Chile votará nova Constituição
Pós-golpe na Bolívia ▪ México: tradição em asilos políticos ▪ Maconha medicinal no Panamá ▪ País a país, um resumo das notícias do continente, no Giro Latino #6
Um mês após o agravamento dos protestos que mergulharam Bolívia e Chile no caos, os dois países buscam resoluções para suas crises por vias bem diferentes: se em La Paz um pronunciamento militar afastou o governo recordando características dos piores golpes do passado, em Santiago o presidente Sebastián Piñera ainda se agarra ao cargo, buscando atender democraticamente às demandas das ruas. A crise nos dois países segue enviando ondas para o restante da América Latina, desde o exílio de Evo Morales no México até a liderança do Paraguai como melhor “clima econômico” do subcontinente aproveitando o vácuo deixado pelas incertezas chilenas.
O GIRO LATINO chega com as notícias de mais uma semana atribulada nas Américas.
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ARGENTINA 🇦🇷
De saída, Macri já tem definida sua agenda internacional de despedida. E seu último compromisso presidencial fora do país será no Brasil, onde será recebido por Bolsonaro. Depois de voltar de Madri da COP-25 – originalmente marcada para Santiago, o que logicamente já não seria possível diante dos protestos – Macri irá a Brasília para falar da relação futura entre os países. Macri esteve com o presidente eleito Alberto Fernández para tratar da transição de governo. Jair Bolsonaro, no entanto, vai mandar seu ministro da Cidadania, Osmar Terra, para a posse do peronista. No Perfil.
O presidente eleito, Alberto Fernández, prometeu ratificar o pedido de asilo político de Evo Morales a partir de 11/12, quando o peronista será empossado. “Será uma honra”, disse. Fernández esteve no Uruguai, onde foi recebido por lideranças da Frente Ampla, entre eles o candidato à Presidência, Daniel Martínez, e o atual presidente, Tabaré Vázquez. O novo chefe de Estado argentino apoia a reeleição do partido de centro-esquerda. No Clarín.
BOLÍVIA 🇧🇴
Os editores do GIRO LATINO estiveram frente à crise boliviana para além desta newsletter. Para entender o panorama que vai das eleições do dia 20 (leia no GIRO #3) até a autoproclamação de Jeanine Áñez como presidenta do país, leia em Intercept Brasil. Em rápidas linhas, Evo Morales foi de quase reeleito (pela quarta vez) a asilado político no México, após convite do chanceler mexicano Marcelo Ebrard. A OEA, muito cobrada, afirmou pela voz de seu secretário-geral Luis Almagro que o verdadeiro golpe foi a fraude eleitoral dos governistas – e não a renúncia de Evo por pressão das Forças Armadas. De Áñez em diante, desdobramentos. Ainda mais curiosidade pela figura de Luis Fernando Camacho, que viu na queda de Morales sua ascensão. Já visto no Brasil ao lado de membros do governo brasileiro – que já reconhece a oposição no poder transitório da Bolívia – agora “El Macho” quer uma conversa direta com Bolsonaro. Enquanto isso, a repressão segue ganhando corpo. Já Evo, agora no Norte, promete voltar à Bolívia. Segundo ele, para pacificar o país e não para voltar à política.
Ao menos cinco pessoas foram mortas e outras 22 ficaram feridas em protestos a favor do ex-presidente Evo Morales. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou o uso desproporcional da força pelo corpo militar em Cochabamba, reduto de apoiadores do MAS, partido de Evo. Na BBC.
Em momento de violência, um fato histórico vem à tona. Em 1946, o ditador Gualberto Villarroel López era linchado por uma multidão, em pleno palácio presidencial. Na BBC.
Un video:
Durante protesto, manifestantes derrubam a estátua de Pedro de Valdivia, “conquistador” do Chile, em Concepción. Assista.
CHILE 🇨🇱
Governo e oposição chegaram a um acordo nas primeiras horas da sexta-feira (15) para a elaboração de uma nova Constituição. A Carta atual, de 1980, foi aprovada durante o regime pinochetista e com indícios de fraude, e sua substituição emergiu como uma das bandeiras das manifestações que há um mês paralisam o país. O primeiro passo será a realização de um plebiscito, em abril de 2020, no qual os cidadãos devem responder a duas perguntas: primeiro, se aprovam ou rechaçam uma nova Constituição; em seguida, sobre como deve ser formado o órgão constituinte – uma assembleia inteiramente eleita para esse fim ou com 50% de parlamentares que já atuam no Congresso. Em La Tercera.
O Chile viveu a quarta semana de tensões, que incluiu greve do serviço de coleta de lixo (já encerrada) em Santiago, discussões sobre voltar com o estado de emergência (algo que o governo acabou não fazendo) e pelo menos 131 escolas ocupadas por estudantes. Manifestantes chegaram a usar lasers gigantes para confundir os policiais e, na cerimônia de entrega do Grammy Latino, músicos chilenos aproveitaram os holofotes para denunciar violações de direitos humanos. A quinta (14) também marcou o primeiro aniversário da execução do ativista mapuche Camilo Catrillanca, após ser detido por policiais militares, em um episódio que mobilizou o país no fim do ano passado e causou a queda do general que dirigia os Carabineros na ocasião. Após um mês de incertezas, porém, o anúncio de um acordo por uma Constituinte foi bem recebido pelo mercado: na sexta-feira, o dólar recuou 3,15% frente ao peso chileno e a Bolsa de Santiago subiu 8,07% – respectivamente, a maior queda e o maior avanço em um único dia desde 2008.
Nas duas pontas do Congresso, as contrariedades ao acordo pela nova Constituição: o Partido Comunista foi a única sigla de oposição a negá-lo, e foi acompanhado pelo recém-fundado Partido Republicano de José Antonio Kast, a organização mais à direita no Chile atual que, por estar em formação, ainda não tem representação formal. Kast, que concorreu sem partido e foi quarto colocado nas eleições presidenciais de 2017 (8% dos votos), disse que sua coalizão assumirá “o desafio histórico de liderar a campanha pelo Não”. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
O país vive um quadro de genocídio indígena, com uma morte a cada 72 horas. Apesar do acordo de paz com as FARC ter mirado o estancamento da violência, indígenas e lideranças sociais, principalmente em Cauca, têm sido alvo de grupos armados. A maioria deles, segundo autoridades, supostamente dissidentes da antiga guerrilha e até sicários ligados a cartéis mexicanos. Segundo o Conselho Regional de Indígenas do departamento, pelo menos 38 mil indígenas foram assassinados entre 1985 e 2016. Na BBC.
Em 2002, em meio aos conflitos entre as FARC e grupos paramilitares, um atentado a bomba deixou mais de uma centena de mortos em uma igreja em Bojayá, no interior do país. O “Massacre de Bojayá” esteve entre as principais atrocidades das FARC em uma zona de conflitos endêmicos. Passados mais de 17 anos, 78 das vítimas tiveram seus restos mortais identificados e, agora, entregues às famílias. O velório delas finalmente acontecerá neste domingo, na mesma igreja, agora reconstruída, onde se refugiavam e foram vitimadas. Em El Tiempo, a história do massacre e da identificação dos corpos.
Un hilo:
COSTA RICA 🇨🇷
Apesar de governar uma das raras zonas de calmaria das Américas, o presidente Carlos Alvarado não é tão popular. Progressista, enfrenta a desconfiança de alguns setores por pregar mudanças no regime fiscal do país. O cientista político, porém, chama atenção pelas políticas de sustentabilidade que defende. Obviamente uma missão mais simples em um país cuja matriz energética é renovável em mais de 95% da composição e com um plano de descarbonização que conta com o endosso de boa parte da sociedade. Ao personificar tudo isso, Alvarado já é considerado um dos próximos 100 líderes mais influentes do mundo. Na Time.
CUBA 🇨🇺
Em visita a Cuba, o rei da Espanha, Felipe VI, diz apoiar empresários espanhóis que quiserem investir na ilha. Segundo o monarca, as condições de trabalho na ilha são “muitas vezes adversas”. A Espanha é o terceiro maior parceiro comercial dos socialistas, depois de Venezuela e China. Só em 2018, mais de US$ 1,3 bilhão foi movimentado entre os países. A Espanha também é o maior investidor na ilha, com mais de 200 empresas, a maioria no setor turístico. Via AFP.
Na quinta (14), após a visita do monarca, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel fez sua primeira visita à cidade de Caimanera, a mais próxima da base militar de Guantánamo, mantida pelos EUA na ilha desde 1903. Díaz-Canel garante que as pressões econômicas do governo Trump estão fracassando e atribui as novas sanções à “raiva” pelo fato de que os velhos bloqueios funcionariam mais. Via AP.
O charme desbotado e vivo de Cuba, por entre as construções mais emblemáticas da capital Havana. Completando 500 anos em 2019, a cidade segue sendo tanto um resgate dos tempos revolucionários, como um lembrete de seu próprio declínio econômico. Na BBC.
EL SALVADOR 🇸🇻
Considerado a maior chacina contra civis da história da América Latina, o massacre de El Mozote, ocorrido em 1981, vai ganhar um especial que contará a história das vítimas e sobreviventes. Centenas de famílias ainda buscam reparação por conta do episódio. Recentemente, a justiça ordenou que o governo do presidente Nayib Bukele abrisse os arquivos do massacre, ainda na busca por respostas. Em El Faro.
EQUADOR 🇪🇨
O governo anunciou na terça (12) que não vai renovar um convênio que mantinha com Cuba para receber médicos. Cerca de 400 profissionais devem retornar à ilha. Segundo o governo, os médicos cubanos serão substituídos por equatorianos e será aberto um concurso para as vagas. Via EFE.
Foi inaugurada nesta semana a primeira mina de ouro de larga escala na Amazônia equatoriana. A mina Fruta del Norte é operada por uma companhia canadense e deve receber US$ 2,7 bilhões em investimento. Polêmica pelo impacto ambiental, é mais uma tentativa de contornar a estagnação econômica do país, que deve crescer menos de 0,2% este ano. Via Reuters.
GUATEMALA 🇬🇹
A polícia dos EUA condenou a quatro anos de prisão o ex-presidenciável guatemalteco Manuel Baldizón, por lavagem de dinheiro. Político antigo, brigou pela Presidência nas eleições de 2011 e 2015. O empresário já teve 32 imóveis congelados no início do mês, por ordem do Ministério Público de seu país. Outras autoridades da Guatemala já tiveram problemas ao norte. Em 2014, o ex-presidente da Alfonso Portillo (2000-2004) foi condenado por recebimento de subornos e lavagem de dinheiro. No CRN.
HAITI 🇭🇹
A situação de calamidade social e política no Haiti também afeta a imprensa. O caso tem aumentado a preocupação de ONGs desde que o senador Jean Ralph Féthière feriu o jornalista Chery Dieu-Nalio, quando atirava contra manifestantes. O Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ) emitiram relatório em que pedem às autoridades haitianas medidas de proteção. Atualmente, o Haiti ocupa a 62ª posição do ranking mundial de liberdade de imprensa do RSF. No Nuevo Diario.
HONDURAS 🇭🇳
Estima-se que mais de 27 mil hondurenhos estejam no limbo da migração. Desde que o México firmou com os EUA o protocolo de proteção (MPP), civis centro-americanos que tentam entrar em território estadunidense ficam à espera de uma situação regularizada – o que pode demorar meses. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que ao menos 247 mil hondurenhos tenham migrado para fugir da violência local. Em La Prensa.
Un clic:
MÉXICO 🇲🇽
O empurra-empurra no Senado mexicano, motivado pelo anúncio de Rosario Ibarra como nova titular da Comissão Nacional de Direitos Humanos, imita a arte. O bate boca entre partidários do governista Morena e do tradicional PAN foi comparado a uma série de quadros históricos, o que rendeu uma lista artisticamente informativa. No Verne.
Na onda do asilo de Evo, reportagem da BBC reúne todas as personalidades que já conseguiram refúgio oficial em território mexicano. Entre eles o surrealista espanhol Luís Buñuel, Fidel Castro, um Xá iraniano, o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya e até o revolucionário russo Leon Trotsky – morto a picaretadas por espião soviético. Na BBC.
Quase extinto, o peculiar axolote, anfíbio nativo dos lagos da capital Cidade do México, pode ser a chave para a cura do câncer. Em décadas de pesquisa, o animal revelou ter uma mutação que resiste à doença, o que já é monitorado por especialistas. O bicho também é associado à mitologia asteca, por sua aparência exótica. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
O regime de Daniel Ortega anunciou, nesta semana, a criação do “Movimento Sandinista 4 de Mayo”, milícia com o objetivo de combater o “golpismo” dos “inimigos do povo”. O anúncio foi feito pelo filho do ditador, Juan Carlos Ortega Murillo, que citou o líder revolucionário Augusto César Sandino: “a liberdade não se conquista com flores, mas a tiros”. Acusado de sistemáticas violações de direitos humanos, o governo da Nicarágua proibiu manifestações de oposição em outubro do ano passado, e vem perseguindo adversários políticos. Em La Prensa.
A Anistia Internacional denunciou a detenção arbitrária de mais 13 ativistas em Masaya. O grupo teria ajudado familiares de presos pelo regime. Desde a crise política de abril de 2018, centenas de opositores estão nas mãos do governo Ortega.
PANAMÁ 🇵🇦
A empresa canadense TheraCann International pretende instalar um laboratório para estudos envolvendo maconha medicinal na Ciudad del Saber, uma incubadora tecnológica na zona oeste da Cidade do Panamá. A ideia é tornar o estabelecimento uma referência em pesquisa de cannabis na América Latina. O anúncio foi feito em meio aos debates do sobre a lei que busca legalizar a maconha medicinal e terapêutica em solo panamenho. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
O ambiente econômico favorável e a crise no Chile fizeram o Paraguai saltar para o primeiro lugar da América Latina no Índice de Clima Econômico (ICE) elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A avaliação, trimestral, analisa a situação atual e as expectativas de cada economia no continente. Em segundo lugar até o trimestre passado, os paraguaios agora superaram os chilenos. Dirigentes de associações industriais e comerciais locais celebraram o resultado, que poderia atrair mais investidores ao país. Em La Nación.
Una expresión:
Pronunciamiento militar – forma de golpe de Estado em que líderes militares anunciam publicamente que não apoiam mais o governo, sem necessariamente pegar em armas para concretizar sua derrubada.
PERU 🇵🇪
Com a política estremecida desde outubro, o país passará por eleições legislativas em janeiro de 2020 – o que só foi possível diante de um decreto. A divisão no Congresso, que quase acabou com o governo do presidente Martín Vizcarra, é o principal tema do pleito de logo mais. Segundo pesquisas, a população votará pela renovação. Outro fato chamou a atenção: a oposição ao presidente é liderada por Keiko Fujimori, filha de “El Chino” Alberto, ditador que governou nos anos 90. A herdeira do fujimorismo cumpre uma ordem de prisão preventiva de 18 meses e prometeu que não vai concorrer. O raio-x da votação no Congresso, em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
A partir de dezembro, as rinhas de galo se tornarão ilegais nos territórios associados aos EUA, caso de Porto Rico. Vistas como um aspecto brutal, mas integral, da cultura da ilha (uma relação controversa semelhante às touradas na Espanha), elas mobilizam uma verdadeira indústria no país: cerca de 20 mil pessoas dependem de empregos gerados pela criação de aves para luta. Elas agora convivem com a incerteza. O New York Times contou a peculiar realidade de quem ainda vive das rinhas em 2019.
URUGUAI 🇺🇾
O país viu na quarta (13) o primeiro debate presidencial para o segundo turno, entre o situacionista Daniel Martínez e Luis Lacalle Pou, opositor que segue liderando as pesquisas. Cientistas políticos ouvidos por El Observador consideraram que o formato não foi aproveitado: foi menos um debate e mais uma troca de “exposições” das ideias de cada candidato. O segundo turno ocorre no próximo domingo (24).
O Cabildo Abierto, novo partido de extrema-direita que concorreu às eleições presidenciais deste ano com o general Guido Manini Ríos e ficou em quarto lugar (11% dos votos), está às voltas com uma nova polêmica: um de seus dirigentes defendia, nas redes sociais, a criação de esquadrões da morte para combater a delinquência no país. O partido (sobre o qual falamos no GIRO #4) anunciou que realizará uma investigação interna para apurar os fatos, mas seus membros dizem que o posicionamento do dirigente já era conhecido e não havia sido coibido. Em El Observador.
VENEZUELA 🇻🇪
Reportagem investigativa mostra como a polícia pessoal do regime venezuelano aterroriza os bairros mais pobres da capital, passando por 20 assassinatos cometidos pelas FAES (Forças de Ações Especiais). Conhecidos como “esquadrão da morte”, os cães de guarda de Maduro abusam da autoridade para manter estancada a fagulha anti-regime. Execuções arbitrárias só aumentam. Partidários do autoproclamado interino Juan Guaidó também denunciaram que membros da FAES estiveram em frente à Assembleia Nacional, onde teriam intimidado opositores do partido Voluntad Popular. A ala oposta ao regime, que comanda o legislativo, marcou novas manifestações para este sábado. Via Reuters.
Hugo Carvajal, ex-chefe de inteligência do chavismo, desapareceu de Madri pouco depois de a Justiça espanhola aprovar sua extradição aos EUA, onde é investigado por associação ao narcotráfico. Na BBC.
🤝 Brics ignoram América
Ainda em meio ao furacão político na Bolívia, a América Latina se viu de fora dos temas discutidos na cúpula dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, realizada entre os dias 13 e 14, em Brasília. Segundo o Itamaraty, a preferência foi dada a temas de “envergadura global” – como as crises na Síria e no Iêmen, de acordo com a pasta. Havia grande expectativa pela reação de Bolsonaro diante das lideranças do bloco, sobretudo do russo Vladimir Putin e do chinês Xi Jinping. As duas potências têm visão diametralmente oposta em relação ao quadro geopolítico da América Latina. A Venezuela é um exemplo. Enquanto Bolsonaro tem em Maduro um material de campanha contra a esquerda, Moscou e Pequim seguem tolerantes ao chavismo, inclusive com financiamento e críticas à figura do autoproclamado interino Juan Guaidó. O Brics, porém, se calou diante da crise em Caracas. E motivos para discutir o tema não faltaram. Exatamente na quarta-feira (13) em que o fórum se iniciava no Distrito Federal, representantes de Guaidó tentaram invadir a embaixada da Venezuela, com direito a briga, polícia e acusações. O governo brasileiro, sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, criticou o fato. Os chavistas também repudiaram a invasão. No fim das contas, o encontro serviu para aproximar Bolsonaro de Xi, com direito a um tom bajulador que praticamente sepulta a paranoia anticomunista de outrora.
✝️ Da Wiphala à Bíblia
Durante os últimos 13 anos, a saga de Evo se misturou à da Bolívia. Em 2009, a mesma Constituição alterada via referendo também recebeu a wiphala como símbolo oficial. Além de consolidar a influência do primeiro mandatário indígena, o quadriculado de sete cores também estabeleceu a representatividade nativa como um dos pilares de uma nova Bolívia. O rebuliço do último dia 10/11 também trouxe forte simbolismo contra esse elemento cultural. Em vídeos e fotos que circulavam pelas redes sociais, policiais – amotinados contra o governo – eram vistos cortando a bandeira andina, muitas vezes dizendo que uma “nova era” se iniciava. Jeanine Áñez, autoproclamada presidenta do país, chegou a postar uma foto de indígenas vestindo sapato, sugerindo que não eram “originários”. Além da ex-senadora, o movimento radical da oposição, liderado por Luis Fernando Camacho, tem a Bíblia como principal alicerce. Mesmo sem poder decifrar os próximos tempos, é fato que a referência de inspiração mudou na Bolívia. Em El País.
⚽ Campeonatos sem fim
A continuação das crises em Bolívia e Chile coloca em dúvida o término da temporada. O último jogo do Campeonato Chileno aconteceu em 17/10, enquanto o Boliviano não tem partidas desde 19/10. No Chile, havia expectativa de retomar as competições nesta semana, e inclusive uma partida da 2ª divisão foi marcada para terça (12) – uma hora antes do duelo, porém, o encontro foi suspenso. Ato contínuo, os demais jogos foram preventivamente cancelados. Na quarta (13), a Seleção Chilena se solidarizou com os protestos e anunciou que não entrará em campo para enfrentar o Peru, em Lima, no dia 19. Os organizadores do campeonato têm o próximo fim de semana como data-limite para retomar o calendário e concluí-lo sem prejuízo às férias dos atletas: faltavam seis rodadas no campeonato e as semifinais e final da Copa Chile. Na Bolívia, os organizadores têm reunião marcada para hoje. Lá, restam dez rodadas. A indefinição afeta vagas na Libertadores e na Copa Sul-Americana, que seguem sem donos. A Conmebol já recomendou que ambos terminem suas disputas e diz que nenhuma vaga será outorgada sem mérito esportivo. Não se sabe o que ocorrerá caso os campeonatos não possam terminar, mas em casos semelhantes a Conmebol não concedeu vagas a ninguém. O mais recente foi a Libertadores de 1990, com duas equipes colombianas a menos, após a interrupção do campeonato de 1989 em função do assassinato do árbitro Álvaro Ortega, que completou 30 anos na sexta.
Final latina: domingo, às 19 horas, Brasil e México disputam a final do Mundial Sub-17 de 2019, disputado em solo brasileiro. É apenas a terceira vez em 18 edições que o torneio terá uma final inteiramente latino-americana, e nas duas anteriores o México foi campeão (diante do próprio Brasil, em 2005, e contra o Uruguai, em 2011).
O Giro Latino é uma newsletter produzida por Girão da América, Impedimento e Fronteira.
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