Giro #68: Presidente do Haiti denuncia “golpe” após juízes do Supremo exigirem renúncia
Equador: eleição parelha terá recontagem | Colômbia legalizará imigrantes venezuelanos | El Salvador: presidente também se diz alvo de trama golpista | Guatemala quer pena de morte
“Houve um atentado contra minha vida”. Em situações normais, o anúncio levaria a um alarde mundial, despertando atenção para a suposta ameaça de golpe de Estado denunciada pelo presidente haitiano Jovenel Moïse, no último domingo (7). Mas não se trata de uma situação convencional, e sim de um país que, nos últimos 35 anos, viveu 20 governos diferentes, na sequência de décadas de ditadura militar e ingerência estrangeira.
A denúncia de Moïse levou à prisão de pelo menos 23 pessoas que estariam planejando não só a deposição do governo, como também o assassinato do presidente. Entre os detidos, todos membros de movimentos de oposição, estão a inspetora-geral da Polícia Nacional, Marie Louise Gauthier, e o juiz da Corte de Cassação, máxima instância do Judiciário, Yvickel Dabrézil. Apontado como principal nome para substituir Möise interinamente para depois virar candidato, o magistrado foi liberado 24 horas depois; segundo autoridades, Dabrézil já tinha até um discurso de posse redigido.
A liberação do suposto mentor do movimento golpista, no entanto, sequer vira a página desse capítulo de instabilidade. Os pedidos pela renúncia do presidente se tornaram um movimento nacional, contando com o apoio de todos os partidos de oposição, além de intelectuais, juristas e líderes religiosos. Em comum, esses setores alegam que o mandato de Jovenel Moïse teria se encerrado no último domingo (7), mesmo dia em que o governo desbaratou os supostos golpistas.
A semente da crise atual começou em 2015: naquele ano, o então presidente Michel Martelly (2011-2016) indicou a candidatura do apadrinhado Moïse para as eleições presidenciais. O pleito, que acabou com vitória do indicado, no entanto, foi suspenso por diversas denúncias de fraude. Para evitar nova crise institucional, a presidência passou a ser ocupada interinamente por um ano pelo então presidente do Senado, Evans Paul.
A manobra só tapou o sol com a peneira. Apesar das irregularidades do processo eleitoral de 2015, Jovenel Möise finalmente tomou posse em fevereiro de 2017 – para um mandato de cinco anos que, segundo o líder, terminaria somente em 2022. Já para a oposição, o tempo do mandatário no poder se encerrou no último dia 7, entendendo que o quinquênio se iniciou a partir da saída de Martelly do poder, um ano antes do juramento de Moïse.
A jornada do presidente haitiano de sua contestada posse até as denúncias de golpe foi marcada por instabilidade. Além de ser acusado de envolvimento em esquemas bilionários de corrupção, enfrenta a fúria das ruas e o rechaço da oposição por concentrar o poder: em 2020, se valendo da mesma Carta Magna que hoje determina o fim do seu mandato, o presidente dissolveu o Parlamento, sem sequer convocar novas eleições legislativas. Desde então, vem governando por decreto, em uma escalada autoritária que também envolve repressão a manifestações. Moïse também trabalha para reformular a Constituição, propondo um texto que concentra ainda mais poderes na Presidência e permitiria concorrer a um segundo mandato consecutivo (leia mais no GIRO #67 e na seção do país desta edição).
Os últimos dias foram o ápice da pressão. Além de protestos cada vez mais violentos pela renúncia, a oposição definiu o caminho para a sucessão: o juiz Joseph Mécène Jean-Louis, 72, também membro da Alta Corte, aceitou comandar um governo de transição de dois anos. A posse de membros do judiciário na chefia do Executivo não seria novidade no Haiti. Como contamos no 2º episódio da série Presidentas, a juíza Ertha Pascal-Trouillot ocupou o cargo por alguns meses em 1990, após uma série de golpes e renúncias. Em meio ao clima de expectativa pela queda de Möise, o governo tenta afastar os magistrados que articulam sua saída, em uma briga de gato e rato que não tem data para acabar.
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Un sonido:
REGIÃO 🌎
A América Latina superou a marca de 20 milhões de casos oficiais de covid-19 durante a semana. Embora os contágios tenham registrado queda pela quarta semana consecutiva, o patamar ainda é muito alto: novamente, os números dos últimos sete dias teriam sido recorde em qualquer momento de 2020. Enquanto a região segue avançando lentamente com a imunização, as mortes se mantêm em um patamar acima de 20 mil por semana: foram 22.332 nos últimos sete dias. Leia aqui nosso levantamento semanal completo.
ARGENTINA 🇦🇷
Semanas antes do encontro do Mercosul em março que pode selar negociações entre os governos Alberto Fernández e Jair Bolsonaro, o argentino recebeu um convite que pode apimentar as relações: o Partido dos Trabalhadores (PT) conta com a “estrela internacional” em um evento virtual, que terá a participação do ex-presidente Lula (2003-2010). A diplomacia em Buenos Aires ainda não confirmou a participação do peronista. Desde sua eleição em 2019, Fernández nunca escondeu seu apoio à campanha “Lula Livre”. No Clarín.
O país que lançou o movimento #NiUnaMenos mais uma vez se choca diante de um brutal crime de gênero: a jovem Úrsula Bahillo, 18, foi morta a facadas pelo parceiro na última segunda (8), após suportar violência física e psicológica por sete meses e fazer 18 denúncias. “Que mulher vai denunciar agora?” Com cartazes e homenagens, centenas de pessoas pediram não só a prisão do assassino, o policial Matías Ezequiel Martínez, mas também cobraram providências reais para conter a multiplicação dos casos de feminicídio. Nos últimos dez anos, 48 mulheres foram assassinadas por companheiros ou ex-companheiros policiais. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
Médicos e profissionais da saúde de Santa Cruz, região que vive a situação mais grave na pandemia, iniciaram uma greve de 48 horas na última terça-feira (9), exigindo quarentena obrigatória para conter o avanço de casos e mortes. Segundo o colégio médico da região, só serviços de emergência seguiram funcionando, enquanto outros setores aguardam uma resposta do governo santacrucino para evitar um colapso maior. Enfrentando a segunda onda desde dezembro, o país de 11,5 milhões de habitantes tem mais de 11 mil mortes e 235 mil casos confirmados desde o início da pandemia. Na RFI.
As mortes misteriosas de 35 condores têm alarmados especialistas. Considerado a maior ave do mundo, o condor é uma espécie ameaçada de extinção pela caça ilegal, perda de território e até envenenamento. A contaminação deliberada dos animais pode explicar o caso atual: segundo autoridades da cidade fronteiriça de Tarija, os condores podem ter comido carne envenenada, que pessoas da região deixam para tentar matar gatos selvagens. A situação preocupa: atualmente, são registradas apenas 6,7 mil aves desse tipo, número que vem caindo por conta da ação humana. Via Reuters.
CHILE 🇨🇱
O Chile ultrapassou a marca de 1 milhão de pessoas vacinadas contra covid-19 e já está perto de dobrar esse número, uma semana após se tornar o primeiro país latino-americano a iniciar o processo de imunização em massa, indo além dos grupos prioritários iniciais. Depois de começar a vacinação de profissionais de saúde em 24/12, o país incluiu a população idosa, com mais de 370 mil imunizados acima de 78 anos. O número de pessoas que receberam ao menos a primeira dose equivale a quase 9% da população, o índice mais alto entre países latino-americanos. O início da fase geral só foi possível graças a um lote com 4 milhões de doses da vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac, já que as 154 mil primeiras doses recebidas da Pfizer foram usadas no final de dezembro. O governo espera vacinar 5 milhões até março e 15 milhões (entre uma população de 18 milhões) até julho. No Infobae.
Diferentes pontos do país registraram protestos durante a semana após mais um episódio de violência policial: na sexta-feira passada (5), um malabarista de rua em Panguipulli, no sul do país, foi assassinado a tiros por carabineros após supostamente se negar a apresentar a identidade e investir contra os policiais, em episódio filmado por pessoas que passavam no local. A reação da polícia, considerada desproporcional, levou a manifestações que incluíram incêndios de prédios públicos. O carabinero acusado, inicialmente colocado em prisão domiciliar preventiva, já foi liberado. O argumento é que ele teria agido em legítima defesa: o presidente Sebastián Piñera, inclusive, deu respaldo à ação dos policiais, dizendo que o uso de armas de fogo pode ocorrer quando eles se sentem ameaçados.
Una palabra:
Curul – cadeira semicircular com pés de marfim usada pelos magistrados na Roma Antiga. Na América Latina, a palavra se refere às vagas ocupadas por parlamentares e outros membros do alto escalão da administração pública. Também pode ser chamada de escaño.
COLÔMBIA 🇨🇴
Principal destino dos migrantes venezuelanos que fogem da crise, o país decidiu, de forma inesperada, iniciar um amplo processo de regularização temporária dos milhares de cidadãos que cruzam as fronteiras, que deve permitir a permanência por até 10 anos. A criação de um estatuto foi anunciada pelo presidente Iván Duque, acompanhado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. Especialistas apontam que a medida tem vários objetivos: além de ser uma espécie de reparação histórica – em outros tempos, por passar anos em conflito civil, a Colômbia viu seus próprios cidadãos migrarem em busca de uma vida melhor na Venezuela – a decisão endossa o discurso colombiano contra o governo em Caracas. Na BBC.
O governo foi alertado pela embaixada de Cuba sobre um possível atentado planejado pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), que aconteceria em Bogotá “dentro dos próximos dias”. O representante cubano José Luis Ponce enviou uma carta ao Ministério da Defesa colombiano dizendo que a delegação de paz em Havana (comitê criado para negociar o cessar-fogo com a guerrilha) também não tem mais informações. Em 2019, o ELN reivindicou um ataque com bombas que deixou mais de 20 mortos em uma escola da polícia. Desde então, as negociações pela trégua deixaram de ser uma alternativa para o governo de Iván Duque. Desta vez, o ELN negou que estivesse planejando o ataque, em uma nota publicada no site da guerrilha na quinta (10), acusando o próprio governo de estar armando um atentado para jogar a culpa no grupo. Em El País.
COSTA RICA 🇨🇷
O presidente Carlos Alvarado negou, diante do Congresso, que seu governo tenha espionado os cidadãos do país. A controvérsia começou quase exatamente há um ano, em 17 de fevereiro de 2020, quando o governo anunciou a criação da Unidade Presidencial de Análise de Dados (UPAD). Alvarado garante que o órgão tinha como objetivo utilizar dados para elaboração de políticas públicas e foi criado de “boa fé”, mas críticos da UPAD apontavam que ela poderia ser utilizada para vigiar a população, em especial por conta de um artigo ambíguo do decreto que obrigava todas as instituições públicas a entregar quaisquer informações pedidas pelo governo, incluindo as de “caráter confidencial”. Diante da repercussão, a Unidade durou apenas cinco dias antes de ter sua criação revogada, mas as investigações avançaram e chegaram à fase de depoimentos nesta semana. Na DW.
CUBA 🇨🇺
Dando sequência ao projeto de abertura econômica, o governo anunciou uma ampliação da lista de empresas privadas e pequenos empreendimentos aptos a operar no país: de 127 companhias para aproximadamente 2 mil. A tendência é que empresas puramente controladas pelo Estado passem a ser minoria, como no caso de setores de saúde e comunicação. A necessidade de mudar as bases da economia cubana, sem deixar de conciliar com o modelo socialista, ganhou força nos tempos da pandemia: com um PIB caindo 11% em 2020, também pelas incessantes pressões dos últimos meses do governo Donald Trump, Havana tenta atrair capital e reequilibrar as contas públicas para afugentar a pior crise desde os anos 90. Um dos marcos dessa reforma foi a unificação monetária, explicada pelo GIRO neste vídeo. Na BBC.
O governo Joe Biden anunciou que vai reiniciar um projeto ambicionado e jamais concluído por Barack Obama (2009-2017): o fechamento da prisão de Guantánamo, inaugurada após o 11 de setembro de 2001 e palco de inúmeras violações de direitos humanos contra prisioneiros acusados de terrorismo, a maioria deles capturados no Afeganistão. Embora fique em território cubano, a área de Guantánamo foi cedida aos EUA para a instalação de uma base militar ainda no final do século 19, e desde então é mantida na ilha sem qualquer possibilidade de ingerência do país caribenho. Mesmo com o eventual fechamento da prisão, não há perspectiva do encerramento das atividades militares no local ou da devolução do território para Cuba. Via Reuters.
EL SALVADOR 🇸🇻
A oposição salvadorenha tentou uma manobra audaciosa na terça-feira (9), indicando que poderia abrir um processo constitucional pela remoção do presidente Nayib Bukele, utilizando um dispositivo que permite o afastamento do mandatário se ele for julgado “mentalmente incapaz”. Controlada pela oposição, a Assembleia Legislativa teria votos suficientes para seguir adiante com o que o governo acusou ser uma tentativa de golpe. Mas, um dia depois, o presidente do Parlamento, Mario Ponce, desconversou e disse não ver futuro na iniciativa, qualificada por ele de “ato de propaganda”. Além de vir a menos de três semanas das eleições municipais e legislativas do próximo dia 28, a tentativa de derrubar Bukele ocorreu justamente no primeiro aniversário do episódio em que o presidente tomou a Assembleia com militares para forçar uma votação. Via AP.
Nayib Bukele também teria passado por uma situação embaraçosa no início de fevereiro, segundo a imprensa local: de acordo com o portal ElSalvador.com, o presidente viajou a Washington tentando se encontrar com altos funcionários do novo governo Joe Biden, e ninguém quis recebê-lo. A viagem seria irregular, já que ocorreu sem aprovação prévia da Assembleia, e Bukele se apressou em negar que tivesse ocorrido.
Un hilo:
EQUADOR 🇪🇨
Foi apertado e haverá recontagem: as eleições presidenciais equatorianas, celebradas no último domingo (7), tiveram grandes ganhos para a esquerda e o movimento indígena, e por muito pouco não viram a direita ficar de fora do 2º turno. Confirmando as expectativas, Andrés Arauz, ex-ministro do governo Rafael Correa (2007-2017) e apadrinhado pelo antigo mandatário, passou em primeiro lugar, com mais de 32% dos votos. Mas a disputa pela segunda vaga na nova rodada de votações exigiu acompanhamento voto a voto: até cerca de 95% da apuração, o líder indígena Yaku Pérez, que concorre pelo partido Pachakutik, da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), manteve a vantagem sobre o conservador Guillermo Lasso, até finalmente ser superado por poucos milhares de votos. Pérez, que se identifica como um ecossocialista, representa também interesses de uma esquerda contrária ao correísmo encabeçado por Arauz, o que gera incerteza sobre para onde irão seus votos caso a recontagem confirme que ficou de fora do 2º turno marcado para 11/4. Na corrida legislativa, a coalizão correísta e a Conaie ampliaram suas bancadas, saltando, respectivamente, de 29 para 49 curules, e de cinco para 27, de um total de 137 vagas na Assembleia unicameral do Equador. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
Ainda sem vacinar, a Guatemala vive dias de expectativa positiva para a chegada das primeiras doses da vacina contra a covid-19. Segundo o presidente Alejandro Giammattei, as conversas com autoridades russas para a importação da Sputnik V “vêm avançando”, com possibilidade de chegarem ao país no começo de março. O próximo mês tem tudo para ser decisivo: é quando também devem pousar em solo guatemalteco 400 mil doses da Pfizer, por meio do fundo global Covax. O país de 17 milhões de habitantes planeja vacinar metade da população até o meio do ano. Na Prensa.
O presidente Alejandro Giammattei pediu, na quinta (10), que o Congresso comece a “pensar” em retomar a pena de morte no país, após o assassinato da menina Sharon Figueroa, de 8 anos, cujo corpo foi encontrado no início da semana, um dia após seu desaparecimento. Embora a Constituição guatemalteca preveja a pena de morte, uma interpretação da Suprema Corte em 2017 passou a entender que não há delito capaz de levar a essa punição. As últimas execuções na Guatemala ocorreram em 2000, mas Giammattei avisa: “se há necessidade da pena de morte, que o façam”. Na DW.
HAITI 🇭🇹
A despeito da crise política que se agravou na última semana (leia mais na abertura desta edição), o governo seguiu em frente com o projeto de reforma constitucional impulsionado por Jovenel Moïse. Segundo altos funcionários do gabinete do presidente, os 94 partidos e agrupações políticas existentes no Haiti já receberam cópias do anteprojeto e têm até o próximo dia 22 para propor emendas e reescritas. Além de concentrar ainda mais poderes no presidente e abrir caminho para que Moïse tente um segundo mandato consecutivo, algo vedado pela atual Constituição, o novo texto também elimina o Senado, criando um parlamento unicameral. A oposição diz que a proposta do governo foi elaborada de forma “clandestina”. Se Moïse vencer a queda de braço no caldeirão que ferve em Porto Príncipe, a nova Carta Magna vai a referendo em 25/4. Na Prensa Latina.
HONDURAS 🇭🇳
A morte da estudante Keyla Martínez, 26, sob custódia da polícia da comunidade de La Esperanza, a 150 km da capital, tem sacudido o país. Ela havia sido detida por violar os horários do toque de recolher e, horas depois, foi encontrada morta dentro da cela. Após a confirmação da morte, centenas de pessoas se reuniram para protestar contra os abusos da polícia, aos gritos de “assassinos”. Os agentes reprimiram os manifestantes com gás lacrimogêneo. A situação piorou após um informe da perícia indicar que Martínez havia sido vítima de homicídio, o que contraria a versão da polícia de La Esperanza de que a morte foi produto de um suicídio. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Aliados do presidente López Obrador querem apresentar um projeto polêmico e bastante criticado, que regulamentaria o funcionamento das redes sociais no país, permitindo que usuários com contas excluídas ou bloqueadas por decisão da própria rede recorram à Justiça. Após críticas de diversos setores, os governistas adiaram a apresentação do projeto, que ainda teria que tramitar no legislativo. A medida vai em consonância com uma visão bastante questionada do próprio Obrador: dizendo-se contra a censura, o presidente inclusive se colocou ao lado de Donald Trump quando o ex-presidente dos EUA teve a conta banida pelo Twitter. Segundo AMLO, medidas assim – mesmo quando coíbem discurso de ódio – ferem a liberdade de expressão. Em El País.
O leilão milionário de artefatos pré-colombianos da cultura Asteca tem gerado críticas de autoridades mexicanas: mais de US$ 3 milhões foram arrecadados pela casa Christie’s, em Paris, com a venda de 40 peças reclamadas pelo México, incluindo uma estátua da deusa Cihuateotl, que sozinha vale mais de meio milhão de dólares. Além de pedir a suspensão das vendas, autoridades do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México também alegam que parte do acervo conta com objetos falsos. Especialistas acionaram o MP mexicano e pediram ajuda diplomática. Segundo a casa de leilão, todas as peças foram adquiridas de forma “transparente”. No Jornada.
O massacre de 19 migrantes, pelo menos 14 dos quais vindos da Guatemala, segue repercutindo no país. O episódio ocorreu no fim de janeiro em Tamaulipas, estado que faz fronteira com o Texas, mas os corpos foram localizados próximos à divisa com o país centro-americano de onde os mortos vieram. Desde então, investigações revelaram o provável envolvimento de policiais locais, a soldo de cartéis que disputam o controle da região e encomendam o massacre de migrantes que cruzam seu território sem autorização. O episódio é só o mais recente em uma sequência de tragédias que revelam a corrupção endêmica nas forças de segurança mexicanas, como conta a reportagem da AP.
Un nombre:
Yaku – o termo quéchua para “água”, também encontrado em expressões compostas como yaku kawsay (“a água é vida”) ou yaku mama (“mãe água”), foi o nome adotado pelo candidato presidencial do Equador que concorreu pelo partido da Confederação das Nacionalidades Indígenas e quase chegou ao segundo turno. Nascido Carlos Ranulfo Pérez, o líder mudou seu nome no registro civil em 2017 para Yaku Sacha Pérez, significando “água do monte”. A iniciativa buscou conscientizar os descendentes indígenas pela “descolonização” dos nomes próprios, e também foi uma homenagem de Pérez às causas pelas quais luta – ele é um histórico militante contra a mineração em áreas de rios.
NICARÁGUA 🇳🇮
A Fundação da ex-presidenta Violeta Chamorro (1990-1997), que leva seu nome, anunciou a suspensão das operações durante a semana, em protesto a uma lei autoritária do governo Daniel Ortega que obriga o registro de organizações (de direitos humanos ou da oposição) como “agentes estrangeiros” caso recebam verbas do exterior. Essas entidades só podem acessar os recursos se fizerem o registro. A medida aprovada em um Congresso com maioria governista é vista como abusiva, já que também tem encerrado as atividades de ONGs, veículos de imprensa e organizações que há anos combatem a pobreza no país. Na Prensa.
As esperadas eleições de 7/11, que podem quebrar uma sequência de 14 anos com os sandinistas no poder, vivem cenário incerto. Segundo estudos da Cid Gallup, 25% dos nicaraguenses ainda preferem os governistas, 13% optariam por outras legendas, enquanto mais de 60% não têm preferência. Mais do que endosso ao partido do presidente Daniel Ortega (que pode se eleger para um quarto mandato, se decidir concorrer), o resultado da pesquisa é efeito da fragmentação dos partidos de oposição, que padecem pela falta de consenso e por medidas legais que criminalizam adversários do governo. Via AFP.
PANAMÁ 🇵🇦
Ninguém comanda a Venezuela. É o que pensa o governo panamenho, que retirou as credenciais diplomáticas da representante venezuelana indicada por Juan Guaidó. Com a mudança de poder na Assembleia Nacional em Caracas (cargo que Guaidó usava para respaldar sua liderança autoproclamada), o Panamá interpreta a situação como um vazio de poder, já que também segue sem reconhecer a liderança de Nicolás Maduro. Na Prensa.
A Unicef, Fundo da ONU para a Infância, pediu que o Panamá promova reformas urgentes para resolver a “dívida histórica” que tem com as crianças do país, após denúncias de abusos sistemáticos em albergues estatais que recebem menores órfãos ou em situação de vulnerabilidade social. A demanda veio após um informe elaborado pelo Parlamento panamenho, revelando que, somente desde 2017, dezenas de crianças foram vítimas de abuso físico, psicológico e sexual por funcionários que deviam zelar por sua segurança em doze albergues sob supervisão do Estado. No Telemetro.
PARAGUAI 🇵🇾
Um acidente com um avião da Força Aérea Paraguaia deixou sete pessoas mortas, sendo seis militares e um civil, próximo ao aeroporto da capital Assunção. A aeronave havia saído da região nortenha de Fuerte Olimpo e tinha o pouso programado para o Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi. Após relatarem um possível problema técnico, os militares tentaram um pouso forçado, levando ao choque do avião com um prédio militar. Um jovem de 19 anos, de identidade desconhecida, foi o único sobrevivente e tem estado de saúde mantido em sigilo. No ABC Color.
O ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), sequestrado pela guerrilha do Exército do Povo Paraguaio (EPP) no início de setembro, completou 75 anos na quarta-feira (10), oficialmente ainda em cativeiro. No entanto, segue não havendo qualquer nova informação sobre seu paradeiro – ou se de fato segue vivo. Seu sequestro, que temos acompanhado continuamente no GIRO, teve seu primeiro relato na edição #47. Nos mais de 150 dias desde então, o governo não conseguiu qualquer nova pista sobre o caso e nem sequer uma prova de vida, levando a família do político a pedir intervenção internacional nas negociações, algo também negado pelas autoridades (leia mais no GIRO #64). Em La Nación.
PERU 🇵🇪
O Peru se tornou mais um país a dar início a sua campanha nacional de vacinação na última terça (9), começando com funcionários da linha de frente no combate à pandemia. O primeiro peruano a receber a dose da vacina da Sinopharm foi Josef Vallejos, chefe da unidade de terapia intensiva do Hospital Arzobispo Loayza, na capital. Além das 300 mil doses do imunizante para a primeira fase da campanha, outras 700 mil devem chegar até o dia 14. Em El Comercio.
O ex-presidente interino Manuel Merino, que renunciou após cinco dias no cargo em novembro, em uma crise que levou o país a ter três presidentes em uma semana, disse que o processo de aquisição de vacinas “teria sido melhor” caso ele ainda estivesse no poder. Hoje parlamentar, Merino felicitou seu sucessor, Francisco Sagasti, pelo início da vacinação, mas argumentou que seu gabinete era mais capacitado para lidar com a crise de saúde. No Correo.
Un clic:
PORTO RICO 🇵🇷
Um conselho federal que cuida das finanças da ilha chegou a um acordo com os principais credores de San Juan para reduzir parte de uma dívida de US$ 70 bilhões. Segundo o presidente do conselho, David Skeel, as negociações, que podem gerar um abono de até 10% do valor, abrem caminho para que o país se recupere da bancarrota. O governador Pedro Pierluisi celebrou o avanço das tratativas, mas teme que as contrapartidas para a redução da dívida envolvam medidas de austeridade. O território insular vive uma crise econômica que se intensificou com os desastres do furacão María, em 2017, e que se agravou ainda mais na pandemia, devendo derrubar o PIB em 7,5% em 2020. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
A crise política no vizinho Haiti preocupa autoridades dominicanas: durante a semana, as Forças Armadas enviaram reforço militar à fronteira que divide a ilha, “para caso algo aconteça”. Ainda que a insurreição em Porto Príncipe não tenha varado as divisas, a situação mais estável leva muitos haitianos a tentar uma nova vida no território ao lado. Até agora, segundo o ministro da Defesa, Carlos Luciano Díaz Morfa, “tudo está tranquilo”. Na DW.
URUGUAI 🇺🇾
O ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015) criticou o governo de Luis Lacalle Pou pela demora na vacinação: “dormimos”, disse o histórico líder da Frente Ampla, “e quase seguramente seremos o último país a vacinar” na América do Sul. Para Mujica, o governo confiou demais nos baixos números de contágios e não teve a urgência necessária para firmar acordos de vacinação, investindo no fundo global Covax, cujas entregas estão tardando mais do que as de países que negociaram diretamente com as farmacêuticas. Desde dezembro, a pandemia vem se agravando no antes exemplar Uruguai, reacendendo o debate sobre o possível erro de Lacalle Pou em não apressar a compra de imunizantes. O próprio Mujica, que tem 85 anos, acabou renunciando ao Senado em outubro, citando problemas de saúde que o colocavam em risco diante da pandemia. No Clarín.
A morte do jogador de futebol Santiago “Morro” García, 30, encontrado sem vida em seu apartamento no último sábado (6), tem mobilizado colegas de profissão que cobram por mais atenção à saúde mental no esporte. A discussão ganhou força após a confirmação de que o uruguaio cometeu suicídio durante o período em que estava afastado do seu clube, o argentino Godoy Cruz, e passando por tratamento psiquiátrico. No Twitter, Sebastián Domínguez, ex-jogador e companheiro de Morro, chamou a atenção para o caso, dizendo que “a saúde mental não faz distinção entre as posições no campo, nem é comprada com dinheiro”. No Ovación.
VENEZUELA 🇻🇪
138 migrantes, em sua maioria venezuelanos, foram deportados do Chile nesta semana. O grupo havia entrado pela fronteira com a Bolívia, nas montanhas ao norte do país. Ao contrário da postura recém adotada pela Colômbia para regularizar a situação dos estrangeiros, o governo de Sebastián Piñera mantém uma política de tolerância zero com a imigração clandestina. Durante a ditadura chilena comandada por Augusto Pinochet entre as décadas de 1970 e 1980, a Venezuela chegou a receber cerca de 80 mil vizinhos fugidos do país que agora lhes fecha as portas. Em El País.
Um lote de 100 mil doses da vacina russa Sputnik V deve chegar na próxima semana, segundo o presidente Nicolás Maduro. Os primeiros a receber o imunizante serão os funcionários dos serviços de saúde. “Depois, vamos vacinar professores”, prometeu Maduro na terça-feira (9). Entre 1,4 milhão e 2,4 milhões de doses da vacina AstraZeneca haviam sido reservadas pelo fundo Covax para a Venezuela, com entrega prevista até o final de fevereiro. Porém, o governo em Caracas segue em negociação para efetuar a compra dos imunizantes e já pediu para adiar o prazo de pagamento: uma das dificuldades em adquirir vacinas tem a ver com o bloqueio de divisas venezuelanas no exterior, que seguem inacessíveis ao governo Maduro como parte das sanções internacionais. Na sexta (12), a relatora da ONU para sanções, Alena Douhan, recomendou que EUA e Europa as suspendessem, entendendo que a punição vem agravando a crise humanitária na Venezuela. Via Reuters.