Evo reeleito sob acusação de fraude
19 mortos no Chile ▪ Eleições em três países ▪ Uruguai vota reforma constitucional ▪ País a país, um resumo das notícias do continente, no Giro Latino #3
Se a América Latina fica calma, o sujeito até começa a estranhar. Uma semana como a última, então, foi exatamente o oposto: na nossa normal anormalidade, não houve estranhamento. Talvez os cenários surpreendam, o Chile aparentemente tão estável que seguiu ardendo em chamas e a Bolívia onde a prometida reeleição de Evo Morales acabou se rodeando de controvérsias inesperadas, mas os protestos sociais, nem tanto. Nesta semana, para destacar os países onde a crise bateu mais forte nos últimos dias, inauguramos uma nova distribuição: seguiremos com a ordem alfabética para trazer os fatos da semana, mas, em casos excepcionais, apresentaremos primeiro os países mais “quentes” do noticiário — situação, hoje, dos próprios bolivianos e chilenos.
O seu GIRO LATINO #3 também traz um termômetro das eleições presidenciais de Argentina e Uruguai, que ocorrem no domingo, as definições do futebol sul-americano e a já tradicional cobertura dos demais países do continente.
Un sonido:
Também no YouTube.
🔥 BOLÍVIA 🇧🇴
A Bolívia também entrou em ebulição. No último domingo (20), as eleições colocaram Evo Morales e o ex-presidente Carlos Mesa diante de uma disputa acirrada. As pesquisas, como mostramos, acertaram: o pleito de 2019 foi o mais difícil para Evo, no cargo desde 2006. A polêmica foi além do dia de votação. Enquanto os resultados eram divulgados em tempo real, os números indicavam uma segunda volta para definir o novo presidente. Até 83% da apuração dinâmica, Evo não havia atingido a maioria e a contagem das urnas estacionou em 45% para o presidente e 38% para Mesa. De repente, a apuração foi interrompida e só retomada no dia seguinte, já na casa dos 95%. Agora, Evo aparecia com a vantagem necessária para vencer sem segundo turno, alimentando suspeitas de fraude. Aliados de Evo já tocavam as trombetas anunciando a iminente reeleição. Nas ruas, opositores protestavam, gerando uma quebradeira que terminou com dezenas de feridos e pelo menos 27 prisões. As suspeitas contra o resultado cresceram após a renúncia do vice-presidente do TSE, Antonio Costa. O fato de a Bolívia ter duas apurações paralelas, o “conteo rápido” (divulgado já no domingo) e o “cómputo oficial” (que foi atualizado durante a semana) não ajudou. Os valores divergiram por dias. No final das contagens, Evo acabou reeleito por uma margem mínima, decidida pelos votos no exterior. Com 100% dos votos apurados, o socialista venceu por 47,8% contra 36,51% de Mesa. Tendo mais de 40% dos votos, um candidato leva em primeiro turno se superar o segundo colocado por 10 pontos percentuais. Insatisfeita, a oposição ameaçou denunciar o processo à OEA, que demonstrou preocupação. Na quinta (24), o secretário-geral Luis Almagro manifestou apoio à missão de observação da entidade. Evo, até o momento reeleito para o quarto mandato até 2025, denunciou uma tentativa de golpe, dizendo que o país estava em “estado de emergência”, medida que não existe na Constituição. O Brasil diz que, por enquanto, não reconhecerá os resultados. A crise segue.
🔥 CHILE 🇨🇱
Sebastián Piñera pediu desculpas. Na terça-feira (23) à noite, dois dias após engrossar a voz e dizer que o país estava “em guerra” contra “um inimigo que não respeita nada nem ninguém”, o presidente chileno se dirigiu ao país e admitiu sua “falta de visão”. Também fez uma série de propostas para contemplar as demandas das ruas que, se aprovadas, ajudariam a combater a pesada herança social que vem desde a ditadura Pinochet. O aumento da passagem do metrô, estopim para as manifestações, já foi revertido. Mas o grito ganhou corpo e passou a questionar, também, as baixas aposentadorias, a má qualidade da saúde e da educação (pagas mesmo em instituições públicas) e a desconexão dos políticos com a sociedade. Após Piñera pedir desculpas, seu entorno o acompanhou e também admitiu um erro de leitura. O Chile, porém, segue sob estado de emergência, passou a semana com toque de recolher na capital e em outras cidades importantes, e reviveu antigos fantasmas da ditadura. Até ontem, o Instituto Nacional de Direitos Humanos, que acompanhou a repressão de perto, registrava ao menos cinco pessoas mortas pelas mãos de policiais e militares durante os dias de convulsão social (e 19 mortos no total dos distúrbios), além de violência sexual cometidas por agentes do Estado contra mulheres e homens detidos. Um pedido de desculpas já não parece suficiente, e parte da oposição segue pedindo a renúncia de Piñera. Se essa demanda parece improvável de se realizar, outra ganha força: uma nova Constituição — o Chile ainda utiliza a Carta de 1980, aprovada sob Pinochet, em um plebiscito com indícios de fraude. Sem se acomodar após o pacote de reformas de Piñera, ontem os chilenos fizeram a maior manifestação desde a redemocratização: mais de um milhão de pessoas foram às ruas de Santiago.
Un hilo:
ARGENTINA 🇦🇷
Em clima eleitoral polarizado, argentinos vão às urnas neste domingo (27), para decidir se volta o peronismo ou se Mauricio Macri ganha uma nova chance. Desgastada, a ex-presidente Cristina Kirchner resolveu concorrer como vice. Mas, segundo 45% dos argentinos, a última palavra será dela caso a esquerda retome o poder. O pleito é importante para o Brasil. Para Bolsonaro, próximo a Macri, o retorno dos peronistas põe a Argentina na mesma rota da Venezuela. O brasileiro também não descartou isolar os vizinhos no Mercosul caso a direita não vença.
COLÔMBIA 🇨🇴
O país também vai às urnas neste domingo, mas para eleições regionais: serão renovados os governadores dos 32 departamentos e os prefeitos de 1.101 municípios, além dos cargos legislativos em nível departamental e municipal. Embora menores do que em outros anos, os casos de violência política voltaram a ocorrer, especialmente em áreas isoladas e historicamente dominadas por grupos armados como as FARC: mais de 230 candidatos foram vítimas de algum tipo de violência, e pelo menos sete acabaram mortos. Uma das corridas eleitorais mais ajustadas é a da capital Bogotá, onde os três principais candidatos estão em empate técnico. Quem lidera, dentro da margem de erro, é Carlos Fernando Galán, com 30,5% das intenções de voto segundo a última pesquisa. Como não há segundo turno, é possível ser eleito sem maioria absoluta. Carlos Fernando é filho de Luis Carlos Galán, político colombiano que se notabilizou por enfrentar os cartéis e foi assassinado durante a campanha presidencial de 1989.
COSTA RICA 🇨🇷
A ministra da Fazenda, Rocío Aguilar, renunciou ao seu cargo na quarta-feira (23), após a Controladoria Geral recomendar que o governo a suspendesse do cargo por 30 dias. A medida viria como punição pelo rombo de 600 bilhões de colones (R$ 4,14 bilhões) deixado pelas medidas da ministra no início de 2018: Aguilar priorizou o pagamento de uma série de dívidas públicas mesmo sem previsão orçamentária para tanto. Marcada pela imagem de que “colocaria as contas em dia”, a agora ex-ministra defendeu medidas de austeridade e previa uma redução de 4,3% nos gastos públicos para 2020. Suas medidas de ajuste fiscal, diminuição de benefícios a funcionários públicos e reforma tributária, foram impopulares: Albino Vargas, dirigente do maior sindicato do país, disse que o legado da ministra foi a ruína financeira de grande parte da população.
CUBA 🇨🇺
Diante de novas sanções do governo Trump, a linha aérea estatal de Cuba, que acaba de completar 90 anos, cancelou sete rotas regionais para República Dominicana, México, Venezuela, Haiti, Martinica e Guadalupe. Os EUA ameaçaram revogar licenças de empresas que alugam aviões para companhias aéreas pertencentes ao estado cubano. A medida visa reduzir o número de turistas norte-americanos na ilha. A China está de olho. Em El Día.
Una palabra:
Kewa – “briga” ou “brigar” no mapundungun, a língua dos mapuches, o maior grupo indígena do Chile. Eles foram um dos poucos povos nativos que conseguiram vencer militarmente os espanhóis.
EQUADOR 🇪🇨
Ainda sentindo as repercussões dos protestos do início do mês, o governo Lenín Moreno continua a negociar com os grupos que o pressionavam, como as lideranças indígenas. Na semana, a Confederação Nacional das Nacionalidades Indígenas (Conaie) rejeitou uma reforma tributária proposta por Moreno. Via AFP.
EL SALVADOR 🇸🇻
O militar salvadorenho José Segovia Benítez, que serviu o exército dos EUA na Guerra do Iraque, foi deportado de volta a seu país natal após passar um ano detido no Arizona. O veterano foi preso por uso indevido de arma fogo, posse de drogas e lesão corporal. A família de Benítez alega que uma grave lesão cerebral, que o tirou de combate em 2004, nunca foi tratada devidamente. Em La Prensa Gráfica.
GUATEMALA 🇬🇹
Uma família de guatemaltecos foi detida por autoridades fronteiriças dos EUA após comunicarem que iriam a uma audiência na corte de imigração. Segundo a família e entidades de direitos civis, a detenção foi discriminatória, já que os oficiais se basearem somente na fisionomia e na língua falada para justificar a ação. O caso aconteceu no Maine, a 160 km da fronteira com o Canadá. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
Enfrentando protestos diários que pedem sua renúncia há um ano e com as escolas do país fechadas ao longo do último mês, o presidente Jovenel Moise dedicou a semana a se defender na imprensa internacional. À agência AFP, deu uma entrevista dizendo que não está “agarrado ao poder”, mas “às reformas, porque o país sofreu por muitas décadas”. À RFI, sugeriu que faria da crise uma “oportunidade”. Em nenhuma das duas, porém, indicou resoluções claras. A população acusa Moise de corrupto e incompetente, e o país beira a anarquia, com barricadas nas ruas e bloqueios nas estradas. O Haiti deveria celebrar eleições parlamentares neste domingo, mas elas foram adiadas em função da crise e não têm data para ocorrer.
HONDURAS 🇭🇳
Seguem os protestos pedindo a saída do presidente Juan Orlando Hernández. Acusado de envolvimento no tráfico de drogas após a condenação de seu irmão mais novo em Nova York neste mês, Hernández é alvo de manifestações cada vez mais violentas, como a da última quinta (24). Via AP.
MÉXICO 🇲🇽
O poder judicial é o mais questionado pelos mexicanos, segundo pesquisa do Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi): 68,4% da população não confia nos juízes do país, contra 55,2% que dizem questionar a polícia federal e apenas 23,6% que nutrem desconfiança quanto ao Exército. Nepotismo e redes de corrupção estão entre as razões que fazem o Judiciário ser visto com reservas. No Milenio.
NICARÁGUA 🇳🇮
O regime de Daniel Ortega foi o que mais matou manifestantes nos últimos dois anos, durante protestos ou após sua detenção, segundo levantamento realizado pelo jornal nicaraguense La Prensa. Ortega é acusado de crimes contra a humanidade e, de acordo com dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da ONU, agentes do governo foram responsáveis por 328 mortes durante protestos entre 2018 e 2019. Em La Prensa.
PANAMÁ 🇵🇦
Sob fortes protestos, um pacote de reformas constitucionais foi aprovado na Assembleia Nacional panamenha. O governo do presidente Laurentino Cortizo diz que as mudanças visam diminuir a corrupção e aumentar a independência do Judiciário. Sindicatos e movimentos estudantis, porém, classificam as alterações de “remendos” que buscam privatizar setores do país. A medida precisa ser aprovada por duas legislaturas, para depois ir a um referendo popular. Em La Prensa.
PARAGUAI 🇵🇾
Após anos de espera, Assunção está implementando um sistema de bilhetagem eletrônica nos ônibus urbanos. A medida causou descontentamento nos comerciantes ambulantes da cidade, que temem ser impedidos de subir nos ônibus para vender seus produtos e pedem que o governo distribua credenciais. Em ABC Color.
Un clic:
PERU 🇵🇪
Continua o impasse sobre a dissolução do Congresso, decretada pelo presidente Martín Vizcarra em 30/9. A medida veio após o Congresso rejeitar a demanda presidencial por antecipar as eleições de 2021 para o ano que vem, como resposta à crise institucional que vive o país. Desde então, a Comissão Permanente da legislatura apresentou uma demanda ao Tribunal Constitucional (TC), questionando a prerrogativa do presidente de promover a dissolução da forma como fez. Agora, o relator do TC tem até a próxima terça-feira (29) para apresentar um projeto de resolução, e em seguida o Tribunal decidirá se leva a demanda a julgamento. Em El Comercio, o ponto a ponto do que está sendo questionado.
Na quarta (23), o vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão viajou a Lima para negociar submarinos com a marinha peruana e se reunir com o presidente Martín Vizcarra. Responsável pelo Executivo na ausência de Bolsonaro, Mourão passou o poder ao presidente do Senado, David Alcolumbre. Via Agência Brasil.
URUGUAI 🇺🇾
Além das eleições (confira o termômetro mais abaixo), os uruguaios também vão às urnas para votar uma reforma constitucional neste domingo. O projeto “Vivir sin miedo”, de autoria do senador nacionalista Jorge Larrañaga, prevê medidas controversas como a criação de uma Guarda Nacional militarizada, que atuaria ao lado da polícia, e a possibilidade de prisão perpétua para crimes hediondos, em um país onde hoje o limite são 30 anos de encarceramento. A ideia é endurecer o combate à crescente criminalidade. A reforma divide opiniões, mas as últimas pesquisas apontavam 51% de apoio às medidas. No Subrayado.
O ex-presidente Pepe Mujica, 84, segue lúcido à frente da campanha presidencial uruguaia. Longe da cobiça pelo poder, fator que alimenta críticas a Evo Morales, e da indiferença às violações aos direitos humanos na Venezuela, o político diz que tem papel de formar novas lideranças, não de ser sombra delas. Além de atuar como mentor, Mujica concorre ao Senado, cadeira que ocupou após deixar a presidência mas à qual havia renunciado em 2018, alegando motivos pessoais. Na BBC.
VENEZUELA 🇻🇪
O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, disse que o governo fará uma solicitação formal à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que a Venezuela se manifeste sobre o óleo derramado nas praias brasileiras. Embora o produto encontrado no litoral nordestino tenha sido extraído de reservas venezuelanas, não há provas de que o país vizinho é responsável pelo vazamento.
Sem o sucesso desejado, apesar de reconhecido por mais de 50 países, o autoproclamado presidente Juan Guaidó articula saídas econômicas para o horizonte venezuelano. Os alvos? Empresários brasileiros. Na BBC.
📈 Termômetro eleitoral
Nesta edição, a equipe do GIRO LATINO mede a temperatura das eleições que sacodem Argentina e Uruguai. Veja a situação dos países austrais da terra do mate e do Rio Prata.
ARGENTINA
Quando é? Domingo, 27/10. Um eventual segundo turno ocorre em 24/11.
Como funciona? Primeiro turno e segundo turno. Para que não haja segunda volta, o candidato precisa atingir 45% dos votos ou 40% com vantagem mínima de 10 pontos percentuais. Em julho, as primárias serviram de “esquenta” para a votação, além de eliminar chapas com menos de 1,5% de intenções de voto. Na ocasião, nenhuma das alianças escolheu mais de uma chapa. A briga, então, será concentrada na chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, do Partido Justicialista (peronista) contra Mauricio Macri e Miguel Pichetto, do Proposta Republicana. Além deles, outros quatro nomes correm por fora, incluindo o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna. Os votos no Congresso são distritais e proporcionais, sendo que as províncias, com constituições próprias, definem individualmente a data de suas votações de acordo com o “feeling” eleitoral. A expectativa é de que quase 34 milhões de argentinos depositem seus papéis nas urnas.
Quem é eleito? Presidente (2020-2024), vice, deputados (130) e senadores (24)
O que dizem as pesquisas?
Opina Argentina: Fernández 52% — Macri 32%
Universidade de San Andrés: Fernández 51% — Macri 34%
Centro de Estudios de Opinión Pública (CEOP): Fernández 54% — Macri 33%
* Todos os resultados apontam vitória peronista no 1º turno.
O que mais preciso entender? O desastre da economia sob Macri é o verdadeiro fiel da balança. Nem mesmo a impopularidade de Cristina, que parou no banco dos réus por uma fila de acusações de corrupção, dá vantagem ao liberal. Suas promessas passaram longe: pregando “pobreza zero” no começo do mandato, viu mais de 15 milhões de pessoas (34% da população) cruzarem a linha da pobreza, segundo o INDEC. A inflação, outro mal contínuo no país, já bate recorde. Só até setembro, o índice passa dos 53%, e deve superar 60% ate o final do ano. Ainda a aposta do mercado, Macri levou a Argentina do ócio ao declínio, trazendo ventos da pior crise do começo do milênio. O resultado que aponta para novo triunfo peronista também é importante para o Brasil, que terá o desafio de conciliar os ânimos de Bolsonaro com os de uma esquerda nada tímida. Bom lembrar: além do protagonismo no Mercosul, são países de economias interdependentes. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Já os brasileiros lideram o ranking para os vizinhos.
URUGUAI
Quando é? Domingo, 27/10. O segundo turno ocorre no dia 24/11.
Como funciona? Primeiro turno e segundo turno, com grande possibilidade de segunda volta. O governista Frente Ampla, de esquerda, mede forças com o Partido Nacional, de centro-direita. Na primeira tacada, outros quatro partidos correm por fora. Ainda que com vantagem no primeiro turno, o situacionista Daniel Martínez perde nas projeções do segundo turno, o que torna a eleição não só a mais acirrada desde 1994, como incerta. O nome apontado como favorito para desbancar os social-democratas é Lacalle Pou, 46 anos. Como medalha de bronze nas pesquisas está Ernesto Talvi, do Partido Colorado, mais liberal. O ex-comandante das Forças Armadas, Manini Ríos, radical, aparece em seguida. A tendência é que, independentemente do segundo colocado, toda a oposição mais à direita se una para derrotar Martínez.
Quem é eleito? Presidente (2020-2025), vice, deputados (99) e senadores (30).
O que dizem as pesquisas?
Opción Consultores: Martínez 40% — Lacalle Pou 26% — Talvi 13% — Ríos 12%
Telenoche: Martínez 29% — Lacalle Pou 24% — Talvi 15% — Ríos 12%
Factum: Martínez 40% — Lacalle Pou 28% — Talvi 13% — Ríos 11%
* Todos os resultados apontam um segundo turno entre Martínez (FA) e Pou (PN). As pesquisas para o pleito decisivo em novembro dão vantagem à centro-direita. No entanto, há uma outra campanha após o primeiro turno. Confirmando-se o segundo turno, traremos um novo termômetro uruguaio na newsletter do dia 23/11.
O que mais preciso entender? A hegemonia da esquerda que já dura 15 anos, representada pelo partido Frente Ampla de Mujica, enfrenta o pleito mais acirrado dos últimos tempos. Por enquanto, pesquisas mostram vantagem para a oposição em todos os cenários, mas tudo pode mudar. Os governistas têm como vantagem o bom desempenho econômico e a estabilidade política e institucional nos últimos anos, além do fracasso econômico de Macri na Argentina e a radicalização da política no Brasil de Bolsonaro. Por outro lado, agendas conservadoras têm conquistado proeminência. Apesar de prometer não alterar o avanço nas liberdades civis, o favorito Lacalle Pou não descarta formar aliança com o militar Manini Ríos, fã do presidente brasileiro e contra pautas LGBT, por exemplo. Já Ernesto Talvi, mais ao centro, não considera revogar pautas como a despenalização do aborto e o casamento igualitário. No entanto, a bancada religiosa conservadora vem ganhando força como nunca e, sem maioria no congresso, a esquerda pode enfrentar jogo duro. Os rumos do Mercosul também estão em jogo. Caso a direita vença, os peronistas, favoritos na Argentina, serão o patinho feio do bloco, que também tem a centro-direita paraguaia de Mario Abdo Benítez.
⚽ River Plate contra o Brasil
O River Plate é a única coisa que separa o Brasil de se tornar o detentor das quatro Libertadores disputadas em 2019. O país já venceu os torneios relativos ao futsal (com a Associação Carlos Barbosa de Futsal, ACBF, do Rio Grande do Sul) e ao futebol de areia (com o Vasco da Gama). Na Libertadores feminina, ontem à noite se definiu que a final será inteiramente brasileira e o título não escapará, portanto, do país: ou vai para Araraquara, com a Ferroviária, ou para São Paulo, com o Corinthians. O torneio é disputado em Quito e a final acontece na segunda-feira (28/10). Nisso tudo, resta a Copa Libertadores original, que em 2019 completa sua 60ª edição: na semifinal brasileira, o Flamengo passou por cima do Grêmio com uma goleada de 5x0, enquanto, do outro lado, o River Plate tirou o tradicional rival, Boca Juniors. Com todas as outras “franquias” da Libertadores já garantidas para o Brasil neste ano (algo que só ocorreu uma vez, em 2017), resta ver se o atual campeão River conseguirá evitar o sonho do Fla, que busca erguer a taça após 38 anos. O jogo está marcado para 23/11, a princípio em Santiago, mas a situação do Chile poderia levar a uma mudança de sede.
Calendários complicados: a sequência de crises no continente afetou também o futebol. Bolívia, Chile e Equador adiaram rodadas de seus campeonatos em função da tensão nas ruas. O Uruguai também parou, mas uma vez por luto e outra pelo clima. Agora, é a Colômbia quem pode ter problemas de datas: os jogadores prometem uma greve a partir de 3/11.
🎶 O som da revolta
O GIRO LATINO desta semana abriu com El baile de los que sobran, uma canção de protesto chilena de 1986. Escrita para questionar as desigualdades no sistema educacional privatizado que nascia sob Pinochet, com o tempo passou a simbolizar também as demais injustiças sociais — e se converteu em um hino dos protestos de 2019. A música, aliás, tem vasta tradição na América Latina como ferramenta de resistência e questionamento, e o Chile não é diferente. Durante o toque de recolher da última semana, quando não se podia sair à noite, algumas delas foram ouvidas desde as sacadas dos edifícios residenciais de Santiago. O jornal La Tercera contou a história de uma série de músicas chilenas inspiradas em (ou que inspiraram) protestos sociais, desde Violeta Parra e Víctor Jara até os dias de hoje, e nós as reunimos em uma playlist no YouTube. Confira.
O Giro Latino é uma newsletter produzida por Girão da América, Impedimento e Fronteira.
Esse email foi encaminhado por um amigo? Assine!