🇻🇪 Candidato ‘surpresa’ e crises diplomáticas sacodem Venezuela
Oposição denuncia obstrução ao registrar candidatura e opta por nome provisório para eleições de julho; governo Maduro vê coro de críticas aumentar em torno do processo eleitoral, até da esquerda
O nome de Edmundo González Urrutia pode soar familiar entre integrantes do círculo diplomático latino-americano pelo tempo em que o internacionalista serviu como embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia, entre os anos 1990 e 2000, ou pelos cargos-chave assumidos na Mesa de Unidade Democrática (MUD) – iniciativa de oposição hoje fortalecida e amalgamada em um bloco partidário que tenta fazer frente ao chavismo nas eleições presidenciais de 28/7.
Mas foi só na terça-feira (26) que o nome do diplomata começou a despertar curiosidade no contexto da disputa deste ano: de forma provisória, González Urrutia foi inscrito pela plataforma oposicionista como o candidato presidencial da coalizão na votação de julho.
Segundo os adversários do governo, a decisão foi tomada às pressas para “preservar o exercício dos direitos políticos” do partido até ser possível registrar a candidatura pretendida – ou seja, um nome-tampão enquanto tentam desembaraçar a burocracia. A escolha foi confirmada alguns dias após a Plataforma Unitária Democrática (PUD), de oposição, denunciar que havia sido impedida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de inscrever a candidatura da filósofa Corina Yoris, ela própria um nome substituto da inabilitada María Corina Machado. O grupo alega falhas técnicas no site do próprio CNE – o órgão nega.
Após uma onda de críticas, os dirigentes da entidade eleitoral deram uma colher de sopa: presidente do CNE, Elvis Amoroso autorizou a prorrogação do prazo de inscrição (que vencia na segunda-feira, dia 25) por mais 12 horas e confirmou Urrutia como o representante-tampão da PUD ao lado de outros 12 presidenciáveis.
A lista de candidatos conta com o nome de Nicolás Maduro, favorito a buscar um terceiro mandato, e também outro não tão esperado: Manuel Rosales, governador do estado de Zulia e membro da aliança oposicionista. Sem avisar os demais, Rosales se candidatou de última hora alegando temer que a oposição ficasse sem ninguém em função dos impasses. Mas sua cartada, jogada na mesa à margem do principal bloco antichavista, já é vista por membros da própria PUD como uma espécie de “traição” ao objetivo inicial do grupo: o de apoiar apenas um candidato contra Maduro para não fragmentar o voto opositor.
A crise, no entanto, é mais longa – e esse objetivo é cada vez mais remoto.
Isso porque, antes do diplomata, a própria Corina Yoris já era um nome alternativo – até ter seu registro obstruído. A intelectual de 80 anos só foi designada pela PUD após a verdadeira representante do grupo, a ex-deputada de direita María Corina Machado, escolhida por parte dos eleitores em uma espécie de primárias da oposição, ser impedida de concorrer a cargos públicos por 15 anos. Essa inabilitação foi confirmada pelas altas cortes no início do ano e foi recentemente ratificada pelo CNE.
Desde então, a oficialmente impedida Corina Machado seguiu se dizendo vítima de “perseguição” e atacando os chavistas. Já a PUD, obviamente enfraquecida por não poder contar nem com sua principal representante e nem com a segunda, resolveu apostar em González Urrutia como uma espécie de “garantia”: segundo o calendário eleitoral, um partido poderia trocar seu candidato até 10 dias antes da votação, o que daria ao bloco opositor, além da certeza de pelo menos participar da votação de julho, uma certa margem de manobra – e, principalmente, tempo para pensar na melhor estratégia eleitoral ante os últimos acontecimentos.
Já autoridades chavistas negam que esse formato de troca seja possível, indicando que devem recorrer aos tribunais caso haja uma substituição tardia.
Enquanto isso, da fronteira para fora, as críticas ao governo chavista e às decisões de órgãos venezuelanos têm encontrado cada vez mais eco. Até mesmo em governos tocados pela esquerda, tradicionalmente simpáticos ao chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil de Lula. Em nota publicada na terça (26), o Itamaraty disse acompanhar tudo “com expectativa e preocupação”, argumentando que impedimentos de registro como os relatados pela PUD “não são compatíveis” com acordos internacionais traçados entre governo e oposição na Venezuela. O chavismo garante que respeitou as tratativas.
Ainda que a nota termine reforçando o repúdio do Brasil a “quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo”, numa espécie de assopra após uma mordida inédita, a declaração do Ministério foi a mais dura até o momento. Em resposta ao posicionamento do governo Lula, Caracas até agradeceu a fala sobre as sanções, mas disse “exigir o mais estrito respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e na nossa democracia” na medida em que a Venezuela “em nenhuma hipótese emite nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem” no Brasil, rebateu a chancelaria venezuelana.
A parte mais dura ficou para o começo: o texto chama a posição do Brasil de “cinzenta e intrometida”, dizendo que o documento “parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos” – uma reação similar foi vista em resposta às críticas da Colômbia.
A semana foi tão insana que ainda deu tempo para uma outra crise diplomática, dessa vez entre os governos de Venezuela e Argentina.
Enquanto Javier Milei enfrentava em casa imensos protestos por sua relativização aos horrores da ditadura (saiba mais nos destaques desta edição), seu governo entrou em confronto com o de seu homólogo em Caracas, após Buenos Aires confirmar que seis cidadãos venezuelanos estariam abrigados na embaixada argentina na capital venezuelana – supostamente fugindo do governo e em busca de asilo.
Os tais opositores, que seriam ligados à Plataforma Unitária (ainda que a filiação deles não tenha sido confirmada), denunciaram cortes de energia elétrica e água na sede diplomática – um rumor que também não foi comprovado. De toda forma, a chancelaria platina aproveitou para condenar as ações do governo venezuelano; a imprensa local também relatou o envio de agentes a Caracas para reforçar a segurança da sede diplomática argentina.
A escalada da crise entre Milei e Maduro já era esperada após a troca de governo em Buenos Aires – e não deve se resolver enquanto os dois ocuparem seus cargos simultaneamente.
Já para o processo eleitoral venezuelano, as previsões são bem mais nebulosas: com María Corina Machado fora do jogo, a coalizão que tenta unir forças para enfrentar os governistas tem poucas opções, e nenhuma delas parece satisfazer inteiramente os desejos do bloco: no momento, resta-lhe apenas insistir no diplomata registrado, apoiar Rosales ou tentar emplacar um outro nome enquanto o prazo permitir.
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DESTAQUES
🇦🇷 Milei vira alvo de protestos ao tentar ‘reescrever’ memória argentina à força em aniversário do golpe militar – Quem já esteve em Buenos Aires no final do mês do março, sabe: em todo 24/3, dia que marca o aniversário do golpe militar que instaurou a última ditadura nos vizinhos entre 1976 e 1983, não é incomum ver manifestações e atos de organizações civis relembrando e condenando um dos capítulos mais macabros da história do país. Em 2024, a coisa mudou: pela primeira vez sob a extrema direita desde a própria ditadura, o que se viu nas ruas da capital – e em outras cidades menores pelo país – foram protestos contra o governo de Javier Milei, que de forma nada surpreendente tentou vender, de forma institucional, uma “outra versão” dos anos de chumbo. O vídeo infame divulgado pelo governo traz o depoimento da filha de um militar morto por guerrilheiros de esquerda e outras figuras que questionam a dimensão das atrocidades cometidas pela ditadura argentina, incluindo o número de mortos e desaparecidos, oscilando entre o negacionismo e a batida teoria dos dois demônios. Porém, enquanto Milei tenta se deslocar da realidade, alguns de seus simpatizantes tentam reeditar esses mesmos episódios macabros da história argentina: nos últimos dias, uma integrante de uma organização de filhos de desaparecidos políticos denunciou ter sido atacada e violentada por militantes de extrema direita enquanto voltava para casa. Os homens teriam amordaçado, ameaçado de morte e abusado sexualmente dela antes de roubar seus documentos de trabalho e vandalizar a casa. Nas paredes da residência, eles também escreveram “ñoqui” (leia em una expresión) e “¡Viva la libertad, carajo!”, slogan de campanha de Milei.
🇨🇱 Boric cumpre promessa e Chile abre 26 jazidas de lítio para empresas privadas – O governo de Gabriel Boric enfim anunciou, na terça (26), quais reservas de lítio serão abertas para o investimento privado, dando mais transparência a um projeto anunciado no ano passado. A partir de agora, autoridades devem analisar projetos de exploração da área entre abril e julho, até definir quem assume quais zonas – mesmo admitindo que talvez nem todas as reservas atraiam interessados, o Chile espera que a entrada de investidores privados faça o país dobrar sua produção do recurso, fundamental para a produção de baterias utilizadas em veículos elétricos, entre outras aplicações. Ao todo, 26 desertos de sal onde o lítio pode ser extraído foram abertos para concessões, com o Estado mantendo o controle sobre duas das jazidas consideradas mais valiosas, no Atacama e em Maricunga. Em La Tercera.
🇨🇴 Colômbia expulsa diplomatas argentinos por insultos de Milei a Petro, que recebe apoio de AMLO – Após o presidente argentino Javier Milei chamar seu homólogo colombiano de “terrorista” durante uma entrevista, Gustavo Petro ordenou a expulsão de diplomatas argentinos em Bogotá, condenando na quarta-feira (27) por meio de sua chancelaria expressões que chamou de “degradantes”. O líder colombiano acusou o libertário de “deteriorar as relações históricas e fraternas” entre os dois países, lembrando que essa não é a primeira vez que vira alvo de insultos por parte do novo comandante da Casa Rosada – em janeiro, Milei classificou Petro de “comunista assassino”, o que também gerou repúdio por parte da diplomacia cafetera. Petro teve apoio: quem saiu em defesa do presidente ofendido foi Andrés Manuel López Obrador, líder mexicano que também foi tachado de “ignorante” por Milei durante suas falas à CNN: “Você [Milei] tem razão: ainda não entendo como os argentinos, sendo tão inteligentes, votaram em alguém que não é correto, que despreza o povo e que ousou acusar seu conterrâneo [Papa] Francisco de ser ‘comunista’ e ‘representante do maligno’, quando se trata do Papa mais cristão e defensor dos pobres que já conheci ou de quem ouvi falar”, tuitou AMLO – que também lembrou da vez em que chamou Milei carinhosamente de “facho conservador”.
🇭🇹 Conselho de Transição divulga primeira nota oficial, mas segue sem ser instalado oficialmente – O órgão ainda não está 100% constituído, mas agora o “Conselho Presidencial de Transição” – formado como condição para a renúncia do premiê Ariel Henry – finalmente começa a ganhar uma cara de algo que existe. Isso porque, na quarta (27), o grupo emitiu sua primeira nota oficial, prometendo (como todos prometem há anos) “recolocar o Haiti no caminho para a legitimidade democrática, a estabilidade e a dignidade”. O documento tentou tranquilizar a população após uma série de notícias sugerindo que o conselho podia nascer já inviável, com discordâncias sobre sua composição e ameaças de morte impedindo o estabelecimento do órgão, um processo que avança a passos de cágado. Com uma nota oficial, mas ainda sem qualquer ação concreta, seguem indefinidos os prazos para o conselho efetivamente começar a atuar, bem como a possível chegada de uma missão estrangeira para ajudar a pacificar o país ou a realização de eleições – que haviam ganhado um suposto prazo, para o segundo semestre de 2025, nos últimos dias de Henry, mas cuja viabilidade segue em dúvida. O Haiti não tem mais qualquer representante eleito ocupando cargo em nível nacional, não vai às urnas desde 2016 e está sem presidente desde 2021, quando Jovenel Moïse foi assassinado, com o poder ficando nas mãos do primeiro-ministro Ariel Henry – que, neste momento, segue impedido de retornar ao país e já não manda mais em nada, embora oficialmente ainda ocupe o cargo (ele prometeu renunciar tão logo o conselho estivesse empossado, o que ainda não aconteceu para valer). Via AP.
🇲🇽 México empilha candidatos mortos a menos de três meses de eleições ‘decididas’ – Virtualmente, as eleições presidenciais mexicanas, que acontecem em 2/6 de forma simultânea às votações legislativa, estadual e municipal, estão decididas: com quase 60% das intenções de voto e 24 pontos percentuais de distância para sua adversária, a ex-prefeita da capital, Claudia Sheinbaum, só não será a primeira mulher presidenta da história do México se os porcos voarem. A vitória da candidata do governista Morena é ainda mais incontornável considerando que não há segundo turno por lá – quem tiver mais votos, independentemente da porcentagem, vence. Mas, se isso está bem claro no horizonte eleitoral, o que segue incerto é de que forma o país chega à votação com um número preocupante de candidatos assassinados: segundo um levantamento do instituto Laboratorio Electoral, são pelo menos 33 políticos mortos de julho a fevereiro, com 28 vítimas oficialmente filiadas a um partido político. É justamente o Morena com o maior número de representantes mortos no atual ciclo eleitoral (11). O número aumentou no sábado (23) com a balacera (com grandes indícios de estar ligada ao conflito narco) que matou o morenista Jaime González, que buscava chegar à prefeitura da cidade de Acatzingo, no estado de Puebla. Apesar dos números atuais, nada se compara ao ciclo anterior, que acabou com a vitória de Andrés Manuel López Obrador: o mesmo instituto mapeou 145 mortes “ligadas ao processo eleitoral” entre 2017 e 2018. Até aqui, pelo menos 99 candidatos já solicitaram proteção por temor de entrar na lista.
Un baile:
MAIS NOTÍCIAS
REGIÃO 🌎
O colapso de uma ponte em Baltimore, nos EUA, após ser atingida por um navio, rendeu mais do que um vídeo chocante nas redes – também foi uma tragédia com perda de vidas humanas que afetou em particular as comunidades latinas residentes na área. Pelo menos quatro pessoas que trabalhavam na ponte no momento da queda seguiam desaparecidas até o fechamento desta edição e eram dadas como mortas. Pelas informações disponíveis até o momento, todos eram trabalhadores de construção que faziam seu turno quando o barco atingiu a estrutura – eram imigrantes latino-americanos que subiram o mapa em busca de melhores oportunidades. Os governos de El Salvador, Guatemala, Honduras e México confirmaram que havia cidadãos de seus países entre os desaparecidos. Via AP.
BOLÍVIA 🇧🇴
O Ministério Público apresentou, na quinta (28), denúncia contra dois sacerdotes no marco de uma investigação por casos de pedofilia cometidos por membros da Igreja Católica no país. O processo começou a se desenrolar no ano passado, após vir a público o diário do jesuíta espanhol Alfonso “Pica” Pedrajas, em que ele confessava, ao longo de quase 400 páginas, ter abusado de pelo menos 85 menores durante sua missão na Bolívia, entre 1983 e 1997. Pedrajas morreu impune em 2009, mas agora as autoridades da nação andina buscam responsabilizar religiosos que ocupavam cargos de comando na Companhia de Jesus durante esse período. “Para cada perpetrador há cinco superiores, com altos cargos, que conheciam esses fatos”, afirmou Wilder Ernesto Flores Jaldín, representante da associação de sobreviventes dos abusos sexuais, insistindo que o MP deve seguir os trabalhos para chegar a mais jesuítas que poderiam ter impedido as violações, mas lavaram as mãos. Em El Deber.
COSTA RICA 🇨🇷
Já são 41 as investigações abertas pelo Ministério Público contra o cada vez mais polêmico presidente Rodrigo Chaves, uma média de quase duas por mês desde que ele tomou posse, em maio de 2022. O levantamento foi feito pelo jornal El Financiero, após o MP dar início a mais um processo contra o mandatário – desta vez, por suposto abuso de autoridade contra a deputada Vanessa Castro, que alega ter sofrido prejuízos profissionais após Chaves mexer os pauzinhos para sabotá-la. Nas 41 investigações, algumas das quais não foram adiante, o presidente é questionado por uma série de supostos crimes além do abuso de autoridade, incluindo “tráfico de influência, desobediência [à justiça], prevaricação, descumprimento de deveres e fraude contra a Fazenda”, resume o Financiero.
CUBA 🇨🇺
Ainda o rescaldo dos protestos registrados em Santiago de Cuba, segunda maior cidade do país, no último dia 17. Reclamando da escassez de alimentos e dos constantes apagões, cubanos se dividem entre aqueles insatisfeitos com o governo e os que tentam sair da crise dentro do sistema, reconhecendo o impacto das sanções estadunidenses. A matéria da Reuters traz relatos de manifestantes que foram às ruas na mais recente mobilização do tipo, e pondera o simbolismo de protestos em Santiago, uma região considerada “berço” da Revolução por ter sido palco das primeiras batalhas do grupo liderado por Fidel Castro, em 1953.
Una expresión:
Ñoqui – Versão castelhana do nhoque que comemos no Brasil, o termo ñoqui nos países platinos, além de dar nome ao mesmo tipo de massa, também é usado como ofensa para classificar pessoas, em sua maioria ocupantes de cargos públicos, que recebem salários sem trabalhar – algo entre o “encostado” e o “funcionário fantasma” no Brasil. No Uruguai e na Argentina, também é costume consumir o prato sempre no dia 29 de cada mês para atrair fortuna e prosperidade. A superstição trazida às Américas pelos migrantes italianos homenageia a lenda de São Pantaleão, que nesse dia teria trazido fartura a uma família de campesinos que lhe deu abrigo e comida. A famosa data também é dia de pagamento, quando os ñoquis recebem seu salário sem ter trabalhado.
EQUADOR 🇪🇨
Quase oito meses após o assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio, em plena campanha eleitoral, um novo crime político voltou a sacudir o Equador no domingo (24): Brigitte García, prefeita do cantão de San Vicente com apenas 26 anos, foi encontrada morta a tiros em um veículo, ao lado do corpo também sem vida do chefe de comunicação de seu gabinete, Jairo Loor. Formada em enfermagem, García chegou ao governo de San Vicente – município de 25 mil habitantes – há apenas 10 meses, convertendo-se na ocasião na prefeita mais jovem do país, pelo partido Revolução Cidadã, do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). A motivação exata do crime ainda não havia sido confirmada pelas autoridades até o fechamento desta edição, mas não se descarta – como de costume nessas situações – um envolvimento de figuras ligadas ao narcotráfico, que domina a região. Na BBC.
EL SALVADOR 🇸🇻
Em nova demonstração de força na sua cruzada contra as pandillas, o governo de Nayib Bukele reagiu a dois homicídios no departamento de Chalatenango destacando 6 mil efetivos da polícia e do Exército para varrer a zona, ao longo da semana. O próprio presidente afirmou, nas redes sociais, que os suspeitos já haviam sido detidos pouco após a chegada dos agentes à região. El Salvador completou, na quarta-feira (27), dois anos inteiros sob regime de exceção, decretado após uma onda de homicídios em 2022, que abriu caminho para a atual política de guerra total e encarceramento massivo de supostos membros de gangues – que, ao mesmo tempo em que reduz os índices de violência, também vem acompanhada de inúmeras denúncias de arbitrariedades contra inocentes. Na teleSUR.
GUATEMALA 🇬🇹
De esquerda, sim, mas bem distante da linha diplomática de Cuba, Venezuela e Nicarágua (o trio de eternos sancionados pelos EUA): em um claro aceno ao establishment político ocidental, o presidente Bernardo Arévalo esteve na segunda (25) na Casa Branca para um encontro com Joe Biden, com quem tratou sobre os temas recorrentes: combate à corrupção, migração centro-americana e cooperação governamental. Arévalo, que também se reuniu com a vice Kamala Harris, definiu o contato como “um momento de relações históricas entre os países”, de olho em conquistar o apoio democrata. Em outro gesto que muito agrada Washington, o mandatário guatemalteco também usou suas redes sociais para criticar o governo de Nicolás Maduro: “o processo eleitoral na Venezuela é preocupante. O constante bloqueio da candidatura unitária da oposição diante do assédio e da perseguição por parte do partido no poder consolida um sistema antidemocrático”, tuitou. Na AGN.
HONDURAS 🇭🇳
A defesa do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022) pediu, no último sábado (23), que o antigo mandatário hondurenho seja submetido a um novo julgamento. Declarado culpado de crimes relacionados ao narcotráfico por uma Corte dos Estados Unidos no início deste mês, JOH ainda não conhece sua sentença – que só será anunciada em 26/6 –, mas existe expectativa de que ele acabe pegando a pena perpétua (saiba mais sobre o caso). Em uma cartada desesperada, os advogados do ex-presidente pedem a anulação do julgamento alegando o uso de pelo menos um testemunho falso contra Hernández – em que foi dito que o tráfico de cocaína cresceu durante seu governo, uma informação errada não corrigida pelos promotores – e que o processo foi levado a cabo na comarca incorreta. Há pouca expectativa, porém, de que o pedido da defesa de Hernández seja considerado procedente. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Uma situação insólita rendeu um vídeo viral durante a semana na cidade de Avándaro: apressado, um jovem seminu entra em uma loja de conveniências para comprar preservativos e, tão logo os recebe da atendente, sai em disparada – sem pagar – para regressar à tarefa que aparentemente havia deixado inacabada. O episódio ocorreu na segunda-feira (25), mas em um primeiro momento não foram divulgados mais detalhes além do vídeo que percorreu os canais e sites do país. No NMás.
Un nombre:
Arepa – comida típica venezuelana (ou seria colombiana?) feita à base de milho moído ou farinha de milho, podendo ser recheada com queijo, carne e outros complementos. Pode ser assada ou frita e, dependendo da localidade, preparada com arroz, mandioca ou até inhame. Mais do que um prato tradicional, a arepa sintetiza toda a diversidade e a briga eterna entre colombianos e venezuelanos, que compartilham uma identidade cultural muito próxima. Ambos países reivindicam para si a origem dessa comida — que, na verdade, foi criada pelos indígenas há centenas de anos, nomeada originalmente de “erepa” pelo povo Cumanagoto e incorporada ao cardápio popular quando Colômbia e Venezuela ainda faziam parte do mesmo território.
NICARÁGUA 🇳🇮
Um dos responsáveis pela redução drástica do analfabetismo na Nicarágua, uma das conquistas mais exaltadas do período pós-revolucionário no país, o escritor e jurista Carlos Tünnermann faleceu aos 90 anos na quarta-feira (27), em um hospital da capital Manágua. Tünnermann liderou por meia década o Ministério da Educação do primeiro governo sandinista, que com uma famosa campanha de alfabetização conseguiu elevar a taxa de letramento do país de 50% para 87% entre 1979 e 1990. Apesar de sua íntima conexão com um dos mais vitoriosos projetos do sandinismo “original”, em anos recentes Tünnermann se tornou um dos vários ex-aliados de Daniel Ortega que passaram a denunciá-lo como um usurpador do legado revolucionário, desde a escalada autoritária vivida pelo país a partir de 2018. Mesmo assim, “a nobreza obriga a reconhecer o que é valioso”, reconheceu uma nota do governo orteguista sobre a morte do antigo ministro, elogiando sua contribuição no período definido pela historiografia oficial como a Epopeia da Cruzada Nacional de Alfabetização. Via AFP.
PANAMÁ 🇵🇦
Com o clima político alvoroçado após a condenação do ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014) retirá-lo da disputa eleitoral deste ano, o atual mandatário, Laurentino Cortizo, concedeu entrevista buscando tranquilizar a população sobre o cenário de transição – será “ordenada e democrática”, garantiu. Martinelli era o líder das pesquisas, o que desencadeou um cenário de incerteza sobre as chances eleitorais de seu substituto e dos outros presidenciáveis após sua inabilitação. Cortizo, que não concorre à reeleição e está representado por seu vice, José Gabriel Carrizo, entrega a faixa em 1º/7. Já a corrida presidencial se define dois meses antes, em 5/5, em um pleito de turno único. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
Como se não bastasse uma atuação pífia nas eleições presidenciais de 2023, quando representou a extrema direita e não conseguiu nem 1% dos votos, o ex-goleiro e hoje político José Luis Chilavert (que você facilmente reconheceria no vídeo em que aparece cuspindo no rosto do ex-lateral brasileiro Roberto Carlos) também resolveu ser minúsculo na vida pública: de forma gratuita, Chilavert atacou o atacante Vinícius Júnior com frases homofóbicas, menosprezando o brasileiro em um vídeo em que Vini aparece emocionado ao falar do racismo recorrente que sofre na Espanha. “Não seja maricón, futebol é para homens”, tuitou na segunda (25) o paraguaio, que foi insultado e cobrado por milhares de internautas na mesma rede social. Além de repudiar as falas de Chilavert, usuários do X (o finado Twitter) lembraram que o próprio tiozão reacionário já acusou a revista France Football de “racismo e discriminação” em 2020, após o periódico não incluir arqueiros sul-americanos em uma lista com os melhores goleiros da história.
Um suposto racha entre as principais lideranças do Primeiro Comando da Capital, o PCC, não é só um problema monitorado por autoridades brasileiras: na terça (26), o comissário Pedro Lesme, que integra a alta cúpula do Departamento de Crime Organizado da Polícia Nacional do Paraguai, revelou que Assunção já monitora a situação com cautela pela grande presença do grupo criminoso no país. Além dos possíveis efeitos que uma fratura no PCC poderia gerar na dinâmica do tráfico na violenta região da fronteira entre os dois países, autoridades guaranis temem confrontos dentro de presídios, onde haveria pelo menos 800 membros da organização. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou na sexta-feira passada (22) o Estado peruano por ter “violado o direito a um ambiente saudável” dos 20 mil habitantes da cidade de La Oroya, há décadas submetida à intensa poluição causada pela atividade de mineração. Um polo de extração de diversos minérios, a cidade andina localizada a uma altitude de quase 3.800 metros é considerada uma das mais poluídas do mundo, o que levou a Corte IDH a ditar sentença e cobrar medidas de reparação aos habitantes do lugarejo: a Corte estabeleceu que, além de “pedir publicamente perdão à população e compensar financeiramente as vítimas pelos danos sofridos”, o Peru deve “estabelecer medidas, como a obrigação de fornecer um diagnóstico sobre o saneamento necessário”, entre outros. Na RFI.
PORTO RICO 🇵🇷
Também em Porto Rico: o governo da ilha decretou, na segunda-feira (25), que o território vive uma situação de “epidemia” em função do aumento de casos de dengue, que vem gerando sobrecarga nos sistemas de saúde de vários países latino-americanos neste início de 2024. O número de casos ainda é relativamente pequeno – 549 confirmados até o momento do decreto –, mas a preocupação está na velocidade dos contágios: em 2023 inteiro, o número de casos na ilha foi de pouco menos de 1,3 mil, um total que deve ser facilmente superado em breve. Porto Rico não vivia uma epidemia de dengue desde 2012. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Em plena campanha pela reeleição, o presidente Luis Abinader segue irredutível em sua política de contenção à entrada de haitianos. Na segunda-feira (25), o mandatário dominicano reiterou que não vai ceder qualquer área de seu país para a instalação de campos de refugiados – ele já havia afirmado o mesmo em uma entrevista anterior à BBC, divulgada na semana passada, em que também garantiu que seguirá deportando haitianos que sejam flagrados sin papeles. Com a crise sem fim do outro lado da Ilha de Hispaniola, a República Dominicana passou a adotar uma linha dura frente ao maior influxo de imigrantes, aumentando a tensão com o vizinho – recentemente, Santo Domingo se recusou até mesmo a deixar o primeiro-ministro haitiano Ariel Henry a pousar em seu território enquanto regressava da África, efetivamente deixando-o preso fora da ilha, um episódio determinante para sua renúncia. Na CNN.
URUGUAI 🇺🇾
Mais de 6 mil pessoas estão desabrigadas após inundações que devastaram o departamento de Florida na noite de quarta-feira (27). O presidente Luis Lacalle Pou anunciou um programa de apoio após a avaliação dos danos, enquanto o Banco República e a Agência Nacional de Desenvolvimento já se programam para abrir linhas de crédito especiais para as famílias atingidas. Além das perdas materiais, a dimensão da chuva chamou a atenção por exemplificar os extremos climáticos dos últimos tempos: menos de um ano atrás, Florida era uma das regiões uruguaias sofrendo com uma seca histórica; agora, caiu tanta água em tão pouco tempo que o rio Santa Lucía chico, responsável pelo maior transbordamento, superou seu antigo nível recorde por 1,20 metro. No Ámbito.
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