Só Brasil e México não reconhecem Joe Biden
Peru: polícia reprime apoiadores de presidente derrubado | Evo Morales volta à Bolívia | Feministas mexicanas se levantam contra violência de gênero | Porto Rico “esqueceu” 200 urnas nas eleições
Atentos aos resultados das eleições nos Estados Unidos, que terminaram com uma vitória maiúscula dos democratas, vários líderes da vizinhança parabenizaram a chapa Joe Biden-Kamala Harris – que, devido à demorada contagem e às chicanas jurídicas de Donald Trump, só teve um resultado cravado ela imprensa na manhã do sábado passado (7), quatro dias após o chamado Election Day. Entre a confirmação e o dia seguinte, praticamente todos os presidentes latinos se manifestaram desejando sucesso ao futuro governo Biden: mesmo o recente Luis Arce, da Bolívia, que tomou posse no domingo, e o agora passado Martín Vizcarra, do Peru, que acabou destituído na segunda (leia mais sobre ambos nas seções do respectivos países desta newsletter). Só dois resistem a sair de cima do muro: Jair Bolsonaro e o mexicano Andrés Manuel López Obrador.
A reticência em reconhecer os resultados não passa pelo posicionamento ideológico: se Bolsonaro representa como poucos o ultraconservadorismo mais reacionário da região (como o guatemalteco Alejandro Giammattei, que já se manifestou), AMLO é uma das raras lideranças francamente à esquerda que restam na América Latina (assim como o argentino Alberto Fernández, que não perdeu tempo em cumprimentar Biden). Os dois retardatários dizem aguardar as definições das várias brigas que a patota trumpista comprou na Justiça estadunidense, alegando amplas fraudes que teriam definido o resultado por lá, embora não tenha apresentado qualquer prova concreta até o momento.
No caso do brasileiro, a demora parece ter muito de jogo de cena: manter sua própria base mobilizada internamente – o Brasil é um dos líderes mundiais em difusão de fake news sobre as eleições estadunidenses, impulsionado pelos apoiadores do presidente – enquanto tenta reafirmar a paixão não correspondida que o Planalto vem demonstrando por Trump desde a posse do ex-capitão do Exército. O que se passa no México é um pouco mais complexo: analistas entendem que AMLO busca manter uma política de boa vizinhança, não só diante da improvável hipótese de Trump encontrar um jeito de golpear a democracia de seu país para se manter no cargo, mas porque ainda restam mais de dois meses de um governo errático e várias vezes hostil aos interesses do México – Joe Biden só toma posse em 20 de janeiro. A recente proximidade entre os mandatários dos dois países norte-americanos também é muito nova: em julho, o mexicano visitou Washington pela primeira vez, marcando o início do T-MEC, o tratado comercial entre México, EUA e Canadá que substituiu o Nafta. São esses os interesses que Obrador leva em conta ao rejeitar um reconhecimento imediato dos adversários de Trump.
Até mesmo o papa Francisco, também um latino-americano chefe de Estado (além de encabeçar a Igreja Católica, é oficialmente o mandatário do independente Vaticano), já telefonou a Biden para parabenizá-lo – o democrata se tornou o segundo católico a ter sido eleito presidente dos EUA, após John F. Kennedy (1961-1963). A notícia foi celebrada na Argentina. Como destacamos no GIRO #54, a mudança de governo na potência ao Norte evidentemente impacta toda a região. Bolsonaro teme perder um dos raros governos ainda simpáticos a ele no Ocidente, enquanto países como Cuba e Venezuela, que não têm exatamente esperanças de uma virada radical na situação, aguardam ao menos uma distensão das relações que voltaram a ganhar um ar de Guerra Fria nos últimos quatro anos. O venezuelano Nicolás Maduro, por exemplo, foi um dos que parabenizou Biden prontamente, talvez em uma tentativa de tornar apenas ruim uma relação que foi péssima durante os anos de Trump (os republicanos chegaram a pôr a cabeça do chavista a prêmio). Mas mesmo lideranças que só saíram do anonimato graças ao apoio dos republicanos de Washington, como Juan Guaidó, ainda reconhecido como presidente por Trump, não tentaram se agarrar à causa perdida dos republicanos.
Enquanto isso, os EUA avançam com um enredo que, se acontecesse na América Central, já teria rendido ao país mais de uma manchete o rotulando de república bananeira.
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😷 Covid: apesar dos alertas de que a segunda onda vista na Europa também tende a ocorrer por aqui, a situação da América Latina ainda é de estabilidade, com a maior parte dos países registrando números muito abaixo dos vistos meses atrás. A exceção é o Uruguai que, após meses com o controle mais exemplar da região, agora vive seu pior momento em toda a pandemia, embora com números proporcionlmente baixos quando comparados à média continental. Leia nosso levantamento semanal.
Un sonido:
REGIÃO 🌎
As ilhas Malvinas, ou Falklands, como são chamadas pelos britânicos, vão se tornar oficialmente livres de minas terrestres neste sábado (14). Um dos legados mais sombrios da guerra travada entre o Reino Unido e a Argentina em 1982, as minas deixaram zonas do arquipélago interditadas desde então, até que um projeto do governo britânico começou a localizá-las e desativá-las de maneira segura em 2009. Uma cerimônia festiva marcará a detonação controlada da última mina, que ocorre três anos antes do previsto, e na sequência as cercas que barravam o acesso à praia serão derrubadas. Ainda reclamadas pela Argentina apesar da derrota militar, as Falklands são consideradas pelo governo britânico um território autogovernado sob sua proteção. Via AP.
ARGENTINA 🇦🇷
Um decreto assinado pelo presidente Alberto Fernández encerrou a espera pelo acesso legal à maconha: a partir da quinta-feira (12), o país passou a legalizar o autocultivo da planta para uso medicinal, assim como a comercialização de óleos e outros produtos derivados da cannabis. Para tanto, os argentinos deverão recorrer a farmácias licenciadas e, em caso de cultivo, entrar em contato com o Registro do Programa de Cannabis (Reprocann). Além de regulamentar o uso, a medida abre espaço para o estudo dos benefícios da maconha e garante “acesso oportuno, seguro, inclusivo e protetor aos que necessitam utilizar cannabis como ferramenta terapêutica”. A última legislação, promulgada em 2017, punia com 15 anos de reclusão a posse de sementes e limitava o uso da maconha medicinal para casos de epilepsia refratária. No Página 12.
O presidente Alberto Fernández entrou em isolamento sanitário preventivo na quarta (11), após Gustavo Béliz, seu secretário de Assuntos Estratégicos, testar positivo para covid-19. O peronista, que não apresenta sintomas, deu negativo em uma primeira avaliação, mas ainda aguardava o resultado de uma contraprova. Ele esteve com Béliz no jantar de despedida de Evo Morales, no último domingo, antes de o ex-mandatário boliviano retornar ao seu país natal após 11 meses asilado em Buenos Aires. Quem escapou por pouco da potencial bomba sanitária, que reuniu ao menos 16 pessoas, foi o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica – convidado para o evento, ele preferiu se resguardar e falou com os amigos via Zoom. Aos 85 anos, Mujica recentemente renunciou ao Senado uruguaio, alegando precisamente a fragilidade de sua saúde e a idade avançada, que o colocam em risco diante do coronavírus. No G1.
BOLÍVIA 🇧🇴
Nem mesmo a vitória de Luis Arce nas eleições de 18/10 e a volta triunfal de Evo Morales à Bolívia na segunda-feira (9), um ano após o exílio forçado pelo golpe, são garantia de tranquilidade política em La Paz. Dias antes da posse, o economista que devolveu o poder ao Movimento ao Socialismo (MAS) foi alvo de um atentado, seguido de manifestações concebidas no departamento de Santa Cruz, centro nervoso do golpe no último ano. Mas apesar de um processo eleitoral tranquilo e de uma margem de vitória ainda maior a favor da esquerda do que em 2019, grupos da ultradireita seguem questionando os resultados eleitorais, pedindo uma nova e injustificada auditoria. Contamos mais no vídeo abaixo.
Uma cena que resume a corrupção típica do futebol sul-americano teve lugar no Estádio Hernando Siles, em La Paz, na quinta (12) à noite: no intervalo da partida entre Bolívia e Equador pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, o presidente interino da Federação Boliviana de Futebol, Marcos Rodríguez, foi preso pela polícia. Ele é acusado de superfaturar as obras do centro de treinamento da seleção local, de fazer saques suspeitos nas contas da Federação e de não acatar uma ordem judicial que o destituiu do cargo – a entidade vive uma disputa política após o presidente anterior, César Salinas, falecer de covid-19 em julho. Para completar a desgraça do futebol boliviano, a equipe ainda perdeu o jogo por 3 a 2. No Infobae.
CHILE 🇨🇱
Os legisladores chilenos avançam com um projeto que pode permitir uma nova retirada dos valores mantidos nos fundos de pensão e aposentadoria (que por lá são privados), conhecidos pela sigla AFPs. Uma medida semelhante já havia sido aprovada em julho, contrariando o governo de Sebastián Piñera, que agora volta a se opor à iniciativa. O objetivo ainda é aliviar os bolsos, especialmente da classe média, em meio à crise causada pela pandemia. Além de deixar as administradoras dos fundos de cabelos em pé pela promessa de uma nova corrida para sacar o dinheiro, a medida causa dor de cabeça no governo, que teme uma aceleração da inflação. Aprovado pela câmara baixa, o projeto chegou ao Senado na sexta-feira (13), e prevê retirada de 10% dos valores com um teto de 4,3 milhões de pesos chilenos (R$ 30,6 mil), mas até o momento o texto também traz a novidade de um piso: o valor mínimo a ser sacado é necessariamente 1 milhão de pesos (R$ 7,1 mil), possibilitando retiradas superiores a 10% e até integrais se a poupança acumulada for inferior a esse mínimo. Em El Mostrador.
COLÔMBIA 🇨🇴
Claudia López, primeira mulher eleita prefeita da capital Bogotá, foi notificada pela justiça após declarações consideradas xenofóbicas contra imigrantes venezuelanos (são aproximadamente 1,7 milhão morando na Colômbia). Em uma coletiva sobre segurança pública, em 29/10, López disse: “não quero estigmatizar os venezuelanos, mas tem uns imigrantes metidos na criminalidade que estão complicando nossa vida”. Apenas 0,08% dos venezuelanos estão em prisões colombianas e somente 2,3% dos crimes violentos são cometidos por eles. A frase não demorou a repercutir e causou desconforto, levando um cidadão venezuelano a procurar a Justiça. Segundo Hernando Andrés Soto, as declarações violaram seu direito fundamental à igualdade e foram discriminatórias em razão da origem nacional. Além de buscar um pedido público de desculpas, a demanda quer que as postagens consideradas discriminatórias sejam deletadas das redes sociais da prefeita. Até mesmo a Assembleia Nacional da Venezuela, presidida por Juan Guaidó, emitiu um comunicado repudiando as declarações de López. No Efecto Cocuyo.
Já na fronteira, autoridades negociaram um caminho para não prejudicar estudantes venezuelanos: um “corredor sanitário” permitirá a mais de 300 alunos e acompanhantes cruzar a divisa neste final de semana para realizar as chamadas Pruebas Saber 11, espécie de vestibular que possibilita a venezuelanos cursar o ensino superior em universidades colombianas. A exceção de circulação vale para aqueles que estejam matriculados em escolas nas duas cidades acessíveis pelas pontes que serão abertas: Cúcuta e Villa del Rosario. No Infobae.
COSTA RICA 🇨🇷
Destino de imigrantes vindos, sobretudo, da vizinha Nicarágua, a Costa Rica criou uma nova categoria de asilo político para cidadãos daquele país, além de cubanos e venezuelanos. O novo sistema garante residência por dois anos, prorrogáveis, e direito ao trabalho, para aqueles que comprovem não ter antecedentes criminais e venham de ter rejeitada sua solicitação de refúgio permanente. Na DW.
Um estudante de medicina brasileiro foi morto em Heredia, a 88 quilômetros da capital San José, enquanto separava uma briga. Daniel Piñar Sena, 30, nascido na cidade alagoana de Arapiraca, tentou intervir quando dois homens começaram uma discussão com o dono de uma mercearia. Ao chegar perto, levou golpes de faca e não resistiu aos ferimentos. Segundo as investigações, os dois homens, de 24 e 29 anos, são de origem cubana e foram presos em flagrante. Daniel é filho de um médico costarriquenho radicado no Brasil. No CR Hoy.
CUBA 🇨🇺
A meta, agora, é vencer em 2021. Assim pensam os que apoiam o Nobel da Paz para os médicos cubanos das Brigadas Henry Reeve, que não alcançaram a façanha na premiação deste ano. Apoiados por uma forte campanha online, eles ganharam destaque durante a pandemia pela atuação na linha de frente em diversos países pelo mundo, em especial nações pobres e em desenvolvimento. Apesar da derrota – que também se baseou em denúncias de que os funcionários da ilha trabalhariam de forma análoga à escravidão – pelo menos 100 acadêmicos dos EUA escreveram um manifesto ao comitê do prêmio sueco defendendo que os profissionais da saúde enviados mundo afora pelo governo em Havana sejam os galardonados no próximo ano. Por falar em Nobel: você sabe quais são os latinos que já foram agraciados na história? Descubra neste episódio do Giro Latino Cast. Na Prensa.
Una expresión:
República bananeira – o termo utilizado para descrever um país atrasado e desigual, com uma política instável e facilmente influenciável por interesses estrangeiros, tem uma origem literal – é uma referência ao cultivo extensivo de frutas, particularmente bananas, nas nações centro-americanas. A expressão foi cunhada pelo escritor estadunidense O. Henry para se referir a Honduras, onde viveu, mas a descrição cabia tão bem aos países da vizinhança que acabou se tornando comum para referências pejorativas a diferentes países latinos em momentos de crise, mesmo fora da América Central. Por lá, a multinacional estadunidense United Fruit Company foi patrocinadora de golpes sangrentos para defender seus investimentos… e suas plantações de bananas.
EL SALVADOR 🇸🇻
O governo enviou uma frota de caminhões com ajuda humanitária aos vizinhos Honduras e Guatemala, principais afetados pela passagem do furacão Eta. A ação mobilizou cerca de 270 médicos e militares salvadorenhos e deve entregar 30 mil caixas de alimentos nos territórios mais atingidos. O presidente Nayib Bukele agradeceu a seu homólogo guatemalteco, Alejandro Giammattei, por “facilitar os trâmites”. El Salvador, por sua vez, segue em estado de alerta vermelho diante da possibilidade de novas chuvas; no último 30/10, deslizamentos deixaram 9 mortos e um número incerto de desaparecidos na região de Nejapa, a 18 quilômetros da capital. Na Prensa.
EQUADOR 🇪🇨
A volta às aulas presenciais está próxima de acontecer. Segundo o Ministério da Educação e o Comitê de Operações de Emergência (COE), um dos principais órgãos de risco à frente de temas relacionados à pandemia, 79 escolas do país estão autorizadas a levar adiante o plano de retorno “voluntário e progressivo”. Aos pais que entenderem que a volta ainda não é segura, foi dito que o Plano Juntos Aprendemos em Casa seguirá em vigor, sem data para terminar. Segundo a ministra Monserrat Creamer, a plataforma multimídia conta com 2000 recursos educativos. A realidade, porém, é diferente para as escolas nas zonas rurais do país, muito mais afetadas por conta da desigualdade e falta de recursos. Nas províncias de Manabí e Santo Domingo de los Tsáchilas, por exemplo, a autorização de retorno às classes semipresenciais vale para 137 alunos de oito escolas. Em El Comercio.
Apesar das tentativas de voltar à normalidade, um pesadelo que parecia vencido torna a assustar a região de Guayas, onde fica Guayaquil, e pode ser novamente um primeiro alerta do que vem por aí no continente: se a cidade do litoral equatoriano ficou famosa como primeiro símbolo do colapso sanitário diante da covid-19, ainda em março, nos meses seguintes a força destrutiva da pandemia foi controlada e os números voltaram ao normal. Até agora, quando uma segunda onda – a exemplo do que se vê na Europa – parece estar vindo. Dados oficiais indicam que a região voltou a registrar mortes em excesso ao longo do mês de outubro (e o dobro da média que se vira nos meses anteriores) e os novos contágios em alta podem voltar a converter Guayas na zona mais afetada do Equador, mais de meio ano mais tarde. A redução dos cuidados depois da melhora dos números é apontada entre as razões para um novo pico. Em El Universo.
GUATEMALA 🇬🇹
Cerca de 100 pessoas seguem desaparecidas após as enchentes e desabamentos provocados pelo furacão Eta. Pelo menos 46 mortes foram confirmadas pelas autoridades. Um deslizamento de terra na comunidade maia de Queja, região central do país, deixou dezenas de pessoas soterradas, mas apenas oito corpos foram encontrados. As buscas das equipes de resgate foram suspensas no início da semana em razão da instabilidade do solo. Ao todo, aproximadamente 700 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone. Na quarta (11), o presidente Alejandro Giammattei pediu ao governo dos EUA a concessão de um status de proteção especial (TPS, na sigla em inglês) para os guatemaltecos em situação irregular no país norte-americano. A medida serve como uma garantia temporária para que os imigrantes não sejam deportados de volta a uma nação em estado de calamidade pública, mas esbarra nos estertores do governo Trump, mais preocupado com sua própria sobrevivência. Em RFI.
HAITI 🇭🇹
O rosto da jovem Evelyne Sincère já é visto pintado em muros por toda Porto Príncipe. Ao lado do retrato, ativistas, músicos e grupos secundaristas pedem justiça: a menina de 22 anos foi sequestrada e morta e teve o corpo encontrado com sinais de tortura, segundo os legistas. Investigações apontam para um membro de uma gangue haitiana, que seria namorado da jovem. Um dos líderes do grupo armado anunciou após a repercussão do caso que entregou Joseph “Kiki” Obed, apontado como autor do crime, às autoridades. Mas isso passa longe de ser uma boa notícia: grupos civis denunciam que estão nas mãos desses mesmos grupos violentos, que já deixaram mais de 300 mortos em 2020, só na capital. Na Prensa Latina.
Toussaint Louverture, principal nome da Revolução Haitiana (1791-1804) e símbolo da resistência contra a tripla invasão europeia à Colônia de São Domingos, será interpretado no especial “Falas negras”, de Tereza Nabuco, na TV Globo. O escolhido para viver o papel do “Espártaco das Antilhas” é o ator Izak Dahora, de 32 anos. Segundo os criadores do projeto, o objetivo é aproximar o público de grandes figuras negras da história. No Extra.
Un clic:
HONDURAS 🇭🇳
A maior temporada de furacões já registrada na história, com 30 tempestades já nomeadas em 2020, não podia acontecer em um momento pior. Por conta dos desastres causados pelo Eta, o último furacão a varrer a América Central e o Caribe, governos se veem obrigados a suspender as restrições de circulação exigidas pela pandemia. É o caso em Tegucigalpa, onde a Secretaria de Segurança informou que o deslocamento seria permitido de forma temporária por conta da catástrofe que já matou 63 no país, deixou mais de 65 mil pessoas sem comunicação e obrigou pelo menos 11 mil a procurarem abrigos provisórios, o que também exclui qualquer possibilidade de evitar aglomerações. Segundo o Unicef, as consequências da passagem do Eta “já devastaram a vida de mais de 1,2 milhão de crianças e adolescentes na América Central”. Na Prensa.
MÉXICO 🇲🇽
10 mulheres mortas por dia. A cifra assustadora, que coloca o México no mapa mundial do feminicídio, tem levado movimentos feministas ao limite, com pedidos diários de proteção e medidas efetivas contra a epidemia de crimes de gênero. Durante a semana, outra vítima: a jovem Bianca Alexis, 20, foi encontrada morta com sinais de violência, próxima à própria casa em Cancún, no estado de Quintana Roo. Pouco antes de ser assassinada, a jovem havia usado as redes sociais para criticar a situação de insegurança que ela e outras milhares de mexicanas enfrentam em um país marcado, também, pela impunidade. O caso foi a gota d’água e levou manifestantes às ruas da cidade sob o lema Justicia por Alexis. Aos milhares, picharam locais públicos culpando o Estado pela violência e foram recebidas com truculência. Policiais locais usaram munição letal para a dispersão, o que gerou revolta e deixou um número ainda não calculado de feridos. Pelo menos seis agentes que participaram da ação estão sob investigação e o chefe da polícia no estado, Alberto Capella, foi destituído. Em El Universal.
O Departamento de Relações Exteriores do México acompanha atentamente a situação de quatro migrantes que denunciaram violência obstétrica sofrida no centro de detenção de Irwin, nos Estados Unidos, em meio ao escândalo da acusação de que esterilizações forçadas estariam ocorrendo no recinto. Durante a semana, ganhou força o boato de que elas seriam deportadas definitivamente dos EUA, o que dificultaria seu eventual testemunho se o caso avançar na Justiça estadunidense. Até o momento, porém, as autoridades mexicanas confirmaram que nenhuma das quatro havia sido deportada. Via AP.
O governo promete um combate mais firme às terceirizações ilegais que vêm em franco crescimento no país. A ideia é que, com a nova legislação, funcionários hoje terceirizados tenham que ser efetivamente contratados pelas empresas onde exercem suas funções. Segundo o governo, a prática que hoje afeta cerca de 4,6 milhões de trabalhadores se tornou abusiva e constitui fraude fiscal. Um dos pontos questionados pelo governo é a demissão massiva de terceirizados em dezembro, para imediata recontratação em janeiro, evitando assim os encargos mais pesados do fim do ano. Em El Universal.
NICARÁGUA 🇳🇮
O Departamento de Estado dos EUA inseriu o ex-presidente conservador Arnoldo Alemán (1997-2002), em uma lista que monitora autoridades acusadas de corrupção, o que impede entrada em território estadunidense. O ex-mandatário chegou a ser preso por peculato em seu país natal, mas saiu inocentado das acusações. A esposa de Alemán, María Fernanda Flores Lanzas, hoje parlamentar, diz que a decisão “vai contra as leis dos EUA”. A decisão de bani-lo de entrar no país ao norte também vale para seus familiares próximos. O ex-presidente ficou conhecido por contribuir para a metamorfose conservadora do atual presidente Daniel Ortega, por meio do Pacto Alemán-Ortega, que selou uma improvável aliança em 1998. Via AP.
PANAMÁ 🇵🇦
Subiu para 19 o número de mortos após a passagem do Eta em território panamenho, enquanto pelo menos outras 12 pessoas seguem desaparecidas sob a densa lama trazida pelas chuvas. Segundo autoridades, os afetados pelo fenômeno já superam a casa dos 3,8 mil. País mais ao sul da América Central, o Panamá não está no principal trecho de passagem do Eta, cujos efeitos foram bem maiores nos vizinhos de cima (leia as seções de Honduras, El Salvador e Guatemala). Na Prensa Latina.
PARAGUAI 🇵🇾
“Não temos nenhuma atenção do Ministério da Saúde”. A reclamação parte de movimentos campesinos, que pedem cerca de US$ 30 milhões para a realização de um plano emergencial para áreas periféricas no país. Segundo os dirigentes locais, apesar de promessas do governo, a população não recebeu sequer remédios e máscaras para se prevenir contra a covid-19. O pedido virá em protestos, marcados para acontecer no centro da capital Assunção durante o mês de novembro. A crise sanitária não é o único obstáculo: muito dependentes do cultivo, os campesinos também pedem ajuda por conta de uma das secas mais severas das últimas décadas (contamos mais no GIRO #49 e neste vídeo). No ABC Color.
Una frase:
“¿Por qué no te callas?” – há 13 anos nesta semana, em 10 de novembro de 2007, Santiago do Chile ouviu o cala boca mais famoso do mundo. Era a Cúpula Iberoamericana, apinhada de autoridades latinas e europeias. Hugo Chávez, então presidente da Venezuela, destilava críticas ao antigo primeiro-ministro da Espanha, José María Aznar, que, na definição do bolivariano, era um “fascista” que havia colaborado com o golpe-relâmpago sofrido pelo mesmo Chávez em 2002. Incomodado, o então sucessor de Aznar, José Rodríguez Zapatero, pediu respeito, mas foi sucessivamente interrompido pelo venezuelano. O bate boca ganhou força quando o rei Juan Carlos I disparou contra Chávez. A frase foi adotada por opositores ao chavismo com um verdadeiro bordão. Ao contrário de Chávez, o monarca emérito segue vivo, mas longe dos holofotes: em 2020, o ex-rei fugiu para os Emirados Árabes para evitar a Justiça após a descoberta de contas em paraísos fiscais.
PERU 🇵🇪
Após o Congresso aprovar a destituição do presidente Martín Vizcarra com base em denúncias de corrupção anteriores ao período dele no cargo (entenda o caso na edição extra do GIRO), o país já tem um novo mandatário: o chefe do legislativo, Manuel Merino, tomou posse na terça (10), horas após a saída de Vizcarra ser oficializada. Da mesma forma como chegou à Casa de Pizarro, sede do poder Executivo em Lima, Vizcarra deixa o poder “de cabeça erguida" e sem alardear: ao contrário de muitos dirigentes retirantes, prometeu não se dirigir aos peruanos em rede nacional e nem questionar a decisão dos congressistas. Nas ruas, protestos. Segundo pesquisas recentes, a maioria esmagadora dos peruanos não aprova a moção de vacância contra o agora ex-presidente, atribuindo os problemas internos do governo à mesma oposição – também cercada de um longo histórico de escândalos – que votou a favor do afastamento pela vaga acusação de “incapacidade moral permanente”. O mesmo argumento foi usado para tirar do poder outros três líderes na história do país: José de la Riva Agüero, em 1823; Guillermo Billinghurst, em 1914; e Alberto Fujimori, em 2000. Agora o poder fica nas mãos de Merino, que deve conduzir o país até o meio do próximo ano, quando um novo presidente assume (o país vai às urnas em abril). Mas não será fácil: cartazes com dizeres “Merino no es presidente” pipocaram em diversos pontos de Lima, com gritos contrários ao trabalho dos congressistas – se a popularidade de Vizcarra não era seu maior triunfo, a impopularidade da medida que o tirou do poder acabou sendo. A própria legitimidade do Congresso que o destituiu é questionada: 68 dos 130 parlamentares estão, eles próprios, sob investigação por escândalos percebidos como semelhantes ou até piores que a acusação utilizada para destituir o presidente. Em diversos círculos, até o termo “golpe” foi adotado.
PORTO RICO 🇵🇷
Mais um fiasco na política porto-riquenha: na terça-feira (10), uma semana após as eleições na ilha, as autoridades admitiram a existência de cerca de 200 urnas cheias de cédulas de votação que jamais foram contabilizadas. A revelação veio após grande parte dos resultados terem sido dados como certificados pela comissão eleitoral e, embora não deva alterar o resultado na eleição para o governo da ilha – a princípio vencida pelo situacionista Pedro Pierluisi –, pode modificar votações municipais que aconteciam em paralelo, incluindo a da prefeitura da capital, San Juan. Em cidades menores, a indignação é maior: em Culebra, por exemplo, uma ilha-município de pouco menos de 2 mil habitantes a leste da ilha principal, apenas dois votos separavam os principais candidatos. A mais nova bagunça na política boricua se segue ao caos que marcou as primárias, que tiveram que ser remarcadas por problemas na distribuição de cédulas (leia no GIRO #44). No New York Times.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Representantes de grupos árabes em Israel tentam convencer o governo dominicano a desistir de mudar sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, um movimento defendido por muitos governos, em especial os conservadores, como os dos EUA, Guatemala e Honduras (o Brasil de Bolsonaro também demonstrou interesse em 2018, mas foi pressionado a mudar de ideia). Em uma carta ao chanceler dominicano Roberto Álvarez, o deputado árabe-israelense Sami Abu Shehadeh disse que a mudança significaria “legitimar a ocupação israelense”. No Listin Diario.
A Comissão de Justiça da Câmara avança com uma proposta de eliminar o casamento infantil em todos os casos, o que alteraria um artigo do Código Civil de forma taxativa: nada de casamento, sob nenhuma hipótese, antes dos 18 anos. Há expectativa de que a medida vá adiante sem grandes restrições. Ao lado da Nicarágua, os dominicanos estão entre os que mais enfrentam casamentos forçados durante a adolescência e a infância. Dados oficiais de 2014 dão conta que 12,5% dos dominicanos entre 20 e 49 anos se casaram ou se uniram antes dos 15 anos e 37% antes dos 18 anos. Atualmente, uma em cada 5 adolescentes entre 15 e 19 anos está casada ou se relaciona com um homem 10 anos mais velho. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
O país registrou o primeiro caso de covid-19 dentro do sistema penitenciário. Trata-se de um homem que se encontra em uma ala especial para pacientes de tuberculose, no presídio de Santiago Vázquez, nos arrabaldes de Montevidéu. Segundo o Ministério do Interior, o detento havia sido transferido para a capital por conta de seu tratamento, quando acabou infectado. O resultado dos exames fez a administração local impor quarentena obrigatória a pelo menos 28 pessoas que tiveram contato com o doente, o que, no entanto, não deve alterar inicialmente a situação de “normalidade” no presídio, segundo autoridades. O caso precisa ser olhado com cautela: o vizinho Paraguai, que, como o Uruguai, durante boa parte do ano também manteve a pandemia controlada, viu casos explodirem em um surto que ocorreu em uma prisão, em Ciudad del Este, como o GIRO contou neste vídeo. O Uruguai acabou de viver, novamente, sua pior semana na pandemia e, na quinta-feira (12), chegou a ter seu recorde diário de novos casos, com 95 confirmados em 24 horas. No Montevidéu Portal.
VENEZUELA 🇻🇪
A medalha de ouro que o esgrimista Rubén Limardo Gascón venceu não foi só um feito próprio: além de sua conquista nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, só outros dois venezuelanos subiram no lugar mais alto do pódio: o boxeador Francisco “Morochito” Rodríguez, nos Jogos do México, em 1968, e o taekwondista Arlindo Gouveia, na Espanha, em 1992 – como o esporte era considerado apenas “de exibição” na época, a medalha só seria reconhecida oficialmente em 2018. Limardo ainda treina para tentar repetir o feito nos Jogos de Tóquio, adiados por conta da pandemia. Enquanto o evento não chega, é possível ver o esportista em uma bicicleta, que serve para levar comida aos moradores da cidade de Lodz, na Polônia, onde mora com a família. “Para os que acham que alguns têm privilégios por resultados, digo que não é assim”, conta. Em crise, Caracas tem pouco recurso para amparar atletas, mesmo os de ponta; nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, a Venezuela enviou sua menor delegação desde o final do último século. No Efecto Cocuyo.
A União Europeia anunciou, na quinta (12), a prorrogação das sanções contra 36 membros do governo venezuelano, por ações que “prejudicam a democracia”. Com isso, suas viagens aos países da UE seguem proibidas, assim como os bens que eventualmente possuam naquele bloco econômico permanecem congelados até, pelo menos, 14 de novembro de 2021. Os membros da UE fazem parte do grupo de países que não reconhece o governo de Nicolás Maduro e, em vez disso, defende que Juan Guaidó é o presidente legítimo da Venezuela. Via AP.
Enquanto isso, a vice-presidente do governo Maduro, Delcy Rodríguez, chegou a Moscou no mesmo dia para “aprofundar alianças estratégicas” com o Kremlin. A Rússia vem prestando assistência à Venezuela para driblar as sanções estadunidenses, ajudando, por exemplo, na comercialização de petróleo. Via Reuters.
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