Crise bota Haiti na mira de nova ocupação internacional
Paraguai: ex-presidente Cartes é acusado de contrabando e lavagem de dinheiro | Venezuela: oposição busca alternativa a Guaidó | Peru: acossado, Castillo recorre à OEA
“Pesadelo absoluto”. Foi assim que o secretário-geral da ONU, António Guterres, definiu na segunda-feira (17) o atual momento vivido pelo Haiti. Principalmente após o assassinato do presidente Jovenel Moïse no ano passado (relembre o caso), o país enfrenta um quadro de calamidade geral que junta vazio de liderança, crises climáticas, desabastecimento e um aumento vertiginoso na violência urbana. Várias áreas do país são controladas por grupos armados, que assumem o poder diante da fragilidade do Estado – com destaque para a região metropolitana da capital Porto Príncipe. Como se não bastasse, um novo surto de cólera já deixou 20 pessoas mortas nas últimas semanas – na década passada, a mesma doença fez 10 mil vítimas no país.
A fala de Guterres é um resumo de todo esse caldo: desde o fim do ano passado, grupos armados têm controlado o acesso ao porto de Varreux, na capital, responsável pelo fluxo de 70% do combustível do país (commodity da qual o setor de energia elétrica depende amplamente). O bloqueio vem gerando desabastecimento e inviabilizando até mesmo a chegada de mantimentos vindos de fora do país. “Como não há combustível, não há água. E há um surto de cólera, cujo tratamento requer uma boa hidratação (...) precisamos de uma ação armada para liberar o porto e permitir que se estabeleça um corredor humanitário”, disse o secretário-geral da ONU às vésperas de nova reunião do Conselho de Segurança.
A comunidade internacional já trabalha com a ideia de devolver a nação caribenha aos anos de intervenção militar – ação que, segundo Guterres, deve seguir “critérios humanitários rígidos”. Mas há divergências: no início da semana, na presença do ministro de Relações Exteriores do Haiti, Jean Victor Geneus, membros do Conselho apresentaram ressalvas ao plano. Foi o caso da China, que por meio de seu representante permanente adjunto na ONU, Geng Shuang, recomendou “cautela”: “o envio de uma força de ação rápida será apoiada pela população ou provocará um confronto violento?”, questionou Pequim.
Para além de uma resolução que autorizaria o envio de força militar ao país, nações discutiram, em paralelo, outra decisão menos enfática: a imposição de sanções (financeiras e de tráfego) contra Jimmy “Barbecue” Cherizier, apontado como principal líder da coalizão de gangues ‘G9’, grupo que, entre outras coisas, tem encabeçado as ações no porto de Varreux. “Barbecue”, por sua vez, se considera um líder revolucionário que luta contra a elite política haitiana e a burguesia. Essa segunda medida direcionada a ele e aos grupos armados, apoiada pela China e criticada pela Rússia, acabou por fim sendo aprovada pelo comitê na sexta (21). Na prática, porém, é difícil dimensionar o impacto concreto desse embargo. Dentro do Conselho, México e os EUA seguem liderando a campanha a favor da militarização, fato que pode estar ligado ao aumento da imigração de haitianos do Caribe para a América do Norte.
A decisão de iniciar uma operação armada no Haiti é bastante controversa. Não muito tempo atrás, entre 2004 e 2017, o Haiti foi submetido à intervenção da chamada Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, coordenada pelo Brasil (vários líderes militares da época depois integrariam o governo de Jair Bolsonaro) e criada em condições tragicamente similares ao que se vê hoje: restaurar a ordem social do país, pacificar e desarmar grupos armados, levar ajuda humanitária, restaurar a ordem econômica e, não menos importante, garantir a realização de eleições democráticas – à época, em vez de um assassinato, o estopim nacional veio após a deposição do então presidente Jean-Bertrand Aristide (2001-2004). Em um país de pouquíssimos consensos, Aristide ainda conserva certo apoio popular.
Durante os anos de Minustah, destacam-se o massacre cometido pelas tropas da missão de paz em Cité Soleil, com a morte de pelo menos 60 civis, os casos de abuso sexual cometidos pelas tropas das Nações Unidas, e o início do próprio surto de cólera, levado a terras haitianas por soldados nepaleses, fato que acabou reconhecido pela própria ONU anos mais tarde. Com o passar dos anos e sem ver tudo ser resolvido como prometido, haitianos começaram pouco a pouco a se manifestar contra a presença de agentes estrangeiros. Passada uma década, políticos locais pediram ajuda para encerrar a operação, que por muitos já era classificada como uma “ocupação”. Os pedidos foram ignorados pelo Conselho de Segurança da ONU. Cada vez mais esvaziada de sentido e apontada como vetor de abusos, corrupção e de mais instabilidade, a missão foi finalmente encerrada em 2017.
As ressalvas apresentadas por países como China e Rússia, embora por motivos geopolíticos e econômicos, assemelham-se às mesmas críticas apresentadas por defensores dos direitos humanos, diplomatas e lideranças políticas. Enquanto isso, o Haiti segue no escuro diante da falta de soluções viáveis para o fim de uma crise eterna
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DESTAQUES
🇵🇾 Ex-presidente Cartes é acusado de contrabando e lavagem de dinheiro – Todo-poderoso na política paraguaia, mesmo após deixar a Presidência, o ex-mandatário Horacio Cartes (2013-2018) seria “o chefe de uma rede de contrabando” de cigarros para o Brasil, e de subsequente lavagem de dinheiro. Ao menos, é o que acusa uma ‘CPI’ composta por deputados e senadores paraguaios, em um informe divulgado na terça-feira (18). Curiosamente, e de forma quase simultânea, a defesa de Cartes se apressou em ir à imprensa para anunciar que o antigo presidente havia tido seus processos anulados pela Justiça brasileira pelo envolvimento com o doleiro Darío Messer – um desenvolvimento que jornais do Paraguai e veículos de outros países deram como notícia nova, mas que na verdade se referia a uma decisão antiga do Superior Tribunal de Justiça (STJ), considerando que o velho líder paraguaio não poderia ser julgado por esses crimes fora de seu país, entre outras justificativas. A cacofonia serviu para tirar o peso das novas acusações efetivamente feitas nesta semana, que jornais próximos de Cartes acusam ser uma “perseguição política” de setores contrários a ele. O ex-mandatário também segue na mira da Justiça local no contexto da operação ‘A Ultranza PY’ (considerada a maior da história do país) e neste ano já foi incluído pelos EUA em uma lista de corruptos. No ABC Color.
🇻🇪 Oposição busca alternativa a Guaidó – Os partidos da oposição venezuelana vêm discutindo de forma cada vez mais forte uma maneira de afastar Juan Guaidó da liderança da coalizão, o que também encerraria definitivamente seu argumento de ser o “líder legítimo” do país, revelaram fontes com conhecimento do tema ao Financial Times. Guaidó, que desde o início de 2019 vem defendendo ser o “presidente encarregado” da Venezuela, até goza de reconhecimento internacional (que vem diminuindo), mas nunca exerceu o poder na prática, e líderes da Plataforma Unitária – a coligação antichavista – vêm debatendo maneiras de fazer uma oposição mais efetiva contra Nicolás Maduro. Mesmo esvaziado, Guaidó ainda encontra eco em pontos mais ligados à extrema direita na região, como o Brasil, que fez uso de representantes de seu “governo” para tentar livrar o presidente Jair Bolsonaro da mais recente polêmica envolvendo suas declarações – interpretadas como simpáticas à pedofilia – sobre imigrantes venezuelanas menores de idade.
🇨🇴 Protesto indígena culmina com agressão a policiais – Em Bogotá, um protesto do povo embera terminou em confronto com a polícia, na quarta-feira (19). Ao menos 27 pessoas ficaram feridas – 14 policiais, oito funcionários da prefeitura e cinco civis. Nas redes sociais, circularam vídeos das agressões por parte de alguns manifestantes, que agarraram os fardados a pauladas. As lideranças indígenas organizaram a manifestação para exigir o cumprimento de um acordo de 10 pontos assinado em maio com as autoridades municipais, quando 1,5 mil pessoas foram retiradas do Parque Nacional e realocadas em um albergue. Os embera denunciam a falta de água potável, a superlotação do espaço, a propagação de doenças devido às más condições do abrigo e até mesmo a morte de 21 pessoas no último ano, a maioria crianças. Além disso, reclamam a falta de participação na formulação das políticas públicas indígenas, ponto que tinha sido acertado nas negociações de maio. A prefeita de Bogotá, Claudia López, disse que o governo municipal foi “solidário como ninguém com os emberas” e destinou 9 bilhões de pesos colombianos (R$ 9,5 mihões) em assistência humanitária. Em Cambio.
🇵🇪 Acossado, Castillo recorre à OEA – Após o presidente Pedro Castillo invocar a ação da Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando uma suposta tentativa de golpe contra ele (leia mais na última edição), a entidade confirmou na quinta-feira (20) que aplicará a chamada Carta Democrática Interamericana e enviará uma missão especial para fiscalizar a situação do país. Na prática, isso significa que a entidade pode suspender e aplicar sanções ao país caso entenda que a ordem constitucional do Estado filiado está sendo violada. Castillo celebrou a decisão da OEA, enquanto o presidente do Congresso, José Williams, argumentou que a invocação da Carta não seria justificável para o contexto peruano, e que a decisão do órgão supranacional “não vai afetar os processos do Congresso, do Ministério Público ou do Poder Judicial”. Via AFP.
🇲🇽 Intoxicações misteriosas intrigam México – Um caso desesperador e que segue intrigando autoridades: desde 23/9, pelo menos 116 alunos secundaristas de uma escola na remota cidade de Bochil, estado de Chiapas, apresentaram um quadro de intoxicação, amontoando familiares em postos de saúde e na porta de delegacias em busca de mais informações sobre a contaminação que ainda não tem explicação. A crise já afeta o cenário educacional local: parentes dos alunos dizem que não vão permitir a volta de seus filhos ao ambiente escolar enquanto o caso não for esclarecido; enquanto isso, sem conseguir apontar para uma direção, órgãos públicos locais já recorrem ao poder federal. O problema entrou ainda mais nos holofotes nacionais na segunda (17), após um caso similar ocorrer em uma outra escola, desta vez em Álamo Temapache, no estado de Veracruz – pelo menos 36 alunos da mesma faixa etária apresentaram sintomas similares de intoxicação, com relatos de quadros convulsivos. Em Chiapas, um estudante chegou a ficar em estado de coma durante alguns dias. Nos dois casos, ainda que se especule que a contaminação possa ter sido causada pela água (supostamente contaminada) consumida nas escolas, não se descarta a hipótese de circulação de drogas (às vezes adulteradas) entre adolescentes. Parentes dos alunos também reclamam da demora na divulgação das provas laboratoriais. Em El País e La Jornada.
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MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
Pouco após o Estado argentino reconhecer, na sexta-feira passada (14), sua responsabilidade na violação dos direitos das vítimas do atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1994, veio uma nova tentativa de reparação: na segunda (18), a Justiça do país platino pediu que o Catar prenda um alto oficial iraniano por sua suposta participação no ataque. O implicado da vez é o atual vice-presidente para Assuntos Econômicos do Irã, Mohsen Rezaee Mirghaed, embora haja poucas esperanças de que o pedido vá prosperar, já que a Argentina não conta com um tratado de extradição com o Catar. O atentado à AMIA deixou 85 vítimas, e o recente reconhecimento por parte do Estado argentino leva em conta a omissão dos governos da época em proteger o local, bem como em fornecer informações que permitissem aos familiares ter acesso à verdade e justiça sobre o episódio. Via Reuters.
“Conheço Alberto há 35 anos. Alberto Fernández recebeu propina um montão de vezes. Conheço muito bem ele”. A frase, que parece saída de alguma delação ou CPI contra o presidente da Argentina, foi dita por… um participante do Gran Hermano, a versão local do reality show Big Brother. Walter Santiago, um participante de 60 anos conhecido pelo apelido de “Alfa”, causou furor no programa iniciado na segunda-feira (17) com acusações – sem provas – contra o mandatário máximo do país, alegando que, por ser o hermano mais velho da casa, já teria “visto de tudo”. Indignado, o presidente prometeu recorrer à Justiça se as falas de Santiago prosseguirem. Não parou por aí: “Alfa” também foi criticado por seus comentários sobre a última ditadura do país, argumentando que “houve militares que foram um lixo e militares que foram boa gente”. Em La Voz.
BOLÍVIA 🇧🇴
O governo golpista ruiu, mas segue rendendo notícia: o fato mais importante se desenrolou na quinta (20), quando o ex-ministro de Governo Arturo Murillo se declarou culpado – à Justiça estadunidense – pelos crimes de suborno e conspiração para lavagem de dinheiro, ilegalidades cometidas dentro do território dos EUA. Segundo um documento do Departamento de Justiça estadunidense, Murillo, detido na Flórida em 2021, teria recebido dinheiro em troca de ajudar de forma irregular uma empresa dos EUA a arrematar um contrato no valor de US$ 5,6 milhões junto ao governo interino de Jeanine Áñez (2019-2020). Segundo o procurador-geral da Bolívia, Wilfredo Chávez, a sentença deve vir a público dentro de um mês e pode chegar a uma pena de 10 anos de prisão. A mesma autoridade confirmou que um acordo de 2005 entre os dois países também deve facilitar a extradição do ex-ministro para o país do altiplano. Em El Deber.
E mais ecos do golpe: com a mãe já condenada a 10 anos de prisão em um dos processos envolvendo o golpe de Estado de 2019, a filha da ex-presidenta interina Jeanine Áñez, Carolina Ribera, está em uma espécie de “tour pela inocência” da antiga mandatária – que incluiu o Brasil. Durante o mês de outubro, Ribera passou primeiro pelo Peru e depois em solo brasileiro, para conversar com figuras políticas à direita em busca de apoio à narrativa de que Áñez estaria sendo vítima de uma perseguição. Se nos vizinhos andinos o encontro principal foi com a ex-presidenciável Keiko Fujimori, em Brasília a fotografia foi ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, com direito a um abraço choroso na quarta-feira (19). Em La Razón.
CHILE 🇨🇱
Há três anos nesta terça-feira (18), o que começou como mais uma onda de protestos estudantis no Chile passou a ganhar novos contornos, recebendo até um nome próprio: era o estallido social de 2019, que este GIRO acompanhou já em sua segunda edição, e o estopim para uma série de movimentações e transformações políticas na nação transandina – incluindo a promessa de uma nova Constituição, por enquanto frustrada, e a eleição à Presidência de um representante da “nova esquerda” surgida daquelas mobilizações, com a vitória de Gabriel Boric. Os sentidos da rejeição à Carta Magna – que não encerrou o processo constituinte – e o que vem por aí, na matéria do Extra Classe, assinada por editor deste GIRO.
Una palabra:
Biembienes – Parte do imaginário das lendas da República Dominicana, os Biembienes são seres de pequena estatura que habitam o alto das montanhas. Diz-se que existem criaturas da selva que vivem na Serra de Barhoruco, lugar onde se refugiaram pessoas que escaparam da escravidão na época da invasão espanhola. Algumas versões afirmam que estes seres são criaturas selvagens, vivendo em grupos e escondidos nas montanhas.
COLÔMBIA 🇨🇴
Três Ferraris apreendidas ao narcotráfico serão postas em um leilão virtual que beneficiará camponeses sem terra. Os carros eram de Juan José Valencia, conhecido como “Falcon”, ligado ao poderoso cartel Clã do Golfo. Segundo as autoridades, Valencia chegava a lucrar US$ 160 mil por mês com o tráfico, e usou o dinheiro para comprar cerca de 30 carros de luxo de diferentes marcas. Capturado em 2021, teve seus bens apreendidos, que agora vão servir para arrecadação de fundos para distribuição de terrenos para camponeses, e para financiar “projetos rurais” do governo de Gustavo Petro. No G1.
COSTA RICA 🇨🇷
O presidente Rodrigo Chaves garantiu, na quarta-feira (19), que o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu aval para que algumas instituições do país fiquem isentas de se submeter ao ajuste fiscal que vem sendo exigido como parte do acordo mais recente feito pela Costa Rica – um dos pontos que mais gerou protestos contra o governo anterior, de Carlos Alvarado (2018-2022), por temores de uma queda nos investimentos públicos essenciais. Segundo Chaves, o FMI estaria disposto a excluir da nova regra fiscal o Serviço 911, que atende a emergências, além da instituição de fomento à produção e da promotora de comércio exterior do país. Em La República.
CUBA 🇨🇺
Segue a crise energética na ilha: após meses de apagões, pequenos protestos e soluções paliativas, o governo em Havana removeu do cargo na segunda (17) o ministro da Energia Liván Arronte Cruz, a quem “serão atribuídas novas responsabilidades”. Também caiu o diretor da estatal de energia União Elétrica de Cuba (UNE), que tem sido alvo de críticas pelos longos e constantes cortes de energia. Ainda sem resolver o problema, autoridades atribuem o cenário crítico a uma união de fatores, incluindo sanções econômicas, desabastecimento – a matriz energética cubana depende largamente de combustíveis fósseis – danos estruturais recentes e também aos impactos na rede elétrica causados pela temporada de furacões – este um episódio que levou os EUA a oferecerem ajuda humanitária ao governo cubano; Cuba até agradeceu, mas sem deixar de pedir o fim das sanções que, só durante o tempo de Joe Biden no poder, teriam causado perdas diárias de US$ 15 milhões à ilha. Via EFE.
EL SALVADOR 🇸🇻
Reparação: a Justiça salvadorenha ordenou, no último sábado (15), a prisão de pelo menos três militares aposentados por suposta participação no assassinato de quatro jornalistas holandeses em março de 1982, no auge da violenta Guerra Civil (1979-1992) do país. Entre os detidos está o general Guillermo García, então ministro da Defesa e um dos homens fortes do Exército nacional na época – as Forças Armadas são apontadas como mandantes de uma série de massacres e execuções extrajudiciais. Não foi diferente no caso dos jornalistas: representando o canal de TV IKON, o grupo de profissionais havia sido interrogado por agentes da polícia dias antes de virar alvo de uma emboscada na cidade de Santa Rita, departamento de Chalatenango. Ao final do conflito armado, em 1993, uma Comissão da Verdade criada pela ONU concluiu que houve “plena evidência” de participação militar na chacina. O imbróglio seguiu com uma lei de anistia, mais tarde revogada em 2016, o que tem aberto caminhos para a busca por justiça. Em El Faro.
EQUADOR 🇪🇨
A alta nos índices de insegurança no país chegou à política: na terça (18), a casa e o carro do ex-jogador de futebol Frickson Erazo, que tem passagens por clubes brasileiros e hoje é candidato à prefeitura da cidade de Esmeraldas, foram atacados por razões desconhecidas. A residência foi alvo de tiros a esmo, enquanto a caminhonete usada pelo candidato nas eleições marcadas para fevereiro de 2023 foi incendiada – apesar de não ferir ninguém, o crime foi classificado como violência política. O caso adicionou mais um elemento em um quadro nacional que passou a ser prioridade para o governo de Guillermo Lasso: desde sua posse, em maio de 2021, o mandatário precisou empilhar decretos de exceção por massacres em prisões e até atentados em Guayaquil, considerada o epicentro da onda de violência. Um município ao sul da cidade também teve relatos de uma explosão na casa de um ex-policial nos últimos dias. Acuado, o Legislativo cobrou a formação de uma mesa de diálogo entre os Poderes para a criação de um marco legal contra a criminalidade. Via Prensa Latina.
Dale un vistazo:
📽️ Artigas: La Redota – Quem foi José Gervasio Artigas (1764-1850), o general independentista que virou um herói no Uruguai? A lenda por trás do homem real, resgatada e distorcida pela ditadura militar uruguaia, passa também pela construção da imagem física ao longo da história. Há poucos vestígios sobre o rosto verdadeiro do prócer paisano, cujos traços mais famosos foram inventados pelo pintor Juan Manuel Blanes em 1884, a partir das anotações do espião espanhol Guzmán Larra. O filme de César Charlone recria a trajetória de Larra em busca de Artigas e explora a eterna dúvida dos uruguaios: se Artigas não tem rosto, pode ser qualquer um. O título está disponível gratuitamente em espanhol na Retina Latina.
📽️ Artigas: La Redota (Uruguai, 2011). Dir.: César Charlone. 115 min.
GUATEMALA 🇬🇹
Os dirigentes do esporte do país não cumpriram as exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Olímpico Guatemalteco (COG) foi oficialmente suspenso de suas atividades no último sábado (15). Na prática, isso significa que os atletas do país agora ficam em uma situação de incerteza sobre a possibilidade de participar de eventos internacionais e obter apoios – na melhor das hipóteses, poderão fazê-lo somente como atletas independentes, competindo sob a bandeira do COI, mas sem contar os resultados para a Guatemala. A ameaça de punição já havia provocado, em setembro, o cancelamento dos Jogos Centro-Americanos de 2022, que o país deveria co-sediar ao lado da Costa Rica a partir do próximo dia 27. Segundo o COI, a suspensão vale por tempo indeterminado, permanecendo até que se encontre uma “solução aceitável” para o impasse que começou após um imbróglio legal nas eleições internas do COG. No GE.
Ao menos oito indígenas, incluindo três crianças, morreram de intoxicação na aldeia maia de Ixlahuitz, região noroeste do país, após inalarem monóxido de carbono, segundo informaram autoridades na sexta (14) da semana passada. O caso só foi ganhar mais repercussão na semana seguinte. Apesar de acidental, o episódio ajuda a explicar o drama vivido por populações vulneráveis do país diante da combinação entre crise climática e problemas de infraestrutura: a casa das vítimas era abastecida por um gerador de energia a combustível, alternativa encontrada devido aos cortes de fornecimento elétrico na região causados pelo furacão Julia. Dados da proteção civil revelam que o fenômeno deixou pelo menos 15 mortos diretamente – em sua maioria, em casos de deslizamento de terra – além de milhares de guatemaltecos desabrigados. Via AFP.
HONDURAS 🇭🇳
A presidenta Xiomara Castro visitou o papa Francisco, na quinta-feira (20), em um encontro no qual enfatizaram “a importância de continuar com o compromisso para favorecer o bem comum e a reconciliação no país”, informou a Santa Sé. Castro, que esteve por cerca de 35 minutos com o líder da Igreja Católica, destacou a importância das instituições religiosas no ensino e na saúde do país. A visita também foi um aceno para indicar as diferenças na relação de seu governo, à esquerda no espectro político, com a situação vivida na vizinha Nicarágua, onde líderes católicos vêm sendo alvo de perseguição pelo Estado, uma onda de ataques que vem sendo fortemente criticada pelo Vaticano. Via EFE.
NICARÁGUA 🇳🇮
Parece notícia velha, mas segue acontecendo: alegando razões fiscais e burocráticas, o governo cassou a licença de funcionamento de mais uma centena de ONGs que operavam no país, 58 delas com vinculação estrangeira. Ao todo, desde que a nova lei que fechou o cerco à operação de entidades sem fins lucrativos entrou em cena no final de 2018, o número de ONGs fechadas já beira as 2,4 mil. Oficialmente, o governo de Daniel Ortega alega a necessidade da lei mais rígida para evitar atividades de sabotagem estrangeira contra o regime no país, enquanto a oposição afirma se tratar de mais um dos recursos que vêm sendo impostos para cercear os grupos contrários ao poder. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
Uma aeronave avaliada em US$ 12 milhões foi doada pelo governo americano, a fim de fortalecer a relação entre as duas nações. Após reunião para tratar sobre segurança e o combate ao tráfico de drogas, as delegações dos EUA e do Panamá discutiram questões como a migração irregular, a prevenção da lavagem de dinheiro e da pesca ilegal, bem como a luta contra o crime organizado. O aceno vem num momento em que o fluxo de migrantes passando pelo estreito de Darién, que liga a América do Sul a países centro-americanos por meio de um perigoso corredor de selva, só aumenta e gera preocupação ao governo em Washington. No ANPanamá.
Un nombre:
Dolores Cacuango – Também conhecida como “mamá Doloreyuki”, Dolores Cacuango (1881-1971) foi uma líder originária que lutou pelos direitos indígenas no Equador. Cacuango concentrou seu ativismo em favor da defesa das terras, da abolição da escravidão e lutou pela preservação do idioma quíchua. Fundou a Federação Equatoriana de Índios (FEI), que se tornou uma importante parte em aliança com o Partido Comunista do Equador. Foi a responsável também pela criação da primeira escola bilíngue (quíchua-espanhola), para inclusão de conhecimento aos filhos de indígenas e camponeses. Por defender abertamente os direitos das mulheres indígenas, foi perseguida e chegou a ser acusada de guerrilha por lutar contra a elite latifundiária do país.
PERU 🇵🇪
Três múmias pré-colombianas voltarão para o país andino, quase 100 anos depois de terem sido doadas pelo Peru ao Museu Etnológico do Vaticano. As peças, encontradas nos Andes peruanos perto do rio Ucayali, viajaram à Europa em 1925, para a chamada Exposição Missionária Universal. Segundo disse na segunda (17) o ministro das Relações Exteriores, César Rodrigo Landa, o retorno dos restos ancestrais acontece “graças à boa disposição do Vaticano e do papa Francisco” e deve ser finalizado “nas próximas semanas”. No G1.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O Ministério da Saúde confirmou, na quinta (20), o primeiro caso “importado” de cólera em solo dominicano, em uma mulher que passou pelo Haiti na última semana. Revivendo velhos fantasmas, as autoridades sanitárias haitianas vêm reportando os primeiros indícios de que o país voltou a viver um surto da doença, que entre 2010 e 2019 levou a cerca de 10 mil mortes na porção oeste da ilha de Hispaniola, até ser controlada. Em um contexto em que as relações bilaterais já estão tensas, o novo alerta de saúde faz ressurgirem temores por um incremento na xenofobia do lado dominicano da fronteira. O Ministério da Saúde emitiu uma série de recomendações para evitar contaminação, como cozinhar bem os alimentos, ferver a água antes do consumo, lavar as mãos com frequência, entre outros. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
O governo uruguaio lançou, na quinta (20), seu primeiro título de dívida “verde” – vinculado a indicadores de sustentabilidade ambiental. A um valor de US$ 1 bilhão e com vencimento para daqui a 12 anos (ou seja, outubro de 2034), o título poderia pagar em torno de 5,9% de juros ao ano, mas tem o crédito dependente do cumprimento de certas metas ambientais até 2027: caso o paisito não consiga reduzir a emissão de gases do efeito estufa dentro de certas métricas até esse prazo e, além disso, não consiga manter 100% de suas áreas de mata nativa relativas ao que havia em 2012, os juros têm um aumento de 15 pontos básicos (ou 0,15 pontos percentuais). Se as metas forem cumpridas à risca, a taxa acordada agora é mantida. E, por outro lado, caso o país vá além e melhore em relação à meta, a taxa paga pelo governo se reduz em 15 pontos básicos, o que implicaria em um incentivo para o Estado amplificar suas ações em prol do meio ambiente. O Uruguai é a segunda nação sul-americana a oferecer uma “aposta” desse tipo, seguindo o caminho já trilhado pelo Chile. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
Novos números, dimensão ainda maior do drama humanitário: segundos dados divulgados no mês passado pela ONU, já passa de 7 milhões o total de venezuelanos que, em função da crise socioeconômica, deixaram o país desde 2015. A entidade destaca que mais da metade dessas pessoas enfrenta desafios de acesso a alimentos, moradia e emprego estável. A América Latina segue sendo o principal destino dos fugidos da crise: mais de 80% ainda vivem no continente; os EUA e a Espanha também são destinos comuns. Em função do êxodo dos últimos sete anos, a população da Venezuela caiu de pouco mais de 30 milhões para cerca de 28,2 milhões, segundo os dados atualizados. Na BBC.
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