Prisão de Uribe abala direita na Colômbia
Covid: região supera Europa em mortes || Argentina renegocia dívida || Cuba acelera reformas || Ex-rei corrupto da Espanha fugiu para o Caribe? || País a país, um resumo das notícias do continente
Não é todo dia que a justiça ordena a prisão de um ex-presidente. No caso colombiano, a decisão da Corte Suprema é inédita na história do país e se tornou ainda mais emblemática por ser contra o conservador Álvaro Uribe Vélez, que governou entre 2002 e 2010 e ainda é figura central e a mais popular na política nacional. Na terça-feira (4), o tribunal determinou prisão domiciliar ao ex-mandatário por “possíveis riscos de obstrução da justiça” no processo em que ele é réu. O líder-fundador do governista Centro Democrático e hoje senador é investigado em um esquema de manipulação de testemunhas e subornos, ocorrido em 2012.
Vamos por partes: tudo começou quando o senador progressista Iván Cepeda acusou Uribe de estar envolvido com grupos paramilitares de ultradireita, responsáveis por uma caçada violenta às guerrilhas de esquerda das FARC, fato que deixou milhares de civis mortos. Para acusar o ex-presidente, Cepeda recorreu ao depoimento de ex-paramilitares, que sustentaram sua acusação. Uribe, porém, achou tudo um absurdo e acusou Cepeda de armar um “complô” contra ele, dizendo que os tais depoimentos dos detidos eram falsos testemunhos. Não demorou para que o ex-presidente fosse ele mesmo à Corte Suprema com denúncias contra seu seu arquirrival da esquerda. A partir daí, a justiça tinha dois casos na mão.
Mas a versão de Uribe começou a apresentar furos: o ex-paramilitar condenado Juan Guillermo Monsalve, um dos nomes mais importantes nas delações contra o ex-mandatário, mudou seu discurso repentinamente e admitiu, depois, que só fez isso por estar “sob pressão”. A tal “pressão”, no fim das contas, era dinheiro, repassado, segundo as testemunhas, por meio do advogado de Uribe, Diego Cadena. Durante esta semana, a justiça também ordenou prisão domiciliar a Cadena. Ele é acusado de ir a presídios e oferecer boas quantias para que as testemunhas mudassem suas versões. Questionado, o defensor disse que Uribe sequer sabia do que chamou de “ajuda humanitária”. Não é difícil imaginar que o tiro do ex-presidente (a tal tentativa de denunciar o “complô”) saiu pela culatra: em 2018, a corte resolveu arquivar as ações contra Cepeda e passou, paradoxalmente, a investigar o próprio Uribe, que essa semana viu o caso avançar e virar uma ordem de prisão.
Pelo Twitter, o líder lamentou a decisão da justiça, que em outras oportunidades já chamou de “perseguição”. Pouco depois, o presidente Iván Duque (um dos apadrinhados de Uribe) foi ao ar para defender a honra de seu mentor e chegou a pedir uma reforma judicial no país, o que, por si só, mostra desrespeito à independência entre os Poderes. Enquanto a mudança não acontece, o homem mais poderoso da política colombiana segue à espera de um julgamento que pode virar uma condenação por suborno e fraude processual, com pena de oito anos de prisão. Para não dizer que os eventos da semana são só históricos, o dia seguinte ao terremoto político teve um toque contemporâneo: Uribe, além de preso em casa, testou positivo para covid-19 – diagnóstico que, assim como o legado do ex-presidente, é bastante questionado.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
A Cepal, Comissão Econômica para América Latina e Caribe, recomendou que as fronteiras sigam fechadas caso a pandemia não seja controlada na região. Alicia Bárcena, a secretária-geral da entidade, disse que não há dilema entre saúde e economia, e que uma reativação total só será possível quando a questão sanitária estiver melhor. Também lembrou que, embora a indústria do turismo esteja penando, o fechamento de fronteiras vale para pessoas, mas nunca se aplicou às mercadorias. Nesta semana, a América Latina superou a Europa no total de mortes oficialmente atribuídas à covid-19 (já são quase 216 mil aqui, contra 205 mil no Velho Mundo). Confira nosso levantamento semanal da pandemia na região.
ARGENTINA 🇦🇷
Enfim, boas notícias. O governo argentino anunciou, após longa negociação, que chegou ao tão esperado acordo com seus credores privados, podendo reestruturar uma dívida de aproximadamente US$ 65 bilhões e, de quebra, deixou o quadro de moratória técnica que assombrava as administrações de Alberto Fernández e Mauricio Macri. Descomplicando: para cada US$ 100 que o país deve a esses credores da dívida externa, serão pagos US$ 54,80. O valor negociado vai aliviar as contas do Estado em aproximadamente US$ 30 bilhões, uma das raras boas novidades em Buenos Aires quanto o assunto é economia. Se a dívida atrasada, por si só, já tensionava as relações entre as partes, vale lembrar que, em junho, o país não pagou o vencimento dos juros e a cada encontro tentava prorrogar os prazos. Não demorou para que o fantasma do calote voltasse a pautar a opinião pública – ainda que “default técnico” fosse um termo mais bem aceito pelo ministro da Economia, Martín Guzmán. Agora, com a cabeça fora da água, a Argentina vê a primeira grande vitória política do governo peronista e consegue respirar. Mas só um pouco: passada essa negociação, o país tem na agenda as tratativas referentes aos US$ 44 bilhões que deve ao Fundo Monetário Internacional, como parte de um acordo de empréstimo firmado ainda sob Macri, em 2018. Menos do que uma boia, os últimos acontecimentos são para Fernández um bote salva-vidas ao alcance: além desses dois obstáculos, ele vai encarar uma queda no PIB estimada em 9,5% para 2020, segundo cálculos do Banco Central, além de uma onda radical da direita que ainda não deu a entender se é passageira. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
Semana de protestos dos partidários do MAS, o partido de Evo Morales, cobrando a realização imediata de eleições. Em um golpe que ganha novos contornos a cada semana e se valendo das medidas sanitárias para adiar sucessivamente o pleito, a presidente interina (e candidata à reeleição) Jeanine Áñez caminha para completar um ano no cargo, em novembro. Os grupos ligados ao MAS realizaram bloqueios em pelo menos 55 pontos nas estradas do país, exigindo que a votação ocorra em 6/9, como estava previsto antes do mais novo adiamento (a princípio, para 18/10). O governo, que diz que as manifestações interromperam a circulação de caminhões transportando oxigênio para os hospitais, fez uso da força para desocupar as estradas e promete denunciar os participantes por crimes de lesa humanidade, sedição e terrorismo. Em mais um passo para criminalizar o governo derrubado em 2019, o gabinete de Áñez aponta nomes como o do próprio Evo Morales (que segue asilado na Argentina) e o do candidato à presidência pelo MAS, Luis Arce, como responsáveis sujeitos a processo. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Há dez anos, a história de 33 mineiros chilenos atraiu os olhos do mundo para a pequena localidade de Caldera, no Atacama. O acidente na mina de ouro e cobre San José fez aniversário na última quarta (5), data que em 2010 marcou o início do que seriam 69 dias sobrevivendo a 720 metros de profundidade, antes de um resgate midiático que virou até um criticado filme em Hollywood. Uma década mais tarde, porém, os 33 têm dificuldade para encontrar emprego e só são lembrados na efeméride: segundo eles, os donos das mineradoras têm medo da repercussão que um novo acidente envolvendo algum dos sobreviventes teria. “Vem um 5 de agosto e todos perguntam, mas passamos 364 dias do ano e ninguém se lembra qual é a situação dos 33 mineiros. Virá o ano número 11 e vão perguntar o mesmo, restará o último mineiro vivo e vão lhe perguntar a mesma coisa”, lamenta Luis Urzúa, líder do grupo que trabalhava no momento do acidente e último a ser resgatado. Na BBC.
A região sul do Chile voltou a ser sacudida por protestos dos mapuche, que chegaram a ocupar cinco municípios da Araucanía no último sábado (1º). Durante a semana, as tomas se repetiram. Disputas por terra e antigas reivindicações por direitos continuam a mobilizar as vozes dos povos originários e a repressão estatal, mas com um elemento novo: um racismo cada vez menos envergonhado de aparecer no discurso público. Nesta entrevista à revista The Clinic, o historiador mapuche Fernando Pairican analisou os conflitos recentes e cravou: “o povo mapuche não acredita na palavra dos chilenos”.
Un video:
COLÔMBIA 🇨🇴
Mais de 10 mil casos por dia virou uma marca comum na Colômbia, que segue vivendo uma piora nos números da pandemia no país. Enquanto a crise sanitária se agrava, a capacidade de respeitar as recomendações das autoridades se deteriora: 56% dos colombianos não confia na Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo números recentes da Enquete Mundial de Valores, projeto criado em 1981 que reúne dados de 110 países. Não é o único achado da pesquisa, que perguntou sobre diferentes aspectos da vida: descobriu-se, por exemplo, que um número semelhante de colombianos (55,6%) é contra a adoção por casais homoafetivos, que quase 87% não confiam nas eleições do país e apenas 4,5% consideram que a maioria das outras pessoas são confiáveis. Em suma: está difícil acreditar em alguma coisa na nação cafetera. Em El Tiempo.
Com tanta desconfiança, nem o gato era o que parecia. Um agricultor do interior de Tolima resgatou um pequeno felino solitário na beira da estrada, mas logo percebeu que havia algo errado com o simpático animal que vinha mantendo em casa nas últimas duas semanas: a cauda longa, as orelhas arredondadas e os hábitos alimentares, mais vorazes que o normal para um gato doméstico, chamaram a atenção. Após uma consulta à internet, deu-se conta: era um filhote de jaguarundi, parente do puma. Elber Guzmán prontamente chamou as autoridades responsáveis, que vão tomar conta do “bichano” até ele ter condições de ser devolvido à natureza. Em El Tiempo.
COSTA RICA 🇨🇷
A situação da pandemia segue se agravando em um dos países que vinha contendo bem o avanço nos primeiros meses. Na sexta (7), a Costa Rica registrou pela primeira vez mais de mil novos casos diários e também bateu o recorde de óbitos em 24 horas: foram 18. Agora, começam a vir também as primeiras denúncias de erros na gestão de crise, com contratações irregulares: uma firma especializada em jornalismo de política, a MR Comunicaciones Políticas, chegou a receber uma demanda de 2 bilhões de colones (R$ 18,5 milhões) para fabricar máscaras entre abril e junho. Quando o erro foi percebido, o contrato foi cancelado e nenhum centavo foi gasto, mas o caso revelou a confusão e o tempo perdido pelo governo quando a pandemia ainda estava sob controle. No Nación.
A angústia econômica também bate à porta. No caso do presidente Carlos Alvarado, literalmente: na sexta (7), empresários donos de academias, cassinos e outras atividades comerciais sob restrição iniciaram uma vigília em frente à casa de Alvarado, pedindo a reabertura. A promessa é seguir em piquete ao longo do sábado. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Com a crise causada pela pandemia e pelo recrudescimento das sanções por parte dos EUA (favorecidas, também, pela covardia dos democratas em recuperar as medidas da era Obama), Cuba vem acelerando as reformas econômicas para facilitar a entrada dos cada vez mais escassos dólares na ilha. Autorizados há uma década, os negócios privados também podem, agora, realizar compras de produtos importados por atacado, a um valor 20% menor do que o praticado até então: apenas quatro dias após a autorização passar a valer, 213 empresas já haviam se inscrito para participar. Também está prevista a autorização de importações e exportações por demanda direta, com intermédio de agências estatais: antes, todas as empresas precisavam comprar daquilo que o governo importava por conta própria ou, então, recorrer ao mercado paralelo, sob o risco de pesadas punições. O governo diz que estuda flexibilizar ainda mais os tipos de setores autorizados a operar de forma privada no país. Via AP.
Una palabra:
Quilombo – tão conhecida dos brasileiros, vem de kilombo, palavra em quimbundo (língua africana originária da região onde hoje está Angola) que significa uma comunidade de guerreiros. Mas, na região platina, o sentido mais utilizado por aqui (um local para onde africanos escravizados fugiam e se organizavam para resistir) se perdeu: no fim do século 19, o lunfardo, a série de gírias e corruptelas criadas pelos imigrantes europeus em Buenos Aires, passou a empregar a mesma palavra para se referir aos prostíbulos da cidade. Com o tempo, conforme o termo caía na boca do povo, um outro sentido se tornou ainda mais usual nos vizinhos do Cone Sul: o de bagunça. Em países como Argentina, Uruguai e Paraguai, armar quilombo tem um sentido muito menos nobre do que teria no Brasil, e equivale a iniciar uma confusão.
EL SALVADOR 🇸🇻
Os arroubos autoritários do presidente Nayib Bukele continuam a gerar puxões de orelha internacionais. Na quinta (6), a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) condenou as ameaças contra diferentes jornais salvadorenhos feitas pelo próprio Bukele, agentes estatais e contas falsas pró-governo em redes sociais. Os jornais La Prensa Gráfica e El Diario de Hoy, além dos portais El Faro e Revista Factum, denunciam ter sido alvos de ciberataques, ameaças, vigilância e calúnia. Segundo a Associação de Jornalistas de El Salvador, profissionais da imprensa foram alvo de pelo menos 61 casos de agressão por parte do Poder Executivo, de funcionários do Estado e de agentes de segurança desde que Bukele assumiu, há exatamente um ano. Além dos cada vez mais comuns ataques à imprensa, o presidente já colocou tropas no Congresso (dominado pela oposição) para coagir os votantes, tudo sob o olhar complacente da OEA, embora até os EUA tenham começado a ver exageros na ação de seu aliado centro-americano. No site da SIP.
EQUADOR 🇪🇨
Não é só a Argentina. O governo em Quito também celebrou um acordo com seus credores e poderá reestruturar uma dívida de US$ 17,4 bilhões, agora se apoiando em novos termos (como aumento dos prazos de vencimento, por exemplo) que devem aliviar os gastos em meio à pandemia. O feito foi celebrado pelo presidente Lenín Moreno, que, também como seus homólogos argentinos, viveu uma dor de cabeça por conta de assuntos financeiros em âmbito internacional nos últimos tempos. Em 2019, vale lembrar, o Equador foi parte de uma sequência de terremotos sociopolíticos na América Latina, justamente quando resolveu cortar os subsídios aos combustíveis, como parte de uma medida de ajuste exigida pelo FMI para um empréstimo de US$ 4 bilhões. Um ano depois, por conta da crise de saúde, o governo novamente recorreu ao fundo para novo auxílio de US$ 643 milhões – que, dessa vez, não fez o país parar, mas também deverá ser pago logo adiante. No Infobae.
GUATEMALA 🇬🇹
Morreu por covid-19, em um hospital da capital, Roberto Barreda, que cumpria prisão preventiva acusado de estar envolvido no desaparecimento da ex-esposa Cristina Siekavizza, um dos crimes mais famosos na região centro-americana. Barreda, que é filho da influente ex-ministra da Suprema Corte, Ofelia de León, é apontado como principal suspeito de ter assassinado Siekavizza, vista pela última vez em 2011. Ainda que o próprio acusado tenha denunciado o desaparecimento e inclusive participado de marchas que buscavam descobrir o paradeiro da mulher, ele saiu do país para o México, de forma misteriosa, levando os dois filhos. Em ação coordenada, as justiças dos dois países prenderam Barreda em 2013. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Haitianos alojados em campos precários no Panamá deverão ser enviados de volta, segundo o governo do país. Cerca de 80% dos mais de 2 mil migrantes situados na província de Darién são haitianos, o que pode levar o poder panamenho a fretar voos. O ministro da Segurança Pública, Juan Pino, detalhou o que vem sendo negociado com os migrantes, mas reforçou que as restrições na fronteiras têm dificultado quaisquer ações. A onda migratória ainda é, entre outras coisas, reflexo do terremoto no Haiti, ocorrido em 2010. Via AP.
HONDURAS 🇭🇳
Uma rara boa notícia em meio ao agravamento da pandemia na região: nesta semana, o número de hospitalizações por covid-19 era 36% menor em relação ao pico de meados de julho, quando havia mais de 1,5 mil pacientes internados. O número de novos casos e óbitos também vem baixando consistentemente nas últimas semanas: no comparativo quinzenal, Honduras registrou o maior declínio em óbitos na região. O governo, porém, pede que a população não fique excessivamente confiante com os dados alvissareiros, e que siga respeitando as medidas de distanciamento. Em El Heraldo.
Un clic:
MÉXICO 🇲🇽
Já são seis jornalistas mortos, só em 2020. O diretor do site PM Noticias Guerrero, Pablo Morrugares, foi morto a tiros por um bando desconhecido, na cidade de Iguala. Além de Morrugares, o grupo armado também matou um policial que fazia sua escolta particular. Conhecido por reportar o alto índice de violência associado aos cartéis, o jornalista já vinha sendo alvo de ameaças nos últimos anos, fato que levou a Associação Interamericana de Imprensa a solicitar proteção pessoal (em 2016, o diretor e sua esposa sobreviveram a um ataque a tiros). Dessa vez, os 55 tiros dados pelos pistoleiros não deixaram sobreviventes. Uma prova de que o país vive sua própria epidemia de violência aconteceu durante a redação deste GIRO: enquanto reportávamos o caso em Iguala, o quinto até então, outro jornalista foi morto. Luis Eduardo Ochoa, 28, repórter e professor universitário, foi atingido na cabeça na cidade de Uruapan, estado de Michoacán. O México lidera o ranking de jornalistas mortos na América Latina: são mais de 140 nos últimos 20 anos. No Vanguardia.
O estado de Oaxaca, no sul do país, proibiu a venda de junk food para crianças. Agora, estabelecimentos comerciais que venderem refrigerantes, doces ou salgadinhos altamente calóricos para menores de 18 anos poderão ser multados. É a primeira medida do tipo no México. Entidades empresariais criticaram a decisão por considerar que poderá afetar ainda mais os pequenos comerciantes que já vêm sofrendo com a crise do coronavírus. O México é o país com maior prevalência de obesidade e sobrepeso em crianças no mundo, situação que vem provocando repetidos alertas de organismos nacionais e internacionais dedicados à infância, como a Unicef. Mais cedo neste ano, o país aprovou legislação para colocar rótulos de aviso em produtos com teor elevado de gorduras, sódio e açúcares. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
Um incêndio na Catedral Metropolitana de Manágua, um dos principais monumentos religiosos do país, tem gerado polêmica: segundo a polícia, trata-se de um episódio acidental, que poderia ter sido causado por uma vela esquecida dentro de uma capela, versão que foi endossada pela vice-presidente Rosario Murillo. Mas não é o que defendem os sacerdotes do país. O cardeal Leopoldo José Brenes, arcebispo da capital, chamou o caso de “ato terrorista” e foi apoiado pelo papa Francisco. Testemunhas dizem que um homem encapuzado teria provocado o incêndio ao atirar um coquetel molotov na igreja, o que reforça a hipótese de um ataque por motivações políticas. Nos últimos anos, com o endurecimento do regime de Daniel Ortega, grupos católicos têm feito resistência, inclusive denunciando os abusos aos direitos humanos cometidos pelo governo. E aí mora um contrassenso: se nos anos áureos do sandinismo havia perseguição da direita aos adeptos da teologia da libertação – doutrina popular acusada de ser um ensino comunista nas igrejas – agora o próprio Ortega acusa sacerdotes de “golpismo”. Para entender mais, é necessário conhecer a história de Ernesto Cardenal, que morreu no começo de 2020. Antes um sandinista ferrenho, passou a denunciar a transfiguração do presidente e quase personificou o atual contexto de ruptura. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
75 dólares mensais. Este era o valor que vítimas de pedofilia que acabassem engravidando receberiam do governo por três anos, segundo uma medida que se tornou alvo de críticas nesta semana. Parte do programa Mi Resguardo, que quer coibir a violência sexual contra menores, a indenização foi considerada irrisória e um “incentivo” aos criminosos, já que a maioria das vítimas de pedofilia são brutalizadas pelos próprios familiares, que acabariam pondo as mãos no dinheiro. A deputada que propôs a lei defende os avanços que o novo texto traria no combate às violações, mas admitiu que vai retirar o artigo que prevê compensações econômicas. No primeiro semestre de 2020, o Panamá registrou 1.727 casos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, sendo 91% meninas. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
A reportagem entra na vida do traficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano, conhecido como Minotauro, que dominou a região de fronteira que é conhecida por ser um polo do narco na América do Sul. Além de ordenar execuções e comandar uma ampla rede de controle nas cidades de Ponta Porã e na vizinha paraguaia Pedro Juan Caballero, o excêntrico membro do PCC ficou famoso por presentear autoridades paraguaias com canetas Mont Blanc. Na Piauí.
Depois de flexibilizar a quarentena em Ciudad del Este, como destacamos no GIRO #41, o governo segue cedendo às pressões da cidade fronteiriça, que há tempos cobra uma retomada do trânsito internacional. Nesta semana, autoridades brasileiras e paraguaias começaram a negociar uma “reabertura inteligente” da Ponte da Amizade, que liga o município oriental a Foz do Iguaçu. Estima-se que, antes do fechamento há quatro meses, 25 mil pessoas cruzassem a divisa diariamente para trabalhar do lado oposto do rio. O governo central do Paraguai vinha resistindo à reabertura por temer o descontrole da pandemia no Brasil, mas o comércio vem virando o jogo. Uma resolução é aguardada para os próximos dias. Na Folha.
O Ministério Público paraguaio definiu, na sexta (7), que não apresentará novas denúncias contra Ronaldinho Gaúcho e seu irmão e empresário, Roberto Assis, abrindo caminho para que os dois sejam liberados. Presos preventivamente desde 6/3 sob a acusação de entrarem com documentos adulterados, os irmãos agora aguardam a Justiça acatar o pedido do MP, que recomendou uma multa de US$ 200 mil para encerrar o caso contra a dupla. No G1.
PERU 🇵🇪
O presidente Martín Vizcarra nomeou o general aposentado e ex-ministro da Defesa, Walter Martos, como chefe de gabinete de seu governo, em nova manobra para equilibrar os pratos no Congresso. Martos entra no lugar de Pedro Cateriano, que renunciou após 20 dias à frente do cargo depois de ter um voto de confiança negado pelo Parlamento. Ainda que Vizcarra tenha anunciado que não vai concorrer à presidência em 2021, ele tem trocado o pneu com o carro andando para não perder apoio durante a pandemia, o que seria desastroso: o país é o primeiro do ranking de mortes por milhão na América Latina (626) e só está atrás de Brasil e México em mortes absolutas. É a quinta alteração na chefia do Conselho de Ministros feita por Vizcarra desde 2018, quando ele assumiu após a renúncia de PPK. Martos é o primeiro militar no cargo desde 2011. Em La República.
Papelão no retorno do futebol peruano, que deveria ocorrer neste fim de semana: mesmo sem torcida nos estádios, aficionados das equipes locais se aglomeraram nas ruas com bandeiraços e sinalizadores para celebrar a volta do esporte após cinco meses e os 96 anos do Universitario de Deportes, um dos clubes mais populares do país, que reabria as disputas na própria sexta (7) em que aniversariava. E, imediatamente, tudo foi suspenso de novo: após o esquecível 0x0 entre o Universitario e a Academia Cantolao, o restante da rodada acabou adiado indefinidamente pelo desrespeito às normas sanitárias. Segundo o recém-empossado primeiro-ministro Walter Martos (ver notícia acima), “se os torcedores não entendem que estamos em quarentena e há que se respeitar as normas, se suspende totalmente o campeonato”. Em El Comercio.
Un nombre:
Orinoco – o principal rio da Venezuela deve seu nome à língua dos nativos warao. Significa, literalmente, um “lugar onde se rema”, juntando as palavras güiri (remar) e noko (lugar). É o quarto rio do mundo em vazão d’água (o Amazonas está em primeiro lugar) e foi um dos primeiros lugares do continente visitados por europeus, na terceira viagem de Colombo, em 1498.
PORTO RICO 🇵🇷
A Justiça dos EUA decidiu que é inconstitucional negar aos porto-riquenhos que vivem em território estadunidense o acesso a três programas federais de auxílio, dentro da chamada Renda de Segurança Suplementar, que concede um valor extra a idosos e pessoas com deficiência. Segundo o juiz William G. Young, o governo federal tem atitudes “discriminatórias” e lembrou que, de 2000 a 2005, os residentes de Porto Rico pagaram mais em impostos federais do que seis estados e todos os outros territórios livres associados (categoria da qual Porto Rico faz parte). Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Habitualmente ausente do noticiário mundial, a República Dominicana apareceu nas manchetes como o possível destino do “rei emérito” da Espanha, Juan Carlos I, que correu do próprio país para não precisar lidar com as denúncias de corrupção que atormentam a monarquia. Segundo boatos do início da semana, o homem que reinou sobre a antiga potência colonialista entre 1975 e 2014 (até abdicar em favor do filho) teria se refugiado em um resort dominicano. A informação foi desmentida pela chancelaria da nação caribenha. Na sexta (7), a imprensa espanhola deu um novo chute, sugerindo que o ex-rei fujão estaria em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
Um resgate cinematográfico com agente disfarçado incluído terminou com a execução de um sequestrador na sexta (7), em Cotuí, 100 km ao norte de Santo Domingo. Procurado pela morte de outro homem, José Antonio Reyes manteve uma mulher e o filho dela de um ano como reféns enquanto negociava a rendição. Negando o homicídio e dizendo “só confiar no Deus todo-poderoso”, ele exigiu a presença de um sacerdote para se entregar às autoridades. Um coronel da polícia nacional se disfarçou de padre (oficialmente, para não expor o pároco local a qualquer risco) e, enquanto conversava com Reyes, outro agente disparou contra o sequestrador. O caso mobilizou o país pois foi transmitido ao vivo por uma jornalista no Facebook. Em El Día.
URUGUAI 🇺🇾
O país obteve uma vitória importante na Corte Permanente de Arbitragem, em Haia, na Holanda, contra a mineradora Aratirí, em um processo longo que começou em 2017. A empresa exigia ser reparada pelo Estado em mais de US$ 3,3 milhões, acusando o governo de mudar repentinamente as normas da extração do ferro, por meio de uma lei aprovada em 2013. Segundo a companhia, o governo uruguaio tomou uma decisão “unilateral” e não levou em conta todo o investimento que havia sido feito até a nova lei. O episódio acabou na Justiça internacional, sob os mandamentos da ONU para o comércio global. A corte disse, porém, que não tinha a competência para deliberar sobre o caso por uma “questão de jurisdição”. Com o resultado, a Ararití deverá arcar com os custos do processo, que somam quase US$ 4 milhões. EmEl País.
Pioneiro na legalização da maconha, o Uruguai ainda não consegue explorar todo o potencial econômico da erva: faltam produtores suficientes até mesmo para suprir a demanda interna para uso recreativo (cerca de 41,5 mil consumidores registrados), algo que o governo tenta driblar autorizando novos empreendimentos, e Montevidéu agora busca investidores capazes de expandir as plantações para produzir canabidiol medicinal para exportação. O governo também estuda maneiras seguras de autorizar o consumo por parte de estrangeiros, o que poderia impulsionar o turismo e minar o tráfico. Especialistas sugerem que um mercado de até US$ 1 bilhão está por se abrir para a nação platina na próxima década, equivalente a quase 2% do PIB. Via Bloomberg.
VENEZUELA 🇻🇪
Após ser desdenhado por Trump, que disse que sua “carinha de menino” não fazia frente a Nicolás Maduro, o líder opositor Juan Guiadó voltou a se escorar em um suposto apoio do governo em Washington. Mantendo seu discurso de legitimidade autodeclarada, o deputado acredita que o empurrão dos EUA após meses de afastamento pode ser importante. Segundo o representante da Casa Branca para a Venezuela, Elliott Abrams, o nome que os representa “agora e depois [das eleições legislativas] de 2021” é Guaidó. A tão esperada votação que vai renovar a Assembleia Nacional, porém, segue incerta. Nas últimas semanas, a coalizão oposicionista, composta por pelo menos 27 partidos, anunciou um boicote ao pleito do início do próximo ano, denunciando que haverá fraude. Desistência parecida aconteceu em 2018, quando Maduro foi reeleito para mais seis anos de mandato sob fortes acusações de fraude e coação, além de intenso rechaço internacional. Bem ao estilo Venezuela, o caso é só mais um na seção de incertezas.
“Quem é, então? Juan Guaidó?”. Bastante irritado, o presidente Nicolás Maduro chamou de “imbecis” os que duvidaram que seu braço-direito, Diosdado Cabello, aparecia falando em uma gravação, transmitida ao vivo pela televisão. Diagnosticado com covid-19, o líder do governista PSUV não conseguiu ligar as câmeras da chamada o que, somado a sua voz um pouco diferente, foi suficiente para que surgissem teorias de que outra pessoa estaria por trás do microfone – ou, até, que Cabello estivesse morto. Apesar das hipóteses levantadas, o chavista foi ao Twitter e disse que está curado. Na CNN.
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