Variante brasileira se espalha: vizinhos impõem novas restrições
“Não tem utilidade”: Peru suspende uso de ivermectina contra covid-19 | Reunião tensa marca 30 anos do Mercosul | Bolívia: na prisão, ex-presidenta diz ser vítima de “abusos”
A Argentina anunciou que voltará a suspender todos os voos com o Brasil a partir deste sábado (27), em um pacote de novas restrições que também inclui viagens com Chile, México e Reino Unido. A retomada de medidas duras contra a circulação internacional, remetendo a manchetes do início da pandemia, é uma resposta direta à presença cada vez mais disseminada de novas cepas agressivas na região – entre elas, a P1, identificada pela primeira vez em pessoas saídas de Manaus e já chamada de “variante brasileira”. Se há duas semanas este GIRO contou como o Brasil vinha preocupando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a vizinhança por ter se tornado o viveiro de uma das variantes mais temidas do mundo atualmente, agora o medo deixou de ser hipotético: a P1 vem sendo detectada além das fronteiras brasileiras, pressionando os sistemas de saúde mesmo em países que acreditavam já ter vivido o pior.
É o caso do Peru, que terminou 2020 como o latino-americano com mais mortes proporcionais por covid-19 e hoje vive um repique dos casos: foram 60 mil nos últimos sete dias, superando o recorde anterior, da terceira semana de agosto. Agora, segundo revelou o governo peruano na quinta (25), 40% dos casos registrados em Lima já são da P1, que se tornou a principal na capital após ingressar no país pela fronteira com o estado brasileiro do Amazonas. O Peru decidiu decretar novo lockdown durante a semana temendo maiores estragos.
Em outros lugares que igualmente vivem seus piores momentos, a variante também está espalhada. O Uruguai, que teve recorde de mortes (115), detectou a P1 em pelo menos sete de seus 19 departamentos, já tem mais leitos de UTI ocupados no interior do que na capital pela primeira vez, e ordenou o fechamento dos free shops que atraem turistas brasileiros na fronteira, além de suspender aulas e fechar repartições públicas. E há virologista uruguaio dizendo que, em breve, a variante brasileira pode se tornar dominante no país. No Paraguai, que vive um colapso hospitalar e também renovou o recorde de óbitos semanais (296), o Ministério da Saúde diz acreditar que a P1 já seja a variante dominante e o governo decretou medidas mais rígidas de controle da circulação até o próximo domingo (4/4). O problema chega também à Bolívia, que suspeita algo semelhante pelo rápido aumento de casos no departamento de Pando, fronteiriço com a região da Amazônia brasileira, mas ainda não oficializou a presença da cepa em suas terras; amostras foram enviadas para o exterior, tentando confirmar se de fato se trata da P1. Já a Colômbia – que confirmou a chegada da variante ainda em janeiro, já havia interrompido o transporte entre os países e chegou a cancelar uma viagem presidencial ao Brasil por conta da P1 – voltou a impor velhas medidas restritivas à circulação, como o pico y cédula (entenda o que é em Una expresión, no GIRO #49).
Até mesmo quem não faz fronteira com o Brasil já tem seus primeiros registros oficiais da variante. No Chile, são pelo menos seis os contágios confirmados, com os mais antigos tendo sido trazidos para a região do Biobío, no sul, por uma mulher que havia retornado do Brasil no dia 5/3. Ainda não há clareza se a P1 está mais disseminada além dos poucos casos oficiais, mas o Chile também atravessa o momento com seus piores números em toda a pandemia (apesar de avançar rapidamente com a vacinação), registrando um recorde semanal de mais de 44 mil novos casos e leitos de UTI com ocupação acima dos 95%. Como resultado, toda a região metropolitana de Santiago e outras áreas que representam mais de 70% da população do país vão voltar ao lockdown rígido a partir deste sábado (27), mantendo-o pelas próximas duas semanas.
Puxada pelo Brasil, que além de exportar a nova cepa é responsável por 62% dos casos e 67% das mortes na última semana, a América Latina voltou a registrar recordes nos dois quesitos: foram quase 850 mil contágios e 25 mil óbitos em sete dias na região (leia nosso levantamento semanal). Com o novo tsunami de infecções e mortes, campanhas de imunização ainda muito distantes de números capazes de vencer a velocidade das novas cepas (mesmo no Chile) e a exaustão após um 2020 já repleto de sacrifícios, os países seguem buscando evitar uma reprise do ano anterior. O futebol, por exemplo, tenta se manter alheio às restrições, exigindo que times de países onde as viagens estão suspensas se desloquem a um terceiro local “neutro” para realizar suas partidas – competições de clubes, como a Libertadores, continuam ocorrendo envolvendo os dez países da porção latina da América do Sul. Já a Copa América de seleções, a ser jogada entre junho e julho na Argentina e na Colômbia, está mantida, inclusive com expectativa de receber público nos estádios.
Mas, apesar de insistir em fugir de uma repetição do último ano, talvez nossos países tenham que se deparar com decisões que já tomaram antes, como a suspensão de eleições: dentro de duas semanas, em 11/4, Bolívia (2º turno das regionais), Equador (2º turno das presidenciais), Peru (1º turno das presidenciais) e o próprio Chile (eleições regionais e formação da Assembleia Constituinte) têm um encontro marcado com as urnas. Por enquanto, os calendários estão mantidos, mas a preocupação com os contágios permanece. O governo chileno já anunciou que vai dividir a votação em dois dias (10 e 11), para reduzir as possíveis aglomerações.
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Un sonido:
DESTAQUES
🌎 REG – No aniversário de 30 anos do Tratado de Assunção, pedra fundamental para a criação do Mercosul, o bloco com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai se reuniu virtualmente na sexta (26), com uma série de assuntos a tratar. O clima foi tenso, mas não da forma esperada: se o descontrole da pandemia brasileira tinha tudo para ser o elefante na sala, com novas medidas adotadas por vizinhos durante a semana para frear o avanço da variante brasileira (leia mais no abre desta edição), as rusgas ficaram por conta de um desentendimento entre o presidente argentino Alberto Fernández e seus homólogos. Único que não se autodenomina liberal do quarteto, Fernández se mostrou incomodado com as propostas de flexibilização de seus aliados e com pedidos de revisão de tarifas para que, nas palavras do uruguaio Lacalle Pou, o bloco não se torne um “espartilho”. Irritado, o peronista chegou a dizer que não deseja “ser um peso” para o resto, defendendo conciliar políticas com justiça social e “equilíbrio”. Em 2020, por desavenças, a Argentina já chegou a suspender sua participação em negociações do Mercosul. No UOL.
🇧🇴 BOL – Em uma carta de próprio punho escrita na prisão e difundida em suas redes sociais, a ex-presidenta interina Jeanine Áñez (2019-2020) denunciou estar sofrendo “abusos” e ser vítima de um governo que define como uma “ditadura”. Áñez está presa preventivamente desde a madrugada do dia 13, em meio a investigações que tentam enquadrá-la por sedição, conspiração e terrorismo na sequência do golpe de Estado contra Evo Morales, acusações que são questionadas dentro e fora da Bolívia (contamos mais neste vídeo). Um recurso que poderia liberá-la foi negado nesta sexta (26). Enquanto a mensagem de Áñez repercutia, o presidente Luis Arce realizou uma visita ao México, um dos maiores aliados da atual administração boliviana. López Obrador, o mandatário mexicano, que já questionou o intervencionismo da Organização dos Estados Americanos (OEA) na derrubada de Evo, falou do “compromisso de seguir lutando pela liberdade, igualdade, democracia e defesa de nossas soberanias”. Durante a semana, outro elemento esquentou a tese de um suposto abuso cometido pelo atual governo: José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Humans Rights Watch, disse que, se Arce “tem razão” ao criticar os abusos cometidos por Áñez, agora “faz o mesmo” contra ela. No Milenio.
🇭🇹 HAI – A crise política segue, mas a instabilidade que se agravou de fevereiro para cá não impediu o governo de Jovenel Moïse de seguir em frente com seu plano de reformar a Constituição. Em resposta, foram convocadas novas jornadas de protestos nacionais para os dias 28 e 29, quando se completam 34 anos do referendo que ratificou a atual Carta Magna, após o fim da ditadura de três décadas da família Duvalier. Questionado por opositores há anos e sobrevivendo a uma tentativa de destituição em fevereiro (leia mais no GIRO #68), Moïse vem governando por decreto e tenta avançar com um novo texto constitucional, inicialmente previsto para ir a votação popular em 25/4. Durante a semana, a Justiça ordenou a soltura de pessoas envolvidas no movimento que tentou retirar Moïse do poder em fevereiro (e que levou a um motim policial violento; veja no GIRO #73), um movimento que o presidente qualificou de “golpe”. Na teleSUR.
🇵🇪 PER – O Ministério da Saúde anunciou, na sexta (26), que vai suspender definitivamente o uso de ivermectina no tratamento para a covid-19 no país, seguindo os parâmetros internacionais. Acompanhando as definições da OMS, o ministro Óscar Ugarte disse que o medicamento “não tem utilidade (contra o coronavírus) e portanto não vamos continuar”. A exemplo do Brasil, o Peru tolerava o uso de ivermectina desde que médicos e pacientes concordassem em utilizar o medicamento, e tanto lá como cá o resultado foi pouco promissor: o Peru terminou 2020 com o maior índice de mortes proporcionais nas Américas. Em El Comercio.
🇻🇪 VEN – Nos EUA, um grupo de senadores democratas solicitou ao governo Joe Biden a suspensão da proibição das trocas de óleo diesel com a Venezuela, parte das sanções que consideram “agravantes” à crise humanitária do país e que não atuam onde o governo realmente quer: nas pressões ao governo Nicolás Maduro. Ainda sem uma agenda definida para o assunto Venezuela, muito por conta da pandemia, a nova administração resolveu reconhecer Juan Guaidó como representante em Caracas, mas sem deixar claro o que isso implica – além de politicamente desgastado, o opositor agora está na mira da Justiça local por suposto “sequestro” de ativos no exterior. A decisão de proibir empresas não-estadunidenses de enviar diesel para os venezuelanos foi imposta em novembro, quando os republicanos, temendo a saída do poder em Washington, aumentaram drasticamente as retaliações a adversários políticos latino-americanos. Via AP.
Un video:
MAIS NOTÍCIAS
ARGENTINA 🇦🇷
O governo anunciou que a Argentina sairá do Grupo de Lima, órgão multilateral surgido em 2017 com o objetivo declarado de acompanhar a crise venezuelana e propor saídas pacíficas – mas que, na prática, pouco fez pelo país caribenho e causou mais desavenças do que consensos. De acordo com a chancelaria, a atuação do bloco “levou a nada” nos últimos anos, e o alinhamento com o líder oposicionista Juan Guaidó contrasta com a posição do atual governo – se o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) era um crítico ferrenho de Nicolás Maduro, a atual gestão de Alberto Fernández, assim como o México, defende que o caminho para a Venezuela passa por um diálogo que envolva as várias partes, sem favorecimento a um dos lados. Via Reuters.
Notícias ruins na economia não param: após o Banco Central confirmar uma queda de 9,9% do PIB em 2020, o que pode ser um dos maiores tombos entre os latinos na pandemia e que jogará o país no terceiro ano seguido de recessão, outro problema volta a assombrar Buenos Aires: a dívida de US$ 44 bilhões com o FMI, contraída durante os anos de Mauricio Macri (2015-2019) para conter a crise que já havia antes da covid-19. Em um evento que rememorou o golpe militar de 1976, cujo 45º aniversário ocorreu na quarta-feira (24), a vice-presidenta Cristina Kirchner foi direta: “não temos dinheiro para pagar a dívida”. O país vive um eterno morde e assopra financeiro, com cada vez mais mordidas. Ainda que tenha recentemente celebrado a reestruturação de sua dívida em dólares com credores privados, a Argentina seguiu tentando prorrogar os prazos de pagamento com o FMI. Agora, o discurso é outro. Na Folha.
BOLÍVIA 🇧🇴
Um avião da Força Aérea Boliviana caiu sobre uma área residencial de Sacaba, no departamento de Cochabamba, deixando uma pessoa morta e quatro feridas, após um acidente durante manobras de treinamento. Os tripulantes se salvaram utilizando paraquedas. Foi uma nova tragédia a colocar Sacaba no noticiário – o local também foi palco de um dos mais sangrentos massacres de manifestantes em meio aos protestos contra o golpe de 2019, um dos episódios que colocaram o alto escalão civil e militar do antigo governo Áñez na mira da Justiça. Em La Razón.
CHILE 🇨🇱
Juan Carlos Cruz, conhecido por denunciar abusos sexuais sistemáticos dentro da Igreja no Chile, foi incluído pelo papa Francisco em uma comissão do Vaticano que busca combater episódios semelhantes. Cruz foi um dos principais denunciantes do então sacerdote Fernando Karadima no início dos anos 2000, no caso que se tornou o maior escândalo da Igreja Católica chilena, levando todos os bispos do país a renunciar. Karadima, hoje com 90 anos, foi excomungado em 2018, mas nunca foi preso porque os crimes haviam prescrito quando as denúncias vieram à tona. Em La Tercera.
COLÔMBIA 🇨🇴
Um carro-bomba foi detonado na tarde de sexta-feira (26) em frente à prefeitura de Corinto, cidade de cerca de 30 mil habitantes no departamento de Cauca, um dos epicentros da violência no país. Ainda não está claro quem estava por trás do ataque que não deixou vítimas fatais, mas feriu 19 pessoas, e o presidente Iván Duque exigiu que militares e o Ministério de Defesa procurem os culpados pelo ato terrorista “de imediato”. A sexta-feira foi movimentada em Cauca, tendo registrado ainda o sequestro de um funcionário da procuradoria na cidade de Caloto e enfrentamentos entre membros da dissidência local das FARC e do Exército de Libertação Nacional (ELN) nos arredores da cidade de Argelia. Há conflitos frequentes na região entre os grupos armados tradicionais e gangues locais pelo controle de territórios e rotas do narcotráfico. Em El Tiempo.
Nicolás Maduro é o “maior obstáculo” ao sucesso dos acordos de paz de 2016, entende o alto comissário para a paz colombiano, Miguel Ceballos. Em entrevista à agência Reuters, ele endossou a posição do governo de Iván Duque, que acusa a Venezuela de oferecer proteção a membros das FARC – oficialmente desmobilizadas após o acordo em 2016, mas que seguem vivas em suas dissidências – e do ainda ativo ELN, prolongando o conflito interno colombiano. Maduro, é claro, nega tudo.
O Estado colombiano reconheceu sua responsabilidade no caso Jineth Bedoya, pedindo perdão “pelas falhas do sistema judicial que não realizou uma investigação penal digna”. O caso, referente ao sequestro e estupro da jornalista Jineth Bedoya por paramilitares que trabalhavam para o governo no ano 2000, foi analisado nas últimas semanas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) e começou com uma participação criticada da Colômbia, acusada de não colaborar (leia mais no GIRO #73). A defesa de Bedoya lamentou as limitações do reconhecimento estatal, que só admitiu a culpa pelas falhas no processo e investigação ocorridas na época, mas não pelos crimes cometidos por seus agentes. A Corte IDH ordenou que o Estado ofereça proteção imediata à jornalista. Na Semana.
Una expresión:
Nunca más – a noção de never again como uma bandeira contra genocídios e violações de direitos humanos ganhou proeminência no mundo ocidental após o Holocausto, mas, na América Latina, quem popularizou a expressão foram os grupos de defesa das vítimas da última ditadura argentina, instaurada em 24 de março de 1976. Nunca Más, que aparecia em faixas de organizações de direitos humanos do país, também foi o título escolhido para o relatório final da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP) e inspirou documentos semelhantes em outros países vitimados pelas ditaduras entre os anos 1960 e 1980, como o Brasil: Nunca Mais.
COSTA RICA 🇨🇷
No marco do Dia Mundial da Tuberculose, data de conscientização sobre a doença ocorrida na quarta (24), a Costa Rica reafirmou sua busca por erradicar a moléstia de seu território até 2035. Hoje, o país está entre os 15 da América com menos casos notificados anualmente, um número inferior a 500 registros. Enquanto caminha para se livrar de uma doença antiga, a nação centro-americana ainda se equilibra para combater a ameaça mais nova: um estudo preliminar apontou que a covid-19 foi a principal causa de morte no país em 2020, respondendo por 2.334 dos 26,2 mil óbitos no ano (9%) e superando o infarto agudo do miocárdio, antigo líder no quesito causa mortis. O número é especialmente alarmante para os demais latinos porque, desde o início, a Costa Rica se manteve com números relativamente baixos de vítimas, com uma resposta à pandemia considerada melhor que a média da região. No Semanario Universidad.
CUBA 🇨🇺
Vivendo um aumento nos contágios por covid-19 desde o início de 2021 (já foram 58 mil, contra cerca de 12 mil no ano passado inteiro), Cuba permanece como o único país latino-americano, ao lado do Haiti, a não ter iniciado uma campanha nacional de vacinação. Isso porque o país segue apostando suas fichas no desenvolvimento de vacinas próprias, que espera ter prontas para o segundo semestre: a Soberana 2 e a Abdala, únicas vacinas 100% latinas a atingir a fase 3 de testes até agora, a última antes de uma eventual aprovação para uso massivo, continuam sendo aplicadas na ilha e em nações parceiras que se associaram à testagem, casos de Irã e Venezuela. Durante a semana, o Instituto Butantan, de São Paulo, anunciou que também avança no desenvolvimento de um imunizante próprio, o que colocaria o Brasil ao lado de Cuba na fronteira da autonomia – mas a Butanvac ainda precisa passar pelas fases anteriores da testagem para analisar a segurança e eficácia, começando desde a primeira etapa, além de ter sua condição de “vacina brasileira” questionada, pois na verdade teria sido desenvolvida nos EUA. Em El País.
EL SALVADOR 🇸🇻
Regina Cañas, primeira-dama de El Salvador durante o governo de Mauricio Funes (2009-2014), foi condenada a três anos de prisão por tentativa de obstrução de justiça durante as investigações de corrupção envolvendo o próprio Funes e o filho de ambos, Diego Roberto Funes Cañas. Ela estava foragida, como o restante da família – que se refugiou na Nicarágua para escapar da possibilidade de prisão –, mas acabou fazendo um acordo com a Justiça para “retornar à vida normal”: o período encarcerada será substituído por uma multa de US$ 95 mil e serviços comunitários. Em La Jornada.
O presidente Nayib Bukele pediu que os EUA abandonem a noção de Triângulo Norte (termo que se refere à parcela setentrional da América Central, composta por El Salvador, Guatemala e Honduras) para pensar estratégias de combate à imigração irregular. Bukele entende que o termo encara a região como uma “massa violenta e indiferenciada” e prejudica o combate às diferentes causas que levam pessoas dos três países a buscar refúgio nos EUA. Em ElSalvador.com.
EQUADOR 🇪🇨
O escândalo do furo na fila de vacinação segue se desenrolando no país e, na terça (23), o presidente Lenín Moreno defendeu que membros de seu círculo próximo tenham recebido o imunizante mesmo sem ser parte do grupo prioritário: comparando a um estado de guerra, o mandatário argumentou que as “normas de segurança” recomendam a proteção dos colaboradores imediatos do governante. Em relação a si mesmo, Moreno lembrou que sua paraplegia e seus 67 anos já o colocariam no início da fila independentemente do cargo que ocupa. O presidente do Equador usa cadeira de rodas desde 1998, como consequência de um tiro recebido em um assalto. O escândalo das vacinas já derrubou dois ministros da Saúde do país no último mês. Via AFP.
Não só a Saúde enfrenta polêmicas no Equador: na quinta (25), a Assembleia Nacional confirmou sua recomendação para uma moção de censura e destituição do titular da pasta do Trabalho, Andrés Isch, acusado de descumprir a lei ao não fixar um aumento para os salários básicos em 2021. Neste sábado (27), a Assembleia volta à carga iniciando o processo contra o ex-ministro da Saúde, Juan Carlos Zevallos (que renunciou em fevereiro), pelas irregularidades na compra e distribuição de vacinas. A atual legislatura corre contra o tempo para realizar os processos antes que o mandato se encerre, em 14/5. Em El Universo.
Un hilo:
Clique para conhecer mais sobre a última ditadura argentina, cujo início completou 45 anos nesta semana.
GUATEMALA 🇬🇹
Vulcões fechando aeroportos. É assim que a banda toca na Guatemala, um país com pelo menos 288 desses monstros terrestres – ainda que só quatro sejam considerados ativos. Um deles é o Pacaya, próximo à capital, que tem expelido cinzas do alto de seus 2,5 mil metros. De volta à atividade desde fevereiro, o vulcão tem causado desalojamentos e agora também levou autoridades a interditar o principal aeroporto da Cidade da Guatemala, que já tem aeronaves cobertas por centelhas. Apesar de anedóticas, notícias envolvendo vulcões nem sempre são apenas curiosas: em 2018, por exemplo, uma erupção do Vulcão de Fogo deixou mais de 60 mortos. Dessa vez, apesar de não deixar feridos, a nova atividade vulcânica também adiou a ida de uma comitiva do governo dos EUA ao país, para discutir questões imigratórias. Na Prensa Libre.
HONDURAS 🇭🇳
Mais um ativista indígena foi morto no país: Juan Carlos Cerros Escalante, 41, foi alvejado na cidade de Nueva Granada, na frente da família, no que a polícia acredita ser um crime encomendado. O ativista fazia parte de um grupo que lutava pela proteção do Rio Ulúa, em oposição à construção da hidrelétrica El Tornillito, um dos vários empreendimentos acusados de violar direitos ambientais. Apesar de bárbaro, o crime é comum: de acordo com a Global Witness, Honduras é um dos países mais perigosos do mundo para ativistas ambientais, com pelo menos 120 mortos entre 2010 e 2017. Só em 2020, mais de uma dezena de pessoas foram mortas nessas circunstâncias. O crime também acontece próximo ao aniversário de cinco anos do assassinato de Berta Cáceres, que teve condições similares e ganhou repercussão mundial. Na Prensa.
O presidente Juan Orlando Hernández segue negando que tenha recebido dinheiro do tráfico de drogas, acusação formalizada pela procuradoria dos EUA e que, no limite, pode levá-lo à cadeia (leia mais no GIRO #73) Na quarta (24), JOH afirmou que gravações feitas em 2013 pela Administração de Fiscalização de Drogas (DEA) estadunidense podem provar que são falsos os depoimentos dos megatraficantes que o denunciaram. Segundo o mandatário, os “falsos testemunhos” são nada mais que retaliações ao governo por sua “incansável” batalha contra os cartéis. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
Cerca de mil migrantes estão alojados em acampamentos improvisados em Tijuana, na ponta oeste da fronteira mexicana com os Estados Unidos. Outras 200 pessoas estão acampando numa praça em Reynosa, cidade fronteiriça com o estado do Texas. A nova leva de migrantes evolui conforme a crise econômica e humanitária se agrava nos países centro-americanos, ao mesmo tempo que aumenta a expectativa de que o governo estadunidense de Joe Biden flexibilize a entrada desses estrangeiros. Embora os EUA ainda estejam barrando quem tenta atravessar a fronteira clandestinamente em números recordes, alguns menores desacompanhados e famílias têm recebido permissão para entrar no país e solicitar asilo ou refúgio. Via Reuters.
Os filmes dublados foram proibidos nos cinemas mexicanos e, a partir de agora, todos deverão ser legendados em espanhol. É o que determina uma lei federal que entrou em vigor na segunda (22). O motivo da mudança seria garantir acessibilidade a pessoas com deficiência auditiva. Filmes classificados para o público infantil e documentários educativos ainda poderão ser dublados, mas também deverão contar com legendas mesmo nesses casos. Na DW.
Dale un vistazo:
📚 Cuarteles de Invierno – um boxeador decadente e um cantor de tangos esquecido se encontram em uma estação de trens no interior argentino, ambos contratados para animar um festival organizado pelos militares. É esta a instigante sinopse de Cuarteles de Invierno, romance publicado em 1980 por Osvaldo Soriano (1943-1997) como um universo em miniatura do que se passava no país durante a última ditadura: na cidade de Colonia Vela, olhava-se para o outro lado quando os fardados cometiam desmandos enquanto tentavam distrair a população dos crimes diários do regime. Sem edição brasileira, o livro de Soriano ganhou uma versão cinematográfica quatro anos mais tarde, logo após o fim da ditadura.
📽️ Cuarteles de Invierno (Argentina, 1984). 115 minutos. Dir.: Lautaro Murúa.
NICARÁGUA 🇳🇮
O BCIE, Banco Centro-Americano de Integração Econômica, aprovou um financiamento de US$ 85 milhões para a construção de seis hospitais em cinco cidades do país, o que beneficiaria três milhões de pessoas durante e depois da pandemia, com a criação de 378 leitos. O projeto inclui a construção de um ambulatório de oncologia e áreas para o isolamento de pacientes com covid-19, e deve começar ainda este ano. Em contrapartida, Manágua teria um prazo de até 10 anos para quitar o empréstimo, com juros de 1,75% ao ano. Na Prensa Latina.
O governo de Daniel Ortega indultou mais de 800 presos por conta dos feriados de Páscoa, concedendo benefício de “convivência familiar” durante toda a Semana Santa. Entre os liberados provisoriamente, no entanto, não estão os considerados presos políticos por organizações de direitos humanos, o que gera inquietação. Apesar de ser um país com violência crescente, a Nicarágua adota com frequência políticas de indulto e acredita-se que essa prática contribua para que o governo siga passando uma falsa imagem de um país seguro. Em El Comercio.
PANAMÁ 🇵🇦
A interrupção do tráfego no Canal de Suez, no Egito, principal conexão marítima entre Europa e Ásia, repercutiu do outro lado do planeta em um país também famoso por uma passagem fundamental para o comércio internacional: o Panamá abriu investigação sobre as razões que levaram o cargueiro Ever Given a encalhar e o Consulado panamenho no Egito diz estar colaborando com as autoridades locais – isso porque, embora o barco seja operado por uma empresa de Taiwan, ele circula sob a bandeira panamenha, o que exige envolvimento do país. Na prática, porém, há pouca relação real com a nação latina: várias empresas estrangeiras registram seus navios no Panamá (o país lidera a marinha mercante mundial com 8,5 mil barcos registrados) graças a vantagens tributárias, burocráticas e trabalhistas oferecidas a donos de cargueiros internacionais. Via EFE.
PARAGUAI 🇵🇾
Uma queda, sim, mas para causar inveja nos vizinhos: o Banco Central do Paraguai (BCP) informou oficialmente o resultado da economia em 2020: uma queda de apenas 0,6% no PIB, desempenho bem distante da catástrofe vista em vizinhos de fronteira, como a Argentina (-9,9%) e o Brasil (-4,1%). Segundo o economista-chefe Miguel Mora, um salto de 1% na produção no último trimestre de 2020 ajuda a explicar a melhora, que faz do Paraguai um dos países menos afetados economicamente pela pandemia. Vale lembrar, porém, que o país só foi viver um colapso total do seu sistema de saúde em 2021, passando boa parte do último ano sem medidas de restrição mais severas. Ainda em abril do ano passado, logo no começo da pandemia, um prognóstico da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) já havia projetado que os paraguaios provavelmente seriam os menos afetados pelo declínio econômico (veja no GIRO #48), embora a previsão da época fosse de uma queda até maior, de 1,5%. No ABC Color.
PERU 🇵🇪
“Ser um homem gay no Peru é exaustivo”. É o que conta um médico que deixou o país para viver em Londres, lamentando que seu país de origem ainda crie tantas barreiras à população LGBTQIA+. Segundo organizações que atuam pela causa, só 10% dos acadêmicos gays no Peru declaram sua orientação sexual, contra mais de 90% dos que se mudam para outros países. Dos mais de 760 entrevistados por uma pesquisa com peruanos emigrantes, cerca de 76% não pretendem voltar ao país andino por conta da intolerância, que vai desde a violência até as barreiras dentro do ambiente profissional. Na Prensa.
Un clic:
PORTO RICO 🇵🇷
A ilha tem enfrentado problemas com turistas vindo dos EUA – que, em teoria, são compatriotas, já que Porto Rico é um território associado ao país do Norte – que chegam para curtir as praias do Caribe e desrespeitam protocolos sanitários, como toques de recolher e uso de máscaras. Nas últimas semanas, mais de 10 foram detidos por autoridades porto-riquenhas. E aí mora um problema: sendo o turismo responsável por 7% do PIB local, é impossível criar barreiras à entrada de visitantes, sobretudo dos EUA e em um momento de crise econômica. Segundo números paradoxais de San Juan, entre 10 e 12 mil pessoas chegam mensalmente à ilha, mas só 30% apresentam testes negativos. Via AP.
Uma aeronave da companhia brasileira Azul voou até Porto Rico durante a semana para buscar insumos que serão usados pela Fiocruz para produção da vacina da AstraZeneca. O avião trouxe um carregamento de quatro toneladas até o Rio de Janeiro, carregando sistemas de filtragem e bolsas de formulação usadas na produção do imunizante. Em contrapartida, o Brasil enviou medicamentos veterinários. Na Aeromagazine.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Por mais de 15 dias, um acampamento levantado por mulheres em frente ao Palácio Nacional aguardou o desfecho da proposta de flexibilização da Lei do Aborto, que pedia autonomia legal para mulheres deliberarem sobre os próprios direitos de reprodução. Mas não houve avanço: nem sequer a permissão para abortar nos três casos comumente autorizados na região (má-formação do feto, risco à saúde da mãe e gravidez causada por estupro) entrou no novo Código Penal. Movimentos feministas, no entanto, prometem não desistir e manter a mobilização. A República Dominicana, bastante influenciada pela Igreja, está ao lado de Haiti e Honduras entre países latinos que proíbem a interrupção de gestação em todos os casos. No Listin Diario.
URUGUAI 🇺🇾
Um helicóptero da Força Aérea, carregando vacinas da Pfizer, sofreu uma pane elétrica na quinta (25), indo ao chão e sofrendo perda total. Apesar do acidente (que danificou um número não informado de vacinas), nenhum dos três tripulantes sofreu mais do que escoriações leves. Após a queda, o governo retomou a operação para levar doses aos departamentos de Rocha e Chuy. Em El País.
VENEZUELA 🇻🇪
O Facebook suspendeu a página de Nicolás Maduro por promover desinformação em relação à covid-19, segundo afirmou um porta-voz da rede social nas primeiras horas do sábado (27). A medida veio após Maduro começar a promover, ainda em janeiro, o Carvativir, uma solução oral derivada do tomilho, que descreveu como goticas milagrosas capazes de “neutralizar” o coronavírus. Especialistas dizem que não há qualquer base científica para afirmar que a droga é capaz de prevenir, tratar ou curar infecções por covid-19. Vídeos do líder venezuelano promovendo o Carvativir já haviam sido removidos da plataforma anteriormente; na ocasião, Maduro se disse “censurado”. Via Reuters.