Por que os EUA aliviaram sanções a Cuba e Venezuela
Buscando petróleo e temendo crise migratória ainda maior, Washington começa a amenizar algumas medidas tomadas nos últimos anos, mesmo mantendo críticas aos dois governos
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu colocar em prática uma série de relaxamentos em relação aos governos de Cuba e Venezuela, medidas inéditas anunciadas ao longo do mês de maio. No caso venezuelano, por exemplo, a redução de pressões por parte dos EUA seria um aceno favorável aos avanços nas negociações entre o governo Maduro – que há anos não é reconhecido oficialmente por Washington – e a oposição. Tudo em uma tentativa de, num futuro próximo, criar um clima mais favorável e menos truculento para uma transição de poder em Caracas, sobretudo pela proximidade das eleições presidenciais de 2024.
“Os Estados Unidos estão executando uma série de medidas que foram solicitadas pelo governo interino venezuelano [do autoproclamado Juan Guaidó] e pela [aliança política de oposição] Plataforma Unitária”, informou uma autoridade da Casa Branca em condição de anonimato. A decisão também sintoniza o desejo de um grupo de congressistas democratas: no último dia 14, um grupo de 18 parlamentares enviou uma carta a Biden pedindo a suspensão urgente dos embargos à Venezuela, alegando que as pressões apenas “exacerbam a situação humanitária” e que “está claro que as sanções amplas não atingiram seus objetivos”, disseram.
Para tanto, a gestão Democrata quer começar pela economia. A trégua de punições contra os chavistas é primordialmente ligada ao setor energético, ramo que corresponde a mais de 90% da economia da Venezuela – e que, também em função das sanções, viu em sua baixa produtiva uma das principais razões pela crise socioeconômica do país caribenho nos últimos anos. Segundo as novas decisões, a partir de agora a petrolífera Chevron poderá voltar a negociar com a PDVSA, estatal venezuelana do petróleo. Os nomes de altos funcionários da companhia nacional também devem ser retirados das listas de sanções.
Os interesses dos EUA são evidentes: com as sanções da comunidade internacional ao petróleo russo por conta da guerra na Europa, um mercado gigante como o norte-americano precisa de um substituto. E quem melhor do que a ‘Arábia Saudita caribenha’, dona da maior reserva petrolífera no continente?
Do lado venezuelano, cautela e esperança de que seja o começo de uma trégua maior. Confirmando os últimos acontecimentos envolvendo o setor petrolífero e a retomada de relações, a vice-presidenta Delcy Rodríguez disse que seu país “aspira a que essas decisões dos Estados Unidos abram o caminho para o levantamento absoluto das sanções ilegais que afetam todo o nosso povo”.
As medidas envolvendo a Venezuela vieram alguns dias depois do Departamento de Estado publicar um documento detalhando uma série de mudanças de políticas migratórias envolvendo Cuba, outro governo que sofre nas mãos de embargos estadunidenses – e há muito mais tempo. A lista de novidades inclui o fim do limite de envio de remessas internacionais de cubanos-americanos para seus familiares na ilha. Anteriormente, não era permitido enviar mais do que US$ 1 mil e sempre em um intervalo de três em três meses. A decisão tem peso: segundo estimativas, mais de 90% do dinheiro de migrantes que volta a Cuba vem dos EUA. No período de 2005 e 2020, pelo menos 8,3% do PIB cubano (em dólares) teve relação direta com as transações entre os dois países.
O governo Biden também prometeu facilitar burocracias de viagem entre os países, com a ideia de desburocratizar o acesso a vistos. Durante os anos de Donald Trump, além da suspensão de trechos aéreos, as relações diplomáticas entre os dois países chegaram ao fundo do poço – e até os consulados foram fechados. Como o endurecimento dos ataques à ilha veio em meio à pandemia de covid-19, Cuba se viu de volta a seus piores momentos de crise, relembrando o chamado “período especial” dos anos 1990. Em 2020, o PIB caiu quase 11% e um horizonte de retomada sob as políticas de Trump seria quase inviável.
O novo pacote de medidas “para apoiar cubanos” – nas palavras da Casa Branca – também incluiria um plano de reunificação familiar para migrantes, fortalecimento de relações educacionais e o apoio a empreendedores cubanos independentes. Mas, como era de se esperar, flores sempre com espinhos: ainda que a decisão envolvendo as remessas seja algo positivo para cubanos que dependem do dinheiro, o governo dos EUA não deixou de acusar seus homólogos em Havana, dizendo que a ideia é também “evitar que o dinheiro enriqueça aqueles que cometem abusos aos direitos humanos” – em referência à administração socialista. É uma relação morde e assopra: dias depois do anúncio positivo, o governo Biden voltou a incluir Cuba em uma lista de países que, segundo autoridades norte-americanas, “não cooperam na luta contra o terrorismo”.
Ainda que as relações diplomáticas não sejam totalmente retomadas, o anúncio do último dia 16 deu sequência a um flerte ocorrido semanas antes. No final de abril, os dois países realizaram a primeira reunião de altas autoridades em quatro anos, com foco em discutir assuntos migratórios. Embora sem avanços contundentes, o encontro tratou do aumento do número de cubanos que tentam chegar aos EUA de forma irregular. Segundo dados oficiais, entre outubro de 2021 e o começo de 2022, o número quintuplicou, fato que preocupa autoridades.
As decisões dos EUA envolvendo dois de seus maiores antagonistas na região têm algo em comum: o efeito rebote. Com a vigência das sanções, é provável que mais cubanos e venezuelanos afetados por suas respectivas crises estejam tentando uma nova vida no gigante ao norte, o que aumenta a pressão em torno das fronteiras estadunidenses. Em ambos casos, os yankees parecem ter percebido que os efeitos colaterais dos embargos – sejam políticos ou humanitários – podem sair pela culatra.
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DESTAQUES
🇸🇻 Onda de violência seria represália de gangues a quebra de acordo por Bukele – Uma investigação do portal El Faro mostrou que pelo menos 87 assassinatos cometidos em março pela Mara Salvatrucha (MS-13) teriam ocorrido em resposta a uma “traição” do governo de Nayib Bukele. Os pandilleros ouvidos pela reportagem dizem que Bukele quebrou o pacto de não agressão com as maras, porque integrantes das gangues teriam sido presos sem diálogo prévio. O alegado acordo entre o governo e a MS-13 para controlar a violência urbana foi revelado em 2020 pelo mesmo jornal – fato negado pelo presidente, que começou a perseguir os jornalistas até mesmo com uso de software de espionagem. A nova reportagem também traz áudios de um funcionário do governo responsável pela negociação com as maras, que diz que Bukele estaria “brincando” com os membros das gangues. A ruptura entre as partes também desatou uma escalada autoritária por parte do governo (leia mais no GIRO #127), que impôs metas de detenções – muitas delas arbitrárias – e tirou ou restringiu a comida servida nos presídios.
🇨🇱 Rascunho da Constituição é apresentado – O primeiro rascunho da nova Constituição do Chile foi entregue na segunda-feira (16) à Comissão de Harmonização, que será responsável por revisar o texto, garantindo coerência jurídica. A Carta, que não deve mais passar por alterações significativas em seu conteúdo, agora começa a enfrentar o escrutínio mais detido da população, da imprensa e dos políticos do país, em um momento em que as pesquisas apontam uma possibilidade de rejeição pelas urnas (leia mais no GIRO #131). Com mais de três meses até o plebiscito que, em setembro, decidirá se o texto será adotado ou não, vozes que tentam reverter a tendência de vitória do “rechaço” começam a se erguer: a ex-presidenta (2006-2010 e 2014-2018) e atual alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, disse “esperar que o texto seja aprovado”. Na CNN.
🇨🇷 Hackers agora falam em derrubar governo costa-riquenho – O Grupo Conti, de origem russa, subiu o tom em sua ameaça ao governo costa-riquenho semanas após promover o maior ransomware da história do país (relembre o caso): se antes a ideia era dar apenas um choque de ordem, inclusive definindo promoções para o resgate dos dados e isentando alguns setores no ataque, agora o discurso dos hackers aponta para uma intenção de derrubar o governo. Além de aumentar a pedida para devolver os dados sequestrados, o grupo também disse que estaria trabalhando com pessoas de dentro da própria administração em San José. “Estamos em guerra e isso não é exagero”, disse o novo presidente Rodrigo Chaves, que tomou posse no último dia 8. Alegando que o real impacto da investida é ainda maior do que o previamente relatado, o mandatário sugeriu que pessoas de dentro do próprio país estariam de fato colaborando com os ciberataques, que começaram ainda no governo anterior, de Carlos Alvarado (2018-2022). Via AP.
🇦🇷 Reparação histórica: julgado massacre de 98 anos atrás – Crime contra a humanidade. Assim determinou a justiça na quinta-feira (19), comprovando a responsabilidade do Estado argentino na morte de mais de 400 indígenas das etnias Qom e Moqoit na região do Chaco, em 1924, em um episódio conhecido como Massacre de Napalpí. A qualificação veio de uma sentença da juíza federal Zunilda Niremperger, que relembrou o que chamou de “genocídio”. O massacre ocorreu durante a presidência de Marcelo Torcuato de Alvear (1922-1928), quando pelo menos uma centena de agentes de segurança abriram fogo contra os cidadãos originários – que, à época, convocaram greves pela total falta de amparo do governo às comunidades remotas. A magistrada também determinou que o processo de reparação histórica inclua o estudo do massacre nas escolas do país. No Ámbito.
🇺🇾 Mesmo mais fraco o que previsto, ciclone deixa um morto – O ciclone Yakecan, que atingiu as costas do Uruguai e do Rio Grande do Sul no início da semana, teve um vento “muito menor que o previsto”, segundo as organizações meteorológicas do país, mas ainda assim deixou estragos: uma pessoa morreu em Montevidéu, atingida por uma palmeira que caiu sobre uma casa, ao menos 16 mil clientes ficaram sem luz no paisito e as autoridades suspenderam aulas por precaução. Poderia ter sido pior: no cenário mais extremo, eram esperados ventos de até 130 km/h, força equivalente a um furacão de categoria 1, mas no Uruguai as rajadas não superaram os 98 km/h em Punta del Este (onde o impacto da ventania no mar cobriu ruas de espuma) e Rocha. Em El País.
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REGIÃO 🌎
Casos de covid-19 seguem aumentando e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) acendeu a luz de alerta. Só na última semana – entre os dias 9 e 13 – a entidade relatou um um aumento de mais de 27% no número de casos confirmados (na Argentina, o pico superou uma variação de 90%), razão suficiente para a diretora Carissa Etienne pedir que países redobrem a vigilância, cobrem medidas sanitárias e avancem com a vacinação. Esforço, claro, que não é tão simples: considerando todos os países da América – não só latinos – e territórios da região, apenas 14 dos 51 já atingiram o patamar de 70% de seus habitantes dentro da cobertura vacinal. No site da organização.
ARGENTINA 🇦🇷
A omissão histórica do Estado com a comunidade afro-argentina parece estar chegando ao fim. Ao menos no Censo nacional, realizado a cada dez anos, em que o país dará visibilidade à comunidade afrodescendente ao perguntar a todos os habitantes se são descendentes de africanos ou indígenas. Em decisão inédita, a questão faz parte das 61 perguntas incluídas na pesquisa que foi realizada em todo o país nesta quarta-feira (18), após dois anos de atraso pela pandemia – os questionários são feitos em um único dia, e alguns resultados preliminares já são conhecidos, como o aumento da população para 47 milhões de pessoas (52,83% homens, 47,05% mulheres e 0,12% de pessoas que não se identificam como nem um nem outro). O último recenseamento realizado, em 2010, registrou que cerca de 150 mil pessoas se percebiam como afrodescendentes, o equivalente a apenas um décimo da estimativa feita por líderes comunitários. Em El País.
BOLÍVIA 🇧🇴
Investigada por sedição e terrorismo, a ex-presidenta Jeanine Añez (2019-2020) ficará mais três meses em detenção preventiva. Pelo menos é o que garante a decisão do Judiciário boliviano. Áñez e dois de seus ex-ministros, Rodrigo Guzmán, de Energia, e Álvaro Coimbra, de Justiça, estão presos desde março de 2021 no âmbito do mesmo caso. A ex-presidenta foi presa em sua residência no departamento de Beni, escondida em uma cama box. A líder golpista também responde pelos casos de Sacaba e Senkata em 2019, massacres de opositores indígenas pelos quais ela é acusada de genocídio. No Ámbito.
CHILE 🇨🇱
Contrariando suas críticas ao governo Piñera e às medidas de exceção para combater conflitos com a população mapuche na zona meridional do país, o governo de Gabriel Boric precisou usar do mesmo artifício: determinou estado de exceção e emergência no sul chileno, por duas semanas, o que inclui presença das Forças Armadas para reforçar a segurança. Izkia Siches, ministra do Interior, informou a decisão sob justificativa de controlar o narcotráfico e o roubo de madeira nas províncias de Biobío e Arauco. A decisão surpreendeu eleitores e foi reconhecida por Siches como “um remendo que não soluciona os problemas de fundo” que afetam a área. Via EFE.
COLÔMBIA 🇨🇴
Nome da direita nas eleições presidenciais colombianas – que têm o primeiro turno marcado para o próximo dia 29 –, Federico Fico Gutiérrez denunciou que seu escritório de campanha em Medellín estaria sendo grampeado. Segundo o candidato, um microfone instalado ilegalmente foi encontrado na semana passada e a polícia foi acionada. Para Gutiérrez, “é um ato ilegal que coloca a democracia em risco”. Porém, as imagens apresentadas como suposta evidência apenas mostram um balastro, aparelho usado para controlar a corrente de lâmpadas LED. Favorito e líder nas pesquisas tanto para o primeiro quanto para um eventual segundo turno contra o próprio Fico, Gustavo Petro negou qualquer envolvimento de sua campanha com o suposto grampo. No Cambio.
Un nombre:
Yakecan – O nome dado ao ciclone que atingiu o litoral do Uruguai e do Rio Grande do Sul na terça-feira (17) vem do tupi-guarani e significa “som do céu”. Desde 2011, é padrão que tempestades do tipo, quando adquirem trajetória atípica e intensidade rara, ganhem um nome próprio relacionado à língua indígena, e escolhido pela divisão responsável pelo serviço meteorológico da Marinha do Brasil. Eventos similares ocorridos em outros anos receberam nomes como Arani (“tempo furioso”), Potira (“flor”) e Ubá (“canoa”).
CUBA 🇨🇺
Pelo menos 100 manifestantes foram feitos de prisioneiros, submetidos a “condições subumanas” e mortos. Ao menos, é o que denunciam organizações civis internacionais sobre o suposto tratamento a pessoas que participaram dos protestos realizados em julho de 2021, considerados os maiores vistos na ilha desde a Revolução. As organizações afirmam que “a tortura é cometida em Cuba” e apresentaram na Cidade do México o relatório com as recomendações do Comitê Contra a Tortura das Nações Unidas. No documento, são citadas ameaças, torturas como exposição ao frio intenso, nudez forçada e negação ao acesso a atendimento em saúde. Em La Jornada Maya.
EQUADOR 🇪🇨
A Procuradoria do Equador desmantelou uma suposta rede de tráfico de pessoas, que estaria recrutando jovens com ofertas de bolsas de estudo, mas, em vez disso, acabava por enviá-los para campos de treinamento guerrilheiro na fronteira entre Colômbia e Venezuela. Entre os presos, seis suspeitos residiam na província de Esmeraldas, na divisa com os colombianos. Ato contínuo, dois carros-bomba foram explodidos nos arredores da cidade que dá nome à província, em um ato classificado pelas autoridades como “terrorista”. O país vive uma escalada da violência nos últimos anos, especialmente relacionada ao narcotráfico, e desde o final de abril está formalmente em estado de exceção, com poderes mais plenos para as forças de segurança realizarem prisões – mais de 1,5 mil suspeitos de conexão com o tráfico, que muitas vezes têm relação com os grupos paramilitares, foram detidos só em maio. Na Semana.
Todos querem herdar a vaga do Equador na Copa do Mundo, caso ela se abra mesmo (entenda aqui o imbróglio envolvendo o jogador Byron Castillo), mas uma coisa é certa: ela não sairá da América do Sul. Durante a semana, circulou a notícia de que a Itália poderia acabar se classificando no lugar dos equatorianos por ser a equipe mais bem colocada no ranking da FIFA atualmente fora do Mundial, mas a especulação foi logo desmentida pela própria entidade: a distribuição de vagas é separada para cada continente, então uma eventual eliminação do Equador repassaria seu lugar a outra equipe da mesma região. Com a concorrência europeia fora da briga, o Chile segue à espreita, aguardando os tribunais do esporte decidirem sobre o assunto. Em El Tiempo.
GUATEMALA 🇬🇹
Nem mesmo o presidente causa tanto estardalhaço quanto Consuelo Porras, a procuradora-geral mais polêmica da região. Agora, juntos, os dois viraram notícia: sem surpresas, Alejandro Giammattei reconduziu Porras ao cargo, designando a procuradora para mais um mandato de quatro anos à frente do Ministério Público. Segundo o presidente, “não há argumentos” para questionar a competência da PGR. Ela, por sua vez, disse que seguirá seu trabalho “sem ideologias”. A decisão, ainda que nada surpreendente, estremeceu a política local: Consuelo é pivô de uma crise sem precedentes na política guatemalteca, acusada de promover uma verdadeira campanha de perseguição contra juízes, promotores e outras autoridades que atuam na luta contra a corrupção, ao passo que atuaria em conluio para acobertar denúncias contra o próprio Giammattei e outros figurões envolvidos em escândalos. Em muitos casos, figuras de oposição ao trabalho de Porras chegaram a relatar ameaças de morte; outros decidiram deixar o país. Além da represália de entidades de direitos humanos locais, a renomeação da chefe do MP também gerou a indignação dos EUA, que têm relações com a Justiça da Guatemala. Irritado com os pitacos de Washington, o presidente disse que não vai comparecer à Cúpula das Américas, marcada para Los Angeles em junho. Na BBC.
Os conflitos envolvendo populações indígenas seguem: no final da última semana, pelo menos três pessoas morreram e um agente de segurança ficou ferido após um enfrentamento entre habitantes armados provenientes dos municípios indígenas vizinhos de Ixchigúan e Tajumulco, no departamento de San Marcos. A briga tem mais de oito décadas e tem relação com um impasse territorial jamais resolvido na região oeste do país, não muito longe da divisa com o México. Segundo o governo, foi criado um canal de diálogo para a resolução da crise. “Não podemos mais permitir”, disse o ministro do Interior, David Barrientos. Brigas dessa natureza não são raras: há poucos meses, um episódio similar deixou 13 pessoas mortas por conta de uma disputa centenária entre as localidades originárias de Nahualá e Santa Catarina Ixtahuacán. Na Perspectiva.
Un hilo:
HAITI 🇭🇹
Lideranças ligadas ao grupo conhecido como Acordo de Montana, uma coalizão opositora formada no final de 2021, realizaram dois encontros com o primeiro-ministro Ariel Henry nos últimos dias, em busca de um consenso político sobre a crise no país. Com maio chegando ao fim e ainda sem uma perspectiva realista de datas para eventuais eleições e a troca do governo interino de Henry – que assumiu após uma disputa de poder na sequência do assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho do ano passado –, a oposição começa a perder a paciência: segundo Magali Comeau Denis, ex-ministra de Cultura e hoje um dos nomes à frente do grupo Montana, a entidade está trabalhando com um prazo de 15 dias – a partir do último domingo (15) – para chegar a um acordo com Henry ou partir para outra estratégia. Ainda sem oferecer um caminho concreto, o premiê aproveitou o 219º aniversário da bandeira haitiana, na quarta-feira (18), para discursar pedindo “união”. No Nouvelliste.
HONDURAS 🇭🇳
A cruzada dos EUA contra narcos hondurenhos fez cair presa mais uma suposta liderança do crime no país: no domingo (15), foi capturada Herlinda Bobadilla, conhecida como La Chinda, e acusada de chefiar o clã Montes Bobadilla, que controlaria o tráfico na região caribenha do país. Havia uma recompensa de US$ 5 milhões oferecida pelos EUA por informações que levassem à prisão da procurada, e a operação contra ela ainda acabou com a morte de um dos seus filhos, Tito Montes. A mais nova captura é outro capítulo de uma saga que vem decapitando supostas redes criminosas que teriam chegado, inclusive, ao ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), recentemente extraditado aos EUA e que agora enfrenta a Justiça estadunidense. Na BBC.
MÉXICO 🇲🇽
Um túnel de cerca de 500 metros sob a fronteira entre os EUA e o México. Essa foi a obra faraônica do narcotráfico descoberta recentemente por autoridades. O narcotúnel conta com um sistema ferroviário, eletricidade e até ventilação e foi revelado por uma força-tarefa liderada por investigadores do Departamento de Segurança Interna dos EUA. A cada ano, cartéis de droga, munidos de um enorme poder financeiro, inovam na tentativa de driblar a fiscalização fronteiriça para transportar droga entre países. Na CNN.
NICARÁGUA 🇳🇮
Segue a rotina: se o governo Ortega não gosta de alguém, manda prender. O líder opositor preso da vez é Yubrank Suazo, figura conhecida e que já havia sido detida durante os protestos de 2018, brutalizados pelo governo e com um saldo de centenas de presos e mortos. Mantido sob custódia na temida prisão de El Chipote, Suazo foi vítima de “sequestro com violência”, denunciam organizações de direitos humanos. Segundo o opositor, a casa de sua família já vinha sendo vigiada pela polícia. Entidades de direitos humanos consideram que o aparato legal do orteguismo mantenha 182 presos políticos atualmente. No Confidencial.
Dale un vistazo:
🎉 Yunza, o Carnaval Andino – Com o nome de uma celebração ancestral andina realizada normalmente durante a época dos carnavais, “Yunza” também nomeia o festival cultural realizado pelo Memorial da América Latina neste final de semana. Em sua 9ª edição, o evento promoverá um dia inteiro de atividades que exaltam as raízes e a pluralidade da região. Com entrada gratuita, shows musicais, orquestras e apresentação de caporales, dança típica do altiplano andino, o evento promete apresentar uma grande diversidade gastronômica, e dar visibilidade aos tantos sabores latinos que compõem os bairros imigrantes da capital. “Yunza – Carnaval Andino” ocorre no domingo (22) e está previsto para iniciar suas atividades às 10h, na sede do Memorial da América Latina, localizado na Avenida Mário de Andrade, 664, na Barra Funda, em São Paulo.
PANAMÁ 🇵🇦
O governo, ao lado de empresas do setor energético, planeja desenvolver uma grande e avançada biorrefinaria para aumentar a oferta de combustível de aviação. Mas com uma mudança interessante: o material seria desenvolvido com baixo teor de carbono. A decisão ocorre no momento em que o setor aéreo busca atingir uma meta de descarbonização até 2050, ao passo que a comunidade internacional segue pressionando as empresas pelo investimento em energia limpa. A ideia da futura refinaria, projetada para funcionar no final de 2026, é produzir mais de 180 mil barris por dia de biocombustíveis, incluindo combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) e diesel marítimo renovável. Via Reuters.
PARAGUAI 🇵🇾
O corpo do promotor Marcelo Pecci, assassinado a tiros na Colômbia durante uma viagem de folga no último dia 10, foi repatriado de volta a Assunção. O promotor de 45 anos era um dos principais nomes à frente de forças-tarefa antimáfia e contra crimes de alto escalão do narcotráfico, o que fortalece a hipótese da execução ter sido encomendada. “Uma hipótese muito avançada”, segundo o procurador-geral da Colômbia, Francisco Barbosa, de que tenha sido algo ligado ao “crime organizado trasnacional”. E os indícios só aumentam: poucos dias depois, o alvo da vez foi o intendente da violenta Pedro Juan Caballero – na fronteira com o Mato Grosso do Sul –, José Carlos Acevedo. Em episódio muito similar, Acevedo foi baleado em Amambay pouco depois de uma reunião. Até o fechamento desta edição, o político seguia internado em estado grave. A sequência de eventos contra autoridades paraguaias levou o governo a trocar o comando da polícia. No UOL.
Ejército del Pueblo Paraguayo, ou EPP, é um nome conhecido no país, mas as dúvidas ao redor do pequeno grupo guerrilheiro se empilham. Ainda que considerado um grupo armado de pequena escala, com dimensões de “clã familiar”, o bando segue dando um verdadeiro baile nas autoridades paraguaias durante seus 14 anos de operação. Segundo cifras oficiais, o EPP é responsável pela morte de 74 pessoas, entre civis, militares e policiais. O grupo também é conhecido por suas operações de sequestro raramente resolvidas. A mais famosa dos últimos tempos é do ex-vice-presidente Óscar Denis (2012-2013), raptado há mais de 600 dias, e cujo paradeiro nunca mais foi descoberto apesar das requisições para o resgate terem sido cumpridas. A reportagem detalhando a história da guerrilha, na AFP.
Otro hilo:
PERU 🇵🇪
O Ministério Público vai pedir a extradição do capitão italiano do petroleiro Mare Doricum, navio envolvido no vazamento de milhares de barris de petróleo bruto em águas peruanas há quatro meses – saiba mais sobre o caso em nossa edição #115. Segundo fontes do MP, Giacomo Pisani deixou o Peru em 9/3, ignorando uma medida judicial que o impedia de sair do país. Se Pisani deu fuga do território apesar da lei, o mesmo não é possível dizer para o navio do qual o óleo vazou: desde o acidente, a Marinha mantém a embarcação ancorada a menos de 10 km da costa peruana. Na Prensa Latina.
Um dos países mais afetados pela crise múltipla da pandemia, o Peru também vive um quadro alarmante no que diz respeito à fome: segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), ligada à ONU, 15,5 milhões de peruanos estão em situação de insegurança alimentar em nível nacional devido ao aumento da pobreza e da inflação. E como é esperado e apontado por diversas projeções, ainda que com a diminuição de mortes em função da vacina, o horizonte preocupa. “O panorama do que está acontecendo agora e do que está por vir no médio prazo é muito preocupante”, aponta a representante da FAO, Marina Escobar. No Ojo.
Para proteger a vida das lideranças indígenas no Peru, o governo apresentou um projeto de lei que salvaguarda a integridade física de quem luta pelos direitos de suas comunidades, informou o Ministério da Justiça. Nas áreas rurais do país, os ataques contra essas autoridades originárias são frequentes, principalmente perpetrados por máfias envolvidas com tráfico de drogas, extração ilegal de madeira e mineração irregular. O projeto de lei ainda será encaminhado ao Congresso para debate e eventual aprovação. Na Sputnik.
PORTO RICO 🇵🇷
O governador Pedro Pierluisi viajou a Washington e participou na quinta (19) da apresentação do chamado projeto de status de consenso, que visa regulamentar a situação legal da ilha em relação aos EUA. O projeto foi apresentado ao líder da maioria democrata na Câmara dos Deputados, Steny Hoyer. A ideia se baseia em regulamentar a chamada Lei de Status de Porto Rico, facilitando um plebiscito de caráter vinculativo que contemple questões de estado, independência e livre associação – ou seja, admitir Porto Rico como o 51º estado da União, o que, segundo votos favoráveis a isso, traria benefícios fiscais e legais à ilha caribenha. Porto Rico já votou, em 2020, por essa opção, mas a entrada nos EUA depende da boa vontade do Congresso em Washington. No Nuevo Día.
Una palabra:
Toconao – Ou “lugar de pedras” em Kunza, o idioma originário dos povos de Atacama, é a localidade na comuna de San Pedro de Atacama onde vive a comunidade Lickanantay. O povo de Toconao tem mais de 12 mil anos e hoje vive da talha de esculturas em pedra vulcânica que são extraídas de uma pedreira próxima – e que dá nome ao lugar.
REPÚBLICA DOMINICANA 🇩🇴
Reforma constitucional? Segundo o presidente Luis Abinader, só se houver consenso entre a sociedade e os partidos políticos. Em setembro, o mandatário havia apresentado uma proposta de alterações à Carta Magna dominicana, com foco no Judiciário do país e na independência do Ministério Público. Segundo Abinader, a reforma também buscaria colocar “um cadeado” no texto para que futuros presidentes não pudessem alterá-lo com facilidade: “o povo pode estar seguro que não tem nenhum temor no meu caso, mas pode ter no futuro”, explicou. Apesar disso, e enfrentando resistências, Abinader agora diz que não vai insistir no tema ou apelar a meios “não corretos” se o Congresso não chegar a um acordo pela reforma. No Diario Libre.
URUGUAI 🇺🇾
A sexta-feira (20) foi marcada por uma nova edição da Marcha do Silêncio, que desde 1996 percorre as ruas de diferentes cidades uruguaias nesta data cobrando justiça pelos prisioneiros políticos mortos e desaparecidos na última ditadura do país (1973-1985). Além das pautas tradicionais, uma demanda atualizada marcou os atos em 2022, com protestos contra uma proposta do Cabildo Aberto, coalizão política mais à direita no espectro político do país, que pretende conceder prisão domiciliar “por razões humanitárias” a repressores condenados com idade acima de 65 anos. No Página 12.
VENEZUELA 🇻🇪
Ainda encabeçada por Juan Guaidó, a Plataforma Unitária, principal coalizão opositora do país, definiu que vai realizar primárias internas no ano que vem antes de definir seu candidato nas eleições presidenciais de 2024. Com as conversas com Nicolás Maduro suspensas desde outubro, após a tentativa de reaproximação ocorrida no México (leia mais no GIRO #94), a oposição ainda debate a melhor maneira de superar o esvaziamento de Guaidó – que, além de nunca ter conseguido acessar o poder na prática, atualmente sequer possui um cargo formal no Congresso para justificar sua antiga autoproclamação como “presidente encarregado” do país. Via AP.
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