 4 mil. No Nación.
Un nombre:
Trelew – um nome galês em plena América do Sul? Eles são bem comuns na província de Chubut, região centro-sul da Patagônia argentina, onde muitos imigrantes vindos desta pequena nação britânica se assentaram nos anos 1860. Trelew, que ganhou triste fama por um massacre de prisioneiros políticos ocorrido em 1972, significa literalmente a “Cidade de Luís”, juntando Tre (tref é o galês para town, cidade) e Lew (uma versão encurtada de Lewis, o Luís anglófono, em homenagem a Lewis Jones, um dos primeiros colonizadores da zona).
CUBA 🇨🇺
Mais um estrangulamento à indústria turística cubana foi anunciada pelos Estados Unidos nesta quinta (13). Agora, o governo norte-americano diz que, a partir de 13/10, voos fretados privados entre os EUA e a ilha estarão proibidos. É mais um passo para dificultar as viagens entre os dois países: em janeiro, o governo Trump já havia restringido os destinos possíveis em Cuba, permitindo apenas pousos em Havana e, em maio, o total de voos fretados foi limitado em 3,6 mil por ano. Desta vez, a nova restrição indica que só estarão autorizados os chamados “voos fretados públicos”, em que alguém aluga um avião e vende passagens. Como de hábito, a justificativa para desmanchar um pouco mais a reaproximação da era Obama é que os EUA querem limitar o acesso cubano a dólares de turistas estrangeiros que, segundo a Casa Branca, “financiam abusos e interferências na Venezuela”. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
Os ataques do presidente Nayib Bukele à imprensa do país (relatados no último GIRO) já têm resposta oficial: a Assembleia Legislativa vai criar uma comissão especial para investigar as violações do mandatário à liberdade de imprensa, atos que já encontraram rechaço por parte de organizações de fora do país. Entre as ações da nova força-tarefa está a fiscalização de “ações de funcionários públicos, agentes da autoridade e servidores públicos que obstruem e/ou ameaçam a imprensa e os jornalistas”. Em ElSalvador.com.
EQUADOR 🇪🇨
O ex-presidente Abdalá Bucaram foi preso pela segunda vez em três meses, agora em um caso que liga seu nome à morte de um prisioneiro israelense, informou a ministra do Interior, María Paula Romo. Além de Abdalá, também são alvo da operação seu filho, Jacobo Bucaram, e três funcionários da Agência Metropolitana de Trânsito. Segundo o Ministério Público, os Bucaram, os agentes e o israelense morto na prisão seriam todos parte de um esquema de corrupção que orquestrava a venda irregular de insumos médicos durante a pandemia. Bucaram foi presidente por só seis meses entre 1996 e 1997 e acabou destituído por ser considerado mentalmente incapaz de governar. Durante seu curto período no Palácio de Carondelet, acumulou festas polêmicas e chegou a cogitar contratar Diego Maradona para seu time pessoal. Também foi alvo de denúncias de corrupção e nepotismo. Após sua deposição, viveu por mais de duas décadas exilado no Panamá. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A Procuradoria do país cumpriu ordens de busca e apreensão em 26 propriedades, prendendo sete pessoas acusadas de conexão com os escândalos de corrupção conhecidos como La Línea, que culminaram com a renúncia do ex-presidente Otto Pérez Molina (2012-2015). Pérez Molina e sua ex-vice, Roxana Baldetti, estão presos desde então. O escândalo que fez o governo desmoronar aponta as duas lideranças como parte de uma rede de corrupção que cobrava subornos de empresários em troca da isenção de impostos aduaneiros. Baldetti, por sua vez, chegou até a ser condenada a 15 anos de prisão, mas em outro caso (bastante peculiar): em 2018, a justiça entendeu que ela fez parte de uma tramoia fraudulenta ao permitir contratos milionários para a compra de produtos químicos de uma empresa israelense, com o objetivo de fazer a limpeza do Lago de Amatitlán, que fica próximo à capital. Acontece que o tal produto comprado por milhões (que seriam, depois, desviados para contas particulares), apelidado de “água mágica”, era uma simples solução de água e sal. Na CNN.
HAITI 🇭🇹
Apesar de enfrentar um período de aceleração nas mortes da pandemia, o governo em Porto Príncipe autorizou a retomada de atividades escolares presenciais, após cinco meses de medidas de isolamento. Para tanto, uma série de protocolos de segurança sanitária vem sendo repassada aos estudantes. E a cobrança pelo cumprimento é importante: segundo o Ministério da Saúde, a última quarta (12) teve o maior número de novos casos do último mês, com 94 diagnósticos confirmados. O Haiti é um dos países acusados de esconder o número real de casos e mortes por covid-19. Via EFE.
HONDURAS 🇭🇳
“Onde está o dinheiro? Honduras exige”. Sob esse lema e com cartazes, centenas de cidadãos protestaram na capital contra um suposto esquema de corrupção na gestão dos fundos destinados ao enfrentamento da pandemia. A campanha é apoiada pelo Conselho Nacional Anticorrupção (CNA), que recentemente divulgou um vídeo denunciando crimes dessa natureza. Como já foi relatado em outras edições do GIRO, o governo em Tegucigalpa já teve problemas com a compra de hospitais móveis do exterior, além de equipamentos de biossegurança e ventiladores mecânicos. Um outro escândalo levou à perda de 250 mil testes de covid-19 devido à má gestão da temperatura das amostras. Na DW.
Un clic:
MÉXICO 🇲🇽
Dylan Esaú Gómez, o menino de dois anos e meio sequestrado em 30/6 e cujas buscas ganharam destaque nacional, foi encontrado com vida e devolvido à família após 45 dias. Na sexta (14), jornais locais do estado de Chiapas noticiaram que Dylan já estava com a mãe. As operações de busca pelo menor desaparecido, que foi levado por uma menina de 10 anos e entregue a uma mulher adulta quando passeava por um mercado com a avó, atraíram grande atenção porque, durante as operações de resgate, a polícia desbaratou uma rede de sequestro e exploração de crianças, chegando a encontrar 23 meninos confinados em uma casa em julho. Uma mulher suspeita do rapto de Dylan foi presa. No Excelsior.
O presidente López Obrador quer ver dois ex-mandatários no banco dos réus por um esquema de corrupção entre a estatal do petróleo Pemex e a construtora brasileira Odebrecht, que teria movimentado US$ 4,5 milhões em suborno. Os conservadores Felipe Calderón (2006-2012) e Enrique Peña Nieto (2012-2018), segundo AMLO, devem ser ouvidos por terem sido representantes máximos do poder público durante os anos do escândalo. O atual presidente disse, porém, que, em caso de processos contra os antecessores, consultas populares deveriam deliberar sobre o caso. Via Reuters.
Moradores de Veracruz, no Golfo do México, passaram os últimos dias assustados com uma montanha de lixo erguida no lado de fora do Hospital Adolfo Ruiz Cortines, que trata pacientes com covid-19 na cidade, que tem mais de 500 mil habitantes e é a capital do estado de mesmo nome. Os responsáveis pelo recinto garantiram que a pilha, que chegou a três metros de altura, não seria contagiosa nem teria material biológico. Mas não convenceram muito. Mais de seis toneladas de resíduos começaram a ser removidas na quarta (12). Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Se nem o beisebol ou o futebol chegaram a parar, não seria o concurso de Miss Universo a ser interrompido durante pandemia – sobretudo em um país que carrega o título de líder no ranking do negacionismo na América Latina. No caso do Miss Nicarágua, boa parte das etapas iniciais (que incluem treinamento de discurso e maquiagem) foram feitas, ao menos, virtualmente. Quando a competição começou a afunilar e ficou resumida a só oito competidoras, os encontros se tornaram presenciais. No último final de semana, Ana Marcelo, 23, conquistou o prêmio diante de uma imprudente audiência de 85 pessoas. Oficialmente, a Nicarágua registra números baixos de contágio e morte por covid-19, o que obrigou organizações civis a criarem um observatório independente. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
O governo passou a investigar o acidente do navio japonês Wakashio, de bandeira panamenha, atualmente encalhado na costa das Ilhas Maurício, na África. A embarcação tem despejando combustível nas águas do Oceano Índico, levando autoridades locais a decretar emergência ambiental. Os países da região tentam extrair mais de 4 mil toneladas de combustível que a embarcação tinha em seus tanques para consumo com a ajuda de navios-tanque, helicópteros e uso de mangueiras. O diretor da Marinha, Rafael Cigarruista, informou que a Autoridade Marítima do Panamá (AMP) ofereceu apoio às autoridades mauricianas. O navio tem registro panamenho desde 2007. Na Prensa.
PARAGUAI 🇵🇾
O brasileiro Dario Messer, conhecido como “doleiro dos doleiros”, voltou a colocar o nome do ex-presidente paraguaio Horacio Cartes (2013-2018) no ouvido da Justiça: em acordo de delação premiada, Messer confirmou que o ex-mandatário deu todo o suporte financeiro (R$ 600 mil, segundo o relato) para que ele fugisse do país e se mantivesse longe das autoridades brasileiras. Tudo acontece no âmbito da operação Câmbio, Desligo, ramificação da Lava Jato. Antes “amigos de alma”, agora os dois vivem em pé de guerra: o advogado de Cartes classificou as declarações de Messer como “mentirosas”. Acusado de participar de amplos esquemas de lavagem de dinheiro, Messer renunciou a uma fortuna de R$ 1 bilhão (dos quais R$ 700 milhões estavam no Paraguai), que será devolvida à Lava Jato. Entre os bens estão mais de 80 imóveis no país vizinho e até um quadro do pintor brasileiro Di Cavalcanti, que o Ministério Público quer mandar para um museu. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
A “coronacrise” segue pesando nos números da economia peruana, mas o ritmo de contração desacelerou em junho. Segundo um levantamento publicado pela Reuters na sexta (14), a queda foi de 18,15% em relação ao mesmo mês de 2019, menor que os 32,75% registrados em maio. Um dos países mais golpeados pela crise da pandemia, o Peru viu sua moeda chegar à pior desvalorização em 18 anos durante a sexta-feira e, para tentar estimular a recuperação, manteve a taxa básica de juros no mínimo histórico pelo quarto mês consecutivo: 0,25% anual, o que representa um juro real negativo, abaixo da inflação projetada. Analistas atribuem a redução da sangria à reabertura gradual da economia peruana que, no entanto, vem provocando uma nova onda de contágios ainda pior do que a primeira. O Peru é o país latino-americano com mais mortes proporcionais e, após uma recontagem nesta semana, ultrapassou as 25 mil vítimas fatais por covid-19: quando ajustado para a população, é o terceiro país do mundo com mais mortes, atrás apenas de San Marino e Bélgica, com 784 vítimas a cada milhão de habitantes (no Brasil, 3º na América Latina e 11º no mundo, são 507).
Una palabra:
Carpa – no espanhol, essa mesma palavra tem três origens distintas e pode se referir a coisas completamente diferentes dependendo da raiz. Se vem do latim, é a carpa que também conhecemos em português: um peixe. Mas pode ser uma corruptela do francês grappe e ser usada para nomear um cacho de uvas. Na América Latina, porém, a palavra adquire ainda outro sentido: derivando do quéchua karpa, ela se refere a um toldo que cobre um recinto, como numa tenda de campanha ou num circo.
PORTO RICO 🇵🇷
O caos marcou as primárias da ilha no último domingo (9). Um atraso na entrega de cédulas aos locais de votação fez com que muitas seções não ficassem abertas pelas oito horas previstas em lei, impedindo inúmeros eleitores de participar do processo que define os candidatos para disputar o governo local em 3/11. A bagunça alimentou suspeitas de fraude: a atual governadora, Wanda Vázquez, vinha atrás nas pesquisas do próprio partido. E em Porto Rico há uma variável sui generis: embora as primárias sejam para definir o candidato de uma mesma sigla (no caso, o Partido Novo Progressista), as disputas internas repercutem as dicotomias dos EUA – Vázquez é da ala do PNP ligada ao Partido Republicano, enquanto seu oponente, o favorito Pedro Pierluisi, é do Partido Democrata. Há até quem sugira que as chicanas eleitorais para impedir a possível vitória de Pierluisi podem servir de roteiro para Donald Trump na sua tentativa de reeleição em novembro: o atual mandatário estadunidense vem se empenhando em dificultar a viabilidade, por exemplo, do voto por correio, ao qual se opõe, embora a lei norte-americana permita. Em Porto Rico, milhares de pessoas que saíram de casa para votar em meio à pandemia se revoltaram e a Suprema Corte do território ordenou que as primárias voltem a acontecer neste domingo (16). Agora vai? Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O presidente eleito Luis Abinader, que toma posse no domingo (16), já enfrenta a primeira polêmica de sua gestão nascente: entidades patrióticas pedem que a faixa presidencial, que ele receberá neste final de semana, vá com o emblema nacional correto. Segundo especialistas, os últimos 90 anos de juramento de chefes de Estado foram marcados por faixas com escudos errados. Pedindo “atenção” aos dominicanos, o presidente do Instituto Duartiano (que cuida da vida e obra de Juan Pablo Duarte falecido em 1876, patrono da República e considerado o arquiteto do Estado dominicano), Wilson Gómez Ramírez, citou os trechos da Constituição em que são demandados todos os cuidados com os símbolos nacionais estampados na faixa. Em El Día.
URUGUAI 🇺🇾
Nunca tantas pessoas foram presas no país. Seguindo uma alta dos últimos anos, muito em função do aumento de violência (um dos fatores que influenciou a vitória da centro-direita e o fim do ciclo de 15 anos da Frente Ampla na presidência), a população carcerária está em aproximadamente 12.483 – 1.360 a mais desde dezembro de 2019. Só do mês de maio para cá, 370 pessoas foram presas, segundo a Procuradoria do país. O novo patamar já coloca o Uruguai atrás apenas do Brasil com a segunda maior taxa de presos por 100 mil habitantes (354 lá, 366 aqui). Outro dado também chama a atenção: se em 2017 só 30% dos presos já haviam sido condenados, em 2020 o número subiu a 82%, o que mostra, ao menos, que o limbo entre detenção e condenação (um problema endêmico na América Latina) caiu. No 180.
VENEZUELA 🇻🇪
Mais uma liderança venezuelana sucumbiu ao coronavírus. Chefe do Governo de Caracas, o chavista Darío Vivas, 70, morreu durante a semana após complicações relacionados à covid-19, menos de um mês depois de anunciar que havia sido infectado. A morte de Vivas foi lamentada pelo procurador-geral Tarek William Saab, que enfatizou a militância antiga do político. A pandemia chegou ao alto escalão do governo: nas últimas semanas, figuras próximas ao presidente Nicolás Maduro revelaram o resultado de seus testes, incluindo o braço direito e líder do partido, Diosdado Cabello, o ministro de Comunicação Jorge Rodríguez e o do petróleo, Tareck El Aissami. E, apesar de o vírus ter chegado ao poder oficial e do momento de alta dos casos, flexibilizações estão sendo permitidas no pior momento desde o início da pandemia – o que, paradoxalmente, fez o governo a prolongar o Estado de emergência. No Efecto Cocuyo.
Dois ex-militares estadunidenses envolvidos na invasão fracassada do início de maio foram condenados a 20 anos de prisão pela Justiça venezuelana (para saber mais sobre essa quixotesca tentativa de derrocar Maduro com um bando de mercenários, volte ao GIRO #29 e ao nosso vídeo sobre o tema). Segundo o procurador-geral Tarek William Saab, um dos nomes fortes do governo chavista, Luke Denman e Airan Berry teriam admitido sua participação no episódio, que deixou um saldo de pelo menos oito mortos. Outros 15 militares venezuelanos envolvidos no ataque também foram condenados nesta semana, pegando penas ainda mais severas: 24 anos de cadeia. Via Reuters.
Os Estados Unidos dizem ter confiscado, pela primeira vez, a carga de quatro navios iranianos que levavam combustível à Venezuela. Segundo o Departamento de Justiça norte-americano afirmou na sexta (14), o equivalente a cerca de 1,1 milhão de barris de petróleo foram apreendidos e estão a caminho do Texas. De acordo com funcionários estadunidenses que falaram sob condição de anonimato, a abordagem com ares de pirataria não envolveu ação militar: em vez disso, os EUA teriam ameaçado os donos, capitães e seguradoras dos navios com sanções, o que rendeu a entrega “voluntária” da carga. Tudo autorizado pela própria Justiça estadunidense, sob o pretexto do combate ao terrorismo internacional. Hojat Soltani, o embaixador iraniano na Venezuela, por outro lado, garantiu que os barcos não tinham relação direta com seu país e que o anúncio de Washington não passaria de “outra mentira e guerra psicológica” dos EUA, uma “falsa propaganda” para compensar a “humilhação e derrota” do governo Trump na relação com o Irã. Vivendo uma crise de abastecimento mesmo assentada sobre enormes reservas de petróleo, em função da implosão produtiva do país, a Venezuela vem recebendo várias cargas do Irã ao longo deste ano, que até aqui estavam chegando sem problemas. Via AFP.
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