Venezuela vai às urnas com vantagem chavista e boicote
Argentina aprova taxação de grandes fortunas | Cuba: governo rompe diálogo com Movimento San Isidro | Porto Rico: o colapso do radiotelescópio de Arecibo | Vídeo: Argentina e Uruguai na pandemia
Neste domingo (6), a Venezuela vai às urnas para eleições legislativas que definirão os 277 cargos da Assembleia Nacional no mandato de 2021 a 2026. Como em todos os processos eleitorais do país nos últimos anos, o pano de fundo é a incerteza. Foi há quase dois anos, no início de 2019, que o deputado Juan Guaidó, líder da Casa dominada pela oposição, saiu às ruas para se autoproclamar presidente interino do país, cargo que alegava ter direito de ocupar justamente por presidir a AN. Chamado de golpista pelo chavismo e reconhecido como líder por uma série de países da região, em especial os EUA de Donald Trump, Guaidó até surfou em uma onda imediata de protagonismo, mas sequer passou perto de lograr a prometida transição de poder em Caracas.
Com o tempo, derreteu. Sem apoio do núcleo duro da política externa em Washington e exaurido da capacidade de mobilização de outrora, passou de grande aposta para destronar o presidente Nicolás Maduro a promessa frustrada. Se fracassou a tentativa de destronar na marra o partido governista, o PSUV, as perspectivas de quem luta nas vias institucionais não são animadoras. Acusado pela oposição e pela diplomacia vizinha de suprimir o ambiente democrático, o partido chavista também não deve enfrentar a força adversária nas urnas: a eleição deste final de ano não terá a maioria dos partidos de oposição, que, em agosto, comunicaram que estariam fora do que chamam de “processo fraudulento”, por meio de um documento assinado por 27 organizações, incluindo o partido de Guaidó.
As contradições envolvendo o próximo processo eleitoral passam por vários atores. Diosdado Cabello, primeiro vice-presidente do PSUV e apontado como segundo mais forte no governo, diz que o pleito da vez é “um ponto de inflexão” que, segundo ele, pode pôr fim à quase meia década de inocuidade na Assembleia Nacional: em 2015, a oposição conseguiu encerrar um ciclo de 16 anos de domínio do chavismo e passou a ter maioria. Mas, dois anos depois, a AN foi esvaziada de poder: a Venezuela criou uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC), com poderes supraconstitucionais que, entre outras coisas, passariam a anular diversas faculdades legais do parlamento original. Dali em diante, a crise se acirrou – e a oposição começou a discutir opções golpistas e até intervenções estrangeiras. Recentemente, Cabello chegou a admitir que a ANC deve chegar ao fim sem propor uma nova Constituição, o pretexto que ocasionou sua criação, algo que evidenciou ainda mais a farsa da nova assembleia. Outra manobra que contribuiu para as críticas ao processo eleitoral deste final de semana aconteceu em julho, quando o Tribunal Supremo da Venezuela, aliado às causas do governo, também contrariou um preceito constitucional e indicou os membros do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A escolha, segundo a Constituição, é de responsabilidade do legislativo. Para o TSJ, porém, a Assembleia Nacional forçou uma ação do Judiciário ao não indicar os nomes ao CNE dentro do prazo.
A oposição, por sua vez, vive alguns de seus piores dias. Fragmentado, o grupo que tenta mudar o panorama político venezuelano também é alvo de uma série de escândalos internos de corrupção ainda mal explicados, mas que serviram para minar a imagem do antichavismo na opinião pública. Além disso, nem mesmo a provável derrota da oposição dentro da Assembleia Nacional – que inevitavelmente acabaria por tirar o poder de Guaidó – vai mudar a posição de países da região em relação ao autoproclamado: no Chile, o governo Piñera já prometeu seguir reconhecendo a liderança do deputado independentemente do resultado. Algo que não muda tanto uma postura já mantida na política regional: oficialmente, Guaidó perdeu o comando da AN no início de 2020, ao não ser reeleito para presidir a Casa em um pleito no qual foi impedido de entrar no prédio.
Entre tantos poréns, há também uma pandemia em curso e algumas peculiaridades. Desde o começo da crise sanitária, Maduro denunciou “manobras” estrangeiras para comprometer o calendário eleitoral do país. Mesmo assim, descartou qualquer possibilidade de suspender a votação. “Estamos obrigados pela Constituição, chova, troveje ou relampeie”, disse. Além disso, uma possível reviravolta no controle legislativo poderia vir com um simbolismo: um dos candidatos ao cargo de deputado é Nicolás Maduro Guerra, ou Nicolasito, filho do mandatário. Sorridente e engajado, o político de 30 anos – que já disse que tomaria a Casa Branca caso os EUA invadissem seu país – lembra o pai na aparência e no discurso, e se disse até disposto a conversar com Guaidó: “por que não?” Uma vitória do filho do presidente e uma possível devolução definitiva do poder legislativo ao grupo político que governa a Venezuela desde 1999 pode dar um recado: mesmo com mudanças, tudo deve permanecer ainda mais como está. Maduro segue isolado pelo mundo, mas ainda mais forte dentro de casa. Já Guaidó, apesar de um reconhecimento simbólico além das fronteiras, perde o pouco que tinha dentro do país.
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😷 Covid: com mais de 560 mil novos casos, um incremento de quase 110 mil em relação à última semana, a América Latina definitivamente entrou em uma nova e acelerada escalada da pandemia. São os maiores registros desde agosto. Leia nosso levantamento semanal.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
Duas mulheres indígenas latino-americanas receberam nesta semana o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, considerado o “Nobel da Ecologia”: a líder maia Leydy Pech, do México, foi reconhecida por seus esforços em conseguir reverter uma liberação ao plantio de soja transgênica da Monsanto em sua região – a luta se iniciou após constatar que a derrubada de bosques e a fumigação aérea vinham arruinando a apicultura de seu povo, que tem “três mil anos de tradição” na criação de abelhas. Outra reconhecida na América Latina foi a waorani Nemonte Nenquimo, que vive na Amazônia equatoriana, por liderar com êxito a resistência à concessão de 200 mil hectares de mata a uma empresa petroleira. Ao todo, o “Nobel Verde” reconheceu seis pessoas ao redor do mundo em 2020.
Seguem as previsões sombrias para o rescaldo de 2020: nesta semana, a ONU divulgou números pouco animadores sobre a situação da fome no continente, indicando que, nos últimos cinco anos, o número de subnutridos na região aumentou em 13 milhões de pessoas, com cerca de 47 milhões de latino-americanos e caribenhos vivendo com fome no ano passado – uma situação que deve piorar com a pandemia, cujo impacto sequer foi contemplado pelo relatório. Enquanto isso, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) estima que o investimento estrangeiro direto na região chegará ao fim de 2020 tendo despencado entre 45% e 55%.
ARGENTINA 🇦🇷
O Senado aprovou, na noite de sexta-feira (4), o imposto sobre grandes fortunas no país, que vinha sendo anunciado a semanas: a princípio, será uma cobrança única e excepcional, que começa em 2% do patrimônio declarado por pessoas físicas que possuam acima de 200 milhões de pesos (R$ 12,6 milhões) em bens. A cobrança é progressiva e chega a 3,5% para posses acima de 3,5 bilhões de pesos (R$ 220 milhões). Setores de oposição indicam que a taxação, que surge com o pretexto de financiar o combate à pandemia e subsídios econômicos aos mais pobres, contribuirá para uma fuga de empresários e investidores para o exterior. Em uma sessão movimentada, os senadores também aprovaram uma nova lei de proteção de ecossistemas contra incêndios, criando uma provisão que impede a venda de terrenos que pegaram fogo (acidental ou intencionalmente) por períodos entre 30 a 60 anos após a queimada. O objetivo é impedir a especulação imobiliária criminosa. Com o governo favorável às duas medidas que agora vão para o presidente sancionar, a oposição promete recorrer às cortes superiores tentando barrar as novas leis. No Clarín para uma cobertura à direita e no Página 12 para uma leitura à esquerda.
Em reunião virtual, o presidente Alberto Fernández conversou pela primeira vez com Jair Bolsonaro, após meses de distanciamento diplomático. Sem citar objetivos, o argentino pediu “cooperação ambiental” entre os países, o que pode ser determinante para que o acordo entre o Mercosul (bloco econômico composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia seja aprovado. Fernández, que já chamou seu homólogo de “racista e misógino”, sugeriu que diferenças fiquem “no passado”. Sem a mesma pompa ideológica que costuma usar para atiçar sua base, Bolsonaro concordou e até elogiou Diego Maradona, conhecido por sua tatuagem de Che Guevara e posições à esquerda. Pouco depois, o peronista também se reuniu com o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, cuja vitória ainda não foi reconhecida pelo Brasil. No Clarín.
A morte de Diego Maradona, no último 25/11, virou também caso de polícia. Nesta semana, o médico do ex-jogador, Leopoldo Luque, foi acusado formalmente de homicídio culposo e alvo de uma operação de busca e apreensão em sua casa e clínica. A polícia tenta apurar se houve negligência nas horas finais do ídolo argentino, de quem o país se despediu com multidões nas ruas, como destacamos no GIRO #58. A psiquiatra de Diego, Agustina Cosachov, também está sendo investigada quanto às medicações receitadas para o histórico camisa 10. Em meio ao luto e às atribulações na Justiça, Maradona segue recebendo homenagens pelo mundo: na sexta (4), a prefeitura de Nápoles, na Itália, onde o jogador viveu alguns dos momentos mais ilustres da carreira, oficializou a mudança de nome do estádio local, de San Paolo para Diego Armando Maradona.
BOLÍVIA 🇧🇴
A vitória do MAS em 2020 também pode ser aclamada por Evo Morales por motivos legais. Acusado de sedição e terrorismo pelo governo interino de Jeanine Áñez, Evo chegou a ser proibido de entrar no país e teve os direitos políticos cassados durante o tempo em que passou exilado na Argentina. Com a mudança de governo, e mediante um pedido do Ministério Público, a Justiça retirou a ordem de prisão contra o ex-presidente, além de anular a imputação que impediu Evo de concorrer ao Senado em outubro. As acusações criminais também perderam força após um dirigente cocaleiro dizer ter sido chantageado por membros do governo Áñez para incriminar Morales, em um caso que segue dividindo opiniões. O resultado das últimas eleições foi tema do Giro Latino Cast #11. Já a retrospectiva do golpe que deu origem a tudo isso você encontra nos vídeos do GIRO. Em El Deber.
Acossado pela pandemia, o governo do presidente Luis Arce participou da 31ª sessão extraordinária da Assembleia Geral da ONU, esclarecendo o plano imediato de sua gestão para os próximos meses. Além de prometer vacinar os “mais vulneráveis” no primeiro trimestre de 2021, Arce propôs que a dívida externa do país seja perdoada. Até abril, o saldo devedor chegava a US$ 11,6 bilhões, o que significa 27,3% de um PIB que deverá cair mais de 11% em 2020. Responsabilizando o governo anterior por uma péssima gestão no ano, o presidente fez um chamado à comunidade internacional, dizendo que as atuais condições de endividamento podem comprometer países em desenvolvimento. Via AFP.
Un video:
CHILE 🇨🇱
As investigações do assassinato de Camilo Catrillanca, liderança comunitária mapuche que morreu nas mãos da polícia no final de 2018, ganharam um novo capítulo na quarta (2), com o depoimento do ex-sargento que vem sendo o principal acusado pelo crime: segundo Carlos Alarcón, ele teria sido orientado por seus superiores a mentir que houve um confronto, como justificativa para a execução de Catrillanca. “Guardei silêncio. Somos uma instituição policial com caráter militar, por isso quando nos dão uma ordem é preciso acatá-la”, lastimou-se o carabinero que foi expulso da corporação. Segundo Alarcón, as pressões teriam vindo do major Manuel Valdivieso, então chefe do GOPE (Grupo de Operações Policiais Especiais) na região da Araucanía, no sul chileno. Não é a primeira vez que Alarcón dá declarações neste sentido, mas a reiteração ganhou contornos mais sérios por agora ser feita diante da Justiça. Valdivieso nega tudo desde o início das investigações. Na Biobío.
Agora sim, a novela do segundo saque dos fundos de pensões parece ter chegado ao final: na quinta (3), o Senado aprovou uma última versão do texto modificada pela Câmara. A demora se deveu à tentativa do governo de incluir impostos e outras restrições ao saque, para aliviar o impacto econômico da retirada massiva de fundos, algo que os deputados conseguiram barrar em parte: na versão do texto que foi para sanção presidencial, estão isentos de impostos as retiradas em valores de até 1,5 milhão de pesos chilenos (R$ 10,3 mil). Este novo saque de 10% das quantias mantidas em fundos de pensão e aposentadoria, que deve ter início no próximo dia 17, se segue a outra medida similar ocorrida em julho, como forma de aliviar o bolso da população durante a crise da pandemia. Agora, também há provisão para um retiro “forçoso” de valores da poupança de quem estiver devendo a pensão alimentícia, uma situação muito mais disseminada do que se pensava anteriormente e exposta por vários processos levados a cabo por mães solteiras na época do saque anterior (leia no GIRO #44). Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
O senador Eduardo Pulgar Daza foi capturado pela polícia na última terça (1º) no aeroporto de El Dorado, na capital, diante de acusações de suborno. Pulgar é apontado como autor de pagamentos de suborno a um juiz, em troca de decisões favoráveis a seus patrocinadores de campanha. A informação veio à tona após o vazamento de áudios que apontavam a negociação e foi confirmada por membros da Corte Suprema de Justiça. O senador ficará preso preventivamente à espera de julgamento. Em El Espectador.
O colombiano Martín Lodoño perdeu a mobilidade das pernas em 2001, durante um assalto em Medellín, uma das cidades mais violentas do país. De sua limitação, surgiu uma ideia: o jovem empreendedor criou uma empresa especializada em geração de trabalho na área de acessibilidade. Uma das ideias foi criar uma bicicleta elétrica adaptada que permite percursos pela cidade, além de empregar guias turísticos com deficiência. Via AP.
COSTA RICA 🇨🇷
Antes um exemplo regional de controle da pandemia, o país continua a viver dias preocupantes. Segundo o ministro da Saúde, Daniel Salas, as mais de 1,7 mil fatalidades por covid-19 já fazem da doença a principal causa de mortes em território costarriquenho. Como explicado no canal do GIRO, em abril, pouco mais de um mês após o registro do primeiro caso de coronavírus na Costa Rica, os pacíficos centro-americanos ostentavam as menores taxas de letalidade da região. Mas a situação piorou: sobretudo a partir do pico em setembro, o país não vem conseguindo diminuir o número de contágios, que já superam a marca de mil casos por dia. Com só 359 leitos de UTI disponíveis e 224 deles ocupados, autoridades de saúde falam em tom de alerta. Na DW.
CUBA 🇨🇺
Movimento San Isidro: convém guardar este nome. É assim que se intitulam os jovens artistas, jornalistas e intelectuais que têm se organizado contra o governo e ganharam notabilidade ao longo de novembro, realizando uma greve de fome pedindo a liberação de um dos seus. Coordenado em um nível poucas vezes visto no país desde a Revolução, o grupo chegou a reunir cerca de 300 pessoas em frente ao Ministério da Cultura no último fim de semana, sendo recebido para discutir abertamente com as autoridades um pacto por mais “tolerância” e pela abertura de um “canal de diálogo”. Em entrevista à BBC, a artista plástica Tania Bruguera, que se somou ao movimento, chegou a dizer que o episódio se tratava do “mais democrático” visto em Cuba “em muitos anos”. Na sexta (4), porém, o governo voltou a anunciar o rompimento do diálogo, acusando o movimento de tentar forçar a inclusão de conhecidos dissidentes na conversa e insistindo que o San Isidro é teleguiado pelos EUA. O Ministério diz que não haverá espaço para pessoas que “recebem financiamento, apoio logístico e respaldo propagandístico” de Washington. “Com mercenários, não nos entendemos”, concluiu, em nota. Na BBC.
Una palabra:
Frijolero – expressão que veio de fora para dentro, é uma tradução literal de termos em inglês bean-eater ou beaner, usados pejorativamente nos EUA para se referir primeiro aos mexicanos e, depois, aos latinos de modo geral. Significa literalmente “comedor de feijão” e faz referência à proeminência dele na dieta de quem vem do sul da fronteira. Em países hispanohablantes, a versão traduzida frijolero (de frijol, feijão) também ganhou popularidade como um termo preconceituoso, referindo-se às pessoas mais pobres e supostamente desordeiras. Na Guatemala, após os protestos que chegaram a botar fogo no Congresso, um deputado disse que o país não poderia ser amedrontado por um comelón de frijoles, o que fez os manifestantes reagirem e abraçarem a alcunha, chamando o movimento de Revolución de los Frijoleros.
EL SALVADOR 🇸🇻
Ser presa por um aborto é uma realidade triste e comum para muitas mulheres na América Latina. Especialmente em El Salvador: com uma das legislações mais antiquadas nesse aspecto, o país centro-americano chama a atenção por manter mulheres presas e sujeitas a longas condenações por homicídio até mesmo quando a gravidez interrompida é fruto de violação ou acontece de forma espontânea. O problema é alvo de denúncias constantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que pede revisão urgente de pelo menos 14 detenções que ainda transitam na justiça. O panorama dos direitos reprodutivos na América Latina – e onde eles avançam – foi tema deste vídeo do GIRO. Em El País.
EQUADOR 🇪🇨
A holandesa Vitol, do setor energético, fez um acordo que prevê o pagamento de uma multa de US$ 135 milhões ao Departamento de Estado dos EUA, após a deflagração de um extenso esquema de subornos que envolveu a estatal Petroecuador. Segundo a Justiça, um funcionário da empresa teria subornado pessoas em Equador, Brasil e México em troca de contratos milionários. Os repasses teriam acontecido durante 15 anos. Em El Universo.
A classificação da Seleção Equatoriana de futebol à primeira Copa do Mundo da história do país, em 2002, teria passado por um resultado combinado: a revelação em tom de anedota foi feita durante a semana por Luis Gómez, ex-lateral da equipe, dizendo que a partida da penúltima rodada da fase classificatória, um empate por 1x1 com o Uruguai em Quito, culminou com um “pacto de não agressão” entre as equipes. O empate garantia o Equador na inédita Copa e encaminhava o Uruguai para a repescagem (que venceu, contra a Austrália), em uma época em que os equatorianos estavam quase imbatíveis na altitude quiteña. Em El Comercio.
GUATEMALA 🇬🇹
O ano de pandemia e crise climática apresenta um dado preocupante: a cada dia, uma média de 80 crianças guatemaltecas menores de cinco anos são integradas na lista de casos de desnutrição aguda, sobretudo na zona rural. Entre outros aspetos relacionados às crises do ano, as críticas também miram a falta de dinheiro disponível ao Ministério da Saúde para contornar esse quadro. “Sem investimento em saúde, não se combate a desnutrição”, diz a coordenação do grupo Acción contra el Hambre. Em 2019, o número diário de novas crianças em risco alimentar não passou de 47. Na Prensa Libre.
HAITI 🇭🇹
A violência no país, sobretudo na capital, vem aumentando. Em um período de sete dias até quarta-feira (2), foram registrados pelo menos 14 sequestros, incluindo de crianças, segundo a embaixada dos EUA em Porto Príncipe. Os números chamaram atenção de autoridades diplomáticas por supostamente incluírem pessoas ligadas à embaixada. O total de sequestros, por sinal, pode ser bem maior: em muitos casos, os sequestradores – em sua maioria membros de gangues – colocam como condição de soltura que os casos não cheguem às autoridades e nem à imprensa. O cenário violento tem levado a população às ruas e causado demissões em cargos na polícia. No Listin Diario.
O relatório “Panorama de Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe 2020”, da ONU, alerta para um crescimento da fome na região nos últimos cinco anos: pelo menos 13 milhões, o que significa um a cada três habitantes sem acesso a alimentos só em 2019. O Haiti lidera a triste lista, com relatos de retardo de crescimento por conta da subnutrição aguda. Regionalmente, os índices de pobreza extrema também cresceram 42% nos últimos meses, quadro que deve piorar enquanto a região não superar a pandemia. No Crónica Uno.
HONDURAS 🇭🇳
O presidente Juan Orlando Hernández viajou a Washington na quarta-feira (2), buscando ajuda “com urgência” para a reconstrução do país, devastado com os efeitos dos furacões Eta e Iota, que açoitaram a América Central na primeira metade de novembro (leia mais no GIRO #57). Com desastres naturais, pandemia e pobreza generalizada, algumas entidades preveem uma recuperação que beira o impossível: segundo o Fórum Social da Dívida Externa de Honduras (Fosdeh), ONG que se dedica a temas econômicos, o país deve retroceder 20 anos pelos acontecimentos de 2020, e as caravanas tentando emigrar só vão piorar. Em El País.
Un clic:
Sequência mostra o momento em que o telescópio de Arecibo colapsou. Clique para ver e leia mais na seção de Porto Rico.
MÉXICO 🇲🇽
Em novo ímpeto negacionista, o presidente López Obrador disse que o uso de máscaras “não é indispensável” como medida de prevenção à covid-19, o que contraria as recomendações da OMS. Dizendo ter ouvido a celeuma de médicos, AMLO afirmou que o distanciamento é mais efetivo, assim como medidas de higiene. O próprio mandatário vem sendo criticado pela organização, já que aparece recorrentemente sem máscaras em eventos públicos. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, chegou a pedir seriedade ao país, que acabou de viver sua semana com mais casos em toda a pandemia e já chorou quase 110 mil mortes em decorrência do coronavírus. Em El Universal.
Completando dois anos de mandato na terça-feira (1º), AMLO já acumulou traços característicos: desde as declarações anticiência sobre o coronavírus à promessa não cumprida de reduzir a violência no país (com “abrazos, no balazos”), o presidente também se notabiliza por um uso das Forças Armadas de forma pouco típica no México – muito além das tarefas de auxiliar na segurança, militares do Exército vêm sendo empregados em obras de infraestrutura, enquanto integrantes da Marinha são escalados para funções administrativas no governo. A presença de fardados em cargos inéditos preocupa muitos setores no país, que temem um protagonismo militar semelhante ao que se viu (e se vê) mais ao sul da América, mas também é interpretada como um reflexo do contínuo enfraquecimento do setor civil, após anos de escândalos de subornos e derrotas diante dos cartéis. Na BBC.
NICARÁGUA 🇳🇮
Com uma lei aprovada em novembro, o governo do presidente Daniel Ortega pode dar sequência a um projeto inesperado: a privatização do serviço nacional de distribuição de água. Com a mudança, a Autoridade Nacional de Água (ANA) poderá conceder licenças de exploração e operação a agentes privados. A mudança, no entanto, divide especialistas. Enquanto uns garantem que uma gestão mista do serviço pode corrigir imperfeições, outros enxergam como um “retrocesso”, que comprometeria uma gestão integrada de recursos e beneficiaria o agronegócio ao consumo humano. No Confidencial.
PANAMÁ 🇵🇦
O ministro de Relações Exteriores, Alejandro Ferrer, e seu vice, Federico Alfaro, apresentaram uma carta de renúncia ao presidente Laurentino Cortizo na quarta (2). Ferrer, advogado de profissão, era o responsável pela pasta desde julho de 2019, início do governo Cortizo. Até o fechamento desta edição, as razões para a entrega do cargo não haviam sido esclarecidas. A chapa substituta que vai compor a nova chancelaria terá Erika Mouynes e Dayra Carrizo Castillero, ambas com carreira na área diplomática e econômica. Em La Estrella de Panamá.
PARAGUAI 🇵🇾
O presidente Mario Abdo Benítez viajou a Foz do Iguaçu para se encontrar com Jair Bolsonaro, com quem realizou a terceira reunião bilateral desde que os dois foram eleitos, em 2018. O evento de “agenda aberta” tratou da construção da Ponte da Integração, que ligará a cidade brasileira que recebeu o encontro ao município paraguaio de Presidente Franco. A renegociação do anexo C da usina binacional de Itaipu, prevista para 2023, também entrou na ata – em 2019, negociações a portas fechadas sobre os termos do acordo energético quase derrubaram o governo Benítez. No Clarín.
A edição 2020 do Miss Universo Paraguai fez as redes sociais do país explodirem com denúncias de marmelada nesta sexta (4), após a vitória de uma candidata que não participou de nenhuma das etapas prévias. Vanessa Franco, que se mantiver a coroa representará o país no concurso internacional, apresentou-se três dias antes da noite de gala, desconhecida do público, sem marcar presença nos ensaios e nem mesmo possuir fotografia oficial. Fofoqueiros do país garantem que houve manipulação no resultado. Em La Nación.
Un nombre:
Sonora – como ocorre em português, uma coisa “sonora”, em espanhol, é ruidosa. Mas não é daí que vem o nome desse famoso estado mexicano. A origem é incerta, mas a versão mais aceita diz que seria um derivado de Señora, primeiro nome dado à região pelos espanhóis que ali chegaram em 7 de outubro de 1533, dia de Nossa Senhora do Rosário, a quem homenagearam. Como os nativos não conseguiam pronunciar o ñ, com o tempo prevaleceu a corruptela. Outra possível origem é que Sonora viria de sonot, nome dado pelos nativos locais às casas onde viviam.
PERU 🇵🇪
O governo Francisco Sagasti, que tomou posse em 17/11 após uma crise política que fez o país ter três presidentes em sete dias, sofreu sua primeira baixa de gabinete: na quarta (2), o ministro de Interior, Rubén Vargas, renunciou ao cargo, criticando a decisão de Sagasti de mudar o comando da polícia driblando a linha sucessória baseada na hierarquia (uma polêmica que foi tema no GIRO #58). No lugar de Vargas, foi nomeado Cluber Aliaga, um general aposentado da polícia nacional. A pasta de Interior lida, entre outros temas, com a segurança pública. Para Sagasti, há “grupos de poder” que seguem tentando desestabilizar o país. Nesta semana, houve nova morte em protesto no Peru: desta vez, em uma manifestação de agricultores no norte do país. O episódio, definido por Sagasti como “uma tragédia”, reacendeu temores de que a repressão violenta – que deixou dois mortos em Lima em 14/11 culminou com a renúncia do brevíssimo Manuel Merino após menos de uma semana na presidência – já não dependa tanto do presidente da vez. Via Reuters.
Martín Vizcarra, o presidente destituído em 9/11 cuja derrubada deu início à crise sucessória que terminou (até aqui) em Sagasti, anunciou no último sábado (28) que será candidato ao Congresso nas eleições de 2021. A decisão dividiu opiniões pelo país: Vizcarra, até então independente, anunciou sua candidatura pelo Somos Perú, sigla que viu sete dos seus nove congressistas votarem pela retirada do então presidente. O partido garante que quatro deles já foram removidos de suas listas e outros três são alvo de um processo disciplinar. Além de expor uma fratura interna e a hipocrisia do partido, que agora conta com a popularidade Vizcarra para fazer mais parlamentares (o ex-presidente será candidato em Lima, que elege mais representantes), a decisão aumentou as suspeitas sobre o caso de suborno, ainda não investigado, que levou ao impeachment do presidente. Sendo deputado, voltam as imunidades e o processo se complica. Em El Comercio.
PORTO RICO 🇵🇷
Chegou ao fim a história do radiotelescópio de Arecibo, pérola da ciência no Caribe que já vinha se encaminhando para o abandono: na terça (1º), os cabos de sustentação da plataforma cederam, levando ao colapso da estrutura principal. Construído em 1963 e mantido como o maior de seu tipo no mundo por mais de meio século, o Observatório de Arecibo contribuiu para inúmeras descobertas astronômicas e virou cenário de filmes, mas foi seriamente danificado pelo furacão María em 2017 e, desde então, permaneceu assim. Sem verbas para restaurá-lo, a agência responsável pelo telescópio anunciou em novembro que ele seria desmantelado (contamos no GIRO #57), mas o tempo tratou de abreviar a agonia da estrutura. No Vanguardia.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
O presidente Luis Abinader recebeu o ministro das Relações Exteriores do Haiti, Claude Joseph, na capital, Santo Domingo. A conversa faz parte de uma rodada de encontros para aproximar o governo de Abinader, que tomou posse em agosto, dos vizinhos de fronteira. Os acordos de limites fronteiriços, inclusive, foram discutidos na última reunião. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
“Quero que lembrem de mim como um presidente sério e responsável”. Aos 80 anos, o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020) não teme a morte. Diagnosticado com câncer de pulmão em 2019, o sucessor (e antecessor) de Pepe Mujica também se recupera de uma trombose aguda. Em entrevista ao programa El Legado, o ex-presidente contou sua história. Em El País.
O presidente Luis Lacalle Pou indicou, na segunda (30), que a primeira quinzena de dezembro será decisiva para a viabilidade da temporada de verão no país. Com a indústria turística já afetada pela manutenção das fronteiras fechadas, o que impedirá a tradicional vinda massiva de argentinos e brasileiros ao litoral do paisito, o governo aposta em campanhas para que os próprios uruguaios façam viagens pelo país – algo que pode ser afetado pelos crescentes números que, embora ainda sejam relativamente baixos, seguem fazendo o Uruguai bater recordes de contágios e mortes por covid-19. Lacalle Pou pediu um pouco mais de paciência, esperançoso de que o controle da pandemia tende a fazer do país um hub de investimentos e turismo quando uma vacina estiver disponível. “[O Uruguai] é um lugar atrativo, não só porque a democracia é plena, cumprem-se as leis, porque as instituições são fortes, porque não há maiores traumas em uma mudança de governo, mas também porque tivemos uma atitude como coletividade para enfrentar esta pandemia”, disse o mandatário. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
A jovem Glass Marcano, 24, foi uma das milhares de venezuelanas que deixaram o país para fugir de uma crise econômica que já dura mais de meia década. Mas, no caso dela, há uma dose robusta de oportunidade, algo que falta à maioria dos que cruzam as fronteiras. A menina combinava estudos de Direito, venda de frutas em Yaracuy para ajudar a família e sua paixão pela música. E foi justamente essa paixão, misturada a um dom raro, que fez seus caminhos se cruzarem com a Paris-Mozart, uma das principais orquestras na França. A feliz reviravolta, na reportagem da BBC.
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