‘Caso Odebrecht’ põe Colômbia e Guatemala em colisão
Denúncia polêmica de MP guatemalteco envolvendo caso de propina mira antigo chefe de missão anticorrupção no país e hoje ministro na Colômbia; caso reabre fissuras de abusos judiciais dos dois lados
“Atos ilegais, arbitrários e abusivos” definiu o chefe da Promotoria Especial Contra a Impunidade (Feci) da Guatemala, Rafael Curruchiche, em um vídeo publicado pelo Ministério Público do país na segunda (16). Em pouco mais de três minutos, Curruchiche trouxe novas acusações contra uma série de altos oficiais que, em anos anteriores, haviam atuado à frente da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma força-tarefa especial designada pela ONU para trabalhar junto ao MP guatemalteco na solução de crimes de colarinho branco. O discurso mirou principalmente figuras do próprio país, mas houve exceções: entre elas, destaque para o colombiano Iván Velásquez, que presidiu a comissão anticorrupção entre 2013 e 2019.
Hoje ministro da Defesa do governo de Gustavo Petro, Velásquez viu a menção a seu nome se tornar pivô de uma inesperada rusga diplomática entre os dois países. Dizendo não ter sido oficialmente notificado por quaisquer autoridades guatemaltecas – diferentemente de outros citados, ele foi ameaçado apenas por “medidas legais” não especificadas – o ministro rechaçou as acusações, afirmando que seu trabalho no país centro-americano “se realizou com total transparência e dentro do marco legal”. O governo de Petro saiu prontamente em defesa do chefe da pasta, prometendo, nas palavras do mandatário, que uma “ordem de captura” contra o ministro (que não chegou a acontecer) “jamais” seria aceita: “[Velásquez] demonstrou lutar contra a corrupção e não permitiremos que seja perseguido por ela”, disse. A ONU foi pelo mesmo caminho e mostrou “preocupação” diante das falas contra o ex-chefe da CICIG.
As novas denúncias feitas por procuradores guatemaltecos têm relação com um caso conhecido por impactar a política da região: escândalos ligados à empreiteira brasileira Odebrecht e seus subsequentes desdobramentos judiciais. Segundo a Feci, Velásquez teria sido conivente com acordos de delação (alegadamente irregulares) envolvendo ex-executivos brasileiros implicados numa investigação sobre pagamento de propina. Segundo alega o Ministério Público guatemalteco, a atuação da CICIG teria tomado um caminho político, indo contra seus próprios princípios de atuação independente – situação comum em outros desdobramentos jurídicos envolvendo a Odebrecht, tal como a própria Operação Lava Jato no Brasil.
A trama, no entanto, é mais densa. E não começou agora.
Ainda que em países como Brasil e Peru algumas investigações anticorrupção tenham tomado rumos nitidamente irregulares, o contexto guatemalteco é um pouco diferente, o que torna o legado da CICIG ainda mais controverso. Por um lado, cita-se o papel difuso da comissão – a exemplo de prisões preventivas em excesso, problemas com testemunhas e até a falha em promover avanços concretos para o sistema político local. Por outro, entidades internacionais enxergam a atuação de forma positiva. Além da ONU e da Human Rights Watch, organizações como a International Crisis Group ressaltam acertos da CICIG, citando melhorias para a segurança pública, como a criação de programa de proteção a testemunhas e mais controles sobre o uso de armas de fogo.
Não é o caso, por exemplo, da própria Lava Jato – que segundo a mesma ONU violou os direitos políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, talvez o exemplo mais notório dos desvios da megaoperação. Além disso, no caso da Guatemala, o lado que denuncia os eventuais abusos judiciais não conta com qualquer traço de credibilidade, sendo ele próprio alvo de denúncias da mesma natureza. Desde pelo menos 2021, o Ministério Público da Guatemala, sob a batuta da polêmica procuradora-geral María Consuelo Porras, tem protagonizado uma crise que levou à renúncia ou ao exílio de diversos membros do sistema judiciário guatemalteco, muitos sob ameaças. Alguns chegaram a receber proteção especial a pedido da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH).
A debandada geral de membros que supostamente lutavam contra a corrupção no país (numa relação de poderes bastante similar à atual intriga entre MP e CICIG) levou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a incluir o país centro-americano em uma lista de nações onde a entidade identifica abusos e violações sistemáticas. A pressão internacional também colocou a mira em Consuelo Porras e no presidente Alejandro Giammattei, que sempre enxergou na procuradora um ombro amigo (e inclusive foi partidário da renovação do mandato dela no ano passado). A mandachuva do MP também é acusada de blindar o presidente de escândalos de corrupção – embora ela negue.
A lista de desmandos da dupla vai além: Giammattei e Porras são acusados de tramar a favor da prisão do jornalista José Rubén Zamora, fundador e diretor do jornal El Periódico, de linha crítica ao governo (entenda mais no GIRO #143). O caso ocorreu em julho do ano passado e teve mais desdobramentos na última semana: na quinta (19), o advogado que representava Zamora foi preso, acusado de obstrução de justiça. Um segundo representante legal do jornalista também é procurado. Nos dois casos, a denúncia foi detalhada por… Rafael Curruchiche – o mesmo integrante do polêmico Ministério Público de Consuelo Porras que denunciou Iván Velásquez.
Esse caldo de disputas judiciais na Guatemala encontra ecos em um passado recente. A CICIG só foi oficialmente desmantelada em 2019, mas seu antigo chefe chegou a ter problemas com o poder público antes disso. Em 2017, Velásquez foi expulso e considerado persona non grata pelo governo do então presidente Jimmy Morales (2016-2020). O estranho timing, ao menos aos olhos da opinião pública, deu razão a Velásquez: a decisão de Morales só veio após o próprio presidente ser ligado a denúncias de corrupção por parte da CICIG. Nas ruas, a população pedia a renúncia e prisão do presidente, ao passo que a missão anticorrupção elevava seu status.
Em um tiroteio de múltiplas versões que agora atravessam as fronteiras da Guatemala, novos abusos seguem acontecendo sob os olhos da Justiça – alimentando não só a insegurança jurídica como a desconfiança no sistema político.
Começa 2023 e o GIRO segue atento ao que acontece na vizinhança. Neste ano, que tal juntar-se a nós?
Un sonido:
DESTAQUES
🇵🇪 Peru tem nova semana violenta e registra mais mortes em protestos – Pelo menos três pessoas morreram nesta semana em meio às manifestações contra o governo interino de Dina Boluarte – até o momento, há 53 civis e um policial entre as vítimas, além de quase 670 feridos. Duas pessoas foram mortas na cidade de Macusani, na região de Puno, mesma área onde outras 17 pessoas tiveram o mesmo destino em um único dia no início da semana passada (saiba mais no GIRO #164). Os atos também chegaram à capital na quinta (19), liderados por movimentos sociais e camponeses do interior do país. À noite, a polícia de Lima registrou um incêndio em um prédio próximo à Plaza San Martin. A presidenta Boluarte fez um discurso em rede nacional pouco depois, novamente negando qualquer possibilidade de renúncia e atestando que seu gabinete está “mais unido do que nunca”. Ela também exaltou policiais e disse que “atos de vandalismo não ficarão impunes”. Além de um basta à violência, manifestantes pedem o fim do governo interino e a antecipação das eleições gerais, marcadas para abril de 2024.
🇧🇴 Camacho seguirá preso – A Justiça boliviana decidiu, na quinta (19), que o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, deve seguir preso enquanto aguarda julgamento. Havia expectativa quanto a uma liberação do político, o mais proeminente líder opositor da ultradireita boliviana, após uma série de bloqueios em estradas e protestos cobrando sua soltura, mas o tribunal entendeu haver risco de fuga caso Camacho saísse da detenção preventiva – inicialmente, marcada para durar quatro meses a partir da captura, em dezembro. Eleito governador de seu próprio departamento em 2021 após uma frustrada campanha presidencial, Camacho tornou-se figura central nas mobilizações que culminaram com o golpe contra Evo Morales (2006-2019) dois anos mais cedo, e seu envolvimento na organização dos protestos na época é a principal razão por trás das acusações que ele agora enfrenta. A oposição ao atual governo alega que Camacho seria vítima de uma “perseguição política”. Via Reuters.
🇸🇻 El Salvador registra nova prisão no caso de promotor paraguaio executado – Outro país se junta à lista dos que se envolveram de alguma forma na trama transnacional em torno do assassinato do promotor paraguaio Marcelo Pecci, executado na Colômbia em maio do ano passado, após se destacar em “operações antimáfias” no próprio país (relembre o início das investigações no GIRO #135). Desta vez, foi El Salvador que prendeu uma cidadã colombiana acusada de envolvimento no crime: Margaret Chacón, que desembarcou em solo salvadorenho cerca de duas semanas após o crime, e viajou depois para vários países latino-americanos antes de regressar para a capital San Salvador. A captura foi confirmada na quarta (18), apenas dois dias após a Interpol emitir uma ordem exigindo sua prisão – junto com Chacón, foi preso um salvadorenho acusado de ajudá-la a se esconder no país. Após meses de marasmo, o caso voltou a avançar, com outros dois suspeitos presos na Colômbia no último domingo (15). Segundo as autoridades em El Salvador, Chacón será entregue à Justiça colombiana. Via Reuters.
🇲🇽 México passa a ter uma das leis antitabaco mais rígidas do mundo – Entrou em vigor no domingo (15) a nova legislação antitabagista do México, considerada uma das mais rigorosas do mundo. Agora, o fumo está inteiramente proibido em lugares públicos, o que inclui até mesmo parques e praias, em um endurecimento de restrições que haviam sido adotadas originalmente em 2008 e ainda permitiam áreas específicas para fumantes em ambientes fechados, além de não impor restrições em espaços abertos. Além do controle ao consumo de cigarro propriamente dito, a nova lei restringe ainda mais a publicidade a produtos fumígenos, que agora não podem ser expostos nem mesmo nos locais onde são vendidos. A medida foi elogiada por autoridades sanitárias e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), mas fumantes e críticos da medida apontam que uma regra tão rígida será de difícil aplicação e pode abrir margem para a fiscalização cobrar subornos para fazer vista grossa. No Jornada.
🇵🇷 Mesmo com problemas, Porto Rico quer aprofundar privatização da energia – Privatizar não resolveu os problemas de distribuição de energia na ilha (inclusive agravou a situação, como contamos no GIRO #150), mas o governo está pronto para ceder outro aspecto da eletricidade porto-riquenha em breve: na quinta (19), as autoridades energéticas locais confirmaram que vão aprovar um plano para a concessão, também, da geração de energia no território associado aos EUA. Por enquanto, porém, muito mistério ainda cerca a iniciativa, sem dar clareza exatamente sobre a empresa selecionada ou os valores envolvidos na negociação – um segredo que vem deixando muitos porto-riquenhos receosos com a qualidade do serviço no futuro, após as experiências frustradas dos últimos anos. Os dramas energéticos de Porto Rico, que já sofria com uma infraestrutura defasada e com pouca manutenção, tornaram-se ainda mais crônicos após o Furacão María devastar a rede elétrica da ilha em 2017. Via AP.
Un clic:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
O maior custo em alimentação saudável do mundo. É esse o cenário difícil e desigual em que vivem a América Latina e o Caribe, segundo um novo relatório das ONU sobre segurança alimentar e nutricional publicado na quarta (18). O estudo aponta que o gasto pessoal e diário de latino-americanos que desejem ter uma dieta saudável é de US$ 3,89 – 35 centavos de dólar acima da média mundial (US$ 3,54). A situação delicada se agrava entre países caribenhos, onde 52% dos habitantes não contam com uma renda que contemple os gastos, que também são mais altos ali se comparados à média regional: US$ 4,23 por dia. No total, mais de 22% do continente carece de acesso a uma rotina alimentar saudável, dados que aumentaram durante a pandemia de covid-19. No site da ONU.
ARGENTINA 🇦🇷
O mercado reagiu com dúvidas a um novo plano anunciado pelo ministro de Economia, Sergio Massa, na quarta-feira (18): ele quer recomprar antecipadamente cerca de US$ 1 bilhão da dívida externa do país, em títulos com vencimento em 2029 e 2030, em uma busca por reduzir os gastos de longo prazo. A recompra antecipada significa uma economia em potencial com o tempo, já que reduziria os custos hoje previstos para pagar os juros até o vencimento, mas analistas entendem que há um obstáculo mais imediato para concretizar o projeto sem sustos: as baixas reservas de dólares disponíveis no Banco Central, o que tornaria a estratégia arriscada diante da falta de liquidez para outros gastos inesperados que venham a surgir nos próximos meses. Segundo uma corretora local, o BC argentino só contaria com US$ 6 bilhões atualmente. Apesar dos comentários em tom de incerteza, o Ministério não deu mais detalhes sobre a viabilidade da operação. No Valor.
Parece cena de comédia trágica, mas aconteceu durante a semana na província do Chaco, na fronteira com o Paraguai: uma quadrilha de cinco pessoas tentou furtar um avião e levá-lo embora voando, mas sofreu uma pane seca imediatamente após a decolagem – a aeronave caiu e foi consumida em chamas, matando todos os criminosos no acidente. Uma das linhas de investigação aponta que o sistema de combustível do Cessna 206, difícil de operar por pilotos não familiarizados com o modelo, teria provocado o acidente em plena fuga. Por conta do incêndio, as autoridades ainda não conseguiram identificar os corpos dos autores do crime nem traçar uma teoria sobre as motivações do furto do avião cujo valor é estimado em US$ 1,5 milhão, mas objetos pessoais encontrados nos destroços – incluindo cédulas de guaranis e um gorro do time de futebol Cerro Porteño – fazem a polícia suspeitar de que o grupo tenha vindo do lado paraguaio da fronteira. No UOL.
CHILE 🇨🇱
O governo chileno rejeitou, na quarta (18), a instalação de um novo projeto de mineração alegando que o investimento não seria capaz de contrabalançar os impactos ambientais causados pela operação. A proposta do projeto de Dominga incluía, além da extração de ferro e cobre, também uma operação portuária na região nortenha de La Higuera, e todo o complexo estava orçado em US$ 2,5 bilhões. No entanto, segundo o Ministério do Meio Ambiente, a atividade ameaçaria um arquipélago intocado que também é hábitat para cerca de 80% da população mundial de pinguins-de-humboldt. O projeto já havia sido rejeitado originalmente em 2017, durante o segundo governo de Michelle Bachelet (2014-2018), mas a Suprema Corte havia ordenado uma reavaliação, que agora foi concluída. A ministra de Meio Ambiente, Maisa Rojas, qualificou a decisão de “robusta” e “baseada em evidências técnicas”. Via AFP.
Um protesto de mau gosto chocou os transeuntes em Santiago na manhã desta sexta-feira (20): os responsáveis por um zoológico na cidade de Los Ángeles, a cerca de 470 km ao sul da capital, posicionaram um leão morto em frente ao palácio presidencial de La Moneda, no coração santiaguino, sob uma faixa que bradava “o governo mata animais”. De acordo com o zoológico, o animal morreu durante uma inspeção de rotina das autoridades governamentais – que, para verificar os microchips de identificação dos leões, precisam anestesiá-los. A sedação teria sido a causa do óbito, o que levou ao protesto, alegando que a morte foi consequência da inépcia dos fiscais, que seriam “indicações políticas”. A cena grotesca em Santiago, porém, fez muitos chilenos pedirem o fechamento do zoológico por considerar um indício de um local que não preza pela dignidade animal. O Serviço Agropecuário do governo chileno, responsável pela vistoria, contestou a versão dos donos e afirmou, em nota, que a anestesia foi realizada pelos próprios funcionários do zoológico. No T13.
COLÔMBIA 🇨🇴
Dias após o presidente Gustavo Petro ser desmentido pela guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) sobre a concretização de um acordo de paz (leia mais no GIRO #163), o que estremeceu as relações, os dois lados voltaram a se encontrar para retomar as conversas nesta terça (17), em Caracas. Na mesa de diálogo estabelecida na capital venezuelana, os dois lados falaram da necessidade de “superar a crise” – como escreveu o ELN no Twitter – e criar uma “paz real e duradoura” – nas palavras do embaixador colombiano na Venezuela, Armando Benedetti. Via EFE.
No Fórum de Davos, evento que reúne os principais atores da economia global, Gustavo Petro não poupou palavras para cobrar uma mudança drástica diante da crise climática: “se o capitalismo não é capaz [de mudar o cenário], ou a humanidade se extingue com o capitalismo ou a humanidade supera o capitalismo para viver no planeta”, asseverou o mandatário, em painel realizado na quarta-feira (18). Petro acrescentou que, se quisessem prosperar, as grandes economias deveriam zerar emissões de carbono, abandonar combustíveis fósseis, trocar as dívidas públicas dos países subdesenvolvidos por ação climática e tornar vinculantes as decisões das COP do clima, “da mesma forma que ocorre com os tratados de livre comércio”. No Diálogo Chino.
Un nombre:
Marcha de los Cuatro Suyos – Mobilização popular em Lima no ano 2000 liderada principalmente por Alejandro Toledo, um dos principais referentes da oposição à ditadura de Alberto Fujimori. O nome da mobilização faz referência aos quatro pontos cardeais do império incaico. Naquele ano, Fujimori recebia a faixa para o seu mandato sob diversas acusações de fraude eleitoral, o que deu início aos protestos. As manifestações duraram três dias e se intensificaram em 28/7, Dia da Independência do país. Os atos foram integrados por setores campesinos e movimentos sociais antifujimoristas, ambos alvos de diversas violações policiais. Pelo menos 80 pessoas ficaram feridas. Fujimori acabaria abandonando o país – e a Presidência – em novembro daquele mesmo ano. Mais de 20 anos depois, uma nova manifestação também chamada de “Marcha de los Cuatro Suyos” chega a Lima, exigindo a renúncia da atual presidenta Dina Boluarte.
COSTA RICA 🇨🇷
Local de travessia crescente de migrantes da América Central rumo aos EUA, a Costa Rica agora quer ajuda internacional para lidar com uma crise da qual é vítima indireta. Na Suíça para o Fórum Econômico Mundial, o presidente Rodrigo Chaves disse que o atendimento aos migrantes vem custando cerca de US$ 300 milhões ao ano para o Tesouro em San José, argumentando que “não é justo” que o pequeno país arque com tudo sozinho. A Costa Rica já havia pedido auxílio no ano passado, após revelar que há uma fila de 200 mil pedidos de refúgio acumulados no país – para além das pessoas que apenas cruzam seu território –, o que na época rendeu uma (tímida) ajuda de US$ 2,5 milhões por parte da União Europeia. Em La República.
CUBA 🇨🇺
Apesar da propaganda negativa, Cuba está bombando nos aplicativos de viagens: o popular TripAdvisor, baseando-se em votação dos próprios usuários, revelou na quinta-feira (19) os destinos “em alta” para o turismo em 2023, e colocou a ilha caribenha em primeiro lugar – destacando não só as praias, mas também a arquitetura de Havana e a possibilidade de conhecer locais que preservam o legado colonial espanhol, como a cidade de Trinidad, considerada Patrimônio Mundial pela Unesco. Mas, se a retomada econômica pós-restrições da pandemia vem colocando Cuba como um destino inesperadamente atrativo para os viajantes, a situação segue complicada para os próprios cidadãos que lidaram com sucessivas crises nos últimos anos: um levantamento do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) para a Folha de São Paulo indicou que 2022 foi o ano com mais pedidos de refúgio por parte de cubanos ao Brasil desde o início dos registros – ao todo, 4.241 solicitações –, uma situação que também vem se repetindo em outros países da América Latina.
EQUADOR 🇪🇨
Já chegam a quase um mês os protestos convocados por indígenas da etnia waorani na comunidade amazônica de Dícaro, uma das oito aldeias situadas em pontos de exploração de petróleo na região. As manifestações começaram no final do último mês diante de uma mudança de comando na operação, agora sob controle da estatal Petroecuador. Esses grupos originários protestam contra a crescente atividade extrativista na região – alegando violação de direitos fundamentais de povos nativos – e querem uma conversa com o governo para chegar a novos acordos, disseram representantes na sexta (20). Os pontos sensíveis ficam no Parque Nacional Yasuní, um conhecido palco de disputas entre grupos favoráveis à conservação e outros defensores da exploração petrolífera. Além dos conflitos históricos, que há algumas décadas tiraram os waorani da condição de povo isolado, destaca-se a luta recente diante de promessas governamentais que não foram cumpridas. Via EFE.
HAITI 🇭🇹
Ele promete muito, mas não entrega jamais. A longa demora do primeiro-ministro Ariel Henry em apresentar um caminho para a realização de eleições vem provocando repúdio crescente entre políticos e imprensa no Haiti. A promessa de convocação às urnas é repetida desde que Henry assumiu o poder máximo do país – em uma situação de crise institucional total, na sequência do assassinato do então presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021. O movimento de insatisfação com o premiê se intensifica neste início de 2023, após o país chegar à condição simbólica de não ter mais qualquer representante eleito em nenhuma parte do poder federal – em razão do término do mandato dos últimos senadores eleitos. Em um editorial muito crítico a Henry publicado na terça-feira (17), o tradicional jornal Le Nouvelliste questiona quando, afinal, o governo pretende colocar na “ordem do dia” um calendário eleitoral (que incluiria até uma reforma constitucional), e se existe algum “plano B” caso a comunidade internacional não ceda tropas para ajudar a restaurar a ordem interna, abalada pelo poder cada vez maior das gangues – há meses, Henry sugeriu a necessidade de uma nova intervenção de forças militares estrangeiras, mas nada avançou nesse sentido.
HONDURAS 🇭🇳
As notícias das mortes de dois ativistas de Guapinol, ao norte hondurenho, têm rodado o mundo. Aly Dominguez, 38, e Jairo Bonilla, 28, foram assassinados por homens armados no último dia 7, quando retornavam para suas casas. Após a ONU jogar luz sobre o crime e cobrar respostas, agora são as famílias das vítimas que usam os holofotes para denunciar a situação de ameaça em que vivem constantemente. A presidenta Xiomara Castro, que tomou posse ano passado, prometeu dar fim ao sangrento conflito no campo ligado à questão ambiental – sob as bênçãos de Castro, outros ativistas presos na mesma região foram liberados em 2022. Os pedidos de ajuda, porém, não devem parar. Na Al Jazeera.
Dale un vistazo:
🎉 Festival da Integração Cultural dos Povos da América Latina (SP) – Pode marcar na agenda: domingo tem festival de dança e música da América Latina, com 11 atrações dos Andes ao Caribe em São Paulo. Os visitantes também poderão experimentar os sabores típicos da gastronomia peruana e boliviana. A entrada é gratuita.
📅 Domingo (22), das 11 às 22 horas, no Largo da Batata, Av. Faria Lima – Pinheiros, São Paulo (em frente ao metrô Faria Lima).
MÉXICO 🇲🇽
Diante do “tormento psicológico” que estaria sofrendo na prisão nos EUA, onde cumpre prisão perpétua desde 2019, o notório narcotraficante Joaquín “El Chapo” Guzmán pediu uma ajuda inusitada… ao presidente do México. Segundo representantes legais de “Chapo”, ele teria enviado uma mensagem de desespero a López Obrador na terça (17), de olho em uma possível transferência que lhe permitisse cumprir sua pena no país natal. Além das denúncias de que o preso sequer teria visto a luz do sol desde que conheceu a sentença, pessoas próximas ao antigo chefão do narco alegam que a situação é crítica “como a de quem nada no mar, está se afogando e procura um pedaço de madeira para se agarrar”. Para a fúria da oposição, AMLO disse na quarta (18) que não descarta tal mudança, sobretudo se for constatada violação de direitos humanos. No Infobae.
O Pumas, clube de futebol da Cidade do México, anunciou na sexta (20) a demissão por justa causa do lateral brasileiro Daniel Alves. A decisão foi confirmada após a notícia de que o jogador de 39 anos, que defendeu o Brasil na Copa do Mundo de 2022, foi preso preventivamente na Espanha, acusado de estuprar uma mulher em uma casa noturna. Jogador com mais títulos na história do futebol, Alves foi apresentado com grande algazarra em julho do ano passado como uma das maiores estrelas a já terem atuado no México. O fim, porém, foi em desgraça: “o clube reitera seu compromisso de não tolerar atos de nenhum integrante da nossa instituição que atentem contra o espírito universitário e seus valores”, disse a equipe, historicamente vinculada à tradicional Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). No GE.
NICARÁGUA 🇳🇮
Mais uma vez, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) pediu a liberação de pelo menos 11 pessoas consideradas presas políticas pelo governo do presidente Daniel Ortega – seguindo uma resolução, emitida no final do ano passado, que já jogava luz sobre a situação delicada de pessoas detidas arbitrariamente pelo poder em Manágua. O número total de presos em condições controversas – ou “precisamente por sua identificação ou percepção como opositores ou críticos do atual governo”, nas palavras do presidente do órgão judicial Ricardo Pérez Manrique – já passa de 100 e também inclui antigos guerrilheiros aliados de Ortega durante a Revolução Sandinista de 1979. Ainda segundo o pedido desta semana, Manrique destaca o “contexto fortemente hostil e repressivo à liberdade de expressão” vivido no país centro-americano. No Jota.
PANAMÁ 🇵🇦
Figurinhas carimbadas no noticiário panamenho, dois filhos do ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014) vão terminar de cumprir suas penas nos Estados Unidos na próxima semana – mas ainda têm contas pendentes no próprio país. A justiça do Panamá avisou, na segunda (16), que os irmãos Luis Enrique e Ricardo Alberto serão imediatamente detidos se retornarem para casa, após negar a suspensão da ordem de detenção contra eles. Os dois foram presos nos EUA por receberem subornos milionários da construtora brasileira Odebrecht, mas seguem sendo processados no país de origem pelo mesmo caso e outros escândalos envolvendo contratos públicos no governo do pai. Via AFP.
PARAGUAI 🇵🇾
Dois caminhões com placas do Paraguai foram interceptados pela Polícia Militar do Paraná na quinta (19), rendendo a maior apreensão de armas de fogo já registrada pela corporação: ao todo, 161 armas – entre pistolas, rifles, escopetas, fuzis e revólveres – foram confiscados aos contrabandistas nas cidades de Iporã e Perobal, escondidos em fundos falsos sob cargas de arroz. As autoridades paranaenses celebraram a operação e disseram que solicitariam a distribuição do armamento aos próprios órgãos de segurança pública, embora sem dar detalhes sobre uma eventual operação para desbaratar as raízes do contrabando ou o possível destino das armas. Os dois motoristas foram presos em flagrante. No G1.
Una palabra:
Alasitas – Figuras em miniatura usadas para projetar aquilo que a pessoa deseja para o ano que começa. São comuns as mini casas ou os bonecos de Ekeko, personagem da tradição aimará conhecido como “deus da abundância”. Alasita é um termo de origem aimará que significa “comprar”. Todos os anos, no dia 24/1, a tradição é celebrada na Bolívia e pelas comunidades de migrantes fora do país.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O desabamento de um prédio na cidade de La Vega, a 116 km da capital Santo Domingo, causou comoção no país, após a confirmação de uma vítima fatal nos escombros. A estrutura abrigava uma loja de móveis. O desastre, ocorrido na manhã da quarta-feira (18), foi capturado por câmeras de segurança – quatro funcionários foram resgatados pouco após o edifício ceder e outra foi retirada no início da noite, horas após a queda. Yasiris Joaquín, de 31 anos, foi encontrada sem vida. Os proprietários do imóvel, que passava por reforma, alegam não saber o que causou o desabamento. Diante da repercussão, o presidente Luis Abinader disse que cobraria investigações. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
Alfredo Zitarrosa (1936-1989), lendário cantor e compositor uruguaio, agora está eternizado no céu – quase literalmente. Na terça (17), no 34º aniversário de falecimento do músico, os responsáveis pelo acervo de Zitarrosa receberam a confirmação da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) de que o asteroide 1988 C4 passaria a carregar o nome do poeta montevideano. De acordo com os idealizadores da homenagem, era difícil que a proposta fosse rejeitada, uma vez comprovada aos gringos a importância do nome homenageado. Segundo um levantamento independente, o asteroide Zitarrosa é o 28º com nome relacionado ao Uruguai – a maioria deles dedicados a astrônomos do país, mas também havendo corpos celestes com nomes como “Montevideo”, “Uruguay” e “Gardel”, além do mais novo integrante da lista. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
O morde e assopra de sempre: se no final de 2022 houve sinais de que o governo de Nicolás Maduro e a oposição iriam se aproximar, os primeiros dias de 2023 mostram o contrário. Alguns dias após o chavismo ordenar a prisão de um grupo de lideranças opositoras (que este ano passaram a substituir Juan Guaidó à frente do comando do bloco adversário), novos passos para trás: na terça (17), nomes que lideram o lado governista das negociações políticas disseram que “não há razão” para que as partes sigam num diálogo antes que sejam descongelados fundos venezuelanos em bancos do exterior. Esses ativos, que devem ser usados para financiar um plano de ajuda humanitária no país, são alvo de uma disputa antiga: de um lado, o governo diz que segue banido de tomar decisões a respeito; de outro, oposicionistas, que têm controle sobre alguns bens, alegam limitações. O imbróglio não deve acabar tão cedo. Via Reuters.
Revertendo o rompimento total de relações dos anos de Jair Bolsonaro (2019-2022), o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está muito perto de reabrir a embaixada brasileira em Caracas. Uma delegação diplomática chegou à capital caribenha na quarta (18) e foi recebida por autoridades da chancelaria venezuelana. Agora, as duas partes devem tratar do reinício oficial das atividades nos próximos dias a fim de “normalizar as relações bilaterais”, segundo a pasta. No caso brasileiro, a missão foi liderada pelo embaixador e encarregado de negócios do país em Caracas, Flávio Macieira. No G1.
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