Autoridades furaram fila da vacina em Argentina e Peru
Ministros da Saúde caíram nos dois países; no Peru, até ex-presidente foi passado à frente na imunização
Um novo tipo de desvio e corrupção tomou conta da América Latina em tempos de vacinação: os privilégios indevidos concedidos a membros do alto escalão de governos, denunciados por furar a fila da campanha de imunização em seus países. Na última semana, revelações do tipo vieram à tona na Argentina e no Peru e, em ambos os casos, ganharam nome próprio: o escândalo platino virou “Vacunatorio VIP”, em referência aos figurões ligados ao agora ex-ministro da Saúde, Ginés González García, que teriam sido beneficiados; nos Andes peruanos, tornou-se “Vacunagate”, um jogo de palavras com vacuna e o Watergate, escândalo que derrubou o presidente estadunidense Richard Nixon nos anos 70. No Peru, a então ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, entregou o cargo no dia 12 e foi acompanhada por outros membros do governo. Na Argentina, o presidente Alberto Fernández exigiu a renúncia de González García na noite desta sexta-feira (19).
Entre os nomes dos vacinados pela Universidade Peruana Cayetano Heredia (UPCH), responsável por conduzir a pesquisa para o imunizante da Sinopharm no Peru, destacam-se os do ex-presidente Martín Vizcarra (2018-2020) e de seus familiares. A lista peruana detalhada com os 487 vacinados (participantes ou não do estudo) está disponível neste site. Nela, Vizcarra é citado como “convidado”, ou seja, não integrante do estudo – e um dos médicos envolvidos no teste alega que o ex-presidente pediu doses para ele próprio e sua esposa, efetivamente burlando a ordem da vacinação.
Na Argentina, até o fechamento desta edição, não havia indícios de envolvimento direto da Presidência no desvio de vacinas: a lista obtida pelo jornal Clarín incluía políticos, um empresário e seus familiares e até o renomado jornalista Horacio Verbitsky, que seriam próximos do agora ex-ministro da Saúde. Ginés González García já havia comandado a pasta entre 2002 e 2007, nos governos de Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner. A médica Carla Vizzotti, até aqui secretária de Acesso à Saúde, foi escolhida para ascender à titularidade do Ministério. O escândalo do “Vacunatorio VIP”, porém, apenas começou a se desenrolar e deve ganhar novos capítulos nos próximos dias.
O alvoroço peruano levou o médico Óscar Ugarte de volta ao Ministério da Saúde – ele já havia ocupado o posto entre 2008 e 2011. Outros 16 funcionários também foram afastados. Segundo o presidente interino Francisco Sagasti (que é ele mesmo fruto de outra crise política que levou o país a ter três mandatários em sete dias em novembro), a situação de crise pede nomes “experientes”. Sagasti também se disse “furioso e indignado” diante do episódio e prometeu tomar mais providências. Além de Mazzetti, o escândalo também derrubou a ministra das Relações Exteriores, Elizabeth Astete, outro nome que integra a lista infame.
A diplomacia também preocupa o governo em Lima: até o momento, o país só usou vacinas da Sinopharm para imunizar a população, como parte de um acordo de compra de 38 milhões de doses. A China é a principal parceira comercial do Peru. Com os últimos acontecimentos, os governistas temem que as relações com Pequim possam sofrer um abalo. O novo chanceler Allan Wagner, empossado na última segunda (15), prometeu que sua gestão vai trabalhar para “evitar desgastes”. Não há momento certo para uma crise com requintes de imoralidade, sobretudo com tantos nomes, da esquerda à direita, desrespeitando o acontecimento mais importante do ano. No Peru, porém, não haveria hora pior: assolado pela pandemia com quase 45 mil mortos e 1,3 milhão de infectados, o que rende um dos mais altos índices de mortes por milhão de habitantes no mundo, o país ainda engatinha em sua vacinação. Até aqui, cerca de 140 mil pessoas receberam a primeira dose do imunizante, o que dá menos de 0,5% da população (leia aqui nosso levantamento semanal de casos, mortes e vacinações na região).
O reflexo do escândalo na política peruana também acontece a menos de dois meses das eleições de 11/4, que vão renovar o Congresso e determinar o próximo presidente para um mandato de cinco anos. Em um ambiente de cargos frágeis e uma rotina de renúncias, trocar de gabinete em meio ao turbilhão de acontecimentos não ajuda ninguém. O caso de Vizcarra também gera outra fissura e um grande mau exemplo: ao contrário dos ministros, o presidente afastado em 2020 seguirá mirando uma volta à política formal, mantendo, até o momento, sua candidatura para uma das 130 vagas legislativas que serão votadas daqui a alguns meses. Um dos quatro presidentes a ocupar o cargo nos últimos três anos e derrubado sob a acusação (ainda não julgada) de embolsar subornos antes de assumir a presidência, ele disse que recebeu a vacina em outubro, ainda na fase de testes clínicos da Sinopharm, e que teria sido um voluntário. Após a repercussão, especialistas da UPCH desmentiram a versão do ex-presidente.
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Un sonido:
REGIÃO 🌎
A histórica onda de frio que atingiu a América do Norte nos últimos dias ganhou as manchetes pelos enormes estragos vividos nos Estados Unidos, onde regiões desacostumadas às grandes nevascas enfrentaram apagões que duraram dias e levaram a pelo menos 30 mortes por hipotermia. O frio fez estados desérticos do norte do México verem a maior quantidade de neve em uma década, atingindo em cheio os migrantes que aguardam na fronteira (ou tentam cruzá-la) em busca de asilo nos EUA: a Reuters conta o drama dos que vivem em acampamentos mal equipados na divisa, e autoridades mexicanas confirmaram a morte por hipotermia de uma mulher venezuelana que tentou atravessar o (agora gélido) Rio Grande, cujas águas chegaram a registrar temperatura de -1 °C.
ARGENTINA 🇦🇷
Começou a vacinação em idosos acima de 70 anos, quase dois meses após o início das imunizações no país em dezembro. A demora era fruto da incerteza inicial quanto à segurança da vacina russa Sputnik V para a população mais velha, algo que se dissipou posteriormente. A Argentina já recebeu mais de 1,2 milhão de doses do imunizante, embora só tenha aplicado pouco mais da metade disso ao redor do país. Via AFP.
Morreu aos 90 anos o ex-presidente Carlos Menem, que comandou o país de 1989 a 1999. Membro da ala mais neoliberal do peronismo e senador em seus últimos dias, Menem ficou conhecido por capitanear desastres econômicos, ser condenado pelo menos três vezes por fraude e corrupção e por ser, digamos, um mau agouro: reza a lenda que o próprio sobrenome do finado mandatário, quando dito em voz alta, traria má sorte e que gestos bastante incomuns de superstição “ajudariam” a espantar a urucubaca. Menem também ficou conhecido por tentar colar o bordão “Menem lo hizo”, que falava de seus feitos durante a presidência (saiba mais na seção Una expresión). O tempo mostrou, no entanto, que o tiro saiu pela culatra, fazendo da frase um verdadeiro resumo de seus erros na presidência. No Página 12.
A Justiça condenou oito antigos repressores da última ditadura argentina (1976-1983) a penas de prisão que vão de seis anos até cadeia perpétua por crimes como sequestro, tortura, homicídio e roubo de bebês. Os condenados pertenciam ao chamado Grupo de Tarefas 3.3.2, baseado na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um dos recintos mais infames da repressão argentina, e o julgamento da vez contemplou 816 vítimas. Em El País.
Luto no futebol: o ex-atacante Leopoldo Luque, 71, campeão com a Argentina na Copa do Mundo de 1978, morreu de covid-19 em um hospital de Mendoza. O quadro de saúde de Luque era considerado de risco, por conta de problemas cardíacos e diabetes. Com passagens por River Plate, Unión de Santa Fé e Santos, o delantero foi lembrado por colegas e pela Associação Argentina de Futebol, a AFA. No Clarín.
BOLÍVIA 🇧🇴
O país devolveu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um crédito milionário herdado do governo interino de Jeanine Áñez (2019-2020). Segundo o Banco Central, que anunciou a recusa do dinheiro na quarta (17), Áñez conseguiu US$ 327,7 milhões em abril de 2020 sob o pretexto de combater a pandemia, em uma operação que o atual governo diz ter sido “irregular”. Desinteressado em manter uma dívida com o FMI após anos evitando as medidas de austeridade que acompanham esses empréstimos, o governo Luis Arce também anunciou que vai empreender ações administrativas, civis e penais contra funcionários ligados à negociação com o Fundo. Políticos ligados ao governo golpista que fez a dívida, agora de volta à oposição, acusam Arce de estar tentando desviar o foco da ausência de políticas para combater a pandemia. Na BBC.
Un hilo:
CHILE 🇨🇱
Tristeza no mundo do montanhismo: Juan Pablo Mohr, 34, considerado a grande estrela da modalidade no Chile, já é dado como morto pelo governo do Paquistão, desde que a equipe de alpinistas perdeu contato com times de resgate enquanto escalava o Monte K2, a segunda maior montanha do mundo. Não se tem notícias de Mohr e seus parceiros desde o dia 5/2. O chileno era conhecido por quebrar recordes de escalada sem o auxílio de oxigênio complementar, o que aumentava o risco na subida. Em sua curta e vitoriosa carreira, o alpinista sempre dizia: “a montanha manda”, mantra que o levou a encarar os desafios sem medo das consequências. Em La Tercera.
“Me senti como um delinquente, me arrancaram o coração”. A declaração é de Ricardo Melendez, um jovem de 19 anos que fez parte do grupo de venezuelanos devolvidos ao país natal em uma missão de “expulsão” ordenada pelo governo chileno, nas palavras do ministro do Interior, Rodrigo Delgado. Cerca de 138 pessoas foram alvo da operação, que os devolveu usando aviões militares, negando qualquer tipo de auxílio ou pedidos de refúgio. Na BBC.
COLÔMBIA 🇨🇴
O governo emitiu um “protesto enérgico” contra a Nicarágua em retaliação à criação de uma suposta reserva natural nicaraguense que tomaria pedaços do mar do Caribe como se fossem parte do território do país. Segundo Bogotá, a posição dos centro-americanos viola o que prega o Direito Internacional. A medida em questão, chamada de “Reserva da Biosfera do Caribe nicaraguense” foi aprovada pela Assembleia Nacional em Manágua e prevê a proteção de uma área com mais de 4 milhões de hectares. O novo impasse retoma uma briga territorial marítima que já havia colocado os dois países diante da Corte Internacional de Justiça, em 2012. Em El País.
A enfermeira Verónica Luz, 46, tem motivos para celebrar e reclamar: na quarta-feira (17), ela se tornou a primeira pessoa vacinada no país, dando início à aguardada campanha nacional de imunização. Ainda que muito contente por fazer história, a profissional se queixou dos atrasos salariais, uma dura realidade no setor de saúde colombiano. O governo planeja vacinar 35 milhões de pessoas em 2021, atingindo, assim, a imunidade de rebanho. No Infobae.
O fantasma dos “falsos positivos”, como são classificadas as mortes de civis que o Estado dava como baixas de guerra, voltou ao debate: em um último relatório do Tribunal de Paz – criado em 2016 para julgar delitos dos anos de guerra civil – foi comprovado que 78% das mortes desse tipo aconteceram durante o governo de Álvaro Uribe (2002-2010), cuja bandeira era justamente a tolerância zero contra a atividade guerrilheira. Durante os seis anos do uribismo, a organização estima que pelo menos 6,4 mil pessoas morreram nessas circunstâncias, sendo que muitas sequer foram encontradas. O GIRO falou sobre o tema neste vídeo. Em El Espectador.
COSTA RICA 🇨🇷
Exaltada pelo ambientalismo atípico na região, a Costa Rica vem instalando recifes artificiais em seu litoral, tentando combater a extinção desses hábitats ocasionada pelo aquecimento dos oceanos. Ao longo da costa banhada pelo Pacífico, estruturas de concreto especial marinho – mais aderentes às formas de vida aquática e capazes de equilibrar a oxigenação e pH das águas – vêm sendo instaladas na esperança de criar um “corredor biológico” em substituição aos recifes naturais destruídos nos últimos anos. No Infobae.
Una expresión:
Menem lo hizo – a frase chiclete que marcou a política argentina foi criada em 1999 pelo publicitário brasileiro Duda Mendonça, adaptando o slogan “Maluf que fez”, da campanha do ex-prefeito de São Paulo em 1998. Sem poder se reeleger e desprestigiado, Menem tentou vender a ideia de que sua década desastrosa no poder contava com uma lista de feitos marcantes, o que fortaleceria a candidatura do governista Eduardo Duhalde. Não deu muito certo: além de virar sinônimo de piadas escrachadas, lo que realmente hizo Menem é descrito em capas de jornal de uma forma bem menos engraçada.
CUBA 🇨🇺
“Resultados encorajadores”. É assim que especialistas do Instituto Finlay de Vacinas, um dos pioneiros do mundo, definem os ensaios clínicos da Soberana 2, a única vacina desenvolvida em solo latino-americano. Ainda na fase 2B, que antecede a aplicação em maior quantidade, o imunizante deve começar a ser aplicado em abril, à medida que o governo espera produzir 100 milhões de doses em 2021. Até mesmo turistas em visita à ilha terão a opção de receber a aplicação. Havana também espera gerar receita com a venda do imunizante para outros países, em uma ação prestigiada por acontecer apesar das pressões econômicas vindas dos EUA. Os detalhes da vacina, na BBC.
EL SALVADOR 🇸🇻
Carlos Guzmán Berdugo, sogro do ex-presidente Mauricio Funes (2009-2014), será extraditado pela justiça da Costa Rica, segundo notificou o governo em San José na última quarta (17). Berdugo é apontado como membro de uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro que teria desviado US$ 351 milhões para bancos privados durante o governo Funes. O próprio ex-presidente também enfrenta um mandado de prisão em solo salvadorenho, mas corre menos riscos: em 2016, ele e toda a família solicitaram asilo ao governo da Nicarágua, onde moram desde então. Em 2019, o governo de Daniel Ortega concedeu cidadania à família Funes. Ele é um dos três líderes máximos do país no milênio que enfrentam acusações semelhantes. Na DW.
EQUADOR 🇪🇨
Os resultados do primeiro turno da corrida presidencial (leia mais no GIRO #68) ainda dão o que falar: durante a semana, o líder indígena Yaku Pérez, que alega ser vítima de fraude eleitoral, solicitou ao Conselho Nacional Eleitoral que reabrisse os pacotes de votação e suspendesse a apuração, que já está praticamente concluída. O CNE, no entanto, negou o pedido, deixando a Pérez a possibilidade de contestar os resultados após a divulgação oficial. A intriga tem contornos decimais: com 99,99% das urnas apuradas, o conservador Guillermo Lasso tem 19,74% dos votos, contra 19,38% de Yaku. Durante boa parte da apuração, o líder indígena esteve em vantagem, chegando a abrir 50 mil votos na dianteira. A diferença, no entanto, caiu nos momentos finais, o que atraiu denúncias. O imbróglio tem gerado protestos: nos últimos dias, movimentos indígenas de vários pontos do país têm marchado em direção a Quito para pedir recontagem. A briga é para ver quem vai à segunda rodada da eleição contra Andrés Arauz, apadrinhado do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), que passou em primeiro lugar com 32,72% dos votos. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
A Corte Interamericana de Direitos Humanos passará a revisar as investigações do massacre de Los Josefinos, promovido pelos esquadrões da morte do exército guatemalteco em 1982 contra um pequeno povoado ao norte do país. Como em toda a América Central, o episódio hediondo foi um marco no conflito civil, que no caso da Guatemala foi um dos mais longos: de 1960 a 1996. As famílias das vítimas, como no caso de Los Josefinos, seguem em busca de reparação. O país reconhece que pelo menos 200 mil pessoas foram mortas, no que entidades classificam como genocídio. Na RFI.
HAITI 🇭🇹
Jovenel Moïse ainda é presidente. Em meio a uma profunda crise constitucional que levou membros do Supremo a exigirem a saída de Moïse do cargo e sua substituição por algum integrante da Corte até que novas eleições sejam realizadas, os responsáveis pelo levante acabaram presos e, mesmo quando liberados, ainda temem por suas vidas. É o caso do juiz Yvickel Dabrésil, que poderia ter assumido a presidência interina se a manobra jurídica prosperasse, mas acabou detido por um dia e agora está escondido. Ele contou ao Miami Herald como têm sido os últimos dias. Durante a semana, o embaixador de Moïse nos EUA se reuniu com funcionários do governo norte-americano para assegurar que a imprensa não está sendo perseguida no Haiti e que o país trabalha para realizar eleições com observação internacional, mas conduzidas pelo atual governo. A imprensa haitiana, por sua vez, noticia que um grupo de juristas locais voltou à carga durante a semana, pedindo a prisão de Moïse por “usurpação de poder”. A oposição alega que o mandato do presidente terminou no último dia 7, enquanto o próprio Moïse garante que pode permanecer legalmente no cargo até 2022 (leia mais sobre a crise haitiana e os argumentos dos dois lados no GIRO #68).
Un clic:
Nevasca histórica que atingiu a América do Norte rendeu paisagens brancas também no México, como no clic acima, na fronteiriça Ciudad Juárez.
HONDURAS 🇭🇳
O prefeito da capital Tegucigalpa e pré-candidato à presidência nas eleições de 28/11, Nasry “Tito” Asfura, não começa a corrida muito bem: por ordem do Ministério Público, ele enfrenta julgamento preliminar por supostos crimes de lavagem de dinheiro, desvio de verba pública e fraude. Entidades anticorrupção apresentaram uma série de documentos que comprovariam episódios de malversação durante o mandato de Tito. Sem temer a impugnação de sua candidatura, o prefeito diz que “não tem absolutamente nada a esconder”. Na teleSUR.
MÉXICO 🇲🇽
A polícia prendeu seis pessoas acusadas de vender vacinas falsas no valor equivalente a R$ 10 mil por dose, na cidade de Monterrey. Segundo autoridades, as detenções aconteceram no subúrbio de San Nicolás, considerado um dos lugares mais ricos do país. A teoria é que pessoas de alto poder aquisitivo foram atrás das doses para não esperar a fila da vacinação – que, segundo o presidente López Obrador, será “universal e gratuita”, mas vem avançando a um dos ritmos mais lentos nas Américas. Via AP.
Usando dados da OMS, o governo se mostrou preocupado com um suposto “acúmulo” de vacinas por parte de países ricos. Segundo o chanceler Marcelo Ebrard, 10 países que detêm 60% do PIB mundial já usaram 3/4 das doses disponíveis no mundo: “gera uma lacuna”. O ministro criticou a “ineficiência” do fundo Covax, que deve entregar ao México cerca de 50 mil doses em março. Na BBC.
Uma pouco comum frente fria tem pintado de branco as paisagens desérticas do norte do México (veja mais em Un clic), principalmente nos estados que fazem fronteira com o Texas. Em alguns pontos, foi só a terceira vez desde 1898 em que houve registro de neve. Por conta do frio, que tem gerado apagões, o presidente López Obrador pediu que a população racione energia. Via AP.
NICARÁGUA 🇳🇮
A oposição corre contra o tempo para encontrar consensos em meio à campanha eleitoral que definirá o novo chefe de Estado em novembro, com possibilidade de nova vitória de Daniel Ortega. Na quarta (17), um avanço: quatro postulantes ao cargo assinaram um acordo para a elaboração de um processo interno de escolha do nome que representará uma frente ampla contra os governistas. Os líderes também concordaram em respeitar “a vontade do povo” nesse processo, que pode ser crucial para evitar que Ortega, que governa de forma autocrática e ocupa o cargo desde 2006, seja reeleito para mais cinco anos. Os signatários são o economista Juan Sebastián Chamorro (sobrinho da ex-presidenta Violeta Chamorro, cuja história contamos no Giro Latino Cast), o dirigente camponês Medardo Mairena, o acadêmico e ativista Félix Maradiaga e o jornalista Miguel Mora. O processo terá o apoio de entidades perseguidas pelo governo e grupos exilados. Na DW.
PANAMÁ 🇵🇦
O escândalo de abusos cometidos contra crianças em albergues mantidos pelo governo segue repercutindo no país (leia mais sobre a investigação que desbaratou as denúncias no GIRO #68). Querendo mostrar serviço, a Secretaria Nacional de Infância, Adolescência e Família informou durante a semana que já foram fechados oito albergues que não cumpriam com os requisitos legais para proteção de menores – número que não seria uma resposta às investigações mais recentes, e sim o total de fechamentos ocorridos desde o início do atual governo, em 2019. No Infobae.
Un nombre:
Perito Moreno – a alcunha da famosa geleira patagônica rende homenagem ao cientista e explorador argentino Francisco Pascasio Moreno, renomado pesquisador da região austral. Antes de receber o nome definitivo, o bloco de gelo com superfície de cerca de 6.000 km² – área um pouco maior do que a cidade de Brasília – já havia sido batizado outras vezes: em 1879, foi chamado de “Francisco Vidal Gormaz”, em homenagem ao diretor do Escritório Hidrográfico da Marinha do Chile; e depois de “Bismarck”, em referência ao chanceler prussiano que liderou a unificação da Alemanha. Finalmente, em 1899, um tenente responsável por conduzir estudos para o Instituto Hidrográfico Argentino decide nomear a geleira em tributo ao maior especialista da época na geografia daquela zona fronteiriça – o perito Francisco Moreno, que dedicou mais de duas décadas às pesquisas de campo na Patagônia.
PARAGUAI 🇵🇾
As primeiras vacinas chegaram ao país na quinta-feira (18), com festa do governo e críticas da população. A reclamação se deve à reduzida quantidade de doses que vieram no primeiro carregamento da russa Sptunik V: apenas 4 mil, suficientes para imunizar míseros 2 mil profissionais de saúde, os primeiros da fila. Em meio a uma enxurrada de memes sobre o número de vacinas, o governo garante já ter acordado 1 milhão de doses com a Rússia, e que nas próximas semanas cargas “mais importantes” devem desembarcar em Assunção. No ABC Color.
Uma rebelião na Penal de Tacumbú, a maior prisão do país, deixou sete mortos, três deles por decapitação. O episódio violento, que envolveu o sequestro de 19 agentes penitenciários, ocorreu na terça (16) e teria sido causado após a transferência de um integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) que era responsável pela entrada de drogas no recinto. Inicialmente, suspeitou-se que o motim poderia ser uma briga entre integrantes do PCC, brasileiro, e da gangue local Clan Rotela, mas essa hipótese foi descartada pelo Ministério de Justiça, que negociou a rendição dos rebelados e a liberação dos reféns. Localizado na capital paraguaia, Tacumbú é local de reclusão de mais de 4,1 mil pessoas, o dobro da capacidade do presídio. Em El País.
PERU 🇵🇪
Um grupo de 400 imigrantes, em sua maioria haitianos, foi reprimido por forças de segurança peruanas na fronteira entre o Brasil e o Peru, após tentarem atravessar a Ponte Iñapari. A ação deixou feridos e repercutiu nas redes sociais, com imagens chocantes de crianças em situação de risco. A crise na fronteira levou o prefeito do município acreano de Assis, Jerry Correia, a se reunir com o Itamaraty. As fronteiras na região seguem fechadas e ainda não foram definidas medidas relacionadas aos migrantes que acampam na região. Via Agência Brasil.
PORTO RICO 🇵🇷
O governo local segue firme com seu plano de reabrir as escolas da ilha, gradativamente, a partir de março. O mais novo movimento nessa direção foi um decreto de estado de emergência que, na prática, permite ao governador Pedro Pierluisi apressar a compra de equipamentos de proteção e a contratação de profissionais e serviços necessários para realizar o retorno “seguro”. Durante a semana, a capital San Juan registrou protestos de docentes e famílias de alunos, que só desejam um retorno às classes presenciais quando houver garantia de que os contágios estejam sob controle. Porto Rico foi o primeiro local na América Latina a iniciar a vacinação e, proporcionalmente à população, é um dos mais avançados, com 14% de imunizados, mas ainda abaixo do patamar considerado ideal para reduzir efetivamente o número de casos e internações. Em El Caribe.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O país se tornou o 11º latino-americano a iniciar a campanha de vacinação contra a covid-19 na última terça (16), com doses recebidas da AstraZeneca. Em evento com a presença do presidente Luis Abinader, autoridades de saúde aplicaram a primeira dose no hospital militar Ramón de Lara. Segundo Abinader, que espera receber doses de outros laboratórios em março, “é o começo do fim do pesadelo”. Na Prensa Latina.
URUGUAI 🇺🇾
Pesquisadores de Uruguai e Brasil vêm reunindo esforços científicos para estudar e mapear genomas de possíveis variantes do coronavírus em regiões fronteiriças. Segundo o Grupo Fronteira, fundado em junho passado e que conta com profissionais de pelo menos cinco áreas, a existência de fronteiras territoriais não significa que haja uma “fronteira biológica”: ou seja, o fechamento dos acessos entre os dois países não proporciona um bloqueio total, facilitando a proliferação de novos tipos de vírus. O grupo relatou que identificou uma variação em uma amostra coletada em janeiro, ainda que sem indícios de ser um tipo mais contagioso. Na BBC.
O presidente Luis Lacalle Pou recebeu seu homólogo paraguaio, Mario Abdo Benítez, na residência de verão em Punta del Este. Discutindo uma flexibilização do Mercosul às portas da reunião do bloco em março, os dois manifestaram o desejo de que o grupo econômico “seja um trampolim ao mundo” e não “um espartilho”. Entre as pretensões de uruguaios e paraguaios está a possibilidade de negociar acordos bilaterais com outros países, sem depender da anuência dos demais membros do Mercosul, como ocorre hoje. Lacalle Pou também ressaltou que a costa do Uruguai deve ser a “saída ao mundo” que o Paraguai, um país sem litoral, necessita. No Clarín.
VENEZUELA 🇻🇪
A Venezuela também entrou na lista de países que estão vacinando oficialmente: na quinta (18), a mídia estatal mostrou as primeiras imagens do início da campanha de vacinação no país, com doses da Sputnik V. No último sábado, 100 mil das 10 milhões de doses acordadas com o governo russo chegaram a vários pontos do país. O acordo, segundo a vice-presidenta Delcy Rodríguez, foi firmado em US$ 200 milhões. O governo informou que a primeira etapa de vacinação será restrita a profissionais de saúde. A OPAS – que cobra Caracas por pagamentos atrasados – também informou que pelo menos 1,4 milhão de vacinas estão reservadas para o país por meio do fundo global Covax. No Infobae.