🇺🇾 Sindicatos conquistam plebiscito para baixar idade da aposentadoria no Uruguai
Argentina: maior ato anti-Milei bota 1 milhão nas ruas | Equador vota por medidas de 'mano dura' | Haiti: Conselho de Transição enfim toma posse e nomeia premiê interino
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A PIT-CNT, maior central sindical uruguaia, confirmou na segunda-feira (22) que havia alcançado o número de assinaturas necessário para convocar um plebiscito sobre a previdência no paisito.
Na sexta (26), os sindicalistas fizeram um último mutirão para “superar com sobras” o quórum mínimo exigido por lei antes de entregar a documentação ao Congresso – algo que deve ser feito neste fim de semana. Pela legislação uruguaia, votações assim podem ser convocadas por iniciativa popular desde que sejam reunidas as assinaturas de pelo menos 10% do eleitorado registrado no país – um número que, hoje, equivale a cerca de 270 mil pessoas.
Os sindicatos buscam reverter uma reforma previdenciária aprovada no ano passado – e ainda em fase de implementação gradual –, mas críticos da proposta dizem que, na verdade, o que o plebiscito fará é criar um sistema inteiramente novo, não comparável nem mesmo ao que existia antes. A PIT-CNT quer que a idade de aposentadoria volte a ser de 60 anos (havia subido para 65); que o menor valor recebido seja equivalente ao salário mínimo; e que as AFAP (administradoras privadas de fundos previdenciários) sejam extintas.
Para que o plebiscito seja convocado oficialmente, as assinaturas ainda precisam ser homologadas pelo Congresso. Segundo os sindicalistas, ao fim dos esforços foram reunidos 410 mil apoios, o que rendeu um “colchão” para a proposta seguir em frente mesmo se algumas assinaturas acabarem invalidadas na conferência final. Com isso, a tendência é que o Uruguai vá mesmo às urnas para decidir sobre a proposta – em uma votação que ocorreria em paralelo às eleições gerais do país, marcadas para 27/10. O que mais chama a atenção no plebiscito é a possibilidade de colocar os uruguaios na contramão do que é feito em todo o mundo, facilitando as regras de aposentadoria em um momento em que elas têm sido cada vez mais endurecidas como resposta à transição demográfica: populações mais velhas e sem a devida reposição na força de trabalho para “sustentar” o sistema.
Esse também é o argumento dos detratores da proposta da PIT-CNT, como o próprio relator da reforma da previdência, Rodolfo Saldain. Para ele, que acusa os sindicatos de fazerem promessas arriscadas sem o devido estudo técnico, a reforma “cria outro sistema, com regras que o tornam totalmente insustentável”, o que levaria ao aumento de impostos e a uma perda da competitividade do país. Já Marcelo Abdala, que preside a central sindical, diz “não acreditar que não seja sustentável” o modelo proposto no plebiscito, e que o tema será aprofundado “nos argumentos da campanha”.
Saldain inclusive se propôs a fazer um debate público com as lideranças da PIT-CNT na tentativa de questionar as propostas, mas a central não topou. Para a entidade, quem deve fazer a defesa da reforma hoje em implementação é o nome que o Partido Nacional – sigla de centro-direita que governa o Uruguai atualmente – deve escolher para suceder o presidente Luis Lacalle Pou (que não pode se reeleger); no momento, o pré-candidato que desponta na corrida interna da legenda é Álvaro Delgado, ex-senador e ex-secretário da Presidência da República. Para os sindicatos, os governistas fazem uma campanha mentirosa a fim de gerar pânico, sem apresentar “argumentos sólidos”.
Embora a direita uruguaia seja – como esperado – aquela que mais se opõe à proposta de flexibilizar a aposentadoria, o tema está longe de ser consensual mesmo à esquerda. O ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010-2015), uma das maiores referências progressistas do país, defende há tempos que a questão das aposentadorias seja alterada por lei e não com mexidas na Constituição, como ocorre no caso desses plebiscitos.
Mujica também confirmou que, por uma convicção mais profunda, não pretende votar neste nem em qualquer outro dos plebiscitos pleiteados para este ano: o ex-presidente entende que não se deve acumular discussões centrais para o país na mesma votação. Para ele, a prioridade em 27/10 deveria ser a escolha de presidente e parlamentares, sem desviar o foco com outras consultas à população.
A Frente Ampla (FA) de Pepe Mujica, por sinal, continua favorita nas eleições presidenciais deste ano, o que poderia devolver a esquerda ao governo nacional após um hiato de meia década. Yamandú Orsi, que ainda lidera as pesquisas para as prévias da FA, também disse que a mudança postulada pela PIT-CNT “não parece o melhor caminho”. Mas enfatizou: seu partido é contra a reforma previdenciária aprovada sob Lacalle Pou, e está disposto a reabrir o assunto independentemente do plebiscito. “Não acompanho a proposta [dos sindicatos] pela forma como ela está redigida”, mas “nos une a oposição à reforma levada adiante por este governo”, garantiu.
Un sonido:
DESTAQUES
🇦🇷 Maior ato popular anti-Milei leva um milhão de argentinos às ruas contra cortes na educação pública – O presidente Javier Milei até tentou maquiar a crise atual do país com o anúncio, na segunda-feira (22), de um raro superávit primário (quando receitas do governo superam despesas) no primeiro trimestre, algo que não acontecia desde 2008, mas foi rapidamente engolido pela realidade. O tal quadro superavitário, vendido pelo libertário como “sinal de prosperidade”, na verdade, é fruto de uma leva de ajustes e cortes que inclui a demissão em massa de funcionários públicos, a diminuição de repasses a setores cruciais – como saúde, educação, assistência social e cultura – e o fim de subsídios dos quais muitos argentinos dependem para sobreviver. Na esteira de tudo isso, enquanto a inflação segue alta, a pobreza também aumentou sob Milei, já afetando 60% da população. Na terça-feira (23), a resposta à “motosserra” do governo foi dada nas ruas, mais precisamente em reação ao congelamento do orçamento da educação pública. Sob bandeiras que defendiam o ensino gratuito e as principais universidades federais, uma onda de argentinos tomou a capital, com estimativa de 800 mil só em Buenos Aires; pelo resto do país, outros 200 mil teriam protestado, segundo estimativas de organizações (superiores ao número registrado pelo governo). No início, Milei foi para o confronto total, debochando dos manifestantes nas redes sociais e usando seus jargões libertários de sempre. Mas, à medida que os protestos aumentavam de tamanho, o presidente mais uma vez se viu intimidado pelo barulho das ruas e resolveu tentar se explicar. Pela mesma rede, disse na quarta (24) que reivindicações até eram uma “causa nobre” e que seu governo não tinha intenção de fechar as universidades públicas. No entanto, seguiu atacando a oposição, os sindicatos e a “classe política”, dizendo que tudo não passava de um ato político com “motivos obscuros”. No Página 12.
🇪🇨 Votação no Equador: eleitores apoiam mano dura, mas rejeitam outras duas reformas – No que realmente interessava ao governo cada vez mais inspirado na El Salvador de Nayib Bukele, ‘deu Noboa’: com todos os resultados da consulta popular e referendo do domingo (21) apurados pelo sistema eleitoral equatoriano, governistas tiveram motivos para comemorar. Das 11 perguntas enviadas a votação popular (das quais dez haviam sido formuladas pelo presidente), apenas duas foram rejeitadas pelos votantes. Em todas as outras, diretamente relacionadas à ampliação de medidas de combate ao crime (como o apoio do Exército aos policiais, maior controle de armas e munições, mudanças em leis de extradição e maiores penas para crimes de narcotráfico, entre outras), o “sim” venceu. O desfecho foi muito celebrado pela cúpula presidencial, levando Daniel Noboa a agradecer “pelo amplo apoio a uma política de segurança e à luta contra a corrupção”. A manifestação pró-segurança dos eleitores ainda acabaria inflada com a recaptura, apenas algumas horas depois do processo eleitoral, de Fabricio Colón Pico, líder de gangue e um dos homens mais procurados no país. Paralelamente, figuras fortes da oposição também vibraram com o enfático “não” dos eleitores às duas perguntas fora do eixo do manodurismo. As duas questões – uma sobre a adoção do regime de contratação por hora e outra sobre o uso da arbitragem internacional “como método para resolver disputas de investimento, contratuais ou comerciais” – vinham sendo duramente criticadas por sindicatos e analistas. No primeiro caso, eles apontavam riscos de sucateamento de empregos; já a segunda questão era malvista por ser considerada um referencial legal que favorecia grandes corporações. “É uma derrota clara de um candidato improvisado, uma pessoa má como Daniel Noboa”, disse o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). Ainda que outras análises indiquem que nem o próprio governo se importava tanto assim com essas duas perguntas, as falas de Correa podem ter um impacto político relevante. Como seis das nove questões aprovadas têm caráter não vinculante, precisarão necessariamente de chancela no Congresso nos próximos meses para entrar em vigor. Embora o combate ao crime seja um tema com muito apelo popular, Noboa pode ter problemas diante do rompimento de uma importante aliança legislativa no início do mês (entenda o motivo). Triunfante, mas politicamente isolado, é como o jovem e cada vez mais bukelizado mandatário tenta chegar nas eleições de 2025 com chances de ser reeleito.
🇭🇹 Conselho de Transição toma posse e Haiti anuncia novo primeiro-ministro interino – Desde quinta-feira (25), Ariel Henry não é mais oficialmente o primeiro-ministro do Haiti. Parece notícia repetida, até porque há mais de 40 dias o antigo premiê havia anunciado sua decisão de renunciar, mas havia uma condição que só foi cumprida agora: a posse do Conselho Presidencial de Transição (CPT), órgão formado como mais nova tentativa de contornar a interminável crise vivida pelo país. O CPT assumiu na quinta e, com ele, veio a nomeação formal de um novo premiê interino: o ministro de Economia e Finanças, Michel Patrick Boisvert, que na prática já vinha ocupando o posto de líder do governo desde que Henry foi impedido de voltar ao país após sua viagem para o Quênia no final de fevereiro. Em tese, Boisvert deve ser apenas um primeiro-ministro “tampão”, e se espera que o CPT ainda faça a nomeação de um premiê de verdade para exercer a função enquanto durarem os trabalhos do Conselho. Quanto poder o primeiro-ministro terá no novo arranjo político também é algo incerto – há uma expectativa de que a pessoa mais poderosa acabe sendo o presidente do próprio CPT (que ainda precisa ser escolhido) ou, no mínimo, haja uma divisão de poderes. Em qualquer cenário, os nove conselheiros já correm contra o tempo, tentando respeitar o prazo sugerido de chegar a fevereiro de 2026 com um governo eleito para tomar posse e retomar a vida democrática num país que não vai às urnas desde 2016. Por ora, o CPT já assume sob novas ameaças: enquanto a Unicef denuncia que grupos armados haitianos estão recrutando crianças para engrossar suas fileiras, o principal líder de gangue (e autoproclamado revolucionário) Jimmy “Barbecue” Cherizier alertou que os conselheiros deveriam “se preparar” para o que vinha por aí. Via Reuters.
🇵🇦 Líder nas pesquisas promete mudar Constituição do Panamá – Favorito nas eleições presidenciais do próximo domingo (5/5), José Raúl Mulino (cuja candidatura, apesar de destacada, ainda corre o risco de ser impugnada pelas altas cortes) vem falando abertamente em realizar uma “assembleia constituinte originária” caso chegue ao poder. As palavras envolvidas exigem uma explicação: nada tem a ver com povos originários. A questão, aqui, é puramente jurídica: uma assembleia “originária” implicaria em uma mudança radical da Carta Magna do país, desde a raiz legal panamenha, o que poderia abrir caminho para a destituição de integrantes do Supremo, do Congresso, dos governos locais e até da autoridade responsável pelo Canal do Panamá. Mudanças que já ocorreram, por exemplo, nos golpes de Estado vividos pelo país em 1941 e 1968. É uma distinção ao que o marco legal panamenho define como assembleia constituinte “paralela”, que pode reformar a Constituição, mas sem estabelecer normas retroativas ou alterar de forma tão profunda as instituições já operantes do país. A convocação constituinte “originária”, por outro lado, até é entendida como algo juridicamente possível, mas não está prevista na atual Constituição. Por isso, não está claro se Mulino efetivamente levaria esse projeto adiante nem em que dimensão – inclusive porque o tema da assembleia “originária” está na boca de todas as correntes políticas do país, da esquerda à direita –, mas o candidato enfatizou nos últimos dias: “quem vota por mim, vota pela constituinte”. Na Prensa.
🇵🇪 Morte digna: psicóloga e ativista peruana se torna primeira a pessoa a morrer por eutanásia no país – A psicóloga Ana Estrada, 47, que desde a infância padecia de uma doença degenerativa autoimune, morreu no domingo (22) por eutanásia, encerrando décadas de sofrimento e disputas legais pelo direito a uma morte digna. A informação foi confirmada no dia seguinte por representantes de Estrada, que “morreu nos seus próprios termos, conforme a sua ideia de dignidade e em pleno controle da sua autonomia até o final”, dizia o comunicado. Apesar das limitações físicas impostas por sua condição de saúde, ela estudou, publicou e fundiu sua carreira à luta pelo direito de escolha sobre a própria finitude, como bem deixou claro em publicações que assinou. O caso de Estrada é histórico: mesmo lutando pelo “direito de morrer” por muitos anos, foi apenas em 2022 que a Suprema Corte de Justiça de seu país ditou sentença a favor da realização do procedimento. “O caso de Ana permitiu que o sistema de justiça peruano reconhecesse pela primeira vez na sua história que todos temos o direito de morrer com dignidade”, disse a advogada da psicóloga. Na América Latina, apenas Colômbia e Cuba permitem abertamente a realização da eutanásia, mas o Uruguai tem discutido a implementação desse direito, e o Equador, recentemente, concedeu uma autorização judicial semelhante ao caso visto no Peru. Em El País.
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REGIÃO 🌎
Pela Copa Libertadores, todos os times brasileiros jogaram durante a semana – mas dois jogos em particular tiveram um toque a mais de emoção. Quem abriu a sequência de partidas dramáticas na terça (23) foi o Grêmio, que vinha de duas derrotas seguidas e precisava, a qualquer custo, buscar difíceis três pontos em La Plata contra o Estudiantes, o melhor mandante da história da competição. Deu certo: mesmo com um a menos, o tricolor arrumou um jeito de arrancar um 0 a 1 e voltou da Argentina surpreendentemente vivo na competição (ajudado pela combinação dos resultados dos outros times do grupo), apenas o oitavo time a derrotar o Estudiantes em seu próprio território. Quem também viveu um roteiro insano no dia seguinte foi o Palmeiras: após ser trucidado e tomar dois gols dos matagigantes do Independiente Del Valle no primeiro tempo, o “time do pacto” (como dizem os internautas) não só empatou a partida como virou o páreo no último lance do jogo. Em 32 jogos, essa foi apenas a segunda derrota do time equatoriano jogando em casa pela Libertadores – o outro revés foi justamente para o mesmo Palmeiras, em 2021. Mais brasileiros venceram pela Libertadores: o Botafogo, que também vinha de dois infelizes fracassos, ganhou a primeira, aplicando um 3 a 1 sem grandes sustos nos peruanos do Universitario e se mantendo vivo na disputa. O São Paulo voltou de Guayaquil com um bom triunfo por 2 a 0 sobre o Barcelona, enquanto o Atlético Mineiro se firmou como o único brasileiro com 100% de aproveitamento ao derrotar o tradicional Peñarol – com susto – por 3 a 2 na terça-feira. Já o atual campeão Fluminense ficou no 0 a 0 com o Cerro Porteño, em Assunção – suficiente para manter a liderança de seu grupo, mas sem respiro. Tristeza, porém, para o Flamengo, que sucumbiu à implacável altitude boliviana e foi derrotado pela primeira vez na competição: 2 a 1 para o Bolívar, em La Paz, tornando a possibilidade de avançar como líder de seu grupo cada vez mais remota. A classificação, no GE.
Já na Sul-Americana, o torneio de segundo escalação da América do Sul, lágrimas e sorrisos para os representantes brasileiros. Se os visitantes Cruzeiro e Cuiabá só empataram e o Corinthians acabou derrotado em Buenos Aires pelo Argentinos Juniors na terça (23), no dia seguinte um avassalador Athletico Paranaense encaminhou a classificação, vencendo a terceira seguida e se isolando na liderança no seu grupo. Triunfo também para o Red Bull Bragantino, que encostou no líder Racing-ARG no grupo H. O restante dos jogos ficou para a quinta, com a vitória histórica do Fortaleza sobre o gigante Boca Juniors – que poupou titulares – por impressionantes 4 a 2. Já o Internacional de Porto Alegre, após dois empates frustrantes, obteve um muito necessário alívio ao derrotar o Delfín, no Equador, por 2 a 1 – em jogo marcado pelo primeiro gol do colombiano Rafael Santos Borré, milionário reforço contratado pelos gaúchos para a temporada, mas que vinha sofrendo para encontrar as redes.
BOLÍVIA 🇧🇴
Seguindo uma tendência cada vez mais comum, qualquer assunto na Bolívia acaba espirrando na filosófica disputa entre o presidente Luis Arce e seu antigo aliado e ex-presidente Evo Morales (2006-2019) – ainda que seja Evo o maior interessado em achar motivos para esta rivalidade. Em uma coletiva de imprensa na quinta (25), o ex-mandatário voltou a pedir ações mais duras contra o atual governo, citando o que chamou de “fracasso” da gestão Arce no que diz respeito à exploração do lítio. O abundante e cobiçado minério tem sido alvo de atritos entre arcistas e evistas, com direito a declarações do governo que tentam desmentir os números positivos propagandeados por antigos integrantes dos anos Morales. Enquanto cada lado dá sua versão, a nova coletiva de Evo vem num contexto mais profundo: na quinta (18) da outra semana, a presidenta da estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB), Karla Calderón, apresentou uma queixa formal ao Ministério Público por diversas irregularidades contratuais, econômicas e trabalhistas envolvendo o setor, numa trama que teria causado impactos milionários às contas do Estado. Ainda que o próprio Evo admita que parte do problema é ligado ao que chamou de “abandono” do ramo do lítio durante o governo da golpista Jeanine Áñez (2019-2020), ele também usa a situação para cobrar melhorias de Arce. Em El Deber.
CHILE 🇨🇱
Nos últimos 20 anos, o território chileno perdeu cerca de 500 mil hectares de floresta nativa entre Valparaíso e Los Lagos, no centro-sul do país, conforme dados publicados na terça-feira (23) pela plataforma MapBiomas. A área equivale a mais de três vezes o tamanho da cidade de São Paulo ou quase oito vezes o de Santiago do Chile. O fenômeno é agravado pela seca prolongada que o país vive há mais de uma década e pelos recentes incêndios florestais, a exemplo das chamas que arrasaram Valparaíso em fevereiro. Enquanto isso, na Patagônia, a vegetação nativa aumentou 450 mil hectares, marco que até poderia ser motivo de comemoração – não fosse pela perda de área de geleiras, que caiu 10% entre 2000 e 2022.
Não é bem uma novidade que a importação do aço chinês por preços abaixo do valor de mercado regional tem colocado vários setores em estado de alerta pelo continente. Tudo escalou para outro nível, porém, quando a maior siderúrgica chilena, a planta Huachipato, anunciou em março a suspensão indefinida de suas atividades, citando a incapacidade de competir com os preços da commodity asiática – e alegando se tratar de um caso de “dumping”, definição de prática comerciais desleais que tentam eliminar a concorrência com a oferta de preços abaixo do custo de produção. Ainda que a China negue essas acusações e aponte para uma postura “protecionista” dos latino-americanos, a Comissão Chilena Anti-Distorção de Preços (CNDP) deu ganho de causa à Huachipato, encontrando “evidência suficiente” para a acusação de dumping e determinando tarifas temporárias de até 34% às importações chinesas. Foi só após esta determinação que a siderúrgica reverteu a paralisação das operações no domingo (21), dizendo por meio de um documento oficial que a medida “permitirá o desenvolvimento do equilíbrio do mercado e uma concorrência justa”. Outros gigantes do continente, como o México e o Brasil, também têm tomado atitudes recentes mediante súplicas do setor interno, aumentando taxas já existentes ou criando novas ante a “inundação” do aço chinês, como dizem representantes do setor regional. Os números dizem que mais de 10 milhões de toneladas de aço foram importados da China pela América Latina em 2023, um recorde absoluto. O patamar é ainda mais impressionante se posto em perspectiva histórica: 20 anos atrás, o número anual era de 850 mil toneladas. Mais detalhes, no El País.
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COLÔMBIA 🇨🇴
O ministro das Culturas, Artes e Conhecimentos, Juan David Correa, pediu perdão oficial em nome do Estado colombiano a grupos indígenas amazônicos dizimados sistematicamente durante o ciclo de extração da borracha na Amazônia. “Hoje temos que olhar nos olhos de vocês e pedir perdão. A sociedade ocidental, os colonos, os empresários (...) estavam furiosos contra vocês, contra seu povo”, disse o ministro na terça-feira (23), durante um evento que contou com a presença de representantes dos povos Uitoto, Bora, Ocaira e Muinane. O infame ciclo extrativista, que perdurou por décadas até o início do século 20, aterrorizou diversas comunidades colombianas, espalhando morte, violência e desterro, deixando feridas abertas até os dias de hoje. Um período de “horror e atrocidades”, enfatizou Correa. Na RFI.
COSTA RICA 🇨🇷
Homicídios recorde, sim, mas não tão graves assim. Ao menos é o que defendeu durante a semana o chanceler costa-riquenho Arnoldo André Tinoco, em visita à Espanha. O país registrou 907 homicídios em 2023, o número mais alto desde que há registros, mas Tinoco defendeu que a raiz dessa criminalidade não está na Costa Rica, e sim em grupos criminosos originados na Colômbia e no México. O ministro de Relações Exteriores destacou ainda que os índices são altos “para nós”, mas continuam muito abaixo de grande parte do mundo, inclusive países europeus, e insistiu que “a insegurança não escalou o suficiente para afetar a população”. Com um aumento da criminalidade atribuído aos grupos vinculados ao narcotráfico, a Costa Rica registrou um índice de 17,2 assassinatos a cada 100 mil habitantes no ano passado – muito acima da própria Espanha, por exemplo, onde essa estatística ficou em 0,61 –, com variações claras conforme a região do país: na província de Limón, onde a violência é ainda mais acentuada, o número chegou a 45 homicídios por 100 mil pessoas. No Nación.
CUBA 🇨🇺
Semana quente nas notícias aéreas envolvendo Cuba. Na mais significativa sobre a crise e as relações geopolíticas do momento, a empresa aérea nacional – a Cubana de Aviación – precisou suspender seus voos internacionais na terça e quarta-feira (23 e 24), após os vendedores de combustíveis de Buenos Aires se negarem a abastecê-la. Oficialmente, os argentinos citam preocupações relacionadas ao histórico e interminável bloqueio econômico imposto pelos EUA à ilha, uma justificativa peculiar considerando que o comércio aconteceu por décadas sem grandes represálias às empresas locais. O governo de Javier Milei não respondeu aos pedidos da agência Reuters para comentar sobre uma provável ingerência na adoção da nova postura, abertamente hostil a um país pelo qual o direitista não nutre qualquer simpatia. Em uma nota mais macabra e um tanto bizarra, um voo que de fato decolou em Cuba virou assunto por um erro infeliz: tentando repatriar o corpo de um turista canadense que morreu por um ataque cardíaco no país ainda em março, o governo cubano acabou se enganando e mandou para a América do Norte o cadáver de um cidadão russo 20 anos mais jovem. Havana prometeu investigar os motivos do erro e estendeu suas “condolências e desculpas” aos familiares do canadense.
EL SALVADOR 🇸🇻
Dos números de homicídios às mortes por covid-19, passando pelas denúncias recebidas pela polícia e pelo Ministério Público sobre os mais diversos delitos. A propaganda do governo de Nayib Bukele se baseia, também, em um controle rígido sobre o Instituto de Acesso à Informação Pública do país centro-americano e o pouco caso frente às leis de transparência aprovadas em 2011. É o que conta o portal opositor El Faro, elucidando como o governo garantiu uma caixa preta sobre várias estatísticas fundamentais para fiscalizar as ações de uma administração superpoderosa – e o que é possível descobrir diante de tanto segredo.
GUATEMALA 🇬🇹
Foram tantos problemas até a posse que os 100 dias que se passaram depois dela vieram num piscar de olhos. Essa é a sensação na Guatemala, cujo presidente Bernardo Arévalo completou, na terça (23), uma centena de dias à frente do poder presidencial. A data é geralmente simbólica, mas se encheu de importância para um líder que viveu, até o dia de receber a faixa em janeiro, sob a constante ameaça de um golpe de Estado, como o GIRO explicou diversas vezes no ano passado. “Não tem sido fácil”, desabafou Arévalo durante um discurso realizado na mesma terça. Entre os pontos de conquista e desafios citados pelo mandatário, destaque para um anúncio de redução do próprio salário, criação de escolas, enfrentamento a incêndios florestais, combate ao crime organizado, investigações de irregularidades na saúde da época da pandemia e a peculiar eleição de governadores (entenda por que isso é importante). Mas, como esteve diante de um Congresso com forte oposição, Arévalo também enfrentou dificuldades, o que levou até a imprensa simpática à sua gestão a fazer uma checagem de seus logros anunciados, colocando alguns desses pontos em xeque. O presidente também se encontrou com organizações e lideranças indígenas – e foi cobrado por mais ações e pelas promessas de campanha ainda não cumpridas. Entre as demandas, entidades originárias destacaram a demissão da procuradora-geral Consuelo Porras, algoz de Arévalo e pivô da crise judicial que por pouco não extinguiu o triunfo eleitoral da esquerda. No discurso da semana, Arévalo voltou a criticar Porras, dizendo que a autoridade “usa sua posição para amedrontar críticos e debilitar o governo”. Grupos indígenas também dizem que as promessas de maior participação política, questão da qual a eleição de governadores pretendia ser uma pedra angular, não avançaram: “corruptos seguem favorecidos”, disse Luis Pacheco, ex-presidente dos 48 Cantões de Totonicapán, uma das mais fortes entidades do país. Na quarta (24), ainda deu tempo da Organização dos Estados Americanos (OEA) aceitar um pedido do governo Arévalo para acompanhar a eleição de magistrados da Suprema Corte, em outubro.
HONDURAS 🇭🇳
Não vai sair ninguém. Ao menos de acordo com o presidente do legislativo hondurenho, Luis Redondo, que na quinta-feira (25) recusou a renúncia de Salvador Nasralla, um dos três “vice-presidentes” do país e um antigo aliado do governo (entenda o que está por trás do rompimento). De acordo com Redondo, após “análises jurídicas”, constatou-se que o pedido de Nasralla nem poderia ser submetido a votação na Casa nem ser tramitado em outras esferas – por supostamente violar artigos da Constituição. A decisão causou alvoroço dentro do já desunido Congresso, com membros da oposição e até do próprio partido governista, o Libre, questionando o desfecho. Sem surpresas, ninguém se enfureceu mais do que Nasralla, que acusou Redondo de “abusar de sua autoridade”. O político decidiu deixar o cargo pouco depois da presidenta Xiomara Castro, sua antiga aliada, cobrar a renúncia de todos os que desejassem concorrer nas eleições de 2025. Nasralla, agora, diz que o bloqueio de sua demissão é justamente uma tentativa de impedi-lo de se tornar presidenciável (pela terceira vez consecutiva desde 2013, todas sem sucesso) no próximo ano. Vale lembrar: Nasralla concorreu (e perdeu) ao Executivo nas eleições de 2013 e 2017 e caminhava para se lançar mais uma vez em 2021 – mas decidiu renunciar à candidatura e apoiar a de Castro, que sairia vencedora. A novela deve seguir quente ao longo do ano. Mais detalhes da repercussão, no La Prensa.
Una expresión:
“Mi perro no me aconseja y está vivo” – Meu cachorro não me aconselha e está vivo. A alfinetada foi dada pelo ex-presidente da Argentina, Alberto Fernández (2019-2023), referindo-se aos rumores cada vez mais fortes de que seu sucessor, o extremista de direita Javier Milei, não só buscaria conselhos com seus cachorros de estimação como… estabeleceria esta comunicação com ao menos um dos animais estando morto. O tema, muito falado durante a campanha eleitoral do ano passado e logo após a posse de Milei, voltou à tona nos últimos dias depois que o porta-voz do governo, Manuel Adorni, se negou a especificar quantos cães de fato o presidente tem atualmente. Na quinta (25), Adorni dedicou uma sessão quase inteira – pela segunda vez na semana – a responder sobre o tema. Um repórter chegou a comentar: “você dizia que não importa o número [de cachorros], mas a verdade é que se existem quatro ou cinco cães não é um problema do presidente e sim de todos os argentinos, porque se o presidente tem quatro cachorros e vê cinco, estamos falando de uma pessoa que vê algo que não condiz com a realidade”. Indignado, o porta-voz definiu a questão como uma “falta de respeito”, porque “se mete com a família” de Milei. “Se forem quatro ou cinco [cachorros] ou 43 coelhos, qual a diferença? [...] Se o presidente diz que tem cinco cachorros, tem cinco cachorros e acabou”, vociferou Adorni. E, enquanto Fernández gracejava sobre a situação, os argentinos seguiam sem respostas sobre o número real de perros e quantos deles Milei acredita ver.
MÉXICO 🇲🇽
Quem vive no México tem medo: o pedido até foi razoável, mas a abordagem de homens encapuzados no domingo (21) ao carro em que viajava a presidenciável Claudia Sheinbaum – cada vez mais favorita a se tornar a primeira mulher a presidir o país – causou espanto. A ex-prefeita da capital teve o veículo interceptado por um grupo de desconhecidos na cidade de Motozintla, no convulsionado estado de Chiapas, e ouviu um pedido bastante comum: o fim da insegurança. “Queremos que a senhora, quando estiver na Presidência, nos faça esse favor (...), porque não podemos chegar a Comalapa [uma localidade próxima]; se formos para lá, vão nos fazer picadinhos”, disseram. Também não ficou claro se os interceptores tinham qualquer ligação com o movimento zapatista, caracterizado pelo uso do rosto coberto e cujo levante armado eclodiu justamente em Chiapas. Localizada na região do sul do país e com cidades coladas à fronteira com a Guatemala, o estado tem sido consumido por disputas entre diferentes cartéis nos últimos anos, especialmente pelas rotas de acesso à América Central. Em El País.
NICARÁGUA 🇳🇮
Durante uma reunião de lideranças que integram a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) na quarta-feira (24), o presidente Daniel Ortega mirou seus canhões em todos que lembrou de criticar. Reforçou suas costumeiras críticas aos EUA por “agressões e sanções” contra seus aliados Cuba e Venezuela e pelos “fundos para a morte e guerra”, referindo-se ao apoio de Washington aos ucranianos no contexto do conflito na Europa. Homólogos latino-americanos também não escaparam das falas do político, que classificou de “nazifascistas” seus pares de Equador e Argentina. Chamando os dois governos de “instrumentos de imperialistas”, Ortega embasou suas falas na recente invasão da polícia equatoriana à embaixada do México em Quito (entenda no GIRO #227 como isso desatou múltiplas crises) – nas críticas a Javier Milei, porém, limitou-se a lamentar a existência do líder direitista “onde nasceu Ernesto ‘Che’ Guevara”. Atualmente, apenas os latino-americanos Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela integram a ALBA; o Haiti tem papel de país observador. No 100noticias.
PARAGUAI 🇵🇾
Como esperado, a renegociação das tarifas de Itaipu está cheia de idas e vindas. O governo Lula afirma que não aceitará um aumento do preço, como pretendido pelos paraguaios – e, ao contrário, chegou até a pleitear uma redução. Agora, Brasília estende a mão após dar o tapa: sinaliza que pode aceitar manter os preços atuais, mas em troca de contrapartidas (quais exatamente, ainda não está claro). Vale lembrar: o acordo original para estabelecer e financiar a usina binacional completou 50 anos em 2023, o que trouxe junto a quitação da dívida histórica para construí-la. Isso tornou necessária a renegociação dos preços, que sempre tiveram os juros desse empréstimo embutidos. Pelo acordo seminal de Itaipu, cada país tem direito a 50% da energia gerada – mas, como o Paraguai nunca teve demanda para tanta eletricidade, o país vende o excedente aos brasileiros, que são obrigados a adquiri-lo. Há décadas, setores da política paraguaia alegam que o acordo amarra o país, que poderia conseguir tarifas maiores vendendo a energia no mercado aberto – uma opinião que não é unânime, e o próprio presidente Santiago Peña já afirmou que o Paraguai não teria impedimento para fazer isso, mas sequer tem infraestrutura para repassar esse excedente a outros vizinhos, como Argentina e Bolívia. Já o Brasil afirma que a reclamação paraguaia não faz sentido, pois o país sempre teria pagado mais do que a energia vale realmente, uma alegação que se tornou mais forte após o fim da dívida de 50 anos. Mesmo com o desencontro, fontes do governo brasileiro afirmam que um novo acordo deve sair em até três semanas. Na Folha.
PORTO RICO 🇵🇷
Porto Rico não vota nas eleições presidenciais dos EUA, mas participa das primárias. E, mantendo uma tendência verificada nos estados continentais, os republicanos do território livre associado também dedicaram seus afagos ao ex-presidente Donald Trump (2017-2021): com uma confortável maioria nas internas do domingo (21), o alaranjado ex-mandatário colocou no bolso os 23 delegados que a ilha pode enviar à Convenção do Partido Republicano, marcada para julho. A rigor, a participação porto-riquenha é só para constar: não só porque a ilha não terá voz alguma nas eleições propriamente ditas, em novembro, mas porque os delegados enviados não fazem qualquer diferença nessa altura dos acontecimentos – mesmo enfrentando um julgamento que pode até colocá-lo na cadeia, Trump já garantiu que será o nome dos republicanos há tempos, em função dos resultados nos estados que já fizeram as primárias mais cedo. Via AP.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Um debate “histórico”. Assim definiram os organizadores da discussão entre presidenciáveis realizada na quarta-feira (24), em Santo Domingo, devido a um detalhe atípico para o país: a participação do presidente atualmente no cargo, Luis Abinader, que busca a reeleição. A discussão reuniu somente os candidatos dos principais partidos do país – além de Abinader, só estiveram presentes Abel Martínez e o ex-presidente Leonel Fernández (que tenta um quarto mandato após governar o país nos ciclos 1996-2000 e 2004-2012). Com o vizinho Haiti, o controle da migração – incluindo o controverso muro fronteiriço – e a economia como pautas principais, os opositores fizeram o que puderam, mas não parecem ter conseguido diminuir o favoritismo de Abinader. O pleito, em turno único, ocorre em 19/5, e as principais pesquisas colocam o atual mandatário como líder folgado das preferências, com quase 20 pontos percentuais de vantagem sobre o concorrente mais próximo (que oscila entre Fernández e Martínez, conforme o instituto). No F24.
VENEZUELA 🇻🇪
À medida que as aguardadas eleições presidenciais de 21/7 se aproximam, novidades variadas aparecem. Durante a semana, um cada vez mais combativo Nicolás Maduro, candidato a um quarto mandato consecutivo, prometeu aplicar “uma lição histórica à direita fascista e imperialista”, como se referiu a adversários diante de apoiadores na quarta (24) – tudo enquanto pesquisas abraçadas pelo chavismo projetam uma nova vitória inapelável dos governistas. Maduro contaria com 55% das intenções de voto, segundo uma encuesta apresentada por um jornalista local, mas contestada por adversários do governo (outros estudos invertem a situação, projetando vantagem opositora). Do lado da oposição, que segue denunciando novos entraves impostos a uma concorrência eleitoral “justa”, uma recente dança de cadeiras mudou o panorama: com a inabilitação da ex-deputada direitista María Corina Machado, apontada como a principal liderança opositora dos últimos anos, quem passou a amalgamar o apoio consolidado dos anti-chavistas via Plataforma Unitária Democrática (PUD) é Edmundo González Urrutia – endossado pela própria Corina, que agora adotou o pegajoso slogan Todo el mundo con Edmundo. Na quarta, a PUD também se pronunciou contra a inabilitação, determinada pela Controladoria-Geral da República, de outros cinco políticos. Os últimos eventos mostram que antigos acordos políticos entre os dois lados do jogo eleitoral venezuelano, que contavam com apoio internacional, estão cada vez mais distantes de uma trégua.